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2022
ESTUDO DE SISTEMAS MODULARES APLICADOS A EDIFICAÇÕES
HABITACIONAIS PARA POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA
Rio de Janeiro
Janeiro de 2022
ESTUDO DE SISTEMAS MODULARES APLICADOS A EDIFICAÇÕES
HABITACIONAIS PARA POPULAÇÃO DE BAIXA RENDA
Examinado por:
________________________________
Prof. Jorge Santos
________________________________
Profa. Isabeth Mello
________________________________
Profa. Mayara Amario
________________________________
Prof. Wilson Wanderley da Silva
________________________________
Profa. Carina Mariane Stolz
Agradeço em primeiro lugar à Deus, que me deu a vida e o propósito que busco
seguir. Que me capacitou e sustentou antes do início curso, durante toda a sua duração e
que me acompanhará pelo restante da minha existência.
Agradeço à minha esposa, amiga e companheira Andreza, por todo o suporte,
amparo e incentivo ao longo de todo curso, e especialmente nos últimos 8 meses, por toda
a paciência, compreensão e ajuda na finalização deste trabalho.
Agradeço aos meus pais Daniel e Érica por todo o apoio e sustento ao longo de
toda a minha vida, por me permitirem trilhar meus próprios caminhos, sempre me
aconselhando e orientando da melhor forma possível e sendo presentes em toda a minha
caminhada.
Agradeço à toda a minha família: irmãs, avós, tios e tias, primos e primas. A
torcida de vocês me motiva a continuar seguindo e foi fundamental nessa conquista.
Agradeço à família que me adotou através da Andreza. Às avós, tias e tios, primos,
irmãos e pais, pelo amor que têm por mim e por sempre acreditarem no meu crescimento.
Agradeço aos meus amigos, colegas e professores que pude encontrar na UFRJ,
que fizeram essa jornada ser mais leve, ou mais pesada em alguns momentos.
Agradeço finalmente à Universidade Federal do Rio de Janeiro, que me foi casa
nos últimos anos, como é para milhares de pessoas. Que ela permaneça gigante, pública,
gratuita e de qualidade, por toda a sua história.
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.
Janeiro de 2022
January 2022
The modular construction market in Brazil is still relatively new, but it has gained ground
as a constructive alternative for those who look for productivity and efficiency gains at
the construction site. Being in a country with a large portion of the population in
precarious housing situations, added to the large housing deficit, the solidity and reliable
standard of quality offered by this technique represent safe housing, built faster and at a
lower cost than those using conventional building technique. The noticeable reduction in
time and costs, when compared to traditional construction methods, reveal the possibility
of its application in the creation of housing units for low-income families, who mostly
live in houses built without technical blueprints and with little, if any, compliance with
safety, quality, habitability and comfort standards. This work aims to evaluate modular
alternatives, already present in the market, that can be used in construction, suggesting
solutions for the main subsystems of a housing unit, with low cost and fully compatible
with each other. The compliance of these systems with the performance standards for
housing units was analytically verified and a comparative study was carried out between
the modular systems and solutions presented in traditional construction methods,
observing the advantages and disadvantages of one over the other, verifying the
possibility and advantage of using modular construction systems.
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 16
7 CONCLUSÕES..................................................................................................... 95
REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS .......................................................................... 97
16
1 INTRODUÇÃO
Em um estudo publicado pela Fundação João Pinheiro (FJP, 2018), com base nos
resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015, promovida pelo
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, foram apresentados dados sobre o déficit
habitacional no Brasil.
De forma global, o estudo da FJP indica que esse déficit é estimado em 6,355 milhões
de domicílios espalhados pelas cinco regiões do Brasil. O método de cálculo é desenvolvido
pela fundação desde 1995 e sistematiza os dados do PNAD sobre habitação.
Desta forma, fica evidente a necessidade de se pensar estratégias e soluções para sanar
essa demanda habitacional no país, uma vez que a questão da precariedade da moradia,
característica de grande parte dos domicílios quantificados no estudo, está diretamente
relacionada à renda dos moradores e seu acesso às construções com materiais e técnicas
construtivas adequadas, sendo a população de baixa-renda a mais afetada por essa problemática
e a que mais aumenta a déficit.
1.2 OBJETIVOS
Este trabalho tem por objetivo avaliar o desempenho e a aplicabilidade dos sistemas
modulares e dos materiais de construção que os compõem, disponíveis no mercado e indicados
como soluções para a construção de unidades habitacionais de baixa renda. Para a avaliação do
desempenho os sistemas modulares estudados serão comparados com as soluções apresentadas
em métodos construtivos tradicionais.
Objetiva também verificar a compatibilidade dos sistemas modulares pesquisados
com os principais subsistemas de uma unidade familiar: fundação, piso, vedações verticais e
cobertura considerando a otimização dos ambientes em unidades habitacionais isoladas, ou em
composição com outras unidades, trazendo soluções de desempenho igual ou superior às
soluções comumente utilizadas, porém com custo inferior e prazo de implementação reduzido.
17
As duas faixas de renda iniciais do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV),
criado em 2009 pelo Governo Federal, visam acolher justamente esse perfil populacional, de
núcleos com rendas familiares de até R$2350,00, e tem importante participação no atendimento
dessa demanda. O Programa é responsável, até a publicação deste trabalho, pela criação de
mais de 4 milhões de unidades habitacionais no país. O PMCMV, entretanto, é passível de
críticas no que tange aos prazos de execução das obras que superam os cronogramas
estipulados, a baixa qualidade técnica das unidades e gastos superiores aos previstos nas fases
iniciais de projetos (ANDRADE, 2012).
Fora dos programas governamentais, o custo elevado de uma construção
convencional, feita de forma técnica, formal e em observância das exigências de habitabilidade
e conforto, definidas em norma, é hoje um dos principais empecilhos para que as mesmas sejam
executadas de forma individual por famílias de baixa-renda.
A proposta da construção modular vem como uma solução tanto para as médias e
grandes construtoras, que concorrem por contratos de grandes empreendimentos do PMCMV,
como para pequenas construtoras, com projetos de empreendimentos de menor escala, e
também para o núcleo familiar que decide por executar a obra de forma independente, situação
muito corriqueira nas famílias de baixa-renda.
1.4 METODOLOGIA
2.1 CONCEITUAÇÃO
O relatório da pesquisa define domicílios rústicos como “[...] aqueles sem paredes de
alvenaria ou madeira aparelhada.” (FJP, 2015, p. 20), define ainda os domicílios improvisados
como “os locais e imóveis sem fins residenciais e lugares que servem como moradia alternativa
(imóveis comerciais, embaixo de pontes e viadutos, carcaças de carros abandonados, barcos,
cavernas, entre outros).” (FJP, 2015, p. 21) A coabitação familiar diz respeito à mais de um
núcleo familiar que reside no mesmo domicílio. O ônus excessivo com aluguel urbano engloba
famílias com renda familiar de até três salários mínimos e têm 30%, ou mais, da renda
comprometida para pagamento de aluguel de domicílio em zona urbana, já o adensamento
excessivo de domicílios alugados é constituído de domicílios com três, ou mais, moradores por
cômodo.
A utilização dos termos domicílio rústico e domicílio improvisado surge com suas
caracterizações nas diretrizes e definições das variáveis utilizadas para o desenvolvimento do
censo demográfico, feito pelo IBGE a cada 10 anos.
Na definição do IBGE, uma edificação é considerada um domicílio quando ela garante
aos seus moradores a separação de um ambiente externo e comum, com elementos físicos de
vedação vertical e de cobertura, garantindo a integridade dos moradores para a prática de
atividades básicas como dormir e comer. A segunda característica que a edificação deve
apresentar é um acesso independente e direto aos seus moradores (ALVES, 2004).
A caracterização do domicílio, segundo o IBGE, ainda pode ser feita de acordo com
a espécie, dividindo-se entre particulares ou coletivos, e de acordo com natureza, podendo ser
permanente ou improvisada. Só são registradas no censo as características construtivas dos
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domicílios de espécie particular e natureza permanente, que desde 1960 nunca representaram
um percentual inferior 99% do universo pesquisado (ALVES & CAVENAGHI, 2005).
Essa significativa parcela de domicílios que têm suas características construtivas
catalogadas é dividida entre os duráveis e os rústicos, baseado no material utilizado para a
construção do piso, vedação vertical e cobertura. Essa forma de classificação, entretanto, não
é a mais precisa, visto que não é considerado o estado dos materiais utilizados, podendo um
domicílio com paredes de alvenaria, piso cerâmico e cobertura com telhas ser classificado
como durável, mesmo que em estado crítico de conservação (VETTER; SIMÕES, 1981 apud
ALVES, 2006). As favelas brasileiras são, na maior parte das vezes, um bom exemplo de
domicílios considerados duráveis, mesmo em condições físicas abaladas (ALVES, 2006), um
exemplo pode ser observado na Figura 2.1.
Figura 2.1. Habitação definida como durável pelo IBGE. Fonte: Vilar (2016).
Os domicílios improvisados, por sua vez, não têm suas características construtivas
catalogadas no censo e são os identificados como formas não permanentes de habitação, sejam
elas particulares, ou coletivas (ALVES, 2004). Essa identificação de não-permanência,
entretanto, dá à essa análise um tom subjetivo em diversos casos, como nos domicílios
indígenas e de qualquer habitação não-convencional que receba forte influência étnico-cultural
(MARINHO et al., 2011), como a observada na Figura 2.2.
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Figura 2.2. Habitação indígena da tribo Aiha, residentes no Parque Indígena Xingu,
classificada como improvisada pelo IBGE. Fonte: Ricardo (2002).
forma a abrigar seus habitantes. É indiscutível, entretanto, que as demais categorias devam ser
contempladas em um curto período de tempo.
Já nesse período, os quartéis e delegacias eram alocados nas regiões mais afastadas dos
centros senhoriais, juntos das prisões de escravos, intencionalmente evitando que possíveis
rebeliões abalassem a ordem da cidade (BATISTA, 2015).
Abreu (1994) remonta que a favela no Rio de Janeiro já era constituída nessa segregação
espacial do período escravocrata, mas acentuou-se no final do século XIX, quando o modo de
produção capitalista implementado no Brasil gerava uma multidão de pessoas paupérrimas que
compunham a massa de trabalhadores das fábricas e oficinas no país.
O processo de industrialização da produção na cidade acarretou a migração da
população rural para os grandes centros industriais no início do século XX. Essa população
operária, somada aos recém libertos escravos encontravam abrigo nas vilas operárias, inflando
esses espaços demograficamente e gerando estruturas habitacionais conhecidas como cortiços
(ZALUAR, 2006).
Zaluar (2006) explica que esses espaços eram vistos com maus olhos pelo Estado e pela
população mais rica da cidade. Com a justificativa de controlas doenças, esses espaços
passaram a ser derrubados e seus habitantes removidos para regiões periféricas da cidade,
sendo essa mobilização do Estado considerada uma das primeiras políticas habitacionais do
governo a respeito da população de baixa renda.
As periferias passaram a ser amplamente habitadas, mesmo que de forma improvisada
e sem regulamentação do Estado, o que Zaluar (2006) entende que ocorreu de forma planejada
pelo poder público e pela elite local, de forma que desobrigava o governo a fiscalizar e
urbanizar essas áreas, não se responsabilizando pela infraestrutura dos locais e,
consequentemente, o bem estar dessa parcela da população.
O que deu sinais nas primeiras justificativas de estratificação e afastamento social com
as doenças, vadiagens e promiscuidades, foi dando lugar a mais uma definição: perigo. Com o
intuito de demarcar ainda mais a hierarquia social presente na cidade, a burguesia vigente
passou a temer a violência e os perigos provenientes das agora constituídas favelas. Essa
segregação espacial cada vez mais presente demarcou a territorialização da pobreza na cidade
do Rio (TOLEDO, 2018).
Com o aumento da migração da população rural para os centros urbanos nos anos de
1930, a questão da moradia operária ficou ainda mais em destaque na dinâmica habitacional
das cidades. Os grandes empresários da época começaram a pensar em estratégias concretas
25
para reduzir o valor gasto pelos operários com moradia e, por sua vez, reduzir o custo da mão
de obra. Rapidamente, o mercado e os empresários se deram conta de que a iniciativa privada
não seria capaz de agir sozinha nessa empreitada e, durante o período Vargas (1930-1945), a
intervenção no Estado passou a ser primordial para o desenvolvimento de habitações para os
operários (BONDUKI, 2004).
Estratégias de desenvolvimento de habitação eram discutidas em eventos e
congressos, como o I Congresso de Habitação em São Paulo, ocorrido em 1931, que
fundamentou a relação entre a redução dos custos com moradia e a melhor produtividade dos
operários nas fábricas. Nessa mesma época começaram a surgir os Institutos de Aposentadoria
e Pensão (IAPS), que vieram a contribuir para uma melhora na questão habitacional dos
trabalhadores da indústria e comércio (RUBIN e BOLFE, 2014).
Os IAPS foram criados com a função inicial de prestar benefícios previdenciários e
assistência médica aos seus associados, porém foram as primeiras instituições públicas a
investir na pasta de habitação, contribuindo para a viabilidade de incorporações imobiliárias e
impulsionando o processo de verticalização das cidades (RUBIN e BOLFE, 2014).
Bonduki (2004) enxergava que a visão da habitação como uma questão social,
crescente na década de 1930, contribuiu para uma mudança de perspectiva não só na arquitetura
e urbanismo, mas no processo de construção como um todo, incorporando conceitos modernos
de construção em série e a utilização de elementos pré-fabricados. Um dos mais importantes
empreendimentos financiados pelas IAPS foi o residencial Pedregulho, observado na Figura
2.3, projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy, que foi construído no bairro de São
Cristóvão, no Rio de Janeiro, servindo de moradias para os funcionários públicos do município.
Figura 2.4. Anúncio da construtora Guaranta S.A. Fonte: Folha de São Paulo (1971).
Os recursos utilizados para financiamento pelo BNH eram oriundos do FGTS – Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço e do SBPE – Sistema Brasileiro de Poupanças e
Empréstimos, tornando-se, naquela época, a maior instituição em prol da habitação no mundo
(BONDUKI, 2008).
Sem dúvidas a importância do BNH para a questão habitacional no país foi
significativa. Estima-se que um quarto das unidades habitacionais financiadas no período de
sua existência foi financiado pelo BNH. O intuito de sanar o déficit habitacional, entretanto,
não foi atendido, uma vez que apenas um quinto dos financiamentos foi de fato destinado à
população de baixa renda (BOTEGA, 2007).
Após a crise econômica mundial de 1979, as elevadas taxas de inflação e uma alta no
desemprego, o BNH não resistiu a baixa do mercado e foi extinto em 1986, quando suas
atribuições foram incorporadas à Caixa Econômica Federal em sua quase totalidade.
Ao final da década de 1980, o direito à moradia foi garantido pela Constituição da
República Federativa do Brasil (1988), cabendo ao poder público assegurar o acesso à toda a
população brasileira, pensando soluções e encaminhando programas que possibilitem o
atendimento dessa demanda, com o fundamental auxílio da iniciativa privada para que as
melhores estratégias fossem implementadas (ABIKO, 1995).
Em 1990, durante o governo do presidente Fernando Collor de Mello, os programas
governamentais de financiamento imobiliário voltaram a priorizar o capital imobiliário
privado. Nesse mesmo período o IBGE estimou que 60 milhões de cidadãos brasileiros estavam
em situação de rua (IBGE, 1991).
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Por se tratarem de construções que devem manter o custo o mais baixo possível, porém
com uma velocidade de execução satisfatória, é usual que as construtoras contratadas utilizem
projetos padrão para essas unidades, de forma que elas sejam facilmente replicadas em
diferentes canteiros de obras em diferentes localidades do país. Esses projetos padrão
31
Figura 2.7. Projeto representativo de tipologias em planta em “H”. Fonte: CEF (2009).
32
Antes de executar a tão sonhada casa de alvenaria, a primeira alternativa para muitos
moradores de comunidades de baixa renda são os chamados barracos, construídos com os
materiais que estiverem a mão: desde tábuas e pilaretes de madeira, até lonas e mantas plásticas.
A primeira preocupação é garantir um teto e algumas paredes, mesmo que elas não sejam
completamente sólidas. As habitações rústicas, segundo definição da PNAD, ainda estão
presentes nas favelas e comunidades brasileiras, representadas em parcelas da sociedade que
são ainda mais marginalizadas dentro de um grupo já marginalizado nas cidades.
Já nas casas de alvenaria, Veysseyre (2014) define os três principais critérios adotados
na escolha dos materiais utilizados em construções em comunidades de baixa renda, eles devem
ser: de baixo custo, leves o suficiente para serem carregados nas costas e pequenos o bastante
para serem transportados pelas vielas da favela.
Outro significativo fator a ser levado em consideração no que tange o domicílio de baixa
renda é a carga emocional gerada por todo o contexto social e cultural. Há muito tempo, o
concreto e o tijolo são tidos como símbolos de solidez e segurança. Via de regra, o morador de
baixa renda vai preferir uma casa de alvenaria, mesmo que sem acabamento, a uma casa de
madeira bem acabada, por exemplo.
A fim de atender a esses requisitos e a esse contexto social, a vasta maioria dos
domicílios nesse contexto apresentam técnicas construtivas semelhantes, compostas por
estruturas em concreto armado com vedação de blocos cerâmicos, isso quando não são
dispensados os elementos estruturais convencionais e toda a casa é composta de paredes
autoportantes executadas em blocos não-estruturais de cerâmica.
O acabamento externo das paredes, algumas poucas vezes, é feito com finalização de
chapisco ou chapisco e emboço, porém o mais usual é que o bloco cerâmico permaneça exposto
para o lado de fora da residência. Enquanto o interno comumente recebe a finalização em
emboço + reboco + gesso e pintura, ou massa única + gesso e pintura.
a de No 660, de 14 de novembro de 2018. Programas como o Minha Casa Minha Vida estão
sob o guarda-chuva das especificações mínimas definidas.
Sobre o projeto da unidade, a portaria define regras gerais, como a área útil mínima da
residência, mas não restringe comprimentos lineares dos cômodos. Determina as dimensões
que devem ser consideradas dos móveis que cada cômodo deve receber, bem como uma
disposição dos móveis em planta, respeitando um afastamento mínimo entre os eles e deles em
relação às paredes, conforme as Tabelas 3.1 e 3.2, além de atenderem aos requisitos de
desempenho da ABNT NBR15.575.
A área útil mínima das unidades habitacionais deve ser tal a acomodar o mobiliário
mínimo definido e não apresentar a soma das áreas de todos os cômodos com valor menor do
que 36,00 m² em casas com área de serviço externa, 38,00 m² em casas com área de serviço
internas e 39,00 m² em apartamentos e casas sobrepostas, de acordo com o Ministério das
Cidades (2018).
A distribuição de cômodos mínima das unidades deve apresentar uma sala, dois
dormitórios, uma cozinha, uma área de serviço e um banheiro
ESPECIFICAÇÕES DE ESQUADRIAS
Portas de acesso e internas em madeira. Em regiões litorâneas
ou meio agressivo, admite-se no acesso à unidade porta de aço
ou de alumínio, desde que não possuam vidros em altura
inferior à 1,10 m em relação ao piso acabado.
Batente em aço ou madeira desde que possibilite a inversão do
sentido de abertura das portas. Vão livre entre batentes de 0,80
m x 2,10 m em todas as portas. Previsão de área de
Portas aproximação para abertura das portas de acesso (0,60 m
interno e 0,30 m externo). Maçanetas de alavanca devem estar
entre 0,90 m a 1,10 m do piso. Em tipologia de casa prever ao
menos duas portas de acesso, sendo 01 (uma) na sala para
acesso principal e outra para acesso de serviço na cozinha/área
de serviço.
Em portas de aço, pintura com esmalte sobre fundo
preparador. Em portas de madeira, com esmalte ou verniz.
Soluções Previstas em todos os vãos externos deverão ser
completas e com vidros, sem folhas fixas. É vedada a
utilização de aço em regiões litorâneas.
Janelas Em regiões litorâneas ou meio agressivo, admitem-se janelas
em madeira, PVC ou alumínio.
É obrigatório o uso de vergas e contravergas com transpasse
mínimo de 0,30m, além de peitoril com pingadeira e
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Por fim, a portaria define as especificações mínimas para as instalações dos sistemas
hidráulicos, sanitários, elétricos e de comunicação, como pode ser visto nas Tabelas 3.5 e 3.6.:
Além das portarias do Ministério das Cidades, outra importante fonte de documentos
que regem o financiamento das construções de interesse social são os códigos de práticas e
normativos internos da CEF.
O Código de Práticas de Engenharia para Habitação é um conjunto de boas práticas e
orientações de execução desenvolvido pela própria CEF, que deve ser entregue assinado pelo
engenheiro responsável pelo empreendimento junto com as documentações técnicas no ato da
solicitação do financiamento.
O documento trata de requisitos e orientações a respeito da implantação, todos os
subsistemas elétricos, hidráulicos, sanitários, de gás e de segurança, versa sobre
distanciamentos mínimos das edificações para os eventuais taludes no terreno, aponta as
normas e detalhes executivos de cada método construtivo aceito pela CEF para financiamento
(CEF, 2021).
Um importante normativo interno da CEF é o AE 98. Esse normativo rege como é feita
a análise dos empreendimentos sujeitos ao financiamento pelo corpo técnico da CEF, composto
por Arquitetos(as) e Engenheiros(as) Civis. Devido ao regime de confidencialidade do
documento, algumas informações não podem ser publicadas em caráter público. O autor teve
acesso a essa documentação no período em que estagiou na Gerência de Habitação da CEF em
Niterói.
Seguindo a análise orientada pelo AE 98, são avaliadas as documentações técnicas que
a construtora entrega para a Caixa inicialmente. Nessa documentação estão incluídos todos os
projetos e memoriais descritivos do empreendimento, além de todas as anotações de
42
3.4.1.1 Conceituação
A alvenaria estrutural é um método construtivo baseado na ideia de que as paredes são,
como um todo, os elementos estruturais que recebem, resistem e transferem as cargas à que a
construção está sujeita. São compostas por blocos estruturais menores, que compõem a parede.
Esses blocos podem ser de concreto, cerâmica ou sílico-calcáreos (RAMALHO & CORRÊA,
2003).
No que diz respeito à forma desses blocos, eles podem ser apresentados de forma
maciça, ou vazada, sendo o primeiro composto por blocos que possuem um índice de vazios
menor do que 25% da área total do bloco. Esses blocos devem ser submetidos a testes e
apresentar uma resistência à compressão característica de pelo menos 4,5 Mpa para que seja
aprovado para uso estrutural em edificações, respeitando ainda uma resistência média de 1 MPa
para cada pavimento acima do nível considerado em empreendimentos de múltiplos
pavimentos (RAMALHO & CORRÊA, 2003).
44
3.4.2.1 Conceituação
O método que consiste em utilizar elementos estruturais em concreto armado e vedação
em blocos cerâmicos é um dos mais populares no Brasil. As edificações executadas com esse
método são compostas por elementos estruturais chamados de vigas, pilares e lajes, construídos
em concreto armado. Esses elementos são responsáveis por manter a estrutura da edificação
em pé, recebendo e transmitindo todos os esforços recebidos para a fundação (ABNT, 2007).
Os elementos mencionados têm seus vãos preenchidos por elementos chamados de
blocos cerâmicos, que suportam apenas seu próprio peso e têm a função de vedar as paredes e
proporcionar isolamento térmico e acústico para a construção, além de acomodar as instalações
hidráulicas, sanitárias e elétricas da edificação.
45
3.4.3.1 Conceituação
É um método construtivo pensado para a produção em massa, uma vez que se apresenta
como um método racionalizado e produtivo, necessitando de um grande investimento inicial
em formas, mas que têm seu custo diluído à medida que são reutilizadas (MISURELLI &
MASSUDA, 2009).
O sistema pode ser aplicado a residências térreas unifamiliares, até a grandes edifícios
com 30 ou mais pavimentos. Assim como na alvenaria estrutural, suas paredes assumem a
dupla função de estrutura e vedação, mas ao invés de serem compostas por blocos unitários,
elas são executadas em concreto armado moldado no local (MISURELLI & MASSUDA,
2009).
Para a execução do método, o terreno é preparado, limpo e nivelado, então é feita a
fundação, que varia de acordo com a resistência do solo encontrado no canteiro. Então são
preparadas e montadas todas as armações, compostas de barras e telas soldadas. Toda a
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tubulação hidráulica, sanitária e elétrica é posicionada antes da montagem das formas. Com as
formas devidamente montadas, é feita a concretagem (MISURELLI & MASSUDA, 2009).
A concretagem em uma construção em paredes de concreto é usualmente feita com
concreto usinado, visando maior controle de qualidade e desempenho da massa. Esse concreto
utilizado pode ser celular, com elevado teor de ar incorporado (até 9%), com agregados leves,
ou convencionais. As formas utilizadas podem ser de material metálico, plástico, ou de
madeira, apresentando-se também no formato trepante, mais utilizado em edifícios com
múltiplos pavimentos (MISURELLI & MASSUDA, 2009).
4.2.1.1 Conceituação
Uma das alternativas construtivas modulares são os chamados Módulos Volumétricos
Pré-fabricados, os MVPs. São blocos construtivos montados em fábricas que compõem
cômodos inteiros, ou em partes, que são acoplados de forma a compor a edificação (ARTICO,
2020).
4.2.1.2 Aplicação
Esses componentes são utilizados na Arquitetura Modular Volumétrica, que consiste na
elaboração de projetos de módulos para serem produzidos industrialmente, dentro de ambientes
controlados, garantindo um elevado padrão de qualidade (ARTICO, 2020).
Uma empresa que se beneficia da utilização de MVPs é a Brasil ao Cubo, uma
construtech que nasceu em Santa Catarina no ano de 2016. A empresa aposta na confecção de
módulos volumétricos com estruturas metálicas e toda infraestrutura elétrica e hidrossanitária
instalada. Um exemplo de empreendimento desenvolvido pela empresa é o Edifício Level,
observado na Figura 4.1.
51
Figura 4.1: Edifício Level finalizado. Fonte: Reprodução Brasil ao Cubo (2021).
Figura 4.2: Transporte e alocação de módulos. Fonte: Reprodução Brasil ao Cubo (2021).
A empresa alega que as obras feitas utilizando seu sistema construtivo ficam prontas
em períodos até 4 vezes mais rápidos do que se fossem feitas em alvenaria convencional, além
de seguirem um rigor maior de atendimento aos padrões construtivos, já que os módulos são
executados dentro de ambientes fabris com maior controle dos processos.
4.2.2.1 Conceituação
Esse tipo de painel é usualmente composto por faces externas rígidas e um miolo de
isolante termoacústico que acomoda as tubulações e instalações embutidas. Uma importante
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4.2.2.2 Aplicação
Uma empresa que tem se beneficiado desses tipos de painéis é a Casa Cubo, que surgiu
em São Paulo em 2014, com uma proposta de trazer para o mercado brasileiro uma tendência
nos mercados europeus e norte-americanos conhecida como “tiny-houses”, construções leves
e desmontáveis, com espaços otimizados para habitação confortável na menor área e menor
volume possíveis, observada na Figura 4.6.
Os projetos executados pela Casa Cubo utilizam o conceito dos painéis modulares. As
construções partem de um chassi metálico em alumínio, apresentados na Figura 4.7, e são
vedados utilizando painéis especiais de 76 mm de espessura, confeccionados a partir de OSB
(Oriented Strand Board), que são chapas de tiras de madeira orientadas, e MDF (Medium
Density Fiberboard), que são placas de fibras de madeira de média densidade, com núcleo com
um isolante termoacústico, similar ao painel SIP apresentado nesse trabalho, de forma que uma
parede inteira é executada com dois ou três painéis apenas, como observado na Figura 4.8.
Todas as instalações são projetadas ainda na fábrica e embutidas no núcleo isolante dos painéis.
O sistema de piso desses projetos é todo em painéis estruturais de madeira, com 30 mm de
espessura.
Figura 4.7: Soldagem do chassi metálico. Fonte: Reprodução Casa Cubo (2014).
Figura 4.8: Montagem dos painéis laterais do módulo. Fonte: Reprodução Casa Cubo (2014).
Os modelos de projeto base da Casa Cubo partem de um módulo menor, de 6,5 m2, até
um módulo maior, de 19 m2. As dimensões externas de projeto começam com uma planta baixa
de 2,6 m por 2,6 m, podendo contar ainda com um segundo andar e com uma extensão de 6,0
m2. O projeto básico dessa unidade é observada na Figura 4.9.
Figura 4.9: Projeto básico do módulo. Fonte: Reprodução Casa Cubo (2020).
Figura 4.10: Painel térmico Stucco. Fonte: Reprodução Kingspan Isoeste (2019).
O mesmo fabricante Kingspan Isoeste ainda oferece painéis do tipo isotérmico na forma
de telhas, algumas simulando acabamento de telhas cerâmicas, como pode ser observado na
Figura 4.11, da Isotelha Colonial.
Figura 4.11: Telha Sanduíche Isotelha Colonial. Fonte: Reprodução Kingspan Isoeste (2019).
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4.2.3.1 Conceituação
O wood frame é um sistema construtivo que utiliza molduras de madeira e placas de
OSB para constituir painéis de piso, parede e cobertura autoportantes, para a construção de
edificações habitacionais com até cinco pavimentos. O wood frame foi criado no século XIX
nos Estados Unidos onde é bastante utilizado.
4.2.4.1 Conceituação
É um tipo de painel muito similar ao wood frame já apresentado. A principal diferença
entre as técnicas é que os perfis utilizados para compor as molduras são feitos de aço
galvanizado formados a frio.
redução de custo total, que pode chegar a 10%. (KAMALI & HEWAGE, 2016 e SMITH,
2010).
4.2.5.1 Conceituação
Diferente do método wood frame já apresentado no item 4.2.3, que é composto apenas
por uma estruturação em madeira, as casas pré-fabricadas de madeira são desenvolvidas a partir
de painéis maciços de madeira, onde toda a vedação é feita com painéis de madeira ripada e
aparelhada, um exemplo desse tipo de construção pode ser visto na Figura 4.14.
62
Figura 4.14. Casa pré-fabricada de madeira. Fonte: Reprodução Minha Casa Pré-Fabricada
(2021).
É fácil encontrar projetos desse método construtivo a venda na internet, uma vez que
são compostos por kits de estruturas de madeira com os painéis de vedação já transportados
em tamanhos e formatos específicos para a montagem no canteiro de obras.
Para fins comparativos do custo, foram desenvolvidos dois orçamentos de uma casa
padrão, um com a execução em alvenaria convencional e o outro com execução em wood
frame.
65
Figura 5.1: Projeto de casa executada em wood frame. Fonte: Reprodução TecVerde (2011).
5.1.3 Comparação
Figura 5.2: Projeto de casa padrão considerado. Fonte: Cima Construtora (2014).
Para estrutura e vedação foram consideradas painéis de wood frame com perfis de
madeira pinus de 5x10 cm, espaçados a cada 40 cm. O fechamento foi executado utilizando
material isolante termoacústico, placas de gesso acartonado nas paredes internas e placas
cimentícias nas paredes externas.
O cronograma desenvolvido pode ser observado na Tabela 5.5.
5.2.3 Comparação
Observa-se, portanto, uma redução para mais da metade do prazo de execução em wood
frame em comparação à alvenaria de vedação.
Em ensaio realizado pelo IFBQ em 2015 com edificações de casas geminadas e térreas
utilizando o método construtivo wood frame obtiveram resultados satisfatórios em quase todas
as condições analisadas, sendo aprovado com ressalvas de cor da pintura externa em todas as
condições e zonas bioclimáticas, com exceção das zonas 4 e 5 em condições apenas de
ventilação no período do verão. O resultado detalhado desse estudo pode ser observado no
Quadro 5.1:
76
Na Tabela 5.10 é possível observar os valores de referência adotados pela NBR 15.575-
5 (ABNT, 2013) na zona bioclimática 8, à qual pertence o município do Rio de Janeiro, para
os indicadores calculados.
Com base nos resultados obtidos é possível observar que o protótipo estudado não
atende à Norma em nenhuma das condições de absortância à radiação solar na superfície
externa da parede, na Zona Bioclimática 8, apesar de apresentar valores muito próximos dos
limites de referência na ocasião de a > 0,6.
Nas vedações executadas em wood frame, além dos elementos estruturais de madeira e
seus números próprios de isolamento acústico, ainda são utilizadas camadas com isolantes que
79
têm a função específica de melhorar o desempenho acústico desse método construtivo. Essas
camadas são usualmente executadas em lã de vidro e lã de rocha.
Resultados de ensaios executados pelo Instituto Falcão Bauer da Qualidade (IFBQ) em
2015 determinaram que o índice de isolação sonora de um painel externo de wood frame com
espessura total aproximada de 200 mm é de 25 dB, atendendo à ABNT NBR 15.575-4 para as
localizações com classes de ruído I e II.
Os mesmos ensaios determinam que as paredes internas de espessura aproximada de
158 mm apresentam um índice de isolação sonora de 39 dB, enquanto paredes duplas de 271
mm de espessura aproximada apresentam 43 dB de índice. Com esses resultados, entende-se
que o método atende à Norma de Desempenho acústico.
Figura 5.4: Comparação entre os índices de isolação acústica. Fonte: (LUCA, 2015).
80
6.2 O EMPREENDIMENTO
Para receber parte dessa população de operários, foram construídas mais de 2.300 casas
que compõem a Vila Residencial Belo Monte, parte dessas podem ser observadas na Figura
6.1.
Figura 6.1: Parte da Vila Residencial Belo Monte. Fonte: Reprodução Kingspan Isoeste.
Figura 6.2: Vista aérea da Usina e Vila Residencial de Belo Monte. Fonte: Google Maps
(2021).
82
O projeto das unidades era padrão e foi replicado em todos os 2300 domicílios. Por
razões de cláusulas contratuais de confidencialidade, a planta baixa não pôde ser
compartilhada, mas o Eng. Paulo informou que as unidades totalizam aproximadamente 50 m2
de área construída.
Os domicílios são compostos por dois quartos, um banheiro, uma sala de estar e jantar,
uma cozinha e uma área de serviço, além de uma vaga de garagem coberta. As unidades foram
projetadas para receber um morador em cada quarto, de forma a que cada unidade pode ser
ocupada por dois moradores.
O projeto é de uma casa térrea com pé direito simples e não foi utilizado rebaixamento
de forro na cobertura, assim sendo, o teto dos cômodos apresentava inclinação por conta do
caimento das telhas, com altura mínima de 2,50 m e máxima de 2,90 m.
O acabamento das paredes e cobertura era composto pelo acabamento dos próprios
painéis utilizados, com textura simulando emboço e pintura na cor creme nos painéis das
paredes, liso branco na face interna das telhas e em formato de telhas cerâmicas na cor laranja
na face externa das telhas, como observado na Figura 6.3. O piso das unidades foi todo
executado em cimento queimado nas áreas secas e piso cerâmico nas áreas molhadas.
De acordo com o Eng. Paulo, o projeto foi planejado e executado em observância às
normas de desempenho das edificações, respeitando os intervalos admissíveis de isolamento
térmico e acústico para a região do empreendimento e com ensaios executados em amostras de
unidades finalizadas.
83
Figura 6.3: Unidade finalizada na Vila Residencial de Belo Monte. Fonte: Reprodução
Kingspan Isoeste (2011).
Figura 6.4: Etapas construtivas da Vila Residencial Belo Monte. Fonte: (JORGE, 2011).
6.5.1 Fundação
O Eng. Paulo Henrique não soube informar as especificações do radier, uma vez que a
construtora da Usina já entregava a fundação executada, para que a equipe de montagem das
unidades pudesse atuar. Ele pontuou, entretanto, que a fundação tinha uma espessura pequena
e uma malha metálica simples, porque as unidades montadas sobre a fundação eram mais leves
do que uma equivalente construída em alvenaria.
Cada radier recebia a montagem de uma única unidade habitacional. A execução do
radier pode ver observada na Figura 6.5.
85
Figura 6.5: Execução de radiers da Vila Residencial Belo Monte. Fonte: (JORGE, 2011).
6.5.2 Instalações
A tubulação é então posicionada por cima de uma camada de brita, de forma a nivelar
e preparar o terreno para receber a armação e concretagem da fundação.
As instalações elétricas foram executadas por meio de eletrodutos plásticos horizontais
expostos na parte superior das paredes, e eletrodutos verticais embutidos nos painéis, que
partem nos dutos horizontais e chegam nas tomadas e interruptores embutidos nas paredes,
como pode ser observado na Figura 6.7.
Figura 6.7: Instalação elétrica finalizada no interior da unidade. Fonte: (JORGE, 2011)
6.5.4 Cobertura
A partir das paredes erguidas e fixadas, era executada a cobertura da unidade. Uma vez
que não era executado nenhum rebaixamento do forro após a execução da cobertura, a
inclinação do telhado já era definida por meio de cortes na parte superior dos painéis de vedação
vertical.
Para estruturação do telhado, foram usados perfis de chapa de aço galvanizado dobrado
como terças, cobrindo a extensão longitudinal da casa de ponta a ponta. Como a telha utilizada
tem uma rigidez característica, a distância entre as terças metálicas pôde ser aumentada,
reduzindo o número de terças necessárias. É possível observar na Figura 6.9, da esquerda para
a direita, a evolução das etapas de execução da cobertura das unidades.
88
Com o objetivo de obter relatos de pessoas que efetivamente moraram nessas casas, foi
feita uma pesquisa em redes sociais de funcionários e ex-funcionários da Usina de Belo Monte.
Foi encontrado um grupo composto apenas por pessoas que moram ou moraram na Vila
Residencial da usina. Identificados 20 usuários frequentes no grupo, foi enviado um
questionário com 9 perguntas relacionadas à vivência e habitação nas unidades da vila, foram
elas:
1- Durante qual período você morou na Vila Residencial?
2- Como eram organizados os alojamentos (quantas pessoas por casa/cômodo)?
3- Você sentiu alguma diferença em relação a morar em uma casa de alvenaria
(paredes de tijolos e lajes de concreto)?
4- Como era a temperatura dentro dos quartos? Em relação à temperatura do lado de
fora, era confortável estar dentro de casa?
5- Como você lembra que era em relação ao barulho vindo do lado de fora? Passava
muito barulho pelas paredes, ou elas tinham um bom isolamento?
6- As construções passavam segurança quanto a sua estrutura, ou pareciam paredes
finas e frágeis?
7- Era permitido furar as paredes, ou fazer algum recorte?
89
Na Tabela 6.1 é possível observar os valores de referência adotados pela NBR 15.575-
3 (ABNT, 2013), que trata sobre o desempenho térmico de coberturas de edificações, para a
transmitância térmica total, na zona bioclimática 8, à qual pertence o município do Altamira,
localidade da Vila Residencial.
Considerando que não há presença de ático ventilado nas edificações estudadas na Vila
Residencial de Belo Monte, a Norma dita que deve ser considerado FV = 1. Considerando
ainda que a cor da pintura da face externa da telha é vermelha, a Norma define = 0,74. Com
isso, observa-se que a transmitância térmica total da Isotelha Colonial deve ser U ≤ 1.5
W/(m2.K). O fabricante informa na ficha técnica que o produto apresenta U = 0,55 W/(m2.K)
de transmitância térmica, atendendo ao valor da Norma.
Já o desempenho térmico das paredes pode ser verificado na Tabela 6.2. Uma vez que
a cor do revestimento externo dos painéis é bege, foi considerado um índice de absortância à
radiação a = 0,25.
Durante a entrevista, o Eng. Paulo Henrique informou que, após treinamento adequado,
uma equipe de 5 pessoas executava a montagem de uma das unidades em um prazo de 7 dias
após a entrega do radier. Foi feito um comparativo de prazo de execução entre as unidades
modulares da Vila Residencial e uma edificação equivalente, a tipologia 1 da cartilha da CEF,
de 35 m2, em alvenaria de vedação com estrutura em concreto armado. O resultado pode ser
observado nas Figuras 6.10 e 6.11:
93
Figura 6.10: Fluxo de prazos de execução de uma unidade habitacional da Vila Residencial de
Belo Monte. Elaborada pelo Autor.
É possível observar que a execução das unidades com a utilização dos painéis é
significativamente mais rápida, como verificado na Tabela 6.5, diferença que é ainda mais
perceptível ao escalar a quantidade de unidades por empreendimentos.
Para levantar informações sobre a durabilidade e manutenção dos painéis utilizados nas
unidades, foi consultado o Manual de Manutenção de Painéis e Telhas, fornecido pela própria
fabricante Kingspan Isoeste.
Como os painéis e telhas utilizados são fabricados utilizando chapas de aço pintadas,
os componentes apresentam uma alta durabilidade e necessitam de pouca manutenção. A
principal e mais simples medida da manutenção é a limpeza anual dos painéis utilizando água
e sabão neutro, utilizando pano macio e não abrasivo, de forma a não danificar a pintura. É
94
proibido o uso de produtos de limpeza alcalinos, uma vez que esses produtos podem agredir a
chapa de aço ao longo do tempo.
Em situações de pontos de oxidação e corrosão superficial, a limpeza já descrita é
suficiente. Em casos de corrosão média, pode ser necessário o uso de massa de polimento. Em
casos de corrosão grave, é necessária a remoção da pintura do painel com uma lixa n o 400,
limpeza completa da chapa exposta e a repintura com a tinta esmaltada.
Nos painéis com faces externas, pode ser necessária a aplicação de repintura às faces
expostas ao Sol por muitos anos. Nesses casos, devem ser utilizadas tinta esmalte a base de
solvente, evitando assim a formação de bolhas, o que acontece quando são utilizadas tintas a
base de água.
7 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS
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