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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESTUDO DE SISTEMAS MODULARES APLICADOS A


EDIFICAÇÕES HABITACIONAIS PARA POPULAÇÃO
DE BAIXA RENDA

CAIO SOARES SOUZA

2022
ESTUDO DE SISTEMAS MODULARES APLICADOS A EDIFICAÇÕES
HABITACIONAIS PARA POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA

Caio Soares Souza

Projeto de Graduação apresentado ao Curso


de Engenharia Civil da Escola Politécnica,
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Engenheiro.

Orientador: Prof. Jorge Santos

Rio de Janeiro
Janeiro de 2022
ESTUDO DE SISTEMAS MODULARES APLICADOS A EDIFICAÇÕES
HABITACIONAIS PARA POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA

Caio Soares Souza

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE


ENGENHARIA CIVIL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO
GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

________________________________
Prof. Jorge Santos

________________________________
Profa. Isabeth Mello

________________________________
Profa. Mayara Amario

________________________________
Prof. Wilson Wanderley da Silva

________________________________
Profa. Carina Mariane Stolz

Rio de Janeiro, RJ – Brasil


Janeiro de 2022
Dedico este trabalho de conclusão ao meu
avô Edinho, um engenheiro sem diploma,
que sempre me estimulou à inventividade
e criatividade na solução de problemas,
que vibrou comigo a minha aprovação na
universidade, e agora acompanha a
conclusão lá de cima.
Dedico ainda à minha avó Leinha que,
agora junto do meu avô, me acompanha
em toda minha trajetória.
AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar à Deus, que me deu a vida e o propósito que busco
seguir. Que me capacitou e sustentou antes do início curso, durante toda a sua duração e
que me acompanhará pelo restante da minha existência.
Agradeço à minha esposa, amiga e companheira Andreza, por todo o suporte,
amparo e incentivo ao longo de todo curso, e especialmente nos últimos 8 meses, por toda
a paciência, compreensão e ajuda na finalização deste trabalho.
Agradeço aos meus pais Daniel e Érica por todo o apoio e sustento ao longo de
toda a minha vida, por me permitirem trilhar meus próprios caminhos, sempre me
aconselhando e orientando da melhor forma possível e sendo presentes em toda a minha
caminhada.
Agradeço à toda a minha família: irmãs, avós, tios e tias, primos e primas. A
torcida de vocês me motiva a continuar seguindo e foi fundamental nessa conquista.
Agradeço à família que me adotou através da Andreza. Às avós, tias e tios, primos,
irmãos e pais, pelo amor que têm por mim e por sempre acreditarem no meu crescimento.
Agradeço aos meus amigos, colegas e professores que pude encontrar na UFRJ,
que fizeram essa jornada ser mais leve, ou mais pesada em alguns momentos.
Agradeço finalmente à Universidade Federal do Rio de Janeiro, que me foi casa
nos últimos anos, como é para milhares de pessoas. Que ela permaneça gigante, pública,
gratuita e de qualidade, por toda a sua história.
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

ESTUDO DE SISTEMAS MODULARES APLICADOS A EDIFICAÇÕES


HABITACIONAIS PARA POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA

Caio Soares Souza

Janeiro de 2022

Orientador: Prof. Jorge Santos

O mercado de construções modulares no Brasil ainda é relativamente novo, mas tem


conquistado espaço como alternativa construtiva para quem procura ganhos de
produtividade e eficiência no canteiro de obras. Estando em um país com grande parcela
da população em situações precárias de habitação, somado ao grande déficit habitacional,
a solidez e o padrão confiável de qualidade oferecido por essa proposta representam uma
habitação segura, materializada mais rapidamente e com custo menor que as
convencionais. A perceptível redução de prazos e custos, quando comparada à métodos
construtivos tradicionais, revelam a possibilidade de sua aplicação na criação de unidades
habitacionais para famílias de baixa renda, que majoritariamente residem em construções
executadas sem projetos técnicos e com pouca, quando alguma, observância às normas
de segurança, qualidade, habitabilidade e conforto. Este trabalho objetiva uma avaliação
de alternativas modulares, já presentes no mercado, que podem ser utilizados na
construção, propondo soluções para os principais subsistemas de uma unidade
habitacional, de baixo custo e plenamente compatíveis entre si. Foi verificado, de forma
analítica, o atendimento desses sistemas às normas de desempenho para unidades
habitacionais e foi feito um estudo comparativo entre os sistemas modulares e soluções
apresentadas em métodos construtivos tradicionais, observando as vantagens e
desvantagens de um sobre o outro, atestando a possibilidade e vantagem do uso de
sistemas construtivos modulares.
Palavras-chave: Habitação Social; Construção Modular; Subsistemas Construtivos;
Construção de Baixo Custo; Déficit Habitacional.
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Engineer.

STUDY ON MODULAR SYSTEMS APPLIED TO HOUSING CONSTRUCTIONS


FOR LOW-INCOME POPULATION

Caio Soares Souza

January 2022

Advisor: Prof. Jorge Santos

The modular construction market in Brazil is still relatively new, but it has gained ground
as a constructive alternative for those who look for productivity and efficiency gains at
the construction site. Being in a country with a large portion of the population in
precarious housing situations, added to the large housing deficit, the solidity and reliable
standard of quality offered by this technique represent safe housing, built faster and at a
lower cost than those using conventional building technique. The noticeable reduction in
time and costs, when compared to traditional construction methods, reveal the possibility
of its application in the creation of housing units for low-income families, who mostly
live in houses built without technical blueprints and with little, if any, compliance with
safety, quality, habitability and comfort standards. This work aims to evaluate modular
alternatives, already present in the market, that can be used in construction, suggesting
solutions for the main subsystems of a housing unit, with low cost and fully compatible
with each other. The compliance of these systems with the performance standards for
housing units was analytically verified and a comparative study was carried out between
the modular systems and solutions presented in traditional construction methods,
observing the advantages and disadvantages of one over the other, verifying the
possibility and advantage of using modular construction systems.

Keywords: Social Housing; Modular Construction; Construction Subsystems; Low-Cost


Construction; Housing Deficit.
LISTA DE SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas


BNH – Banco Nacional de Habitação
CBIC – Câmara Brasileira da Indústria da Construção
CEF – Caixa Econômica Federal
CUB – Custo Unitário Básico de Construção
EPS – Poliestireno Expandido
FADs – Fichas de Avaliação de Desempenho
FCP – Fundação Casa Popular
FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
FHC – Fernando Henrique Cardoso
FJP – Fundação João Pinheiro
HIS – Habitação de Interesse Social
IAPS – Institutos de Aposentadoria e Pensão
IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MDF – Placa de Fibra de Média Densidade
MVPs – Módulos Volumétricos Pré-fabricados
OSB – Chapas de Tiras de Madeira Orientadas
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento
PAR – Programa de Arrendamento Residencial
PIR - Poliisocianurato
PBQP-H – Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat
PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
RCD – Resíduos de Construção e Demolição
SBPE – Sistema Brasileiro de Poupanças e Empréstimos
SINAPI – Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices
SINAT – Sistema Nacional de Avaliações Técnicas
SIP – Painel Isotérmico Estrutural
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Habitação definida como durável pelo IBGE ............................................. 21


Figura 2.2 – Habitação indígena da tribo Aiha, residentes do Parque Indígena Xingu,
classificada como improvisada pelo IBGE. .................................................................... 22
Figura 2.3 – Residencial Pedregulho. ............................................................................. 25
Figura 2.4 – Anúncio da Construtora Guaranta S.A. ...................................................... 27
Figura 2.5 – Corte de casa comum em favelas. ............................................................... 30
Figura 2.6 – Projetos representativos de tipologias utilizadas em empreendimentos do
PMCMV na Faixa 1. ....................................................................................................... 30
Figura 2.7 – Projeto representativo de tipologia em planta em “H”. .............................. 31
Figura 4.1 – Edifício Level finalizado ............................................................................ 51
Figura 4.2 – Transporte e alocação de módulos .............................................................. 51
Figura 4.3 – Modelagem digital da estrutura .................................................................. 52
Figura 4.4 – Transporte de MVP ..................................................................................... 53
Figura 4.5 – Painel SIP ................................................................................................... 54
Figura 4.6 – Tiny House ................................................................................................. 54
Figura 4.7 – Soldagem do chassi metálico ...................................................................... 55
Figura 4.8 – Montagem dos painéis laterais do módulo ................................................ 56
Figura 4.9 – Projeto básico do módulo .......................................................................... 56
Figura 4.10 – Painel térmico Stucco .............................................................................. 57
Figura 4.11 – Telha Sanduíche Isotelha Colonial .......................................................... 58
Figura 4.12 – Estrutura de madeira usual do wood frame ............................................... 59
Figura 4.13 – Painéis montados em indústria sendo transportados ................................. 61
Figura 4.14 – Casa pré-fabricada de madeira ................................................................. 62
Figura 5.1 – Projeto de casa executada em wood frame ................................................ 65
Figura 5.2 – Projeto de casa padrão considerado ........................................................... 73
Figura 5.3 – Modelagem 3D do protótipo utilizado ....................................................... 77
Figura 5.4 – Comparação entre os índices de isolação acústica ...................................... 79
Figura 6.1 – Parte da Vila Residencial Belo Monte ....................................................... 81
Figura 6.2 – Vista aérea da Usina e Vila Residencial de Belo Monte ............................ 81
Figura 6.3 – Unidade finalizada na Vila Residencial de Belo Monte ............................ 83
Figura 6.4 – Etapas construtivas da Vila Residencial de Belo Monte ............................ 84
Figura 6.5 – Execução de radiers da Vila Residencial de Belo Monte ........................... 85
Figura 6.6 – Alocação das instalações sanitárias ........................................................... 85
Figura 6.7 – Instalação elétrica finalizada no interior da unidade ................................. 86
Figura 6.8 – Detalhes de montagem da vedação vertical ............................................... 87
Figura 6.9 – Detalhes da montagem da cobertura .......................................................... 88
LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 – Metodologia de cálculo do Déficit Habitacional – 2015 ........................... 20


Quadro 5.1 – Resultados do estudo de desempenho térmico ......................................... 76
LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 – Distribuição do Déficit Habitacional – 2015 por modalidade. ................... 22


Tabela 2.2 – Faixa de renda familiar aplicável ao PMCMV Urbano. ............................. 34
Tabela 2.3 – Manifestações patológicas apresentadas no Relatório. ............................... 34
Tabela 3.1 – Especificações mínimas de projeto (dormitórios) ...................................... 37
Tabela 3.2 – Especificações mínimas de projeto (áreas sociais) ................................... 37
Tabela 3.3 – Especificações mínimas de sistemas de vedação ...................................... 38
Tabela 3.4 – Especificações mínimas de esquadrias ...................................................... 39
Tabela 3.5 – Especificações mínimas de sistemas prediais hidrossanitários .................. 40
Tabela 3.6 – Especificações mínimas de sistemas prediais elétricos e de comunicação 40
Tabela 3.7 – Intervalos admissíveis para itens do orçamento ......................................... 42
Tabela 3.8 – Distribuição da amostra por regiões do Brasil ........................................... 46
Tabela 3.9 – Satisfação com relação à unidade habitacional .......................................... 47
Tabela 5.1 – Orçamento de edificação padrão executada em wood frame ..................... 66
Tabela 5.2 – Orçamento de edificação padrão executada em alvenaria convencional ... 69
Tabela 5.3 – Comparativo de custos totais ..................................................................... 71
Tabela 5.4 – Comparativo de custos subtotais ............................................................... 71
Tabela 5.5 – Cronograma de execução em wood frame ................................................ 73
Tabela 5.6 – Cronograma de execução em alvenaria de vedação ................................... 74
Tabela 5.7 – Comparativo de cronogramas ..................................................................... 74
Tabela 5.8 – Comparativo de prazos totais ..................................................................... 75
Tabela 5.9 – Resultados das análises térmicas ............................................................... 77
Tabela 5.10 – Valores de referência de desempenho térmico ......................................... 77
Tabela 6.1 – Valores de referência de desempenho térmico de coberturas .................... 89
Tabela 6.2 – Valores de referência de desempenho de paredes ...................................... 90
Tabela 6.3 – Valores de referência de isolação acústica ................................................. 91
Tabela 6.4 – Comparativo de custos totais ..................................................................... 91
Tabela 6.5 – Resumo de prazos de execução .................................................................. 93
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 16

1.1 A IMPORTÂNCIA DO TEMA .......................................................................... 16


1.2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 16
1.3 JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DO TEMA ................................................... 17
1.4 METODOLOGIA................................................................................................ 17
1.5 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA ................................................................... 18

2 HABITAÇÃO DE BAIXA RENDA - CONTEXTUALIZAÇÃO .................... 19

2.1 CONCEITUAÇÃO .............................................................................................. 19


2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS................................................................................. 19
2.2.1 Aspectos gerais ......................................................................................... 19
2.2.2 Surgimento das favelas no Rio de Janeiro ................................................ 23
2.2.3 Medidas governamentais .......................................................................... 24

2.3 TIPOLOGIA DAS EDIFICAÇÕES HABITACIONAIS DE BAIXA RENDA . 29


2.3.1 Construções próprias ................................................................................ 29
2.3.2 Construção por terceiros ........................................................................... 30

2.4 DESEMPENHO DAS HABITAÇÕES DE BAIXA RENDA ............................ 32


2.5 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS ............................................................... 33

3 HABITAÇÃO DE BAIXA RENDA - REQUISITOS BÁSICOS ..................... 36

3.1 INICIATIVA INDIVIDUAL .............................................................................. 36


3.2 INICIATIVA PÚBLICA ..................................................................................... 36
3.3 PRÁTICAS E CUSTOS CONSTRUTIVOS ....................................................... 41
3.4 PRODUTIVIDADE DOS MÉTODOS CONSTRUTIVOS ................................ 43
3.4.1 Alvenaria Estrutural .................................................................................. 43
3.4.2 Alvenaria de vedação com estrutura de concreto armado ........................ 44
3.4.3 Parede de concreto moldada no local – ABNT NBR 16.055 ................... 45

3.5 SUSTENTABILIDADE NOS EMPREENDIMENTOS .................................... 46


3.6 PERCEPÇÃO DOS MORADORES SOBRE OS EMPREENDIMENTOS ....... 47
4 SISTEMAS CONSTRUTIVOS MODULARES - CONTEXTUALIZAÇÃO 49

4.1 ASPECTOS GERAIS .......................................................................................... 49


4.2 SISTEMAS MODULARES DISPONÍVEIS ...................................................... 50
4.2.1 Módulos volumétricos .............................................................................. 50
4.2.2 Painéis isotérmicos autoportantes ............................................................. 53
4.2.3 Painéis pré-fabricados em wood frame..................................................... 58
4.2.4 Painéis pré-fabricados em steel frame ...................................................... 60
4.2.5 Casas pré-fabricadas de madeira .............................................................. 61

5 SISTEMAS MODULARES APLICADOS À HIS............................................. 64

5.1 CUSTO DE EXECUÇÃO ................................................................................... 64


5.1.1 Wood frame .............................................................................................. 65
5.1.2 Alvenaria convencional ............................................................................ 68
5.1.3 Comparação .............................................................................................. 71

5.2 PRAZO DE EXECUÇÃO ................................................................................... 72


5.2.1 Wood frame .............................................................................................. 73
5.2.2 Alvenaria convencional ............................................................................ 74
5.2.3 Comparação .............................................................................................. 74

5.3 DESEMPENHO TÉRMICO ............................................................................... 75


5.3.1 Wood frame .............................................................................................. 75
5.3.2 Alvenaria convencional ............................................................................ 77

5.4 DESEMPENHO ACÚSTICO ............................................................................. 78


5.4.1 Wood frame .............................................................................................. 78
5.4.2 Alvenaria convencional ............................................................................ 79

6 ESTUDO DE CASO – VILA RESIDENCIAL DA USINA DE BELO MONTE


80

6.1 METODOLOGIA UTILIZADA ......................................................................... 80


6.2 O EMPREENDIMENTO .................................................................................... 80
6.3 CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO DAS UNIDADE HABITACIONAIS ... 82
6.4 ETAPAS NA FÁBRICA ..................................................................................... 83
6.5 ETAPAS NO CANTEIRO .................................................................................. 84
6.5.1 Fundação ................................................................................................... 84
6.5.2 Instalações ................................................................................................ 85
6.5.3 Estrutura e vedação vertical ...................................................................... 86
6.5.4 Cobertura .................................................................................................. 87

6.6 RESULTADOS ALCANÇADOS ....................................................................... 88


6.6.1 Percepção dos usuários ............................................................................. 88
6.6.2 Desempenho dos domicílios ..................................................................... 89
6.6.3 Comparativo de custos ............................................................................. 91
6.6.4 Comparativo de prazos ............................................................................. 92
6.6.5 Durabilidade e manutenção dos domicílios .............................................. 93
6.6.6 Considerações finais do estudo................................................................. 94

7 CONCLUSÕES..................................................................................................... 95
REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS .......................................................................... 97
16

1 INTRODUÇÃO

1.1 A IMPORTÂNCIA DO TEMA

Em um estudo publicado pela Fundação João Pinheiro (FJP, 2018), com base nos
resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015, promovida pelo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, foram apresentados dados sobre o déficit
habitacional no Brasil.
De forma global, o estudo da FJP indica que esse déficit é estimado em 6,355 milhões
de domicílios espalhados pelas cinco regiões do Brasil. O método de cálculo é desenvolvido
pela fundação desde 1995 e sistematiza os dados do PNAD sobre habitação.
Desta forma, fica evidente a necessidade de se pensar estratégias e soluções para sanar
essa demanda habitacional no país, uma vez que a questão da precariedade da moradia,
característica de grande parte dos domicílios quantificados no estudo, está diretamente
relacionada à renda dos moradores e seu acesso às construções com materiais e técnicas
construtivas adequadas, sendo a população de baixa-renda a mais afetada por essa problemática
e a que mais aumenta a déficit.

1.2 OBJETIVOS

Este trabalho tem por objetivo avaliar o desempenho e a aplicabilidade dos sistemas
modulares e dos materiais de construção que os compõem, disponíveis no mercado e indicados
como soluções para a construção de unidades habitacionais de baixa renda. Para a avaliação do
desempenho os sistemas modulares estudados serão comparados com as soluções apresentadas
em métodos construtivos tradicionais.
Objetiva também verificar a compatibilidade dos sistemas modulares pesquisados
com os principais subsistemas de uma unidade familiar: fundação, piso, vedações verticais e
cobertura considerando a otimização dos ambientes em unidades habitacionais isoladas, ou em
composição com outras unidades, trazendo soluções de desempenho igual ou superior às
soluções comumente utilizadas, porém com custo inferior e prazo de implementação reduzido.
17

1.3 JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DO TEMA

As duas faixas de renda iniciais do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV),
criado em 2009 pelo Governo Federal, visam acolher justamente esse perfil populacional, de
núcleos com rendas familiares de até R$2350,00, e tem importante participação no atendimento
dessa demanda. O Programa é responsável, até a publicação deste trabalho, pela criação de
mais de 4 milhões de unidades habitacionais no país. O PMCMV, entretanto, é passível de
críticas no que tange aos prazos de execução das obras que superam os cronogramas
estipulados, a baixa qualidade técnica das unidades e gastos superiores aos previstos nas fases
iniciais de projetos (ANDRADE, 2012).
Fora dos programas governamentais, o custo elevado de uma construção
convencional, feita de forma técnica, formal e em observância das exigências de habitabilidade
e conforto, definidas em norma, é hoje um dos principais empecilhos para que as mesmas sejam
executadas de forma individual por famílias de baixa-renda.
A proposta da construção modular vem como uma solução tanto para as médias e
grandes construtoras, que concorrem por contratos de grandes empreendimentos do PMCMV,
como para pequenas construtoras, com projetos de empreendimentos de menor escala, e
também para o núcleo familiar que decide por executar a obra de forma independente, situação
muito corriqueira nas famílias de baixa-renda.

1.4 METODOLOGIA

Para o desenvolvimento do trabalho foi realizada revisão bibliográfica na literatura


técnica específica, sendo consultados livros, artigos, monografias de projetos de conclusão de
curso e cursos de especialização, dissertações de mestrado e teses de doutorado. Os dados e
informações técnicas levantados foram tabulados, analisados e utilizados como fontes
bibliográfica como subsídios no desenvolvimento dos diversos capítulos relativos a
contextualização dessa monografia.
Com base na contextualização técnica do tema estabelecida foram analisadas as
alternativas de materiais para cada um dos principais subsistemas de uma edificação
habitacional uni e multifamiliar, sendo observado o atendimento dessas soluções aos requisitos
das normas: de desempenho em edificações habitacionais, NBR 15575 (ABNT, 2013);
conforto térmico, NBR 15.220 (ABNT, 2005) e conforto acústico, NBR 10.151 (ABNT, 2019)
exigidas para unidades habitacionais, comparando-as à construção em técnicas construtivas
18

convencionais, e destacando as principais vantagens e desvantagens entre os diferentes


materiais.

1.5 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA

No primeiro capítulo do trabalho são apresentados a importância do tema, os objetivos


do trabalho e a justificativa para a escolha do tema, bem como a metodologia utilizada no
desenvolvimento do trabalho e a exposição da estrutura do texto.
No segundo capítulo deste trabalho, é feita uma contextualização do cenário da
habitação de baixa renda no país, apresentando a sua posição na história e apontando como foi
definido o termo “habitação de interesse social”. São descritas as principais técnicas
construtivas aplicadas nesse padrão de construção, os materiais utilizados e sua observância às
normas brasileiras de construção civil.
No terceiro capítulo são apresentados os principais requisitos para a construção de
uma habitação de baixa renda, quais são adotados em construções de iniciativa individual do
morador e quais são os requisitos básicos para a construção por meio de investimento público,
como o caso de empreendimentos executados por meio de programas do Governo Federal.
O quarto capítulo é dedicado à conceituação e contextualização dos sistemas
construtivos modulares e suas atuais aplicações no mercado. É feita uma breve retrospectiva
histórica do tema, seguida da apresentação de diferentes sistemas e casos de utilização desses
sistemas em empreendimentos no país.
O quinto capítulo já visa aplicar os subsistemas modulares apresentados no quarto
capítulo em construções de interesse social, atendendo aos requisitos expostos no terceiro
capítulo e comparando-os com os sistemas atualmente adotados e verificando o atendimento
dessas alternativas aos requisitos apresentados para esse padrão de construção.
O sexto capítulo apresenta como estudo de caso a aplicação de sistemas modulares de
estrutura e vedação na Vila Residencial da Usina de Belo Monte, em Altamira – PA. O capítulo
apresenta o empreendimento e alguns detalhes construtivos e registros da obra, além de expor
a percepção de alguns antigos moradores da vila sobre as unidades habitacionais.
O sétimo e último capítulo apresenta as considerações finais do autor sobre a pesquisa
desenvolvida, sugestões de aplicações futuras dos sistemas apresentados e possíveis linhas de
pesquisas que podem se desenrolar a partir desse trabalho.
19

2 HABITAÇÃO DE BAIXA RENDA - CONTEXTUALIZAÇÃO

2.1 CONCEITUAÇÃO

A habitação de baixa renda é toda unidade habitada por famílias ou indivíduos de


baixa renda, isto é, com rendas familiares inferiores a meio salário mínimo per capita, ou três
salários mínimos no total, de acordo com o Decreto no 6.135, de 26 de junho de 2007 (BRASIL,
2007). Esse padrão de habitação pode ser composto por unidades unifamiliares térreas e
edificações multifamiliares provenientes de programas governamentais, ou por unidades de
construção individual que ocupam comunidades e favelas, geralmente construídas pela própria
família e comunidade.
A sigla HIS, que significa Habitação de Interesse Social, dá nome a um conceito que
surge desde o início dos programas de financiamento público para a construção de domicílios
para famílias de baixa renda, com o intuito de reduzir a demanda habitacional que infla o déficit
habitacional no Brasil. Abiko (1995) registra que o termo era utilizado pelo extinto BNH -
Banco Nacional de Habitação.

2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS

2.2.1 Aspectos gerais

Atualmente, quantificar a demanda habitacional no país é um trabalho complexo que


tem sido desenvolvido pela FJP ao longo dos últimos 26 anos. A Fundação utiliza dados
levantados pelo PNAD a respeito da habitação da população brasileira e trata esses dados
dividindo a demanda em dois grandes grupos de análise: o déficit habitacional e a inadequação
dos domicílios. O primeiro representa a demanda de construção de novas moradias para atender
a população em determinado período de análise. O segundo diz respeito às características de
moradias já existentes que prejudicam a qualidade de vida dos moradores.
O primeiro grande grupo é dividido conforme o Quadro 2.1:
20

Quadro 2.1: Metodologia de cálculo do Déficit Habitacional - 2015


Componentes e subcomponentes do déficit habitacional
Domicílios rústicos
Habitação precária
Domicílios improvisados
Famílias conviventes
Coabitação familiar
Cômodo

Ônus excessivo com aluguel urbano

Adensamento excessivo de domicílios alugados

Fonte: Fundação João Pinheiro (2015). Adaptado pelo autor.

O relatório da pesquisa define domicílios rústicos como “[...] aqueles sem paredes de
alvenaria ou madeira aparelhada.” (FJP, 2015, p. 20), define ainda os domicílios improvisados
como “os locais e imóveis sem fins residenciais e lugares que servem como moradia alternativa
(imóveis comerciais, embaixo de pontes e viadutos, carcaças de carros abandonados, barcos,
cavernas, entre outros).” (FJP, 2015, p. 21) A coabitação familiar diz respeito à mais de um
núcleo familiar que reside no mesmo domicílio. O ônus excessivo com aluguel urbano engloba
famílias com renda familiar de até três salários mínimos e têm 30%, ou mais, da renda
comprometida para pagamento de aluguel de domicílio em zona urbana, já o adensamento
excessivo de domicílios alugados é constituído de domicílios com três, ou mais, moradores por
cômodo.
A utilização dos termos domicílio rústico e domicílio improvisado surge com suas
caracterizações nas diretrizes e definições das variáveis utilizadas para o desenvolvimento do
censo demográfico, feito pelo IBGE a cada 10 anos.
Na definição do IBGE, uma edificação é considerada um domicílio quando ela garante
aos seus moradores a separação de um ambiente externo e comum, com elementos físicos de
vedação vertical e de cobertura, garantindo a integridade dos moradores para a prática de
atividades básicas como dormir e comer. A segunda característica que a edificação deve
apresentar é um acesso independente e direto aos seus moradores (ALVES, 2004).
A caracterização do domicílio, segundo o IBGE, ainda pode ser feita de acordo com
a espécie, dividindo-se entre particulares ou coletivos, e de acordo com natureza, podendo ser
permanente ou improvisada. Só são registradas no censo as características construtivas dos
21

domicílios de espécie particular e natureza permanente, que desde 1960 nunca representaram
um percentual inferior 99% do universo pesquisado (ALVES & CAVENAGHI, 2005).
Essa significativa parcela de domicílios que têm suas características construtivas
catalogadas é dividida entre os duráveis e os rústicos, baseado no material utilizado para a
construção do piso, vedação vertical e cobertura. Essa forma de classificação, entretanto, não
é a mais precisa, visto que não é considerado o estado dos materiais utilizados, podendo um
domicílio com paredes de alvenaria, piso cerâmico e cobertura com telhas ser classificado
como durável, mesmo que em estado crítico de conservação (VETTER; SIMÕES, 1981 apud
ALVES, 2006). As favelas brasileiras são, na maior parte das vezes, um bom exemplo de
domicílios considerados duráveis, mesmo em condições físicas abaladas (ALVES, 2006), um
exemplo pode ser observado na Figura 2.1.

Figura 2.1. Habitação definida como durável pelo IBGE. Fonte: Vilar (2016).

Os domicílios improvisados, por sua vez, não têm suas características construtivas
catalogadas no censo e são os identificados como formas não permanentes de habitação, sejam
elas particulares, ou coletivas (ALVES, 2004). Essa identificação de não-permanência,
entretanto, dá à essa análise um tom subjetivo em diversos casos, como nos domicílios
indígenas e de qualquer habitação não-convencional que receba forte influência étnico-cultural
(MARINHO et al., 2011), como a observada na Figura 2.2.
22

Figura 2.2. Habitação indígena da tribo Aiha, residentes no Parque Indígena Xingu,
classificada como improvisada pelo IBGE. Fonte: Ricardo (2002).

O déficit calculado, portanto, é obtido através da quantificação dos domicílios que se


enquadram nessas definições apresentadas, onde os 6,355 milhões de domicílios se distribuem
nas categorias conforme a Tabela 2.1.

Tabela 2.1: Distribuição do Déficit Habitacional – 2015 por modalidade.


Déficit Habitacional por modalidade de enquadramento

Habitação precária 14,8%

Coabitação familiar 29,9%

Ônus excessivo com aluguel urbano 50,0%

Adensamento excessivo de domicílios alugados 5,2%

Fonte: Fundação João Pinheiro (2015). Adaptado pelo autor.

Apesar da possibilidade de aplicação da construção modular para atender a todos os


subgrupos adotados no cálculo, este trabalho entende que o subgrupo referente à habitação
precária é o que mais exige propostas urgentes de soluções, correspondendo a cerca de 940 mil
unidades e dizendo respeito exclusivamente à situação da integridade física do domicílio e dos
materiais utilizados na sua construção, enquanto as demais categorias, apesar de apresentarem
situações de moradias indesejáveis e inadequadas, ainda mantém sua integridade física de
23

forma a abrigar seus habitantes. É indiscutível, entretanto, que as demais categorias devam ser
contempladas em um curto período de tempo.

2.2.2 Surgimento das favelas no Rio de Janeiro

O Observatório de Favelas (2009), organização dedicada a pesquisar, dar consultoria e


produzir conhecimento e propostas políticas sobre as favelas define o termo de seguinte forma:

Insuficiência histórica de investimentos do Estado e do mercado formal,


principalmente o imobiliário, o financeiro e de serviços; Forte estigmatização sócio-
espacial, especialmente inferida por moradores de outras áreas da cidade; Edificações
predominantemente caracterizadas pela autoconstrução, que não se orientam pelos
parâmetros construídos pelo Estado; Apropriação social do território com uso
predominante para fins de moradia; Ocupação marcada pela alta densidade de
habitações; Indicadores educacionais, econômicos e ambientais abaixo da média do
conjunto da cidade; Níveis elevados de subemprego e informalidade nas relações de
trabalho; Taxa de densidade demográfica acima da média do conjunto da cidade;
Ocupação de sítios urbanos marcados por um alto grau de vulnerabilidade ambiental;
Alta concentração de negros (pardos e pretos) e descendentes de indígenas de acordo
com a região brasileira; Grau de soberania por parte do Estado inferior à média do
conjunto da cidade; Alta incidência de situações de violência, sobretudo a letal, acima
da média da cidade; Relações de vizinhança marcadas por intensa sociabilidade com
forte valorização dos espaços comuns como lugar de convivência.
(OBSERVATÓRIO DE FAVELAS, 2009, p.21)

A definição citada evidencia que favela é mais do que um estabelecimento de padrões


habitacionais de um conjunto de unidades, também é intimamente permeado por aspectos
sociais, de raça, educacionais e de emprego. Falar de favela não é só falar do espaço físico
representado pelas casas em situações precárias, mas também de toda uma comunidade que a
dá vida às ruelas há décadas.
Para entender como ocorreu o processo de formação das favelas no município do Rio
de Janeiro, é necessário entender o que motivou a ocupação desses espaços inicialmente. Em
decorrência da economia escravagista do século XIX, o Rio de Janeiro recebeu dezenas de
milhares de negros e negras trazidos da África para atuarem no trabalho escravo, de forma a se
tornar a cidade de maior população negra do então Império Brasileiro (BATISTA, 2015).
24

Já nesse período, os quartéis e delegacias eram alocados nas regiões mais afastadas dos
centros senhoriais, juntos das prisões de escravos, intencionalmente evitando que possíveis
rebeliões abalassem a ordem da cidade (BATISTA, 2015).
Abreu (1994) remonta que a favela no Rio de Janeiro já era constituída nessa segregação
espacial do período escravocrata, mas acentuou-se no final do século XIX, quando o modo de
produção capitalista implementado no Brasil gerava uma multidão de pessoas paupérrimas que
compunham a massa de trabalhadores das fábricas e oficinas no país.
O processo de industrialização da produção na cidade acarretou a migração da
população rural para os grandes centros industriais no início do século XX. Essa população
operária, somada aos recém libertos escravos encontravam abrigo nas vilas operárias, inflando
esses espaços demograficamente e gerando estruturas habitacionais conhecidas como cortiços
(ZALUAR, 2006).
Zaluar (2006) explica que esses espaços eram vistos com maus olhos pelo Estado e pela
população mais rica da cidade. Com a justificativa de controlas doenças, esses espaços
passaram a ser derrubados e seus habitantes removidos para regiões periféricas da cidade,
sendo essa mobilização do Estado considerada uma das primeiras políticas habitacionais do
governo a respeito da população de baixa renda.
As periferias passaram a ser amplamente habitadas, mesmo que de forma improvisada
e sem regulamentação do Estado, o que Zaluar (2006) entende que ocorreu de forma planejada
pelo poder público e pela elite local, de forma que desobrigava o governo a fiscalizar e
urbanizar essas áreas, não se responsabilizando pela infraestrutura dos locais e,
consequentemente, o bem estar dessa parcela da população.
O que deu sinais nas primeiras justificativas de estratificação e afastamento social com
as doenças, vadiagens e promiscuidades, foi dando lugar a mais uma definição: perigo. Com o
intuito de demarcar ainda mais a hierarquia social presente na cidade, a burguesia vigente
passou a temer a violência e os perigos provenientes das agora constituídas favelas. Essa
segregação espacial cada vez mais presente demarcou a territorialização da pobreza na cidade
do Rio (TOLEDO, 2018).

2.2.3 Medidas governamentais

Com o aumento da migração da população rural para os centros urbanos nos anos de
1930, a questão da moradia operária ficou ainda mais em destaque na dinâmica habitacional
das cidades. Os grandes empresários da época começaram a pensar em estratégias concretas
25

para reduzir o valor gasto pelos operários com moradia e, por sua vez, reduzir o custo da mão
de obra. Rapidamente, o mercado e os empresários se deram conta de que a iniciativa privada
não seria capaz de agir sozinha nessa empreitada e, durante o período Vargas (1930-1945), a
intervenção no Estado passou a ser primordial para o desenvolvimento de habitações para os
operários (BONDUKI, 2004).
Estratégias de desenvolvimento de habitação eram discutidas em eventos e
congressos, como o I Congresso de Habitação em São Paulo, ocorrido em 1931, que
fundamentou a relação entre a redução dos custos com moradia e a melhor produtividade dos
operários nas fábricas. Nessa mesma época começaram a surgir os Institutos de Aposentadoria
e Pensão (IAPS), que vieram a contribuir para uma melhora na questão habitacional dos
trabalhadores da indústria e comércio (RUBIN e BOLFE, 2014).
Os IAPS foram criados com a função inicial de prestar benefícios previdenciários e
assistência médica aos seus associados, porém foram as primeiras instituições públicas a
investir na pasta de habitação, contribuindo para a viabilidade de incorporações imobiliárias e
impulsionando o processo de verticalização das cidades (RUBIN e BOLFE, 2014).
Bonduki (2004) enxergava que a visão da habitação como uma questão social,
crescente na década de 1930, contribuiu para uma mudança de perspectiva não só na arquitetura
e urbanismo, mas no processo de construção como um todo, incorporando conceitos modernos
de construção em série e a utilização de elementos pré-fabricados. Um dos mais importantes
empreendimentos financiados pelas IAPS foi o residencial Pedregulho, observado na Figura
2.3, projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy, que foi construído no bairro de São
Cristóvão, no Rio de Janeiro, servindo de moradias para os funcionários públicos do município.

Figura 2.3 Residencial Pedrugulho. Fonte: Bonduki (2008).


26

A década de 1940 foi marcada pelo crescimento da produção de unidades


habitacionais coletivas, e da percepção de que essa era uma possível solução para diversos
problemas habitacionais da época. Nesse contexto de grande participação do Estado na pasta
de habitação com o financiamento de diversos empreendimentos, foi criada em 1946 a
Fundação da Casa Popular - FCP com o intuito de organizar e centralizar as diversas pequenas
frentes do Governo Federal na questão da habitação. O FCP mediava às ofertas de crédito
imobiliário feitas pelas Caixas Econômicas, pelos IAPS e outros bancos incorporadores
imobiliários, sendo o primeiro órgão de abrangência e cobertura nacional que tinha o objetivo
de gerar habitação popular (VILLAÇA, 1986).
O projeto da FCP, entretanto, não foi bem sucedido. A Fundação não recebia um
orçamento próprio do Governo Federal e foi repetidamente utilizada por interesse político,
fugindo da função que foi criada para exercer. Bonduki (2004) relata que a FCP foi um retrato
da ineficiência do Governo, que não deu a devida relevância e atenção para o interesse público.
Com o aumento da população urbana no país na década de 1950, as questões de
habitação nos centros urbanos cresceram junto. O Governo Federal passou a investir em
projetos e na construção de empreendimentos chamados de conjuntos habitacionais, que eram
constituídos de múltiplos prédios organizados em espaços com equipamentos públicos e
serviços próximos (RUBIN e BOLFE, 2014).
Em 1964, durante o governo militar foi criado o Banco Nacional da Habitação – BNH,
que conforme Azevedo (2011) foi efetivamente o primeiro grande investimento do Governo
Federal em habitação, especialmente para a população de baixa renda.
Durante seus 22 anos de existência, o BNH foi responsável pelo financiamento de
mais de 4 milhões de unidades habitacionais (SILVA & TOURINHO, 2015), em edificações
executadas por diversas construtoras. Destacava-se nesse período uma característica marcante
nos empreendimentos financiados: buscar a eficácia de produção em grande escala, visando
sanar o déficit habitacional no país (BONDUKI, 2008).
Um exemplo de um empreendimento financiado nesse contexto foi o Conjunto
Brooklin, que pode ser observado na Figura 2.4, apresentado em um anúncio da construtora
Guaranta S.A. destacando a importância do novo plano de financiamento oferecido.
27

Figura 2.4. Anúncio da construtora Guaranta S.A. Fonte: Folha de São Paulo (1971).

Os recursos utilizados para financiamento pelo BNH eram oriundos do FGTS – Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço e do SBPE – Sistema Brasileiro de Poupanças e
Empréstimos, tornando-se, naquela época, a maior instituição em prol da habitação no mundo
(BONDUKI, 2008).
Sem dúvidas a importância do BNH para a questão habitacional no país foi
significativa. Estima-se que um quarto das unidades habitacionais financiadas no período de
sua existência foi financiado pelo BNH. O intuito de sanar o déficit habitacional, entretanto,
não foi atendido, uma vez que apenas um quinto dos financiamentos foi de fato destinado à
população de baixa renda (BOTEGA, 2007).
Após a crise econômica mundial de 1979, as elevadas taxas de inflação e uma alta no
desemprego, o BNH não resistiu a baixa do mercado e foi extinto em 1986, quando suas
atribuições foram incorporadas à Caixa Econômica Federal em sua quase totalidade.
Ao final da década de 1980, o direito à moradia foi garantido pela Constituição da
República Federativa do Brasil (1988), cabendo ao poder público assegurar o acesso à toda a
população brasileira, pensando soluções e encaminhando programas que possibilitem o
atendimento dessa demanda, com o fundamental auxílio da iniciativa privada para que as
melhores estratégias fossem implementadas (ABIKO, 1995).
Em 1990, durante o governo do presidente Fernando Collor de Mello, os programas
governamentais de financiamento imobiliário voltaram a priorizar o capital imobiliário
privado. Nesse mesmo período o IBGE estimou que 60 milhões de cidadãos brasileiros estavam
em situação de rua (IBGE, 1991).
28

No governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, a partir de 1995, os


financiamentos de habitação voltaram a ser feitos com recursos do FGTS, porém com uma
gestão descentralizada, através dos municípios. A gestão de FHC ainda apresentou novos
programas de habitação como o Pró-Moradia e o Programa de Arrendamento Residencial
(PAR) (RUBIN e BOLFE, 2014).
Bonduki (2008) destaca que na virada do ano de 1999 para 2000 foi feito um estudo
com um levantamento do então déficit habitacional no país e das fontes de financiamento
operantes na época. O resultado desse estudo foi o Projeto Moradia, que definiu um prazo de
15 anos para que todo cidadão brasileiro tivesse acesso à moradia digna, conforme previsto na
Constituição de 1988, e quem veio a gerir esse programa foi o Ministério das Cidades, criado
para essa função.
Em 2003 a política habitacional no Brasil passou por mais uma reestruturação, agora
sob o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva. A nova estratégia utilizada visava
estruturar planos conjuntos de incumbência da federação, dos estados e dos municípios,
mapeando o déficit habitacional e definindo metas para sua redução.
Em 2009, ainda sob o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, foi criado o
Programa Minha Casa Minha Vida - PMCMV, com o objetivo inicial de contratar mais de 1
milhão de moradias. O programa se deu através de parcerias entre os estados, municípios e
empresas. A primeira fase do PMCMV atingiu quantitativamente a meta de unidades
habitacionais, de forma que em 2011, já no governo da presidente Dilma Rousseff, foi
anunciada a segunda fase, objetivando a contratação de mais 2 milhões de unidades. (RUBIN
e BOLFE, 2014).
Após o pico de contratações de unidades habitacionais em 2013, porém, o Programa
passou a enfrentar desafios executivos. Com mais de R$300 bilhões dos cofres públicos já
investidos, em 2015 ainda sob o governo da presidente Dilma Rousseff, as contratações de
unidades da Faixa 1 do Programa, direcionada a famílias com renda mensal inferior a R$1.800,
foram suspensas por falta da verba. Não só foram suspensas as contratações de novos
empreendimentos, como muitas obras já em andamento tiveram seu ritmo diminuído e
suspenso, algumas com mais de 95% concluídas. Essas medidas resultaram em cerca de 50 mil
unidades com as obras paralisadas (ESTADÃO, 2016).
O período de 2009 à 2014 apresentou apenas sensível redução no déficit habitacional
relativo no país, de 10,1% para 9,1% de domicílios, o que se apresentava como objetivo
principal do Programa acabou ficando em segundo plano após os cortes em empreendimentos
29

Faixa 1 e a valorização dos da Faixa 2 e 3, o que beneficia a população de classe média ao


invés da de baixa renda (ESTADÃO, 2016).
Enfim, em 2020, o PMCMV foi substituído pelo Programa Casa Verde e Amarela, do
governo do presidente Jair Bolsonaro. Com o lançamento do novo programa, o orçamento
destinado ao seu antecessor foi reduzido em 98%, mesmo com mais de 150 mil unidades ainda
inacabadas. O Casa Verde e Amarela redefiniu as faixas de enquadramento dos
empreendimentos, extinguindo a Faixa 1 do PMCMV, que subsidiava a compra das unidades
em até 95% do valor e financiava o montante restante com taxa de juros zerada para as famílias
de baixa renda (ALVES, 2021).

2.3 TIPOLOGIA DAS EDIFICAÇÕES HABITACIONAIS DE BAIXA RENDA

2.3.1 Construções próprias

A casa construída na favela é geralmente caracterizada nas novelas e filmes nacionais


como pequenos barracos de madeira erguidos em meio aos morros das periferias das cidades.
Apesar dessa definição de fato representar uma parte dessas habitações, outra parcela
significativa consiste de pequenas casas, geralmente compostas de um ou dois quartos, sala,
banheiro e cozinha com paredes de alvenaria simples, compostas por elementos estruturais de
concreto armado com vedação em blocos cerâmicos (VEYSSEYRE, 2014).
Como é usual que uma casa em uma comunidade seja construída aos poucos, é comum
encontrar cômodos com diferentes desníveis de piso, assim como diferentes padrões de
revestimentos cerâmicos e diferentes cores de tinta nas paredes (VEYSSEYRE, 2014).
A porta de entrada geralmente apresenta a sala de estar, que também faz às vezes de
área de jantar e, em alguns casos, dormitórios para membros da família. Os quartos costumam
ser pequenos, com espaço planejado para receber uma cama e um armário. As cozinhas
geralmente dividem espaço com a área de serviço e lavagem de roupas.
Afim de diminuir o custo final dos lotes, a testada dos terrenos em comunidades de
baixa renda geralmente são pequenas, permitindo o acesso de uma quantidade maior de lotes à
infraestrutura pública, em razão disso os imóveis comumente apresentam formato alongado,
com pouco distanciamento lateral entre as casas vizinhas, prejudicando a circulação de ar em
cômodos mais internos (MASCARÓ, 2005). Na Figura 2.5 é possível observar ainda a
característica de casas de famílias de baixa renda de terem diferentes patamares de nível,
30

geralmente acompanhando a topografia do terreno e reduzindo a necessidade de cortes e


aterros.

Figura 2.5. Corte de casa comum em favelas. Fonte: Veysseyre, 2014.

2.3.2 Construção por terceiros

Já as unidades provenientes de programas sociais do Governo podem ser apresentadas


em três tipologias construtivas, como mostrado na Figura 2.6. A ilustração (a) apresenta projeto
de unidade térrea unifamiliar, enquanto a (b) apresenta unidade térrea geminada e a (c)
apresenta uma edificação multifamiliar construída em blocos. Essas tipologias são utilizadas
como estratégias de construção de casas para a população de baixa renda.

Figura 2.6. Projetos representativos de tipologias utilizadas em empreendimentos do PMCMV na


Faixa 1. Imagem: MONTES (2016)

Por se tratarem de construções que devem manter o custo o mais baixo possível, porém
com uma velocidade de execução satisfatória, é usual que as construtoras contratadas utilizem
projetos padrão para essas unidades, de forma que elas sejam facilmente replicadas em
diferentes canteiros de obras em diferentes localidades do país. Esses projetos padrão
31

geralmente apresentam unidades habitacionais de no mínimo 2 quartos, sala, banheiro e


cozinha, geralmente executados em alvenaria estrutural. Os métodos construtivos mais
utilizados nesses tipos de construção são a alvenaria em blocos de concreto e as paredes de
concreto moldadas in loco (CEF, 2009).
Um ponto importante exigido nos empreendimentos aprovados pela Caixa Econômica
Federal - CEF é o desempenho térmico das unidades. Enquanto as unidades térreas permitem
uma disposição no terreno mais versátil, é mais simples que um projeto de urbanismo de um
condomínio desse padrão contemple as exigências de ventilação cruzada e incidência de sol.
Por outro lado, as edificações multifamiliares apresentam maior dificuldade de atender a esses
requisitos, dado ao tamanho e altura das edificações. Outro fator que dificulta a implementação
de um conforto térmico em empreendimentos com blocos multifamiliares é que esses
empreendimentos geralmente são compostos por muitos blocos, de forma que a presença de
um bloco afeta diretamente o outro, ao gerar sombra ou até mesmo como obstáculo para a
ventilação adequada (ORTIZ & BAVARESCO, 2019).
Buscando mitigar a ocorrência de blocos multifamiliares com má circulação de ar, a
CEF apresenta uma Cartilha do Programa Minha Casa Minha Vida com sugestões de tipologias
para as edificações. A tipologia predominantemente executada no programa é a planta “H”,
onde as unidades são dispostas no pavimento tipo formando a letra H na planta baixa,
proporcionando aberturas de ventilação em praticamente todo o perímetro das unidades
(ORTIZ & BAVARESCO, 2019), um exemplo desse tipo de projeto pode ser observado na
Figura 2.7.

Figura 2.7. Projeto representativo de tipologias em planta em “H”. Fonte: CEF (2009).
32

2.4 DESEMPENHO DAS HABITAÇÕES DE BAIXA RENDA

O conceito de desempenho de edificações surgiu no Brasil na década de 70, por meio


do trabalho do Professor Teodoro Rosso na Faculdade de Arquitetura da Universidade de São
Paulo. Com a economia aquecida, o mercado da construção civil contava com altos
investimentos, o que trazia a necessidade de se pensar formas de racionalizar e industrializar a
construção.
Ao passo que novas técnicas e metodologias de construção surgiam, era também
necessário pensar em uma forma de avaliar essas novas práticas de uma forma técnica e com
reprodutibilidade, através de ensaios e com a utilização de instrumentos e medições. O objetivo
era tentar antecipar o comportamento das novas construções dentro da vida útil que se esperava
delas.
Foi só na década de 1980 que, contratado pelo BNH, o Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) endossa a discussão a respeito do desempenho das
edificações. O objetivo do trabalho era mitigar as falhas e vícios das construções de
empreendimentos com novas técnicas por meio da criação de normas que estabeleciam padrões
mínimos de desempenho (BORGES, 2008).
Entre as décadas de 1980 e 2000, o mercado construtivo era regido por normas
chamadas de prescritivas, que versavam sobre padrões de qualidades dos materiais utilizados
na construção. Em 2007, porém, foi disponibilizada para consulta pública a primeira versão da
NBR 15575, que veio a se chamar de Norma de Desempenho, organizada e redigida pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. Diferente das normas prescritivas, a nova
Norma definia parâmetros e padrões para as propriedades dos elementos construtivos
finalizados, independendo do material utilizado.
Com previsão de sua exigibilidade em 2010, é divulgado o que seria o texto final da
Norma em 2008. O texto, porém, retornou para a consulta pública, de forma que o texto atual
só entrou em vigor em 2013.
O texto atual é dividido em 6 partes, são eles: (I) os requisitos gerais; (II) os requisitos
para os sistemas estruturais; (III) os requisitos para os sistemas de piso; (IV) os requisitos para
os sistemas de vedações verticais; (V) os requisitos para os sistemas de coberturas; e (VI) os
requisitos para os sistemas hidrossanitários.
A NBR 15575 é ainda organizada seguindo uma sequência de requisitos a respeito da
segurança (desempenho mecânico, segurança contra incêndio e segurança no uso e operação),
habitabilidade (estanqueidade, desempenho térmico e acústico, desempenho lumínico, saúde,
33

higiene e qualidade do ar, funcionalidade e acessibilidade, conforto tátil) e sustentabilidade


(durabilidade, manutenibilidade e adequação ambiental) (CBIC, 2013).
Como toda norma técnica, a NBR 15575 não tem força de lei, sendo seu cumprimento
recomendado, apesar de não ser obrigatório. Essa discussão, porém, ganha complexidade ao
entender que, perante o poder judiciário do Brasil, a ABNT é reconhecida como órgão
responsável para definição de padrões mínimos de atendimento, de forma que o não
atendimento das normas é considerado uma presunção de irregularidade.
Uma grande crítica à criação da NBR 15575, porém, seria o custo adicional que
implicaria na adequação dos novos projetos às normas, mesmo que a ABNT e a CBIC
argumentem que o atendimento à norma não acarreta acréscimo significativo de custo para
construtoras que já tinham padrões seguros de construção anteriores à implementação da
Norma de Desempenho.
Em face disso, as obras direcionadas para HIS têm, de forma característica, um
orçamento enxuto e um cronograma apertado, diante da urgência da entrega e da necessidade
de custeio por parte do Estado. Por isso, é comum que a execução de empreendimentos de
moradia para população de baixa renda se dê com pouca observância à Norma de Desempenho,
contribuindo para a frequente ocorrência de falhas construtivas e manifestações patológicas
nas edificações.

2.5 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS

As manifestações patológicas em edificações são ocorrências indesejadas que


prejudicam a estética e/ou a funcionalidade plena da construção. Elas podem ocorrer ao longo
de todas as etapas do processo construtivo do empreendimento, com manifestações se
estendendo até anos após a entrega da obra. A urgência no tratamento da patologia é
quantificada em função da gravidade das ocorrências, que podem ser infiltrações, vazamentos,
trincas e recalques nas estruturas. Em todos os casos, tratar essas manifestações exige não só
uma correção do dano causado, mas também um estudo da falha que gerou aquele dano.
Com o intuito de analisar a qualidade dos empreendimentos e a frequência de ocorrência
de manifestações patológicas em obras do Programa Minha Casa Minha Vida, o Ministério da
Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União publicou em abril de 2017 os
resultados de um estudo desenvolvido sobre uma amostra de 77 empreendimentos das Faixas
2 e 3 do PMCMV, a duas faixas de rendas superiores do programa, conforme a Tabela 2.2:
34

Tabela 2.2: Faixa de renda familiar aplicável ao PMCMV Urbano


Vigência 2019
Faixa 1 Até R$ 1.800,00
Faixa 1,5 Até R$ 2.350,00
Faixa 2 Até R$ 4.000,00
Faixa 3 Até R$ 9.000,00
Fonte: Lei 11.977/2009, Decretos 7.499/2011 e 7.825/2012 e Portarias Interministeriais 96, 98
e 99/2016 e no 528/2017. Elaborado pelo autor.
O relatório apresenta resultados preocupantes sobre a ocorrência de manifestações
patológicas nas amostras, estimando que 56,4% das unidades habitacionais estudadas
apresentaram alguma patologia proveniente de uma deterioração precoce da edificação, isto é,
ocorrências foram percebidas antes do prazo de garantia findar. A distribuição do tipo de
patologia verificada é expressa na Tabela 2.3:
Tabela 2.3: Manifestações patológicas apresentadas no Relatório
Programa Minha Casa Minha Vida - FGTS
Depressões 19,8%
Falta de prumo e esquadros 32,4%
Fissuras 21,3%
Infiltrações 46,0%
Na cobertura 7,1%
Nas esquadrias 19,8%
Nas instalações elétricas 19,3%
Nas instalações hidráulicas 17,6%
Nas instalações sanitárias 11,8%
Pintura externa 9,6%
Pintura interna 19,1%
Piso 35,6%
Recalques 4,7%
Trincas 23,6%
Vazamentos 24,2%
Outras patologias 40,9%
35

Fonte: Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União (2017).


Adaptado pelo autor.

É pertinente ressaltar ainda que os dados de manifestações patológicas apresentados


dizem respeito às faixas superiores de rendas do PMCMV, sendo possível deduzir que a
ocorrência de patologias em edificações de faixas de rendas inferiores, e, portanto, menos
custo, são ainda mais recorrentes e significativas.
36

3 HABITAÇÃO DE BAIXA RENDA - REQUISITOS BÁSICOS

3.1 INICIATIVA INDIVIDUAL

Antes de executar a tão sonhada casa de alvenaria, a primeira alternativa para muitos
moradores de comunidades de baixa renda são os chamados barracos, construídos com os
materiais que estiverem a mão: desde tábuas e pilaretes de madeira, até lonas e mantas plásticas.
A primeira preocupação é garantir um teto e algumas paredes, mesmo que elas não sejam
completamente sólidas. As habitações rústicas, segundo definição da PNAD, ainda estão
presentes nas favelas e comunidades brasileiras, representadas em parcelas da sociedade que
são ainda mais marginalizadas dentro de um grupo já marginalizado nas cidades.
Já nas casas de alvenaria, Veysseyre (2014) define os três principais critérios adotados
na escolha dos materiais utilizados em construções em comunidades de baixa renda, eles devem
ser: de baixo custo, leves o suficiente para serem carregados nas costas e pequenos o bastante
para serem transportados pelas vielas da favela.
Outro significativo fator a ser levado em consideração no que tange o domicílio de baixa
renda é a carga emocional gerada por todo o contexto social e cultural. Há muito tempo, o
concreto e o tijolo são tidos como símbolos de solidez e segurança. Via de regra, o morador de
baixa renda vai preferir uma casa de alvenaria, mesmo que sem acabamento, a uma casa de
madeira bem acabada, por exemplo.
A fim de atender a esses requisitos e a esse contexto social, a vasta maioria dos
domicílios nesse contexto apresentam técnicas construtivas semelhantes, compostas por
estruturas em concreto armado com vedação de blocos cerâmicos, isso quando não são
dispensados os elementos estruturais convencionais e toda a casa é composta de paredes
autoportantes executadas em blocos não-estruturais de cerâmica.
O acabamento externo das paredes, algumas poucas vezes, é feito com finalização de
chapisco ou chapisco e emboço, porém o mais usual é que o bloco cerâmico permaneça exposto
para o lado de fora da residência. Enquanto o interno comumente recebe a finalização em
emboço + reboco + gesso e pintura, ou massa única + gesso e pintura.

3.2 INICIATIVA PÚBLICA

Os requisitos de habitação dos domicílios de interesse social financiados por programas


públicos são definidos pelo Ministério das Cidades através de portaria. A última publicada foi
37

a de No 660, de 14 de novembro de 2018. Programas como o Minha Casa Minha Vida estão
sob o guarda-chuva das especificações mínimas definidas.
Sobre o projeto da unidade, a portaria define regras gerais, como a área útil mínima da
residência, mas não restringe comprimentos lineares dos cômodos. Determina as dimensões
que devem ser consideradas dos móveis que cada cômodo deve receber, bem como uma
disposição dos móveis em planta, respeitando um afastamento mínimo entre os eles e deles em
relação às paredes, conforme as Tabelas 3.1 e 3.2, além de atenderem aos requisitos de
desempenho da ABNT NBR15.575.
A área útil mínima das unidades habitacionais deve ser tal a acomodar o mobiliário
mínimo definido e não apresentar a soma das áreas de todos os cômodos com valor menor do
que 36,00 m² em casas com área de serviço externa, 38,00 m² em casas com área de serviço
internas e 39,00 m² em apartamentos e casas sobrepostas, de acordo com o Ministério das
Cidades (2018).
A distribuição de cômodos mínima das unidades deve apresentar uma sala, dois
dormitórios, uma cozinha, uma área de serviço e um banheiro

Tabela 3.1: Especificações mínimas de projeto (dormitórios)

PROGRAMA DE NECESSIDADES DE PROJETO - DORMITÓRIOS


Quantidade mínima de móveis: 1 cama (1,40 m x 1,90 m); 1 criado-mudo
Dormitório
(0,50 m x 0,50 m); e 1 guarda-roupa (1,60 m x 0,50 m). Circulação mínima
casal
entre mobiliário e/ou paredes de 0,50 m.
Quantidade mínima de móveis: 2 camas (0,90 m x 1,90 m); 1 criado-mudo
Dormitório
(0,50 m x 0,50 m); e 1 guarda-roupa (1,50 m x 0,50 m). Circulação mínima
duas pessoas
entre as camas de 0,80 m. Demais circulações, mínimo 0,50 m.
Fonte: Ministério das Cidades - Portaria No 660 de 14 de novembro de 2018. Adaptado pelo autor.

Tabela 3.2: Especificações mínimas de projeto (áreas sociais)

PROGRAMA DE NECESSIDADES DE PROJETO – ÁREAS SOCIAIS


Largura mínima da cozinha: 1,80 m. Quantidade mínima: pia (1,20 m x
Cozinha 0,50 m); fogão (0,55 m x 0,60 m); e geladeira (0,70 m x 0,70 m). Previsão
para armário sob a pia e gabinete.
Largura mínima sala de estar/refeições: 2,40 m. Quantidade mínima de
Sala de
móveis: sofás com número de assentos igual ao número de leitos; mesa
estar/refeições
para 4 pessoas; e Estante/Armário TV.
Largura mínima do banheiro: 1,50 m. Quantidade mínima: 1 lavatório sem
Banheiro coluna, 1 vaso sanitário com caixa de descarga acoplada, 1 box com ponto
para chuveiro - (0,90 m x 0,95 m) com previsão para instalação de barras
38

de apoio e de banco articulado, desnível máx. 15 mm; assegurar a área para


transferência ao vaso sanitário e ao box.
Quantidade mínima: 1 tanque (0,52 m x 0,53 m) e 1 máquina (0,60 m x
Área de
0,65 m). Prever espaço e garantia de acesso frontal para tanque e máquina
Serviço
de lavar.
Fonte: Ministério das Cidades - Portaria No 660 de 14 de novembro de 2018. Adaptado pelo autor.

A portaria também é responsável por delimitar o padrão de qualidade dos materiais


empregados na construção do empreendimento. Apesar de não apresentar critérios próprios de
qualidade, exige que todos os fabricantes sejam aprovados em Fichas de Avaliação de
Desempenho - FADs emitidas pelo SINAT - Sistema Nacional de Avaliações Técnicas pelo
Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat - (PBQP-H) e define alguns
parâmetros de atendimento básicos em sua aplicação, como desníveis mínimos e máximos,
quantidade de camadas de acabamento da vedação vertical, conforme visto na Tabela 3.3:

Tabela 3.3: Especificações mínimas de sistemas de vedação

SISTEMAS DE VEDAÇÃO HORIZONTAL E VERTICAL


A comprovação do atendimento à ABNT NBR 15.575 se dará por meio de
FAD do SiNAT do PBQP-H (disponível na página:
http://app.cidades.gov.br/catalogo/).
Sistemas de Vedado o uso de estrutura metálica quando o empreendimento estiver
Cobertura localizado em regiões litorâneas ou em ambientes agressivos a esse material.
No caso de área de serviço externa, a cobertura deverá ser em toda a área,
nas mesmas especificações da UH, facultado o uso de laje.
Pintura dos tetos com tinta látex Econômica, Standard ou Premium, segundo
a norma ABNT NBR 15079.
Sistemas de A comprovação do atendimento à ABNT NBR 15.575 se dará por meio de
Vedação FAD do SiNAT do PBQP-H (disponível na página:
Vertical http://app.cidades.gov.br/catalogo/).
Em unidades localizadas nas zonas bioclimáticas 3 a 8 pintura das paredes
externas predominantemente em cores claras (absortância solar abaixo de
0,4) ou acabamentos externos predominantemente com absortância solar
abaixo de 0,4. Cores escuras admitidas em detalhes.
Sistemas de
Revestimento em concreto regularizado e plano, ou chapisco e massa única
Vedação
ou emboço e reboco, adequados para o acabamento final em pintura.
Vertical
Pintura com tinta látex Standard ou Premium, segundo a norma ABNT NBR
Externas
15079, ou textura impermeável.
Nas áreas de serviço externas à edificação, o azulejo deverá cobrir no
mínimo a largura correspondente ao tanque e a máquina de lavar roupas
(largura mínima de 1,20m).
39

Revestimentos internos e de áreas comuns gesso ou chapisco e massa única


ou em emboço e reboco, ou ainda em concreto regularizado e plano,
Sistemas de adequados para o acabamento final em pintura.
Vedação Pintura com tinta látex Econômica, Standard ou Premium, segundo a norma
Vertical ABNT NBR 15079, ou textura impermeável.
Interna Em áreas molhadas, revestimento com azulejo até altura mínima de 1,50m
em todas as paredes da cozinha, área de serviço interna à edificação e
banheiro e em toda a altura da parede na área do box.
A comprovação do atendimento à ABNT NBR 15.575 se dará por meio de
FAD do SiNAT do PBQP-H (disponível na página:
http://app.cidades.gov.br/catalogo/).
Sistemas de Obrigatório piso e rodapé em toda a unidade, incluindo o hall e as áreas de
Piso circulação interna.
O revestimento deve ser em cerâmica esmaltada PEI 4, com índice de
absorção inferior a 10% e desnível máximo de 15mm. Para áreas molháveis
e rota de fuga, o coeficiente de atrito dinâmico deve ser superior a 0,4.
Fonte: Ministério das Cidades - Portaria No 660 de 14 de novembro de 2018. Adaptado pelo autor.

A portaria ainda é responsável por definir os parâmetros e características mínimas dos


materiais que compõem as portas e janelas, conforme visto na Tabela 3.4:

Tabela 3.4: Especificações mínimas de esquadrias

ESPECIFICAÇÕES DE ESQUADRIAS
Portas de acesso e internas em madeira. Em regiões litorâneas
ou meio agressivo, admite-se no acesso à unidade porta de aço
ou de alumínio, desde que não possuam vidros em altura
inferior à 1,10 m em relação ao piso acabado.
Batente em aço ou madeira desde que possibilite a inversão do
sentido de abertura das portas. Vão livre entre batentes de 0,80
m x 2,10 m em todas as portas. Previsão de área de
Portas aproximação para abertura das portas de acesso (0,60 m
interno e 0,30 m externo). Maçanetas de alavanca devem estar
entre 0,90 m a 1,10 m do piso. Em tipologia de casa prever ao
menos duas portas de acesso, sendo 01 (uma) na sala para
acesso principal e outra para acesso de serviço na cozinha/área
de serviço.
Em portas de aço, pintura com esmalte sobre fundo
preparador. Em portas de madeira, com esmalte ou verniz.
Soluções Previstas em todos os vãos externos deverão ser
completas e com vidros, sem folhas fixas. É vedada a
utilização de aço em regiões litorâneas.
Janelas Em regiões litorâneas ou meio agressivo, admitem-se janelas
em madeira, PVC ou alumínio.
É obrigatório o uso de vergas e contravergas com transpasse
mínimo de 0,30m, além de peitoril com pingadeira e
40

transpasse de 2cm para cada lado do vão, ou solução


equivalente que evite manchas de escorrimento de água abaixo
do vão das janelas.
Fonte: Ministério das Cidades - Portaria No 660 de 14 de novembro de 2018. Adaptado pelo autor.

Por fim, a portaria define as especificações mínimas para as instalações dos sistemas
hidráulicos, sanitários, elétricos e de comunicação, como pode ser visto nas Tabelas 3.5 e 3.6.:

Tabela 3.5: Especificações mínimas de sistemas prediais hidrossanitários

Sistemas Prediais Hidráulicos


Louça sem coluna, com dimensão mínima de 30x40cm, sifão, e torneira
metálica cromada com acionamento por alavanca ou cruzeta, segundo a norma
Lavatório
ABNT NBR 10281/15, com acabamento de registro de alavanca ou cruzeta.
e ducha
Restringir a vazão em 12 l/min para a ducha. Onde houver chuveiro elétrico não
há necessidade de instalação de dispositivos economizadores.
Bacia sanitária com caixa acoplada e mecanismo de descarga com duplo
Bacia acionamento, conforme a norma ABNT NBR 15097/11, não sendo admitida
Sanitária caixa plástica externa. Restringir a vazão em 9 l/min para alimentação da caixa
acoplada
Capacidade mínima de 20 litros, de concreto pré-moldado, PVC, louça, inox,
granilite ou mármore sintético com torneira metálica cromada com acionamento
Área de
por alavanca ou cruzeta com arejador. Acabamento de registro de alavanca ou
Serviço
cruzeta. Restringir a vazão em 6 l/min para torneira do tanque. Prever pontos
específicos de água e esgoto para máquina de lavar roupa.
Bancada de 1,20 m x 0,50 m com cuba de granito, mármore, inox, granilite ou
Pia mármore sintético, torneira metálica cromada. Torneira e acabamento de
cozinha registro de alavanca ou cruzeta. Restringir a vazão em 6 l/min para torneiras de
pia de cozinha.
Fonte: Ministério das Cidades - Portaria No 660 de 14 de novembro de 2018. Adaptado pelo autor.

Tabela 3.6: Especificações mínimas de sistemas prediais elétricos e de comunicação

Sistemas Prediais Elétricos e de Comunicação


Deverão atender à NBR NM 60.669/2004 e NBR 5410/2004 com no
mínimo 4 na sala, 4 na cozinha, 2 na área de serviço, 2 em cada
Pontos de dormitório, 1 tomada no banheiro e mais 1 ponto elétrico para chuveiro.
tomadas elétricas Tomadas baixas a 0,40 m do piso acabado, interruptores, interfones,
campainha e outros a 1,00 m do piso acabado.
Prever ponto especifico para máquina de lavar roupa.
Pontos de Plafon simples com soquete para todos os pontos de luz. Instalar
iluminação nas luminária completa e com lâmpada flourescentes com Selo Procel ou
áreas comuns ENCE nível A no PBE para as áreas de uso comum. Instalação de
41

sistema automático de acionamento das lâmpadas - minuteria ou sensor


de presença - em ambientes de permanência temporária.
1 ponto de telefone, 1 de campainha (completa e instalada), 1 ponto de
Pontos de
antena (tubulação seca) e 1 ponto de interfone (completo e instalado)
comunicação
quando em edificação com mais de dois pavimentos.
Instalar sistema de porteiro eletrônico para edificações com mais de dois
Interfone
pavimentos.
Prever circuitos independentes para iluminação, tomadas de uso geral,
tomadas de uso específico para cozinha e para o chuveiro, dimensionados
Circuitos
para a potência usual do mercado local. Prever DR e ao menos 02 (dois)
elétricos
posições de disjuntor vagas no Quadro de Distribuição.
Prever ponto especifico para máquina de lavar roupa.
Fonte: Ministério das Cidades - Portaria No 660 de 14 de novembro de 2018. Adaptado pelo autor.

3.3 PRÁTICAS E CUSTOS CONSTRUTIVOS

Além das portarias do Ministério das Cidades, outra importante fonte de documentos
que regem o financiamento das construções de interesse social são os códigos de práticas e
normativos internos da CEF.
O Código de Práticas de Engenharia para Habitação é um conjunto de boas práticas e
orientações de execução desenvolvido pela própria CEF, que deve ser entregue assinado pelo
engenheiro responsável pelo empreendimento junto com as documentações técnicas no ato da
solicitação do financiamento.
O documento trata de requisitos e orientações a respeito da implantação, todos os
subsistemas elétricos, hidráulicos, sanitários, de gás e de segurança, versa sobre
distanciamentos mínimos das edificações para os eventuais taludes no terreno, aponta as
normas e detalhes executivos de cada método construtivo aceito pela CEF para financiamento
(CEF, 2021).
Um importante normativo interno da CEF é o AE 98. Esse normativo rege como é feita
a análise dos empreendimentos sujeitos ao financiamento pelo corpo técnico da CEF, composto
por Arquitetos(as) e Engenheiros(as) Civis. Devido ao regime de confidencialidade do
documento, algumas informações não podem ser publicadas em caráter público. O autor teve
acesso a essa documentação no período em que estagiou na Gerência de Habitação da CEF em
Niterói.
Seguindo a análise orientada pelo AE 98, são avaliadas as documentações técnicas que
a construtora entrega para a Caixa inicialmente. Nessa documentação estão incluídos todos os
projetos e memoriais descritivos do empreendimento, além de todas as anotações de
42

responsabilidade técnica, declaração de capacidade de atendimento de concessionárias de


infraestrutura e autorizações de implantação e construção dos órgãos ambientais responsáveis.
Essa etapa de análise dos empreendimentos de interesse social é importante por diversos
aspectos. Sendo obras contratadas a preço de custo, não pode haver margem no orçamento para
erros e riscos de engenharia, muito menos sobrepreço de execução. Para mitigar a ocorrência
desses problemas, a análise deve garantir que os projetos apresentem claramente os critérios
para enquadramento nos programas de financiamento, além de garantir que a proposta
contemple as especificações mínimas exigidas e que o orçamento apresentado é suficiente para
a conclusão do empreendimento no prazo proposto.
Quando a análise de viabilidade econômico-financeira é desenvolvida, um padrão de
acabamento da unidade é estabelecido de acordo com a ABNT NBR 12721 (ABNT, 2006),
onde em empreendimentos de interesse social o padrão comparativo é o R1-B, que é uma
residência unifamiliar de padrão baixo. O custo de construção do empreendimento é então
calculado utilizando bancos de dados como o CUB e o SINAPI, para então ser comparado com
o orçamento apresentado pela construtora. É feita ainda uma verificação complementar do
orçamento a respeito da distribuição do custo total da obra para cada item que compõe o
orçamento, uma vez que os itens devem estar dentro de um intervalo percentual pré-
estabelecido pela CEF, conforme pode ser observado no Tabela 3.7, que apresenta esses
intervalos para empreendimentos verticais executados em paredes de concreto.

Tabela 3.7: Intervalos admissíveis para itens do orçamento

Intervalos admissíveis para itens do orçamento sintético aprovado


SERVIÇOS PRELIMINARES GERAIS 4,86 a 16,00%
FUNDAÇÕES E CONTENÇÕES 3,00 a 13,00%
SUPRAESTRUTURA 14,00 a 40,00%
PAREDES E PAINEIS 1,00 a 20,50%
COBERTURA E PROTEÇÕES 0,20 a 12,50%
REVESTIMENTOS 13,50 a 47,00%
PAVIMENTAÇÃO 4,00 a 33,00%
INSTALAÇÕES 16,00 a 49,50%
COMPLEMENTAÇÕES 2,50 a 7,00%
Fonte: CEF (2021). Adaptado pelo autor.
43

Outro documento ao qual o financiamento está sujeito é a declaração de atendimento à


norma ABNT NBR 15.575 (ABNT, 2013), que trata sobre o desempenho de todos os sistemas
de edificações habitacionais. O responsável pelo projeto da edificação deve entregar
documento assinado se comprometendo a atender os parâmetros da norma a respeito do
desempenho estrutural, segurança contra incêndios, segurança no uso e operação das unidades,
estanqueidade, durabilidade e manutenibilidade, desempenho térmico, acústico e lumínico,
saúde, higiene e qualidade do ar, funcionalidade e acessibilidade, conforto tátil e
antropodinâmico e adequação ambiental, descritos nas 6 partes da Norma.
Ainda na declaração de atendimento, a construtora responsável deve informar a
população estimada para dimensionamento de sistemas, a zona bioclimática e região de vento
em que o empreendimento está inserido e a classe de ruído esperada para o empreendimento.

3.4 PRODUTIVIDADE DOS MÉTODOS CONSTRUTIVOS

Atualmente, de acordo com documentação interna, são passíveis de financiamento as


propostas que utilizem quaisquer métodos construtivos com normas técnicas prescritivas, mas
destacam-se os empreendimentos executados nos seguintes métodos, mais comuns (CEF,
2021):

3.4.1 Alvenaria Estrutural

3.4.1.1 Conceituação
A alvenaria estrutural é um método construtivo baseado na ideia de que as paredes são,
como um todo, os elementos estruturais que recebem, resistem e transferem as cargas à que a
construção está sujeita. São compostas por blocos estruturais menores, que compõem a parede.
Esses blocos podem ser de concreto, cerâmica ou sílico-calcáreos (RAMALHO & CORRÊA,
2003).
No que diz respeito à forma desses blocos, eles podem ser apresentados de forma
maciça, ou vazada, sendo o primeiro composto por blocos que possuem um índice de vazios
menor do que 25% da área total do bloco. Esses blocos devem ser submetidos a testes e
apresentar uma resistência à compressão característica de pelo menos 4,5 Mpa para que seja
aprovado para uso estrutural em edificações, respeitando ainda uma resistência média de 1 MPa
para cada pavimento acima do nível considerado em empreendimentos de múltiplos
pavimentos (RAMALHO & CORRÊA, 2003).
44

3.4.1.2 Vantagens e desvantagens


Em vista que uma parede de alvenaria estrutural exercer uma função dupla de estrutura
e vedação, pode-se realizar que o custo de uma parede estrutural, frente à uma parede de
vedação, seja mais alto, o que a princípio de fato é. Porém, ao levar em conta os elementos
estruturais de concreto armado utilizados em paredes de vedação, o custo representado por
esses elementos é superior ao acréscimo encontrado nos blocos utilizados na parede em si
(RAMALHO & CORRÊA, 2003).
Além da economia na execução da estrutura das paredes, por se tratar de um bloco com
um rigor de qualidade de produção mais elevado, o acabamento encontrado após seu
assentamento permite uma economia significativa nos materiais utilizados para fazer o
acabamento das paredes, dispensando as camadas de chapisco e emboço (RAMALHO &
CORRÊA, 2003).
No lado negativo da utilização da alvenaria estrutural pode-se encontrar pontos como a
dificuldade de adaptar a arquitetura executada para diferentes usos no futuro. Uma vez que toda
a extensão das paredes são elementos estruturais, a demolição e movimentação das mesmas se
torna um processo trabalhoso e tecnicamente impossível em diversos casos (RAMALHO &
CORRÊA, 2003).
A interferência entre os projetos de arquitetura e instalações do empreendimento
também apresenta um ponto negativo nesse método, exigindo um planejamento prévio
detalhado e executado por uma mão de obra bem qualificada (RAMALHO & CORRÊA, 2003).

3.4.2 Alvenaria de vedação com estrutura de concreto armado

3.4.2.1 Conceituação
O método que consiste em utilizar elementos estruturais em concreto armado e vedação
em blocos cerâmicos é um dos mais populares no Brasil. As edificações executadas com esse
método são compostas por elementos estruturais chamados de vigas, pilares e lajes, construídos
em concreto armado. Esses elementos são responsáveis por manter a estrutura da edificação
em pé, recebendo e transmitindo todos os esforços recebidos para a fundação (ABNT, 2007).
Os elementos mencionados têm seus vãos preenchidos por elementos chamados de
blocos cerâmicos, que suportam apenas seu próprio peso e têm a função de vedar as paredes e
proporcionar isolamento térmico e acústico para a construção, além de acomodar as instalações
hidráulicas, sanitárias e elétricas da edificação.
45

3.4.2.2 Vantagens e desvantagens


A grande vantagem percebida na utilização da alvenaria de vedação é o baixo custo dos
blocos cerâmicos. Por ser um método altamente difundido e utilizado, exige pouca qualificação
específica para a sua execução e comumente é executada sem um projeto guia, de forma que é
comum encontrar obras com esse método executadas pelos próprios moradores e seus
familiares.
Além de seu baixo custo, esse método permite a alteração de sua arquitetura para
diferentes usos. Como as paredes não exercem função estrutural, a demolição e realocação
delas pode ser feita sem gerar prejuízos à estrutura da edificação, desde que os elementos
estruturais não sejam afetados.
Uma grande desvantagem desse método é o elevado desperdício do material. Pelo seu
caráter de baixo custo, muitas vezes a utilização dos materiais não é otimizada, acarretando
uma quantidade elevada de material quebrado e descartado sem ser utilizado. A necessidade
de correção e nivelamento do prumo das paredes também é um fator que contribui para o
desperdício de argamassa, material utilizado nessa correção. O baixo controle tecnológico dos
blocos e a fabricação deles em diferentes formatos e padrões contribui para a necessidade de
correção das paredes executadas.

3.4.3 Parede de concreto moldada no local – ABNT NBR 16.055

3.4.3.1 Conceituação
É um método construtivo pensado para a produção em massa, uma vez que se apresenta
como um método racionalizado e produtivo, necessitando de um grande investimento inicial
em formas, mas que têm seu custo diluído à medida que são reutilizadas (MISURELLI &
MASSUDA, 2009).
O sistema pode ser aplicado a residências térreas unifamiliares, até a grandes edifícios
com 30 ou mais pavimentos. Assim como na alvenaria estrutural, suas paredes assumem a
dupla função de estrutura e vedação, mas ao invés de serem compostas por blocos unitários,
elas são executadas em concreto armado moldado no local (MISURELLI & MASSUDA,
2009).
Para a execução do método, o terreno é preparado, limpo e nivelado, então é feita a
fundação, que varia de acordo com a resistência do solo encontrado no canteiro. Então são
preparadas e montadas todas as armações, compostas de barras e telas soldadas. Toda a
46

tubulação hidráulica, sanitária e elétrica é posicionada antes da montagem das formas. Com as
formas devidamente montadas, é feita a concretagem (MISURELLI & MASSUDA, 2009).
A concretagem em uma construção em paredes de concreto é usualmente feita com
concreto usinado, visando maior controle de qualidade e desempenho da massa. Esse concreto
utilizado pode ser celular, com elevado teor de ar incorporado (até 9%), com agregados leves,
ou convencionais. As formas utilizadas podem ser de material metálico, plástico, ou de
madeira, apresentando-se também no formato trepante, mais utilizado em edifícios com
múltiplos pavimentos (MISURELLI & MASSUDA, 2009).

3.4.3.2 Vantagens e desvantagens


As vantagens e desvantagens desse método construtivo muito se assemelham aos da
alvenaria estrutural já apresentados. Destaca-se, porém, que a velocidade de execução nesse
método é ainda mais elevada, mas isso às custas da utilização de materiais mais caros, em maior
quantidade, como o concreto usinado. Um ponto em que se difere da alvenaria estrutural é o
uso de mão de obra não especializada. Como o processo de armação, forma e concretagem é
similar ao utilizado na alvenaria de concreto armado e vedação em blocos cerâmicos, sua
execução não depende de técnicas específicas ou pouco conhecidas pelos trabalhadores da
construção civil.

3.5 SUSTENTABILIDADE NOS EMPREENDIMENTOS

Nos empreendimentos financiados pelo FGTS, e para todos os de interesse social, a


CEF define uma série de requisitos obrigatórios que devem ser contemplados no projeto e
execução da construção. Esses requisitos vão além dos requisitos mínimos de qualidade e
desempenho, e versam sobre instrumentos, equipamentos e técnicas que presam pela
sustentabilidade socioambiental do empreendimento não só no período da obra, mas em sua
vida útil também (CEF, 2021).
Para os empreendimentos verticais, exige-se que ao menos 10% da área do terreno seja
permeável verde, e que o empreendimento deve contar com no mínimo uma árvore nativa da
região, ou frutífera, para cada 4 unidades habitacionais contados até o quinto pavimento,
podendo ser compostas de árvores já existentes no terreno, ou que sejam plantadas pela
construtora.
É obrigatório ainda a utilização de dispositivos de economia no consumo de recursos
hídricos, como arejadores nas torneiras, bacias sanitárias com duplo acionamento de descarga,
47

dispositivos redutores de vazão e instalações de medição individualizada de água em edifícios


multifamiliares.
Durante toda a obra, a construtora é responsável por fornecer regularmente para a CEF
e manter arquivados no canteiro os comprovantes de correta destinação dos Resíduos de
Construção e Demolição - (RCD) gerados na obra, bem como declaração informando o local
de descarte acompanhado de responsabilidade técnica específica dessa atividade.

3.6 PERCEPÇÃO DOS MORADORES SOBRE OS EMPREENDIMENTOS

Em 2014 foi publicado um estudo desenvolvido pela então Secretaria Nacional de


Habitação do Ministério das Cidades, em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), para quantificar parâmetros de satisfação dos beneficiários do PMCMV
Faixa 1. A pesquisa foi conduzida no segundo semestre de 2013, com um universo de 245.205
unidades habitacionais entregues desde o início do Programa, em 2009, até 31 de dezembro de
2012. A amostra foi calculada de forma que o resultado da pesquisa apresentou margem de
erro máxima de 5%, sendo composta por 6.241 unidades habitacionais distribuídas
proporcionalmente pelas cinco regiões do país, de acordo com a Tabela 3.8.

Tabela 3.8: Distribuição da amostra por regiões do Brasil

Distribuição da amostra por regiões


Região Norte 375 unidades
Região Nordeste 2.899 unidades
Região Sudeste 1.136 unidades
Região Sul 1.116 unidades
Região Centro-Oeste 715 unidades
Fonte: Ministério das Cidades e Ipea (2014). Adaptado pelo autor.

Para o desenvolvimento da pesquisa, foi elaborado um questionário em que os


beneficiários deviam pontuar de 0 a 10 o seu nível de satisfação com diversos tópicos
relacionados à estrutura física da unidade habitacional, ao entorno dos empreendimentos, à
inserção urbana, ao custo de vida e à percepção do bem estar. Para se ater ao escopo deste
trabalho, são apresentados os resultados da pesquisa referente somente à estrutura física da
unidade habitacional. O resumo do resultado verificado pode ser visualizado na Tabela 3.9.
48

Tabela 3.9: Satisfação com relação à unidade habitacional

Região Iluminação Umidade Temperatura Distribuição Área


Norte 7,71 7,75 3,78 8,50 4,47
Nordeste 9,22 6,84 5,86 8,76 5,38
Sudeste 8,85 4,78 5,44 6,80 4,36
Sul 8,92 5,60 5,10 7,95 4,79
Centro-
8,95 7,70 4,71 7,30 2,79
Oeste
Média
8,91 6,21 5,34 7,88 4,66
Brasil
Fonte: Ministério das Cidades e Ipea (2014). Adaptado pelo autor.

O indicador Iluminação apresentou a maior média de satisfação em quase todas as


regiões do país, com exceção da região Norte, fazendo dele a maior média a nível Brasil. É
possível apontar que as tipologias propostas na cartilha da CEF favorecem uma iluminação
equilibrada nos empreendimentos, resultado constatado na pesquisa desenvolvida.
Já o indicador Umidade apresenta resultados acima da média nacional nas regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e médias baixas nas regiões Sudeste e Sul. A média baixa na
região Sudeste chama a atenção, principalmente quando comparada à média da região Norte,
região que recebe muita umidade da floresta amazônica, elevando a umidade relativa do ar.
No indicador de temperatura, é possível observar que as médias no geral foram baixas,
mas ainda que as regiões que receberam médias mais baixas são conhecidas por terem
temperaturas médias elevadas, como é o caso da região Norte.
No indicador de distribuição foi avaliada a satisfação dos beneficiários em relação à
distribuição dos cômodos nas unidades habitacionais. É possível inferir que as médias foram
satisfatórias em todas as regiões. O resultado pode ser explicado pelo perfil dos beneficiários
do PMCMV Faixa 1, muitos realocados de ocupações, assentamentos e habitações precárias
em área de risco, onde a divisão e distribuição de cômodos era também precária, gerando uma
satisfação elevada por contraste com a realidade de habitação anterior.
O último indicador é o de área, recebendo a menor média nacional entre todos os
indicadores. Isso também pode ser explicado pelo perfil social dos beneficiários escutados,
com famílias populosas, com em média 3,73 moradores por unidade, de acordo com o
Ministério das Cidades (2014), em unidades relativamente pequenas.
49

4 SISTEMAS CONSTRUTIVOS MODULARES - CONTEXTUALIZAÇÃO

4.1 ASPECTOS GERAIS

No cenário atual da construção de edificações habitacionais de baixa renda, as técnicas


construtivas mais aplicadas são a alvenaria de vedação com estrutura em concreto armado e
alvenaria estrutural. A maior parte das etapas executivas das obras dessas duas técnicas
construtivas é desenvolvida nos canteiros de obras.
Apesar de ainda não ser uma tecnologia aplicada à construção de edificações
habitacionais para baixa renda, a construção modular vem cada vez mais ganhando destaque
no mercado internacional. Essa tecnologia tem suas etapas executivas desenvolvidas em
unidades fabris com produção em série, resultando para os canteiros de obras apenas as
atividades de montagem, ajustes e acabamentos.
Apesar do seu incremento se dar nos últimos anos, a utilização da construção modular
começou alguns séculos atrás. Uma das primeiras construções modulares que se tem registro
foi a de um pescador inglês que, ao se mudar para a colônia americana no século XVII, quis
uma casa com os padrões construtivos ingleses. Para atender ao seu desejo, o inglês
desenvolveu uma casa que pôde ser transportada desmontada, saindo da Inglaterra,
atravessando o Oceano Atlântico, e montada em terras Norte Americanas (MODULAR, 2015).
No início do século XIX, com a Corrida do Ouro nos Estados Unidos, a necessidade de
habitação rápida e acessível resultou na montagem de mais de 500 casas pré-fabricadas em
galpões na costa leste e instaladas na costa oeste do país. Foi apenas no final do século, que a
primeira empresa de fabricação de casas modulares foi fundada, em 1897. A empresa de E.F.
Hodgson surfou na onda da crescente população americana e forneceu casas modulares para
todo o país, aquecendo o mercado e promovendo a abertura de novas empresas no ramo, mas
ainda em um ritmo desacelerado (MODULAR, 2015).
Foi no século XX, com a criação do Fordismo e o impacto que esse formato de linha
produtiva teve nas indústrias, somado ao pós-Segunda Guerra Mundial e ao déficit habitacional
ocasionado pelo retorno dos soldados para os Estados Unidos, que a demanda por casas de
baixo-custo e tempo de execução baixo impulsionou o mercado mais uma vez (MODULAR,
2015).
A evolução dos materiais e a revolução digital nos projetos proporcionou à construção
modular um crescimento que tem sido percebido desde o início do século XXI (MODULAR,
2015).
50

Seja através de elementos pré-moldados do já amplamente utilizado concreto, por


estruturas em madeira, ou por meio de materiais com usos inovadores na construção, os
chamados “módulos” utilizados nos sistemas modulares são elementos padronizados formados
a partir de peças menores, que são entregues no local da obra para serem montados, em
conjunto, arranjados de forma a constituir o piso, as paredes e coberturas da edificação com a
menor necessidade de mão de obra e fabricação de material in loco possível.

4.2 SISTEMAS MODULARES DISPONÍVEIS

4.2.1 Módulos volumétricos

4.2.1.1 Conceituação
Uma das alternativas construtivas modulares são os chamados Módulos Volumétricos
Pré-fabricados, os MVPs. São blocos construtivos montados em fábricas que compõem
cômodos inteiros, ou em partes, que são acoplados de forma a compor a edificação (ARTICO,
2020).

4.2.1.2 Aplicação
Esses componentes são utilizados na Arquitetura Modular Volumétrica, que consiste na
elaboração de projetos de módulos para serem produzidos industrialmente, dentro de ambientes
controlados, garantindo um elevado padrão de qualidade (ARTICO, 2020).
Uma empresa que se beneficia da utilização de MVPs é a Brasil ao Cubo, uma
construtech que nasceu em Santa Catarina no ano de 2016. A empresa aposta na confecção de
módulos volumétricos com estruturas metálicas e toda infraestrutura elétrica e hidrossanitária
instalada. Um exemplo de empreendimento desenvolvido pela empresa é o Edifício Level,
observado na Figura 4.1.
51

Figura 4.1: Edifício Level finalizado. Fonte: Reprodução Brasil ao Cubo (2021).

Os módulos são transportados finalizados em caminhões prancha até o canteiro de obra,


onde são empilhados e acoplados a todos os módulos que compõem aquela construção,
observável na Figura 4.2.

Figura 4.2: Transporte e alocação de módulos. Fonte: Reprodução Brasil ao Cubo (2021).

A tecnologia desenvolvida pela empresa permite a construção de empreendimentos


térreos e de múltiplos pavimentos, uma vez que um projeto de estrutura metálica é elaborado
ao início, permitindo uma fabricação de cada módulo de cada pavimento de acordo com as
cargas que receberão, observando as simulações desenvolvidas como a observada na Figura
4.3.
52

Figura 4.3: Modelagem digital da estrutura. Fonte: Reprodução Brasil ao Cubo.

A empresa alega que as obras feitas utilizando seu sistema construtivo ficam prontas
em períodos até 4 vezes mais rápidos do que se fossem feitas em alvenaria convencional, além
de seguirem um rigor maior de atendimento aos padrões construtivos, já que os módulos são
executados dentro de ambientes fabris com maior controle dos processos.

4.2.1.3 Síntese do processo executivo


Esses módulos são geralmente compostos por uma estrutura em chassis metálicos, que
segue um formato paralelepípedo e é desenvolvida usando tubos quadrados soldados. Após
executada a estrutura, as vedações e instalações são executadas em linhas de montagem,
utilizando técnicas e métodos de light steel frame (ARTICO, 2020).

4.2.1.4 Materiais e equipamentos utilizados


Um importante ponto de atenção dos projetos de MVPs é a limitação dimensional dos
módulos, que devem ser pequenos o suficiente para serem movimentados dentro das linhas de
produção e transportados em carretas da fábrica até o canteiro onde será feita a instalação
(ARTICO, 2020). A Figura 4.4 exemplifica como é feito o transporte de um MVPs até o local
de instalação.
53

Figura 4.4: Transporte de MVP. Fonte: ROITMAN (2017).


4.2.1.5 Vantagens e desvantagens
Uma das maiores críticas à essa técnica diz respeito à rigidez e monotonia
frequentemente associadas aos projetos que utilizam esses elementos modulares, Artico (2020)
argumenta que MVPs abrem possibilidades de composições interessantes, culpabilizando os
projetos que exploram mal suas funcionalidades, e não a técnica construtiva em si.
Esse trabalho entende que, apesar dos MVPs apresentarem uma etapa mais avançada
na linha de produção de elementos modulares, a sua aplicação à HIS é prejudicada pela
dificuldade de transporte de seus elementos até as localidades de aplicação para a população
de baixa-renda, questão apontada por Veysseyre (2014) quando ele argumenta que a
dificuldade de transporte de materiais grandes é um ponto limitador expressivo nas construções
em comunidades de baixa-renda.
A construção utilizando containers navais, já comum na Europa, chegou no Brasil nas
últimas décadas (QUEIROZ, 2020) e pode ser considerada uma modalidade de utilização de
MVPs, desde que considerados os casos em que o container passa por uma etapa de
beneficiamento em ambiente fabril antes de sua alocação no canteiro. Arquitetos salientam,
entretanto, a importância de importar ideias, mas não importar projetos, uma vez que as
condições climáticas brasileiras são bem diferentes das europeias (QUEIROZ, 2020).

4.2.2 Painéis isotérmicos autoportantes

4.2.2.1 Conceituação
Esse tipo de painel é usualmente composto por faces externas rígidas e um miolo de
isolante termoacústico que acomoda as tubulações e instalações embutidas. Uma importante
54

característica desses painéis está em serem autoportantes e estruturais, de forma a dispensar,


em muitas de suas aplicações, elementos adicionais de estrutura, como pilares e vigas.
Um dos painéis do tipo disponíveis no mercado é o SIP (Painel Isotérmico Estrutural),
que pode ser observado na Figura 4.5.

Figura 4.5: Painel SIP. Fonte: Reprodução BullTrade (2019).

4.2.2.2 Aplicação
Uma empresa que tem se beneficiado desses tipos de painéis é a Casa Cubo, que surgiu
em São Paulo em 2014, com uma proposta de trazer para o mercado brasileiro uma tendência
nos mercados europeus e norte-americanos conhecida como “tiny-houses”, construções leves
e desmontáveis, com espaços otimizados para habitação confortável na menor área e menor
volume possíveis, observada na Figura 4.6.

Figura 4.6: Tiny house. Fonte: Reprodução Casa Cubo (2016).


55

Os projetos executados pela Casa Cubo utilizam o conceito dos painéis modulares. As
construções partem de um chassi metálico em alumínio, apresentados na Figura 4.7, e são
vedados utilizando painéis especiais de 76 mm de espessura, confeccionados a partir de OSB
(Oriented Strand Board), que são chapas de tiras de madeira orientadas, e MDF (Medium
Density Fiberboard), que são placas de fibras de madeira de média densidade, com núcleo com
um isolante termoacústico, similar ao painel SIP apresentado nesse trabalho, de forma que uma
parede inteira é executada com dois ou três painéis apenas, como observado na Figura 4.8.
Todas as instalações são projetadas ainda na fábrica e embutidas no núcleo isolante dos painéis.
O sistema de piso desses projetos é todo em painéis estruturais de madeira, com 30 mm de
espessura.

Figura 4.7: Soldagem do chassi metálico. Fonte: Reprodução Casa Cubo (2014).

As construções se iniciam no galpão da empresa, onde as paredes, pisos e coberturas


são desenvolvidas em linha produtiva, para então serem embaladas e transportadas para o local
onde serão montadas e instaladas.
56

Figura 4.8: Montagem dos painéis laterais do módulo. Fonte: Reprodução Casa Cubo (2014).

Os modelos de projeto base da Casa Cubo partem de um módulo menor, de 6,5 m2, até
um módulo maior, de 19 m2. As dimensões externas de projeto começam com uma planta baixa
de 2,6 m por 2,6 m, podendo contar ainda com um segundo andar e com uma extensão de 6,0
m2. O projeto básico dessa unidade é observada na Figura 4.9.

Figura 4.9: Projeto básico do módulo. Fonte: Reprodução Casa Cubo (2020).

4.2.2.3 Síntese do processo executivo


Após a confecção dos painéis, as paredes são montadas por composições de painéis
fixados e cortados de acordo com as dimensões de projeto. As canaletas para a passagem dos
sistemas hidráulicos e elétricos são feitas nessa etapa com a utilização de brocas e sopradores
térmicos.
Uma vez que os painéis que compõem as paredes estão confeccionados e com as
instalações compatibilizadas, eles podem ser transportados para o canteiro, onde seguirão
cronograma de montagem definido em projeto.
57

A montagem é feita sobre a fundação já pronta e pode utilizar pilaretes de madeira ou


perfis metálicos para reforço de estrutura, especialmente em projetos com mais de um
pavimento e para ancoragem da cobertura.
4.2.2.4 Materiais e equipamentos utilizados
O SIP é composto por duas chapas de OSB de 9,5 mm de espessura nas faces externas
do painel, com o miolo de 70 mm de poliestireno expandido (EPS), totalizando uma espessura
de 89 mm.
Outro painel isotérmico disponível são os painéis frigoríficos, geralmente composto por
um núcleo isolante de Poliisocianurato (PIR), com revestimento em lâminas de aço pré-
pintado. Alguns fabricantes, como a Kingspan Isoeste, ofertam um acabamento externo
texturizado, simulando a superfície de uma parede com reboco, com o painel térmico Stucco,
apresentado na Figura 4.10.

Figura 4.10: Painel térmico Stucco. Fonte: Reprodução Kingspan Isoeste (2019).

O mesmo fabricante Kingspan Isoeste ainda oferece painéis do tipo isotérmico na forma
de telhas, algumas simulando acabamento de telhas cerâmicas, como pode ser observado na
Figura 4.11, da Isotelha Colonial.

Figura 4.11: Telha Sanduíche Isotelha Colonial. Fonte: Reprodução Kingspan Isoeste (2019).
58

4.2.2.5 Vantagens e desvantagens


A principal vantagem dos painéis isotérmicos, como o SIP e os painéis do tipo
frigorífico, é contarem com sistemas de fixação à painéis adjacentes padronizados, facilitando
o encaixe de uma sequência de painéis que comporão uma parede, ou uma cobertura.
A principal desvantagem é a dificuldade no aceite de bancos e financeiras financiarem
as construções que utilizem métodos e materiais construtivos não convencionais (IDEALISTA
NEWS, 2020). Hoje a CEF, maior financiadora habitacional do país, financia empreendimento
que sejam normalizados por alguma norma da ABNT, o que inclui as edificações em wood
frame e steel frame executadas no local da obra, mas ainda não tem posição definitiva sobre a
construção utilizando painéis montados em fábricas.

4.2.3 Painéis pré-fabricados em wood frame

4.2.3.1 Conceituação
O wood frame é um sistema construtivo que utiliza molduras de madeira e placas de
OSB para constituir painéis de piso, parede e cobertura autoportantes, para a construção de
edificações habitacionais com até cinco pavimentos. O wood frame foi criado no século XIX
nos Estados Unidos onde é bastante utilizado.

4.2.3.2 Síntese do processo executivo


Nas construções que utilizam essa técnica observa-se a execução de paredes estruturais,
geralmente as paredes de perímetro da edificação, e não estruturais, geralmente paredes
divisórias internas. A sequência de construção, seja de piso, parede ou cobertura é muito
similar, onde perfis de madeira maciça são fixados com elementos de aço galvanizado de forma
a comporem molduras, como apresentados na Figura 4.12. Os espaços entre os perfis são
preenchidos com elementos de isolamento térmico e acústico, como lã de rocha, lã de vidro e
EPS. As faces das paredes são então fechadas com painéis de OSB que preparam a superfície
para receber o acabamento (MOLINA e CALIL JUNIOR, 2010).
59

Figura 4.12: Estrutura de madeira usual do wood frame. (MOLINA, 2010)

4.2.3.3 Materiais e equipamentos utilizados


Os principais materiais utilizados nessa técnica são os perfis de madeira, pregos e
ferragens utilizadas na fixação dos perfis, materiais para isolamento termoacústico como lãs de
rocha e de vidro e elementos para vedação das paredes, como placas de OSB.

4.2.3.4 Vantagens e desvantagens


Pela característica dos materiais que compõem o sistema, um painel de wood frame é
leve, possibilitando a movimentação e transporte de paredes inteiras de uma residência. Com
isso, visualiza-se o potencial de uma montagem fabril e industrializada desses painéis, que
podem ser executados em medidas padronizadas, ou personalizadas para cada projeto
específico. Desde que respeitem os limites dimensionais para seu transporte da fábrica até o
canteiro, as paredes de uma unidade habitacional podem ser entregues finalizadas e com as
instalações embutidas, prontas para serem fixadas à fundação (MOLINA e CALIL JUNIOR,
2010).
O prazo de planejamento e execução de obras que utilizam sistemas de frames se reduz
principalmente por conta da possibilidade de diferentes etapas e sistemas da edificação serem
executadas simultaneamente. Paralelamente à execução da fundação no canteiro, os painéis de
vedação vertical, o piso, as instalações e até cobertura podem ser montadas em ambientes
externos ao canteiro (SMITH, 2010). Entre planejamento e execução, a redução no prazo de
uma obra chega a ser de 40% (KAMALI & HEWAGE, 2016).
A principal desvantagem acompanha o curto prazo de execução, pois por conta disso,
o pagamento da totalidade de uma construção modular não é diluído ao longo do tempo, como
em construções convencionais. Além de serem construções mais aceleradas, é comum que as
60

empresas especializadas nas confecções dos módulos exijam um pagamento integral


antecipado, aumentando o montante desembolsado na fase inicial da construção (IDEALISTA
NEWS, 2020).

4.2.4 Painéis pré-fabricados em steel frame

4.2.4.1 Conceituação
É um tipo de painel muito similar ao wood frame já apresentado. A principal diferença
entre as técnicas é que os perfis utilizados para compor as molduras são feitos de aço
galvanizado formados a frio.

4.2.4.2 Síntese do processo executivo


Assim como no wood frame, no steel frame as paredes executadas podem apresentar
características estruturais, ou não. Também contam com um preenchimento de isolamento
térmico entre os perfis e pode ter o fechamento feito com placas de OSB. Também são
frequentemente utilizadas placas cimentícias e de gesso acartonado (BORTOLOTTO, 2015).

4.2.4.3 Materiais e equipamentos utilizados


Os principais materiais utilizados nessa técnica são os perfis metálicos de chapas de aço
galvanizado dobradas, rebites e soldas utilizadas na fixação dos perfis, materiais para
isolamento termoacústico como lãs de rocha e de vidro e elementos para vedação das paredes,
como placas de OSB, painéis de gesso acartonado e placas cimentícias.

4.2.4.4 Vantagens e desvantagens


De forma ainda mais significativa que a madeira, o aço permite um processo de
montagem fabril. A rebitagem e solda dos elementos podem ser feitos em ambientes
controlados, proporcionando uma qualidade e precisão de execução dificilmente obtida no
canteiro. Como os perfis metálicos são feitos em chapa dobrada, os painéis de steel frame são
conhecidos por serem até três vezes mais leves do que paredes equivalentes em alvenaria, isso
facilita a logística de transporte dos painéis finalizados até o canteiro, etapa observada na
Figura 4.13 (BORTOLOTTO, 2015).
Em função da redução do prazo para execução completa da obra, o custo total da obra
também é menor, quando comparado à métodos tradicionais. Os projetos muito bem definidos,
previsões de consumo precisas e pouco desperdício do material são pontos importantes nessa
61

redução de custo total, que pode chegar a 10%. (KAMALI & HEWAGE, 2016 e SMITH,
2010).

Figura 4.13: Painéis montados em indústria sendo transportados. (TERNI, SANTIAGO e


PIANHERI, 2008)

4.2.5 Casas pré-fabricadas de madeira

4.2.5.1 Conceituação
Diferente do método wood frame já apresentado no item 4.2.3, que é composto apenas
por uma estruturação em madeira, as casas pré-fabricadas de madeira são desenvolvidas a partir
de painéis maciços de madeira, onde toda a vedação é feita com painéis de madeira ripada e
aparelhada, um exemplo desse tipo de construção pode ser visto na Figura 4.14.
62

Figura 4.14. Casa pré-fabricada de madeira. Fonte: Reprodução Minha Casa Pré-Fabricada
(2021).

É fácil encontrar projetos desse método construtivo a venda na internet, uma vez que
são compostos por kits de estruturas de madeira com os painéis de vedação já transportados
em tamanhos e formatos específicos para a montagem no canteiro de obras.

4.2.5.2 Síntese do processo executivo


O processo inicia com o recebimento da madeira nas instalações fabris das empresas
que beneficiam esse material. Os diferentes componentes de madeira são separados entre
elementos estruturais e elementos de vedação.
Ainda nas fábricas o material recebe um tratamento para aumentar a durabilidade da
madeira, aplicando compostos que protegem os elementos de cupins, umidade e chama direta.
Após o tratamento do material, os componentes são montados e catalogados ainda na
fábrica, onde compõem estruturas e painéis de vedação já com os eletrodutos e tubulação
hidráulica embutidos, e são transportados até o local de instalação da casa.

4.2.5.3 Materiais e equipamentos utilizados


O material base utilizado nesse método construtivo é a madeira do tipo Pinus
autoclavado. O Pinus é uma árvore facilmente encontrada e extraída no país, com um período
de plantio, crescimento e amadurecimento relativamente curto. Após extraída a madeira, ela
63

recebe um tratamento chamado de autoclave, que é o processo de aplicação de inseticidas e


fungicidas na madeira em grandes compartimentos pressurizados. Esse é o principal processo
de tratamento do material para alongar sua vida útil.
Além da madeira, todos os elementos e dispositivos de fixação, como pregos, parafusos
e dobradiças, também são utilizados na montagem não só dos módulos na fábrica, mas também
da unidade finalizada no local de instalação.

4.2.5.4 Vantagens e desvantagens


A principal vantagem de uma construção de madeira pré-fabricada é a velocidade de
sua implantação. Por ser um material de fácil tratamento e beneficiamento, as linhas de
produção nas fábricas conseguem desenvolver os módulos que compõem o sistema de forma
otimizada e rápida, permitindo inclusive a personalização de projetos sem precisar de grandes
alterações nas linhas de montagem. Por conta de uma produção acelerada, e somado ao fato de
que sua montagem na localização final é a seco e não depende de tempo de cura de elementos
estruturais, a utilização desses módulos promove uma casa finalizada em prazos muito curtos,
sendo inclusive indicada em situações de construção emergencial de habitações em situação de
crise.
Uma das desvantagens mais expressivas é o preconceito que a sociedade brasileira
como um todo ainda tem a respeito de construções em madeira. Usualmente associada é
fragilidade e sujeição à ação de cupins e fungos, a madeira ainda é tem sua utilização
questionada em habitações de longo prazo.
64

5 SISTEMAS MODULARES APLICADOS À HIS

Para permitir a comparação e a análise entre os sistemas modulares aplicados a HIS e


os sistemas construtivos convencionais objeto deste capítulo optou-se pela utilização do
sistema de alvenaria não estrutural e o sistema modular de painéis em wood frame. A seleção
desses dois métodos construtivos se deu em consequência do primeiro ser o método
convencional mais utilizado para a materialização de habitações de interesse social no Brasil.
Já o segundo, o wood frame, por ser um método emergente no mercado nacional, de
industrialização simples conforme descrito no capítulo 4 e com grande oferta de matéria prima
no contexto do país. Deve-se destacar ainda, que com a publicação da NBR 16936 (ABNT,
2021), norma que versa sobre construções em wood frame no Brasil, que se encontra nas
últimas etapas de consulta pública, a utilização deste método tenderá ao crescimento
notadamente no segmento da HIS (TECVERDE, 2021). Mesmo que atualmente as construções
que utilizam essa técnica sejam regidas pela NBR 15575 (ABNT, 2013), a expectativa das
empresas especializadas é de que uma Norma específica estimule a utilização da técnica
(TECVERDE, 2021).
Ao decorrer do capítulo, são feitas comparações quantitativas utilizando projetos
padrão de unidades habitacionais. São levantados os custos e prazos de execução, bem como o
desempenho térmico e acústico dos dois métodos construtivos.
As análises de custo e prazo foram desenvolvidas a partir de uma pesquisa
bibliográfica que resultou em basear-se em projetos e orçamentos desenvolvidos pelas próprias
construtoras referenciadas, com custos atualizados pela tabela SINAPI do estado do Rio de
Janeiro em novembro de 2021.
Já as análises de desempenho foram desenvolvidas a partir de relatórios técnicos do
Instituto Falcão Bauer da Qualidade (IFBQ), e os resultados obtidos do estudo desenvolvido
por Fiegenbaum (2018) com prototipação de unidades habitacionais para analisar os
desempenhos térmico das mesmas.

5.1 CUSTO DE EXECUÇÃO

Para fins comparativos do custo, foram desenvolvidos dois orçamentos de uma casa
padrão, um com a execução em alvenaria convencional e o outro com execução em wood
frame.
65

O projeto padrão utilizado foi executado em Pelotas, no Rio Grande do Sul, no


Residencial Haragano, pela construtora TecVerde e diz respeito à uma unidade habitacional
térrea de 42,19 m2. A modelagem tridimensional da unidade executada em wood frame pode
ser observada na Figura 5.1.

Figura 5.1: Projeto de casa executada em wood frame. Fonte: Reprodução TecVerde (2011).

O orçamento foi desenvolvido utilizando a tabela SINAPI do estado do Rio de Janeiro


de novembro de 2021. E seguindo as especificações descritas em cada item a seguir.

5.1.1 Wood frame

O orçamento prevê a utilização de fundação em radier, dada a característica do método


construtivo ser leve, não sendo necessária a utilização de fundações profundas.
As paredes são em painéis de wood frame com estruturação em madeira autoclavada,
recheio isolante termoacústico de lã de vidro com 90 mm de espessura, e fechamento e
contraventamento utilizando placas de OSB de 12,5 mm de espessura. Envolvendo as placas
de OSB são utilizadas membranas hidrófugas, que fornecem a estanqueidade dos painéis
externos.
As paredes externas receberam revestimento de placas cimentícias, enquanto as internas
receberam acabamento em placas de gesso acartonado, acabamentos que receberam pintura
acrílica. As áreas molhadas foram impermeabilizadas com manta asfáltica e aplicação de
revestimento cerâmico esmaltado.
As portas internas da unidade são de madeira compensada, enquanto as externas são de
alumínio. As esquadrias das janelas também são de alumínio.
O orçamento completo pode ser visualizado na Tabela 5.1.
66

Tabela 5.1: Orçamento da edificação padrão executada em wood frame.


Preço Preço % do % do
SERVIÇO Unid. Qtd. Unitário Total Item Total
(R$) (R$)

1.1 Locação 1.1.1 Gabarito m2 23,00 59,49 1.368,27 16,35 2,23


1 INFRA
ESTRUTURA 1.2 Fundação 1.2.1 Radier m2 42,19 165,90 6.999,32 83,65 11,42
SUBTOTAL 8.367,59 100,00
2.1.1 Painel Wood Frame Ind. c/ OSB
E=12com, perfis de mad., isolante lã
2 PAREDES 2.1 Painéis de vidro e membrana hidrófuga m2 124,44 61,60 7.665,50 100,00 12,51
SUBTOTAL 7.665,50
3.1.1 Kit Porta Externa tipo veneziana
80x210cm unid. 2,00 1.149,92 2.299,84 25,27 3,75
3.1
3.1.2 Janela maxim ar 1 40x60cm unid. 1,00 322,43 322,43 3,54 0,53
Esquadrias de
alumínio 3.1.3 Janela maxim ar 2 90x110cm unid. 1,00 1.329,57 1.329,57 14,61 2,17
3.1.4 Janela de correr incluso vidro
3 160x110cm unid. 1,00 1.507,04 1.507,04 16,56 2,46
ESQUADRIA 3.2
S Esquadrias de 3.2.1 Porta em mad. Compensada lisa
Madeira 80x210cm unid. 3,00 392,21 1.176,63 12,93 1,92
3.3
Esquadrias de 3.3.1 Janela de correr tipo veneziana
Ferro 120x120cm unid. 2,00 1.233,03 2.466,06 27,09 4,02
SUBTOTAL 9.101,57
4.1.1 Estrutura de madeira para telhas
4 cerâmicas m2 44,04 39,99 1.761,16 30,76 2,87
4.1 Telhado
COBERTUR 4.1.2 Cobertura em telha cerâmica m2 44,04 84,89 3.738,56 65,29 6,10
A 4.1.3 Cumeeira cerâmica m 6,5 34,77 226,01 3,95 0,37
SUBTOTAL 5.725,72
5.1
Revestimento 5.1.1 Gesso Acartonado c/ tratamento
s Internos de juntas m2 201,53 19,26 3.881,47 22,93 6,33
5.2.1 Cerâmica esmaltada PEI4
5.2 Cerâmicas 20x20cm m2 24,87 50,60 1.258,42 7,43 2,05
5.3
Revestimento 5.3.1 Chapa cimentícia com
5 s Externos tratamento de juntas m2 85,38 65,51 5.593,24 33,04 9,13
REVESTIME 5.4.1 Painel Wood Frame Ind. c/ OSB
NTOS 5.4 Laje e=9cm e isolante lã de vidro m2 44,04 45,00 1.981,80 11,71 3,23
5.5.1 Pintura sobre gesso acartonado
– drywall m2 201,53 14,62 2.946,37 17,40 4,81
5.5.2 Textura tipo grafiato, lixamento
5.5 Pinturas
e selador m2 85,38 13,40 1.144,09 6,76 1,87
5.5.3 Verniz sobre madeira, acetinado
2d m2 12,60 9,98 125,75 0,74 0,21
SUBTOTAL 16.931,14
6.1.1 Impermeabilização c/ manta
6.1 Piso asfáltica m2 8,43 101,37 854,55 13,32 1,39
6 PISOS 6.2.1 Cerâmica 30x30cm PEI5 arg. e
6.2 Cerâmica rejunte m2 37,91 50,70 1.922,04 29,95 3,14
6.3 Rodapés 6.3.1 Rodapés em cerâmica h=10cm m2 54,54 50,70 2.765,18 43,09 4,51
67

6.4.1 Soleiras em granito cinza


6.4 Soleiras e andorinha m 4,14 108,40 448,78 6,99 0,73
Peitoris 6.4.2 Peitoris em granito cinza
andorinha m 4,00 106,56 426,24 6,64 0,70
SUBTOTAL 6.416,78
7.1.1 Ponto de interruptor, incluindo
eletroduto de PVC rígido e caixa com
espelho pto. 5,00 55,89 279,45 8,29 0,46
7.1.2 Ponto de luz embutido,
incluindo eletroduto de PVC rígido e
7.1
caixa com espelho pto. 5,00 100,00 500,00 14,84 0,82
Instalações
7 7.1.3 Ponto de tomada de embutir,
Elétricas
INSTALAÇÕ incluindo eletroduto de PVC rígido e
ES caixa com espelho pto. 13,00 190,62 2.478,06 73,55 4,04
ELÉTRICAS 7.1.4 Ponto seco para instalação de
TV, incluindo eletroduto de PVC rígido
e caixa com espelho pto. 1,00 55,89 55,89 1,66 0,09
7.2 7.2.1 Ponto de telefone, incluindo
Instalações eletrodutos de PVC rígido e caixa com
Telefônicas espelho pto. 1,00 55,89 55,89 1,66 0,09
SUBTOTAL 3.369,29
8.1.1 Pontos de água fria embutido,
incluindo tubo de PVC rígido soldável
8.1 Água Fria e conexões pto. 5,00 156,22 781,10 50,68 1,27
8.2.1 Ponto de esgoto, incluindo tubo
8 de PVC rígido soldável de 40mm e
INSTALAÇÕ conexões pto. 1,00 100,00 100,00 6,49 0,16
ES 8.2.2 Ponto de esgoto, incluindo tubo
HIDRÁULIC 8.2 Esgoto de PVC rígido soldável de 50mm e
AS conexões pto. 2,00 160,00 320,00 20,76 0,52
8.2.3 Ponto de esgoto, incluindo tubo
de PVC rígido soldável de 100mm e
conexões pto. 2,00 170,00 340,00 22,06 0,55
SUBTOTAL 1.541,10
9.1.1 Vaso sanitário com caixa
acoplada unid. 1,00 309,00 309,00 14,31 0,50
9.1.2 Lavatório suspenso 29,5x39 pad.
Médio unid. 1,00 244,38 244,38 11,32 0,40
9.1.3 Banca com cuba em marmorite
9.1 Louças e p/ pia unid. 1,00 650,50 650,50 30,12 1,06
9 Metais 9.1.4 Tanque de mármore sintético unid. 1,00 415,78 415,78 19,25 0,68
APARELHOS
9.1.5 Kit acessórios para banheiro em
plástico unid. 1,00 185,93 185,93 8,61 0,30
9.1.6 Caixa d'água em polietileno 500L unid. 1,00 266,71 266,71 12,35 0,44
9.1.7 Chuveiro elétrico comum tipo
ducha 127V unid. 1,00 87,09 87,09 4,03 0,14
SUBTOTAL 2.159,39
CUSTO TOTAL DA EDIFICAÇÃO 61.278,09
Fonte: CEF (2021). Elaborado pelo autor.
68

5.1.2 Alvenaria convencional

O orçamento prevê a utilização de fundação em vigas baldrame sobre sapatas em


concreto armado moldado no local, dada a característica da construção ser pequena e térrea, as
cargas são uniformemente distribuídas pelo terreno.
A estrutura foi executada em pilares e vigas de concreto armado moldados no local, e
com fechamento de blocos cerâmicos furados com 15 cm de espessura e assentados sobre
argamassa mista.
O acabamento das paredes externas é dado com chapisco, reboco, selador, textura e
pintura acrílica. Já as paredes internas recebem acabamento de chapisco, reboco, massa corrida
PVA e pintura acrílica.
O piso é executado com lastro de concreto magro e contrapiso desempenado que recebe
o revestimento cerâmico esmaltado PEI5. As esquadrias seguem o mesmo padrão da edificação
em wood frame.
O orçamento completo pode ser visualizado na Tabela 5.2.
69

Tabela 5.2: Orçamento da edificação padrão executada em alvenaria convencional.


Preço
Preço % do % do
SERVIÇO Unid. Qtd. Unitário
Total (R$) Item Total
(R$)
1.1 Locação 1.1.1 Gabarito m2 23,00 59,49 1.368,27 14,73 1,94
1.2.1 Concreto FCK 15MPA virado em
1 INFRA obra m3 1,76 356,55 627,53 6,76 0,89
1.2 Fundação
ESTRUTURA
1.2.2 Forma e Desforma m2 42,19 172,80 7.290,43 78,51 10,35
SUBTOTAL 9.286,23 100,00
2.1.1 Tijolo cerâmico furado 1/2 vez
2.1 Alvenaria E=15 m2 124,62 61,60 7.676,59 93,29 10,90
2.2.1 Concreto FCK 20MPA com forma
2 PAREDES 2.2 Estrutura e desforma m3 1,08 392,27 423,65 5,15 0,60
2.3 Vergas e
Contravergas 2.3.1 Concreto FCK 15MPA m3 0,36 356,55 128,36 1,56 0,18
SUBTOTAL 8.228,60
3.1.1 Kit Porta Externa tipo veneziana
80x210cm unid. 2,00 1149,92 2.299,84 25,27 3,26
3.1 Esquadrias 3.1.2 Janela maxim ar 1 40x60cm unid. 1,00 322,43 322,43 3,54 0,46
de alumínio 3.1.3 Janela maxim ar 2 90x110cm unid. 1,00 1329,57 1.329,57 14,61 1,89
3.1.4 Janela de correr incluso vidro
3 ESQUADRIAS 160x110cm unid. 1,00 1507,04 1.507,04 16,56 2,14
3.2 Esquadrias 3.2.1 Porta em mad. Compensada lisa
de Madeira 80x210cm unid. 3,00 392,21 1.176,63 12,93 1,67
3.3 Esquadrias 3.3.1 Janela de correr tipo veneziana
de Ferro 120x120cm unid. 2,00 1233,03 2.466,06 27,09 3,50
SUBTOTAL 9.101,57
4.1.1 Estrutura de madeira para telhas
cerâmicas m2 44,04 39,99 1.761,16 30,76 2,50
4.1 Telhado
4 COBERTURA 4.1.2 Cobertura em telha cerâmica m2 44,04 84,89 3.738,56 65,29 5,31
4.1.3 Cumeeira cerâmica m 6,5 34,77 226,01 3,95 0,32
SUBTOTAL 5.725,72
5.1.1 Chapisco argamassa 1:3 cimento
5.1
e areia m2 196,96 4,73 931,62 4,10 1,32
Revestimentos
5.1.2 Reboco argamassa 1:7 cimento e
Internos
areia m2 172,81 34,73 6.001,69 26,42 8,52
5.2.1 Cerâmica esmaltada PEI4
5.2 Cerâmicas 20x20cm m2 24,87 50,60 1.258,42 5,54 1,79
5.3.1 Chapisco argamassa 1:3 cimento
5.3
e areia m2 85,38 4,73 403,85 1,78 0,57
Revestimentos
5.3.2 Reboco argamassa 1:7 cimento e
5 Externos
areia m2 85,38 34,73 2.965,25 13,06 4,21
REVESTIMENTOS
5.4.1 Laje Pré-moldada, capeamento
5.4 Laje E=4cm m2 44,04 167,02 7.355,56 32,39 10,44
5.5.1 Pintura acrílica com massa corrida
PVA m2 172,81 14,62 2.526,48 11,12 3,59
5.5.2 Textura tipo grafiato, lixamento e
5.5 Pinturas
selador m2 85,38 13,40 1.144,09 5,04 1,62
5.5.3 Verniz sobre madeira, acetinado
2d m2 12,60 9,98 125,75 0,55 0,18
SUBTOTAL 22.712,71
6 PISOS 6.1 Piso 6.1.1 Lastro de concreto E=5cm m3 2,2 585,84 1.288,85 15,47 1,83
70

6.1.2 Contrapiso desemp. Argamassa


1:4 E=3cm m2 36,4 40,60 1.477,84 17,74 2,10
6.2.1 Cerâmica 30x30cm PEI5 arg. e
6.2 Cerâmica rejunte m2 37,91 50,70 1.922,04 23,08 2,73
6.3 Rodapés 6.3.1 Rodapés em cerâmica h=10cm m2 54,54 50,70 2.765,18 33,20 3,92
6.4.1 Soleiras em granito cinza
6.4 Soleiras e andorinha m 4,14 108,40 448,78 5,39 0,64
Peitoris 6.4.2 Peitoris em granito cinza
andorinha m 4,00 106,56 426,24 5,12 0,60
SUBTOTAL 8.328,92
7.1.1 Ponto de interruptor, incluindo
eletroduto de PVC rígido e caixa com
espelho pto. 5,00 55,89 279,45 8,29 0,40
7.1.2 Ponto de luz embutido, incluindo
eletroduto de PVC rígido e caixa com
7.1 Instalações espelho pto. 5,00 100,00 500,00 14,84 0,71
Elétricas 7.1.3 Ponto de tomada de embutir,
7 INSTALAÇÕES incluindo eletroduto de PVC rígido e
ELÉTRICAS caixa com espelho pto. 13,00 190,62 2.478,06 73,55 3,52
7.1.4 Ponto seco para instalação de TV,
incluindo eletroduto de PVC rígido e
caixa com espelho pto. 1,00 55,89 55,89 1,66 0,08
7.2.1 Ponto de telefone, incluindo
7.2 Instalações eletrodutos de PVC rígido e caixa com
Telefônicas espelho pto. 1,00 55,89 55,89 1,66 0,08
SUBTOTAL 3.369,29
8.1.1 Pontos de água fria embutido,
incluindo tubo de PVC rígido soltável e
8.1 Água Fria conexões pto. 5,00 156,22 781,10 50,68 1,11
8.2.1 Ponto de esgoto, incluindo tubo
de PVC rígido soldável de 40mm e
conexões pto. 1,00 100,00 100,00 6,49 0,14
8 INSTALAÇÕES
8.2.2 Ponto de esgoto, incluindo tubo
HIDRÁULICAS
8.2 Esgoto de PVC rígido soldável de 50mm e
conexões pto. 2,00 160,00 320,00 20,76 0,45
8.2.3 Ponto de esgoto, incluindo tubo
de PVC rígido soldável de 100mm e
conexões pto. 2,00 170,00 340,00 22,06 0,48
SUBTOTAL 1.541,10
9.1.1 Vaso sanitário com caixa acoplada unid. 1,00 309,00 309,00 14,31 0,44
9.1.2 Lavatório suspenso 29,5x39 pad.
Médio unid. 1,00 244,38 244,38 11,32 0,35
9.1.3 Banca com cuba em marmorite p/
pia unid. 1,00 650,50 650,50 30,12 0,92
9.1 Louças e
Metais 9.1.4 Tanque de mármore sintético unid. 1,00 415,78 415,78 19,25 0,59
9 APARELHOS
9.1.5 Kit acessórios para banheiro em
plástico unid. 1,00 185,93 185,93 8,61 0,26
9.1.6 Caixa d'água em polietileno 500L unid. 1,00 266,71 266,71 12,35 0,38
9.1.7 Chuveiro elétrico comum tipo
ducha 127V unid. 1,00 87,09 87,09 4,03 0,12
SUBTOTAL 2.159,39
CUSTO TOTAL DA EDIFICAÇÃO 70.453,53
Fonte: CEF (2021). Elaborado pelo autor.
71

5.1.3 Comparação

Objetivamente é possível fazer uma comparação de custos totais das edificações


executadas nos dois métodos construtivos analisados, e podem ser observados na Tabela 5.3.

Tabela 5.3: Comparativo de custos totais.


Wood Frame Alvenaria
Custo total R$ 61.278,09 R$ 70.453,53
Custo/m2 R$ 1.452,43 R$ 1.669,91
Fonte: CEF (2021). Elaborado pelo autor.

Os orçamentos apresentados estão ambos dentro do previsto pelo CUB do estado do


Rio de Janeiro de novembro de 2021, onde a edificação térrea R-1 de padrão baixo tem o metro
quadrado orçado em R$ 1.889,16 e o PIS (Projeto de Interesse Social) é orçado em R$ 1.324,48.
É importante ressaltar que, nos orçamentos desenvolvidos os subtotais referentes aos
serviços e materiais de esquadrias, cobertura, instalações elétricas e hidráulicas e aparelhos
tiveram valores iguais nos dois métodos construtivos, uma vez que são elementos da construção
que não são vinculados à técnica de estruturação e vedação da edificação. Um resumo dos
custos subtotais pode ser observado na Tabela 5.4.

Tabela 5.4: Comparativo de custos totais.


Wood Frame Alvenaria
1 Infraestrutura R$ 8.367,59 R$ 9.286,23
2 Paredes R$ 7.665,50 R$ 8.228,60
3 Esquadrias R$ 9.101,57 R$ 9.101,57
4 Cobertura R$ 5.725,72 R$ 5.725,72
5 Revestimentos R$ 16.931,14 R$ 22.712,71
6 Pisos R$ 6.416,78 R$ 8.328,92
7 Instalações Elétricas R$ 3.369,29 R$ 3.369,29
8 Instalações Hidráulicas R$ 1.541, 10 R$ 1.541, 10
9 Aparelhos R$ 2.150,39 R$ 2.150,39
Fonte: CEF (2021). Elaborado pelo autor.
72

Nos subitens de infraestrutura, a principal diferença de valor vem das alternativas


utilizadas de fundação, uma vez que a estrutura da edificação em wood frame é mais leve, a
possibilidade de execução de um radier de espessura pequena barateou o custo da fundação
quando comparada à fundação tradicional de sapatas utilizada na edificação em alvenaria
convencional.
Nos subitens de paredes, a pesar de objetivamente o material utilizado para a execução
do wood frame ter um custo mais elevado, a velocidade de execução e a menor necessidade de
mão de obra acabam por reduzir os custos agregados à execução, entregando um produto
finalizado mais barato.
Nos subitens de revestimento, o maior ponto de destaque observável é um maior
número de etapas para acabamento das paredes. Enquanto na alvenaria convencional é
necessária a aplicação de diversas camadas até que a superfície esteja preparada para receber a
pintura, a utilização de painéis de gesso acartonado e placas cimentícias no wood frame
aceleram e barateiam essas etapas.
Nos subitens de piso, como a estruturação do piso no método de wood frame é feito
sobre a superfície do radier, os gastos com lastro de concreto e contrapiso são suprimidos.

5.2 PRAZO DE EXECUÇÃO

Para fins comparativos do custo, foram desenvolvidos dois cronogramas de obra de


uma casa padrão, um com a execução em alvenaria convencional e o outro com execução em
wood frame.
O projeto padrão utilizado foi executado em Uberlândia, em Minas Gerais, em
condomínio residencial, pela construtora Cima e diz respeito à uma unidade habitacional térrea
de 79,88 m2. A planta baixa da unidade pode ser observada na Figura 5.2. Originalmente a
unidade foi executada em concreto armado com alvenaria de vedação em bloco cerâmico.
73

Figura 5.2: Projeto de casa padrão considerado. Fonte: Cima Construtora (2014).

Dada a natureza leve da edificação, mesmo em sua versão de alvenaria, a fundação


considerada para a obra foi um radier com E = 10 cm e resistência de 25 MPa. Como o tempo
de execução é o mesmo nos dois métodos construtivos, a etapa fundação não terá seu prazo
considerado no cronograma.

5.2.1 Wood frame

Para estrutura e vedação foram consideradas painéis de wood frame com perfis de
madeira pinus de 5x10 cm, espaçados a cada 40 cm. O fechamento foi executado utilizando
material isolante termoacústico, placas de gesso acartonado nas paredes internas e placas
cimentícias nas paredes externas.
O cronograma desenvolvido pode ser observado na Tabela 5.5.

Tabela 5.5: Cronograma de execução em wood frame.

Fonte: ALVES (2015). Adaptado pelo autor.


74

5.2.2 Alvenaria convencional

Para a estrutura e vedação foram considerados vigas e pilares em concreto armado e


fechamento com blocos cerâmicos de 10x20x25 cm, com aplicação de chapisco e emboço de
argamassa.
A cobertura executada foi desenvolvida em telha de fibrocimento com E = 6 mm, com
estrutura metálica embutida em platibanda. As vergas e contra vergas utilizadas foram pré-
moldadas.
O cronograma desenvolvido pode ser observado na Tabela 5.6.

Tabela 5.6: Cronograma de execução em alvenaria de vedação.

Fonte: Cima Construtora (2015). Adaptado pelo autor.

5.2.3 Comparação

Objetivamente é possível fazer uma comparação de prazos de execução das edificações


executadas nos dois métodos construtivos analisados, e podem ser observados na Tabela 5.7.

Tabela 5.7: Comparativo de cronogramas.


Wood Frame Alvenaria
Infraestrutura Não considerada Não considerada
Paredes 4 dias 14 dias
Cobertura 2 dias 6 dias
Revestimentos 6 dias 7 dias
75

Instalações Elétricas 1 dia 4 dias


Instalações Hidráulicas 1 dia 4 dias
Finalização 2 dias 5 dias
Fonte: ALVES (2015) e Cima Construtora (2015). Elaborado pelo autor.

É interessante ressaltar que o prazo de execução das paredes no sistema construtivo


wood frame é considerado apenas o seu período de alocação em montagem no canteiro de
obras, uma vez que os painéis já passaram por beneficiamento fabril antes de serem
transportados para a obra.
Observa-se que todas as etapas consideradas nos cronogramas têm prazos maiores
quando executadas em alvenaria de vedação. Deve-se observar também que no cronograma
completo algumas atividades são executadas em concomitância, de forma que o prazo total de
execução das unidades não se dá puramente pela soma dos prazos de cada etapa.
Um comparativo com os prazos totais de execução das unidades pode ser observado na
Tabela 5.8.

Tabela 5.8: Comparativo de prazos totais.


Wood frame Alvenaria
15 dias 33 dias
Fonte: ALVES (2015) e Cima Construtora (2015). Elaborado pelo autor.

Observa-se, portanto, uma redução para mais da metade do prazo de execução em wood
frame em comparação à alvenaria de vedação.

5.3 DESEMPENHO TÉRMICO

5.3.1 Wood frame

Em ensaio realizado pelo IFBQ em 2015 com edificações de casas geminadas e térreas
utilizando o método construtivo wood frame obtiveram resultados satisfatórios em quase todas
as condições analisadas, sendo aprovado com ressalvas de cor da pintura externa em todas as
condições e zonas bioclimáticas, com exceção das zonas 4 e 5 em condições apenas de
ventilação no período do verão. O resultado detalhado desse estudo pode ser observado no
Quadro 5.1:
76

Quadro 5.1: Resultados do estudo de desempenho térmico


Cor do acabamento externo das paredes
Períodos de
verão e de Período de verão
Zonas
inverno
Bioclimáticas
Com
Condição Com
Com ventilação sombreamento e
padrão sombreamento
ventilação
Atende com cor
Atende com cor Atende com cor Atende com cor
1 clara ou média
clara ou média clara ou média clara ou média
ou escura
Atende com cor
Atende com cor Atende com cor Atende com cor
2 clara ou média
clara ou média clara ou média clara ou média
ou escura
Atende com cor Atende com cor Atende com cor Atende com cor
3
clara ou média clara clara ou média clara ou média
Atende com cor Atende com cor
4 Não atende Não atende
clara clara
Atende com cor Atende com cor
5 Não atende Não atende
clara clara
Atende com cor Atende com cor Atende com cor Atende com cor
6 clara ou média clara ou média clara ou média clara ou média
ou escura ou escura ou escura ou escura
Atende com cor Atende com cor Atende com cor Atende com cor
7 clara ou média clara ou média clara ou média clara ou média
ou escura ou escura ou escura ou escura
Atende com cor Atende com cor Atende com cor
Atende com cor
8 clara ou média clara ou média clara ou média
clara ou média
ou escura ou escura ou escura
Fonte: IFBQ (2015). Adaptado pelo autor.
77

5.3.2 Alvenaria convencional

O desempenho térmico de uma edificação é vinculado a duas ocorrências de


transferência de calor na construção, quando ela é dada através dos componentes que compõem
a estrutura, e por meio do fluxo de ar por ventilações ou infiltrações. As diferentes propriedades
térmicas dos diferentes materiais que compõem uma parede, por exemplo, como a argamassa
e o bloco cerâmico, ditam o desempenho térmico da parede finalizada, enquanto a ventilação
é determinada pelo posicionamento e tamanho das aberturas e vãos na vedação (GOMES,
2015).
Um ponto importante no desempenho térmico da edificação, que pôde ser verificado no
Quadro 5.1, é a cor da pintura externa, uma vez que cores claras ajudam na refletividade do
calor proveniente do sol (GOMES, 2015).
Para determinar os parâmetros de desempenho térmico de uma parede de alvenaria
convencional, Fiegenbaum (2018) desenvolveu um protótipo de uma edificação em miniatura,
com dimensões externas de 1m x 1m x 1m, utilizando blocos cerâmicos de 14 cm de espessura
com uma camada de 2 cm de reboco em cada face, totalizando uma espessura de 18 cm, que
pode ser observado na Figura 5.3.

Figura 5.3: Modelagem 3D do protótipo utilizado. Fonte: Fiegenbaum (2018).

Os ensaios foram executados em observância aos requisitos e métodos apresentados na


NBR 15.575 (ABNT, 2013) e NBR 15.220 (ABNT, 2005), e os resultados podem ser
observados na Tabela 5.9.
78

Tabela 5.9: Resultados das análises térmicas.


Indicador Calculado Alvenaria de bloco cerâmico
Resistência Térmica Total ((m2.K)/W) 0,396
Transmitância Térmica Total (W/( m2.K)) 2,526
Capacidade Térmica (kJ/( m2.K)) 127,510
Atraso Térmico (horas) 2,921
Fator de Calor Solar (%) 6,567
Fonte: Fiegenbaum (2018), adaptado pelo Autor.

Na Tabela 5.10 é possível observar os valores de referência adotados pela NBR 15.575-
5 (ABNT, 2013) na zona bioclimática 8, à qual pertence o município do Rio de Janeiro, para
os indicadores calculados.

Tabela 5.10: Valores de referência de desempenho térmico.


Indicador Zona 8 Zona 8
(a ≤ 0,6)* (a > 0,6)*
Resistência Térmica Total ((m2.K)/W) > 0,270 > 0,400
Transmitância Térmica Total (W/(m2.K)) U ≤ 3,7 U ≤ 2,5
Capacidade Térmica (kJ/(m2.K)) Sem exigência
Fonte: ABNT (2013), adaptado pelo Autor. *a é a absortância à radiação solar na superfície
externa da parede.

Com base nos resultados obtidos é possível observar que o protótipo estudado não
atende à Norma em nenhuma das condições de absortância à radiação solar na superfície
externa da parede, na Zona Bioclimática 8, apesar de apresentar valores muito próximos dos
limites de referência na ocasião de a > 0,6.

5.4 DESEMPENHO ACÚSTICO

5.4.1 Wood frame

Nas vedações executadas em wood frame, além dos elementos estruturais de madeira e
seus números próprios de isolamento acústico, ainda são utilizadas camadas com isolantes que
79

têm a função específica de melhorar o desempenho acústico desse método construtivo. Essas
camadas são usualmente executadas em lã de vidro e lã de rocha.
Resultados de ensaios executados pelo Instituto Falcão Bauer da Qualidade (IFBQ) em
2015 determinaram que o índice de isolação sonora de um painel externo de wood frame com
espessura total aproximada de 200 mm é de 25 dB, atendendo à ABNT NBR 15.575-4 para as
localizações com classes de ruído I e II.
Os mesmos ensaios determinam que as paredes internas de espessura aproximada de
158 mm apresentam um índice de isolação sonora de 39 dB, enquanto paredes duplas de 271
mm de espessura aproximada apresentam 43 dB de índice. Com esses resultados, entende-se
que o método atende à Norma de Desempenho acústico.

5.4.2 Alvenaria convencional

Na alvenaria convencional, os blocos cerâmicos furados são os responsáveis pela maior


parte do isolamento acústico do painel de parede finalizado. Os bolsões de ar presente nos furos
dos blocos funcionam como colchão acústico de forma a aumentar os níveis de isolação
acústica aferidos em ensaios.
A composição de um bloco cerâmico com 90 mm de espessura e uma camada de 20
mm de espessura de argamassa em cada lado do bloco resulta em uma parede com 130 mm de
espessura. Luca (2015) registra que esse painel apresenta um índice de isolação térmica
aproximado de 38 dB, atendendo à Norma de Desempenho para as aplicações usuais dessa
espessura de parede.
É interessante apontar, como ilustrado na Figura 5.4, que uma parede executada em
wood frame com fechamento em gesso acartonado apresenta o mesmo nível de isolação com
uma espessura cerca de 35% menor, de 95 mm. Ao acrescentar a lã mineral em uma parede de
mesma espessura, a isolação chega a valores de 46 dB.

Figura 5.4: Comparação entre os índices de isolação acústica. Fonte: (LUCA, 2015).
80

6 ESTUDO DE CASO – VILA RESIDENCIAL DA USINA DE BELO MONTE

6.1 METODOLOGIA UTILIZADA

Com o objetivo de buscar aplicações em casos reais de edificações em massa utilizando


técnicas construtivas modulares, foi feita uma pesquisa bibliográfica para identificar
empreendimentos que atendessem a esses critérios.
Em julho de 2021 foi encontrado o caso da Vila Residencial de Belo Monte,
agrupamento de unidades térreas executadas utilizando painéis estruturais isotérmicos,
construídos pelo Consórcio Norte Energia, em parceria com a fabricante de painéis isotérmicos
Kingspan.
Foi feito contato um contato telefônico inicial com o suporte ao cliente da empresa que
agora se chama Kingspan Isoeste, no qual foi informado o contato do engenheiro Paulo
Henrique Fernandes Jorge, gerente de obras da região Centro-Oeste na empresa, que liderou
uma equipe que chegou a ter mais de 200 pessoas, durante um período de 2 anos, sendo o
responsável pela entrega de 1260 das 2300 unidades.
Após o primeiro contato, foi encontrada dificuldade em agendar uma entrevista, em
virtude da agenda de viagens do Eng. Paulo.
Enfim, ao final de agosto de 2021, foi feita uma chamada telefônica com o Eng. Paulo,
onde foram sanadas dúvidas a respeito da execução das unidades pela empresa, bem como
alguns detalhes construtivos. Ao final da conversa, o entrevistado encaminhou fotos exclusivas
de etapas da obra ainda em andamento, nas quais puderam ser observadas as etapas construtivas
que foram descritas por telefone.

6.2 O EMPREENDIMENTO

A Usina Hidroelétrica de Belo Monte é a maior usina elétrica 100% brasileira e é a


maior geradora da energia no país. Sua construção foi iniciada em 2011 e, em 2021, apresenta
uma potência instalada de 11.233,1 MW, com uma geração média de energia de 4.571 MW.
Para atender esse projeto, foram instaladas 24 turbinas, alimentadas por um reservatório
com 478 km2 de área alagada. Para a execução da sua obra, mais de 20 mil operários foram
contratados, muitos dos quais de locais distantes do município de Altamira – PA, cidade onde
a usina está instalada.
81

Para receber parte dessa população de operários, foram construídas mais de 2.300 casas
que compõem a Vila Residencial Belo Monte, parte dessas podem ser observadas na Figura
6.1.

Figura 6.1: Parte da Vila Residencial Belo Monte. Fonte: Reprodução Kingspan Isoeste.

A área que deu lugar à Vila localiza-se a aproximadamente 5 km de distância da sede


da usina, observado na Figura 6.2, de forma que o acesso dos operários à obra era rápido. Além
das unidades habitacionais, foram construídos dois refeitórios e uma unidade de saúde na Vila,
utilizando a mesma técnica construtiva dos domicílios.

Figura 6.2: Vista aérea da Usina e Vila Residencial de Belo Monte. Fonte: Google Maps
(2021).
82

O Eng. Paulo esclareceu que a opção do Consórcio em executar as edificações em


painéis modulares se deu principalmente pela velocidade de sua implementação e possibilidade
de desenvolvimento de uma linha de produção de unidades, possibilitando a alocação dos
operários em um curto período de tempo e acelerando o início das obras da usina.

6.3 CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO DAS UNIDADE HABITACIONAIS

O projeto das unidades era padrão e foi replicado em todos os 2300 domicílios. Por
razões de cláusulas contratuais de confidencialidade, a planta baixa não pôde ser
compartilhada, mas o Eng. Paulo informou que as unidades totalizam aproximadamente 50 m2
de área construída.
Os domicílios são compostos por dois quartos, um banheiro, uma sala de estar e jantar,
uma cozinha e uma área de serviço, além de uma vaga de garagem coberta. As unidades foram
projetadas para receber um morador em cada quarto, de forma a que cada unidade pode ser
ocupada por dois moradores.
O projeto é de uma casa térrea com pé direito simples e não foi utilizado rebaixamento
de forro na cobertura, assim sendo, o teto dos cômodos apresentava inclinação por conta do
caimento das telhas, com altura mínima de 2,50 m e máxima de 2,90 m.
O acabamento das paredes e cobertura era composto pelo acabamento dos próprios
painéis utilizados, com textura simulando emboço e pintura na cor creme nos painéis das
paredes, liso branco na face interna das telhas e em formato de telhas cerâmicas na cor laranja
na face externa das telhas, como observado na Figura 6.3. O piso das unidades foi todo
executado em cimento queimado nas áreas secas e piso cerâmico nas áreas molhadas.
De acordo com o Eng. Paulo, o projeto foi planejado e executado em observância às
normas de desempenho das edificações, respeitando os intervalos admissíveis de isolamento
térmico e acústico para a região do empreendimento e com ensaios executados em amostras de
unidades finalizadas.
83

Figura 6.3: Unidade finalizada na Vila Residencial de Belo Monte. Fonte: Reprodução
Kingspan Isoeste (2011).

Ambos os modelos de painéis isotérmicos utilizados no projeto tinham espessura média


de 50 mm, somando as faces em folhas metálicas e o núcleo isolante. De acordo com o Eng.
Paulo, essa espessura foi determinada de forma a atender os parâmetros de isolamento térmico
e acústico das unidades, bem como suportar a carga que as vedações vieram a receber.

6.4 ETAPAS NA FÁBRICA

Todos os painéis utilizados no empreendimento foram fabricados, dimensionados e


cortados nas fábricas da Kingspan em Vitória de Santo Antão – PE, a 2.350 km da Vila, em
Anápolis – GO, a 1.800 km da Vila, e Várzea Grande – MT, a 1.950 km da Vila, e foram
transportados por caminhões até o local do empreendimento.
Nas fábricas, os painéis eram produzidos utilizando chapas metálicas fornecidas em
forma de bobinas, às quais eram aplicadas a quantidade necessária de espuma expansiva para
compor a espessura dos painéis e então finalizadas com uma segunda chapa, formando um
painel individual. Após finalizados os painéis, as canaletas que vieram a receber as instalações
hidráulicas e elétricas foram executadas utilizando brocas longas e sopradores térmicos,
furando e derretendo o núcleo isolante dos painéis de acordo com os projetos fornecidos.
Finalmente, os painéis eram identificados e embalados para o transporte até o canteiro.
84

6.5 ETAPAS NO CANTEIRO

Os painéis foram recebidos por caminhões oriundos das fábricas da Kingspan e


descarregados no canteiro, devidamente identificados, para que fossem montados de acordo
com o projeto.
Conforme ilustrado na figura 6.4 a construção das unidades habitacionais da Vila
Residencial Belo Monte constou das seguintes etapas: fundação, instalações, estrutura e
vedação vertical e cobertura.

Figura 6.4: Etapas construtivas da Vila Residencial Belo Monte. Fonte: (JORGE, 2011).

6.5.1 Fundação

O Eng. Paulo Henrique não soube informar as especificações do radier, uma vez que a
construtora da Usina já entregava a fundação executada, para que a equipe de montagem das
unidades pudesse atuar. Ele pontuou, entretanto, que a fundação tinha uma espessura pequena
e uma malha metálica simples, porque as unidades montadas sobre a fundação eram mais leves
do que uma equivalente construída em alvenaria.
Cada radier recebia a montagem de uma única unidade habitacional. A execução do
radier pode ver observada na Figura 6.5.
85

Figura 6.5: Execução de radiers da Vila Residencial Belo Monte. Fonte: (JORGE, 2011).

6.5.2 Instalações

As instalações hidráulicas, sanitárias e elétricas foram feitas seguindo projetos simples,


que não puderam ser compartilhados por estarem sujeitos a termos de confidencialidade da
Kingspan com a operadora da Usina.
O Eng. Paulo Henrique explicou que a base das instalações hidráulicas e as sanitárias
foi feita antes da concretagem do radier, embutindo toda a tubulação no concreto, deixando
apenas as tomadas de água e captação do esgoto expostas para e devida acoplagem nos
aparelhos correspondentes nas áreas molhadas. A alocação das instalações pode ser observada
na Figura 6.6.

Figura 6.6. Alocação das instalações sanitárias. Fonte: (JORGE, 2011).


86

A tubulação é então posicionada por cima de uma camada de brita, de forma a nivelar
e preparar o terreno para receber a armação e concretagem da fundação.
As instalações elétricas foram executadas por meio de eletrodutos plásticos horizontais
expostos na parte superior das paredes, e eletrodutos verticais embutidos nos painéis, que
partem nos dutos horizontais e chegam nas tomadas e interruptores embutidos nas paredes,
como pode ser observado na Figura 6.7.

Figura 6.7: Instalação elétrica finalizada no interior da unidade. Fonte: (JORGE, 2011)

6.5.3 Estrutura e vedação vertical

Os elementos verticais utilizados nas unidades eram basicamente 2: perfis metálicos de


chapa dobrada de aço galvanizado e painéis isotérmicos de 50 mm de espessura, chamado
Isojoint Stucco. O Eng. Paulo Henrique explicou que os painéis podem ser fabricados em
diferentes espessuras, e que um estudo foi realizado para a escolha da espessura utilizada, com
base na carga mecânica a que cada painel estaria sujeito e às características climáticas da região.
Os perfis eram primeiro dispostos no radier de forma a definir a posição de todas as
paredes da unidade. Esses perfis eram então fixados no radier com parafusos. Essa etapa pode
ser observada na região central da Figura 5.6.
Após a fixação dos perfis guia, os painéis Stucco eram posicionados em pé, lado a lado,
tendo a base do painel parafusada nos perfis guia e as arestas verticais dos painéis se
87

encaixavam no painel subsequente, utilizando um encaixe proprietário do fabricante. A Figura


6.8 mostra essa etapa da montagem.

Figura 6.8 Detalhe da montagem da vedação vertical. Fonte: (JORGE, 2011)

Os painéis utilizados são estruturais e autoportantes, não dependendo de estrutura


adicional para o projeto de um pavimento das unidades estudadas, a construtora, porém, optou
por executar pilaretes de perfil de chapa de aço galvanizado dobrado nas extremidades e cantos
do projeto, de forma a aumentar a rigidez da construção e garantir uma maior ancoragem da
cobertura.
A finalização da vedação se deu através de perfis metálicos parafusados no topo dos
painéis que compõem o perímetro da unidade, concluindo a amarração de um painel ao outro
e preparando as paredes para receberem a estrutura da cobertura.

6.5.4 Cobertura

A partir das paredes erguidas e fixadas, era executada a cobertura da unidade. Uma vez
que não era executado nenhum rebaixamento do forro após a execução da cobertura, a
inclinação do telhado já era definida por meio de cortes na parte superior dos painéis de vedação
vertical.
Para estruturação do telhado, foram usados perfis de chapa de aço galvanizado dobrado
como terças, cobrindo a extensão longitudinal da casa de ponta a ponta. Como a telha utilizada
tem uma rigidez característica, a distância entre as terças metálicas pôde ser aumentada,
reduzindo o número de terças necessárias. É possível observar na Figura 6.9, da esquerda para
a direita, a evolução das etapas de execução da cobertura das unidades.
88

Figura 6.9: Detalhe da montagem da cobertura. Fonte: (JORGE, 2011)

A telha escolhida foi a Isotelha Colonial. O projeto de cobertura foi simplificado em


duas águas, minimizando a necessidade de cortes angulados dos painéis de cobertura.

6.6 RESULTADOS ALCANÇADOS

6.6.1 Percepção dos usuários

Com o objetivo de obter relatos de pessoas que efetivamente moraram nessas casas, foi
feita uma pesquisa em redes sociais de funcionários e ex-funcionários da Usina de Belo Monte.
Foi encontrado um grupo composto apenas por pessoas que moram ou moraram na Vila
Residencial da usina. Identificados 20 usuários frequentes no grupo, foi enviado um
questionário com 9 perguntas relacionadas à vivência e habitação nas unidades da vila, foram
elas:
1- Durante qual período você morou na Vila Residencial?
2- Como eram organizados os alojamentos (quantas pessoas por casa/cômodo)?
3- Você sentiu alguma diferença em relação a morar em uma casa de alvenaria
(paredes de tijolos e lajes de concreto)?
4- Como era a temperatura dentro dos quartos? Em relação à temperatura do lado de
fora, era confortável estar dentro de casa?
5- Como você lembra que era em relação ao barulho vindo do lado de fora? Passava
muito barulho pelas paredes, ou elas tinham um bom isolamento?
6- As construções passavam segurança quanto a sua estrutura, ou pareciam paredes
finas e frágeis?
7- Era permitido furar as paredes, ou fazer algum recorte?
89

8- Quando chovia, o barulho da água batendo no telhado era alto, ou abafado?


9- Fique à vontade de falar sobre qualquer ponto que eu não tenha perguntado, mas
que você considere importante para descrever como foi morar em uma construção
daquele tipo.

Apenas 9 pessoas responderam ao questionário, e todas informaram ter morado nas


unidades por pelo menos 6 meses.
Os relatos dos moradores sobre a experiência variaram, uma vez que foram obtidas
respostas positivas e negativas em relação às condições de habitação nas unidades.
De forma quase unânime, um ponto negativo frequentemente levantado foi a falha no
isolamento térmico nas paredes e coberturas, permitindo que o ar nos cômodos interiores
ficasse com temperaturas elevadas, acompanhando a temperatura ambiente de Altamira.
Outro ponto levantado foi relacionado ao isolamento acústico, majoritariamente
elogiado, de forma que barulhos externos e em cômodos vizinhos não eram transmitidos com
tanta facilidade através das paredes, mesmo que as paredes parecessem finas, na percepção dos
próprios moradores.
Um dos moradores relatou que o revestimento pintado dos painéis utilizados como
parede apresentava descolamento, principalmente nas áreas molhadas dos banheiros e
cozinhas. Ao apresentar essa queixa para o Eng. Paulo Henrique ele explicou que a ocorrência
dessas patologias foi pouco frequente, e foi apurado que na maior parte dos casos o problema
aconteceu por mau uso, manutenção inadequada e utilização de produtos de limpeza
incompatíveis com o material.

6.6.2 Desempenho dos domicílios

Na Tabela 6.1 é possível observar os valores de referência adotados pela NBR 15.575-
3 (ABNT, 2013), que trata sobre o desempenho térmico de coberturas de edificações, para a
transmitância térmica total, na zona bioclimática 8, à qual pertence o município do Altamira,
localidade da Vila Residencial.

Tabela 6.1: Valores de referência de desempenho térmico.


Indicador Zona 8 Zona 8
( ≤ 0,4)* ( > 0,4)*
Transmitância Térmica Total (W/(m2.K)) U ≤ 2,3 FV** U ≤ 1.5 FV**
90

* é a absortância à radiação solar na superfície externa da cobertura.


**FV é o fator de ventilação estabelecido pela NBR 15.220-2 (ABNT, 2005)
Fonte: ABNT (2013), adaptado pelo Autor.

Considerando que não há presença de ático ventilado nas edificações estudadas na Vila
Residencial de Belo Monte, a Norma dita que deve ser considerado FV = 1. Considerando
ainda que a cor da pintura da face externa da telha é vermelha, a Norma define  = 0,74. Com
isso, observa-se que a transmitância térmica total da Isotelha Colonial deve ser U ≤ 1.5
W/(m2.K). O fabricante informa na ficha técnica que o produto apresenta U = 0,55 W/(m2.K)
de transmitância térmica, atendendo ao valor da Norma.
Já o desempenho térmico das paredes pode ser verificado na Tabela 6.2. Uma vez que
a cor do revestimento externo dos painéis é bege, foi considerado um índice de absortância à
radiação a = 0,25.

Tabela 6.2: Valores de referência de desempenho térmico.


Indicador Zona 8 Isojoint
(a ≤ 0,6)* Stucco
Transmitância Térmica Total (W/(m2.K)) U ≤ 3,7 U = 0,40
*a é a absortância à radiação solar na superfície externa da parede.
Fonte: ABNT (2013) e Kingspan Isoeste (2021), adaptado pelo Autor.

Observa-se que, em relação ao desempenho térmico, os painéis que compõem as


paredes também atendem à Norma de Desempenho.
Já no que tange o desempenho acústico, o fabricante informa que tanto os painéis que
compõem a Isotelha Colonial, como o Isojoint Stucco, apresentam índices de isolação sonora
de até 30 dB, o que atenderia à NBR 15.575-4 (ABNT, 2013) para vedações externas nas
classes de ruído I, II e III, que são todas.
Nas paredes de vedação entre ambientes dentro das unidades, entretanto, o atingimento
não é satisfatório, atendendo à Norma apenas em vedações entre salas, cozinhas e ambientes
comuns de trânsito eventual. Os valores mínimos de isolação acústica definidos na Norma
podem ser observados na Tabela 6.3.
91

Tabela 6.3: Valores de referência de isolação acústica.


Isolação
Elemento
mínima (dB)
Paredes entre unidades habitacionais autônomas (parede de geminação), nas
 40
situações onde não haja ambiente dormitório
Paredes entre unidades habitacionais autônomas (parede de geminação), caso
 45
pelo menos um dos ambientes seja dormitório
Parede ceda de dormitórios entre uma unidade habitacional e áreas comuns de
 40
trânsito eventual, como corredores e escadarias dos pavimentos
Parede cega de salas e cozinhas entre uma unidade habitacional e áreas
 30
comuns de trânsito eventual como corredores e escadarias dos pavimentos
Parede cega entre uma unidade habitacional e áreas comuns de permanência
de pessoas, atividades de lazer e atividades esportivas, como home theater,
 45
salas de ginástica, salão de festas, salão de jogos, banheiros e vestiários
coletivos, cozinhas e lavanderias coletivas
Conjunto de paredes e portas de unidades distintas separadas pelo hall  40
Fonte: ABNT (2013), adaptado pelo Autor.

6.6.3 Comparativo de custos

Para efeitos comparativos, foi simulado um orçamento de uma edificação seguindo o


projeto apresentado no item 5.1. A estrutura e vedação vertical foi orçada utilizando os painéis
isotérmicos Isojoint Stucco, tal qual os da Vila Residencial, e a cobertura foi orçada utilizando
a Isotelha Colonial. Os subtotais desse novo orçamento podem ser comparados com o
orçamento em alvenaria convencional na Tabela 6.4.

Tabela 6.4: Comparativo de custos totais.


Painéis Isotérmicos Alvenaria
1 Infraestrutura R$ 8.367,59 R$ 9.286,23
2 Paredes R$ 21.236,57 R$ 8.228,60
3 Esquadrias R$ 9.101,57 R$ 9.101,57
4 Cobertura R$ 11.149,17 R$ 5.725,72
5 Revestimentos R$ 1.384,17 R$ 22.712,71
92

6 Pisos R$ 6.416,78 R$ 8.328,92


7 Instalações Elétricas R$ 3.369,29 R$ 3.369,29
8 Instalações Hidráulicas R$ 1.541, 10 R$ 1.541, 10
9 Aparelhos R$ 2.150,39 R$ 2.150,39
Total R$ 64.725,63 R$ 70.453,53
Fonte: CEF (2021). Elaborado pelo autor.

É possível observar que os custos vinculados às paredes e ao telhado são


significativamente maiores. Por se tratarem de materiais que recebem um beneficiamento
elevado nas fábricas, os painéis isotérmicos possuem um custo unitário mais elevado do que o
custo dos blocos e telhas cerâmicas.
A maior compensação, entretanto, está nos custos vinculados aos revestimentos, uma
vez que o painel instalado já apresenta o acabamento final desde a sua fabricação, tornando
desnecessária a aplicação de camadas adicionais de revestimento, e gerando uma grande
economia financeira nessa etapa da obra.
A infraestrutura e o piso apresentam uma sensível redução no custo, a mesma observada
na construção em wood frame, justamente pela utilização da fundação em radier e a não
necessidade de execução de lastro e contrapiso.
O custo total final apresenta uma economia de quase 10% em relação à execução em
alvenaria convencional. A economia, somada à velocidade de execução do sistema construtivo
indicam a utilização do método como vantajosa em cenários semelhantes ao contexto da Vila
Residencial da Usina de Belo Monte.

6.6.4 Comparativo de prazos

Durante a entrevista, o Eng. Paulo Henrique informou que, após treinamento adequado,
uma equipe de 5 pessoas executava a montagem de uma das unidades em um prazo de 7 dias
após a entrega do radier. Foi feito um comparativo de prazo de execução entre as unidades
modulares da Vila Residencial e uma edificação equivalente, a tipologia 1 da cartilha da CEF,
de 35 m2, em alvenaria de vedação com estrutura em concreto armado. O resultado pode ser
observado nas Figuras 6.10 e 6.11:
93

Execução e cura Estrutura e Ligação das


Cobertura
da fundação vedação vertical Instalações
(2 dias)
(9 dias) (4 dias) (1 dia)

Figura 6.10: Fluxo de prazos de execução de uma unidade habitacional da Vila Residencial de
Belo Monte. Elaborada pelo Autor.

Execução e cura da Armação, forma e Ligação das


Vedação vertical Cobertura
fundação cura da estrutura Instalações
(5 dias) (5 dias)
(9 dias) (9 dias) (2 dias)

Figura 6.11: Fluxo de prazos de execução de uma unidade habitacional de 35 m2 em alvenaria


de vedação com estrutura em concreto armado. Elaborada pelo Autor.

É possível observar que a execução das unidades com a utilização dos painéis é
significativamente mais rápida, como verificado na Tabela 6.5, diferença que é ainda mais
perceptível ao escalar a quantidade de unidades por empreendimentos.

Sistema utilizado Prazo de execução


Painéis isotérmicos 16 dias
Alvenaria de vedação com
30 dias
estrutura em concreto armado
Tabela 6.5: Resumo de prazos de execução. Elaborado pelo Autor.

6.6.5 Durabilidade e manutenção dos domicílios

Para levantar informações sobre a durabilidade e manutenção dos painéis utilizados nas
unidades, foi consultado o Manual de Manutenção de Painéis e Telhas, fornecido pela própria
fabricante Kingspan Isoeste.
Como os painéis e telhas utilizados são fabricados utilizando chapas de aço pintadas,
os componentes apresentam uma alta durabilidade e necessitam de pouca manutenção. A
principal e mais simples medida da manutenção é a limpeza anual dos painéis utilizando água
e sabão neutro, utilizando pano macio e não abrasivo, de forma a não danificar a pintura. É
94

proibido o uso de produtos de limpeza alcalinos, uma vez que esses produtos podem agredir a
chapa de aço ao longo do tempo.
Em situações de pontos de oxidação e corrosão superficial, a limpeza já descrita é
suficiente. Em casos de corrosão média, pode ser necessário o uso de massa de polimento. Em
casos de corrosão grave, é necessária a remoção da pintura do painel com uma lixa n o 400,
limpeza completa da chapa exposta e a repintura com a tinta esmaltada.
Nos painéis com faces externas, pode ser necessária a aplicação de repintura às faces
expostas ao Sol por muitos anos. Nesses casos, devem ser utilizadas tinta esmalte a base de
solvente, evitando assim a formação de bolhas, o que acontece quando são utilizadas tintas a
base de água.

6.6.6 Considerações finais do estudo

De forma geral, os moradores contatados relataram que a experiência de morar em uma


unidade desse tipo foi satisfatória, principalmente por serem em períodos de curta duração, mas
apresentaram ressalvas a morar permanentemente em uma habitação desse método construtivo.
Já no ponto de vista do Eng. Paulo Henrique, a elaboração dos projetos e execução das
unidades foi um sucesso. A possibilidade de mobilização de uma força tarefa promoveu uma
produtividade dificilmente encontrada em execuções de empreendimentos dessa magnitude em
métodos construtivos convencionais. A sincronicidade fabril com a montagem dos painéis foi
também estudo de caso da própria fabricante Kingspan Isoeste, que utiliza esse case como
modelo para a execução de outros empreendimentos similares.
Do ponto de vista executivo, possível pensar em possíveis soluções para os principais
problemas apresentados, como o aumento da espessura dos painéis verticais, aumentando sua
resistência térmica e reduzindo a sensação de fragilidade ocasionada pela pequena espessura
dos painéis que foram utilizados. Uma outra medida a ser estudada é o uso de forros rebaixados
como técnica para aumentar o isolamento térmico da cobertura, proporcionando uma sensação
mais agradável no interior das unidades.
95

7 CONCLUSÕES

O trabalho objetivou avaliar o desempenho e aplicabilidade de soluções modulares em


habitações de interesse social no Brasil, e a partir dos resultados de toda a análise histórica
apresentada, foi possível observar que a questão habitacional no país é um ponto sensível, que
as gestões de diversos governos federais se propuseram a apresentar soluções definitivas, mas
que, por diferentes motivos, nunca de fato proporcionaram uma melhora significativa nessa
pasta.
Por meio de análise da composição do déficit habitacional brasileiro, foi possível
descrever a evolução da necessidade de se pensar soluções de habitação social no país desde a
economia escravagista do século XIX, passando pelo planejamento de bairros de operários no
século XX, até todos os programas governamentais pró-moradia, desde Vargas (1930) até Jair
Bolsonaro (2020). Foi ainda possível destacar a importância do BNH para o desenvolvimento
habitacional durante o regime militar, bem como os motivos que levaram ao encerramento das
suas atividades.
Foi evidenciado o desenvolvimento da Norma de Desempenho brasileira e como o
objetivo de mitigar falhas e vícios construtivos nos empreendimentos acaba sendo suprimido
em obras de HIS por conta do orçamento reduzido e cronograma restrito, sendo esse fato
responsável, em parte, pela ocorrência de patologias recorrentes em mais de metade das
edificações com esse perfil.
Além da apresentação dos requisitos mínimos para HIS, foram apresentadas propostas
de sistemas modulares de construção e seus desempenhos acústicos e térmicos, verificando-se
a sua aplicabilidade no mercado brasileiro. Uma recorrente vantagem em todos os métodos
modulares apresentados é a velocidade de execução, de forma que já mitigariam um dos
maiores problemas nos empreendimentos de interesse social em métodos convencionais de
construção, que recorrentemente se estendem por prazos maiores do que os previstos.
A pesquisa de percepção dos moradores sobre os empreendimentos de programas
governamentais foi de fundamental importância para a verificação de que, de forma geral, a
satisfação dessa população com a sua habitação é de média à baixa, com o não atingimento de
desempenho das unidades sendo um dos maiores motivos de insatisfação.
Com a justificativa de ser um método construtivo com tendência ao crescimento, em
face da iminência de publicação de uma Norma específica, uma análise da utilização da técnica
wood frame foi feita de forma ainda mais detalhada, apresentando resultados qualitativos e
quantitativos que favorecem a utilização da técnica sobre a alvenaria de vedação convencional.
96

Em termos de custos, foi observado no desenvolvimento do trabalho uma redução de


13% na unidade executada em wood frame quando comparada à executada em alvenaria de
vedação. Essa diferença no custo orçado tem a tendência de ser ainda maior em situações
práticas, uma vez que a quantidade reduzida de etapas no wood frame reduz a oportunidade de
desperdício e má utilização de recursos no curso da execução da unidade.
Já no aspecto de cronograma, foi verificada uma redução de 54,5% do prazo de
execução da unidade em wood frame, reforçando a percepção de uma economia de recursos
proveniente de um cronograma mais curto, reduzindo ainda os custos indiretos da obra, além
da redução já verificada dos custos diretos.
Ainda sobre o desempenho termoacústico de edificações executadas em wood frame,
foi possível observar que o método não só atende aos requisitos da NBR 15.575 (ABNT, 2013),
como supera o desempenho de edificações executadas com alvenaria de vedação.
É possível concluir, portanto, que a aplicação de sistemas modulares, em especial o
wood frame, é, não só possível, como mais vantajoso dos pontos de vista econômico, de prazo
de execução e de desempenho das edificações habitacionais, fazendo desse sistema uma
alternativa interessante para a aplicação em HIS, possibilitando a aceleração da redução do
déficit habitacional.
Possíveis desdobramentos desse trabalho são contemplados abaixo:
a) Análise comparativa detalhada utilizando outros sistemas modulares;
b) Desenvolvimento de protótipo e análise do desempenho real dos métodos em
laboratório;
c) Desenvolvimento de projeto próprio de unidade habitacional modelo que possa
ser implementado em empreendimentos de edificações modulares uni e
multifamiliares;
d) Desenvolvimento de um projeto de MVP aplicável a situações de resposta
emergencial e gestão de desastres habitacionais.
97

REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS

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http://www.pcc.poli.usp.br/files/text/publications/TT_00012.pdf Acesso em: 31 jul. 2020.

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ANDRADE, Gabriel Vieira Marx. Políticas habitacionais brasileiras: uma avaliação do


programa Minha Casa Minha Vida em suas duas edições. 2012. Monografia (Graduação em
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