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40ª turma
RIO DE JANEIRO - RJ
2018
COPPE/UFRJ
RIO DE JANEIRO - RJ
2018
ROCHA, Camila
BANCA EXAMINADORA
Profº ...................................................................
Profº...................................................................
Profª...................................................................
RESUMO
Introdução ................................................................................................................................... 9
Capítulo I - O hoje da produção brasileira não é sustentável
.................................................................................................................................................. 13
1. Desenvolvimento insustentável .......................................................................................... 13
2. Obsolescência Programada ................................................................................................. 15
3. O que dizem os cientistas ................................................................................................... 16
4. Respostas à urgência ........................................................................................................... 18
5. Do crescimento de indústrias poluidoras à competitividade nas indústrias ....................... 21
Capítulo II - Abordagens do ciclo de vida: o caminho para a sustentabilidade
.................................................................................................................................................. 25
1. Economia Verde ................................................................................................................. 25
2. Pensamento do Ciclo de Vida............................................................................................. 26
2.1. Gerenciamento do Ciclo de Vida ......................................................................... 29
2.2. Metodologias do Ciclo de Vida ............................................................................ 30
3. Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) .................................................................................... 31
3.1. Histórico da Avaliação do Ciclo de Vida ............................................................. 33
3.2. Avaliação do Ciclo de Vida no Brasil .................................................................. 36
Capítulo III - Avaliação do ciclo de vida: entendendo a ferramenta
.................................................................................................................................................. 38
1. Estrutura metodológica de uma Avaliação do Ciclo de Vida ............................................. 39
1.1. Definição de objetivo e escopo ............................................................................. 40
1.1.1. Função e unidade funcional ............................................................................ 42
1.1.2. Fronteiras do sistema ...................................................................................... 42
1.1.3. Procedimentos de alocação ............................................................................. 44
1.1.4. Tipos e fontes de dados ................................................................................... 44
1.1.5. Requisitos de qualidade dos dados ................................................................. 44
1.1.6. Comparações entre sistemas ........................................................................... 45
1.2. Análise do Inventário do Ciclo de Vida ............................................................... 46
1.2.1. Procedimento de coleta de dados .................................................................... 47
1.2.2. Procedimentos de cálculo ............................................................................... 48
1.2.3. Alocação ......................................................................................................... 49
1.3. Avaliação do impacto do Ciclo de Vida ............................................................... 49
1.3.1. Métodos para a avaliação dos impactos .......................................................... 51
1.4. Interpretação do Ciclo de Vida ........................................................................... 53
Conclusão ................................................................................................................................. 55
Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 57
Referências da Internet ............................................................................................................. 58
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Produção física, produto industrial com alto potencial poluidor e total no Brasil de
1981 a 1999. ............................................................................................................................. 22
Figura 2. Ciclo de vida de um produto. .................................................................................... 28
Figura 3. Fases de uma ACV. ................................................................................................... 39
Figura 4. Descrição conceitual de processo elementar. ............................................................ 43
Figura 5. Procedimentos simplificados para análise de inventário. ......................................... 46
Figura 6. Conceito de indicador de categoria. .......................................................................... 50
Figura 7. Relação entre as categorias de impacto de midpoint e endpoint. .............................. 52
Figura 8.Relacionamento dos elementos da fase de interpretação com as outras fases da ACV.
.................................................................................................................................................. 53
LISTA DE TABELAS
1Cientista, ganhados do prêmio Nobel de Química em 1995. Paul Crutzen auxiliou na popularização do termo
Antropoceno nos anos 2000, por meio de publicações que discutiam o que seria essa nova era geológica do
Planeta Terra (Crutzen, 2002).
9
Racional e Conservação da Biosfera, organizada pela UNESCO (Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) foram de grande importância para causar uma
grande comoção na opinião pública mundial e trazer à tona debates populares em grande
escala sobre as questões ambientais, problemas mundiais, possíveis crises e o futuro da
humanidade (CAMARGO, 2002).
O relatório Nosso Futuro Comum, também conhecido como relatório Brundtland,
produzido em 1987, pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das
Nações Unidas, abriu um imenso debate na academia sobre a proposta do desenvolvimento
sustentável, fruto de uma crescente inquietação quanto aos problemas ecológicos.
Considerado como um outro marco no debate sobre o meio ambiente e desenvolvimento, o
relatório introduziu uma análise crítica ao modelo de crescimento seguido pelos países
industrializados e reproduzido pelas nações em desenvolvimento. Evidenciou um
desequilíbrio entre os interesses econômicos, ambientais e sociais, realçando a necessidade de
um novo relacionamento entre ser humano e meio ambiente, que conciliasse o crescimento
econômico com a capacidade de suporte dos ecossistemas (OCDE, 1987; ANGELO, 2014;
MOTTA, 2016).
O enfrentamento dessa crise ecológica será possível somente após a análise e melhoria
do entendimento sobre o processo de geração e adoção de ecoinovações. Nesse contexto em
que já se entende que os problemas ambientais estão atrelados às práticas industriais, se faz
extremamente necessário uma revisão de tais práticas a fim de que se revele as áreas onde o
esforço inovativo e os conceitos de ecoeficiência podem ser aplicados. Nesse cenário, surge a
Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), um instrumento de abordagem de avaliação dos impactos
ambientais gerados por produtos e serviços, que será o objeto de estudo e discussão deste
trabalho. A ACV vem ganhando cada vez mais destaque como uma ferramenta de excelência
para a análise e escolha de alternativas, sob um ponto de vista puramente ambiental (SOARES
et al., 2006).
A avaliação do ciclo de vida de um produto ou processo consiste na realização da
análise dos impactos ambientais, a partir de um inventário de entradas e saídas (matérias-
primas e energia, produtos, subprodutos e saídas) do sistema estudado. As dimensões do
2 O livro contém uma denúncia dos estragos causados pelo uso do DDT e outros agrotóxicos, foi escrito por uma
bióloga que trabalhava para o governo americano. A publicação desse livro contribuiu para que o uso do DDT
fosse proibido e, posteriormente, para que a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) fosse
criada (CAMARGO, 2002).
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Uma organização não-governamental, criada em 1968, em Roma. Composta por um grupo de 30 pessoas de
dez nacionalidades diferentes, que incluía cientistas, economistas, humanistas, industriais, pedagogos e
funcionários públicos que se reuniam a fim de debater diferentes assuntos (CAMARGO, 2002).
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estudo devem incluir as etapas de extração de matérias-primas, transporte, fabricação, uso e
descarte, ou seja, todo o ciclo de vida. Utilizando-se tal metodologia, verifica-se que a
prevenção à poluição se torna mais racional, uma vez que se obtém uma avaliação científica
da situação. Além disso, a localização de eventuais mudanças relacionadas às diferentes
etapas do ciclo que venham a resultar em melhorias no seu perfil ambiental é facilitada, sendo
mais efetivo e econômico que uma ação na direção dos efeitos gerados (SOARES et al., 2006;
HINZ et al., 2008).
O objetivo deste trabalho é apresentar a ferramenta de avaliação do ciclo de vida de
produtos e processos. Pretende-se explicar a metodologia utilizada para realização completa
da ACV, expor a importância e necessidade do seu uso, falar um pouco sobre seu histórico,
demonstrar os aspectos normativos existentes sobre esse assunto, além de apontar as diversas
aplicações que a ACV pode ter.
O tema justifica-se uma vez que o momento se faz oportuno para que um novo projeto
de desenvolvimento capaz de aliar crescimento econômico e sustentabilidade ambiental seja
pensado. Na atual crise ecológica do planeta é obrigatório que se reflita e discuta os nossos
atuais padrões de produção e consumo baseados na lógica de desenvolvimento criada com a
Revolução Industrial e a concepção de crescer cada vez mais não se atentando para o custo
desse crescimento. A transição para um novo modelo de desenvolvimento sustentável exige
que os paradigmas de produção e consumo atuais sejam modificados. E, nesse novo modelo, é
crucial levarmos em consideração a questão da sustentabilidade. Em países desenvolvidos, a
ACV já é muito utilizada além de ser reconhecidamente um instrumento com ampla
abrangência para os estudos relacionados aos impactos ambientais, sendo uma metodologia
propulsora das ecoinovações.
A metodologia da pesquisa orientou-se pela pesquisa qualitativa, usando a pesquisa
explanatória com levantamento bibliográfico (pesquisa bibliográfica) desenvolvida com base
em material já elaborado, constituído principalmente de livros de referência informativa,
artigos científicos e trabalhos acadêmicos, além de consulta à diversas normas.
A monografia está estruturada em três capítulos. O primeiro capítulo apresenta um
enfoque sobre os problemas ambientais que estão ocorrendo em nosso planeta devido a ação
do homem, que, principalmente após a revolução industrial, buscou o desenvolvimento sem
se preocupar com a sustentabilidade. Tal desenvolvimento insustentável vem deixando suas
marcas preocupando diversos pesquisadores e cientistas que afirmam que uma mudança
precisa ocorrer. O segundo capítulo mostra o que tem sido pensado como respostas aos
problemas ambientais enfrentados, como a proposta da economia verde, a iniciativa do
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pensamento do ciclo de vida e abordagens que envolvem este pensamento, como a avaliação
do ciclo de vida. O capítulo faz, ainda, uma introdução sobre a ACV, falando um pouco a
respeito do seu histórico e sobre a realidade do Brasil relativa este assunto. No terceiro
capítulo, é exposta toda a estrutura metodológica da ACV que indica como a avaliação deve
ser realizada, o que deve conter no estudo e, ainda, como o estudo deve ser apresentado.
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CAPÍTULO I
1. Desenvolvimento insustentável
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duas crises se interligam a uma crise mais geral, a crise da civilização capitalista industrial
moderna (LOWY, 2012).
Alguns poucos anos atrás, diversos autores falavam dos perigos de catástrofes
ecológicas se referindo a um futuro não tão próximo, talvez dentro de aproximadamente cem
anos. Entretanto, houve tão intensa aceleração do processo de devastação da natureza, de
deterioração do meio ambiente e de mudança climática que não se fala mais sobre catástrofes
em longo prazo, e sim processos que já estão em curso. Vivemos numa corrida contra o tempo
para tentar conter esse processo desastroso.
A entrada de proximamente 2 a 3 bilhões de pessoas, até 2050, na era do consumo em
massa indica uma nova mudança de escala global. Não se pode inferir sobre as consequências
de tal fato, ao passo que, do ponto de vista ético e teórico, não se pode negar à maioria da
população a permissão para se obter o nível de consumo da minoria. O PIB mundial foi
multiplicado por cinco, desde os anos 60, um acréscimo relevante no consumo de recursos e
na produção de lixo e emissões. Durante os anos 2000, o PIB mundial seguiu crescendo ao
ritmo de 3,7% ao ano. Seguindo neste ritmo, em 2030 terá sido multiplicado por dois e quase
cinco em 2050 (LÉNA, 2012).
A pegada ecológica que em 1900 representava 0,60 planetas, em 2007 chegou a 1,47
e, nesse ritmo, pode alcançar 2,5 em 2030. Tais aumentos são claramente insustentáveis.
Assim sendo, como é possível dar acesso a todo esse consumo e, ao mesmo tempo, diminuir a
pegada ecológica e enfrentar a escassez? Este será o grande desafio do século (LÉNA, 2012).
O atendimento da demanda gerada pelo crescimento populacional necessita de uma
modernização dos processos e da utilização de novas matérias-primas, assim como o aumento
significativo do volume e velocidade da produção. Com isso, a oferta de produtos cresceu
junto com o consumo de recursos naturais. O aumento crescente no volume produzido de
produtos e resíduos impulsionado pelas modificações nos hábitos de consumo, a utilização de
novas matérias-primas, o aumento da exploração das fontes energéticas, juntamente com o
crescimento populacional vem provocando tais referidos impactos (ASSIS, 2009).
Seria, portanto, possível o equilíbrio entre o crescimento econômico ilimitado e um
meio ambiente que não se deteriore ou entre em colapso? Ecologicamente falando, a resposta
é não. Considerando que o planeta não se expande, o crescimento da economia implica em
menos meio ambiente. Quanto maior a quantidade de pessoas na Terra, quanto maior a
produção econômica e a quantidade de artefatos construídos, tanto menos natureza. O que é
possível de acontecer é um desenvolvimento ambiental sustentável. Desenvolvimento no
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sentido de mudança, evolução e progresso não é o mesmo que crescimento, algo atrelado à
expansão (CAVALCANTI, 2012).
Levando-se em consideração a “função de produção” adotada por economistas, nota-
se que os recursos do ecossistema, hoje, ainda não são contemplados e estamos longe de
atingir tal desenvolvimento ambiental sustentável. A função de produção é uma relação entre
os montantes de fatores produtivos (capital, K, e trabalho, L) empregados na realização da
atividade econômica e os correspondentes volumes obtidos de produtos (Y). Indica a
quantidade máxima de produto que pode ser obtida a partir de uma dada quantidade de
insumos. Essa função tem a forma Y = f(K,L), e vale para a economia como um todo, para
setores de atividades, para grupo de firmas. Tal função omite completamente o insumo
natureza (ou recursos naturais, N) (CAVALCANTI, 2012).
Dessa maneira, tem-se criada uma situação onde o sistema econômico é um sistema
isolado, sem um entorno onde se relaciona, sendo assim, é como se independesse da natureza.
Segundo Cavalcanti (2012), essa abstração do raciocínio econômico permite que o mundo
seja concebido sem ecossistema, ou que esse seja considerado como uma externalidade, ou até
mesmo como uma espécie de enfeite para a economia, um penduricalho. O ecossistema é
visto como uma dispensa ou almoxarifado de onde se retira o necessário e onde se joga o lixo.
Mas o fato é que o meio ambiente existe, e o processo econômico precisa ser enquadrado
dentro deste sistema, ou natureza que o envolve. Assim sendo, o ecossistema não pode ser
pensado como uma externalidade, a economia deve ser submetida à grandeza da natureza.
2. Obsolescência Programada
Para contribuir com o aumento dos problemas ao meio ambiente, temos a questão da
diminuição programada da vida útil dos produtos, que acaba gerando uma quantidade enorme
de material a ser descartado. A sociedade é obrigada a consumir bens que se tornam obsoletos
rapidamente, uma vez que se tornam funcionalmente inúteis pouco tempo depois de saírem
das fábricas. Um exemplo disso são os eletrodomésticos, que na década de 50 eram muito
mais resistentes que os produzidos atualmente, sendo fabricados para durar e não quebrar
facilmente. Ainda que quebrassem, seu conserto era economicamente viável, ao contrário do
observado atualmente (DURING, 1992).
Na obsolescência programada o fabricante do produto programa o período da vida útil
dos produtos de maneira intencional. O passo inicial para esta prática deu-se em 1924, quando
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fabricantes de lâmpadas dos Estados Unidos e Europa se reuniram para determinar a vida útil
das lâmpadas e definiu-se que estas deveriam ter uma vida útil de 1000 horas, contra as 3000
das lâmpadas que eram produzidas. Começou a aparecer com maior força na década de 30
como uma solução pensada para o desemprego e para a crise econômica que atingia
principalmente os Estados Unidos, seguidos de vários outros países. Teve seu
impulsionamento nos anos 50, quando os meios de comunicação são utilizados para seduzir o
consumidor que é apresentado a novos designs e produtos com novas funções. Assim, o
consumidor é tentado pelo desejo de possuir o “novo”, o “moderno”. Nesse contexto, a
publicidade é utilizada como instrumento de alcance em massa dos consumidores em
potencial, que sem necessidade, trocam e consomem cada vez mais, sem se atentar para a
geração de lixo ou os problemas que a produção poderia trazer ao meio ambiente
(CONCEIÇÃO, 2014).
A vontade de trocar antigos produtos por aqueles mais modernos que todo os dias são
lançados no mercado não está restrito apenas a aparelhos eletrônicos. Os consumidores estão
trocando de automóveis, casas, eletrodomésticos com intervalos cada vez menores do que há
três décadas. A obsolescência programada representa um novo modo de colonização, onde a
tecnologia é utilizada como instrumento de controle e monitoramento dos países pobres. Os
mercados dos países emergentes apenas interessam para a venda final do produto, a
transmissão da tecnologia é deixada para o segundo plano. As nações pobres têm o trabalho
de extrair os produtos primários enquanto os emergentes ficam com a poluição e trabalho
desqualificado. As nações ricas controlam o comércio sem algum interesse na acumulação de
lixo eletrônico que tem sido enviado para os países pobres. Todos trabalhando para atender a
lógica do capital que cada vez mais gera novos produtos e concentra mais renda e lixo
(CONCEIÇÃO, 2014).
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de 3,3% ao ano durante os anos 2000. Léna (2012) ainda aponta que de acordo com o um
cálculo feito pela Agência Internacional de Energia (AIE), as emissões totais passaram de
20,9 Gt em 2009 para 30,6 em 2010.
Desde 1850, as concentrações de CO2 aumentaram em 40%, as de CH4, em 158%, e as
de N2O, em 20%, de acordo com o exposto por Artaxo (2014). Ainda de acordo com este
mesmo autor, há um certo consenso para que se tente limitar o aumento médio da temperatura
global em 2 graus centígrados a partir do limite pré-industrial, o que para Léna (2012) é
considerado impossível de se conseguir. Este valor de dois graus para limitação do aumento
de temperatura foi assumido levando-se em consideração aspectos científicos e políticos. Para
os aspectos científicos, foram tomadas como base as recomendações e projeções do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). As projeções do
IPCC ponderam os possíveis danos aos ecossistemas, como dentre outras variáveis, o
aumento do nível do mar. Além disso, faz também um paralelo com o que pode ser feito a
curto e médio prazo para se reduzir as emissões dos gases do efeito estufa (ARTAXO, 2014).
De acordo com Léna (2012), um aumento de temperatura global acima de 2 graus
significa um futuro incerto, o nível do mar já subiu 12 mm nos últimos 12 anos. E, Artaxo
(2014), diz que é importante frisar que não há evidências seguras de que, com a limitação das
concentrações de CO2 em 350 ppm (que já foram excedidas) necessária para que não se
ultrapasse esse limite de 2 graus no aumento da temperatura, o colapso das camadas de gelo
polares seria evitado. Além disso, a emissão dos demais gases do efeito estufa (CH4, N2O e
O3) também deveriam ser reduzidas. Eventos climáticos extremos como secas, furacões e
chuvas intensas já vem ocorrendo devido a esse excesso da concentração de CO2 na atmosfera
terrestre.
Os climatologistas já chegaram a discussões a respeito da irreversibilidade da
mudança climática. Para muitos deles, é possível que alcancemos um limiar onde não seja
mais possível retornar ao equilíbrio climático. Poderemos chegar a um ponto que o sistema
climático desmoronará rumo a uma desregulação irreversível, onde não seria mais possível
evitar, por exemplo, o ressecamento da floresta amazônica. Uma série de observações são
responsáveis por esta preocupação como: o derretimento das geleiras da Groenlândia que
estão acontecendo mais rápido do que as previsões dos modelos; a diminuição da capacidade
dos oceanos de absorverem gás carbônico; o derretimento do permafrost4 que está acelerando
devido ao aquecimento já em andamento (KEMPF, 2012).
4Imensa camada de terra gelada situada na Sibéria e no Canadá, seu derretimento liberaria uma imensa
quantidade de gás carbônico e metano contida em seu interior.
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Além dos perigos das mudanças climáticas, os diversos relatórios da Organização das
Nações Unidas (ONU), assim como centenas de observações científicas, mostram a destruição
de diversos ecossistemas, dos quais a existência do homem é totalmente dependente. Léna
(2012) aponta que de acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), os oceanos
chegarão a um esgotamento de onde não será mais possível retirar nenhum recurso alimentar
significativo. Além disso, os preços dos petróleos e dos minerais passarão por um aumento
considerável, uma vez que será cada vez mais difícil acessar suas reservas.
As enormes pressões exercidas para que o crescimento se mantenha nas próximas
décadas, serão responsáveis por gerar conflitos, além de uma maior degradação da biosfera
por conta da exploração dos últimos bens gratuitos ou baratos existentes, além das últimas
possibilidades de não incorporação das externalidades. Léna (2012) considera, sem sombra de
dúvidas, o Brasil como um dos poucos países onde estas condições, por certo tempo, ainda
existam.
Ainda falando sobre as degradações ambientais, especialistas tem se referido ao
desaparecimento acelerado de espécies observado em nossa época como a “sexta crise de
extinção”. Há cerca de 65 milhões de anos aconteceu a quinta crise, onde desapareceram os
dinossauros. Outro problema ambiental que se tem ciência é a contaminação química
generalizada do nosso meio ambiente, com dois importantes aspectos: um se refere à
contaminação das cadeias alimentares por poluentes químicos; o outro concerne ao maior
ecossistema do planeta, o conjunto formado pelos oceanos, que, sempre considerado infinito
em sua capacidade de regeneração, encontra-se cada vez mais enfraquecido (KEMPF, 2012).
4. Respostas à urgência
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A proposta da economia verde foi lançada pelo Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA - UNEP, na sigla em inglês), em meio à eclosão da crise financeira
no segundo semestre de 2008, com o objetivo de contornar os problemas ocasionados pela
crise ecológica. Tal proposta visava apresentar um novo paradigma para a retomada do
crescimento da economia mundial: “Mobilizar e reorientar a economia global para
investimentos em tecnologias limpas e infraestrutura ‘natural’, como as florestas e solos, é a
melhor aposta para o crescimento efetivo, o combate às mudanças climáticas e a promoção de
um boom de emprego no século 21” (UNEP, 2008; MOTTA, 2016).
Posterior ao lançamento da ideia inicial, a definição da economia verde foi
atualizada para “aquela que resulta na melhoria do bem-estar humano e da igualdade social,
ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos ambientais e das limitações
ecológicas”, ou seja, uma economia de baixo carbono, eficiente na utilização dos recursos
naturais e socialmente inclusiva. Em uma economia verde, o crescimento da renda e do
emprego são impulsionados por investimentos públicos e privados de modo a reduzir
emissões de carbono e poluição, aumentar a energia e eficiência dos recursos e previnir a
perda de biodiversidade e serviços ecossistêmicos (UNEP, 2011; MOTTA, 2016).
A proposta para economia verde seria, então, um sistema econômico governado por
investimento, produção, comercialização, distribuição e consumo, que respeite os limites do
ecossistema, ao passo que também produza bens e serviços que melhorem o ambiente, ou
seja, que tenha impacto positivo. De tal maneira, o meio ambiente é visto como uma força
geradora de novas oportunidades econômicas, os investimentos em ações no sentido da
redução das emissões de carbono e poluição impulsionariam o crescimento da renda e do
emprego, além de melhorarem a eficiência energética e de recursos o que evitaria perda da
biodiversidade e serviços ambientais (CECHIN E PACINI, 2012).
De acordo com Cechin e Pacini (2012), o problema maior está em conciliar os desejos
de desenvolvimento econômico, tanto dos países ricos quanto dos pobres, em uma economia
mundial que enfrenta crescentes insegurança energética e degradação dos ecossistemas. Tal
desafio seria enfrentado pela economia verde através da redução da perversa correlação
existente entre o crescimento econômico e o esgotamento dos recursos naturais, de modo a
permitir que tanto os países ricos quanto os pobres possam continuar crescendo e se
desenvolvendo.
Uma outra proposta que também tem por objetivo a implantação de uma economia
mais sustentável ambientalmente que proporcionasse uma absoluta redução no uso de
recursos naturais a um nível global é conhecida como decoupling (descolamento).
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Apresentada em relatório do PNUMA (UNEP), veio do pensamento de lideranças dos
governos, organizações internacionais e do setor privado em considerar um crescimento
desvinculado de maiores impactos ambientais (MOTTA, 2016).
O descolamento é a proposta central do International Resource Panel (IRP),
estabelecido em 2007, pelo PNUMA, a fim de se fornecer uma avaliação de cunho científico
independente, coerente e oficial do uso sustentável dos recursos naturais e do impacto
ambiental causado pelo uso de tais recursos em todo o ciclo de vida do produto. A proposta
do descolamento tem seu conceito e entendimento dos instrumentos ainda em fase inicial, mas
pode-se dizer que o ideal de descolamento propõe a redução da taxa de uso de recursos por
unidade de produção. Trata-se de uma desmaterialização baseada em uma menor utilização de
recursos materiais, energia, água e terra, gerando a mesma quantidade de produção econômica
(UNEP, 2011; MOTTA, 2016).
Há duas formas existentes para a manifestação da proposta do descolamento: a
primeira, refere-se à possibilidade do aumento na produção de bens e serviços e/ou qualidade
de vida com a diminuição relativa da exploração dos recursos naturais não renováveis, por
meio da redução progressiva do uso dos recursos físicos não renováveis por unidade de
produto (“descolamento de recursos”); a segunda, diz respeito às externalidades negativas
originárias da produção econômica e o consecutivo impacto ambiental, que podem ser
reduzidos com a implantação de inovações que busquem o controle da externalidade, além da
substituição de processos produtivos que não são eficientes por novos processos
(“descolamento de impacto ambiental) (MOTTA, 2016).
Despeise (2012) considera a tecnologia como a maneira de se atingir o objetivo da
sustentabilidade e, atualmente, há uma extensa gama de ferramentas e abordagens para avaliar
e lidar com o impacto ambiental das atividades industriais, integrando os conceitos de
sustentabilidade na prática corporativa. Dentre estas ferramentas podemos citar a Ecologia
Industrial, Produção Mais Limpa, Prevenção da Poluição e Manufatura Sustentável, além de
outras. Mas para que realmente se consiga reduzir ou limitar o impacto ambiental causado
pelas atividades humanas é necessário que haja um aumento na eficiência com que os
recursos são consumidos na Terra. Além disso, Despeise (2012) também afirma que
melhorando-se a eficiência energética de processos individuais, o fluxo de energia da fábrica
será melhorado.
Nesse sentido, se dá a importância do estudo de impactos ambientais feito baseado na
avaliação do ciclo de vida dos produtos/serviços, uma vez que se faz o levantamento de todos
os impactos que possam ser causados em qualquer estágio do ciclo de vida do objeto a ser
20
analisado. Essa análise demonstra como um produto pode interferir no meio ambiente, seja
durante seu processo de fabricação, seja durante seu uso ou até mesmo em seu descarte e
disposição final. Essa ferramenta auxilia o Sistema de Gestão Ambiental (SGA)5 e permite
identificar oportunidades de melhoria em qualquer fase da existência do produto, desde a
extração de suas matérias-primas até o descarte, promovendo o controle dos aspectos
ambientais e possibilitando a melhoria do seu conceito diante dos consumidores e da
sociedade de maneira geral.
5Parte do sistema global de gestão de uma organização utilizada para desenvolver e implementar sua política
ambiental e para gerenciar seus aspectos ambientais (NBR ISO 14.001, 2004).
21
90 houve uma supremacia de atividades potencialmente mais sujas no Brasil (BARCELLOS
et al, 2009).
Figura 1. Produção física, produto industrial com alto potencial poluidor e total no Brasil de 1981 a 1999.
Fonte: Exercício elaborado do IBGE/COIND a partir das informações da Pesquisa Industrial Mensal de
Produção Física e da Classificação de Atividades Industriais e não Industriais e seu Potencial Poluidor da
FEEMA.
Vários motivos podem ser apontados para se justificar a intensificação das atividades
poluentes na composição do setor de indústrias brasileiras. Em primeiro lugar, tem-se o atraso
na implantação de normas ambientais e agências especializadas no controle da poluição
industrial. Somente na segunda metade da década de 70 tivemos a criação do primeiro órgão
específico para esta finalidade (FEEMA/RJ)6. Em segundo lugar, tivemos a estratégia de
crescimento apoiada na industrialização por substituição de importações (ISI) que privilegiou
setores intensivos em emissão (YOUNG e LUSTOSA, 2001).
O processo de ISI teve sua motivação baseando-se na perspectiva de que o
crescimento de uma economia dita periférica não poderia ser sustentado somente em produtos
diretamente baseados em recursos naturais, como extração mineral ou agricultura. Entretanto,
ainda que o Brasil tenha avançado na consolidação de uma base industrial diversificada, tal
avanço foi comprimido pelo uso indireto de recursos naturais (energia e matérias-primas
baratas). Com isso, sua expansão não se deu através do incremento na capacidade de gerar ou
6Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente. Foi instinto com a instalação do Inea (Instituto Estadual
do Ambiente), em 2009.
22
absorver progresso técnico, o que é o caminho para o crescimento sustentado (YOUNG e
LUSTOSA, 2001).
Era mantida a prevalência do entendimento de que o controle ambiental é uma barreira
ao desenvolvimento industrial, sendo ignorado seu potencial para a geração de progresso
técnico. Outro fator contribuinte para a intensificação das atividades industriais poluidoras no
país foi a tendência de especialização do setor exportador em atividades potencialmente
poluidoras. O complexo exportador é, em geral, mais intensivo em emissões do que a média
da indústria (YOUNG e LUSTOSA, 2001).
Porem, as questões relacionadas à competitividade o meio ambiente vem ganhando
cada vez mais força. A intensificação do processo de globalização financeira e produtiva da
economia, juntamente com o aumento dos fluxos de comércio internacional, vem substituindo
as barreiras tarifárias por barreiras não-tarifárias ambientais, impostas pelos países
desenvolvidos. Tais “barreiras verdes” são impostas com a alegação de que os países em
desenvolvimento possuem leis ambientais menos rígidas, o que resultaria em custos mais
baixos (dumping ecológico). Como consequência disso, tem-se menores preços praticados no
mercado internacional. Estas “barreiras verdes” estão sendo impostas aos países em
desenvolvimento pois os novos padrões globais de gestão ambiental estão baseados no ciclo
de vida do produto (YOUNG e LUSTOSA, 2001).
A obrigação de se adequarem aos padrões ambientais pode servir de incentivo para
que a empresas adotem inovações que ajudem na redução dos custos totais de um produto ou
aumentem seu valor, o que pode vir a melhorar a competitividade das empresas e, assim, do
país. Quando as regulamentações ambientais são vistas como um desafio, as empresas passam
a desenvolver soluções inovadoras utilizando seus insumos de maneira mais produtiva,
melhorando sua competitividade. Tal melhora produtiva na utilização dos recursos se dá uma
vez que a poluição é, muitas das vezes, um desperdício econômico. Resíduos industriais,
sólidos, líquidos ou gasosos, podem ser reutilizados em inúmeras situações, como, por
exemplo, na co-geração de energia, extração de que podem ser reutilizadas ou na reciclagem
de materiais. (YOUNG e LUSTOSA, 2001).
Na análise do ciclo de vida do produto nota-se outros desperdícios, como a utilização
excessiva de embalagens e o descarte de produtos que requerem uma disposição final de alto
custo. Estes desperdícios dos resíduos industriais, assim como os desperdícios existentes ao
longo da vida do produto repassam os custos dos processos para os consumidores. Ao pagar o
preço do produto, o consumidor paga, sem perceber, a má utilização dos recursos. Nesse
sentido, a utilização mais racional dos recursos, realizada por meio de inovações, pode
23
aumentar a produtividade tornando a empresa mais competitiva através da melhoria de seus
produtos e redução de custos (YOUNG e LUSTOSA, 2001).
24
CAPÍTULO II
1. Economia Verde
25
O pensamento do ciclo de vida se encontra com a proposta da economia verde uma
vez que a tomada de decisão sobre qual produto produzir ou adquirir, ou quais investimentos
em tecnologia ou processos a serem feitos, ou ainda, quais incentivos e diretrizes a serem
implementadas que mais efetivamente possam vir a contribuir para uma economia verde não é
uma tarefa direta. Em relação à implementação de novas diretivas, uma tomada de decisão
para a solução de um problema feita sem que se leve em consideração todo o contexto pode
levar a consequências inesperadas em outros setores, ou trazer prejuízos para sociedades de
outros países. Tal foi o caso quando as diretrizes para a recuperação e reciclagem de lixo
eletrônico em alguns países industrializados levaram grandes quantidades destes a serem
recicladas, em condições abaixo do ideal, para países em desenvolvimento (UNEP/SETAC,
2012).
Portanto, a garantia de que a proposição de produtos, investimentos, incentivos e
diretivas venham de fato a contribuir para uma economia verde e, enfim para um
desenvolvimento sustentável, exige uma análise feita além de um único foco para revelar um
conjunto abrangente de impactos ambientais e sociais, o que corrobora para o pensamento do
ciclo de vida (UNEP/SETAC, 2012).
26
Medidas como as adotadas em técnicas de fim-de-tubo são iniciativas não integradas
reproduzidas pelas industrias e consistem na execução de ações isoladas que minimizam o
impacto ambiental sem, entretanto, ter como base uma política ambiental interna que insere a
ideia de sustentabilidade no dia a dia da empresa. Toma-se como exemplo uma empresa que
pode promover a reciclagem do material de escritório, mas que não faz o mesmo com o
material utilizado na sua cadeia produtiva.
Nos anos 90, a percepção da incapacidade do planeta em absorver as quantidades
crescentes de poluição no solo, água e ar, deu origem à produção mais limpa (mais produção
com menos poluição), à eficiência de recursos (mais produção com menos recursos) e à
norma ISO 14.001 de gestão ambiental (melhoria continua de produção). Foi durante esse
período que a avaliação do ciclo de vida começou a ganhar uma importância, inicialmente na
área de energia, devido à crise energética, sendo ampliada posteriormente na utilização da
matéria prima e a destinação final dos resíduos (UNEP/SETAC, 2012).
Contudo, recentemente, preocupações sobre as implicações do uso de produtos
cotidianos para a saúde humana levaram os consumidores a exigirem maiores informações
sobre a composição química dos produtos utilizados, o que levou a uma ligação entre
avaliação de risco e as ferramentas relacionadas à avaliação do ciclo de vida. Um foco nas
condições de trabalho introduziu um componente da avaliação social, que juntamente com o
custo do ciclo de vida e com a avaliação do ciclo de vida, permitiu uma tripla abordagem que
leva em consideração as questões ambientais, sociais, e aspectos econômicos na avaliação do
impacto do produto (UNEP/SETAC, 2012).
O pensamento do ciclo de vida diz respeito a ter em mãos informações confiáveis
sobre impactos ambientais, sociais e econômicos no momento de tomar as decisões. Oferece
uma maneira de incorporar a sustentabilidade nos processos de tomada de decisão e pode ser
usado tanto no setor público, quanto privado para o desenvolvimento de políticas e produtos,
bem como para aquisição e prestação de serviços. Implica na compreensão de que os
materiais são extraídos da terra, convertidos em materiais processados, combinados com
outros materiais para fazer peças/componentes, montados em um produto final, enviados aos
clientes que usam os produtos e, finalmente, descartados de alguma forma. Ao longo dessa
cadeia de valor7, energia e outros recursos naturais, sociais e econômicos são utilizados,
resíduos gerados, e os impactos relacionados, tanto positivos como negativo, são distribuídos
pelas sociedades em diferentes graus ao redor do globo (UNEP/SETAC, 2012).
7
De acordo com a NBR ISO 2.600 – Diretrizes sobre responsabilidade social, cadeia de valor é a sequência
completa de atividades ou partes que fornecem ou recebem valor na forma de produtos ou serviços (NBR ISO
2.600, 2010).
27
Olhando para o setor industrial, o pensamento sobre o ciclo de vida aborda além do
foco tradicional mais estreito de uma instalação de produção da empresa. Pensar no ciclo de
vida também significa levar em consideração os aspectos ambientais, sociais e econômicos
dos impactos de um produto em todo o seu ciclo de vida (da extração de matérias-primas ao
processamento de materiais, fabricação, distribuição, uso, reparo e manutenção, e disposição
final ou reciclagem) e cadeia de valor (Figura 2), a partir de berço ao túmulo (UNEP/SETAC,
2012).
Fonte: UNEP/SETAC. Life Cycle Management: A Business Guide to Sustainability. Paris, 2007.
8
Sistemas de gestão de qualidade – Fundamentos e vocabulário
9
Gestão ambiental
29
O pensamento do ciclo de vida representa uma abordagem holística, examinando os
impactos de um produto a partir de suas origens como matérias-primas, através da produção,
uso e disposição final – do berço ao túmulo. O gerenciamento pelo ciclo de vida fornece uma
metodologia para colocar o ciclo de vida em ação, rumo à melhoria contínua. As ferramentas
de ciclo de vida medem, monitoram e comunicam os impactos dos produtos, tanto ambientais
quanto sociais revelando, também, os impactos sobre a saúde humana, permitindo que os
produtos de melhor e de pior desempenho sejam mais facilmente identificados. Uma
abordagem de ciclo de vida põe nas mãos dos indivíduos informações relevantes onde e
quando eles necessitam, de forma que eles possam tomar boas decisões para proteger o meio
ambiente, para melhorar a qualidade de vida das pessoas que produzem os bens e para
preservar a saúde das pessoas que os usam (UNEP/SETAC, 2012).
30
diferentes cenários, o que o torna atraente para os consumidores e para o setor financeiro.
Através do Programa de Compras Sustentáveis do PNUMA, economias emergentes e em
desenvolvimento começam a exercitar e testar a incorporação desse conceito em suas
atividades de compras públicas. A avaliação da sustentabilidade do ciclo de vida começou a
ser idealizada nos anos 80, com o início de discussões sobre como lidar com o critério social e
socioeconômico dos produtos durante seu ciclo de vida. Seu objetivo é avaliar os aspectos
sociais e socioeconômicos dos produtos, bem como os potenciais impactos positivos e
negativos envolvidos em cada etapa do seu ciclo de vida. Os impactos podem estar ligados
com o comportamento das empresas, os processos socioeconômicos ou a impactos no capital
social (UNEP/SETAC, 2011).
As três metodologias mencionadas acima podem ser aplicadas apenas para realização
de uma avaliação do desempenho (ambiental, econômico o social) do produto, de modo que
se identifique oportunidades de melhoria, por exemplo. Contudo, tais metodologias são
bastante utilizadas em estudos comparativos entre dois ou mais produtos a fim de se verificar
qual apresenta melhor desempenho no critério estudado.
Embora o pensamento do ciclo de vida envolva todo o ciclo de vida de um produto
(do berço ao túmulo), é possível que sejam realizadas avaliações para determinadas etapas do
ciclo de vida, como por exemplo: avaliação do berço ao portão, que identifica e avalia os
impactos potenciais associados apenas às etapas de extração dos recursos naturais até a
produção do produto; avaliação do portão ao portão, que realiza a avaliação somente dentro
da planta de produção; portão ao túmulo, avalia os impactos envolvidos desde a saída do
produto para o mercado consumidor até o momento de sua destinação final (ANGELO, 2014).
No início dos anos 90, os Estados Unidos escolheram a Califórnia como o primeiro
estado americano a receber veículos elétricos a fim de se combater a poluição causada pelos
tradicionais motores a combustão. Porem, levando-se em consideração que a energia elétrica
consumida pelos californianos na época era essencialmente proveniente de combustíveis
fósseis, o aumento da demanda por eletricidade poderia fazer com o que balanço de poluição
fosse negativo, ou apenas deslocar o foco do problema. Da mesma maneira, podemos estender
o pensamento para outras questões, tais como: o uso de embalagens descartáveis traz mais
problemas para o meio ambiente do que o uso de embalagens retornáveis? Considerando-se
31
que as ultimas necessitam de um sistema para coleta, transporte, lavagem e desinfecção, seu
uso pode trazer mais consequências negativas do que o uso de embalagens descartáveis, por
exemplo. Ainda nesse pensamento, lâmpadas do tipo fluorescentes têm uma vida útil mais
longa e consomem menos energia do que as do tipo incandescentes tradicionais, porém sua
fabricação requer uma quantidade maior de materiais, além de conterem metais pesados em
sua composição, sendo assim, qual seria menos agressiva para o meio ambiente? (SOARES et
al, 2006; GUINÉE et al, 2011).
A avaliação do ciclo de vida surge como uma solução para essas questões, uma vez
que se trata de um processo objetivo de avaliar as cargas ambientais associadas à função
exercida por um produto, processo ou atividade, através da identificação, quantificação e
avaliação de impactos quanto ao uso de energia e matéria, além de emissões ambientais e a
determinação de oportunidades de melhorias ambientais. Todo o ciclo de vida é incluído
nessa avaliação desde a extração e processamento das matérias-primas; fabricação; transporte
e distribuição; uso/reuso/manutenção; reciclagem; e disposição final (SETAC, 1993).
Segundo a norma NBR ISO 14.040 (2001), que padronizou e estabeleceu
internacionalmente a definição para a ACV, tal metodologia consiste na “compilação e
avaliação das entradas, das saídas e dos impactos ambientais potenciais de um sistema de
produto ao longo de seu ciclo de vida”, ainda de acordo com a referida norma, “as categorias
gerais de impactos ambientais que necessitam ser consideradas incluem o uso de recursos, a
saúde humana e as consequências ecológicas”. Ao longo da evolução mundial desse
pensamento, muitos nomes já foram utilizados para esta técnica, tais como: eco-balanço
(Alemanha, Suíça, Áustria e Japão), análise de perfil de recursos e perfil ambiental (EUA) e
avaliação do berço ao túmulo (ROY et al, 2009).
Utilizando-se tal metodologia verifica-se que a prevenção à poluição se torna mais
racional, econômica e efetiva do que uma ação na direção dos efeitos gerados. Um dos
objetivos da ACV é conceber uma sistemática confiável e passível de reprodução, com o
objetivo de determinar, dentre várias atividades, qual terá menor impacto ambiental (HINZ et
al, 2006). Através dessa análise, também é possível se verificar que, para muitos produtos, a
grande parte dos impactos ambientais não está em seu uso, mas sim em sua produção,
transporte ou descarte (GUINÉE et al, 2011).
Governos de todo o mundo vem incentivando o uso da ACV que se tornou um
elemento central na política ambiental ou em ações voluntárias na União Europeia, EUA,
Japão, Coreia, Canadá, Austrália e em economias em expansão como a Índia e, recentemente,
também a China. As legislações sobre embalagens na UE e Japão, por exemplo, possuem
32
considerações sobre a aplicação da ACV. A popularização da ferramenta trouxe também uma
ampliação em seu uso. Agora é possível encontrar estudos de ACV sobre incineração de
resíduos, materiais de construção, sistemas militares e turismo, por exemplo (GUINÉE et al,
2011).
Os estudos da ACV podem ser utilizados com diferentes propósitos, como, por
exemplo: comparação da performance entre produtos, processos e serviços que cumprem
funções equivalentes; comparação entre diferentes possíveis ciclos de vida para produtos,
processos ou serviços; e identificação de partes do ciclo de vida onde melhorias podem ser
feitas. A identificação de possibilidades de melhorias se faz possível uma vez que a ACV atua
empreendendo a busca dos principais focos de impactos ambientais existentes no objeto alvo
do estudo. Ao término da análise, será identificada a contribuição do sistema em estudo para
diversas categorias de impacto ambiental, o que possibilita a formulação de planos de ação
para minimização desses impactos. Fazendo-se este levantamento para dois objetos, que
realizam a mesma função, é possível compara-los de maneira a identificar qual possui o
melhor desempenho na categoria de interesse (KULAY e SEO, 2006; ROY et al, 2009).
Quando realizada confrontando o desempenho ambiental de um ou mais produtos com
certo padrão já estabelecido, a ACV pode servir para a elaboração de rótulos e declarações
ambientais, além de possuir uma aplicação para atividades estratégicas de uma organização,
tais como projetos de novos produtos e reavaliação de produtos já existentes. Muitas
propostas de rotulagem ambiental vêm sendo discutidas tendo-se como base os estudos de
ACV, das quais destaca-se o “selo verde”. Este selo indica que o produto foi fabricado
respeitando o atendimento a um conjunto de normas estabelecidas pela instituição que emitiu
o selo, atestado por meio de uma marca colocada voluntariamente pelo fabricante. Além
disso, atesta que determinado produto é adequado ao uso e apresenta menor impacto
ambiental em relação a outros similares (KULAY e SEO, 2006; REIS, 2008).
Os primeiros estudos feitos, hoje reconhecidos como ACVs, mesmo que parcialmente,
datam do final da década de 1960 e início de 1970, sendo que o termo (life cycle assessment)
foi primeiramente utilizado nos Estados Unidos em 1990 (FERREIRA, 2004; GUINÉE et al,
2011).
33
Um dos primeiros estudos a quantificar os requisitos de recursos, emissões e resíduos
de diferentes embalagens de bebidas foi realizado pelo Midwest Research Institute (MRI) para
a companhia Coca Cola em 1969, utilizando o termo “Análise de Perfil Ambiental e de
Recurso” (Resource and Environmental Profile Analysis – REPA). Devido ao caráter
confidencial do seu conteúdo este estudo nunca foi publicado. Com este levantamento
realizado foi possível demonstrar que as garrafas de plástico não eram piores do que as de
vidro, do ponto de vista ambiental. No final de 1972, o mesmo instituto (MRI) realizou outro
estudo do tipo tendo como alvo as embalagens de cerveja e sumos. O estudo foi encomendado
pela U. S. Environmental Protection Agency (USEPA) e marcou o inicio do desenvolvimento
da ACV como se conhece hoje. A USEPA tinha, com esse estudo, a intenção de examinar as
implicações ambientais da utilização de embalagens de vidro retornáveis no lugar das latas e
garrafas não reutilizáveis. Envolveu a indústria do vidro, aço, alumínio, papel e plástico e
todos os fornecedores dessas indústrias, tendo-se caracterizado mais de 40 materiais, sendo o
estudo do tipo mais ambicioso existente até então. Os resultados apontaram para a utilização
das garrafas reutilizadas como sendo melhor, em termos ambientais (GUINÉE, 1995; HUNT
E FRANKLIN, 1996; FERREIRA, 2004; GUINÉE et al, 2011).
Em 1984, os Laboratórios Federais Suíços para Teste e Pesquisa de Materiais (Swiss
Federal Laboratories for Materials Testing and Research - EMPA) publicaram um relatório
que apresentava uma lista abrangente dos dados necessários para os estudos de ACV,
catalisando assim uma aplicação mais ampla da ACV. O estudo também introduziu um
primeiro método de avaliação de impacto, dividindo as emissões transmitidas pelo ar e pela
água por padrões semipolíticos para essas emissões e agregando-as, respectivamente, aos
chamados “volumes críticos” de ar e “volumes críticos” de água (GUINÉE et al, 2011).
A década de 1990 foi marcada por um notável crescimento das atividades científicas e
de coordenação em todo o mundo, refletido no número de workshops e outros fóruns
organizados nesta década e no número de guias e manuais de ACV produzidos. Por meio de
seus ramos norte-americanos e europeus, a Sociedade de Toxicologia e Química Ambiental
(Society of Environmental Toxicology and Chemistry - SETAC) começou a desempenhar um
papel de liderança e coordenação na reunião de profissionais, usuários e cientistas da ACV
para colaborar na melhoria contínua e harmonização da estrutura, terminologia e metodologia
da ferramenta. O “Código de Prática” (“Code of Practice”) da SETAC foi um dos principais
resultados desse processo de coordenação, visto como o “mais alto denominador comum” na
metodologia da ACV (GUINÉE et al, 2011).
34
Ao lado da SETAC, a Organização Internacional de Padronização (ISO) esteve
envolvida na ACV desde 1994. Enquanto os grupos de trabalho da SETAC focaram no
desenvolvimento e na harmonização de métodos, a ISO adotou a tarefa formal de
padronização de métodos e procedimentos. Existem atualmente as seguintes normas
relacionadas a ACV (FERREIRA, 2004; GUINÉE et al, 2011):
• ISO 14.040: 1997 Environmental management -- Life cycle assessment -- Principles and
framework;
• ISO 14.041: 1998 Environmental management -- Life cycle assessment -- Goal and scope
definition and inventory analysis;
• ISO 14.042: 2000 Environmental management -- Life cycle assessment -- Life cycle
impact assessment;
• ISO 14.043: 2000 Environmental management – Life cycle assessment -- Life cycle
interpretation;
• ISO/TR 14.049: 2000 Environmental management -- Life cycle assessment -- Examples of
application of ISO 14.041 to goal and scope definition and inventory analysis;
• ISO/TR 14.048: 2002 Environmental management -- Life cycle assessment -- Data
documentation format; e
• ISO/TR 14.047: 2003 Environmental management -- Life cycle impact assessment --
Examples of application of ISO 14.042.
35
Em 2002, o PNUMA e a SETAC lançaram uma Parceria Internacional para o Ciclo de
Vida, conhecida como Iniciativa do Ciclo de Vida (The Life Cycle Iniative’s). O objetivo
principal era colocar o pensamento do ciclo de vida em prática e melhorar as ferramentas de
apoio por meio de melhorias de dados e indicadores.
No Brasil, a ACV ainda não é uma metodologia amplamente difundida. Muito disso se
dá pelo fato de a ACV estar diretamente relacionada a questões regionais, fazendo com que o
nosso país enfrente dificuldades para desenvolver uma metodologia adequada. Apenas
algumas empresas como, por exemplo, a Mercedes-Bens, NATURA e BASF vem utilizando a
ferramenta para prototipagem de seus produtos (BARBOSA JR., 2007; REIS, 2008; SIMÃO,
2011).
Em 2005, o Instituito Ekos Brasil, uma organização da sociedade civil brasileira para a
promoção do desenvolvimento sustentável, e o EMPA (sigla em alemão para Laboratórios
Federais Suíços de Ciência e Tecnologia de Materiais), com o apoio do Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), desenvolveram, em parceria com centros de
pesquisas e universidades brasileiras, um projeto de capacitação a fim de promover a
transferência da tecnologia suíça de bases de dados para o Brasil (REIS, 2008).
Os principais trabalhos que se tem hoje sobre ACV, no Brasil, foram desenvolvidos
pela academia, em nível de graduação e pós-graduação, através da capacitação dos estudantes,
pela publicação de trabalhos acadêmicos de mestrado e doutorado. Apesar disso, algumas
propostas já surgiram no Brasil com o intuito de disseminar a importância do uso do ACV,
como, por exemplo: o projeto Inventário do Ciclo de Vida para Competitividade Ambiental
da Industria Brasileira (SICV Brasil); o programa Ontologia do Ciclo de Vida (OCV) e o
Programa Brasileiro de Avaliação do Ciclo de Vida (PBACV), todos conduzidos diretamente
pelo IBICT. O INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, qualidade e Tecnologia)
também participou no PBACV no comitê gestor com o papel de secretariado (MOTTA,
2016).
Em 2013, ocorreu o lançamento da rede empresarial brasileira de ACV com o
objetivo de promover a técnica de ACV no mundo empresarial brasileiro. Teve seu início com
a participação de nove empresas e uma parceria com a Associação Brasileira de Ciclo de Vida
(ABCV) e o instituto Akatu. Já em 2015, o IBICT publicou um relatório apresentando
36
propostas de fortalecimento da ACV no Brasil e os principais marcos históricos do
desenvolvimento da ACV no país, objetivando organizar os pontos apresentados
cronologicamente e incluir outros que não foram mencionados diretamente, apesar de
possuírem importância na evolução e disseminação da ACV no Brasil. Ainda em 2015,
ocorreram no país o I Fórum Brasileiro de Avaliação do Ciclo de Vida e o Programa
Brasileiro de Avaliação do Ciclo de Vida (MOTTA, 2016).
Outro evento importante de ACV aconteceu no Brasil em 2016, o Fórum Internacional
de Avaliação do Ciclo de Vida, onde ocorreu o lançamento oficial do banco de dados do
Banco Nacional de Inventários do Ciclo de Vida (SICV Brasil), que passou a estar disponível
para acesso e uso. No mesmo evento, foi lançada também a Revista Latino-Americana de
Inventários do Ciclo de Vida (LALCA), primeira revista da região dedicada exclusivamente
ao tema do pensamento do ciclo de vida e de acesso aberto. Ainda em 2016, a INMETRO
lançou, através da portaria número 100, requisitos gerais do programa de rotulagem ambiental
tipo III – declaração ambiental de produto (MOTTA, 2016).
A metodologia da ACV é a única que permite identificar a transferência de impactos
ambientais de um meio para outro (por exemplo: uma diminuição em emissões atmosféricas
de um dado processo produtivo pode causar um aumento das emissões de efluentes líquidos)
e/ou de um estágio de ciclo de vida para outro (por exemplo: da fase de aquisição de matérias-
primas para a fase de utilização). O conceito do ciclo de vida se estendeu para um patamar
que vai além de um simples método para comparar produtos, sendo visto, atualmente, como
uma parte essencial para conseguir objetivos mais abrangentes, tais como a sustentabilidade.
A interligação dos sistemas de produto, que não se limitam por fronteiras geográficas, requer
que se continue a desenvolver a metodologia ACV a um nível internacional (CURRAN, 1999;
FERREIRA, 2004).
37
CAPÍTULO III
A ACV é um estudo que pode ser usado para auxiliar (NBR ISO 14.040, 2001):
• Na identificação de oportunidades para melhorar o aspecto ambiental dos produtos em
vários pontos de seu ciclo de vida;
• Na tomada de decisões na indústria, organizações governamentais ou não-governamentais,
visando, por exemplo, ao planejamento estratégico, à definição de prioridades ou ao
reprojeto de produtos ou processos;
• Na seleção de indicadores de desempenho ambiental relevantes, incluindo técnicas de
medição; e
38
• No marketing (por exemplo, na implementação de um esquema de rotulagem ambiental,
na apresentação de uma reivindicação ambiental ou na elaboração de uma declaração
ambiental de produto).
A ACV é uma das várias técnicas de gestão ambiental existentes, como, por exemplo,
a avaliação de risco, a avaliação de desempenho ambiental, a auditoria ambiental e a
avaliação de impacto ambiental. O escopo, as fronteiras e o nível de detalhamento de um
estudo de ACV dependem do assunto e da finalidade do estudo. A profundidade e a extensão
dos estudos podem distinguir-se, de maneira considerável, dependendo do objetivo de um
estudo de ACV em particular (NBR ISO 14.040, 2001).
A NBR ISO 14.040 (2001) normatiza que um estudo de ACV deve incluir a definição de
objetivo e escopo, a análise de inventário, a avaliação de impacto e a interpretação de
resultados (Figura 3).
39
1.1. Definição de objetivo e escopo
10
Conjunto de unidades de processo, conectadas material e energeticamente, que realiza uma ou mais funções
definidas (NBR ISO 14.040, 2001).
11
Desempenho quantificado de um sistema de produto para uso como uma unidade de referência em um estudo
de ACV (NBR ISO 14.040, 2001).
12
Quais unidades de processo devem ser incluídas na ACV (NBR ISO 14.040, 2001).
13
Repartição dos fluxos de entrada ou de saída de uma unidade de processo no sistema de produto sob estudo
(NBR ISO 14.040, 2001).
40
• Escolha de valores e elementos opcionais;
• Requisitos dos dados;
• Pressupostos;
• Limitações;
• Requisitos de qualidade dos dados iniciais;
• Tipos de análise crítica, se aplicável; e
• Tipo e formato do relatório requerido para o estudo.
O escopo deve ser suficientemente bem definido para que fique assegurado que a
extensão, a profundidade e o grau de detalhamento do estudo estejam em compatibilidade e
sejam suficientes para que o objetivo estabelecido seja atendido. O conteúdo mínimo do
escopo deve contemplar o ponto de início e o fim do estudo (extensão), quantos e quais
subsistemas incluir (abrangência) e o nível de detalhe do estudo (profundidade). Em algumas
situações o objetivo e o escopo da ACV podem ser revisados devido a limitações imprevistas,
restrições ou como resultado de informações adicionais (NBR ISO 14.040, 2001; NBR ISO
14.044, 2009).
De acordo com Kulay e Seo (2006), no estabelecimento do escopo, se faz importante a
consideração de aspectos de caráter geográfico, temporal e tecnológico do sistema de produto
(a porção do espaço sobre o qual se dará a aplicação do estudo), a fim de refinar as fronteiras
e seleção de informações a serem posteriormente utilizadas no inventário.
Quanto maior a quantidade de etapas da ACV, e de subsistemas considerados, maior
será a precisão da análise, bem como o conhecimento sobre os impactos ambientais
resultantes. Porém, a quantidade de informações necessárias e, consequentemente, o tempo e
custos dispendidos também serão maiores. Um estudo de ACV pode requerer, em média,
informações de cerca de 40 a 50 processos produtivos relacionados, o que significa que tal
análise demanda, em geral, uma imensa quantidade de dados e procedimentos adequados, o
que consome tempo e recurso financeiro (BOGUSKI, 1996; UGAYA, 2001).
Por este motivo, se faz importante a definição de restrições, além de sorte que o
projeto seja, de fato, factível. Esta definição restritiva é feita na própria definição do escopo
que, sendo realizada corretamente, reduz a quantidade de informações necessárias (UGAYA,
2001).
41
1.1.1. Função e unidade funcional
14
Medida das saídas de processos, em um dado sistema de produto, requeridas para realizar a função expressada
pela unidade funcional (NBR ISO 14.044, 2009).
42
incluídos no estudo e o nível de detalhamento com que esses processos elementares devem ser
estudados (NBR ISO 14.040, 2001; NBR ISO 14.044, 2009).
15
Material ou energia que entra/deixa o sistema sob estudo, que foi retirado/descartado no meio ambiente sem
transformação humana prévia/subsequente (NR ISO 14.040, 2001).
43
1.1.3. Procedimentos de alocação
O objetivo e o escopo da ACV determinam quais dados devem ser selecionados. Estes
podem ser coletados nos locais de produção associados aos processos elementares dentro da
fronteira do sistema, ou podem ser obtidos ou calculados a partir de outras fontes (pode-se ter
uma mistura de dados medidos, calculados ou estimados) (NBR ISO 14.044, 2009).
44
escopo do estudo da ACV sejam alcançados. Convém que os requisitos de qualidade dos
dados abranjam (NBR ISO 14.040, 2001; NBR ISO 14.044, 2009):
• a cobertura temporal: idade dos dados e período mínimo de tempo durante o qual os dados
deveriam ser coletados;
• a cobertura geográfica: área geográfica a partir da qual deveriam ser coletados dados para
processos elementares de modo a satisfazer o objetivo do estudo;
• a cobertura tecnológica: tecnologia específica ou conjunto de tecnologias;
• a precisão: medida da variabilidade dos valores de dados para cada dado expresso (por
exemplo, variância);
• a completeza: percentagem dos fluxos que é medida ou estimada;
• a representatividade: avaliação qualitativa do grau em que o conjunto de dados reflete a
verdadeira população de interesse (por exemplo, cobertura geográfica, período de tempo e
cobertura tecnológica);
• a consistência: avaliação qualitativa quanto à aplicação uniforme da metodologia do
estudo aos diversos componentes da análise;
• a reprodutibilidade: avaliação qualitativa do grau em que as informações sobre a
metodologia e os valores dos dados permitiriam a um executante independente reproduzir
os resultados relatados no estudo;
• as fontes dos dados; e
• a incerteza da informação (por exemplo dados, modelos e pressupostos).
Convém que a qualidade dos dados seja caracterizada tanto por aspectos quantitativos
quanto qualitativos, assim como pelos métodos utilizados para coleta e consolidação daqueles
dados.
45
entre sistemas com respeito a estes parâmetros devem ser identificadas e relatadas (NBR ISO
14.040, 2001; NBR ISO 14.044, 2009).
A coleta dos dados é vital na qualidade dos estudos de ACV, visto que os resultados
do estudo e as recomendações de melhorias ambientais são obtidos baseados nesses dados, o
que demanda extrema cautela no processo de obtenção das informações (UGAYA, 2001). Os
dados devem ser coletados para cada processo elementar que está incluído na fronteira do
sistema (NBR ISO 14.044, 2009).
A norma NBR ISO 14.044 (2009) indica medidas a serem adotadas na coleta dos
dados a fim de que seja assegurado um entendimento uniforme e consistente dos sistemas de
produto a serem modelados, são elas:
• Construção de fluxogramas dos processos unitários, incluindo suas interrelações;
• Descrição de cada processo elementar com relação a fatores que influenciam entradas e
saídas;
• Especificação das unidades utilizadas;
• A descrição da coleta de dados e das técnicas de cálculo necessárias para todos os dados; e
• A disponibilização de instruções para documentar claramente quaisquer casos especiais,
irregularidades, etc.
47
Segundo a NBR ISO 14.044 (2009), os principais conjuntos de categorias de dados
são:
• entradas de energia, entradas de matéria-prima, entradas auxiliares e outras entradas
físicas,
• produtos, coprodutos e resíduos,
• liberações para a atmosfera, água e solo, e
• outros aspectos ambientais.
48
• Refinamento da fronteira do sistema: como a ACV possui natureza iterativa, decisões com
relação aos dados a serem incluídos devem ser baseadas em uma análise de sensibilidade
para determinar sua significância. A fronteira inicial do sistema será revisada de acordo
com os critérios de corte estabelecidos na definição do escopo.
1.2.3. Alocação
49
Impactos considerados em uma AICV incluem: mudanças climáticas, depleção de
ozônio, eutrofização, acidificação, toxicidade humana (relacionada, ou não, à câncer)
inorgânicos respirados, radiação ionizante, ecotoxicidade, formação de ozônio fotoquímico,
uso da terra e esgotamento de recursos. As emissões e recursos são atribuídos a cada uma
dessas categorias de impacto. Eles são, então, convertidos em indicadores usando modelos de
avaliação de impacto (EC-JRC, 2010a).
Segundo a norma NBR ISO 14.044 (2009), a fase da AICV deve incluir os seguintes
elementos obrigatórios:
• seleção das categorias de impacto, indicadores de categoria e modelos de caracterização;
• correlação dos dados do ICV às categorias de impacto selecionadas (classificação); e
• modelagem dos resultados do ICV dentro de categoria de impacto (caracterização).
51
• MEEuP (Holanda).
Figura 8.Relacionamento dos elementos da fase de interpretação com as outras fases da ACV.
Ao final do estudo, seus resultados devem ser relatados ao público alvo de forma
completa, precisa e imparcial. Os resultados, dados, métodos, pressupostos e limitações
devem ser apresentados de forma transparente e com detalhamento suficiente para que o leitor
compreenda as complexidades e compromissos que envolvem um estudo de ACV. O relatório
também deve permitir que os resultados e a interpretação sejam utilizados de uma maneira
consistente com os objetivos do estudo (NBR ISO 14044, 2009)
54
CONCLUSÃO
55
não é capaz de determinar qual produto ou processo é mais caro ou funciona melhor, produz
apenas informações que atuam como um componente no processo de tomada de decisão que
conta com outras componentes, como o custo e a performance. A ACV é uma ferramenta de
gestão ambiental que deve ser utilizada juntamente com outras ferramentas como, por
exemplo, análise de risco, avaliação de desempenho e auditoria ambiental.
Além de tempo e recursos financeiros, observou-se, também que um estudo de ACV
necessita de uma ampla base de dados, o que pode dificultar bastante o estudo. Em alguns
casos, onde a base de dados é insuficiente, os estudos acabam sendo “adaptados” com dados
de outras regiões, o que pode trazer dúvidas ou questionamentos quanto ao seu uso. Estes
problemas, somados à desinformação quanto ao tema por parte do segmento industrial, à falta
de incentivos governamentais e à falta de mão de obra qualificada contribuem para a baixa
disseminação da técnica no país.
Apesar disso, há uma convicção de que, no futuro, a ACV ganhará mais posição, uma
vez que haverá uma maior disponibilidade de bases de dados regionais para inventário,
desenvolvimento de novos métodos para avaliação de impacto, além de melhorias nas análises
de incertezas, por exemplo. Além do mais, com o passar do tempo, tem-se uma maior
experiencia em abordagens e metodologias de ciclo de vida pelo mundo, o que melhora a
velocidade e a robustez do processo e dos resultados.
Considera-se importante para o sucesso da ACV que esta mantenha sua credibilidade
técnica ao passo que proporcione flexibilidade, praticidade e efetividade de custo em sua
aplicação, ainda mais quando se pretende aplicar a ACV no âmbito das pequenas e médias
empresas.
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