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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

JOSÉ OTÁVIO DA ROSA TOMASI

ANÁLISE TÉCNICA DE MADEIRA DISPONÍVEL NO MERCADO PARA O USO


NA CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO DE IRAÍ/RS

PATO BRANCO
2022
JOSÉ OTÁVIO DA ROSA TOMASI

ANÁLISE TÉCNICA DE MADEIRA DISPONÍVEL NO MERCADO PARA O USO


NA CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO DE IRAÍ/RS

Technical analysis of wood available on the market for use in civil construction in the
municipality of Iraí/RS

Trabalho de conclusão de curso de graduação


apresentada como requisito para obtenção do
título de Bacharel em Engenharia Civil do
Departamento Acadêmico de Construção Civil
da Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(UTFPR).
Orientador(a): Prof. Msc. Osmar João Consoli.

PATO BRANCO
2022

Esta licença permite remixe, adaptação e criação a partir do trabalho, mesmo para
fins comerciais, desde que sejam atribuídos créditos ao(s) autor(es) e que
licenciem as novas criações sob termos idênticos. Conteúdos elaborados por
4.0 Internacional terceiros, citados e referenciados nesta obra não são cobertos pela licença.
JOSÉ OTÁVIO DA ROSA TOMASI

ANÁLISE TÉCNICA DE MADEIRA DISPONÍVEL NO MERCADO PARA


UTILIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL NO MUNICÍPIO DE IRAÍ/RS

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação


apresentado como requisito para obtenção do título de
Bacharel em Engenharia Civil do Departamento
Acadêmico de Construção Civil da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Data de aprovação: 20 de junho de 2022

___________________________________________________________________________
Osmar João Consoli
Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina
Universidade Tecnológica Federal do Paraná

___________________________________________________________________________
Gustavo Lacerda Dias
Doutor em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina
Universidade Tecnológica Federal do Paraná

___________________________________________________________________________
Jairo Trombetta
Mestre em Engenharia pela Universidade de Passo Fundo
Universidade Tecnológica Federal do Paraná

PATO BRANCO
2022
Dedico este trabalho à minha família e amigos,
pelos inúmeros momentos de ausência.
AGRADECIMENTOS

Certamente estes parágrafos não irão atender a todas as pessoas que fizeram parte
dessa importante fase de minha vida. Portanto, desde já peço desculpas àquelas que não estão
presentes entre essas palavras, mas elas podem estar certas que fazem parte do meu pensamento
e de minha gratidão.
Primeiramente, agradeço a Deus, que mesmo nos momentos difíceis, nunca permitiu
que me faltassem força e fé para superar todos os obstáculos.
Agradeço a minha família, por todo o apoio e amor demonstrados, mesmo à distância,
além da compreensão pela ausência em tantos momentos.
Em especial, agradeço à minha mãe, Lia Gisela Da Rosa Fiuri, a qual conseguiu se
fazer presente todos os dias desta jornada, seja com uma mensagem ou ligação, sempre
prestando todo o apoio e amor do mundo. Agradeço também ao meu pai, João Tomasi Neto,
pelo amor e apoio incondicional durante todos estes anos, por todos os ensinamentos e
conselhos passados. A ambos, muito obrigado!
Agradeço à minha avó, Zulma Necy Fiuri, minha primeira professora de matemática e
grande responsável por meu amor pelas ciências exatas. Muito obrigado!
Agradeço a meus amigos Leonardo, Angelo, Felipe, Eduardo, Johnny, Carlos, Diego,
Ildo e João Carlos, pela amizade sincera e verdadeira de toda a vida. Obrigado gurizada!
Agradeço à minha namorada, Laura Maria Becker, pelo apoio incondicional na reta
final desta trajetória, me incentivando e comemorando cada pequena vitória do dia a dia. Muito
obrigado!
Agradeço também à Bruna Luiza, Marlete Ana e Ivo Oto Becker, por abrirem as portas
de sua casa e me permitirem conhecer a Laura. Em especial ao seu Ivo, pelas longas conversas
sobre madeira e por toda ajuda prestada ao longo da realização deste trabalho. Muito obrigado!
Agradeço ao meu orientador, Prof. Msc. Osmar João Consoli, não apenas pelo papel
fundamental no desenvolvimento deste trabalho, mas pelo apoio e amizade. Muito obrigado!
Estendo o agradecimento, pelos mesmos motivos, ao Prof. Dr. Cleovir José Milani,
Profa. Dra. Elizangela Marcelo Siliprandi. Muito obrigado!
Agradeço à banca que avaliou este trabalho, composta pelo Prof. Dr. Gustavo Lacerda
Dias e pelo Prof. Msc. Jairo Trombetta, que contribuíram enormemente com suas sugestões.
Por último, mas não menos importante, agradeço à minha primeira amizade feita em
Pato Branco, Juneor Neto Osokoski Sachet, e à minha última amizade feita, Ana Gabriela
Pelegrino. Muito obrigado!
“São nossas escolhas, mais do que nossas
habilidades, que mostram quem realmente somos.”
J.K. Rowling
RESUMO

A pouca disseminação de informações técnicas a respeito do processo produtivo e construtivo


da madeira levam a sociedade a optar pela construção em concreto ou aço, gerando uma questão
cultural de limitação com relação à sua utilização na construção civil. O presente trabalho traz
extensa revisão bibliográfica sobre alguns aspectos importantes da tecnologia do material,
como: identificação de madeiras, deterioração por agentes biodeterioradores, durabilidade
natural da madeira, como ocorre o processo e os principais métodos de secagem, principais
produtos preservativos, principais métodos de tratamento e técnicas construtivas que protegem
a madeira. O intuito é justamente aproximar este conhecimento aos profissionais da área,
principalmente os envolvidos com a construção civil. Ademais, traz também um estudo de caso
que aplica a teoria exposta, afim de diagnosticar a atual situação produtiva e indicar formas de
controle da qualidade da matéria prima por parte de quem a adquire/utiliza, como engenheiros
e/ou construtores. O resultado foi satisfatório, visto que apesar de a empresa em estudo fornecer
produtos de alta qualidade para o mercado, foram identificados alguns aspectos que podem ser
melhorados, trazendo ainda mais confiança técnica para os produtos comercializados e
segurança para os profissionais que os utilizam.

Palavras-chave: madeira; análise técnica; tecnologia da madeira; construção civil.


ABSTRACT

The little dissemination of technical information about the production and construction process
of wood leads society to opt for construction in concrete or steel, generating a cultural issue of
limitation in relation to its use in civil construction. The present work brings an extensive
bibliographic review on some important aspects of material technology, such as: wood
identification, deterioration by biodeteriorating agents, natural durability of wood, how the
process occurs and the main drying methods, main preservative products, main methods of
treatment and construction techniques that protect the wood. The aim is precisely to bring this
knowledge closer to professionals in the area, especially those involved with civil construction.
In addition, it also brings a case study that applies the theory exposed, in order to diagnose the
current production situation and indicate ways of controlling the quality of the raw material by
those who acquire/use it, such as engineers and/or builders. The result was satisfactory, since
although the company under study provides high quality products to the market, some aspects
were identified that can be improved, bringing even more technical confidence to the products
marketed and safety for the professionals who use them.
Keywords: wood; technical analysis; wood technology; civil construction.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Diferentes regiões do tronco: A = medula; B = cerne; C = alburno; D = casca ...... 25


Figura 2 - Compilado de figura 43 à 53 de Florsheim et al., 2020 ........................................... 29
Figura 3 - Tipo de grã (plano longitudinal): A = grã direita, B = grã ondulada ....................... 32
Figura 4 - Tipos de grã, sua descrição e exemplos de madeiras onde podem ser encontradas 32
Figura 5 - Tipos de textura, sua descrição e exemplos de madeiras onde podem ser encontradas
.................................................................................................................................................. 34
Figura 6 - Desenho (plano longitudinal): A = com desenho, B = sem desenho ....................... 35
Figura 7 - Lupa conta-fios com aumento 10x........................................................................... 36
Figura 8 - Estilete para polimento da madeira .......................................................................... 37
Figura 9 - Corte com faca e lâmina de barbear......................................................................... 37
Figura 10 - Representação esquemática de seção de tronco, mostrando os planos de observação:
X - transversal, R – longitudinal radial, T – longitudinal tangencial ....................................... 38
Figura 11 - Amostra de madeira com os quadrados corretamente posicionados para obtenção
de fotos ..................................................................................................................................... 39
Figura 12 - Posição correta da lupa sobre a amostra de madeira ............................................. 39
Figura 13 - Contraste do parênquima axial .............................................................................. 41
Figura 14 - Parênquima axial apotraqueal ................................................................................ 41
Figura 15 - Parênquima axial paratraqueal ............................................................................... 42
Figura 16 - Parênquima axial paratraqueal ............................................................................... 43
Figura 17 - Parênquima axial paratraqueal ............................................................................... 43
Figura 18 - Parênquima axial em faixa ..................................................................................... 44
Figura 19 - Parênquima axial em faixa ..................................................................................... 44
Figura 20 - Parênquima axial em faixa. Parênquima axial marginal ........................................ 45
Figura 21 - Contraste dos raios ................................................................................................. 46
Figura 22 - Largura de raio ....................................................................................................... 46
Figura 23 - Frequência de raios ................................................................................................ 47
Figura 24 - Altura de raio ......................................................................................................... 48
Figura 25 – Estratificação ......................................................................................................... 48
Figura 26 - Conteúdo escuro nos raios (setas) .......................................................................... 49
Figura 27 - Aspectos macro e microscópicos dos anéis de crescimento da Araucária
Angustifolia (Pinheiro-Do-Paraná) ........................................................................................... 49
• Figura 28 - Camadas de crescimento ..................................................................... 50
Figura 29 - Camadas de crescimento ........................................................................................ 50
Figura 30 - Canais secretores (setas) ........................................................................................ 52
Figura 31 - Canais traumáticos ................................................................................................. 52
Figura 32 - Estruturas secretoras (setas) ................................................................................... 53
Figura 33 - Floema incluso ....................................................................................................... 55
Figura 34 - Máculas (setas) ...................................................................................................... 55
Figura 35 - Diâmetro de vasos .................................................................................................. 57
Figura 36 - Frequência de vasos ............................................................................................... 58
Figura 37 – Porosidade ............................................................................................................. 58
Figura 38 - Arranjo dos vasos................................................................................................... 59
Figura 39 - Arranjo dos vasos................................................................................................... 59
Figura 40 - Aspecto dos poros, segundo seu agrupamento, observados em seção transversal 60
Figura 41 - Obstrução de vasos ................................................................................................ 61
Figura 42 - Lista das principais coleções de madeira (xilotecas) existentes no país ................ 63
Figura 43 - Detalhe de campo de apodrecimento em ambiente de campo aberto .................... 72
Figura 44 - Detalhe de madeira Eucalyptus dunni submetida a campo de apodrecimento após
405 dias ..................................................................................................................................... 72
Figura 45 - Classes de resistência sob o aspecto da perda de massa ao longo do tempo ......... 73
Figura 46 - Classificação do nível de deterioração da madeira ................................................ 73
Figura 47 - Esquema de retirada de corpos-de-prova para determinar o teor de umidade da
madeira ..................................................................................................................................... 80
Figura 48 - Resistência elétrica da madeira em função do teor de umidade e da temperatura. 83
Figura 49 - Curvas de correção em função da temperatura para determinadores de umidade do
tipo resistência fabricados pela empresa Keet Eletric Laboratory ........................................... 84
Figura 50 - Relação entre a umidade de equilíbrio e o número de etapas utilizadas para alcançá-
la, em um processo de adsorção de 0% a 88% de umidade relativa......................................... 91
Figura 51 - Isoterma higroscópica de adsorção para madeira de Eucalyptus regnans e seus
componentes ............................................................................................................................. 92
Figura 52 - Retração volumétrica da madeira de Pinus oocarpa em função de sua umidade (U),
possibilitando a determinação do PSF ...................................................................................... 93
Figura 53 - Característica da retração da madeira (volumétrica e nas direções longitudinal,
tangencial e radial) em função da umidade .............................................................................. 94
Figura 54 - Principais orientações em uma peça de madeira ................................................... 95
Figura 55 - Característica do inchamento da madeira (volumétrica e nas direções longitudinal,
radial e tangencial).................................................................................................................... 96
Figura 56 - Relação entre densidade básica e retração volumétrica da madeira ...................... 97
Figura 57 - Diagrama da parede celular monstrando as diferentes espessuras das paredes
primária (P) e secundária (S), e a orientação das microfibrilas nas camadas S1, S2 e S3 da parede
secundária ................................................................................................................................. 99
Figura 58 - Características da retração em função da direção estrutural, forma da peça e sua
posição na tora ........................................................................................................................ 101
Figura 59 - Ilustração dos gradientes de umidade para madeiras com diferentes permeabilidades
................................................................................................................................................ 107
Figura 60 - Empilhamento tipo berço ou gaiola ..................................................................... 111
Figura 61 - Empilhamento tipo tesoura .................................................................................. 112
Figura 62 - Empilhamento tipo "padrão" ............................................................................... 113
Figura 63 - Defeitos em decorrência da secagem ................................................................... 118
Figura 64 - Instalações necessárias para tratamento pelo processo de Boucherie.................. 138
Figura 65 - Desenho esquemática de uma planta de tratamento de madeira típica ................ 140
Figura 66 - Esquema do programa de tratamento preservativo pelo processo de Bethell...... 141
Figura 67 - Esquema do programa de tratamento preservativo pelo processo de Lowry (célula
vazia) ...................................................................................................................................... 143
Figura 68 - Esquema do programa de tratamento preservativo pelo processo MSU ............. 146
Figura 69 - Visão geral da área de operação da Empresa A ................................................... 157
Figura 70 - Barracão para desdobramento inicial das madeiras ............................................. 158
Figura 71 - Barracão onde ocorre o beneficiamento final das madeiras ................................ 158
Figura 72 - Barracão onde ocorre a pré-secagem e armazenamento de madeiras secas ........ 159
Figura 73 - Resumo da metodologia do estudo de caso ......................................................... 160
Figura 74 - Exemplo de pesagem de amostra de madeira ...................................................... 164
Figura 75 - Dados obtidos para determinação do teor de umidade das madeiras. Em azul, dados
obtidos in-loco; em vermelho dados obtidos em laboratório; em preto resultados finais. ..... 165
Figura 76 - Ventiladores industriais utilizados na pré-secagem da madeira em local coberto e
bem arejado............................................................................................................................. 167
Figura 77 - Exemplo de utilização de lupa conta-fios 10x ..................................................... 170
Figura 78 - Identificação do lote nº 1. À esquerda, imagem macroscópica do banco de dados
utilizado; à direita imagem feita da amostra coletada. ........................................................... 171
Figura 79 - Identificação do lote nº 2. À esquerda, imagem macroscópica do banco de dados
utilizado; à direita imagem feita da amostra coletada. ........................................................... 171
Figura 80 - Identificação do lote nº 4. À esquerda, imagem macroscópica do banco de dados
utilizado; à direita imagem feita da amostra coletada. ........................................................... 172
Figura 81 - Identificação do lote nº 5. Acima, imagem macroscópica do banco de dados
utilizado; abaixo, imagem feita da amostra coletada. ............................................................. 172
Figura 82 - Identificação do lote nº 6. Acima, imagem macroscópica do banco de dados
utilizado; abaixo, imagem feita da amostra coletada. ............................................................. 173
Figura 83 - Identificação do lote nº 7. À direita, imagem macroscópica do banco de dados
utilizado; à esquerda, imagem feita da amostra coletada. ...................................................... 173
Figura 84 - Identificação do lote nº 3. À esquerda, imagem macroscópica do banco de dados
utilizado; à direita, imagem feita da amostra coletada. .......................................................... 174
Figura 85 - Identificação do lote nº 9. À esquerda, imagem macroscópica do banco de dados
utilizado; à direita, imagem feita da amostra coletada. .......................................................... 174
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Pressão de saturação de vapor d'água e umidade absoluta de saturação a diferentes


temperaturas (para pressão barométrica de 76,0 cm Hg) ......................................................... 87
Tabela 2 - Umidade relativa (UR) em função da temperatura de termômetro seco (Ts) e da
diferença higrométrica (Ts-Tu) ................................................................................................ 89
Tabela 3 - Magnitude da retração dimensional e volumétrica nas diferentes direções estruturais
da madeira................................................................................................................................. 98
Tabela 4 - Espessura das paredes celulares e ângulo de inclinação das microfibrilas ............. 98
Tabela 5 - Valores médios da variação dimensional de algumas madeiras utilizadas no Brasil
................................................................................................................................................ 101
Tabela 6 - Relação entre espessura das tábuas, dimensões da seção transversal e espaçamento
dos separadores ....................................................................................................................... 114
Tabela 7 - Composição do CCA em %................................................................................... 129
Tabela 8 - Composição do ACC ............................................................................................. 130
Tabela 9 - Descrição de ações e ocorrências durante o tratamento da madeira pelo processo de
Bethell..................................................................................................................................... 142
Tabela 10 - Descrição de ações e ocorrências durante o tratamento da madeira pelo processo de
Lowry (célula vazia) ............................................................................................................... 144
Tabela 11 - Descrição de ações e ocorrências durante o tratamento da madeira pelo processo
MSU ....................................................................................................................................... 146
Tabela 12 - Vantagens e desvantagens com a utilização do processo Cellon ........................ 147
Tabela 13 - Descrição das tarefas respectivas a cada etapa do trabalho................................. 156
Tabela 14 - Tabela para cálculo da umidade de equilíbrio (UE) média mensal para Iraí/RS 164
Tabela 15 - Tabela para cálculo do índice de potencial ataque fúngico. T média mensal =
temperatura média mensal em graus Celsius; D = número de dias no mês com precipitações
maiores que 0,3 mm; PAF mensal = índice de potencial ataque fúngico no mês; PAF final, 2021
= índice de potencial ataque fúngico para o ano de 2021. ...................................................... 170
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 17
1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................... 19
1.1.1 Objetivo geral ..................................................................................................... 19
1.1.2 Objetivos específicos .......................................................................................... 19
1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 19
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................... 21
2.1 HISTÓRICO DO USO DA MADEIRA NA CONSTRUÇÃO CIVIL .............. 21
2.2 IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DE MADEIRA .......................................... 22
2.2.1 Espécies arbóreas produtoras de madeira ........................................................... 23
2.2.1.1 Gimnospermas .................................................................................................... 23
2.2.1.2 Angiospermas ..................................................................................................... 23
2.2.2 Nomenclatura ...................................................................................................... 24
2.2.2.1 Nome científico .................................................................................................. 24
2.2.2.2 Espécie ................................................................................................................ 24
2.2.2.3 Nome popular ..................................................................................................... 24
2.2.3 Estrutura anatômica da madeira.......................................................................... 24
2.2.3.1 Macroestrutura .................................................................................................... 24
2.2.3.1.1 Casca (líber) ....................................................................................................... 25
2.2.3.1.2 Câmbio vascular ................................................................................................. 25
2.2.3.1.3 Lenho ou xilema secundário ............................................................................... 25
2.2.4 Identificação de madeiras ................................................................................... 27
2.2.4.1 Abordagem macroscópica .................................................................................. 27
2.2.4.1.1 Identificação sensorial ou organoléptica ........................................................... 28
2.2.4.1.2 Identificação pelas características anatômicas.................................................. 36
2.2.4.2 Abordagem microscópica ................................................................................... 61
2.2.5 Bases de dados na internet .................................................................................. 62
2.2.6 Principais acervos (xilotecas) do país ................................................................. 62
2.3 DETERIORAÇÃO DA MADEIRA ................................................................... 63
2.3.1 Deterioração química .......................................................................................... 64
2.3.2 Principais agentes biológicos deterioradores ...................................................... 65
2.3.2.1 Bactérias ............................................................................................................. 65
2.3.2.2 Fungos ................................................................................................................ 66
2.3.2.3 Insetos ................................................................................................................. 69
2.3.2.3.1 Ordem isoptera ................................................................................................... 69
2.3.2.3.2 Ordem coleóptera ............................................................................................... 70
2.3.2.3.3 Ordem Hymenoptera .......................................................................................... 70
2.4 DURABILIDADE NATURAL DA MADEIRA................................................ 71
2.4.1 Fatores que contribuem para a durabilidade natural ........................................... 71
2.4.2 Métodos de avaliação ......................................................................................... 72
2.4.2.1 Índice do potencial de ataque fúngico (PAF) ..................................................... 73
2.4.2.2 Índice de susceptibilidade ao ataque de organismos xilófagos (ISA) ................ 74
2.5 SECAGEM DA MADEIRA ............................................................................... 74
2.5.1 Tipos de água existentes na madeira .................................................................. 75
2.5.1.1 Água de capilaridade .......................................................................................... 76
2.5.1.2 Água higroscópica .............................................................................................. 76
2.5.2 Importância e razões para secagem da madeira .................................................. 76
2.5.3 Influência da umidade nas características da madeira ........................................ 77
2.5.3.1 Determinação da umidade da madeira ................................................................ 78
2.5.3.1.1 Expressões para cálculo da umidade da madeira .............................................. 78
2.5.3.1.2 Métodos para determinação da umidade da madeira ........................................ 80
2.5.3.1.3 Ponto de saturação das fibras (PSF).................................................................. 85
2.5.4 Umidade do ar..................................................................................................... 86
2.5.4.1 Pressão do vapor d’água ..................................................................................... 86
2.5.4.2 Determinação da umidade do ar ......................................................................... 87
2.5.4.2.1 Método do ponto de orvalho ............................................................................... 88
2.5.4.2.2 Psicrômetros ....................................................................................................... 88
2.5.4.3 Umidade de equilíbrio com o ambiente (UE) ..................................................... 90
2.5.4.3.1 Efeito do histórico de exposição ......................................................................... 90
2.5.4.3.2 Efeito da espécie da madeira e extrativos .......................................................... 91
2.5.4.3.3 Efeito Barkas ...................................................................................................... 92
2.5.5 Instabilidade dimensional da madeira – Retração e inchamento ........................ 93
2.5.5.1 Características da variação dimensional da madeira .......................................... 94
2.5.5.1.1 Determinação da instabilidade dimensional ...................................................... 95
2.5.5.1.2 Relação entre variação volumétrica e a densidade básica da madeira ............. 96
2.5.5.1.3 Anisotropia das variações dimensionais e suas causas ..................................... 97
2.5.5.2 Aplicações práticas do estudo da variação dimensional da madeira .................. 100
2.5.6 Movimentação da água na madeira .................................................................... 102
2.5.6.1 Movimento da água capilar ................................................................................ 102
2.5.6.2 Movimento da água higroscópica e vapor d’água .............................................. 103
2.5.6.2.1 Água higroscópica .............................................................................................. 103
2.5.6.2.2 Vapor d’água ...................................................................................................... 104
2.5.7 O processo de secagem ....................................................................................... 104
2.5.7.1 Generalidades do processo de secagem .............................................................. 104
2.5.7.2 Gradientes de umidade ....................................................................................... 105
2.5.7.2.1 Influência da permeabilidade da madeira .......................................................... 106
2.5.7.2.2 Influência do período de secagem ...................................................................... 107
2.5.8 Métodos de secagem da madeira ........................................................................ 108
2.5.8.1 Secagem natural ou ao ar livre............................................................................ 108
2.5.8.1.1 Pátio de secagem ................................................................................................ 109
2.5.8.1.2 Empilhamento ..................................................................................................... 110
2.5.8.1.3 Recomendações gerais sobre empilhamento ...................................................... 115
2.5.8.1.4 Recomendações técnicas para em regiões de clima seco ................................... 116
2.5.8.2 Secagem controlada da madeira ......................................................................... 116
2.5.8.2.1 Vantagens da secagem artificial controlada ...................................................... 117
2.5.9 Defeitos de secagem ........................................................................................... 117
2.5.9.1 Empenamento ..................................................................................................... 118
2.5.9.1.1 Empenamento longitudinal ................................................................................. 118
2.5.9.1.2 Empenamento encanoado ................................................................................... 118
2.5.9.1.3 Empenamento torcido ......................................................................................... 119
2.5.9.2 Rachaduras .......................................................................................................... 119
2.5.9.2.1 Rachaduras superficiais ..................................................................................... 119
2.5.9.2.2 Rachaduras de topo ............................................................................................ 120
2.5.9.3 Encruamento ....................................................................................................... 120
2.5.9.3.1 Rachaduras em favos .......................................................................................... 121
2.5.9.4 Colapso ............................................................................................................... 121
2.6 PRODUTOS PRESERVATIVOS PARA MADEIRA ....................................... 122
2.6.1 Características de um produto preservativo adequado ....................................... 122
2.6.2 Tipos de preservativos para madeira .................................................................. 123
2.6.2.1 Preservativos oleosos .......................................................................................... 124
2.6.2.1.1 Creosoto.............................................................................................................. 124
2.6.2.1.2 Óleos naturais..................................................................................................... 125
2.6.2.1.3 Óxido de bis (Tributil-Estanho) - TBTO............................................................. 125
2.6.2.2 Preservativos oleossolúveis ................................................................................ 126
2.6.2.2.1 Pentaclorofenol – PCP ....................................................................................... 126
2.6.2.2.2 Tribromofenol – TBP .......................................................................................... 127
2.6.2.2.3 Outros produtos preservativos oleossolúveis ..................................................... 127
2.6.2.3 Preservativos hidrossolúveis: ............................................................................. 128
2.6.2.3.1 Arseniato de Cobre Cromatado – CCA .............................................................. 128
2.6.2.3.2 Borato de Cobre Cromatado - CCB ................................................................... 129
2.6.2.3.3 Arseniato de Cobre Amoniacal – ACA ............................................................... 129
2.6.2.3.4 Cromato de cobre ácido – ACC ......................................................................... 130
2.6.2.3.5 Cloreto de Zinco Cromatado – CZC .................................................................. 130
2.6.2.3.6 Compostos de Boro ............................................................................................. 130
2.6.3 Produtos preservativos registrados ..................................................................... 131
2.7 MÉTODOS DE TRATAMENTO ...................................................................... 131
2.7.1 Métodos passivos ................................................................................................ 131
2.7.1.1 Pincelamento da madeira seca ............................................................................ 131
2.7.1.2 Aspersão e pulverização da madeira seca ........................................................... 132
2.7.1.3 Imersão ou encharcamento da madeira seca ....................................................... 133
2.7.1.3.1 Imersão simples .................................................................................................. 133
2.7.1.3.2 Imersão prolongada............................................................................................ 133
2.7.1.3.3 Banho quente-frio ............................................................................................... 135
2.7.1.3.4 Tratamento por difusão simples ......................................................................... 135
2.7.1.3.5 Tratamento por dupla difusão ............................................................................ 136
2.7.1.3.6 Tratamento por substituição de seiva ................................................................. 136
2.7.1.3.7 Tratamento pelo processo de Boucherie ............................................................ 137
2.7.1.3.8 Tratamentos temporários da madeira verde ...................................................... 139
2.7.2 Métodos de tratamento ativo .............................................................................. 139
2.7.2.1 Processo de Bethell ou célula cheia .................................................................... 140
2.7.2.2 Processo de célula vazia ..................................................................................... 142
2.7.2.3 Processo de Gewecke ......................................................................................... 145
2.7.2.4 Processo MSU .................................................................................................... 145
2.7.2.5 Processo de Cellon ou Drilon ............................................................................. 147
2.8 TÉCNICAS CONSTRUTIVAS PARA PROTEÇÃO DA MADEIRA ............. 147
2.8.1 Princípios para construção em madeira .............................................................. 148
2.8.1.1 Técnicas construtivas para evitar a umidade ...................................................... 149
2.8.1.1.1 Beirais ................................................................................................................. 149
2.8.1.1.2 Calhas ................................................................................................................. 149
2.8.1.1.3 Impermeabilização ............................................................................................. 149
2.8.1.1.4 Bloqueio do sentido transversal da madeira ...................................................... 150
2.8.1.1.5 Inclinação ........................................................................................................... 150
2.8.1.1.6 Ventilação ........................................................................................................... 150
2.8.1.1.7 Uso de acabamentos ........................................................................................... 151
2.8.1.2 Técnicas construtivas para evitar insetos ............................................................ 152
2.8.1.2.1 Limpeza do terreno ............................................................................................. 152
2.8.1.2.2 Vãos entre a madeira e o concreto ..................................................................... 152
2.8.1.2.3 Telas de proteção ................................................................................................ 153
3 METODOLOGIA ............................................................................................. 154
3.1 ABORDAGEM DA PESQUISA ........................................................................ 154
3.2 ESTUDO DE CASO .......................................................................................... 156
3.2.1 A empresa ........................................................................................................... 156
3.2.2 Procedimento estudo de caso .............................................................................. 159
3.2.2.1 Determinação do teor de umidade de madeiras .................................................. 160
3.2.2.2 Informações complementares para a análise técnica .......................................... 161
4 RESULTADOS E ANÁLISES ........................................................................ 163
4.1 RESULTADOS DO ESTUDO CASO ............................................................... 163
4.1.1 Teor de umidade ................................................................................................. 163
4.1.2 Método de secagem ............................................................................................ 166
4.1.2.1 Parâmetros a serem analisados ........................................................................... 166
4.1.3 Método de tratamento ......................................................................................... 168
4.1.4 Patologias frequentes .......................................................................................... 169
4.1.5 Identificação de madeiras ................................................................................... 170
4.2 DIAGNÓSTICO DO PROCESSO PRODUTIVO ............................................. 175
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 177
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 179
APÊNDICE 1 – FORMULÁRIO ESTUDO DE CASO – PARTE 1 .............................. 13
APÊNDICE 2 – FORMULÁRIO ESTUDO DE CASO – PARTE 2 .............................. 14
ANEXO 1 – LISTA DE PRODUTOS PRESERVATIVOS REGISTRADOS NO IBAMA
13
ANEXO 2 – TABELA 1 DA NBR 5426/1985 – CODIFICAÇÃO DE AMOSTRAGEM
14
ANEXO 3 – TABELA 2 DA NBR 5426/1985 – PLANO DE AMOSTRAGEM SIMPLES
PARA INSPEÇÃO NORMAL ........................................................................................... 15
17

1 INTRODUÇÃO

Com a crescente preocupação em relação à degradação do meio ambiente que a


construção civil causa, percebe-se a necessidade da implantação de uma nova mentalidade
visando a otimização de projetos, minimizando custos, tempo de execução e atendendo a
questões sustentáveis (OLIVEIRA, BARROS e DE OLIVEIRA, 2019). Assim, vê-se que a
industrialização e a utilização de sistemas construtivos baseados em resistência, rapidez,
economia e comprometimento com o meio ambiente vem ganhando cada vez mais espaço no
Brasil (MOLINA e CALIL JUNIOR, 2010).
A madeira surge neste cenário de forma competitiva, tanto economicamente como
ecologicamente, baseada nas melhores técnicas de reflorestamento existentes e em conjunto
com o desenvolvimento de produtos industrializados, minimizando cada vez mais as perdas de
material (PFEIL, 2003).
No Brasil, de acordo com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas- IPT (2009), utiliza-
se a madeira de várias maneiras. Assim sendo, é possível separá-las em duas principais formas
de utilização: a temporária e a definitiva. No uso temporário, temos como exemplo fôrmas para
concretagem de estruturas, escoramentos, andaimes, entre outras. Já no definitivo, temos como
exemplo estruturas de cobertura, forros, pisos, esquadrias e casas pré-fabricadas.
Porém, segundo Gesualdo (2003), é fato que ainda existe um grande preconceito no
que diz respeito à utilização da madeira como o principal material na execução de edificações,
o que revela uma grande falta de conhecimento por parte da população.
Isto se deve à atuação de profissionais não capacitados para elaboração de projetos
específicos e bem dimensionados. O motivo é justamente o despreparo dos engenheiros civis
em decorrência à pouca atenção dada ao tema pelas universidades brasileiras nesta área,
acarretando uma fuga com relação ao projeto e execução de obras com este material. Gera-se,
então, obras vulneráveis a diversos tipos de patologias, culminando em uma mentalidade social
errônea sobre o mesmo (GESUALDO, 2003).
Neste cenário, surge a madeira como um material totalmente renovável e que, quando
utilizada na produção de bens duráveis, é um material que fixa o carbono em sua estrutura (IPT,
2009), representando cerca de 50% de sua estrutura molecular (PFEIL, 2003), o que ajuda a
mitigar os efeitos do aquecimento global (IPT, 2009).
Ademais, quando se trata de madeira, a extração de matéria prima e seu processamento
para utilização na construção, deve se ter em conta que é um processo que necessita de
18

pouquíssima energia, tornando-o ainda mais atraente (GESUALDO, 2003). Desse modo, se faz
importante o estudo da viabilidade na utilização deste material de forma disruptiva em relação
à mentalidade imposta pela sociedade brasileira e sul-americana.
Nesse intuito, o trabalho pretende fazer uma análise técnica da madeira disponível no
mercado para uso da construção civil no município de Iraí/RS. Suposto, este trabalho tem como
objetivo responder os seguintes questionamentos: tanto do ponto de vista da indústria, quanto
do engenheiro, como fazer para se obter uma matéria prima e/ou produto de madeira durável
com qualidade mínima assegurada de forma racional e técnica? Como proceder, desde que as
árvores chegam na indústria em forma de tora, até se obter o nível de qualidade suficiente para
se pensar em construir produtos duráveis em madeira?
Primeiramente, a pesquisa apresenta diversos aspectos que influenciam diretamente a
matéria prima e seus produtos, em suas utilizações finais as quais foram previamente definidas.
Para tal, realizou-se uma revisão bibliográfica reunindo o conhecimento necessário para
analisar o material de forma técnica.
Esta, apesar de ter sido realizada de forma ampla, desviou-se de alguns tópicos que
certamente enriqueceriam o objetivo do trabalho. Porém, devido ao fato de serem assuntos
muito extensos e ainda considerando a visita à indústria na qual foi realizado o estudo de caso,
muitas informações adquiridas in loco asseguraram a obtenção dos resultados satisfatórios desta
pesquisa.
Todavia, buscou-se aliar diversas análises em um estudo de caso, visando uma forma
de aplicar tais conhecimentos. Em decorrência disso, e fundamentado nos diversos tópicos
apresentados e normas regulamentadoras, se obtiveram dados com base científica para análise
técnica dos produtos disponíveis no comércio gerando um diagnóstico da atual situação da
cadeia produtiva da madeira na indústria no município em estudo.
Por último, realizaram-se as considerações sobre a análise técnica acerca do estudo de
caso, gerando as conclusões sobre o assunto, além de expor brevemente tópicos que não
puderam ser abordados no presente trabalho, resultando nas devidas sugestões para futuros
trabalhos no rumo da madeira.
19

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo geral

Analisar tecnicamente a madeira disponível no mercado para utilização na construção


civil no município de Iraí/RS.

1.1.2 Objetivos específicos

• Reconhecer a identificação macroscópica da madeira, seus principais agentes


biodeterioradores e principais patologias decorrentes dos mesmos, a forma como a
madeira seca e principais métodos de secagem, produtos preservativos e métodos de
tratamento;
• Realizar estudo de caso em empresa, no município de Iraí/RS, a fim de reconhecer todo
o processo produtivo e obter amostras de madeira para análise técnica;
• Expor e analisar resultados de estudo de caso fazendo diagnóstico da situação e
propondo melhorias, se necessário for.

1.2 JUSTIFICATIVA

Sendo comumente imaginado como um material fraco, pouco durável e de qualidade


inferior em comparação a outros, como o concreto armado, aço e alvenaria, a madeira de
reflorestamento, com secagem e tratamento adequado, além de ganhar muita competitividade
técnica, se torna um potencial mitigador dos efeitos do aquecimento global quando utilizada na
produção de bens duráveis (IPT, 2009).
Por outro lado, apesar de o ser humano ter utilizado ativamente a madeira para
construir as primeiras residências em seus primórdios (LOURENÇO e BRANCO, 2013), é
perceptível a redução drástica da utilização do material atualmente. Tornou-se corriqueiro, nas
últimas décadas, construções em estruturas de concreto armado, de alvenaria ou, até mesmo, de
aço, o que traz à tona a realidade sobre a escassez de profissionais capacitados com
conhecimento suficiente para trabalhar com a madeira (GESUALDO, 2003).
Apesar de deixar de lado a motivação pelo qual este fenômeno ocorre, o presente
trabalho teve por objetivo analisar tecnicamente a madeira que é utilizada na construção civil,
focando principalmente nos produtos comercializados em serrarias e indústrias madeireiras de
pequeno e médio porte, sem extensa industrialização. O intuito é justamente expor a falta de
20

conhecimento técnico que existe no processo industrial até a obtenção dos produtos
comercializados para a construção civil, assim como, a falta de controle de qualidade por parte
de quem a adquire, principalmente construtores. Portanto, a originalidade deste trabalho se dá
em aproximar este conhecimento aos profissionais interessados que utilizam a madeira em seu
cotidiano.
A importância deste estudo é dada visto que existe uma grande área do conhecimento
negligenciada no mercado atual da construção civil, o que reflete em fuga por parte dos
profissionais que deveriam estar capacitados para usá-lo. Este fato abre brecha no mercado para
trabalhadores que, muitas vezes, com pouco ou nenhum conhecimento técnico, geram serviços
e produtos ineficientes, defeituosos e com baixa durabilidade, o que afasta a sociedade em geral
da construção baseada em madeira, pelo menos no tocante ao âmbito nacional, contribuindo
com a ideia inicial de que a madeira é um material inferior aos demais disponíveis no mercado
(GESUALDO, 2003).
A possibilidade de se realizar este estudo é concreta, visto que se têm acesso às Normas
Regulamentadoras Brasileiras (NBR) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
relacionadas ao assunto; à bibliografia, como: livros, manuais técnicos, normas
regulamentadores estrangeiras, notas de aula e demais conteúdos pertinentes, encontrados
gratuitamente através da Internet e; ao mercado madeireiro da cidade em estudo. Ademais, foi
possível adquirir, com recursos próprios, os materiais necessários para a realização do estudo
de caso, visto que são ferramentas relativamente simples e de baixo custo.
Vale ressaltar que não houve tempo hábil para adentrar em alguns aspectos do assunto
estudado, visto que são subtópicos bastante extensos. Exemplo disso são: a identificação
microscópica e microestrutura anatômica de madeiras; a secagem artificial de madeiras;
produtos preservativos antichamas; defeitos naturais da madeira; máquinas utilizadas no
processo industrial da madeira; alguns aspectos não abordados da caracterização física da
madeira, como a densidade, além de propriedades térmicas, elétricas e acústicas; produtos de
madeira para a construção civil e; composição química da madeira.
21

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 HISTÓRICO DO USO DA MADEIRA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

No final do período Neolítico, o clima glacial se atenua. Isso proporciona condições


mínimas para que o homem, que naquele então buscava abrigo em cavernas desprovidas de
qualquer alteração artificial, ou seja, que não tenha sido de autoria da própria natureza,
direcione suas atividades ao exterior.
Esta possibilidade transforma sua forma de viver e o torna um ser mais sedentário.
Assim, com o aumento progressivo da produção de alimentos, algumas pessoas conseguem se
ver livres do cultivo no campo e começam, em um longo processo, a desenvolver as primeiras
edificações idealizadas pelo ser humano (ALONSO PEREIRA, 2010).
A técnica e a arte de trabalhar a madeira tem evoluído desde o aparecimento do ser
humano, o qual iniciou um processo manual e primitivo, até se converter na engenhosa indústria
madeireira dos tempos atuais (LOURENÇO e BRANCO, 2013). Por consequência, acredita-se
na construção civil, que a madeira seja o material mais antigo utilizado pelos seres humanos,
devido à sua vasta abundância na natureza e sua facilidade de manuseio (PFEIL, 2003).
O uso da madeira decorre em cada civilização, singular e independentemente, de
acordo com as características e necessidades da mesma e, claro, às condições naturais de onde
se instala, como: o clima, a ocorrência de desastres naturais, disponibilidade de matéria prima,
entre outros.
Da pré-história, conhecem-se diversas construções que serviram de habitação para o
ser humano. Alguns exemplos são a cabana, a palafita e os terramares. Em muitos lugares ao
redor do globo, bastava uma armação de ramos, coberta com folhas ou cascas de árvores para
criar uma habitação. Estes ramos, por vezes substituídos por pequenos troncos, foram os
precursores das estruturas de madeira atuais (LOURENÇO e BRANCO, 2013).
A partir desta ideia, é conveniente lembrar os castros celtas, povoados fortificados
construídos no primeiro milênio a. C., cujas moradias com planta circular e telhado de palha
sustentado com vigas de madeira (ALONSO PEREIRA, 2010) são um dos primeiros registros
da utilização da madeira como material de construção.
Séculos depois, já na cultura japonesa, a utilização da madeira adquire um significado
mais profundo, sendo associada, também, ao respeito e preservação da natureza. Como, naquele
país, não existe matéria prima provinda de reflorestamento com rápido crescimento como no
22

Brasil, por exemplo, este material deve ser utilizado com a maior eficiência e durabilidade
possível (ISHIKURA, 2015).
Seguindo esta crença, as construções realizadas em madeira pelos japoneses devem
ter, pelo menos, a mesma vida útil que a idade da árvore que foi derrubada para tal, afim de
quitar o débito moral criado com a natureza (ISHIKURA, 2015). Isto justifica a necessidade
que os mestres carpinteiros, como são chamados os profissionais especializados no manuseio
da madeira, tem em obter vasto conhecimento sobre o material.
A escolha cuidadosa das árvores a serem utilizadas, a época de corte, o tratamento por
lixiviação em água corrente, a fundação elevada do nível do terreno, a boa ventilação da
estrutura para combater a umidade e, claro, a manutenção adequada para a estrutura
(ISHIKURA, 2015) são conhecimentos e práticas indispensáveis para um mestre carpinteiro e,
possivelmente, algumas das principais virtudes do trabalho preciso e coerente na construção de
inúmeras edificações centenárias que se ergueram durante centenas de anos, o que torna estas
obras icônicas, sustentáveis e, principalmente, duráveis.
Assim, todavia que exposta brevemente, já é possível perceber, de forma nítida, a
relação próxima que o ser humano desenvolveu com a madeira ao longo de sua história.
Segundo Lourenço e Branco (2013), a preferência por este material se deve, sobretudo, às suas
propriedades físicas e mecânicas que proporcionaram, num produto final, conforto térmico e
grande aptidão estética, associadas a um baixo consumo de energia para sua transformação.
Aliás, a madeira é um material estrutural que permite desenvolver soluções criativas,
inovadoras e robustas, com altíssima qualidade, visando solucionar os mais diversos desafios
arquitetônicos. Resultado disso é o surgimento, nos últimos tempos, de vários produtos
derivados que tem por objetivo minimizar as limitações naturais de seu emprego. Estes visam
a padronização e normalização do material de forma a permitir à indústria um contínuo
crescimento na garantia de qualidade dos mesmos (LOURENÇO e BRANCO, 2013).

2.2 IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DE MADEIRA

Em coletas botânicas feitas em áreas florestais de empresas madeireiras no Pará,


verificou-se que diferentes espécies estavam, com bastante frequência, sendo agrupadas em um
mesmo nome vulgar. Essa prática acompanha o percurso de transformação da matéria prima,
muitas vezes trocando o nome das espécies durante o mesmo, tendo um na floresta, outro na
serraria e outro no comércio, a depender da demanda externa (FERREIRA et al., 2004).
23

Neste contexto, o ramo da ciência botânica que se dedica à caracterização e


identificação de espécies tem se mostrado muito importante, auxiliando, cientificamente, no
reconhecimento e identificação de madeiras e/ou árvores com bom grau de segurança e
confiabilidade. Assim, serão expostos os meios práticos indispensáveis para o diagnóstico de
espécies de árvores de interesse econômico afim de facilitar as atividades nas mais diversas
áreas de conhecimento no qual possam ser aplicados (BOTOSSO, 2011).

2.2.1 Espécies arbóreas produtoras de madeira

Segundo Florsheim (et al., 2020) há dois grupos botânicos distintos de plantas que
produzem madeira: as Gimnospermas e as Angiospermas. As Gimnospermas, ou “folhosas”
como são popularmente conhecidas, tem como características folhas estreitas, finas, alongadas,
na maioria das vezes aciculares, em feixes de 2 a 4 e pontiagudas. Já as Angiospermas, ou
dicotiledôneas, possuem as sementes envolvidas pelo seu fruto e suas folhas possuem formas
variadas, o que ajuda na identificação e diferenciação das espécies.

2.2.1.1 Gimnospermas

As Gimnospermas possuem como característica o que se chama de madeira “macia”.


O tronco destas árvores usualmente possui formato cônico, assim como suas copas, dando
origem ao seu popular nome: “coníferas”. Estas têm uma ocorrência maior no hemisfério Norte,
tendo uma variedade de espécies menor em comparação às Angiospermas (FLORESHEIM et
al., 2020).

2.2.1.2 Angiospermas

Já as Angiospermas são madeiras caracterizadas como mais “duras”. Também


chamadas de dicotiledôneas, estas predominam na mata brasileira, com aproximadamente
31.200 espécies. Recentes estudos na Floresta Amazônica apontam a que existem cerca de
11.120 espécies de árvores as quais alcançam, pelo menos, 10 centímetros de diâmetro de DAP
(diâmetro à altura do peito) ao atingir idade reprodutiva (FLORSHEIM et al., 2020).
24

2.2.2 Nomenclatura

2.2.2.1 Nome científico

Segundo Florsheim (et al., 2020) é uma ferramenta utilizada por especialistas para
nomear seres vivos e possibilitar seu reconhecimento ao redor do mundo sem equívocos.
Geralmente é utilizada uma identificação de dois nomes, ou seja, um binome. O
primeiro diz respeito ao gênero (nome genérico) e o segundo à espécie (específico).

2.2.2.2 Espécie

É compreendido por especialistas como organismos que possuem características


individuais similares em forma e estrutura (FLORSHEIM et al., 2020).

2.2.2.3 Nome popular

É o nome dado pela própria população de uma dada região para uma determinada
espécie ou grupo de árvores. Este, segundo Florsheim et al. (2020) não possui embasamento
científico e é dado devido à alguma característica visível, seja em sua casca, folhas, flores ou
até mesmo propriedades medicinais.
Tal nome pode variar de região para região. Exemplo disso é a Dipteryx alata, também
conhecida popularmente como cumaru, cumbaru ou barujo (FLORSHEIM et al., 2020).

2.2.3 Estrutura anatômica da madeira

Segundo Florsheim (et al., 2020), o xilema secundário, mais conhecido como lenho,
é um material orgânico e heterogêneo, de estrutura complexa, com diferentes tipos de células
geralmente orientadas no sentido perpendicular ao eixo do tronco e paralelas entre si.

2.2.3.1 Macroestrutura

Segundo Pfeil (2003), as árvores que produzem madeira para construção são
exogênicas, ou seja, crescem pela adição de camadas externas sob a casca. Assim sendo, é
possível descrever cada camada de uma seção transversal (Figura 1), a qual é constituída, de
fora para dentro, por: casca, alburno (ou branco), cerne (ou durâmen) e medula (PFEIL, 2003).
25

Figura 1 - Diferentes regiões do tronco: A = medula; B = cerne; C = alburno; D = casca

Fonte: Florsheim et al., 2020

2.2.3.1.1 Casca (líber)

Corresponde a uma camada morta que protege a árvore do meio exterior. A largura
desta pode variar conforme o tempo e espécie (PFEIL, 2003), e é constituída pela periderme
(felema, felogênio e feloderme) (FLORSHEIM et al., 2020). Ademais, esta casca possui ainda
uma camada fina interna, de tecido vivo, que tem por objetivo transportar alimento
(fotossintatos) preparado nas folhas para as partes da árvore em desenvolvimento (PFEIL,
2003), a qual é chamada de floema (FLORSHEIM et al.,2020).
Ainda, vale ressaltar que esta possui características específicas para cada espécie de
árvore, podendo variar sua cor, espessura, textura e aspecto em geral, muito importantes para
correta identificação de árvores vivas (FLORSHEIM et al.,2020).

2.2.3.1.2 Câmbio vascular

O câmbio vascular é basicamente uma fina camada, visível apenas em microscópio a


qual é responsável pela produção de novos elementos celulares, sendo o xilema (ou lenho) para
dentro e a floema para fora. Este permanece ativo durante toda a vida da árvore (FLORSHEIM
et al.,2020).

2.2.3.1.3 Lenho ou xilema secundário

2.2.3.1.3.1 Alburno ou branco


26

Segundo Pfeil (2003) esta camada, que segue ao câmbio vascular e geralmente possui
de 3 a 5 centímetros, é formada basicamente por células vivas que conduzem a seiva das raízes
para as folhas (PFEIL, 2003).
Estas, que dão uma coloração clara ao alburno, precisam estar desobstruídas para que
sua funcionalidade não seja afetada, fornecendo um fluxo ascendente de substâncias nutritivas,
razão pela qual é geralmente atacada por agentes deterioradores (como fungos e insetos
xilófagos). Assim sendo, esta região é a que melhor recebe produtos preservativos durante o
processo de tratamento da madeira, o que ajuda a garantir a longevidade da peça (FLORSHEIM
et al.,2020).

2.2.3.1.3.2 Cerne
Após o alburno, a próxima camada do lenho é o cerne. Este possui uma coloração mais
escura com relação ao alburno, devido a possuir células que já perderam sua função condutora,
o que se denomina células sem atividade vegetativa. Tal cor escurecida é dada pela formação
de extrativos (óleos, resinas e depósitos) durante seu processo de formação. Quando as células
nesta região da madeira estão obstruídas por estes extrativos, isto acaba fornecendo uma maior
resistência ao tronco da árvore, o que posteriormente acaba dificultando o processo de
tratamento dela com produtos preservativos e devida secagem.
Nestes casos, mesmo com tratamento sob pressão em autoclave, praticamente não há
absorção de produto preservativo. Isto indica que a madeira possui um cerne durável,
característica de madeiras chamadas popularmente de “madeira de lei”, termo este que surgiu
na época do Brasil Colônia quando algumas espécies, as quais geralmente possuíam esta
característica, foram proibidas por lei de serem comercializadas. O termo é utilizado até hoje
para identificar madeiras como boas propriedades físicas, mecânicas e biológicas
(FLORSHEIM et al., 2020).

2.2.3.1.3.3 Medula
Tecido macio (PFEIL, 2003) parenquimático, localizado no centro do tronco, onde é
armazenado substâncias nutritivas. Pode deteriorar-se com o tempo, tornando-se apenas um
vazio.
Devido ao fato de localizar-se na região central do tronco, pode apresentar alguma
excentricidade quando ele possuir algum tipo de inclinação (FLORSHEIM et al., 2020).
27

2.2.4 Identificação de madeiras

Florsheim (et al., 2020) explica que a identificação de uma árvore, ou seja, sua
classificação taxonômica, é feita levando em consideração suas características morfológicas,
como cascas, folhas, etc., além de seus órgãos reprodutores, geralmente constituídos por flores
e frutos. Entretanto, quando uma árvore é derrubada e, em seguida, sua madeira desdobrada,
fazendo-a perder tais características morfológicas, a sua identificação por este meio fica
impossibilitada de acontecer.
É neste momento que é possível notar a importância de se conhecer as características
anatômicas da madeira, a fim de realizar a identificação da mesma com certo grau de
confiabilidade. Desta forma, surgem duas vertentes no processo de identificação: a abordagem
macroscópica e a microscópica (FLORSHEIM et al., 2020).
Botosso (2011) afirma que a utilização de um processo ou outro, ou até mesmo sua
aplicação simultânea, depende da estrutura existente no local de trabalho e da capacidade do
profissional que realizará a identificação da madeira.
Ademais, este reforça a importância de que se tenha acesso a um acervo de madeiras
onde os exemplares tenham sido corretamente identificados, e que os mesmos sejam rastreáveis
às amostras-padrão disponíveis em acervos institucionais (xilotecas) ou laboratórios
especializados (BOTOSSO, 2011).

2.2.4.1 Abordagem macroscópica

A identificação macroscópica, em comparação à microscópica, tem a vantagem de


requerer simples instrumentos e possuir maior praticidade e rapidez, possibilitando sua
execução em praticamente qualquer lugar. É este procedimento que possibilita a identificação
da maior parte das espécies comerciais no Brasil nos dias de hoje. Entretanto, esta pode ter
algumas restrições com relação a espécies de árvores pouco conhecidas, muito similares às
conhecidas ou, ainda, com certo grau de dificuldade de reconhecimento, visto que sua precisão
se restringe à determinação do gênero ao qual pertence a madeira.
Vale ressaltar que, quando necessária uma avaliação mais detalhada da estrutura
anatômica, necessitando a identificação da espécie botânica com segurança a nível científico,
ou mesmo nos casos em que a identificação realizada não atinge o nível de segurança desejado,
faz-se necessária a adoção da abordagem microscópica de análise (BOTOSSO, 2011).
28

Esta abordagem se subdivide em duas formas de identificação: a sensorial e a


anatômica. A sensorial é utilizada por diversos conhecedores práticos, como carpinteiros,
marceneiros, moveleiros, escultores, entalhadores, entre outros. Já a anatômica é feita através
da análise das características da madeira a olho nu ou através de uma lupa com até 10 vezes de
aumento (FLORSHEIM et al., 2020).

2.2.4.1.1 Identificação sensorial ou organoléptica

São conhecidas como propriedades organolépticas as características que podem ser


percebidas pelos 5 sentidos do ser humano: tato, olfato, visão, paladar e audição. Assim sendo,
estes sentidos englobam cor, odor, gosto, textura, brilho, grã, peso, dureza e textura da madeira
(BOTOSSO, 2011). Entretanto, apesar de serem a primeira coisa a qual se percebe, precisam
ser deixadas em segundo plano, visto que a maioria das espécies possuem semelhanças nestes
quesitos (FLORSHEIM et al., 2020).

2.2.4.1.1.1 Cor
Florsheim (2020) considera que a maior parte das espécies de madeira possuem uma
variação de cor entre o cerne, que é a região central do tronco onde ficam as células inativas da
árvore, e o alburno, região que circunda o cerne, indo até o câmbio vascular (FLORSHEIM et
al., 2020). Esta variação natural na coloração é proporcionada pelo acúmulo de substâncias
orgânicas nas células e paredes celulares do próprio cerne (BOTOSSO, 2011).
No Brasil, por exemplo, existe uma grande variação na cor dos cernes das árvores
encontradas no país. Dentre elas, encontra-se o esbranquiçado do pau-marfim, o enegrecido do
pau-santo, o amarelado do pau-amarelo, marrom acastanhado para o cerne do mogno, bege-
rosado para a peroba-rosa e avermelhado para o conduru. Todavia, existem cernes os quais
possuem cores intrínsecas, como por exemplo o arroxeado do pau-roxo, o rajado para o
angelim-rajado e o aspecto fibroso da sucupira (o qual realça as fibras escuras dentre as células
de parênquima axial, que são claras) (FLORSHEIM et al., 2020).
Na questão da avaliação desta cor, Botosso (2011) afirma que esta deve ser observada
em uma superfície longitudinal tangencial (também chamada de transversal) do cerne, exposta
ao ambiente o mais recentemente possível, devido a que algumas espécies de madeira que
podem vir a sofrer uma oxidação em decorrência à exposição ao ar, à luz (BOTOSSO, 2011) e
à alguns metais (FLORSHEIM et al., 2020).
Assim, para observação de sua coloração, a madeira precisa ser raspada com uma faca,
grosa ou lixa. Como critério de identificação a cor é bastante limitada, visto que se tem diversas
29

categorias (BOTOSSO, 2011), as quais algumas foram citadas anteriormente. Portanto, devido
a tal subjetividade nesta avaliação, é recomendado a utilização do reconhecimento desta
característica em conjunto com outras, melhorando sua confiabilidade.
Uma curiosidade que é mencionada por Florsheim (et al., 2020), em comparação às
madeiras de cerne claro, as espécies de madeira que possuem cerne escuro são mais duráveis,
devido a depósitos de taninos e resinas que as tornam mais resistentes ao ataque de xilófagos.
No tocante à coloração, esta deve ser observada no plano longitudinal do cerne recém
exposto (descrevendo de forma distinta a cor do cerne e do alburno quando houver diferença)
e especificada conforme a escala de cores de Munsell (Color Charts for Plant Tissue). A seguir,
Figura 2 com cores possíveis (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 2 - Compilado de figura 43 à 53 de Florsheim et al., 2020

Fonte: Autoria própria, 2022.

2.2.4.1.1.2 Odor e gosto


Certas espécies de árvore possuem odor e gosto característicos em seu cerne devido à
presença de substâncias voláteis, ocorrência que pode facilitar sua identificação (FLORSHEIM
et al., 2020). Vale ressaltar, também, que tanto o gosto como odor, além de serem características
bastante úteis na identificação de certas espécies arbóreas, estão intrinsecamente relacionadas
pelo fato de terem origem nas mesmas substâncias contidas pelas madeiras (BOTOSSO, 2011),
motivo pelo qual ambas aparecem descritas no mesmo item no presente trabalho.
30

Com relação ao paladar, Botosso (2011) afirma que madeiras com elevado teor de
tanino geralmente apresentam um gosto mais amargo. Todavia, outras espécies de árvores
podem apresentar sabor adocicado (BOTOSSO, 2011) adstringente e ácido (FLORSHEIM et
al., 2020).
O odor é uma característica bastante difícil de definir. Como procedimento a ser
adotado, deve ser levado em conta que a superfície precisa estar exposta ao ar o mais
recentemente possível devido à volatilidade de algumas substâncias contidas na madeira.
Todavia, é possível realçar tal odor raspando, cortando ou até umedecendo novamente a
superfície (BOTOSSO, 2011).
Além disso, o cheiro pode ser subdividido em duas vertentes: distinto e indistinto.
Quando é classificado como distinto (BOTOSSO, 2011), o mesmo pode ainda ser denominado
como agradável ou desagradável (FLORSHEIM et al., 2020). Tal característica pode valorizar
ou limitar o uso de uma espécie para determinado fim (BOTOSSO, 2011).
Vale lembrar, ainda, que apesar de tais propriedades serem bastante úteis no processo
de reconhecimento da madeira, alguns cuidados precisam necessariamente ser tomados para
sua determinação.
Em nenhuma hipótese deve-se cheirar e/ou provar uma madeira que esteja tratada ou
qualquer produto advindo da própria madeira, visto que estes podem conter substâncias
desconhecidas que podem ocasionar reações adversas ao ser humano. Mesmo nos casos em que
se tem conhecimento sobre tais substâncias, não é recomendado tal contato visto que não é
possível saber seu grau de pureza ou esterilidade, podendo estar biologicamente contaminado
(BOTOSSO, 2011).
Para fins de identificação da madeira com relação ao odor, recomenda-se que este seja
citado apenas quando for característico, podendo ser classificado como:
• Presente;
• Agradável;
• Desagradável e;
• Ausente.
Ademais, vale ressaltar que, para fins de ressaltar o odor da madeira, pode ser feito
polimento e umedecimento da amostra (FLORSHEIM et al., 2020).
Todavia, para fins de identificação no tocante ao paladar, também se recomenda a
citação dele apenas nos casos em que o gosto for característico, podendo ser classificado como:
• Amargo;
31

• Adocicado;
• Ácido e;
• Ausente.
Sempre relembrando os cuidados necessários para testes de odor e paladar, podendo a
madeira resultar tóxica para o ser humano (FLORSHEIM et al., 2020).

2.2.4.1.1.3 Grã
A orientação das estruturas e fibras do lenho em relação ao eixo do tronco principal,
que é vertical com relação ao solo e que ocorre devido ao crescimento da própria árvore, é
chamada de grã (FLORSHEIM et al., 2020).
A variação natural que ocorre nestas estruturais axiais é causada por diversos fatores
ambientais e ecológicos a que as árvores estão sujeitas durante o processo de crescimento, o
que acaba originando diversos tipos de grãs (BOTOSSO, 2011). Além disso, essas variações
podem ocorrer devido a tratamentos químicos e, inclusive pela inclinação do terreno, podendo
afetar negativamente em diversos aspectos da madeira, como: resistência mecânica,
deformações de secagem e dificuldade na trabalhabilidade (FLORSHEIM et al., 2020).
Florsheim (et al., 2020) indica que as grãs podem ser direitas ou irregulares. Elas são
direitas quando as células de seu lenho estão orientadas paralelamente ao eixo vertical do tronco
(Figura 3.A). Já quando são irregulares, o alinhamento destas células não coincide com o eixo
longitudinal da peça de madeira. Dentre as grãs irregulares, podem ser citados quatro tipos de
ocorrência: a helicoidal, a revessa, a ondulada (Figura 3.B) e a inclinada.
Na helicoidal, tem-se a orientação das células em forma, como o próprio nome diz,
helicoidal em relação ao eixo longitudinal, a qual geralmente pode ser observada devido à forma
retorcida da madeira depois de retirada a casca (FLORSHEIM et al., 2020).
Já na entrecruzada, ou revessa (BOTOSSO et al, 2020), tem-se uma grã orientada em
diversas direções, o que acarreta mudanças na direção do tronco. A ondulada é orientada em
forma sinuosa em relação ao eixo longitudinal da peça, entretanto isso acontece regularmente,
diferenciando-se da revessa (FLORSHEIM et al., 2020).
Por último, tem-se a inclinada, também chamada de diagonal ou oblíqua (BOTOSSO
et al., 2011), a qual possui células orientadas em diagonal com relação ao eixo vertical da peça,
o que é visto geralmente em árvores de tronco cônico (FLORSHEIM et al., 2020).
Sua classificação, pode ser dada a seguir e resumida na Figura 4:
• Regular;
• Irregular;
32

o Helicoidal;
o Revessa (entrecruzada);
o Ondulada e;
o Inclinada.
Figura 3 - Tipo de grã (plano longitudinal): A = grã direita, B = grã ondulada

Fonte: Florsheim et al., 2020.


Figura 4 - Tipos de grã, sua descrição e exemplos de madeiras onde podem ser encontradas

Fonte: Botosso, 2011.

2.2.4.1.1.4 Textura
A textura é a aparência de uma determinada superfície, a qual permite identificar a
árvore. Quando se toca, é possível perceber sua rugosidade, maciez, lisura, aspereza ou
ondulações. Portanto, a textura é tanto uma sensação visual quanto tátil, sendo esta produzida
33

pelas dimensões, organização e porcentagem de diversos elementos estruturais encontrados no


lenho (BOTOSSO, 2011).
Então, para Florsheim (et al.,2020) as árvores podem apresentar muitas variações em
sua estrutura anatômica, seja no que diz respeito à quantidade ou proporção da mesma, o que
reflete diretamente em sua textura.
Nas Angiospermas (ou folhosas) esta textura está intrinsicamente relacionada ao
diâmetro de seus vasos e à largura dos raios. Estas podem ser classificadas como finas, médias
ou grossas. Já nas Gimnospermas (ou coníferas) a textura tem relação com a espessura e à
regularidade dos anéis de crescimento. A espessura, que tem a ver com a nitidez e contraste dos
mesmos, pode ser classificada como grossa ou fina (FLORSHEIM et al., 2020).
Apesar desta característica possibilitar sua percepção visualmente, recomenda-se que
sua delimitação precisa seja realizada microscopicamente (BOTOSSO, 2011).
Florsheim (et al., 2020) explica que para classificar a textura, devem ser utilizados os
seguintes parâmetros:
• Fina: o diâmetro tangencial dos vasos é menor que 0,1 mm;
• Média: o diâmetro tangencial dos vasos é de 0,11 a 0,3 mm;
• Grossa: o diâmetro tangencial dos vasos é maior que 0,31 mm.
Obs.: no caso em que a madeira apresente uma coloração tal em que as fibras são
escuras e o parênquima axial é claro, deve ser classificada como textura fibrosa (FLORSHEIM
et al., 2020).
Na Figura 5, tem-se um resumo de cada característica com sua descrição, além de
algumas espécies de madeira que as possuem.
34

Figura 5 - Tipos de textura, sua descrição e exemplos de madeiras onde podem ser encontradas

Fonte: Botosso, 2011.

2.2.4.1.1.5 Brilho e desenho


O brilho é, basicamente, a capacidade de um determinado material em refletir a luz
que incide sobre sua superfície. Sendo assim, Botosso (2011) afirma que inúmeras madeiras
apresentam brilho natural, que deve ser observado sempre em uma superfície longitudinal, livre
de verniz ou cera, sendo a face longitudinal radial a mais reluzente na maioria dos casos
(BOTOSSO, 2011).
O desenho, por outro lado, é característica das figuras formadas nos planos
longitudinais das peças de madeira, onde pode ser identificado contrastes na coloração entre as
fibras e o parênquima axial, sendo os nós da própria madeira os causadores dos desenhos mais
bonitos (FLORSHEIM et al., 2020).
Este, assim como o brilho, são de grande importância estética pois distinguem a
madeira, proporcionando-lhe uma aparência decorativa única (FLORSHEIM et al., 2020). O
brilho da madeira, por exemplo, pode ser acentuado através de processos de polimento e/ou
35

acabamentos superficiais como seladores e vernizes. Entretanto, este fato é irrelevante no que
diz respeito à identificação das madeiras (BOTOSSO, 2011).
No tocante à classificação do brilho, o mesmo pode ser feito sendo mencionado sua
existência ou não, observando-se a superfície do cerne recém exposta:
• Com brilho e;
• Sem brilho.
O desenho, assim como o brilho, deve ser indicado sua existência ou não através da
observação no plano longitudinal tangencial do cerne, classificando-o como:
• Com desenho ou;
• Sem desenho (FLORSHEIM et al., 2020).
Na Figura 6 pode ser observado um exemplo de madeiras com e sem desenho.
Figura 6 - Desenho (plano longitudinal): A = com desenho, B = sem desenho

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.1.6 Densidade de massa ou massa específica


A densidade de massa, popularmente chamada de peso e dureza, é uma propriedade
física/mecânica da madeira que está intrinsecamente relacionada à quantidade de elementos
celulares, à espessura destes elementos e ao seu diâmetro (FLORSHEIM et al., 2020), ou seja,
à quantidade de material lenhoso por unidade de volume, ou quantidade de espaços vazios
contido nele (BURGER e RICHTER, 1991).
Esta possui um grande interesse na área de tecnologia da madeira, pois é justamente
dela que são definidas as propriedades tecnológicas do material (BOTOSSO, 2011).
Para fins de identificação macroscópica, a expressão popular que caracteriza a madeira
como pesada ou leve já é bastante útil. Exemplo de madeira leve, tem-se o cedrinho (Erisma
uncinatum), e de madeira pesada, a maçaranduba (Manilkara huberi, Sapotaceae) (BOTOSSO,
2011). Entretanto, é interessante observar a ocorrência de resinas, gomas, cristais, óleos, entre
outros, o que pode acarretar um aumento de peso do material (FLORSHEIM et al., 2020).
36

2.2.4.1.2 Identificação pelas características anatômicas

As características anatômicas macroscópicas, tais como parênquimas axiais e radiais,


vasos e camadas de crescimento, são vistas no topo (transversal) e no corpo (longitudinal) da
madeira. Estas podem ser vistas a olho nu ou com o auxílio de uma lupa de 10 vezes de aumento
(FLORSHEIM et al., 2020), utilizando-se uma faca ou similar para obtenção de superfície
transversal suficientemente nítida para essa observação (BOTOSSO, 2011).
Dessa forma, devido ao fato de que isoladamente as características organolépticas não
são suficientes para identificar com precisão a madeira (FLORSHEIM et al., 2020), muitos
aspectos anatômicos da mesma podem ser constatados para sua devida identificação,
valorizando este tipo de análise (BOTOSSO, 2011).
Tais aspectos estão relacionados à forma, tamanho e/ou distribuição das células, ou
seja, aos vasos, raios parenquimáticos e parênquima axial (BOTOSSO, 2011).

2.2.4.1.2.1 Materiais utilizados para análise


a) Lupa do tipo conta-fios, com aumento de 10 vezes.
Vale ressaltar que, para obtenção de imagens, a lupa deve ficar aproximadamente a
dois centímetros de distância da amostra (FLORSHEIM et al., 2020).
b) Faca de aço rápido, feita com pedaços de serra para cortar metais.
Vale ressaltar que este tipo de lâmina necessita de afiação com lixas d’água (de 420 a
1200 fina) ou pedra de amolar (carborundum). Ademais, é necessário a aplicação de lubrificante
para polir a mesma.
c) Escala para medição de elementos anatômicos, como vasos e raios.
Esta deve ser na cor azul ou similar que permita a medição tanto em madeiras claras
quanto escuras (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 7 - Lupa conta-fios com aumento 10x

Fonte: Autoria própria, 2022.


37

Figura 8 - Estilete para polimento da madeira

Fonte: Autoria própria, 2022.

2.2.4.1.2.2 Procedimento para preparo da amostra


Este procedimento de preparo inicia-se pelo polimento da amostra com a faca em seu
plano transversal (Figura 9.A). Quando se quer (ou é necessário) um polimento mais refinado,
pode ser utilizado uma lâmina de barbear ou até mesmo um estilete (Figura 9.B). Além disso,
sempre bom lembrar de tomar os devidos cuidados para não cortar o dedo durante o
procedimento, visto que ele fica na direção da lâmina (Figura 9.C e 9.D) (FLORSHEIM et al.,
2020).
Figura 9 - Corte com faca e lâmina de barbear

Fonte: Florsheim et al., 2020.


38

Outro aspecto a ser ressaltado é o fato de que, em decorrência do polimento, podem


vir a surgir marcas e/ou riscos na madeira, especialmente nos casos em que ela é dura ou possui
grande quantidade de parênquima axial, o que gera bastante atrito no deslizamento da lâmina.
Nesses casos, as marcas podem causar confusão na hora de identificar as estruturas
anatômicas da madeira, como raios e parênquima axial. Ademais, em madeiras macias, este
polimento pode acarretar o esmagamento destes elementos, gerando um efeito de amassado e
dificultando, assim, a visualização dos vasos no plano transversal (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 10 - Representação esquemática de seção de tronco, mostrando os planos de observação: X -
transversal, R – longitudinal radial, T – longitudinal tangencial

Fonte: Botosso, 2011


No caso em que a madeira esteja demasiadamente seca, a ponto de prejudicar a
visibilidade da estrutura anatômica, recomenda-se umedecê-la levemente. Assim, deve se
buscar uma posição na qual haja boa iluminação para que seja possível sua observação,
iniciando-se no parênquima axial (FLORSHEIM et al., 2020).
Após proceder extraindo as amostras de madeira no lote analisado, seja ele de tábuas,
sarrafos, pranchões, entre outros, e preparando-as corretamente nos planos transversal e
longitudinal tangencial, polindo-as através de faca afiada e refino com navalha ou estilete,
devem ser feitos três quadrados com a lupa de conta-fio em diferentes pontos da amostra no
plano transversal, ou seja, no topo, onde podem ser observados os vasos, raios e o parênquima
axial, posicionando uma das linhas do quadrado sobre o raio e mantendo-os alinhados, como é
mostrado na figura. Cada quadrado representará uma foto que será tirada e, posteriormente,
mandada para o laboratório de identificação de madeira (Figura 11).
39

Figura 11 - Amostra de madeira com os quadrados corretamente posicionados para obtenção de


fotos

Fonte: Florsheim et al., 2020.


Figura 12 - Posição correta da lupa sobre a amostra de madeira

Fonte: Florsheim et al., 2020.


Em conjunto, para complementar as fotos, no plano longitudinal tangencial, o qual é
obtido perpendicularmente aos raios do mesmo corpo de prova, será enviada apenas uma
imagem conforme Figura 12 (FLORSHEIM et al., 2020).

2.2.4.1.2.3 Metodologia de avaliação


Para elencar as características anatômicas da madeira, tanto qualitativas quanto
quantitativas, utilizou-se as seguintes referências: Botosso (2011) e Florsheim et al. (2020),
sendo que este último, por sua vez, utilizou Copant (1973), Wheeler et al. (1989) e Coradin &
Muniz (1992), todos devidamente referenciados no presente trabalho.
40

2.2.4.1.2.3.1 Parênquima axial


O parênquima axial pode ser definido como um tecido constituído por células de
paredes finas, o qual possui coloração mais clara que a parte fibrosa do lenho quando visto sob
lente em um plano transversal.
Este tem como função o acúmulo de reservas nutritivas e é uma das características
essenciais na identificação da família, gênero e até espécie da madeira, devido à existência de
seus diversos tipos (FLORSHEIM et al., 2020).
Em termos gerais, pode-se dizer que enquanto maior a abundância desse tecido
parenquimático (axial e radial), provavelmente, maior será sua leveza e menores sua resistência
e durabilidade natural (BOTOSSO, 2011).
Assim sendo, esta pode distinguir-se de quatro formas: apotraqueal, difusa, difusa em
agregados e paratraqueal. Como existem diversas denominações para diferenciar as inúmeras
formas com que estes quatro tipos básicos aparecem no lenho, o observador necessita se atentar
para tais classificações.
Além disso, pode haver a ocorrência de mais de um tipo de parênquima axial em uma
mesma madeira, devendo o observador determinar qual o tipo de maior ocorrência e adotar o
mesmo como característica da amostra analisada (BOTOSSO, 2011).

2.2.4.1.2.3.1.1 Visibilidade
Existem três hipóteses possíveis. Quando:
• este pode ser analisado a olho nu;
• quando este é distinto apenas sob lente com 10 vezes de aumento ou;
• quando o parênquima é indistinto mesmo sob a lente supracitada
(FLORSHEIM et al., 2020).

2.2.4.1.2.3.1.2 Contraste
Neste caso, trata-se do contraste entre a cor das fibras e do parênquima axial, sendo
possível classificá-lo de duas formas:
• Contrastado (Figura 13.A);
• Pouco contrastado (Figura 13.B);
41

Figura 13 - Contraste do parênquima axial

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.2.3.1.3 Disposição
A disposição do parênquima axial diz respeito à sua posição com relação aos vasos.
Assim, como dito anteriormente, é possível classificá-lo de duas formas: apotraqueal e
paratraqueal (BOTOSSO, 2011).
Todavia, vale lembrar que, dentro das classificações apotraqueal e paratraqueal,
existem diversos tipos de parênquima axial, os quais serão expostos, dentro dos dois tipos base,
a seguir (BOTOSSO, 2011):
• Apotraqueal: quando o parênquima axial não está ligado aos vasos;
o Difusa: quando as células do parênquima axial se distribuem de forma
isolada entre as fibras (Figura 14.A);
o Difusa em agregados: se dá quando as células do parênquima axial
tendem a formar pequenas linhas, as quais são curtas e interrompidas
(Figura 14.B) (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 14 - Parênquima axial apotraqueal

Fonte: Florsheim et al., 2020.


▪ Paratraqueal: ao contrário do tipo apotraqueal, denomina-se parênquima axial
paratraqueal aquele que (BOTOSSO, 2011) está ligado aos vasos
(FLORSHEIM et al., 2020).
42

o Paratraqueal escasso (Figura 15.A): são células de parênquima axial as


quais estão em contato com os vasos, formando bainhas incompletas ao
redor destes, não chegando a circundá-los completamente. Assim, este
tipo pode ser classificado como indistinto quando observado através de
lupa conta-fios (BOTOSSO, 2011).
o Paratraqueal vasicêntrico (Figura 15.B): se dá quando as células do
parênquima constituem uma bainha completa em torno de cada vaso
formando uma aréola (FLORSHEIM et al., 2020) de largura variável e
seção circular ou ovalada (BOTOSSO, 2011).
Figura 15 - Parênquima axial paratraqueal

Fonte: Florsheim et al., 2020.


o Paratraqueal aliforme: ocorre quando as células do parênquima
envolvem completamente os vasos formando uma espécie de asas
(FLORSHEIM et al., 2020) com expansões laterais (BOTOSSO, 2011).
▪ Paratraqueal aliforme losangular (Figura 16.A): quando se
formam prolongamentos laterais aos vasos em forma de
losangos (FLORSHEIM et al., 2020).
▪ Paratraqueal aliforme linear (Figura 16.B): as células do
parênquima axial que envolvem completamente os vasos
possuem, lateralmente, extensões laterais estreitas e alongadas
(BOTOSSO, 2011).
43

Figura 16 - Parênquima axial paratraqueal

Fonte: Florsheim et al., 2020.


▪ Paratraqueal aliforme confluente (17.A): se dá quando dois ou
mais vasos são envoltos pelas células do parênquima axial,
formando faixas irregulares coalescentes (BOTOSSO, 2011).
▪ Paratraqueal aliforme unilateral (Figura 17.B): é quando
parênquima axial, seja vasicêntrico, aliforme, confluente ou em
faixas, fica disposto em apenas um dos lados dos vasos
(FLORSHEIM et al., 2020), podendo estar limitado ao lado
externo (abaxial) ou interno (adaxial) dos vasos, ou seja,
voltado para a direção da casca das árvores ou em direção
oposta (BOTOSSO, 2011).
Figura 17 - Parênquima axial paratraqueal

Fonte: Florsheim et al., 2020.

• Parênquima axial em faixas (Figura 18.A): se dá quando as células do


parênquima axial podem, ou não, estar associadas com os vasos, sendo
regulares ou irregulares (FLORSHEIM et al., 2020).
• Parênquima axial em linhas (Figura 18.B): disposição do parênquima em linhas
perpendiculares aos raios, irregularmente espaçadas (BOTOSSO, 2011).
44

Figura 18 - Parênquima axial em faixa

Fonte: Florsheim et al., 2020.

• Faixas: disposição do parênquima em faixas perpendiculares aos raios,


irregularmente espaçadas (BOTOSSO, 2011).
o Reticulado (Figura 19.A): neste caso, as células do parênquima axial se
dispõem formando, juntamente com os raios, uma trama fina e regular,
sendo as linhas do parênquima axial e radial praticamente da mesma
largura e distância, formando algo muito semelhante a um quadrado
(FLORSHEIM et al., 2020).
o Escalariforme (Figura 19.B): se dá este nome por lembrar os degraus
de uma escada, justamente pelo fato de que as células do parênquima,
em linhas, são mais estreitas que as do parênquima radial (raios). Estas,
ainda, podem ser retilíneas ou curvilíneas (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 19 - Parênquima axial em faixa

Fonte: Florsheim et al., 2020.


o Marginal (Figura 20): neste caso, as células do parênquima axial estão
dispostas em sentido perpendicular aos raios, porém com seu
espaçamento regular, formando camadas contínuas de largura variável,
os quais demarcam os anéis de crescimento (BOTOSSO, 2011).
45

Figura 20 - Parênquima axial em faixa. Parênquima axial marginal

Fonte: Florsheim et al., 2020.


Obs.: vale ressaltar que pode haver uma mistura entre os padrões escalariforme e
reticulado em uma mesma madeira, o qual, como já foi alertado anteriormente,
prevalecerá como padrão sempre a que tiver maior frequência.

2.2.4.1.2.3.2 Parênquima radial


Segundo Botosso (2011), os raios parenquimáticos, popularmente conhecidos como
‘raios’, assim como o parênquima axial apresentam atividade metabólica similar,
desempenhando as mesmas funções, como armazenamento, transformação e condução de
substâncias que nutrem as árvores.
Os raios são células em disposição horizontal, alongada e de comprimento não
definido, orientando-se desde o centro em direção à periferia da árvore. Estes, ainda,
apresentam riqueza de detalhes e variações morfológicas as quais possuem grande valor na
questão da identificação de madeiras. Entretanto, muitas destas características apenas podem
ser observadas através de microscópio óptico (BOTOSSO, 2011).
Na identificação macroscópica, algumas características podem ser mais bem
observadas nos planos transversal e tangencial da madeira. Porém, sua visualização só é
possível a olho nu quando são muito altos, sendo classificados de largos a extremamente largos.
Assim, para este tipo de identificação, geralmente não é feita uma medição precisa da altura,
indicando apenas a presença de raios maiores que determinados limites de altura, expostos a
seguir (BOTOSSO, 2011).

2.2.4.1.2.3.2.1 Visibilidade no plano transversal


• Visível a olho nu;
• Visível somente sob lente de 10 vezes de aumento (FLORSHEIM et al., 2020).
46

2.2.4.1.2.3.2.2 Contraste no plano transversal


Refere-se ao contraste entre a cor das fibras e do parênquima axial.
• Contrastado;
• Pouco contrastado (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 21 - Contraste dos raios

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.2.3.2.3 Largura do raio no plano transversal


Esta medida é feita com auxílio de escala graduada, a qual deve ser posicionada em
cima do raio, verificando-se seu encaixe na linha em ultrapassar as laterais dela. Assim, os raios
podem ser classificados em:
• Finos: ≤ 0,05 mm;
• Médios: 0,06 a 0,1 mm;
• Moderadamente largos: 0,11 a 0,2 mm;
• Muito largos: 0,21 a 0,4 mm;
• Extremamente largos: ≥ 0,41 mm (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 22 - Largura de raio

Fonte: Florsheim et al., 2020.


47

2.2.4.1.2.3.2.4 Frequência de raios em 5 mm no plano transversal


Este parâmetro tem relação com o número de raios observáveis por milímetro linear e
deve ser medido com auxílio de escala graduada, sendo contados os raios que cortam
perpendicularmente uma linha de 5 mm (Figura 21). Assim, podem ser classificados como:
• Muito poucos: ≤ 25;
• Poucos: 26 a 50;
• Numerosos: 51 a 80;
• Muito numerosos: ≥ 81 (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 23 - Frequência de raios

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.2.3.2.5 Visibilidade no plano tangencial


• Visível a olho nu;
• Visível somente sob lupa conta-fios com aumento de 10 vezes (FLORSHEIM
et al., 2020).

2.2.4.1.2.3.2.6 Altura dos raios no plano tangencial


Esta deve ser medida utilizando-se uma escala graduada, devendo utilizar a mesma
escala para a largura dos raios, verificando se a altura total do raio excede a altura total da linha
(Figura 22).
• Baixa: raios com altura menor que 1 mm;
• Alta: raios com altura maior que 1 mm (FLORSHEIM et al., 2020).
Geralmente, para as espécies arbóreas gimnospermas (coníferas), a observação
macroscópica desta característica fica limitada devido a suas dimensões serem bastante
reduzidas. Isto exige uma observação microscópica (BOTOSSO, 2011).
48

Figura 24 - Altura de raio

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.2.3.2.7 Estratificação no plano tangencial


Os raios, quando formam faixas horizontais, podem ser regulares ou irregulares, tendo
a mesma altura ou possuindo estratos. Estes estratos também podem aparecer em outras
estruturas, como vasos, fibras e parênquima axial, porém, devido suas dimensões, dificilmente
podem ser observados na macroscopia. Assim, segundo Florsheim (et al., 2020), é possível
classificar a estratificação da seguinte forma:
• Estratificado
o Regular (Figura 23.A);
o Irregular (Figura 23.B);
• Não estratificado (Figura 23.C) (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 25 – Estratificação

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.2.3.2.8 Depósitos orgânicos no plano tangencial


São conteúdos escuros nos raios (Figura 24), vistos macroscopicamente, como pontos
enegrecidos no plano tangencial da madeira, os quais podem vir a ser confundidos com os
canais radiais (FLORSHEIM et al., 2020).
49

Figura 26 - Conteúdo escuro nos raios (setas)

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.2.3.3 Camadas de crescimento


Segundo Botosso (2011), em regiões de clima temperado os anéis de crescimento
representam o incremento anual das árvores, podendo-se estimar, através deles, a idade do
indivíduo. A cada ano, acrescenta-se um novo anel ao tronco, motivo pelo qual são
denominados anéis anuais ou camadas anuais de crescimento. Todavia, em regiões de clima
tropical e subtropical, pode ocorrer o surgimento de novas camadas pela variação das condições
ambientais as quais o indivíduo está submetido. Exemplo disso seriam períodos de chuva e
seca, inundações periódicas, baixas ou altas temperaturas, entre outras.
No tocante a característica anatômica, segundo Florsheim (et al., 2020), esta seria a
mais fácil de ser observada a olho nu (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 27 - Aspectos macro e microscópicos dos anéis de crescimento da Araucária Angustifolia (Pinheiro-
Do-Paraná)

Fonte: Botosso, 2011.


50

2.2.4.1.2.3.3.1 Plano transversal


• Distintas:
o Demarcadas por zonas fibrosas (Figura 28.A);
o Demarcadas por parênquima marginal (Figura 28.B) geralmente
espaçadas de maneira regular;
o Demarcadas por anel poroso (Figura 29.A);
o Demarcadas por anel semiporoso (Figura 29.B);
o Indistintas (Figura 29.C) (FLORSHEIM et al., 2020).
• Figura 28 - Camadas de crescimento

Fonte: Florsheim et al., 2020.


Figura 29 - Camadas de crescimento

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.2.3.4 Canais secretores


São estruturas celulares em forma de tubos que possuem comprimentos
indeterminados e que são revestidos por células parenquimáticas secretoras. Estes canais, que
geralmente são preenchidos por diferentes substâncias como resinas, gomas, entre outros,
apresentam um aspecto diferente aos vasos (poros). Estes canais podem ocupar posições no
sentido vertical (axiais) ou horizontal (radiais) da madeira.
51

Assim, mesmo encontrados tanto angiospermas como em gimnospermas, não ocorrem


em todas as espécies arbóreas, resultando em uma característica importante na identificação de
algumas madeiras (BOTOSSO, 2011).

2.2.4.1.2.3.4.1 Canal axial no plano transversal


Estando este canal associado às células parenquimáticas, deve ser constatado a
presença, ou ausência, e o tipo. Assim, estes podem ser classificados da forma a seguir:
• Normal
o Difuso (Figura 30.A);
o Em linhas tangenciais (Figura 30.B);
• Traumático (Figura 31) (FLORSHEIM et al., 2020).
52

Figura 30 - Canais secretores (setas)

Fonte: Florsheim et al., 2020.


Figura 31 - Canais traumáticos

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.2.3.4.2 Canal radial no plano tangencial


Este canal tem relação com as células do raio, as quais podem ser enxergadas a olho
nu como pontos enegrecidos em alguns raios (Figura 32.A). Para classificá-lo, basta mencionar
se estão presentes ou ausentes.
• Presente;
• Ausente (FLORSHEIM et al., 2020).

2.2.4.1.2.3.4.3 Tubos no plano tangencial


53

Segundo Florsheim (et al., 2020), estes podem ser laticíferos (Figura 30.B) ou
taniníferos (Figura 30.C). Geralmente são vistos sob aumento da lupa como pontos enegrecidos
em alguns raios, podendo, também, aparecer entre fibras.
Vale ressaltar que esta característica é de difícil visualização na macroscopia, por isso
geralmente não são diferenciados. Assim, para classificá-lo, basta com dizer estão presentes ou
ausentes.
• Presente;
• Ausente (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 32 - Estruturas secretoras (setas)

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.2.3.4.4 Canais intercelulares de origem traumática


Neste caso, sua ocorrência é esporádica devido à forma variada de como pode vir a
ocorrer (BOTOSSO, 2011).
Pode ser classificada como:
• Presente;
• Ausente.

2.2.4.1.2.3.5 Variações cambiais


O câmbio é um tecido visível apenas ao microscópio, chamado de meristemático, que
tem a capacidade de produzir elementos celulares. Este é constituído por uma camada de células
que se localiza, geralmente, entre o xilema e o floema (BURGER; RICHTER, 1991).
Em outras palavras, é possível afirmar que o câmbio é um tecido formador de xilema
e floema secundários, ou seja, madeira e casca, que permanece em atividade durante toda a vida
da árvore.
54

Em certas madeiras pode ser constatada a ocorrência de elementos considerados


importantes sob o ponto de vista diagnóstico e tecnológico, como: canais celulares e
intercelulares, células oleíferas, floema incluso, máculas, entre outros (BOTOSSO, 2011).

2.2.4.1.2.3.5.1 Floema incluso – Plano transversal


No caso de uma árvore, a casca é constituída em seu interior pelo floema, o qual é um
conjunto de tecidos vivos que conduzem a seiva elaborada, e no exterior pelo córtex, periderme
e ritidoma, os quais são tecidos que revestem o tronco.
A casca, para a identificação de árvores, é de suma importância e tem despertado cada
vez mais interesse da anatomia da madeira, pois contribui enormemente na distinção entre
espécies semelhantes (BURGER; RICHTER, 1991).
Além das funções supracitadas, o floema também proporciona uma camada de
proteção contra o ressecamento, alterações climáticas, impactos mecânicos e ataques por
agentes biológicos deterioradores.
Geralmente, o floema está localizado na parte externa da madeira, constituindo parte
da casca. Porém, em algumas espécies, pode ocorrer também na parte mais interna do tronco.
Nestes casos, o floema na parte mais interna é considerado uma peculiaridade normal para
determinados grupos vegetais, resultando em uma característica importante para seu
reconhecimento e devida identificação florestal (BOTOSSO, 2011).

2.2.4.1.2.3.5.1.1 Visibilidade do floema incluso – Plano transversal


O câmbio pode formar floema no lenho, sendo esta uma característica de poucas
famílias arbóreas. Assim, a visibilidade, segundo Florsheim (et al., 2020) pode ser classificada
da seguinte forma:
• Visível a olho nu;
• Visível somente com lupa conta-fios com aumento de 10 vezes (FLORSHEIM
et al., 2020).

2.2.4.1.2.3.5.1.2 Formas do floema incluso – Plano transversal


Podem ser classificadas da seguinte forma:
• Concêntrico (Figura 33.A): distribuído de forma circular (FLORSHEIM et al.,
2020), formando faixas concêntricas no lenho (BOTOSSO, 2011);
• Foraminado (difuso) (Figura 33.B): distribuído de forma aleatória
(FLORSHEIM et al., 2020), onde é observado muitos núcleos isolados de
floema no interior da madeira (BOTOSSO, 2011).
55

Figura 33 - Floema incluso

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.2.3.5.2 Máculas – Plano transversal


No xilema podem ser formadas máculas, as quais são respostas a impactos na região
cambial causados de diversas formas, como: ataques de agentes deterioradores, perda de folhas
por herbivoria, déficit hídrico, frio intenso, geadas, impactos mecânicos, fogo, inundações,
entre outros que possam vir a ocorrer.
Este tecido parenquimático anômalo, o qual frequentemente possui origem traumática,
é uma estrutura com aspecto bastante irregular, incluso no lenho, sendo possível sua
visualização tanto na seção transversal quanto na longitudinal (BOTOSSO, 2011).
Sua classificação deve ser feita apontando, apenas, sua existência ou ausência, como
é mostrado na Figura 34. Assim, tem-se:
• Presente;
• Ausente (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 34 - Máculas (setas)

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.2.3.6 Vasos
56

Os vasos são elementos celulares, geralmente axiais, que formam uma estrutura
tubiforme contínua de comprimento indeterminado, de diâmetro entre 20 e 500 micrômetros,
os quais são responsáveis pela condução ascendente de líquidos na árvore (BOTOSSO, 2011).
No plano transversal, os vasos possuem uma forma circular ou ovalada (FLORSHEIM
et al., 2020). Tais elementos, quando são observados em uma seção transversal, surgem como
pequenos orifícios, os quais geralmente são chamados de “poros”, sendo o tamanho,
distribuição e quantidade destes elementos de fundamental importância no reconhecimento de
uma espécie de madeira (BOTOSSO, 2011).
Características como diâmetro, frequência de ocorrência, tipo de porosidade, arranjo,
presença de obstruções, entre outros, bem como suas propriedades tecnológicas, são de imenso
valor na hora de identificar determinada madeira (BOTOSSO, 2011) e, por este motivo,
algumas destas características serão expostas a seguir.
Vale lembrar, todavia, que os vasos são visíveis tanto no plano transversal quanto no
longitudinal (FLORSHEIM et al., 2020).

2.2.4.1.2.3.6.1 Visibilidade dos vasos


Esta característica está intrinsicamente relacionada a dois fatores. Em primeiro lugar
tem-se o diâmetro tangencial dos vasos. Em segundo lugar está a capacidade do observador em
enxergar tais vasos à olho nu (BOTOSSO, 2011).
Sendo assim, no que diz respeito à visibilidade dos vasos, a madeira pode ser
classificada de três formas:
• distintos à olho nu;
• distintos apenas sob lente com aumento de 10 vezes e;
• indistintos mesmo sob lente com aumento de 10 vezes (BOTOSSO, 2011).

2.2.4.1.2.3.6.2 Diâmetro tangencial dos vasos


Estas medidas podem ser aferidas aproximadamente com a utilização de uma escala
transparente e graduada a qual deve ser posicionada entre a lupa e a superfície transversal da
amostra de madeira (BOTOSSO, 2011), obtendo-se como resultado referências para medições
como mostrado na Figura 35.
Desta forma, a partir do aferimento, é possível classificá-la de quatro formas:
• Muito pequenos: onde o diâmetro tangencial é igual ou inferior a 50
micrômetros (ou 0,05 milímetros);
57

• Pequenos: onde o diâmetro fica entre 60 e 100 micrômetros (ou 0,06 e 0,1
milímetros);
• Médios: onde o diâmetro tangencial fica entre 110 e 200 micrômetros (ou 0,11
e 0,2 milímetros);
• Grandes: quando o diâmetro é superior a 200 micrômetros (ou 0,2 milímetros)
(FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 35 - Diâmetro de vasos

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.2.3.6.3 Frequência de vasos em 10 mm²


Como o título já afirma, este aspecto tem a ver com a frequência em que os vasos
ocorrem em uma área predeterminada. Logo, a forma como o parâmetro é medido é vasos/mm²
(vasos por milímetro quadrado).
Este é um fator importante na identificação de uma madeira, mesmo sendo suas
medidas tomadas de forma aproximadas (BOTOSSO, 2011).
Segundo Florsheim (et al., 2020) é possível classificá-los como:
• Muito poucos: ≤ 12 vasos/mm²;
• Poucos: 13 a 30 vasos/mm²;
• Pouco numerosos: 31 a 65 vasos/mm²;
• Numerosos: 66 a 125 vasos/mm²;
• Muito numerosos: 126 a 250 vasos/mm²;
• Numerosíssimos: ≥ 251 vasos/mm².
Uma dica importante citada por Florsheim (et al., 2020) é que, para madeiras de alta
frequência de vasos, a contagem pode ser simplificada utilizando-se uma escala circular de 2
mm² e multiplicando-a por 5. Quando existe uma baixa frequência, recomenda-se utilizar a
escala de 10 mm² normalmente (FLORSHEIM et al., 2020), como mostrado na Figura 36.
58

Figura 36 - Frequência de vasos

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.2.3.6.4 Porosidade
Esta refere-se à dispersão dos vasos quando são observados em uma seção transversal
da amostra de madeira (BOTOSSO, 2011).
A madeira pode ser:
• Difusa (Figura 37.A): quando os vasos apresentam praticamente o mesmo
diâmetro independentemente das camadas de crescimento;
• Anel poroso (Figura 37.B): acontece quando os vasos do lenho inicial, que
possui cor mais clara, apresentam diâmetros bem maiores e concentrados do
que os do lenho tardio, o qual possui uma coloração mais escura, dentro da
mesma camada de crescimento, sendo abrupta a mudança no diâmetro;
• Anel semiporoso (Figura 37.C): assim como no caso anterior, existe uma
diferença considerável no diâmetro dos vasos entre o lenho inicial e o lenho
tardio, porém, ao invés de haver uma mudança abrupta nos mesmos, existe uma
diminuição gradativa entre um e outro dentro das camadas de crescimento
(FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 37 – Porosidade

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.1.2.3.6.5 Arranjo dos vasos


59

Botoso (2011) explica que os arranjos são formas diferenciadas de organização dos
vasos os quais podem permitir que certas espécies de madeira se destaquem de outras. Estas
disposições são vistas através de uma seção transversal, podendo ser classificadas como
(BOTOSSO, 2011):
• Tangencial (Figura 38.A): quando ocorre distribuição bem definida dos
elementos de vasos, perpendicularmente aos raios (FLORSHEIM et al., 2020);
• Radial (Figura 38.B): quando a disposição dos vasos é feita de forma paralela
aos raios (FLORSHEIM et al., 2020);
Figura 38 - Arranjo dos vasos

Fonte: Florsheim et al., 2020.

• Diagonal ou oblíquo (Figura 39.A): quando os vasos estão em uma disposição


intermediária entre a posição radial e a tangencial (BOTOSSO, 2011), ou seja,
dispostos obliquamente aos raios (FLORSHEIM et al., 2020);
• Dendrítico (Figura 39.B): quando os vasos se organizam em faixas
ramificadas, oblíquas aos raios, apresentando um aspecto arquitetural de
árvores (BOTOSSO, 2011) ou, como menciona Florsheim (et al., 2020) em
forma semelhante a chamas (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 39 - Arranjo dos vasos

Fonte: Florsheim et al., 2020.


60

2.2.4.1.2.3.6.6 Disposição ou agrupamento dos vasos


Características que dizem respeito ao agrupamento, distribuição, abundância e
tamanho são fundamentais para identificar a madeira com relação à suas propriedades
tecnológicas, como densidade, comportamento na secagem, tratamento preservativo, entre
outras.
Assim, os vasos, comumente chamados de poros, quando observados através de uma
seção transversal, podem ocorrer de duas formas: isolados ou agrupados de dois ou mais
(múltiplo agrupamento) (BOTOSSO, 2011).
• Exclusivamente solitários (Figura 40.A): quando pelo menos 90% dos vasos
são solitários.
• Múltiplos: quando dois ou mais vasos se juntam podendo, inclusive, formar
cadeias radiais (Figura 40.B), tangenciais (Figura 40.C) ou cachos (Figura
40.D).
Figura 40 - Aspecto dos poros, segundo seu agrupamento, observados em seção transversal

Fonte: Botosso, 2011.


Vale ressaltar que na maior parte das madeiras ocorrem os dois tipos de agrupamentos,
sendo necessário sua contagem para posterior determinação de porcentagens entre um e outro
(FLORSHEIM et al., 2020).

2.2.4.1.2.3.6.7 Obstrução dos vasos


A presença de substâncias que podem acabar obstruindo os vasos é um detalhe
importante, também, na identificação de madeiras. Embora não sejam essencialmente parte
estrutural da madeira, possui uma importância considerável para o reconhecimento, visto que
sua existência é típica de determinados grupos arbóreos (BOTOSSO, 2011).
61

Segundo Florsheim (et al., 2020), as gomas ou depósitos, como são chamadas as
substâncias que podem acabar obstruindo os vasos, devem ser caracterizadas por seu aspecto e
cor. Ademais, podem surgir tilos nos vasos do cerne de algumas espécies, os quais geralmente
apresentam coloração clara e brilho característico.
Assim sendo, é possível classificar a madeira em duas situações:
• Vasos desobstruídos: quando não se verifica a obstrução por gomas/depósitos
ou tilos (FLORSHEIM et al., 2020);
• Vasos obstruídos (parcial ou totalmente): quando todos ou alguns dos vasos,
na região do cerne, possuem preenchimento por inclusões orgânicas, como
óleos, gomas, resinas, tilos, entre outros (BOTOSSO, 2011).
Figura 41 - Obstrução de vasos

Fonte: Florsheim et al., 2020.

2.2.4.2 Abordagem microscópica

Nesta, é necessária a análise em microscópio óptico de cortes histológicos da madeira


(FLORSHEIM et al., 2020), sendo observadas as particularidades dos tecidos e células que
constituem o xilema secundário (lenho), as quais são previamente definidas no exame
macroscópico, ainda que seja necessária a microscopia para sua devida análise (BOTOSSO,
2011).
Este método, sem dúvidas, é mais seguro na questão da observação e correta
identificação de determinada madeira. Todavia, há de se considerar o fato de que ele é mais
custoso e demorado em comparação ao método macroscópico, o que, na prática, o deixa em
relativa desvantagem. Ademais, para que seja realizado, é necessária a preparação de material
histológico, utilização de produtos químicos e, em consequência disso, de profissionais
capacitados e com experiência prática em laboratório e micro técnica (BOTOSSO, 2011).
62

2.2.5 Bases de dados na internet

Todos os interessados no estudo anatômico da madeira podem dispor de uma extensa


base de consulta virtual, o que os auxilia na tarefa de reconhecimento e identificação de
madeiras. Esses bancos de dados digitais, que contém imagens macro e microscópicas, estão
sendo constantemente atualizados com a inserção de espécies e/ou grupos botânicos de
interesse, inclusive de espécies tropicais (BOTOSSO, 2011).
É importante ressaltar que é necessária uma confirmação por meio de consultas
comparativas de amostras de xiloteca e/ou laminário (FLORSHEIM et al., 2020) para correta
identificação. Assim sendo, mesmo com a existência de diversos bancos de dados virtuais, é
indispensável a formação de uma coleção de referência própria e a consulta às coleções
xilotecas mantidas em diversas instituições públicas e privadas no Brasil (BOTOSSO, 2011).
A seguir, serão citadas algumas bases de dados virtuais, tanto nacionais quanto
internacionais:
• Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT)
o Site:
https://www.ipt.br/consultas_online/informacoes_sobre_madeira/busc
a
• Programa gratuito do Laboratório de Produtos Florestais, através do Serviço
Florestal Brasileiro (Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento)
o Site: https://lpf.florestal.gov.br/en-us/chave-interativa-de-identificacao
• Aplicação móvel gratuita Xylorix Pocketwood da empresa Agritix
o Site: https://www.xylorix.com/products/apps/pocketwood

2.2.6 Principais acervos (xilotecas) do país

Como dito anteriormente, o interessado no reconhecimento e identificação de


madeiras, seja ele um observador ou profissional, deve comparar, se possível, as amostras de
madeira coletadas in loco com uma xiloteca própria ou de alguma instituição pública ou
privada.
Desta forma, é possível salientar que existe, no Brasil, um número bastante grande de
coleções e acervos, os quais possibilitam tal consulta e representam uma importantíssima fonte
de informação para o interessado.
63

Nestes, é possível encontrar inúmeras espécies dos diferentes biomas aos quais o Brasil
pertence, tendo a possibilidade, inclusive, de encontrar espécies de madeira do exterior
(BOTOSSO, 2011).
Assim sendo, tem-se na Figura 42 a seguir uma lista com as principais xilotecas
encontradas no país.
Figura 42 - Lista das principais coleções de madeira (xilotecas) existentes no país

Fonte: Botosso, 2011.

2.3 DETERIORAÇÃO DA MADEIRA

A madeira é um material renovável que pode ser prejudicado por agentes biológicos,
reações químicas, entre outros, causando prejuízo tanto ao produtor quanto ao consumidor, no
64

que diz respeito à matéria prima e à mão de obra necessária para fazer a substituição daquele
produto afetado.
Ao longo do tempo, durante a evolução da natureza, organismos como bactérias,
fungos, insetos, moluscos e crustáceos foram se adaptando e passando a obter alimento direta
ou indiretamente da madeira. Estes, que fazem parte do grupo de agentes deterioradores
biológicos, são os que mais impactam a vida útil da madeira, sendo os fungos os que mais
incidem neste material (MORESCHI, 2013).
Por outro lado, existe a situação do gás carbônico disponível na atmosfera. Nas
florestas de todo o mundo, cerca de 400 bilhões de toneladas de 𝐶𝑂2 são armazenados. Sem a
decomposição ou queima de parte deste material, o gás carbônico disponível na atmosfera seria
totalmente usado em aproximadamente 20 ou 30 anos (CASTRO e GUIMARÃES et. al, 2018).
Resgatando, ainda, um pouco sobre os primórdios da utilização deste material, tem-se
o registro de Castro e Guimarães (2018), onde é exposto que os organismos causadores da
decomposição da madeira são chamados de praga na Bíblia. Assim, na antiguidade, a podridão
da madeira era considerada um ato punitivo de Deus. Somente em 1874, Robert Harting
reconheceu a relação entre praga e dano. Por isso, ainda nos dias de hoje, ele é considerado o
pai da patologia florestal e da deterioração da madeira.
Aliás, a diferença entre estes dois últimos, ou seja, entre a patologia florestal e a
deterioração da madeira, é o fato de falarmos do substrato morto do material. Logo, em um
curto período após a derrubada, as células da árvore morrem e, portanto, não podem adoecer.
Consequentemente, o termo patologia não é aplicável ao ataque sofrido após o corte (CASTRO
E GUIMARÃES, 2018).
A deterioração da madeira se dá de diferentes maneiras. Portanto, é importante que,
em cada situação de uso, seja identificada a principal causa da deterioração, para que controles
específicos e eficientes sejam tomados (ROCHA, 2001).
Percebe-se, assim, a importância que existe em conhecer minimamente estes agentes
quando se fala no material madeira, independente da utilização final que a mesma possa vir a
ter.

2.3.1 Deterioração química

Dentro deste tipo de deterioração, pode-se citar a mancha química (ou enzimática) e a
mancha marrom. Como poderá ser apreciado a seguir, as duas tem características semelhantes
no que diz respeito a seu acontecimento.
65

A mancha química ou enzimática, se desenvolve pela reação química dos produtos


existentes naturalmente na madeira (extrativos) e o oxigênio da atmosfera. O sol, ou melhor, a
incidência de raios solares que ocasiona uma secagem artificial, acelera e ressalta os efeitos de
descoloração da madeira. Esta geralmente dá uma coloração que varia de amarela a marrom
para as madeiras coníferas e acinzentada para as madeiras dicotiledôneas.
Já a mancha marrom, como é chamada, se desenvolve durante o processo de secagem
artificial de espécies que tem extrativos com baixo ponto de fusão. Assim, ocorre o arrastamento
desses extrativos em direção à superfície da madeira enquanto ainda existe água livre ou água
de capilaridade na madeira, onde se acumulam e oxidam, causando esta mancha (MORESCHI,
2013).

2.3.2 Principais agentes biológicos deterioradores

Moreschi (pg 06, 2013) ressalta que,


[...]em cada nicho ecológico, ou seja, cada ambiente em que a madeira é
utilizada, ocorre uma combinação de organismos que podem atacá-la
simultaneamente. Contudo, embora eles dificilmente ocorram de forma
isolada neste material, para melhor compreendê-los há necessidade de analisá-
los desta forma.
Assim sendo, a seguir serão expostos os principais agentes deterioradores deste
material.

2.3.2.1 Bactérias

Moreschi (2013) comenta que a madeira é atacada por bactérias quando se encontra
em seu estado úmido. Isto pode ocorrer em diversas situações. Exemplo disso é quando: a
madeira é recém cortada e ainda se encontra na forma de tora; está úmida na forma de peças ou
lâminas após o processamento industrial primário; está submersa em água ou; venha a
readquirir a umidade de alguma forma.
A madeira que esteve úmida por um tempo consideravelmente longo irá conter
bactérias quase que na sua totalidade. O cheiro típico de toras submersas nesta condição, por
exemplo, é um claro sinal de ação bacteriana. Além disso, a combinação de diferentes bactérias
e fungos pode acelerar o processo de apodrecimento da madeira (CASTRO e GUIMARÃES et.
al, 2018).
66

Devido à lentidão do ataque das bactérias, esse tipo de deterioração da madeira é


muitas vezes menosprezado (CASTRO e GUIMARÃES, 2018). Ele acontece, inicialmente,
utilizando-se de materiais existentes nas células parenquimáticas que formam o tecido radial.
Logo após, avança no sentido das paredes celulares deste tecido e de tecidos vizinhos formados
por traqueoides, fibras e vasos (MORESCHI, 2013).
Consequência disso é a consumação destes tecidos, perfurando a madeira no sentido
perpendicular à grã, causando um dano conhecido por “perfuração radial”, que a torna mais
higroscópica. A alteração da higroscopicidade é indesejada geralmente, pois pode causar
problemas durante a secagem e utilização do material.
Assim, mesmo a secagem natural sendo favorecida pelas perfurações radiais que as
bactérias produzem, qualquer chuva rápida a deixará úmida de novo, aumentando o tempo total
de secagem e de susceptibilidade ao ataque por outros agentes xilófagos (MORESCHI, 2013).
Estudos sobre deterioração por bactérias são bastante recentes e ainda não existe uma
compreensão boa sobre o assunto. Entretanto, diversas categorias de bactérias já foram
descritas. Três grupos podem ser identificados através de seus mecanismos de deterioração:
bactérias de túneis, de erosão e de cavidades (BLANCHETTE, 2000).
Todavia, mesmo que as bactérias deteriorem a madeira somente enquanto ela estiver
úmida ou com elevado teor de umidade e, ainda, de forma lenta, estes agentes tem um papel
muito importante em sua deterioração, pois são os primeiros organismos a se instalarem,
ocupam toda a superfície do material com rapidez e geralmente interagem com outros tipos de
organismos xilófagos (MORESCHI, 2013).

2.3.2.2 Fungos

Com exceção das bactérias, os fungos são os agentes biológicos que atacam a madeira
em maiores proporções. Estes se desenvolvem com grande rapidez e ocorrem em quase todos
os nichos ecológicos onde o material é utilizado. Isto não acontece com os demais xilófagos
por precisarem de condições mais específicas para seu desenvolvimento.
Em climas mais quentes, como em florestas tropicais, existem condições mais
favoráveis para a incidência de fungos. Já em climas mais amenos como em regiões subtropicais
(em épocas frias, como o inverno) ou temperados, o mesmo não acontece, o que dá uma maior
flexibilidade no controle da deterioração biológica para as indústrias (MORESCHI, 2013).
A celulose é a principal fonte de energia que estes agentes encontram na madeira
devido ao fato de ela ser um polímero regular que consiste em uma cadeia de unidade de
67

glucose. O número de açúcares (glucose) em uma cadeia é chamado de grau de polimerização.


Devido ao alto grau de polimerização, a celulose torna-se insolúvel, o que acarreta na
necessidade de os agentes deterioradores quebrarem estas cadeias, tornando os fragmentos
solúveis para consumir suas calorias. Essa quebra é feita através de catalisadores.
Esta deterioração se dá apenas quando a madeira atinge um grau de umidade igual ou
superior a 30% por dois motivos: o primeiro é que, quando o material seca, as terminações
hidroxilas das cadeias de celulose reagem de forma a não permitir a criação de aberturas para a
ocorrência da difusão das enzimas produzidas pelos fungos; o segundo motivo é que tais
enzimas são transportadas através da água (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
No que diz respeito à instalação de um fungo na madeira, algumas condições precisam
ser supridas, como a fonte de alimento e o teor de umidade, citados anteriormente, além do teor
de oxigênio livre e seu pH (MORESCHI, 2013).
Segundo Gonzaga (2006), para o desenvolvimento destes agentes, é necessário que: a
umidade da madeira permaneça acima de 20%; a temperatura ideal fique entre 25ºC e 30ºC,
podendo haver a ocorrência deste acima de 0ºC e abaixo de 60ºC; sejam aerados, pois não
sobrevivem submersos; tenham pouca ou nenhuma luz solar, pois não aguentam a incidência
direta do sol; o pH fique em um nível entre 4,5 e 5,5, pois não toleram ambiente alcalino (pH
acima de 7) (GONZAGA, 2006).
Moreschi (2013) acrescenta, ainda, que como fonte de alimento, estes agentes podem
se beneficiar não apenas da celulose, mas também da hemicelulose e da lignina. Já com relação
ao teor de oxigênio necessário, segundo a literatura, uma taxa de aproximadamente 1% já
permitiria o desenvolvimento de fungos (MORESCHI, 2013).
No tocante à temperatura ótima para sua ocorrência, Moreschi (2013) apresenta dados
próximos, porém um pouco diferentes, do que os expostos por Gonzaga (2006), pois esta se
daria em torno de 24 a 32ºC. O autor também afirma que temperaturas de 0ºC e 46ºC são
consideradas como inibidoras e letais, porém, podem ocorrer exceções, como é o caso do fungo
termofílico, o qual pode se desenvolver entre as temperaturas de 5 a 65ºC.
Além destes fatores, tem-se o pH, o qual apresenta valores ótimos e iguais aos
apresentados por Gonzaga (2006) para o desenvolvimento de fungos: entre 4,5 a 5,5. Esta faixa
coincide com os valores de pH da maioria das espécies de árvores, o que não é uma surpresa
devido a que estes seres evoluíram ao longo de milhares de anos e se adaptaram justamente a
esta realidade natural. Ademais, em alguns casos, é possível encontrar estes agentes em
situações fora do usual, no intervalo de pH entre 2,0 a 9,0 (MORESCHI, 2013).
68

Assim, nestes pontos, percebe-se a existência de uma complementação entre os dados


apresentados por Moreschi (2013) e por Gonzaga (2006), não apenas os validando, mas
tornando ainda mais preciso o conhecimento do assunto.
Outro ponto relevante são os tipos de patologias causadas pela presença de fungos.
Segundo Castro e Guimarães (2018), existem dois tipos: a podridão branca e a podridão parda.
A podridão branca significa a degradação da celulose, poliose e lignina, geralmente associadas
aos basidiomicetos e raramente por ascomicetos. Esta pode ser caracterizada
macroscopicamente por apresentar bolsas, manchas ou tiras esbranquiçadas, a depender da
espécie de fungo, da espécie da madeira e das condições ecológicas.
Já a podridão parda ocorre em decorrência de basidiomicetos que metabolizam
celulose e poliose da parede celular, por ação enzimática e não enzimática, deixando a lignina
praticamente intacta. Esta pode se dar em árvores em pé, caídas e na madeira já processada,
assim como em alburno ou cerne. A madeira acaba quebrando-se em blocos retangulares,
sempre de acordo com o encolhimento na secagem e, como resultado, tem-se uma peça com
aparência queimada. Assim, com o avanço da podridão, o material pode ser esmagado apenas
com o dedo, gerando um pó marrom referente à lignina (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
Entretanto, Gonzaga (2006) levanta outro tipo de patologia, além das já citadas, que
causa a chamada podridão mole. Esta, em geral, é provocada por ascomicetos, capazes de
degradar celulose e hemicelulose. Seu desenvolvimento é mais lento e superficial. Este tipo de
podridão causa superfície amolecida com trincas transversais (GONZAGA, 2006).
Ademais, mesmo que os fungos se desenvolvam em praticamente qualquer nicho
ecológico, vale ressaltar que cada espécie de fungo precisa de condições ideais próprias para se
desenvolver. Consequentemente, a ocorrência de uma ou mais espécies de fungos em uma
determinada madeira fica em função, não apenas das condições favoráveis que estes encontram
no material e no clima, mas também da compatibilidade entre eles.
Assim sendo, é comum observar a ocorrência de um único tipo de fungo ativo no
processo de deterioração de uma peça de madeira, devido a este ser dominante sobre os outros
nas condições específicas em que o material se encontra, com exceção, por exemplo, da
associação de fungos emboloradores e fungos manchadores (MORESCHI, 2013).
Todavia, seguindo o raciocínio das ideias supracitadas, vale ressaltar, também, que em
caso da submissão de uma peça de madeira a diferentes condições ao mesmo tempo, estas
podem vir a desenvolver diferentes espécies de fungos. Logo, extrai-se a ideia de que estes se
instalam e desenvolvem de forma seletiva na madeira, em função das variações e combinações
69

entre os diversos fatores existentes no lugar ao qual o material está sendo utilizado e de si
próprio (MORESCHI, 2013).

2.3.2.3 Insetos

Os insetos são parte da classe Insecta, a qual pode ser subdividida em 31 ordens. Seis
dessas ordens podem agir como deterioradores, sendo que apenas 3 causam danos
significativos. São elas: Isoptera (cupins), Coleoptera (besouros) e Hymenoptera (formigas,
abelhas e vespas) (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).

2.3.2.3.1 Ordem isoptera

Os cupins são, dentre os insetos, os principais causadores de danos à madeira


(CASTRO e GUIMARÃES, 2018). Eles geralmente são classificados em sete famílias, porém,
no Brasil existem basicamente duas: a Rhinotermitidae, que são cupins de solo ou subterrâneos,
e a Kalotermitidae, que são cupins de madeira seca (MORESCHI, 2013).
Estes insetos se alimentam exclusivamente da celulose e, geralmente, fazem isso
através do caminho mais fácil, destruindo, primeiro, o lenho mais mole. Após, quando este
material se torna escasso, eles partem para o lenho mais duro também. Esta característica é
justamente o que os distingue da formiga carpinteira, por exemplo, a qual não tem preferência
pelo tipo de madeira (MORESCHI, 2013).

2.3.2.3.1.1 Cupins de solo ou subterrâneos (família Termitidae)


Estes insetos não suportam a luz solar devido à falta de quitina, que endurece a pele
dos insetos, sendo a maioria cega.
Outra característica é que os mesmos vivem no solo, onde fazem enormes cupinzeiros,
se alimentando de celuloses em toda e qualquer forma encontrada na natureza, geralmente
advindas de plantas e árvores recém caídas na mata. Devido a isso, a principal atitude tomada
na construção civil no intuito de preservar a madeira contra estes é evitar o abandono do
material em pavimentos térreos, subsolos ou qualquer outro lugar onde as térmitas possam
encontrá-lo (GONZAGA, 2006).

2.3.2.3.1.2 Cupins de madeira seca (família Kalotermitidae)


Os cupins da família Kalotermitidae vivem exclusivamente dentro das madeiras que
atacam, formando grandes galerias. Estas, por sua vez, possuem pequenas perfurações para
70

aeração e despejo de excrementos, os quais são granulados escuros que formam montículos no
piso.
A superfície externa da peça de madeira geralmente não revela a presença de cupins,
apenas os montículos de excrementos e os pequenos furos. Porém, as galerias já podem ter
comprometido a maior parte estrutural do elemento, deixando apenas a capa superficial, a qual
pode enganar quem a enxerga (GONZAGA, 2006).

2.3.2.3.2 Ordem coleóptera

Os insetos da ordem Coleóptera são os que mais podem causar danos a madeira, depois
dos cupins (CASTRO e GUIMARÃES, 2018). Essa ordem, engloba milhares de espécies de
insetos (GONZAGA, 2006). Estes são reconhecidos por carunchos ou brocas, que atacam a
madeira em diversas condições de uso e umidade. O tamanho e extensão dos danos causados
por eles, além das características dos resíduos deixados para trás, dependem da espécie de
besouro. O tipo da madeira também pode influenciar na espécie de inseto que a ataca.
Ademais, a umidade da madeira é um fator muito importante, visto que algumas
espécies necessitam que a mesma permaneça numa faixa de 8% a 20% para sobreviver.
Entretanto, existem espécies que exigem umidade relativamente altas (acima de 30%), além de
que outros só atacam a madeira após ser previamente alterada por fungos deterioradores
(CASTRO e GUIMARÃES, 2018).

2.3.2.3.3 Ordem Hymenoptera

Os indivíduos desta ordem, a qual possui cerca de 103.000 espécies descritas, são
considerados importantes agentes deterioradores da madeira e pertencem à família Formicidae,
gênero Camponotus. Estas, por sua vez, são as conhecidas "formigas carpinteiras”, as quais
atacam uma grande variedade de espécies de madeira.
Uma forma fácil de reconhecê-las é pelo seu tamanho, o qual é muito maior comparado
com outras espécies de formigas. Além disso, vale ressaltar que elas utilizam a madeira como
abrigo, e não como alimento (CASTRO e GUIMARÃES, 2018). Por isso, o dano que elas
causam é em forma de galerias planas e de paredes lisas, ou seja, sem resíduos de fibras, não
existindo perfurações ligando estas com o exterior, com exceção do furo utilizado para adentrar
no material (MORESCHI, 2013).
Formigas carpinteiras tem preferência pela madeira que é naturalmente mole ou, então,
que tenha sido amolecida por alguma podridão (CASTRO e GUIMARÃES, 2018). A
71

ocorrência destas geralmente se dá em peças de madeira úmida ou, como dito anteriormente,
previamente deterioradas por fungos. Também podem ocorrer ataques a madeiras próximas de
fontes de alimentos, como carrocerias de trens ou de caminhões que transportam grãos
(MORESCHI, 2013).

2.4 DURABILIDADE NATURAL DA MADEIRA

Segundo Gonçalves (et al., 2014), a resistência da madeira está intrinsicamente


relacionada com sua capacidade de resistir aos efeitos degradantes tanto de ordem biológica,
química e física (GONÇALVES et al., 2014). Consequentemente, ela não está isenta dos efeitos
de intempéries, variações das condições ambientais, agentes biológicos e outros que podem vir
a impactar negativamente a mesma (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
O que determina sua durabilidade natural é justamente a presença de substâncias
químicas protetivas como são os extrativos. Podendo algumas espécies contar com estes
extrativos, estas acabam sendo naturalmente duráveis por serem resistentes a organismos
externos, não exigindo tratamento.
Outro fator relevante a ser levado em consideração é o uso dado à madeira. Aplicada
em condições adversas, se cria um conjunto de ações as quais podem ocorrer em larga
proporção e afetar as propriedades da mesma, minimizando sua vida útil (CARVALHO et al.,
2016).
A resistência biológica, por outro lado, é tida como sua capacidade de resistir às ações
deterioradoras dos organismos biológicos e podem ser classificadas como baixa, média e alta
(GOMES e FERREIRA, 2002).
Assim sendo, este tópico é de suma importância para uma recomendação ideal do uso
da peça de madeira analisada, o que, no futuro, pode poupar material e gastos desnecessários
com sua substituição, mitigando os impactos ambientais (PAES et al., 2015).

2.4.1 Fatores que contribuem para a durabilidade natural

Segundo Walker (2006), a durabilidade natural da madeira é função, principalmente,


da concentração de extrativos fenólicos, como: taninos, polifenóis, estilbenos, lignanas e
flavonoides (WALKER, 2006). Tal concentração é bastante variável, o que constitui a
heterogeneidade das espécies arbóreas, modificando, também, sua durabilidade natural.
O fato é que isto pode afetar as condições de uso da madeira e somente identificando
os diversos fatores envolvidos, como os biológicos, físicos, químicos e mecânicos que
72

interferem na mesma, é que se torna possível compreender este material de forma racional para
sua utilização, evitando, consequentemente, inconvenientes diversos que podem vir a ocorrer
(CARVALHO et al., 2015).

2.4.2 Métodos de avaliação

Para avaliar a durabilidade natural da madeira, é corriqueira a utilização de ensaios de


apodrecimento do material os quais ocorrem em campos de apodrecimento simulando-se as
condições às quais a madeira será finalmente utilizada, seja campo aberto ou floresta, vento,
chuva, umidade, radiação solar, entre outros.
Figura 43 - Detalhe de campo de apodrecimento em ambiente de campo aberto

Fonte: Castro e Guimarães, 2016.


O objetivo deste campo é justamente inserir o material às mesmas condições às quais
será finalmente utilizada, permitindo a avaliação de sua durabilidade natural em tal contexto.
Após um determinado período em exposição, estes corpos de prova são retirados a fim de serem
avaliados (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
Figura 44 - Detalhe de madeira Eucalyptus dunni submetida a campo de apodrecimento após 405 dias

Fonte: Castro e Guimarães, 2016.


73

Norteando estes ensaios, tem-se a norma COPANT 30:1-006 (COPANT, 1972) a qual
determina as dimensões dos corpos de prova a serem utilizados, o que permite avaliar tanto o
módulo de elasticidade quanto o de ruptura da madeira (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
Complementarmente pode ser utilizada a norma ASTM D-2017 (2005), a qual
determina as condições nas quais devem ser realizados os testes e ensaios. Ela também
classifica as classes de resistência da madeira, as quais são relacionadas com a perda de massa
obtida através da diferença entre a massa seca inicial e final dos corpos de prova (CASTRO e
GUIMARÃES, 2018).
Figura 45 - Classes de resistência sob o aspecto da perda de massa ao longo do tempo

Fonte: ASTM D-2017, 2005.


Além da classificação com relação à resistência, é possível utilizar-se do índice de
deterioração adaptado de Lepage (1970), o qual avalia a decomposição dos corpos de prova
através dos danos causados pelos agentes biodeterioradores. Desta forma, são atribuídas notas
que servem para geração do chamado índice médio de deterioração.
Figura 46 - Classificação do nível de deterioração da madeira

Fonte: Lepage, 1970.

2.4.2.1 Índice do potencial de ataque fúngico (PAF)

Os fatores que afetam de forma considerável a perda de massa da madeira e,


consequentemente, sua resistência são as condições climáticas e físicas às quais o material é
exposto. Dentre elas podem ser citadas as temperaturas máximas, mínimas e médias diárias, as
precipitações e umidade relativa (CARVALHO et al., 2016).
74

Assim sendo, de posse destas informações, é possível a determinação do índice PAF:


Índice do Potencial de Ataque Fúngico. Este, que foi desenvolvido inicialmente por Scheffer
(1971), ganhou uma adaptação brasileira através de Martins (et al., 2003). O mesmo pode ser
calculado através da seguinte equação (1):
𝐷𝑒𝑧
(𝑇 − 2). (𝐷 − 3)
𝑃𝐴𝐹 = ∑ (1)
16,7
𝐽𝑎𝑛

Onde:
• T = temperatura média mensal (ºC);
• D = número de dias no mês com precipitação pluviométrica igual ou superior
a 0,3 mm (MARTINS et al., 2003).
Portanto, como pode ser observado, cada parcela que constitui o somatório
corresponderá a um mês do ano, devendo, para este fim, serem utilizados os dados mais
atualizados que se tenha disponível.
Por fim, é possível dizer que este índice serve para estimar o risco de incidência
fúngica que a madeira possui em razão de duas variáveis extremamente importantes para o
desenvolvimento destes agentes deterioradores: temperatura e precipitação (CASTRO e
GUIMARÃES, 2018).

2.4.2.2 Índice de susceptibilidade ao ataque de organismos xilófagos (ISA)

Curling e Murphy (2002) relacionaram a perda de massa de uma determinada espécie


de interesse com a perda de massa de uma espécie de referência. O resultado desta relação foi
chamado de Índice de Susceptibilidade ao Ataque de organismos xilófagos (ISA).
Este índice é dado pela seguinte fórmula:
𝑃𝑀𝑖
𝐼𝑆𝐴 = . 100
𝑃𝑀𝑟
Onde:
• PMi = Perda de massa da espécie de interesse (%);
• PMr = Perda de massa da espécie de referência ao fungo apodrecedor utilizado
(%);

2.5 SECAGEM DA MADEIRA

A secagem inadequada tem sido a principal razão para o baixo padrão de qualidade
dos produtos a base de madeira manufaturados no Brasil (TOMASELLI, 1974). O
75

desconhecimento das características da madeira como material e do seu comportamento no


processo de secagem tem sido uma das, se não a principal causa da alta porcentagem de perdas
em seu processamento (JANKOWSKY, 1988).
As árvores absorvem água e sais minerais do solo que são transportados através dos
vasos até as folhas, constituindo a chamada seiva bruta. Já no sentido contrário se desloca a
seiva elaborada, a qual é produto da fotossíntese (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985) e que se
distribui, de cima para baixo, para todos os tecidos da árvore. Logo, quando uma árvore é
abatida, esta geralmente possuirá um alto teor de umidade (JANKOWSKY; GALINA, 2013).
Neste caso, quando recém exposta ao meio ambiente, a árvore recém abatida irá perder
a água que se localiza em seus vasos, canais e lúmen das células, a qual é denominada por água
de capilaridade, ou simplesmente água livre. Permanecerá, ainda, a chamada água de adesão ou
higroscópica, a qual está localizada nas paredes celulares da madeira (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).
Todo o processo descrito ocorre lentamente e, quando atinge tal ponto no qual a água
livre evapora completamente, atinge-se o chamado equilíbrio higroscópico (JANKOWSKY;
GALINA, 2013), umidade de saturação do ar (USA) ou, ainda, ponto de saturação das fibras
(PSF) (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985). Neste contexto, a secagem da madeira pode ser
considerada um evento natural e inevitável.
Todavia, quando se fala em madeira serrada, é necessário que este processo seja
realizado conforme algumas recomendações técnicas a fim de mitigar problemas que possam
vir a danificar a matéria prima devido a variações dimensionais (JANKOWSKY; GALINA,
2013) ou, em outras palavras, minimizar as perdas dela.
Todavia, vale lembrar que a madeira, no caso hipotético em que esteja seca a 0% de
umidade, quando exposta a um ambiente que possua maior porcentagem de umidade (o que
geralmente ocorre), também tentará entrar em equilíbrio higroscópico com o meio, absorvendo
parte da umidade presente no ar. Assim, esta água absorvida é chamada de água higroscópica
(ou de adesão) e seu teor de umidade, o qual depende do ambiente e da espécie de madeira
considerada, é chamado de umidade de equilíbrio (UE) (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.1 Tipos de água existentes na madeira

Para sintetizar, é possível dizer que a madeira tem dois tipos de água: água livre (ou
de capilaridade) e água presa (de adesão ou higroscópica) (MARQUES, 2002).
76

2.5.1.1 Água de capilaridade

Também chamada de água livre, esta se encontra em estado líquido, sujeita a forças
capilares nas cavidades celulares e nos espaços entre as células, chamados de meatos.
Esta água pode ser removida da madeira sem nenhum problema, pois acarretará apenas
em sua perda de massa e não em suas propriedades. É justamente esta água que evapora mais
facilmente com o processo natural da secagem da madeira, devido a que esta passa de célula
em célula até atingir a superfície, onde finalmente evapora (MARQUES, 2002).

2.5.1.2 Água higroscópica

Também chamada de água presa ou de adesão, esta encontra-se vaporizada nas paredes
das células, unida às micro fibrilas de celulose por atração das moléculas. Por consequência,
sua remoção é mais lenta e difícil, ocorrendo apenas após a completa eliminação de toda a água
livre (MARQUES, 2002).

2.5.2 Importância e razões para secagem da madeira

A secagem é uma das etapas de fundamental importância no processamento da


madeira. Este proporciona uma melhoria indispensável das propriedades do material,
acarretando maior qualidade, vida útil e, consequentemente, valor agregado ao produto final
(MARQUES, 2002).
A madeira, como dito anteriormente, apresenta um alto teor de umidade quando recém
abatida. Assim, quando exposto ao ambiente, inicia um processo espontâneo e lento de secagem
enquanto aguarda o desdobramento inicial. Posteriormente ao desdobro, a madeira continua seu
processo de secagem.
A velocidade na qual ocorre, logicamente, depende da espécie da própria madeira, do
ambiente a que está inserida e do empilhamento usado para armazenamento. Todavia, vale
lembrar que não é recomendada a realização do desdobramento final até que se alcance, no
mínimo, um teor de umidade igual ou inferior a 30% (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Portanto, a transformação racional de madeira bruta em bens de consumo requer sua
prévia secagem pelas seguintes razões (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985):
a) Estabilidade das dimensões da madeira
A madeira se contrai enquanto seca e se expande quando sua umidade aumenta. Assim,
as contrações da madeira praticamente cessam quando esta atinge o teor de umidade apropriado,
77

reduzindo a chance de empenamentos, rachaduras e outros defeitos nas peças (MARQUES,


2002).
b) Redução dos riscos de ataque por fungos
Quando verde, ou seja, quando a madeira não secou a pelo menos 20% de teor de
umidade após o seu corte, ela pode ser atacada por fungos e insetos deterioradores. Isto pode
acarretar perda de resistência mecânica (pelo ataque de fungos apodrecedores e insetos) e
alteração da aparência (através de fungos manchadores), o que diminui consideravelmente seu
valor comercial (MARQUES, 2002).
c) Redução do peso
A secagem reduz o peso da madeira, o que diminui os custos de seu transporte devido
ao fato de ser possível levar uma maior quantidade de madeira por carga. Este fator acaba
contribuindo para um custo final menor do produto (MARQUES, 2002).
d) Melhor tratabilidade
A absorção de produto preservativo acaba sendo mais fácil quando a madeira apresenta
teor de umidade igual ou inferior a 20%. Ademais, produtos como pinturas, vernizes, ceras e
outros acabam encontrando uma facilidade maior em se fixar na madeira quando está seca
(MARQUES, 2002).
e) Aumento da resistência mecânica
Quando a madeira atinge um teor de umidade igual ou inferior a 20%, ou seja, quando
é considerada seca, ela melhora sensivelmente suas propriedades mecânicas, com exceção da
tração perpendicular às fibras e resistência ao impacto (MARQUES, 2002).
f) Melhora das características de trabalhabilidade
A madeira, em seu estado seco, acaba proporcionando melhores resultados de
aplainamento, lixamento, furação etc. (MARQUES, 2002).
g) Propriedade de pega
Na industrialização de produtos colados em madeira, a utilização de matéria prima
seca é essencial para se garantir uma boa qualidade aderente, visto que a umidade não o permite
(MARQUES, 2002).

2.5.3 Influência da umidade nas características da madeira

O teor de umidade expressa a proporção existente entre massa de água contida na


madeira e a massa da própria madeira totalmente anidra (ou seja, seca, sem água)
78

(JANKOWSKY; GALINA, 2013) e este influi direta e acentuadamente nas propriedades físico-
mecânicas da madeira (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Exemplo disto é a madeira de Peroba (Aspidosperma peroba), que com 0% de umidade
possui resistência à compressão de 1.250 kgf/cm² e com 30% de umidade esta resistência decai
para 620 kgf/cm², de acordo com resultados obtidos pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas
(1956) (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
A resistência elétrica da madeira também é afetada, sendo inversamente proporcional
ao seu teor de umidade, sendo que enquanto maior quantidade de água contida no material,
menor é sua resistência. Segundo Galvão e Jankowsky (1985), em uma madeira com teor de
umidade de 30% para uma com 0% a resistência elétrica aumenta aproximadamente 1 milhão
de vezes (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.3.1 Determinação da umidade da madeira

O teor de umidade pode ser determinado por vários métodos, os quais são mais
comuns: o método gravimétrico (ou de pesagem de amostras) e o método do medidor elétrico
de umidade (MARQUES, 2002).
Todavia, antes de expor tais métodos, devem ser discutidos algumas expressões que
podem ser utilizadas para seu cálculo (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.3.1.1 Expressões para cálculo da umidade da madeira

2.5.3.1.1.1 Umidade da madeira


𝑃𝑎
𝑢= (2)
𝑃𝑠
Onde:
• u = umidade da madeira;
• Pa = peso da água contida na madeira;
• Ps = valor constante decorrente da secagem da madeira em estufa a 103ºC
(GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Também pode ser utilizada a seguinte equação:
𝑃𝑢 − 𝑃𝑠
𝑢= (3)
𝑃𝑠
Onde:
• Pu = peso da madeira à umidade corrente.
79

Vale lembrar, também, que usualmente a umidade é representada em termos de


porcentagem, o qual pode ser feito através da seguinte equação:
𝑃𝑢 − 𝑃𝑠
𝑈= . 100 (4)
𝑃𝑠
Ou
𝑃𝑢
𝑈=( − 1) . 100 (5)
𝑃𝑠

Onde:
• U = umidade expressa em porcentagem (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Celulose, papel e muitos outros materiais, cujo processamento utiliza suspensões de
fibras, têm a umidade (𝑢𝑐 ) expressa em termos de peso à umidade corrente através da seguinte
equação:
𝑃𝑢 − 𝑃𝑠
𝑢𝑐 = . 100 (6)
𝑃𝑢
Também, é possível se estimar a umidade de uma ou várias peças de madeira de forma
indireta, sem a secagem a 103ºC. Para tal, é necessário estimar o peso da peça seca, o qual é
dado por:
100. 𝑃𝑖
𝑃𝑠𝑒 = (7)
𝑈𝑖 + 100
Onde:
• Pse = peso seco da peça;
• Pi = peso inicial da peça à umidade determinada (Ui)
• Ui = umidade determinada por meio de amostragem retirada da madeira ou por
medidores elétricos (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Ademais, é possível substituir a variável Ps por Pse (ou seja, o valor constante
decorrente da secagem em estufa à 103ºC pelo seu valor estimado) na equação da umidade
medida em porcentagem (U).
Isto possibilita determinar, imediatamente e a qualquer instante através da simples
pesagem do material (denominada Pu), a umidade corrente de uma determinada madeira. Tal
técnica permite acompanhar a secagem comercial da madeira com o auxílio de amostras de
controle (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Dessa forma, obtém-se a seguinte equação:
𝑃𝑢
𝑈=( − 1) . 100 (7)
𝑃𝑠𝑒
80

Assim sendo, deduz-se facilmente que, determinando a umidade desejada, é possível


acompanhar e saber aproximadamente quando interromper a secagem de uma peça através de
seu peso, pela seguinte expressão:
𝑈
𝑃𝑢 = ( + 1) . 𝑃𝑠𝑒 (8)
100

2.5.3.1.2 Métodos para determinação da umidade da madeira

Segundo Galvão e Jankowsky (1985) existem vários métodos para determinar o teor
de umidade da madeira. Porém, neste tópico serão expostos apenas os mais utilizados
(GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.3.1.2.1 Método de secagem em estufa


Também conhecido como método de pesagem de amostras, este se baseia nas
equações (3) e (4), onde o valor da madeira seca é obtido através de secagem das amostras em
estufa com circulação de ar forçada e termostato o qual permita manter uma temperatura
constante entre 101 e 105ºC. É valido lembrar, também, que este peso deve ser obtido em
balança com precisão de, pelo menos, 0,1 g (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
O procedimento a ser seguido, segundo Marques (2002) é o seguinte:
a) Obter corpos de prova de acordo com a Figura 47. Estes devem possuir
dimensões mínimas de 2,5 cm de largura na direção da grã e devem ser
extraídas ao longo da largura completa da tábua, distantes 50 cm das
extremidades;
Figura 47 - Esquema de retirada de corpos-de-prova para determinar o teor de umidade da madeira

Fonte: Marques, 2002


81

b) Retirar imperfeições referentes ao corte e confecção do corpo de prova, como


farpas, os quais possam vir a influenciar nos resultados obtidos;
c) Secar os corpos de prova em estufa, a uma temperatura de 103±2ºC;
d) Pesar os corpos de prova em intervalos de tempo regulares até que se atinja um
peso constante, o qual será considerado o peso seco (Ps);
e) Determinar o teor de umidade através da equação (3) ou (4) (MARQUES,
2002).
Galvão e Jankowsky (1985) afirmam que este é um dos métodos mais precisos, porém
é também o que requer maior tempo de execução. Ademais, contraindica-se sua utilização para
determinação do teor de umidade de madeiras que possam vir a ter compostos voláteis. Para
estes casos em específico, deve ser utilizado o método de destilação ou método Karl Fischer
(GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.3.1.2.2 Medidores elétricos


Os medidores elétricos são de grande valia no dia a dia das empresas devido à sua
forma imediata de determinar a umidade da madeira (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Existem no mercado, hoje, dois tipos de medidores: os do tipo capacitivo ou perda de potência
e os de resistência elétrica (JANKOWSKY; GALINA, 2013).
Dentre estes dois tipos, os mais encontrados e conhecidos são os do tipo resistência
elétrica, os quais se baseiam na resistência à passagem de corrente elétrica da madeira, a qual
varia inversamente com a umidade (JANKOWSKY; GALINA, 2013).
Estes aparelhos possuem eletrodos, os quais se assemelham com agulhas, que são
cravados na madeira. Ademais, eles também devem possuir sistema de calibração, de acordo
com a espécie de madeira e a temperatura da mesma, fatores que podem afetar a aferição da
umidade (MARQUES, 2002).
É importante lembrar que as agulhas devem ser cravadas de forma paralela à direção
das fibras da madeira pois, segundo Stamm (1960), a resistividade pode chegar a ser duas ou
três vezes maior no caso em que se faça a medição cravando as agulhas no sentido perpendicular
às fibras da madeira (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Outra recomendação com relação à cravação das agulhas na peça de madeira tem a ver
com sua profundidade. As peças que possuem um gradiente de umidade podem acabar
induzindo ao erro na medição, pois a leitura necessita representar o valor médio de umidade de
toda a peça, ou um valor aproximado a este. Foi no intuito de resolver o problema que Stamm
(1930) e Dunlap e Bell (1951) o estudaram.
82

O primeiro autor estimou, empiricamente, que a resistência elétrica da madeira medida


a um quarto da espessura total de uma peça com gradiente normal de umidade, era
correspondente ao valor médio de resistência. Os segundos autores afirmaram que a umidade
determinada a um quinto da espessura da peça fornece uma medida muito próxima à umidade
média da madeira (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Galvão e Jankowsky (1985) afirmam que, atualmente, existem medidores nos quais as
agulhas são isoladas, exceto suas extremidades. Dessa forma, os valores expostos decorrem da
umidade que existe entre suas pontas. Isto possibilitaria a leitura da umidade em qualquer
profundidade da peça (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Entretanto, este tipo de instrumento possui algumas limitações, pois são capazes de
realizar medições precisas apenas no intervalo entre 6 e 30% (MARQUES, 2002). Este
intervalo varia levemente entre autores e, portanto, foi exposto um intervalo o qual abrangesse
todos eles.
Fora desses limites, estes aparelhos fornecem valores imprecisos, pois abaixo de 6%
de umidade, a resistividade da madeira é tão alta que eles não são capazes de fazer a leitura e,
acima de 30% (ou melhor, acima do ponto de saturação das fibras, também chamado de PSF)
a variação da resistência elétrica com o teor de umidade é cada vez menos acentuada
(MARQUES, 2002).
Além disso, segundo Skaar (1972), o mecanismo de condução de energia elétrica
através da madeira, o qual rege este tipo de aparelho, ainda não foi totalmente esclarecido. Lin
(1965) explorou o assunto referindo-se a um modelo criado para explicar o fenômeno, o qual
baseava-se na natureza iônica da condutividade que ocorreria na região amorfa da parede
celular. Os íons seriam representados pelas impurezas que ocorrem na madeira, as quais fazem
parte da fração inorgânica representada pelas cinzas (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
As características da variação da resistência elétrica da madeira com umidade foram
reveladas pela Figura 48. Nesta é mostrada a influência que a temperatura possui neste
fenômeno, o que demonstra a necessidade, supracitada, de correções no caso de utilização do
medidor em temperaturas diferentes às quais ele foi calibrado (GALVÃO; JANKOWSKY,
1985).
83

Figura 48 - Resistência elétrica da madeira em função do teor de umidade e da temperatura

Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985.


A vantagem dos medidores elétricos está na possibilidade de obter resultados
instantâneos, o que facilita obter uma maior amostragem quando se avalia grande volume de
madeira. Ademais, estes são portáteis e o método não é destrutivo.
Algumas desvantagens que podem ser citadas são a menor precisão que estes possuem
na obtenção do teor de umidade, a menor faixa de utilização na maior parte dos modelos (pois
serão eficazes apenas em uma faixa entre 5 e 25% de umidade) e a iminente necessidade de
correções no que diz respeito à temperatura (JANKOWSKY; GALINA, 2013).
Por último, vale ressaltar que Stamm (1964) afirma que a avaliação da umidade com
aparelhos de resistência elétrica entrega resultados com precisão da ordem de ± 1%, dentro da
faixa de 6 a 30% de umidade (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.3.1.2.2.1 Fatores que influenciam a precisão das determinações


Alguns fatores que podem fazer variar os resultados das medições, como a direção da
grã e o gradiente de umidade já foram expostos. Agora, cabe discutir com mais afinco o impacto
que a espécie da madeira e a temperatura podem causar (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.3.1.2.2.1.1 Espécie
A influência da espécie é dada com relação à quantidade de substâncias minerais
encontradas na madeira que podem vir a atuar como eletrólitos. Assim sendo, os determinadores
elétricos são calibrados para uma determinada espécie e temperatura, sendo que, geralmente,
os fabricantes fornecem instruções para efetuar as correções necessárias em relação a outras
espécies.
84

A determinação experimental das curvas, as quais permitem efetuar as correções


necessárias em função da espécie foi feita por James (1961, 1975). O autor considera que, para
espécies nativas da América do Norte, as correções variam na ordem de ± 2% (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).

2.5.3.1.2.2.1.2 Temperatura
Como dito anteriormente, a resistência elétrica varia inversamente com a temperatura
da madeira. Esta relação pode ser analisada através da Figura 49, onde são expostas as curvas
de correção para temperatura baseadas numa calibração a 20ºC.
Na Figura 49 também é exposto um exemplo. Neste, considerou-se a temperatura da
madeira igual a 36ºC, onde o aparelho indicou um teor de umidade igual a 16%. Assim, através
da figura supracitada, é possível corrigir a umidade, obtendo-se um teor de umidade igual a
18% (linhas pontilhadas) (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Figura 49 - Curvas de correção em função da temperatura para determinadores de umidade do tipo
resistência fabricados pela empresa Keet Eletric Laboratory

Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985


Vale lembrar que para medições experimentais mais rigorosas, é recomendado que se
faça correção segundo sua equação de correção específica, conforme estudo realizado por
Jankowsky e Brieza Junior (1980), onde foi determinada tal equação para espécie Pinus
caribaea var. hondurensis (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.3.1.2.3 Métodos de destilação


85

Os métodos de destilação são recomendados onde seja necessária a determinação do


teor de umidade de espécies de madeira que possuam extrativos voláteis. Este é determinado
de forma volumétrica, utilizando xileno ou o tolueno como extratores, por não se misturarem
com a água (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Podem ser encontrados mais detalhes sobre estes procedimentos em Kollmann e Côtè
(1968) e Desh (1956).

2.5.3.1.2.4 Método Karl Fischer


Consiste na determinação iodométrica da água que é removida da madeira pelo método
de destilação. Resch e Ecklund (1963) compararam os resultados obtidos através do método de
secagem à 103ºC com os deste método, observando que houve uma discrepância entre os
resultados dos dois métodos, obtendo teores de umidade bastante maiores no método de
secagem devido à presença de substâncias voláteis na madeira (GALVÃO; JANKOWSKY,
1985).

2.5.3.1.2.5 Método higrométrico


Consiste na inserção de um higrômetro em um orifício da madeira em estudo, sendo
selado logo em seguida. Assim, ocorrerá o equilíbrio entre a umidade contida na madeira e a
do ar contido no orifício. Este será correspondente à umidade de equilíbrio da madeira
(GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.3.1.2.6 Método da radiação nuclear


Este método é aplicável em processos contínuos, como os produção de celulose, no
qual o material correndo em esteiras tem a umidade determinada continuamente. Para ser
efetuado, utiliza-se um gerador de nêutrons que são dirigidos para a madeira em alta velocidade.
Parte destes tem sua velocidade diminuída pelos hidrogênios das moléculas de água, sendo
contabilizados por um detector.
Além disso, como o teor de umidade é medido em função do peso seco, também se faz
necessário medir a densidade da madeira através de radiação gama. Para tal, um feixe de raios
gama é dirigido à madeira, onde a intensidade de radiação refletida através do material, que é
inversamente proporcional à sua densidade, é medida por outro detector. As medidas dos dois
detectores, combinadas, fornecem o teor de umidade da madeira (GALVÃO; JANKOWSKY,
1985).

2.5.3.1.3 Ponto de saturação das fibras (PSF)


86

Este corresponde a um teor de umidade no qual toda a água livre foi eliminada das
cavidades celulares, restando apenas as paredes das células saturadas. Esta situação se dá
quando a madeira se encontra em uma faixa entre 22 e 30% de umidade, a depender de sua
espécie.
É bastante importante determinar este ponto pois, quando atingido, a madeira pode vir
a sofrer mudanças em suas propriedades, as quais podem acarretar defeitos como empenos e
rachaduras (MARQUES, 2002).

2.5.4 Umidade do ar

Como a madeira é um material higroscópico e mantém relação intrínseca com a água


do meio ambiente, torna-se necessário conhecer alguns fundamentos físicos referentes a ela e
ao vapor d’água. Assim, o embasamento técnico do estudo da secagem da madeira poderá ser
levado mais afundo (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.4.1 Pressão do vapor d’água

De forma inicial, é necessário saber que a água ocorre na natureza em três diferentes
estados, a depender das condições de temperatura e pressão às quais está sometida. No estudo
da secagem da madeira, é bastante importante o estudo com mais detalhe das propriedades da
água nas formas líquida e de vapor (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Considere-se um recipiente fechado, o qual está parcialmente cheio de água e com um
dispositivo instalado capaz de medir a pressão de vapor no interior dele. Nestas condições, seria
possível observar que, a uma temperatura constante, a pressão dentro do recipiente aumentaria
à medida que a água evapora, até um certo ponto de equilíbrio. Este ponto de equilíbrio é
chamado de “pressão de saturação de vapor d’água”, àquela temperatura. Em tal condição, dá-
se a “umidade absoluta de saturação” no ar, ou seja, este perde a capacidade de conter mais
umidade, o que leva a uma condensação da água que evapora nas paredes do recipiente.
Assim sendo, é possível afirmar que tanto a pressão de saturação de vapor d’água,
quanto a umidade absoluta de saturação, são funções da temperatura. Em outras palavras, para
cada temperatura, correspondem um valor diferente dos dois parâmetros supracitados
(GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Aplicando este conhecimento na prática, pode-se dizer que uma das maneiras de
aumentar a capacidade do ar em retirar umidade da madeira é elevando a temperatura do
ambiente em que está inserida, pois isto acarretará um aumento na capacidade do ar de absorver
87

água, ou seja, de aumentar a quantidade de água existente por unidade de ar (em outras palavras,
em aumentar a umidade absoluta de saturação do ar).
Galvão e Jankowsky (1985) explicam o fenômeno com um exemplo, no qual
consideram um ambiente a uma temperatura de 20ºC e umidade relativa de 70%. Isto
corresponde, no exemplo, a 10,33 g de vapor de água por kg de ar seco. Os autores explicam
que, nestas condições, a umidade absoluta de saturação do ar é atingida quando houver 14,75 g
por kg de ar seco. Logo, o ar poderia absorver apenas 4,42 g/kg a mais de água. Porém,
elevando-se a temperatura deste ambiente a 40ºC e mantendo-se os mesmos 10,33 g/kg de vapor
d’água no ar, o ponto de umidade absoluta de saturação passaria de 14,75 g/kg para 49,11 g/kg
e, então, o ar teria condições de absorver mais 38,78 g/kg de vapor d’água (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).
Tabela 1 - Pressão de saturação de vapor d'água e umidade absoluta de saturação a diferentes
temperaturas (para pressão barométrica de 76,0 cm Hg)

Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985

2.5.4.2 Determinação da umidade do ar

A umidade do ar é normalmente expressa em termos de umidade relativa (UR) que,


por sua vez, é definida como a relação percentual entre pressão parcial de vapor d’água (𝑝) e
sua pressão de saturação (𝑝𝑠 ) à mesma temperatura e pode ser calculada pela seguinte equação:
𝑝
𝑈𝑅 = . 100 (8)
𝑝𝑠
88

Também é possível, de forma aproximada, calcular a UR através da relação existente


entre a umidade absoluta (𝑈𝑎 ) e a umidade absoluta de saturação (𝑈𝑎𝑠 ) à mesma temperatura,
através da seguinte equação (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985):
𝑈𝑎
𝑈𝑅 ≈ . 100 (9)
𝑈𝑎𝑠

2.5.4.2.1 Método do ponto de orvalho

Quando a temperatura de um ambiente ou objeto diminui, pode-se chegar a um ponto


em que ocorre a condensação do vapor d’água nas superfícies do ambiente e/ou objeto. Tal
ponto é chamado de “temperatura do ponto de orvalho”.
Na física, quando a temperatura diminui, ocorre a diminuição da pressão de saturação
de vapor (𝑝𝑠 ) também, até que esta se torna igual à pressão parcial de vapor (𝑝) à temperatura
inicial. Em outras palavras, é possível afirmar que a pressão de saturação à temperatura do
ponto de orvalho corresponde à pressão parcial de vapor à temperatura inicial. Assim sendo,
tem-se (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985):
𝑝
=1 (10)
𝑝𝑠
Logo, o fenômeno descrito permite a aferição da umidade relativa do ar, com o auxílio
da Tabela 1.

2.5.4.2.2 Psicrômetros

O psicrômetro é, basicamente, um aparelho que possui dois termômetros: o


termômetro seco e o termômetro úmido. O termômetro seco permanece em equilíbrio térmico
com o ar. Já o termômetro úmido tem seu bulbo envolto em um tecido úmido. Assim, a
evaporação acaba retirando energia do bulbo, o que acarreta uma perda de temperatura que fica
registrada no termômetro. Quando a temperatura se estabiliza, tem-se o que se chama de
temperatura de bulbo úmido.
Logo, se o ar estiver saturado, os dois termômetros terão temperaturas muito próximas.
Porém, se o contrário acontecer, enquanto mais seco estiver o ar, maior será a diferença entre
as temperaturas. Assim, a umidade relativa do ar pode ser determinada em função da
temperatura registrada nos dois termômetros através da Tabela 2 (GALVÃO; JANKOWSKY,
1985).
89

Tabela 2 - Umidade relativa (UR) em função da temperatura de termômetro seco (Ts) e da


diferença higrométrica (Ts-Tu)
Diferença higrométrica (Ts-Tu) (ºC)
(ºC) 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0
30 96 92 89 86 83 80 76 73 70 67 64 61 55 50 45 39
31 96 93 89 87 83 80 77 74 71 68 64 62 56 50 45 40
32 96 93 89 87 83 80 77 74 71 68 65 62 57 51 46 41
33 97 93 89 87 83 81 77 74 71 68 65 63 58 52 47 42
34 97 94 90 87 84 81 78 75 72 69 66 63 59 54 49 44
35 97 94 90 88 84 82 79 76 73 70 67 64 59 54 49 44
36 97 94 90 88 84 82 79 76 73 70 67 65 59 54 50 45
37 97 94 90 88 84 82 79 76 73 71 68 65 60 55 50 46
38 97 94 91 88 85 83 80 77 74 71 68 66 61 56 51 47
39 97 94 91 88 85 83 80 77 74 72 68 67 61 57 52 47
40 97 94 91 88 85 83 80 77 74 72 69 67 62 57 53 48
41 97 94 91 88 85 83 80 77 74 72 69 67 62 57 53 49
42 97 94 91 88 85 83 80 77 74 72 70 68 63 58 54 50
43 97 94 91 89 86 84 81 78 75 73 70 68 63 58 54 50
44 97 94 91 89 86 84 81 78 75 73 70 68 63 59 55 51
45 97 94 91 89 86 84 81 79 76 73 71 68 64 60 56 52
46 97 94 91 89 86 84 81 79 76 74 71 69 64 60 56 52
47 97 95 92 89 86 84 81 79 76 74 71 69 64 60 56 52
48 97 95 92 89 87 84 81 79 76 74 71 69 65 61 57 53
49 97 95 92 89 87 84 81 79 76 74 72 70 65 61 57 53
50 97 95 92 89 87 84 81 79 76 74 72 70 65 61 57 53
51 97 95 92 89 87 84 81 79 76 74 72 70 65 61 57 53
52 97 95 92 89 87 84 81 79 77 74 72 70 65 61 57 53
53 97 95 92 89 87 84 81 79 77 74 72 70 65 61 57 54
54 97 95 92 90 87 85 82 80 77 75 72 70 66 62 58 54
55 97 95 92 90 87 85 82 80 77 75 73 71 66 62 58 54
56 97 95 92 90 87 85 82 80 77 75 73 71 66 62 58 54
57 97 95 92 90 87 85 82 80 77 75 73 71 66 62 58 55
58 97 95 92 90 87 85 82 80 78 76 74 71 67 63 59 55
59 97 95 92 90 87 85 82 80 78 76 74 71 67 63 59 56
60 97 95 92 90 87 85 82 80 78 76 74 71 67 63 60 56
61 97 95 92 90 87 85 82 80 78 76 74 71 67 63 60 56
62 97 95 92 90 88 85 82 80 78 76 74 72 67 63 60 56
63 98 95 93 90 88 85 82 80 78 76 74 72 67 64 60 57
64 98 95 93 90 88 85 83 80 78 77 75 72 68 64 62 58
65 98 95 93 90 88 85 83 80 79 77 75 72 68 65 62 59
66 98 95 93 90 88 85 83 80 79 77 75 72 68 65 62 59
67 98 95 93 91 88 86 83 81 79 78 76 73 68 65 62 59
68 98 95 93 91 88 86 83 81 79 79 77 75 70 66 63 60
69 98 95 93 91 88 86 83 81 80 79 77 75 71 67 64 61
70 98 95 93 91 88 86 83 81 80 79 77 75 71 68 65 62
72 98 95 93 91 89 86 84 82 80 79 77 75 71 68 65 62
74 98 95 93 91 89 87 85 82 80 79 77 75 71 68 65 62
76 98 95 93 91 89 87 85 83 81 79 77 76 71 68 65 62
78 98 95 93 91 89 87 85 83 81 79 78 76 72 69 65 62
80 98 95 93 91 89 87 85 83 81 80 78 76 72 69 66 63
82 98 95 93 91 89 87 85 83 81 80 78 76 73 69 66 63
84 98 96 94 91 89 87 85 84 82 81 79 78 74 71 68 65
86 98 96 94 92 90 87 86 84 82 81 79 78 75 72 69 66
88 98 96 94 92 90 87 86 84 82 81 80 78 75 72 69 66
90 98 96 94 92 90 87 86 84 82 81 80 78 75 72 69 66
92 98 96 94 92 90 87 86 84 82 81 80 78 75 72 69 66
94 98 96 94 92 90 87 86 84 82 81 80 78 75 72 69 66
96 98 96 94 93 91 87 87 85 83 81 80 78 75 72 70 67
98 98 96 94 93 91 88 88 87 85 83 81 79 76 73 70 67
100 98 96 94 93 91 88 88 87 85 84 82 80 78 75 72 69
(ºC) 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0

Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985.


90

2.5.4.3 Umidade de equilíbrio com o ambiente (UE)

Como a madeira é um material higroscópico, esta consegue fazer trocas de umidade


com a atmosfera na forma de vapor d’água. As trocas ocorrem até que seja alcançado um
equilíbrio entre o teor de umidade da madeira e a umidade do ar, chamado de umidade equilíbrio
(UE).
Este equilíbrio tem relação com a umidade relativa do ar e a temperatura do ambiente
em que a peça de madeira está inserida (MARTINS et al., 2003). Logo, a alteração destas duas
variáveis meteorológicas, tanto diariamente, como sazonalmente, afeta a qualidade do material
e do produto final, podendo acarretar patologias diversas e até variações dimensionais nas peças
(CASSIANO et al., 2013).
Existem diversos modelos matemáticos que permitem estimar a umidade de equilíbrio.
A maioria utiliza como base a teoria de adsorção da água elaborada por Hailwood e Harrobin e
se baseiam nas supracitadas variáveis da umidade relativa do ar e a temperatura do local. Assim,
pode ser utilizada, dentre outras, a equação de Simpson (1971), a qual, segundo Baraúna e
Oliveira (2009), é dada por:
𝐾1 ∗ 𝐾2 ∗ 𝐻 𝐾2 ∗ 𝐻 1800
𝑈𝐸 = [ + ]∗ (11)
1 + 𝐾1 ∗ 𝐾2 ∗ 𝐻 1 − 𝐾2 ∗ 𝐻 𝑊
Onde:
K1 = 4,737 + 0,04773*T- 0,00050123*T²
K2 = 0,705941 + 0,001698*T – 0,000005553*T²
W = 223,384 + 0,6942*T + 0,0185324*T²
T = temperatura em graus Celsius
H = pressão relativa de vapor d’água = UR/100

2.5.4.3.1 Efeito do histórico de exposição

Quando a madeira verde é submetida a uma secagem através de exposição a umidades


relativas decrescentes, onde no final do processo chega-se a uma UE igual a 0%, obtém-se uma
curva chamada de dessorção inicial. A submissão da mesma amostra, nas mesmas condições,
porém na ordem crescente de UR, origina valores de UE que geram uma curva chamada de
adsorção, que se situa mais abaixo do que a primeira. Por fim, se a amostra for submetida
novamente a valores decrescentes de UR, de mesmos valores que no primeiro procedimento,
obter-se-á uma curva correspondente à chamada segunda dessorção, a qual se situa em posição
intermediária às duas anteriores (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
91

Skaar (1972) definiu como coeficiente de histerese a relação das UE para a adsorção e
a dessorção, considerando-se uma determinada umidade relativa.
A UE depende do sentido por meio do qual ela foi alcançada. A provável causa desse
fenômeno é o rearranjo das moléculas de celulose e lignina durante a secagem inicial, momento
em que as hidroxilas seriam deslocadas para uma menor distância entre si, possibilitando o
estabelecimento de pontes de hidrogênio que as deixa indisponíveis à atração de moléculas de
água.
Outro fator que influencia na UE é o número de etapas as quais a madeira é submetida,
visto que enquanto maior este número for, menor tende a ser a UE. Para ilustrar o fato recém
descrito, tem-se a Figura 51 (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

Figura 50 - Relação entre a umidade de equilíbrio e o número de etapas utilizadas para alcançá-la, em um
processo de adsorção de 0% a 88% de umidade relativa

Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985.

2.5.4.3.2 Efeito da espécie da madeira e extrativos

Galvão e Jankowsky (1985) consideram que as isotermas podem ser diferentes entre
as espécies de madeira. Atribui-se este fato às diferentes proporções em que se encontram os
constituintes da madeira, como celulose, hemicelulose, lignina, entre outros, e suas
interrelações nas paredes celulares. Para ilustrar este efeito, tem-se a Figura 52 (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).
92

Figura 51 - Isoterma higroscópica de adsorção para madeira de Eucalyptus regnans e seus componentes

Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985.


Skaar (et al., 1972) estimaram que as parcelas de contribuição dos constituintes da
madeira, relativas à capacidade total adsortiva de água, se distribuía da seguinte forma: celulose
com 47%, hemiceluloses com 27% e a lignina com 16%.
Todavia, o autor ressalta que a curva que descreve a capacidade adsortiva da madeira
pode não ser correspondente à somatória dos constituintes do material devido às possíveis inter-
relações entre os mesmos e aos efeitos das técnicas usadas na separação e extração dos
compostos (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Outro fator que influencia na redução da higroscopicidade da madeira é a presença de
extrativos. Embora já fosse de amplo conhecimento o conceito de que espécies ricas em
extrativos possuem baixa higroscopicidade, os autores Wangaard e Granados (1967) já haviam
mostrado que tal conceito não é valido em condições de baixas e intermediárias umidades
relativas, o que foi posteriormente confirmado por Jankowsky (1979) (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).

2.5.4.3.3 Efeito Barkas

Skaar et al. (1972), mostrou que a característica da plasticidade da madeira também


influencia na UE. Quando ela é submetida a esforço de compressão, previu-se uma diminuição
na UE, devido a que estaria impedida de expandir-se durante o processo de adsorção de água.
93

Todavia, segundo a teoria, o contrário é verdadeiro, visto que quando submetida à tração a UE
aumentaria (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.5 Instabilidade dimensional da madeira – Retração e inchamento

É fato que a madeira trabalha, ou seja, retrai ou incha em função da umidade relativa
do ar (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985). À medida que a madeira perde água, ou seja, que
ocorre a dessorção, ela se retrai. Já quando a madeira adquire água, ou seja, quando ocorre a
adsorção, ela se incha.
Assim, é possível dizer que praticamente toda variação dimensional em peças de
madeira ocorre entre o PSF (ponto de saturação das fibras) e 0% de umidade. Analogamente,
pode-se afirmar que a variação dimensional ocorre em função da dessorção e adsorção da água
higroscópica que se aloja nas paredes das fibras da madeira (JANKOWSKY; GALINA, 2013).
As inúmeras implicações deste fenômeno fazem que sua compreensão seja muito
importante, visto que espécies de madeira podem ser descartadas para utilizações onde a
estabilidade dimensional seja importante (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Assim sendo, apresenta-se a Figura 52 que mostra a relação entre a retração
volumétrica do Pinus oocarpa em função do teor de umidade.
Figura 52 - Retração volumétrica da madeira de Pinus oocarpa em função de sua umidade (U),
possibilitando a determinação do PSF

Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985.


94

2.5.5.1 Características da variação dimensional da madeira

Segundo Galvão e Jankowsky (1985), a madeira tem dois principais comportamentos:


retração, quando ela perde água (também chamado de dessorção) e; inchamento, quando ela
“absorve” água (também chamado de adsorção) (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Ademais, a relação existente entre tal variação dimensional da madeira e seu teor de
umidade, pode ser considerada linear na faixa de umidade higroscópica, ou seja, entre o PSF e
0% (Figura 53) (JANKOWSKY; GALINA, 2013).
Figura 53 - Característica da retração da madeira (volumétrica e nas direções longitudinal, tangencial e
radial) em função da umidade

Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985.


A retração, por exemplo, é a redução das dimensões nas direções longitudinal,
tangencial e radial de uma determinada peça de madeira (Figura 54). Já o inchamento, em
contrapartida, é o aumento destas dimensões. Tal comportamento é uma característica que torna
a madeira um material anisotrópico e sujeito a desenvolver defeitos (MARQUES, 2002).
95

Figura 54 - Principais orientações em uma peça de madeira

Fonte: Marques, 2002.

2.5.5.1.1 Determinação da instabilidade dimensional

Segundo Galvão e Jankowsky (1985), as variações dimensionais, tanto no sentido


longitudinal, radial e tangencial, podem ser determinadas como porcentagem em relação às
dimensões iniciais da peça, através das seguintes equações:
𝐷𝑖𝑚𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑣𝑒𝑟𝑑𝑒 − 𝐷𝑖𝑚𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑠𝑒𝑐𝑎
𝑅𝑒𝑡𝑟𝑎çã𝑜 = 𝑥100 (12)
𝐷𝑖𝑚𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑣𝑒𝑟𝑑𝑒
𝐷𝑖𝑚𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑣𝑒𝑟𝑑𝑒 − 𝐷𝑖𝑚𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑠𝑒𝑐𝑎
𝐼𝑛𝑐ℎ𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 = 𝑥100 (13)
𝐷𝑖𝑚𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑠𝑒𝑐𝑎
Já a variação volumétrica pode ser obtida através de secagem em estufa dos corpos de
prova, secos ao ar e verdes. Todavia, tal variação pode também ser estimada através dos valores
das variações transversais e longitudinais, como demonstrado a seguir:
𝑉𝑣 = 𝑟. 𝑡. 𝑙 (14)
𝑉𝑜 = 𝑟𝑜 . 𝑡𝑜 . 𝑙𝑜 (15)
𝑉𝑣 − 𝑉𝑜
𝑅𝑉 = 𝑥100 (16)
𝑉𝑣
Onde:
• Vv = Volume verde
• Vo = Volume seco
• RV = Retração volumétrica
• r = dimensão radial da peça
• t = dimensão tangencial da peça
96

• l = dimensão longitudinal da peça


Figura 55 - Característica do inchamento da madeira (volumétrica e nas direções longitudinal, radial e
tangencial)

Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985.


Vale ressaltar que a determinação volumétrica pode ser realizada através de outros
métodos, como o do Instituto Pesquisas Tecnológicas (IPT), o qual utiliza corpos de prova de
2,0 x 2,0 x 3,0 cm com imersão em mercúrio ou, também, pelo método da American Society
for Testing and Materials (ASTM), em concordância com sua norma D 143, método que utiliza
corpos de prova de 5,0 x 5,0 x 15,0 cm, sendo a determinação do volume feita por imersão em
água (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.5.1.2 Relação entre variação volumétrica e a densidade básica da madeira

Foi verificada experimentalmente por Stamm (1964) e Greenhill (1936) a correlação


existente entre a retração volumétrica total da madeira (RV), da condição verde à seca em
estufa, e a sua densidade básica (DB) é igual à umidade de saturação do ar (ou PSF), fornecendo
a seguinte equação (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985):
𝑅𝑉
𝑃𝑆𝐹 = (17)
𝐷𝐵
97

Figura 56 - Relação entre densidade básica e retração volumétrica da madeira

Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985.


A Figura 56 demonstra esta correlação, tendo sido obtido um PSF médio de 28%.
Assim, através da equação a seguir, a qual é manipulação algébrica da anterior, é possível
estimar a retração volumétrica para qualquer espécie de madeira, conhecendo-se sua densidade
básica e considerando-se o PSF médio de 28% de umidade:
𝑅𝑉 = 𝑃𝑆𝐹. 𝐷𝐵 (18)

2.5.5.1.3 Anisotropia das variações dimensionais e suas causas

Na Tabela 3, pode ser verificado que a variação dimensional depende da direção


considerada na madeira (JANKOWSKY; GALINA, 2013).
98

Tabela 3 - Magnitude da retração dimensional e volumétrica nas diferentes direções estruturais da


madeira

Fonte: Jankowsky e Galina, 2013.

2.5.5.1.3.1 Diferença entre a variação longitudinal e a transversal


O ângulo que as microfibrilas formam com a direção axial da célula, mais o fato de a
água adsorvida ou dessorvida entre as moléculas de celulose, nas regiões que são amorfas,
causar a expansão ou retração da microfibrila perpendicularmente ao eixo das células, pode ser
o motivo da diferença entre as variações longitudinal e transversal (GALVÃO; JANKOWSKY,
1985).
A camada S2, a qual será exposta na Figura 57, possui de 5 a 100 vezes a espessura
das outras paredes. Isto provoca uma predominância do ângulo de 20º, sendo a componente
normal ao eixo maior que a componente paralela. Resultado disso é uma maior variação
transversal do que longitudinal (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985). A Tabela 4 mostra o ângulo
predominante segundo a espessura da parede celular para cada camada.
Tabela 4 - Espessura das paredes celulares e ângulo de inclinação das microfibrilas

Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985.


99

Figura 57 - Diagrama da parede celular monstrando as diferentes espessuras das paredes primária (P) e
secundária (S), e a orientação das microfibrilas nas camadas S 1, S2 e S3 da parede secundária
Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985.

2.5.5.1.3.2 Diferença entre a variação radial e a tangencial


A Tabela 4 permite a verificar que a relação T/R é superior a 1. Porém, é possível citar
diversas teorias as quais tentam explicar o motivo das diferenças, dentre as quais, tem-se:
• A influência dos raios;
• Efeito do maior número de pontuações nas paredes radiais;
• Alternância dos lenhos inicial e tardio (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.5.1.3.2.1 Influência dos raios


As células dos raios, que estão orientadas radialmente, acabam se contraindo menos
nessa direção do que as outras células da madeira.
Para que tal fato aconteça, é necessário considerar que as células do raio possuem
microfibrilas dispostas como nas células das fibras, vasos, traqueidos e outros tecidos de
orientação longitudinal. Assim sendo, na madeira como um todo, estes raios acabam
restringindo a movimentação higroscópica na direção radial.
Este fenômeno foi demonstrado por muitos pesquisadores, os quais obtiveram dados
que mostraram os raios, isoladamente, possuindo maior estabilidade dimensional do que a
madeira da qual eles foram retirados e do que a madeira completa. Entretanto, é necessário
100

lembrar que existem, também, experimentos que mostraram inexistente influência dos raios na
contração da madeira (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.5.1.3.2.2 Efeito do maior número de pontuações na parede radial das células


Segundo Galvão e Jankowsky (1985), a teoria baseia-se na ideia de que a maioria das
pontuações ocorrem nos tecidos da madeira correspondentes ao plano radial. Assim, de acordo
com ela, o desvio de orientação das microfibrilas ao contornarem as pontuações diminuiria a
contração radial à tangencial. Entretanto, mesmo que considere um caso extremo onde as
microfibrilas estejam dispostas em círculo ao redor das pontuações, seria inviável que se atribui-
se toda a diferença observada unicamente a este fato. De acordo com Stamm (1964), a relação
T/R não poderia exceder o índice 1,42 nessas circunstâncias (GALVÃO; JANKOWSKY,
1985).

2.5.5.1.3.2.3 Alternância dos lenhos inicial e tardio


A madeira tardia, mais densa que a inicial, apresenta uma maior movimentação
higroscópica. É possível verificar, segundo Galvão e Jankowsky (1985), que na direção
tangencial, os dois componentes estão em paralelo e, consequentemente, a madeira tardia obriga
a inicial a ter uma maior movimentação, justamente pelo fato de ser mais forte que a segunda.
Na direção radial, os dois componentes estão em série e, portanto, a contração
observada é a média balanceada dos dois. Logo, a contração nesta direção torna-se,
evidentemente, menor que a tangencial.
Todavia, vale lembrar que esta teoria não explica os altos índice T/R de madeiras
tropicais onde não se observam anéis de crescimento (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.5.2 Aplicações práticas do estudo da variação dimensional da madeira

O estudo da variação dimensional e suas características na madeira, possibilita o uso


deste material de forma inteligente. É possível selecionar madeiras mais estáveis, baseando-se
em dados em laboratório, por exemplo. Além disso, desdobro de toras também pode ser feito
com melhor técnica visando a obtenção de um material mais estável. Na Tabela 6, são
apresentados alguns dados relativos à variação dimensional de várias espécies de madeira.
101

Tabela 5 - Valores médios da variação dimensional de algumas madeiras utilizadas no Brasil

Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985.


Geralmente, as espécies de madeira que apresentam baixa relação T/R e, também,
baixos valores absolutos de T e R, são as mais estáveis.
A Figura 58 ilustra as características das variações dimensionais em relação às direções
estruturais e à forma da peça, levando em consideração a posição na qual foram obtidas da tora
(GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Figura 58 - Características da retração em função da direção estrutural, forma da peça e sua posição na
tora

Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985.


102

2.5.6 Movimentação da água na madeira

Segundo Marques (2002), a água livre se move por capilaridade de dentro para fora.
Isto se deve ao fato de que a madeira seca da parte externa para a parte interna. Assim, quando
a superfície rapidamente seca abaixo do PSF, ocorre um gradiente de umidade fazendo com
que a água se mova do interior para exterior, inicialmente por capilaridade e, depois, por
difusão, sendo a velocidade deste fenômeno variável das condições do meio, como velocidade
do ar, temperatura e umidade relativa do ar (URA).
Se as condições do meio evaporarem a água na superfície da madeira rápido demais,
a ponto de a madeira ser incapaz de enviar mais água até a superfície, a parte externa dela ficará
mais seca do que a interna. Logo, se a superfície atingir teores de umidade abaixo do PSF
primeiro que o interior, podem ocorrer rachaduras nas superfícies e nos extremos da peça
(MARQUES, 2002).
Assim, é conveniente considerar separadamente as várias forças que podem atuar
isolada ou conjuntamente com as demais no processo, sendo estas:
• O movimento da água capilar (acima do PSF);
• O movimento da água higroscópica (abaixo do PSF);
• O movimento do vapor de água.
Vale ressaltar que diferentes fenômenos físicos estão envolvidos nestes processos.
Dentre eles, é possível citar:
• Fenômenos capilares na movimentação da água capilar;
• Fenômenos de difusão na movimentação da água higroscópica e do vapor
d’água (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985);

2.5.6.1 Movimento da água capilar

Frequentemente, o problema que causa limitações no processo de secagem da madeira


é remover a água capilar que fica retida nas cavidades da madeira. Logo, é recomendado a
utilização de baixas temperaturas nas etapas iniciais da secagem devido aos riscos existentes na
remoção acelerada da água a altas temperaturas.
Assim, para progredir nas técnicas de secagem, é necessário conhecer e entender a
forma como a água capilar se move de célula para célula dentro da madeira durante este
processo (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
103

O termo água capilar, segundo Galvão e Jankowsky (1985), refere-se à água na forma
líquida existente nas cavidades e nas aberturas ligando as cavidades celulares da madeira.
Assim, esta mesma ocorre apenas na madeira cujo conteúdo de umidade se encontrar acima da
umidade de saturação do ar.
No equilíbrio, a água exerce uma tração igual na superfície e na direção oposta. Assim,
esta tração da água puxa as paredes do tubo e a própria superfície líquida. Logo, estas forças
são regidas pela equação:
2. 𝑆
𝑇= (19)
𝑅
Onde:
• T = tensão capilar
• S = tensão superficial da interface ar/água
• R = raio da curvatura
Para simplificação, foi desconsiderado o efeito da gravidade pois na maioria dos casos,
as condições de secagem são tais que tornam desprezíveis estes efeitos em comparação às forças
capilares (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Em certas circunstâncias, as forças de tensão capilar podem acarretar colapso nas
células cheias de água. Isso pode ocorrer nos casos em que as aberturas das membranas são
suficientemente pequenas e a parede celular suficientemente fraca. Assim, uma única célula (ou
um grupo delas) pode vir a colapsar. Este efeito é ainda mais pronunciado a altas temperaturas,
condição esta que enfraquece ainda mais as paredes celulares.
Entretanto, a madeira que sofre colapso na secagem, pode ser restaurada por meio de
um procedimento no qual se submete a própria a altas temperaturas e umidade durante um
período de tempo adequado. Assim, o ar e o vapor d’água acabam exercendo uma pressão no
interior das células da madeira, revertendo as forças de tração que originalmente causaram o
colapso (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.6.2 Movimento da água higroscópica e vapor d’água

Aos interessados em aprofundar-se no assunto, recomenda-se consultar Siau (1971),


Skaar (1972), Stamm (1964) e Kollmann e Côtè (1968), dentre outros.
A seguir, serão expostos simplificadamente aspectos do movimento da água
higroscópica e do vapor d’água (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.6.2.1 Água higroscópica


104

O movimento desta é causado pelo fenômeno de difusão decorrente dos gradientes de


umidade, os quais se estabelecem nas paredes celulares ou na própria madeira em geral. Assim,
o movimento das moléculas de água de locais de alta para baixa umidade, requer uma menor
quantidade de energia para acontecer do que o mesmo no sentido inverso.
Além disso, outro fator que influencia na facilidade de a água higroscópica em espalhar
pela madeira é a direção estrutural considerada. Como exemplo disso, tem-se o coeficiente de
difusão longitudinal, o qual, segundo Siau (1971), é de 2 a 4 vezes maior que o transversal em
uma umidade de 25% e de 50 a 100 vezes maior à umidade da madeira de 5%. Ainda, de acordo
com o autor, o fenômeno se apresenta cerca de 17 a 25% maior na direção radial do que na
tangencial (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.6.2.2 Vapor d’água

O fenômeno de difusão acarreta um gradiente de pressão de vapor. Em decorrência


disso, o vapor d’água acaba se movimentando na madeira através do interior das cavidades das
células e das aberturas que as ligam.
De acordo com Hart (1966), a difusão de vapor d’água é de 10 a 1.000 vezes maior
que a difusão d’água higroscópica nas paredes celulares. Porém, a difusão deste vapor d’água,
quando em temperaturas amenas ao de ebulição, acabam contribuindo em menor escala no
processo de secagem devido ao fato de haver um número pequeno de aberturas ligando as
células entre si. Assim, a movimentação de água ocorre, em maior parte, através das paredes
celulares, mesmo havendo facilidade de difusão do vapor d’água nas aberturas naturais da
madeira (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Siau (1971) revisou e analisou o fenômeno da difusão de água higroscópica. Esse autor
demonstrou que os coeficientes de difusão da água higroscópica sofrem a influência da
umidade, da temperatura e do peso específico da madeira. Assim sendo, tais coeficientes
aumentam com a temperatura e a umidade e diminuem com a densidade da madeira (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).

2.5.7 O processo de secagem

2.5.7.1 Generalidades do processo de secagem

Com a derrubada da árvore, obtêm-se a madeira verde. A partir desse momento, ou


seja, quando este material é exposto ao ambiente, as fibras mais próximas à superfície tendem
105

a entrar em equilíbrio de umidade com o ar do próprio ambiente. Assim, existindo circulação


do ar suficiente que permita a remoção da água que continua chegando à superfície, estabelece-
se o movimento capilar da água, que ocorre do interior para o exterior da peça. Em tais
condições, a rapidez com que o material seca vai depender, inicialmente, da velocidade do ar e
de sua capacidade em receber o vapor d’água retirado da madeira.
Existindo condições adequadas, onde o meio permita a evaporação desta água da
superfície, forças capilares determinam uma movimentação inicial da água que ocorre do
interior para o exterior da madeira, passando a se deslocar por difusão quando o teor de umidade
atinge valores menores que a umidade de saturação do ar. Evidentemente, como é possível
deduzir, na mesma peça de madeira podem ocorrer, simultaneamente, movimentação por
capilaridade e difusão (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
No caso da secagem controlada, a remoção da água na superfície da madeira é
garantida pela circulação forçada do ar dentro dos secadores, o que possibilita, também, a
transferência de calor do sistema de aquecimento para a madeira.
Todavia, é válido lembrar que esta circulação do ar perde influência sobre a secagem
da madeira com a redução da umidade. Já a movimentação da água do interior da madeira para
a superfície, varia com a temperatura, permeabilidade, densidade da madeira, espessura das
peças e gradientes de umidade (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.7.2 Gradientes de umidade

Durante o processo de secagem, tem-se uma fase em que a quantidade de água capilar
deslocada até a superfície é menor que a que evapora da superfície. Em tais condições, o teor
de umidade na superfície é menor que a umidade de saturação do ar. Em consequência, se
estabelece um gradiente de umidade causador de forças que movimentam a água abaixo da
umidade de saturação do ar.
Assim, pode-se deduzir a partir da primeira lei de Fick, que o fluxo de umidade na
madeira é proporcional ao gradiente de umidade:
𝑚 𝛥𝑢
= 𝑘. ( ) (20)
𝑡. 𝐴 𝑒
Onde:
A massa (m) de água que se movimenta através de uma peça de madeira com espessura
(e); em tempo (t); através de uma área (A) perpendicular à direção do fluxo considerado; com
coeficiente de difusão (k); e diferença do teor de umidade entre as duas superfícies consideradas
da peça (𝛥𝑢).
106

Por último, vale lembrar que os gradientes de umidade variam com a permeabilidade
da madeira e com o período de secagem. Logo, se faz conveniente estudar suas características
em diferentes situações. Ademais, salienta-se que a variação de qualquer destes fatores, visando
a diminuição do tempo de secagem, precisa ser cuidadosamente realizada, pois a utilização de
altas temperaturas visando diminuir a umidade relativa e acelerar a difusão da umidade sem
levar em consideração as características da madeira, pode acarretar colapsos e rachaduras nas
peças (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.7.2.1 Influência da permeabilidade da madeira

A permeabilidade, sendo uma condição relacionada com a existência de aberturas nas


paredes das células da madeira, é predominantemente importante apenas na movimentação
capilar da água.
Assim sendo, para espécies de madeira as quais tenham uma permeabilidade reduzida,
ou seja, onde não há continuidade dos vasos capilares, o teor de umidade superficial se
encontrará imediatamente abaixo do ponto de saturação das fibras (PSF), se aproximando
rapidamente ao teor de umidade de equilíbrio com o ambiente (UE), enquanto a umidade no
interior da peça ainda se mantém bastante elevada. A figura 59.A ilustra bem esse tipo de
gradiente, no qual não ocorre movimento de água capilar.
Já na figura 59.C são expostas as características do gradiente de umidade de espécies
de madeiras altamente permeáveis, as quais apresentam uma rápida movimentação de água do
interior à superfície da peça, resultando na manutenção da superfície e camadas próximas a
teores de umidades próximos ou iguais ao PSF. Assim sendo, este corresponde ao caso em que
existe um equilíbrio entre a evaporação da água na superfície da madeira e seu transporte do
interior da peça até a mesma superfície (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Na Figura 59.B fica ilustrada a situação mais comum, que corresponde às espécies de
madeira com permeabilidade moderada, na qual a evaporação de água nas camadas superficiais
excede a rapidez do movimento dela do interior para o exterior da peça. Em tais condições,
estas camadas exteriores estão mais próximas ao ponto do teor de equilíbrio com o ambiente
(UE) e, portanto, abaixo do ponto de saturação das fibras (PSF). Assim, é possível verificar que
o gradiente que corresponde à umidade higroscópica se transforma, de maneira gradual, em um
gradiente de água capilar.
107

Figura 59 - Ilustração dos gradientes de umidade para madeiras com diferentes permeabilidades

Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985.

2.5.7.2.2 Influência do período de secagem

O período de secagem influência nas características do gradiente, o qual decresce à


medida em que a secagem progride. Considerando que a difusão da umidade é proporcional ao
gradiente abaixo do ponto de saturação das fibras (PSF), a velocidade em que ocorre a secagem
tende a diminuir com o tempo.
Todavia, no tocante aos gradientes da secagem de madeira em secadores, às espécies
de madeira impermeáveis, ou seja, com gradiente tipo Figura 59.A, recomenda-se o início da
secagem com umidades relativas elevadas, as quais serão progressivamente diminuídas à
medida que a umidade for removida. Este procedimento visa evitar rachaduras nas superfícies
e extremidades, devido às altas retrações ocasionadas por baixos teores de umidade de
equilíbrio (UE) nas camadas superficiais da peça de madeira.
Todavia, em espécies de madeira com gradiente tipo Figura 59.B e 59.C, e
principalmente no último, podem ser usadas condições mais enérgicas em sua secagem
(GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
108

2.5.8 Métodos de secagem da madeira

2.5.8.1 Secagem natural ou ao ar livre

Este método de secagem da madeira consiste em empilhar a madeira de uma forma


adequada, em local ventilado e, preferencialmente, coberto, a fim de evitar a incidência direta
dos raios solares e da chuva. Dessa forma, é possível se fazer o controle do teor de umidade em
intervalos regulares, até atingir um valor predeterminado, o qual será sempre função da
utilização final da madeira e das condições climáticas da região.
Tanto a velocidade de secagem quanto o teor de umidade atingido pela madeira em
determinada localização geográfica dependem, quase que exclusivamente, das condições do
ambiente. Assim, a adoção de práticas racionais desse processo acaba resultando em menores
tempos de secagem e peças de madeira com teores de umidade mais uniformes, resultando em
madeira de melhor qualidade e com menor quantidade de defeitos devido a secagem
(MARQUES, 2002).
Segundo Marques (2002), algumas vantagens e desvantagens deste método podem ser
citadas. Assim, como vantagens, tem-se:
• É o método mais simples para secar madeira;
• É muito utilizada como método prévio para secagem de madeira verde, a qual
será complementada com secagem em estufa;
• Não exige investimentos com equipamentos.
E como desvantagens, tem-se:
• É um método dependente das condições climáticas, ou seja, da ventilação,
temperatura e umidade relativa do ar na região, variáveis que não podem ser
controladas;
• Pode ser inviável a obtenção de baixos teores de umidade da madeira no final
do processo, uma vez que tais teores são alcançados em função da temperatura
e da umidade relativa do ar;
• Exige grande período de secagem;
• É necessário grande estoque para suprir demanda da indústria o que,
consequentemente, exige também grandes áreas de estocagem;
• Tem-se uma maior perda de matéria prima por ataque de fungos e insetos
(MARQUES, 2002).
109

2.5.8.1.1 Pátio de secagem

A secagem da madeira ao ar livre é realizada, geralmente, em um pátio, localizado


preferencialmente em lugares altos, planos, bem drenados e não rodeados de edifícios altos ou
árvores. Sempre próximo à indústria ou serraria visando a economia de transporte de material.
Já o arranjo físico do pátio deve levar em consideração algumas questões, como: o
meio de movimentação, a topografia, a área necessária para estocagem em função da produção,
a área disponível e a espécie de madeira a ser seca. Quando o transporte do material se der
através de vagonetas, as pilhas de madeira devem ser dispostas de tal forma que acompanhem
os trilhos. Já quando este for feito pelas empilhadeiras, recomenda-se que as vias de circulação
fiquem livres (MARQUES, 2002).
Além disso, recomenda-se que a área do pátio destinada à secagem da madeira deve
ser definida com limites determinados, devendo ser reservados os espaços destinados às: pilhas;
vias de circulação; áreas de ventilação; faixas de proteção contra incêndios, entre outros. As
áreas não ocupadas determinam-se áreas de passagem, as quais devem ser deixadas livres para
circulação de ar, pessoas e movimentação do material.
As vias de passagem, nome dado aos espaços não ocupados do pátio, podem ser
distinguidas de três formas: principais, transversais e secundárias. Nas principais, recomenda-
se largura entre 5 e 8 metros. A necessidade de passagens transversais se dá em pátios muito
grandes e recomenda-se, nestes casos, uma a cada 60 a 80 metros, sendo sua largura
aproximadamente o dobro da largura da via principal. Por último, nas passagens secundárias,
recomenda-se largura aproximada de 1/3 da largura da via principal (MARQUES, 2002).
Com relação ao espaçamento entre pilhas de madeira, este deve ser mantido em,
aproximadamente, 50 cm e livre de qualquer obstrução que atrapalhe a passagem do ar. Porém,
vale lembrar que este varia em função do clima, da localização do pátio, das características
inerentes à madeira e dos diferentes defeitos de secagem que possam vir a acometer o material.
Exemplo disso é quando há ocorrência frequente de fendilhamento superficial ou rachaduras de
topo. Nestes casos, é recomendado manter a distância entre as pilhas o menor possível para que
a secagem seja retardada neste local da peça.
Por último, é válido lembrar que a orientação das pilhas de madeira, com relação à
direção predominante do vento, também influencia na velocidade de secagem. Quando as pilhas
são dispostas com seu comprimento perpendicular à direção do vento, a velocidade aumenta;
quando elas são colocadas com o comprimento no sentido paralelo à direção do vento
(MARQUES, 2002).
110

2.5.8.1.2 Empilhamento

O empilhamento é a ação de dispor as peças de madeira de forma predeterminada para


efetuar sua secagem e/ou armazenamento. Na atualidade, existem diversos tipos de
empilhamento, os quais permitem, inclusive, aumentar o controle sobre a secagem, a qual é
limitada quando feita ao ar livre. A seguir, serão expostos alguns tipos de empilhamento
(MARQUES, 2002).

2.5.8.1.2.1 Tipo berço ou gaiola


Este tipo de empilhamento pode ser feito em forma triangular ou quadrangular, como
ilustrado na Figura 60, onde a primeira camada de madeira a ser seca é apoiada em uma base
feita de madeiras já secas, e nas demais as extremidades se apoiam na camada inferior,
formando uma superposição alternada.
Segundo Marques (2002), é possível citar algumas vantagens e desvantagens deste tipo
de empilhamento. Como vantagens, tem-se:
• Possibilidade de empilhamento feito por um só trabalhador;
• Dispensa o uso de separadores;
Já como desvantagens, tem-se:
• Exige grandes áreas de secagem para pouco volume de madeira;
• As superfícies de contato entre as camadas de madeira ficam suscetíveis ao
ataque de fungos e manchas;
• Favorece o aparecimento de empenamentos e rachaduras (MARQUES,
2002).
111

Figura 60 - Empilhamento tipo berço ou gaiola

Fonte: Marques, 2002.


Este método utiliza-se na secagem natural da madeira, em lugares úmidos, para
espécies fáceis de secar e quando não há compromisso com a qualidade (MARQUES, 2002).

2.5.8.1.2.2 Tipo inclinado


Este é um método utilizado para secagem natural de madeiras em pequenas serrarias.
As peças de madeira são dispostas sobre separadores e o conjunto peça/separador apoiado em
um cavalete. Assim, este tipo de empilhamento possui como vantagem:
• Pode ser feito por apenas um trabalhador.
E apresenta como desvantagem:
• Exige estrutura de madeira tratada que seja resistente ao ataque de fungos e
insetos (MARQUES, 2002).

2.5.8.1.2.3 Tipo tesoura


Variação do inclinado, este tipo de empilhamento se dá apoiando as peças em uma
estrutura de madeira (cavalete), a qual possui um estrado horizontal na parte inferior, a
aproximadamente 20 cm do solo, que protege as peças de madeira de respingos de lama em
caso de chuva (Figura 61). Além disso, o cavalete possui, também, um suporte que fica
localizado a 2 ou 3 m do solo, aproximadamente, e servido de dentes, serve como apoio superior
evitando que as tábuas fiquem em contato.
Suas vantagens são:
• Rápida montagem;
112

• Pode ser feito por apenas um trabalhador;


• Pode ser utilizado como pré-secagem;
• Dispensa o uso de separadores, os quais fazem parte da própria armação;
• Favorece uma secagem rápida, pois permite que as peças fiquem mais afastadas
umas das outras, em comparação com o empilhamento inclinado.
Como desvantagens, é possível citar:
• Necessita de estrutura em madeira tratada, que seja resistente ao ataque fungos
e insetos;
• Pode contribuir numa possível elevação do índice de defeitos na madeira;
• Desuniformidade da umidade ao longo das peças, sendo que a parte superior
seca mais rapidamente do que a inferior (MARQUES, 2002).
Este método utiliza-se na secagem natural da madeira, em lugares úmidos, para
espécies fáceis de secar e quando não há compromisso com a qualidade (MARQUES, 2002).
Figura 61 - Empilhamento tipo tesoura

Fonte: Marques, 2002.

2.5.8.1.2.4 Tipo “padrão”, “caixa” ou “pilha gradeada”


Este tipo de empilhamento, utilizado tanto na secagem natural quanto na artificial, se
dá quando um conjunto de peças de madeira é disposto em camadas sobrepostas separadas por
tabiques (separadores ou sarrafos), como mostra a Figura 62. Cada camada suporta o peso das
outras sobre si, efeito que acaba restringindo a ocorrência de empenamentos.
113

Figura 62 - Empilhamento tipo "padrão"

Fonte: Marques, 2002.


Neste tipo de empilhamento, todo o cuidado e tempo despendidos na elaboração das
pilhas é plenamente compensado, pois é observado um aumento significativo na qualidade da
madeira, acaba proporcionando uma maior facilidade no controle de estoque e diminui a
probabilidade de acidentes.
Porém, alguns cuidados precisam ser tomados durante este processo. Um deles é a
separação das madeiras (sempre que possível) por espécie, espessura, classe, largura e
comprimento (MARQUES, 2002).
Assim sendo, este tipo de empilhamento é composto, basicamente, pela base, pilha,
separadores e cobertura.

2.5.8.1.2.4.1 Base (ou fundação)


Tem como funções dar apoio plano e estável para as pilhas de madeira e mantê-las a
uma distância segura do solo (mínimo 20 cm, porém ideal é 45 cm ou mais), permitindo sua
ventilação. Os apoios devem estar na mesma linha que os separadores, formando colunas e
podem ser feitos de concreto ou de madeira, desde que esta última tenha resistência mecânica
suficiente (MARQUES, 2002).

2.5.8.1.2.4.2 Pilha de madeira


Esta possui comprimento definido pelo tamanho das peças de madeira ou, então, da
estufa na qual será inserida a pilha para secagem.
Com relação às dimensões da pilha, geralmente elas possuem em torno de 2 m de
largura, porém o ideal é que estas fiquem no intervalo de 1 a 1,5 m. Isto se deve ao fato de que
pilhas mais estreitas possuem maior facilidade de secagem. Vale lembrar que reduzir a largura
114

da pilha, quando em lugares muito úmidos, pode evitar que as peças no centro da pilha fiquem
submetidas por longos períodos de tempo a uma umidade muito elevada e sujeitas à degradação.
Já na questão da altura, geralmente varia conforme a facilidade que se tenha de
empilhamento, ficando em torno de 2 a 2,5 m no empilhamento manual. Já no empilhamento
mecânico, este fator varia conforme a capacidade da empilhadeira. É sabido que é possível
construir pilhas de até 6 m de altura, desde que o equipamento tenha capacidade para tal. Na
secagem artificial, logicamente, a altura é definida em função da altura da estufa (MARQUES,
2002).

2.5.8.1.2.4.3 Separadores
Podem, também, serem tabiques, sarrafos ou semelhantes, os quais são utilizados para
separar as camadas de tábuas sobrepostas nas pilhas, permitindo a circulação do ar entre as
mesmas. Estes devem ser feitos a partir do cerne de uma madeira durável, com grã direita, secos
em estufa e isentos de defeitos. Ademais, é importante que estes sejam dispostos no sentido
perpendicular ao comprimento da pilha e alinhados verticalmente, visando evitar empenos nas
tábuas.
Com relação ao comprimento dos separadores, recomenda-se que estes tenham em
torno de 5 cm a mais do que a largura da pilha, tendo esta última as dimensões das peças, a
velocidade de secagem e o clima da região como variáveis. Assim, enquanto maior a espessura
dos separadores, maior será o volume de ar que transitará entre as peças e maior será a rapidez
de secagem (MARQUES, 2002).
A seguir, serão expostas na Tabela 6 recomendações com relação às dimensões para
os separadores e seus respectivos espaçamentos para determinada espessura de peça de madeira
a ser seca.
Tabela 6 - Relação entre espessura das tábuas, dimensões da seção transversal e espaçamento
dos separadores

Fonte: Marques, 2002


Tais valores, segundo Marques (2002), são apenas orientativos que tem apresentado
bons resultados. Assim, é possível dizer que separadores com maior espessura funcionam
melhor para madeiras leves e mais fáceis de secar e separadores com menores espessuras,
115

acabam funcionando melhor na secagem de madeiras com maior tendência à formação de


defeitos de secagem.
Selecionada a dimensão dos separadores, recomenda-se, também, que estas medidas
sejam padronizadas para todas as peças, tendo elas seções transversais quadradas, o que evitar
a colocação de alguma peça com a maior dimensão na vertical, podendo vir a causar
deformações nas peças de madeira em secagem (MARQUES, 2002).

2.5.8.1.2.4.4 Cobertura
Em termos gerais, a cobertura serve para proteger a pilha da incidência direta dos raios
de sol e da própria chuva. Caso a pilha não seja coberta, a madeira em processo de secagem
pode vir a sofrer defeitos como fendilhamentos, rachaduras e empenos (MARQUES, 2002).
No início do processo de secagem, o encharcamento da madeira devido à chuva,
apenas atrasará a secagem da água livre dela. Porém, nos últimos estágios, pode vir a agravar
defeitos, como fendilhamentos e, até mesmo, provocar novos, como por exemplo o surgimento
de manchas, principalmente nos lugares onde a água para entre as tábuas e os separadores.
Assim sendo, no que diz respeito às questões construtivas, a cobertura pode ser
realizada em diversos materiais como telhas cerâmicas, zinco, ou qualquer outro material que
permita executar o telhado de forma que ele consiga escoar adequadamente a água da chuva.
Todavia, vale lembrar que em caso de que a madeira seja nobre, pode ainda ser feito uma
proteção lateral, sendo construída alguma vedação vertical, desde que esta não impeça a livre
circulação do ar (MARQUES, 2002).

2.5.8.1.3 Recomendações gerais sobre empilhamento

• Usar peças que possuam espessura uniforme;


• Utilizar bases bem-feitas, que sejam firmes e bem espaçadas;
• Cuidar com o correto espaçamento entre separadores e seu alinhamento
vertical;
• Evitar deixar peças de madeira sem apoio nas pontas, caracterizando as
chamadas “pontas livres”;
• Empilhamentos inclinados e tesoura devem ser utilizadas por períodos de
tempo curtos, não maiores que 3 a 4 dias para peças de com 1” de espessura e
não maiores que uma semana para peças com 2” ou mais de espessura. Após,
116

recomenda-se utilização do empilhamento na forma padrão (MARQUES,


2002).

2.5.8.1.4 Recomendações técnicas para em regiões de clima seco

Marques (2002) buscou sintetizar algumas recomendações técnicas para a secagem ao


ar livre em regiões de clima seco buscando-se a redução do índice de defeitos das madeiras
possuidoras de tendência a rachar e empenar. Assim sendo, são elas:
• Redução da velocidade de secagem:
o Utilização da disposição das pilhas de secagem em posição menos
favorável (com o comprimento da pilha em paralelo) com relação à
direção predominante do vento;
o Aumento da largura das pilhas e diminuindo o espaçamento entre elas;
o Utilização de separadores com dimensões menores buscando a
aproximação entre as tábuas e a consequente diminuição da circulação
do ar entre elas (MARQUES, 2002).
• Utilização de seladores (colas, vernizes, tintas, etc.):
o A utilização deste tipo de produto no topo das peças pode diminuir
ocorrência de rachaduras nesta região;
• Colocação de pesos em cima das pilhas, buscando evitar o empeno das peças
nas camadas superiores da mesma;
• Colocar tábuas na base das pilhas visando a obstrução da entrada do ar pelo
local, o que reduz a circulação do ar e, consequentemente, a velocidade de
secagem;
• Quando a madeira atingir o teor de umidade desejado, recomenda-se armazená-
la em pilhas sem separadores a fim de manter seu teor de umidade o mais
estável possível (MARQUES, 2002).

2.5.8.2 Secagem controlada da madeira

A secagem da madeira pode ser efetuada de forma natural sob as ações do meio
ambiente ou de forma artificial em secadores ou estufas (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
No que se refere à secagem artificial, tem-se diversos tipos, sendo o mais conhecido o
processo da secagem convencional. Pratt (1974), definiu como secagem convencional o
processo de secagem pelo qual a madeira serrada passa em equipamentos (determinados
117

secadores) que operam a temperaturas entre 35 e 90ºC (JANKOWSKY; GALINA, 2013).


Marques (2002) completa, dizendo que este processo possui, além da temperatura, a umidade
relativa e a circulação do ar controladas (MARQUES, 2002).
Mesmo que não seja abordado com profundidade adequada, serão expostos a seguir
alguns possíveis benefícios em caso de adoção de métodos de secagem nesta linha de
procedimento.

2.5.8.2.1 Vantagens da secagem artificial controlada

• Redução do tempo de secagem, o que possibilita maior giro de capital e a


eliminação de grandes áreas para secagem natural;
• Controle maior sobre a ocorrência de defeitos na madeira;
• Possibilidade de eliminar fungos e insetos;
• Redução o teor de umidade de qualquer espécie de madeira a um valor
predeterminado em qualquer época do ano (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.9 Defeitos de secagem

Os defeitos devido a secagem são causados por tensões que acabam se desenvolvendo
no interior das peças de madeira devido às contrações geradas pela anisotropia do material e
pelo gradiente de umidade. Consequência disso, tem-se perdas de matéria prima para quem seca
a madeira, diminuição da qualidade final do produto e desestimulo da utilização de espécies
que são mais suscetíveis a defeitos, o que causa uma exploração seletiva (MARQUES, 2002).
A seguir, a Figura 63 exemplifica cada um dos defeitos que serão expostos nos próximos itens
do trabalho.
118

Figura 63 - Defeitos em decorrência da secagem

Fonte: Marques, 2002.

2.5.9.1 Empenamento

O empenamento é qualquer torção que ocorra em relação a qualquer plano da peça de


madeira, podendo ser longitudinais, encanoados e torcidos (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.9.1.1 Empenamento longitudinal

Chamado por Marques (2002) de arqueamento ou encurvamento (Figura 63.4 e 63.5)


(MARQUES, 2002), é caracterizado por ocorrer no plano que une um extremo ao outro da peça
de madeira. Sua causa é a irregularidade da grã ou quando a peça é retirada da tora de tal forma
que faça um ângulo com a direção de seu comprimento ou, ainda, quando a árvore desenvolve
tensões internas durante seu crescimento. Em tais condições, pode ocorrer a rachadura no centro
das tábuas desdobradas apresentando empenamento longitudinal (GALVÃO; JANKOWSKY,
1985).

2.5.9.1.2 Empenamento encanoado


119

Para Marques (2002), o empenamento encanoado ocorre quando há maior contração


tangencial do que radial (MARQUES, 2002). Galvão e Jankowsky (1985) completam dizendo
que ele é caracterizado pelo encanoamento da tábua de madeira desdobrada com a manutenção
de suas margens aproximadamente paralelas. Este tipo de empenamento é consequência da
instabilidade da peça nas direções radial e tangencial, provocando uma maior movimentação
de uma das faces em relação a outra.
Além dessa, outra causa possível é a maior velocidade de secagem de uma das faces
da tábua. A diferença no teor de umidade pode ocorrer quando uma face está completamente
apoiada e a outra não, fazendo com que a face não apoiada seque de forma mais rápida ou
quando uma das faces recebe algum tipo de revestimento enquanto a outra permanece ao
natural.
Vale lembrar que, geralmente, as peças retiradas da parte mais externa e próxima à
casca da tora são as que tendem a apresentar este fenômeno com maior frequência (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).

2.5.9.1.3 Empenamento torcido

O empenamento torcido tem como característica torcer a tábua serrada. Geralmente,


ele tem maior incidência em madeiras provenientes de árvores que possuem grã espiralada
(GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.9.2 Rachaduras

Segundo Marques (2002), o rachamento é um defeito que ocorre devido à utilização


de elevadas temperaturas nos períodos iniciais de secagem, o que acarreta uma velocidade
elevada de perda de água (MARQUES, 2002), a qual é maior do que a velocidade em que se dá
o gradiente de umidade dentro da peça, secando demais a parte mais externa e causando a
rachadura. Ademais, Galvão e Jankowsky (1985) acrescentam dizendo que estas aparecem em
decorrência de tensões (as quais acabam sendo maiores que a resistência dos tecidos lenhosos)
causadas pela diferença na retração nas direções radial e tangencial da madeira (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).

2.5.9.2.1 Rachaduras superficiais


120

Observadas na Figura 63.2, as rachaduras superficiais podem surgir quando as


condições são muito severas nas secagens artificiais, ou seja, baixas umidades relativas que
provocam rápida secagem das camadas superficiais até valores abaixo do USA enquanto as
camadas internas da madeira permanecem com 30% (ou mais) de umidade.
Assim, as camadas internas impedem as superficiais de se retraírem, o que causa
tensões internas que podem vir a exceder a resistência à tração perpendicular às fibras da espécie
de madeira, provocando rompimento dos tecidos lenhosos. Geralmente, esta ruptura acontece
nos tecidos dos raios, os quais são constituídos de células parenquimáticas (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).

2.5.9.2.2 Rachaduras de topo

Observadas na Figura 63.1, Galvão e Jankowsky (1985) entendem que este tipo de
rachadura surge, na grande maioria das vezes, nos raios constituídos por células
parenquimáticas de reduzida resistência mecânica, sendo consequência da diferença entre as
tensões tangenciais e radiais. Os autores afirmam que é bastante difícil a secagem de toras que,
em suas seções transversais, não terminem apresentando este tipo de rachadura (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).

2.5.9.3 Encruamento

Para Marques (2002), encruamento é a condição que a madeira apresenta onde as


camadas superficiais da peça se encontram submetidas à compressão, enquanto as camadas
internas ficam submetidas à tração, após o processo de secagem (MARQUES, 2002).
Galvão e Jankowsky (1985) explicam o fenômeno. Basicamente, o mesmo ocorre
devido a uma secagem muito rápida ou desuniforme, com umidade inicial superior ao USA,
fazendo com que as camadas externas das peças de madeira atinjam rapidamente baixos valores
de umidade. Assim, estas ficam sob tensão de tração, visto que a parte central das peças
(camadas internas) permanece acima da USA e não se retraem, ficando sob compressão.
Contudo, na continuação da secagem (nas mesmas condições), as regiões centrais das
peças passam a um teor de umidade inferior ao USA e começam a retrair-se, o que não acontece
com as camadas externas, causando tensão de compressão nas mesmas. Assim, obtém-se peças
com a parte interna tracionada e parte externa comprimida, situação que acaba permanecendo
mesmo depois das peças atingirem um teor de umidade uniforme (GALVÃO; JANKOWSKY,
1985).
121

Portanto, o processo de encruamento pode ocasionar rachaduras internas do tipo favo


de mel, além de ter relação com rachaduras superficiais, sendo que este tipo de defeito é
encontrado apenas em madeiras secas de forma artificial.
Vale lembrar que peças na situação descrita somente apresentarão seus defeitos, ou
melhor, eles apenas ficarão visíveis em caso de que seja desdobrada novamente. Logo, se a
peça for desdobrada novamente no sentido de sua espessura, o resultado serão duas tábuas
encanoadas (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).

2.5.9.3.1 Rachaduras em favos

Defeito típico de secagem artificial, as rachaduras em favos se caracterizam por


acontecerem no interior das peças de madeira, sem apresentar defeitos visíveis na superfície.
Este tipo de defeito é, geralmente, associado ao colapso e ao encruamento, consequência da
tração sofrida no interior das peças que excederam a resistência à tração perpendicular às fibras.
É possível prevenir o surgimento deste defeito evitando altas temperaturas no período inicial
do processo de secagem, onde ocorre a remoção da água livre do interior das peças (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).

2.5.9.4 Colapso

Este defeito é ocasionado, basicamente, por forças que são geradas durante a
movimentação da água capilar, que acabam deformando as células.
A seguinte equação permite prever o colapso quando a tensão desenvolvida pela saída
da água capilar for maior que a resistência da madeira à compressão.
𝑆
𝑇 = 2. ( ) (21)
𝑅
Assim sendo, os fatores que influenciam no colapso da madeira são:
• Pequeno diâmetro dos capilares;
• Altas temperaturas no início da secagem;
• Baixa densidade da madeira;
• Alta tensão superficial do líquido que é removido da madeira (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).
Vale lembrar, também, que a presença de bolhas de ar na água capilar diminui a
possibilidade de colapso (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
122

2.6 PRODUTOS PRESERVATIVOS PARA MADEIRA

Este é um assunto bastante amplo, o qual envolve diversas frentes. Dentre elas, temos:
proteção da madeira contra o fogo, proteção contra-ataques de agentes bióticos, proteção contra
degradação química, intemperismos e proteção contra desgastes mecânicos. Assim, no caso da
madeira, se torna mais eficiente falar em prevenção do que tratamento de material infectado ou
comprometido (WALKER, 1993).
Como existem inúmeras espécies de agentes biológicos deterioradores da madeira, se
torna inevitável a utilização de produtos em tratamentos preservativos (MORESCHI, 2013).
Assim, a durabilidade natural de uma determinada espécie indica apenas a taxa com que ela se
deteriorará. Porém, ainda que este fato seja inevitável, isto não precisa ocorrer necessariamente
quando se fala em produtos madeireiros (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
Desta forma, é possível introduzir a utilização de diferentes tipos de preservativos,
visto que existem, como citado anteriormente, diversos agentes deterioradores, biológicos ou
não, que possuem especificidades únicas as quais precisam ser corretamente combatidas para
se obter um tratamento eficaz, maximizando a vida útil da madeira para o fim no qual ela foi
utilizada.

2.6.1 Características de um produto preservativo adequado

O uso final de um determinado produto de madeira tratada deve ser considerado como
um fator importante na hora de escolher o produto a ser usado (MORESCHI, 2013).
Assim, de forma geral, a AWPA (American Wood Preservers Association) ou,
traduzindo, Associação Americana de Preservadores da Madeira, expõe as principais
características que um produto preservativo necessita:
• O preservativo deve ser tóxico aos organismos xilófagos;
• A comprovação de sua qualidade precisa ser baseada em dados empíricos obtidos
de madeira em serviço;
• O produto deve possuir características químicas e físicas que o permitam ser
utilizado nas condições às quais ele é recomendado;
• O produto preservativo não pode possuir nenhuma característica indesejada ao uso
e manuseio dele;
• Ele precisa passar, de forma satisfatória, por testes em laboratórios e usinas;
123

• O preservativo deve estar disponível no mercado, sob patentes correntes e em uso


comercial.
Além disso, outras associações levantam alguns outros aspectos importantes para se
levar em consideração na hora de selecionar um produto adequado, sendo eles:
• Resistência à exaustão da madeira por: lixiviação, evaporação, volatilização e, por
microrganismos;
• Penetrabilidade: que é uma função da viscosidade;
• Toxicidade a gêneros alimentícios e à forragem;
• Corrosividade a metais;
• Odor;
• Cor.
Castro e Guimarães (2018) falam que a reação química entre uma substância
preservativa e os componentes que formam a madeira podem ter efeitos tanto positivos quanto
negativos na mesma.
Estudos foram feitos em uma determinada espécie de Pinus com 5 diferentes tipos de
preservativos a fim de avaliar quais eram os impactos do ponto de vista mecânico do material.
Em alguns casos, os resultados apontaram a uma melhora no valor médio do módulo de ruptura
e no módulo de elasticidade do material. Porém, a maior parte apresentou resultados médios
inferiores aos da testemunha ou sem nenhuma alteração (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
Percebe-se, desde já, uma necessidade de maior cuidado com relação a estes aspectos
de interação com a madeira. Pode-se, erroneamente, acreditar que o único fator importante na
escolha da substância ideal a ser utilizada no tratamento deste material são seus fatores de risco
potenciais, como os biológicos. Assim, é possível iniciar a introdução de novos fatores que
também influenciam nesta escolha.
Seguindo este raciocínio, outra propriedade da madeira que pode ser afetada
negativamente devido a um tratamento químico incorreto, é sua cor. Aliás, este é um dos fatores
mais importantes na hora de determinar seu valor de mercado. Portanto, esta também é uma
característica que precisa ser avaliada antes da escolha do produto, a fim de mitigar possíveis
perdas devido ao resultado de uma coloração não desejada para determinada espécie de madeira
(CASTRO e GUIMARÃES, 2018).

2.6.2 Tipos de preservativos para madeira

Os preservativos são comumente classificados em três grupos (FINDLAY, 1985):


124

➔ Preservativos oleosos, os quais são derivados de óleos extraídos do carvão,


petróleo ou madeira;
➔ Preservativos hidrossolúveis, os quais são produtos químicos solúveis em água;
➔ Preservativos óleossolúveis, os quais são substâncias químicas tóxicas para fungos
e insetos, solúveis apenas em solventes orgânicos;

2.6.2.1 Preservativos oleosos

2.6.2.1.1 Creosoto

É um produto destilado do alcatrão proveniente da carbonização da hulha betuminosa,


composto de hidrocarbonetos aromáticos que contém quantidades apreciáveis de ácidos e bases
de alcatrão.
Os alcatrões, por sua vez, podem ser classificados segundo sua temperatura de
carbonização:
➔ De alta temperatura ou secundários, são obtidos quando a temperatura de
carbonização da hulha é superior a 900ºC;
➔ De baixa temperatura, são obtidos quando a temperatura de carbonização da hulha
é inferior a 700ºC.
Destes citados acima, o alcatrão utilizado na produção de creosoto para preservação
de madeira é o da hulha betuminosa carbonizada a 900ºC ou mais (MORESCHI, 2013).
Dentre as vantagens do uso de creosoto, podem ser citadas sua toxicidade para fungos
e insetos, sua relativa insolubilidade na água e seu baixo custo. Entretanto, este é um produto
que pode manchar, seu odor é forte, usualmente não permite uma correta pintura da madeira e
é inflamável (WALKER, 1993).
É relevante lembrar, também, que alguns organismos são altamente resistentes ao
creosoto. Nestes casos, é recomendado o uso deste produto com uma fórmula reforçada.
Exemplo disso é: o creosoto reforçado com pentaclorofenol (contra o ataque do fungo Lentinus
lepideus), o creosoto reforçado com cobre (contra o ataque do crustáceo Limnoria tripunctatum)
e o creosoto reforçado com arsênio (contra o ataque do cupim Coptotermes formosanus)
(ROCHA, 2001).
Ademais, este produto não age apenas como elemento tóxico, tendo em vista que sua
presença, além de outros componentes pesados, tem a tendência de limitar a variação de
125

umidade na madeira tratada, o que a favorece tornando mais estável e resistente a rachaduras
(RICHARDSON, 1993).

2.6.2.1.2 Óleos naturais

2.6.2.1.2.1 Óleo de mamona (Ricinus communis):


Stumpp et al. (2006) avaliaram a eficácia deste óleo como produto preservativo para a
madeira de Pinus spp, Eucalyptus grandis e Araucaria angustifólia no que diz respeito ao
ataque do cupim Cryptotermes brevis. Observou-se um desempenho impecável no tocante ao
intemperismo, apresentando 100% de retenção da massa do preservativo após exposição da
madeira. Também foi registrada uma grande taxa de mortalidade do agente estudado, chegando
a 100% no caso do Pinus.

2.6.2.1.2.2 Óleo de linhaça (Linum usitatissimum):


Este material utilizado para tratamento da madeira é considerado um dos melhores, de
cunho natural, que existem pelo fato de ter um resultado secativo, proporcionando uma correta
impermeabilidade e proteção. No Brasil, por exemplo, seu uso já foi citado na literatura em
1905, recomendado como tinta protetora contra insetos e micróbios (TELES; FERREIRA,
2010).
Esse óleo exige a reaplicação pelo menos uma vez ao ano, não sendo necessário a
retirada da camada anterior para tal, facilitando o processo (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).

2.6.2.1.3 Óxido de bis (Tributil-Estanho) - TBTO

Este é um produto muito utilizado no reforço do creosoto utilizado em produtos de


madeira destinados à aplicação em ambiente marinho, devido ao fato de ser bastante eficiente
contra brocas.
Também pode ser encontrado no mercado reforçado com PCP (pentaclorofenol),
ortofenilfenol e boratos para proteção contra a podridão branca. Nesta forma, o TBTO possui
eficácia 7,5 vezes maior que o CCA (arseniato de cobre cromado). O único contratempo na
utilização desta forma do produto é seu alto custo (ROCHA, 2001).
126

2.6.2.2 Preservativos oleossolúveis

Os produtos preservativos oleossolúveis consistem em soluções tóxicas adicionadas


em solventes voláteis. Se o solvente for completamente volatilizado e a toxina for incolor, a
madeira tratada será perfeitamente limpa, ao contrário dos preservativos oleosos, por exemplo.
Entretanto, embora o solvente oleoso não afete a toxicidade do preservativo, sua
utilização encarece o produto. Portanto, é recomendável o uso destes produtos oleossolúveis
apenas nos casos em que soluções hidrossolúveis sejam inviáveis (RICHARDSON, 1993).
Ademais, vale ressaltar que a utilização de produtos oleossolúveis precisam de uma
atenção diferenciada com relação a sua volatilidade. Isso se deve ao fato de que, para algumas
utilizações, como é o caso de fibras e cavacos tratados. Em um processo industrial de painéis,
por exemplo, estas são submetidas à prensagem a quente cujo efeito causa uma perda
significativa de material pela consequente evaporação do mesmo. Todavia, esta situação torna
o processo industrial insalubre para os funcionários da fábrica devido a poluição ambiental
causada, principalmente em locais fechados (MORESCHI, 2013).
Portanto, antes da seleção e posterior utilização de qualquer um dos produtos a seguir,
é sugerido por Moreschi (2013) analisar a ficha técnica do mesmo, dando grande relevância
para o fator da volatilidade.

2.6.2.2.1 Pentaclorofenol – PCP

O PCP, que é um produto em desuso, é considerado um produto químico de alta


eficiência para a proteção da madeira à maior parte dos agentes xilófagos (com exceção de
brocas marinhas). Ele é produto da cloração direta do fenol, o que o torna insolúvel em água e
ácido (MORESCHI, 2013).
Seu principal solvente é o petróleo bruto, substância que serve para tratamento de
dormentes e óleos leves (querosene, óleo de linhaça, acetona, etc.). Contudo, quando óleos leves
são utilizados, o PCP pode vir a ser deslocado até a superfície da peça de madeira tratada, o que
se deve à rápida evaporação do solvente. Uma vez na superfície da peça, esta se cristaliza,
tornando sua utilização imprópria, já que é uma substância nociva tanto para o ser humano
quanto para animais domésticos (ROCHA, 2001).
No Brasil, o PCP vinha sendo utilizado como preservativo de madeira, uma vez que
seu uso como agrotóxico foi proibido desde 1985. Entretanto, em 2015, os países vinculados à
Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes (da qual o Brasil é membro)
127

baniram o uso do PCP com apenas uma exceção, a preservação industrial de madeiras utilizadas
exclusivamente para postes e dormentes (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).

2.6.2.2.2 Tribromofenol – TBP

O tribromofenol, como o próprio nome diz, é composto por três células de bromo e
uma de fenol, de cor branca e cristalizada em forma de agulhas ou flocos, é solúvel em etanol,
clorofórmio, éter etílico e soluções cáusticas, mas praticamente não é solúvel em água.
Este começou a ser utilizado em 1985, após o banimento a produtos como o
pentaclorofenol, substituindo estes que eram até então usados para tratamento de madeira e que
se mostravam bastante eficazes. No entanto, não demonstrou ser tão eficaz como seus
antecessores, provavelmente por fatores climáticos os quais contribuem para exaurir com maior
rapidez o produto da madeira e deteriorá-la mais facilmente, além de não proteger de forma
eficaz contra outros tipos de agentes biológicos (MORESCHI, 2013).

2.6.2.2.3 Outros produtos preservativos oleossolúveis

Anteriormente ao banimento do uso de produtos organoclorados para o tratamento da


madeira, usava-se uma grande variedade de produtos preservativos oleossolúveis,
especialmente quando se tratava de proteger o material contra o ataque de insetos (MORESCHI,
2013).
Dentre estes, podem ser citados:

2.6.2.2.3.1 Aldrin
Inseticida por contato e ingestão, não fitotóxico quando usado dentro das
recomendações. Transforma-se em Dieldrin depois de aplicado na madeira e tem um poder
residual de aproximadamente 6 anos.

2.6.2.2.3.2 Dieldrin
Atua por contato e ingestão, não fitotóxico quando usado dentro das recomendações.
É um produto mais resistente, ou seja, com maior poder residual que o Aldrin.

2.6.2.2.3.3 Endrin
Atua por contato, ingestão e fumigação (usado no tratamento de solo quando havia
necessidade de ação inicial intensa contra cupins).
128

2.6.2.2.3.4 Clordane
Hidrolisa com facilidade e perde o efeito inseticida com maior rapidez que os
anteriores.

2.6.2.2.3.5 Heptacloro
Mais estável que o clordane (MORESCHI, 2013).

2.6.2.3 Preservativos hidrossolúveis:

Estes consistem em solução de íons inorgânicos, geralmente formulados de óxidos


para evitar íons inativos desnecessários como o sódio e o sulfato.
Antigamente eram utilizados sais simples como preservativos para madeira, porém
estes possuíam diversas desvantagens: eram tóxicos ao ser humano, corrosivos, de fácil
lixiviação ou de efetividade muito restrita a apenas certo tipo de agente xilófago
(RICHARDSON, 1993).
Hoje em dia, somente algumas formulações bem testadas são reconhecidas como
padrão em todo o mundo. Elas incluem compostos de arsênico, cromo, cobre, zinco e flúor
(MORESCHI, 2013). Segundo Castro e Guimarães (2018), dentre várias formulações
existentes, as mais importantes são os CCA (Arseniato de Cobre Cromatado) e CCB (Bromato
de Cobre Cromatado) (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
Vale ressaltar que, segundo Moreschi (2013), outros metais e ânions reconhecidos
como tóxicos a agentes xilófagos, tais como mercúrio, níquel, tálio e cianeto, não são utilizados
devido a razões econômicas, por ineficiência ou pela excessiva agressividade ao homem e/ou
ao meio ambiente (MORESCHI, 2013).

2.6.2.3.1 Arseniato de Cobre Cromatado – CCA

É considerado o melhor e mais usado produto hidrossolúvel. Nos Estados Unidos este
produto dominou o mercado de 1970 a 2004, época em que sua utilização passou a ser
controlada e restrita apenas a aplicações industriais, sendo proibida a venda de forma direta ao
público. Hoje em dia não é mais permitida a utilização de madeira tratada com este produto
para construção de decks nos domicílios ou em playgrounds (LEBOW, 2010).
É possível encontrar o CCA sendo comercializado em 3 formulações diferentes
apresentadas na Tabela 7 a seguir:
129

Tabela 7 - Composição do CCA em %

Fonte: Moreschi, 2013.

2.6.2.3.2 Borato de Cobre Cromatado - CCB

Em 1913, na Alemanha, Wolman começa a misturar cromo e boro com sais metálicos,
iniciando o desenvolvimento de um preservativo para madeiras. Assim, durante os anos de
guerra e pós-guerra (durante a década de 1910 e 1920), tal produto repercute e acaba
conquistando bastante aceitação em diversos lugares pelo mundo, como: Estados Unidos,
África e Ásia. Hoje, o CCB (assim chamado) é reconhecido e utilizado amplamente devido à
sua alta eficiência contra-ataques de fungos e insetos, assim como, contra brocas marinhas
(MORESCHI, 2013).
O CCB é um produto alternativo ao CCA, diferenciando-se pelo uso do elemento boro
no lugar do arsênio. Esta mudança na composição do produto teve motivação devido à
volatilização do arsênio em algumas situações, principalmente quando existe a necessidade de
calefação de um determinado ambiente fechado de forma prolongada, o que pode expor o
usuário ao envenenamento (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
Ainda assim, quando utilizado em condições favoráveis, onde não ocorra lixiviação
rápida do produto, ele é muito eficaz (MORESCHI, 2013), principalmente contra o ataque de
besouros Lyctus spp (ROCHA, 2001).

2.6.2.3.3 Arseniato de Cobre Amoniacal – ACA

O ACA é um produto tóxico a um enorme número de fungos e é empregado no


tratamento de madeiras por impregnação (MORESCHI, 2013). Os elementos ativos se fixam à
estrutura molecular da madeira após a evaporação da amônia, oferecendo proteção boa e
duradoura (GONZAGA, 2006).
130

Além disso, a amônia possui dupla função neste produto, sendo: manter o preservativo
solúvel, retardando a precipitação de arsenito de cobre na solução e; reduzir o efeito corrosivo
em metais utilizados em contato com a madeira (MORESCHI, 2013).

2.6.2.3.4 Cromato de cobre ácido – ACC

O ACC tem o composto de cromo na forma exavalente. Se trata de uma combinação


entre sulfato de cobre, dicromato de sódio e trióxido de cromo. Sua composição é apresentada
na Tabela 8.
Vale ressaltar que, neste caso, o cromo é incluído no composto com o objetivo de:
• Reduzir o efeito corrosivo do sulfato de cobre a metais e;
• Precipitar o cobre na forma de cromato de cobre insolúvel.
Tabela 8 - Composição do ACC

Fonte: Moreschi, 2013.

2.6.2.3.5 Cloreto de Zinco Cromatado – CZC

Segundo Moreschi (2013) este é, provavelmente, o preservativo mais antigo dentro


dos que ainda se utilizam. Ele foi pensado para controlar a lixiviação e o efeito corrosivo a
metais do cloreto de zinco puro e, por isso, foi bastante utilizado na falta de Creosoto durante a
Primeira Guerra Mundial.
Sua utilização vem caindo ao longo do tempo, pois outros preservativos com maior
eficácia foram sendo desenvolvidos. Porém, este ainda se utiliza, mesmo que em pequena
escala, devido a suas propriedades preservativas e retardantes de fogo (MORESCHI, 2013).

2.6.2.3.6 Compostos de Boro


131

Boratos em baixas concentrações são eficientes quando utilizados no tratamento da


madeira de folhosas suscetíveis ao ataque de besouros Lyctus spp, seja por spray, seja por
imersão. Além disso, funcionam muito bem no controle de fungos que causam manchas,
especialmente em altos pHs. Isto torna o tetraborato de sódio puro mais competente que o ácido
bórico ou a mistura dos dois.
O ácido bórico e o tetraborato de sódio (mais conhecido como Borax) não são solúveis
o suficiente como para realizar um tratamento bem-feito na madeira. Porém, maiores
concentrações podem ser alcançadas se forem misturadas ambas as substâncias em quantidades
de 1 parte de ácido bórico e 1,54 partes de tetraborato de sódio decahidratado. Este composto
em solução saturada acaba por se desidratar, formando o produto conhecido por “Timbor”, que
é considerado como o principal produto preservativo a base de Boro (MORESCHI, 2013).

2.6.3 Produtos preservativos registrados

No Anexo 1 deste trabalho encontra-se uma lista de produtos preservativos registrados


no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), a
qual foi acessada no dia 16 de março de 2022 e que possuía como última atualização a versão
do dia 20 de maio de 2021.

2.7 MÉTODOS DE TRATAMENTO

Segundo Silva (2008), os métodos de tratamento preservativo da madeira podem ser


subdivididos em dois grupos principais: os passivos e os ativos. No primeiro, encontram-se
métodos como a pincelagem, aspersão, pulverização e imersão, os quais não permitem um
controle maior sobre a quantidade de produto absorvido pela madeira. Já no segundo,
encontram-se os métodos baseados em autoclave, os quais permitem um maior controle sobre
a absorção do preservativo no material (SILVA, 2008).

2.7.1 Métodos passivos

2.7.1.1 Pincelamento da madeira seca

Neste método, o produto preservativo é aplicado na madeira de forma manual com


pincel e/ou rolo e o líquido penetra por capilaridade. A depender da futura utilização da peça,
deverá ser avaliada a necessidade de mais demãos (SILVA, 2008). Os preservativos mais
132

utilizados neste caso são os do tipo oleossolúveis por terem uma maior fixação e resistência à
lixiviação (ROCHA, 2001).
Todavia, vale ressaltar que a profundidade de tratamento requerida depende de
algumas variáveis, como: a espécie de árvore; a futura utilização da madeira; os agentes
deterioradores xilófagos aos quais a madeira estará exposta, entre outros. Outro fator que se
destaca é a escolha do produto preservativo adequado para o fim requerido, garantindo certas
condições mínimas, como: toxicidade ao usuário da madeira tratada; viscosidade; cor; odor e;
compatibilidade com tintas e vernizes que serão utilizados (MORESCHI, 2013).
Portanto, é de suma importância definir corretamente o local e a utilização final da
peça de madeira para que possa ser definido o produto mais adequado para o tratamento, além
de sua profundidade, quantidade e concentração, que em conjunto de uma correta aplicação e
distribuição ao longo da peça, permite que haja a retenção suficiente do mesmo, assegurando a
proteção desejada.

2.7.1.2 Aspersão e pulverização da madeira seca

Estes tratamentos são bastante similares (CASTRO e GUIMARÃES, 2018) e por isso
compõem um único item no presente trabalho.
A diferença básica entre um e outro é que, no método de aspersão, a peça de madeira
é levada até uma câmara especial para o tratamento, no qual é feito a pulverização de forma
manual ou automatizada mecanicamente (SILVA, 2008). Já quando se fala em pulverização
simplesmente, esta pode ocorrer em qualquer lugar.
Definida a diferença entre os dois, convém mencionar o método apenas como
pulverização, visto que a única diferença entre ambas é o local de aplicação no produto de
madeira. Assim sendo, vale ressaltar que uma demão de pulverização é aproximadamente três
vezes mais eficiente que uma demão do pincelamento (SILVA, 2008). Ademais, o tratamento
através de pincelamento proporciona apenas uma camada superficial de produto preservativo,
o qual acaba ficando mais suscetível à lixiviação e volatilização (RICHARDSON, 1993).
Uma desvantagem da pulverização com relação ao pincelamento se dá devido ao risco
de contaminação, tanto dos arredores de onde a peça está sendo pulverizada, quanto por parte
do próprio aplicador. Por isso, a necessidade da utilização de equipamentos de segurança que
proporcionem o devido isolamento do aplicador para com a substância preservativa, assim
como, uma preocupação com o ambiente que cerca a madeira a ser tratada, evitando ao máximo
a contaminação de grama, animais domésticos, etc. (MORESCHI, 2013).
133

Quando a madeira já está em uso, geralmente estes métodos mais simples são os mais
acessíveis para o tratamento (FAO, 1986). Não obstante, vale lembrar que tanto os métodos de
pincelamento quanto de pulverização são de baixa eficácia. Estes devem ser utilizados apenas
quando se tratar de peças de madeira de menor porte e que, além disso, não estejam destinados
a um uso muito prolongado devido à pequena penetração do preservativo (SILVA, 2008).

2.7.1.3 Imersão ou encharcamento da madeira seca

Segundo Moreschi (2013), uma madeira seca e permeável pode ser submersa em um
preservativo por tempo determinado empiricamente afim de alcançar a profundidade de
penetração desejada. Tal tempo pode variar de alguns poucos segundos a várias horas ou dias.
Neste método, a madeira é submersa em um recipiente de tratamento contendo o
produto adequado, à temperatura ambiente, durante o tempo necessário para se obter a absorção
desejada (SILVA, 2008), desde que ela seja suficientemente permeável (MORESCHI, 2013).
O tratamento é finalizado com a secagem da madeira para a evaporação do solvente (SILVA,
2008).
Vale ressaltar que a profundidade de encharcamento obtida sempre irá depender da
espécie da madeira e do produto preservativo utilizado (LEBOW, 2010).
Todavia, a depender do tempo de submersão ao qual a madeira será submetida, este
método de tratamento pode ser subdividido em dois grupos: a imersão simples e a imersão
prolongada.

2.7.1.3.1 Imersão simples

Também chamado de tratamento por imersão rápida, este é bastante utilizado em


esquadrias de madeira (MORESCHI, 2013). Segundo Rocha (2001), este método de imersão é
utilizado em madeiras utilizadas para fins estruturais e ocorre em um banho realizado na
madeira que pode durar de alguns segundos até, no máximo, 10 minutos (ROCHA, 2001).
Neste caso, é recomendável o uso de preservativos com baixa viscosidade para se obter
uma maior absorção do produto (RICHARDSON, 1993).
Em comparação com a pulverização, por exemplo, para chegar a um resultado
equivalente ao deste método seria necessária a submersão da madeira por aproximadamente 15
segundos (RICHARDSON, 1993).

2.7.1.3.2 Imersão prolongada


134

Por outro lado, tem-se o tratamento prolongado, onde a peça de madeira fica submersa
por um período maior de tempo, podendo chegar até algumas semanas. Consequentemente, a
penetração do preservativo na madeira é maior, mesmo que não seja proporcional ao tempo em
que fica submerso (SILVA, 2008).
Guiotoku e Magalhães (2005), por exemplo, estudaram o método de imersão
prolongada no tratamento preventivo de mourões de Eucalyptus benthamii e dunni, no qual as
peças de madeira ficaram submersas durante 40 dias e, após isso, foram empilhados na sombra
e protegidos da chuva para que secassem, fixando os componentes do preservativo.
Segundo os autores supracitados, a penetração após este prazo é extremamente
pequena, não sendo mais eficaz a submersão das peças de madeira. Assim, mesmo sem um
período determinado, esta afirmação corrobora o que os autores Silva (2008) e Moreschi (2013)
delimitam como possível intervalo de tempo para um tratamento prolongado, visto que ambos
falam em um período não maior do que algumas semanas.
Além disso, devido às características hidrófilas da madeira, é recomendado, para maior
eficiência do tratamento, que se utilizem produtos preservativos oleossolúveis, por terem como
característica uma baixa viscosidade. Os hidrossolúveis, em contrapartida, por possuírem uma
viscosidade maior, aumentam bastante o tempo e a profundidade de absorção nas peças
(MORESCHI, 2013).
Outro ponto importante é que, sabendo-se o volume da madeira a ser tratada, o peso
do produto preservativo recomendado e a absorção requerida para que se atinja a penetração
previamente determinada, é possível calcular a concentração de solução a ser utilizada através
da seguinte equação:
𝑅. 𝑉. 100
𝐶= [%]
𝐴
Onde:
• C = Concentração da solução a ser utilizada, expressa em percentual;
• R = Peso do produto preservativo recomendado, expresso em kg/m³;
• V = Volume da madeira a ser tratada, expresso em m³;
• A = Absorção requerida para atingir determinada penetração, expressa em
L/m³.
Assim, pode-se concluir que o tratamento por imersão possui várias vantagens, por ser
simples, barato e atingir ótimos valores de absorção e retenção, desde que o tempo adequado
seja respeitado (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
135

2.7.1.3.3 Banho quente-frio

Este método requer madeira seca e sem casca. Ele é geralmente realizado com dois
tanques, um com solução preservativa quente e outro fria. Entretanto, pode ser realizado em
apenas um tanque, substituindo-se apenas o preservativo.
O banho quente dura em torno de 2 horas e é feito através da imersão da madeira em
sua totalidade na solução, que geralmente é o creosoto, a uma temperatura de aproximadamente
100°C. Os efeitos desta imersão serão uma certa absorção do preservativo aliada à expansão do
ar estabelecido nas cavidades da madeira (GALVÃO et al., 2004).
Na sequência, as peças precisam ser rapidamente colocadas em posição vertical no
tanque com preservativo frio. Este banho frio, que tem duração aproximada de 4 horas, irá
contrair o ar contido nestas cavidades, causando um efeito de vácuo e, consequentemente,
fazendo com que mais produto seja absorvido pela madeira (GALVÃO et al., 2004).
Este método pode se ver limitado do ponto de vista prático, visto que alguns
preservativos, como é o caso dos aquosos e solventes orgânicos, não podem ser aquecidos.
Nestes casos, é recomendado o tratamento com vapor ou água quente para que, na sequência, a
madeira seja transferia a um tanque com o produto em temperatura ambiente (SILVA, 2008).
Refletindo sobre este método, o mesmo pode ser bastante atrativo, visto que o
investimento inicial em equipamentos é relativamente baixo, além de não precisar de mão de
obra qualificada para ser realizado. Vale ressaltar, também, que este pode obter resultados
equiparáveis a métodos de preservação ativos, o que o torna uma excelente opção de tratamento
(CASTRO e GUIMARÃES, 2018).

2.7.1.3.4 Tratamento por difusão simples

O princípio no qual este método se baseia é que produtos hidrossolúveis concentrados,


quando em contato com a superfície da madeira verde, se diluem na água contida na peça,
penetrando gradualmente na mesma (MORESCHI, 2013). Ou seja, ocorre uma diferença de
concentração entre a seiva e a solução, culminando na migração de íons para o interior da
madeira até que se estabeleça um equilíbrio entre ambas. Vale lembrar, também, que o teor de
umidade precisa, necessariamente, ser bastante elevado para que não haja a ocorrência de
bolhas de ar no interior da peça que venham a impedir este movimento capilar descrito
(ROCHA, 2001).
136

Outro fator que importa neste método é a concentração da solução durante o tempo em
que a peça está submersa. Esta deve ser controlada e regulada levando-se em consideração o
volume de material a ser tratado e a retenção desejada. Isto se deve ao fato de que as moléculas,
como dito anteriormente, migram para o interior da madeira, exaurindo a solução e
comprometendo, em caso de não realização, o resultado final do tratamento (MORESCHI,
2013).
Após a imersão da madeira verde no preservativo pelo tempo predeterminado, é
importante que esta fique durante um período secando em ambiente sombreado e protegido da
chuva, possibilitando a secagem lenta e uma maior absorção do preservativo. Segundo Rocha
(2001), este período é de aproximadamente 4 meses (ROCHA, 2001). Galvão (et al., 2004) e
Moreschi (2013) discordam deste último autor e afirmam que este período pode estar completo
em aproximadamente um mês, porém ambos citam a utilização de uma película impermeável
cobrindo a madeira, o que potencializa o processo e ajuda a evitar a perda de umidade rápida.

2.7.1.3.5 Tratamento por dupla difusão

Este refere-se ao tratamento da madeira, por difusão, com pelo menos duas substâncias
preservativas, aplicadas em tempos diferentes, com duas condições básicas: ter sido
devidamente descascada e possuir elevado teor de umidade.
Basicamente a peça é submersa em uma determinada solução por um determinado
período de tempo. Após isso, ela é retirada, enxaguada e submersa na segunda solução pelo
mesmo período de tempo. No final, ocorre o processo de secagem que se da mesma forma que
na difusão simples, onde a peça é coberta com película impermeável para se obter uma lenta
perda de umidade (MORESCHI, 2013).
O objetivo é se obter uma melhor qualidade no tratamento utilizando produtos
diferentes, os quais reagem com os constituintes da madeira formando compostos insolúveis
em água, o que também explica o porquê ser possível o enxague com água da peça entre a
submersão em uma solução e outra. O fato destas soluções precisarem ser utilizadas em
períodos diferentes deve-se ao fato de que, se colocadas ao mesmo tempo, reagiriam entre si,
precipitando-se antes de penetrarem na madeira (MORESCHI, 2013).

2.7.1.3.6 Tratamento por substituição de seiva

Segundo Moreschi (2013), os tratamentos que são considerados como de substituição


de seiva têm como objetivo, de fato, substituir parcialmente a água contida na estrutura das
137

árvores recém cortadas por uma solução preservativa, geralmente hidrossolúvel (MORESCHI,
2013).
Neste método, madeiras roliças com no máximo 48 horas entre o corte e o início do
tratamento são colocadas de pé, em recipiente contendo solução preservativa, de forma que a
mesma penetre na madeira por capilaridade à medida que ocorre a evaporação da água contida
na peça. O processo é interrompido quando a mesma atingir o grau de penetração desejado do
preservativo (ROCHA, 2001).
Para que seja efetuado um bom tratamento, alguns cuidados precisam ser tomados: a
ponta submersa da peça de madeira a ser tratada deve ser recém cortada para que não ocorra
uma evaporação da água existente e consequente formação de bolhas indevida que venha a
atrapalhar a penetração do preservativo por capilaridade; a casca precisa ser devidamente
retirada para que haja uma maior permeabilidade e consequente evaporação da água,
principalmente na porção da peça que não está submersa e; a madeira precisa conter um elevado
teor de umidade, sendo preferível que seja de origem natural (MORESCHI, 2013).
Outro detalhe importante a ser destacado é que deve ser utilizado um produto
preservativo que seja hidrossolúvel e que reaja lentamente com as substâncias constituintes da
madeira. Para tal, geralmente utiliza-se CCB ou FCAP em concentrações entre 3 e 5%
(MORESCHI, 2013).
Após o tratamento, que deve ser realizado em local protegido de intempéries e bastante
ventilado, a peça pode ser descascada, se for o caso, e submetida à secagem (ROCHA, 2001).

2.7.1.3.7 Tratamento pelo processo de Boucherie

Método pouco difundido no Brasil (CASTRO e GUIMARÃES, 2018) este tratamento


foi desenvolvido em 1838 pelo francês Auguste Boucherie e tem por objetivo o tratamento de
madeira verde na forma de tora (MORESCHI, 2013). Sua tecnologia ainda é a base de métodos
utilizados até os dias de hoje (FREEMAN et al., 2003).
Ele é uma variante do método de substituição de seiva, onde as peças são apoiadas no
chão com uma leve inclinação em uma de suas extremidades e ainda possuindo casca. O
preservativo é alimentado por um reservatório elevado o qual é ligado à tora por meio de uma
tubulação que, por sua vez, se comunica com a tora através de uma capa de borracha ajustada
ao diâmetro da mesma. Assim a pressão hidrostática que a solução exerce na madeira faz com
que a mesma a penetre, expulsando a seiva pela outra extremidade. (SGAI, 2000).
138

Segundo Galvão et al (2004), uma pesquisa feita com madeira de Algaroba indicou
que a inclinação da tora não afeta a distribuição, penetração e retenção do preservativo
(GALVÃO et al., 2004). Além disso, Rocha (2001) explica que a solução pode penetrar na
madeira até 1,5 metros por dia.
O processo é dado por finalizado quando se inicia o gotejamento do preservativo na
extremidade baixa da peça. Na sequência, as toras podem ser descascadas e passar novamente
por um processo de tratamento superficial, como o de encharcamento. O produto utilizado
geralmente para este procedimento é o sulfato de cobre (ROCHA, 2001).
Ainda sobre o produto, existe uma divergência de Moreschi (2013), o qual afirma que
o sulfato de cobre entrou em desuso por ser um produto altamente corrosivo a metais que entram
em contato com a madeira tratada. Assim, o autor aponta como substitutos o flúor e o boro
(ácido bórico, tetraborato de sódio, octaborato de disódio).
O processo supracitado é ilustrado na Figura 64 a seguir:
Figura 64 - Instalações necessárias para tratamento pelo processo de Boucherie

Fonte: Moreschi, 2013.


139

Além disso, Moreschi (2013) ressalta que os cuidados com relação à secagem pós-
tratamento da madeira, com capa impermeável para manutenção da umidade da peça por
aproximadamente um mês, proporcionando tempo para que o preservativo se espalhe melhor e
reaja uniformemente com os componentes da madeira, fixando-se a eles, ajudará na obtenção
de uma melhor qualidade no procedimento como um todo (MORESCHI, 2013).

2.7.1.3.8 Tratamentos temporários da madeira verde

O tratamento temporário da madeira visa proteger a mesma até que ela seque e atinja
níveis de umidade não suscetíveis a agentes deterioradores biológicos, como fungos,
emboloradores e insetos da ordem coleóptera. Este acontece pelo método de difusão, sendo
geralmente aplicadas soluções hidrossolúveis, emulsões ou pastas concentradas, as quais são
diluídas nas proporções corretas para determinado objetivo.
Este tipo de tratamento pode ocorrer a profundidades pequenas (tratamento tipo
envelope), intermediárias ou profundas. A profundidade a qual é alcançada pelo produto
preservativo, contado a partir da superfície da madeira, está relacionada com as características
químicas dos ingredientes ativos, os quais mudam conforme o tipo de tratamento adotado.
Portanto, isto depende do poder de reatividade destes ingredientes com os constituintes da peça
de madeira e da concentração da solução (MORESCHI, 2013).

2.7.2 Métodos de tratamento ativo

Estes são processos realizados com pressão superior à atmosférica exercida sobre o
preservativo. Assim, aumenta-se a penetração do produto na madeira e, consequentemente,
torna o procedimento mais econômico e eficiente em termos de proteção (Figura 65) (ROCHA,
2001).
Todavia, algumas desvantagens precisam ser levadas em conta antes da escolha deste
método para tratar a matéria prima. Dentre elas, tem-se o custo inicial elevado para aquisição
do equipamento e de sua correta manutenção, necessidade de uso de mão de obra treinada e,
quando necessário, deve ser levado em consideração o custo extra de transporte da usina de
tratamento até a indústria que irá utilizar tal matéria prima (ROCHA, 2001).
140

Figura 65 - Desenho esquemática de uma planta de tratamento de madeira típica

Fonte: Moreschi, 2013.


É importante, também, ressaltar o que são os chamados programas de tratamento
específico, os quais são baseados em tratamentos anteriores bem testados. Estes levam em
consideração todas as variáveis necessárias para que se garanta a repetição de um tratamento
de madeira o mais eficiente possível. Dentre estas variáveis, pode-se citar: a utilização final da
peça; as condições climáticas e meio ambiente aos quais a peça estará exposta; a espécie de
madeira a ser tratada; o produto ideal para o tratamento; o método de secagem ideal pré (se
necessário) e pós-tratamento; método ideal de aplicação do produto; entre outros que porventura
possam ser relevantes para a eficácia de todo o procedimento (MORESCHI, 2013).
Vale ressaltar que a matéria prima precisa estar devidamente descascada e seca, ou
seja, com seu teor de umidade em torno de 20% a 25%, sendo possível utilizar qualquer produto
para o tratamento, sabendo-se, claro, que sempre haverá o mais indicado para os fins
pretendidos (MORESCHI, 2013).

2.7.2.1 Processo de Bethell ou célula cheia

Em 1838, John Bethell patenteou um dos maiores avanços da indústria de preservação


da madeira. Este consistia em um processo de impregnação da madeira com creosoto sob
pressão, sendo a primeira vez que alguém tentava algo deste gênero. Consequentemente, ficou
141

conhecido como processo de Bethell ou processo de célula cheia, o qual continua sendo, até os
dias de hoje, a base de todos os procedimentos modernos de tratamento da madeira.
Este processo consiste em utilizar um período de vácuo inicial, seguido do enchimento
de um cilindro com preservativo e posterior aplicação de um período de pressão para impregnar
o preservativo nas peças (FREEMAN et al., 2003), procedimento ilustrado na Figura 66.
O primeiro vácuo tem como função retirar o ar, ou a maior parte, presente na madeira.
Este fica sempre acima de -85kPa e deve durar, pelo menos, 15 minutos. Em seguida, é colocada
a solução preservativa, ainda com o vácuo, até que o tanque esteja completo. A partir daí, é
exercida uma pressão hidráulica gradual no preservativo a qual deve chegar à 1400kPa. Estima-
se que esta pressão desejada é atingida em aproximadamente 20 minutos. A mesma deve ser
mantida durante um intervalo de tempo que dependerá da facilidade de penetração na peça,
podendo variar de 1 até 3 horas. Assim, quando a taxa de absorção de preservativo torna-se
muito baixa (menor que 1 litro por minuto para cada metro cúbico de madeira), o procedimento
se encerra e o preservativo que não é absorvido acaba por ser drenado do tanque para que possa
ser reaproveitado (WALKER, 1993). Tudo o que ocorre, fase a fase, está descrito na Tabela 9.
A respeito do produto preservativo a ser utilizado, segundo Moreschi (2013) o
Creosoto (produto que faz parte do processo originalmente patenteado por Bethell) somente é
utilizado quando uma alta retenção de preservativo é desejado na peça. Assim, quando se
utilizam produtos oleossolúveis, o custo do solvente orgânico a ser utilizado pode acabar sendo
uma limitação financeira, devido ao maior volume que é necessário para a impregnação da
madeira (MORESCHI, 2013).
Figura 66 - Esquema do programa de tratamento preservativo pelo processo de Bethell

Fonte: Moreschi, 2013.


142

Tabela 9 - Descrição de ações e ocorrências durante o tratamento da madeira pelo processo de Bethell

Fonte: Moreschi, 2013.

2.7.2.2 Processo de célula vazia

Em 1902, na Alemanha, Max Rüping desenvolveu e patenteou um método para tratar


a madeira conhecido como Processo de Rüping, o qual consiste em aplicar uma pressão de ar
inicial para, após, aplicar uma grande pressão para injetar o produto preservativo. Quando a
143

pressão é liberada, o excesso de solução retida nas células da madeira acaba sendo expelido, o
que resulta em uma retenção de preservativo muito menor do que no processo de célula cheia
(FREEMAN et al.,2003).
Porém, segundo Moreschi (2013), este processo foi desenvolvido no intuito de
controlar o vazamento de solução impregnado na madeira (MORESCHI, 2013), portanto, antes
de ser finalizado, aplica-se um longo período de vapor e vácuo após a retirada da solução, o que
diminui o vazamento de preservativo e gera um tratamento mais limpo que o convencional de
célula cheia. Vale ressaltar, também, que se utiliza o Creosoto como principal produto
preservativo.
Decorridos 4 anos, em 1906, C. B. Lowry patenteou uma versão similar do tratamento
de célula vazia de Rüping utilizando a pressão atmosférica como pressão inicial do
procedimento, sendo o restante do procedimento bastante similar com o do colega,
anteriormente exposto, incluindo o principal produto preservativo utilizado (FREEMAN et
al.,2003). O esquema do programa de tratamento, assim como descrição fase a fase, estão
expostos na Figura 67 e Tabela 10, respectivamente.
Este processo é utilizado quando não existe uma preocupação tão grande com relação
à taxa de absorção de solução pela madeira, o que é afetado basicamente pela sua utilização
final. Consequentemente, a madeira tratada com este processo não é recomendada para
utilizações em situações de alto risco de deterioração (WALKER, 1993).
Figura 67 - Esquema do programa de tratamento preservativo pelo processo de Lowry (célula vazia)

Fonte: Moreschi, 2013.


144

Tabela 10 - Descrição de ações e ocorrências durante o tratamento da madeira pelo processo de Lowry
(célula vazia)

Fonte: Moreschi, 2013.


145

2.7.2.3 Processo de Gewecke

Há aproximadamente 60 anos, tendo em vista que produtos preservativos


hidrossolúveis de boa fixação começaram a ser desenvolvidos, houve a necessidade de se
adaptar o método de Boucherie, que era comumente aplicado para acelerar o processo de
tratamento, tornando possível a utilização das novas soluções que vinham sendo encontradas.
Dentre estes novos estudos, surge o de German Gewecke, como sendo um dos mais eficientes,
fazendo apenas algumas modificações ao processo de Boucherie, sendo estas (MORESCHI,
2013):
• Utilização de toras descascadas;
• Uso de vagonetes para carregar as toras, colocando conexões nas pontas as
quais, por vácuo, sugam a seiva;
• Uso de tubos e/ou canos para conectar as peças de sucção a cilindros de
tratamento;
• Recolhimento da vagonete para fechar o cilindro de tratamento;
• Aplicação de produto preservativo (geralmente CCA) a uma pressão de
aproximadamente 85 N/mm², o que o força a penetrar na madeira;
• Simultaneamente à aplicação do produto ocorre a sucção da seiva através das
conexões previamente instaladas nas pontas das toras (MORESCHI, 2013).

2.7.2.4 Processo MSU

Este processo, que é destinado para madeiras secas com teor de umidade entre 20 a
25%, foi desenvolvido por William C. Kelso, do Laboratório de Produtos Florestais do
Mississipi, em conjunto com Escambia Treating Company, da Flórida, em 1977, nos Estados
Unidos.
A adaptação deste método, que foi baseado nos processos convencionais, consiste na
substituição da solução preservativa dentro da autoclave por água quente ou vapor d’água
imediatamente após a fase de impregnação da solução. Esta é removida por baixo da autoclave,
enquanto o ar comprimido é introduzido por cima. Após a remoção completa da solução na
autoclave, o ar é substituído por vapor d’água (fria ou quente), mantendo-se sempre constante
a pressão no interior, por duas horas, acelerando o processo de precipitação e,
consequentemente, fixação do produto na madeira (MORESCHI, 2013).
146

O esquema do programa de tratamento, assim como descrição fase a fase, estão


expostos na Figura 68 e Tabela 11, respectivamente
Figura 68 - Esquema do programa de tratamento preservativo pelo processo MSU

Fonte: Moreschi, 2013.


Tabela 11 - Descrição de ações e ocorrências durante o tratamento da madeira pelo processo MSU

Fonte: Moreschi, 2013.


147

2.7.2.5 Processo de Cellon ou Drilon

O princípio do Processo de Cellon, consiste em diluir a solução preservativa em um


solvente (chamado de veículo) que o transporte até o interior da madeira, o será evaporado
dentro da autoclave, deixando impregnado o preservativo na peça. Portanto, para que funcione,
o produto utilizado deve ser dissolvido em solução com baixo ponto de ebulição.
Este processo pode ser usado nos dois sistemas tradicionais: o de célula cheia e o de
célula vazia. Ainda assim, geralmente é empregado com o primeiro deles por ser mais simples
de se executar (MORESCHI, 2013).
Um produto preservativo utilizado de forma comercial consiste em gás liquefeito de
petróleo (GLP), solvente auxiliar (utilizado quando o preservativo não é solúvel no veículo) e
preservativo (pentaclorofenol). Por serem muito voláteis, estes solventes são evaporados da
madeira e posteriormente recuperados, deixando apenas o preservativo impregnado na madeira,
em forma de cristais de tamanho maior que as passagens naturais da peça (MORESCHI, 2013).
A seguir, na Tabela 12, são destacadas algumas vantagens e desvantagens da utilização deste
método de tratamento.
Tabela 12 - Vantagens e desvantagens com a utilização do processo Cellon

Fonte: Moreschi, 2013.

2.8 TÉCNICAS CONSTRUTIVAS PARA PROTEÇÃO DA MADEIRA

A madeira sempre foi muito utilizada para construção de casas. Alguns detalhes
construtivos deixam clara a intenção de protegê-la contra os agentes deterioradores, visando o
prolongamento de sua vida útil.
148

Algumas construções dadas ao longo da história, como certas construções sobre pilares
na Idade da Pedra, os templos Maias, as igrejas de madeira da Noruega (conhecidas como Stave
Churches), entre outros, os quais estão construídos há mais de 800 anos, são exemplos claros
da preocupação que o homem sempre teve no desenvolvimento de tecnologia para preservar o
principal material de construção que tinha em mãos: a madeira (UNGER et al., 2001).
Assim, aplicar medidas construtivas que garantam uma boa preservação das peças em
madeira é uma medida de extrema importância no que diz respeito à proteção passiva do
material. Tais medidas tem por referência a eliminação (ou mitigação) de todas as fontes de
umidade as quais não se tem controle, incluindo as já impregnadas na madeira afetada.
Logo, nesse sentido, projetar de forma a mitigar os erros e reduzir os impactos
negativos sobre a madeira que os agentes atmosféricos causam, evitando agentes
biodeterioradores, é uma atividade importantíssima (SILVA, 2008).
Atualmente, engenheiros e arquitetos encontram gradativamente possibilidades novas
de aplicação para o uso da madeira, principalmente em construções que são cada vez mais
verticais. Nos Estados Unidos, por exemplo, o International Building Code (IBC), documento
de normas técnicas e recomendações para boas práticas na construção civil, autoriza a
construção de edificações com até 5 pavimentos.
Tal limite já foi excedido em outros países, como na Austrália, Áustria e Inglaterra,
onde foram construídos prédios de até 8 pavimentos com a chamada madeira industrializada, a
qual conta com alguns produtos relativamente novos, como o CLT (Cross Laminated Timber
ou, traduzindo, madeira laminada cruzada) (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
Todavia, existem questões técnicas as quais ainda não foram totalmente resolvidas.
Dentre elas, a exposição da madeira aos agentes agressivos, como no caso de painéis expostos
à umidade. Nestes casos, os painéis podem sofrer com o surgimento, logo nas primeiras
semanas, de fungos manchadores e emboloradores (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).

2.8.1 Princípios para construção em madeira

O princípio básico foi muito bem resumido em uma frase pelo Centre Technique du
Bois et de l’Ameublement (CTBA) (1990), citado por Bittencourt e Hellmeister (pg 06, 1995):
“A água não deve penetrar na madeira, mas se penetrar, deve ser eliminada rapidamente.”
Esta ênfase que foi dada à água (seja líquida ou vaporizada) não é excessiva. De fato,
a penetração da água na madeira é um fenômeno do qual decorrem a maioria das patologias da
149

madeira, além da variação dimensional (CASTRO e GUIMARÃES, 2018). Portanto, será a


partir deste princípio que se desenvolverá os seguintes tópicos.

2.8.1.1 Técnicas construtivas para evitar a umidade

2.8.1.1.1 Beirais

Uma maneira de proteger a madeira da umidade provinda de precipitações


pluviométricas é a prolongação do telhado, também chamada de beiral, a qual protege as
paredes externas da incidência direta da chuva. Esta deve ter, no mínimo, 60 cm, sendo o ideal
pelo menos 1,2 m (LENGEN, 2004).

2.8.1.1.2 Calhas

Calhas são canais abertos os quais servem para coletar a água provinda da chuva que
incide sobre o telhado, terraços e similares. A calha de beiral, geralmente semicircular, é
utilizada quando se deseja evitar a queda livre das águas sobre a área adjacente à construção, o
que pode acarretar respingos nas madeiras protegidas justamente pelo próprio beiral (LANNES,
1992).
Porém, as calhas exigem certos cuidados. Manutenções periódicas (principalmente
após períodos de chuva), fabricação defeituosa e até cuidados com entupimentos devido a
galhos, folhas (CASTRO e GUIMARÃES, 2018), entre outros, devem ser preocupações
constantes para se obter um bom desempenho deste aparelho.

2.8.1.1.3 Impermeabilização

Para garantir a estanqueidade de peças de madeira, ou seja, torná-las impermeáveis, o


produto mais utilizado são os selantes. O selante deve possuir boas propriedades adesivas e
coesivas, garantindo que a estrutura seja impermeável à água, prevenindo a perda de calor e
permitindo a movimentação devido à dilatação térmica.
A resina epóxi clara, que deve ser aplicada na seção transversal da madeira, é um dos
selantes mais usados. Já na manutenção de fachadas, por exemplo, os selantes possuem papel
fundamental. Técnicas recentes, as quais empregam paredes que consistem em grandes painéis
anexados a armações de aço ou concreto reforçado são geralmente selados com produtos
elastoméricos, os quais vedam os vazios e permitem uma certa movimentação (LOUREIRO et
al., 2009).
150

Vale ressaltar, também, que estruturas de coberturas precisam ser impermeabilizadas.


Geralmente aplica-se um produto, na subcobertura, chamado de manta impermeabilizante,
material este feito de polietileno expandido, com uma das faces aluminizada. Tal face produz
uma barreira radiante, o que acaba proporcionando, também, isolamento térmico à cobertura
(SZUCS et al., 2004).

2.8.1.1.4 Bloqueio do sentido transversal da madeira

Alguns agentes deterioradores atacam a peça de madeira, preferencialmente, através


das aberturas de seus poros e acabam se desenvolvendo em seu sentido longitudinal. Os fungos
manchadores são exemplos disto. Estes avançam até 5 mm por dia no sentido longitudinal,
enquanto podem avançar até 1 mm por dia no sentido radial e 0,5 mm no sentido tangencial
(MARTINS, 2007).
Outro agente biológico que deteriora a madeira e que precisa dos poros para se infiltrar
na madeira são os besouros Lyctus, os quais depositam ovos nos vasos da madeira de folhosas
(BLACHETTE, 1995).
Assim, logicamente, uma técnica simples de construção é justamente a
impermeabilização no sentido transversal da peça de madeira. Esta proteção pode ser realizada
com o uso de piche, tintas ou até mesmo outros materiais, como plástico e metal (CASTRO e
GUIMARÃES, 2018).
Vale lembrar, também, que a umidade do solo pode ser absorvida pelas paredes por
capilaridade. Logo, recomenda-se que sejam realizadas fundações largas o suficiente para que
isso não ocorra, devendo ser, pelo menos, mais largas do que as paredes construídas (PROMPT,
2008).

2.8.1.1.5 Inclinação

No intuito de evitar o acúmulo de água e consequente formação de poças, toda e


qualquer peça de madeira que possa vir a ter contato direto com a água precisa ter uma certa
inclinação. Isso serve para degraus, varandas, janelas, tetos, entre outros (CASTRO e
GUIMARÃES, 2018).

2.8.1.1.6 Ventilação
151

A ventilação também é um fator de importância no que diz respeito às técnicas


construtivas preservativas da madeira, sendo importante considerar o planejamento de aberturas
a fim de manter uma boa ventilação na edificação. Esta refresca os ambientes e renova o ar,
possibilitando a eliminação de qualquer tipo de umidade que possa ter se acumulado.
Conhecer os ventos da região e prevendo aberturas as quais se beneficiam destes é a
forma mais eficaz de se ventilar uma casa (PROMPT, 2008). E isto é especialmente importante
quando se fala em edificações destinadas à moradia humana.
Carlsen (2008) dá o exemplo de uma família hipotética de quatro pessoas. Esta família
pode produzir em um dia comum: 0,2 litros de umidade tomando banho; 1,4 litros cozinhando
e lavando pratos; 0,2 litros lavando roupas; 1,4 litros limpando o chão; 2,3 litros regando plantas
e; 5,5 litros simplesmente vivendo e respirando (CARLSEN, 2008). Ou seja, aproximadamente
11 litros de umidade, os quais podem se condensar e ficar presos dentro da casa no caso em que
esta não seja bem ventilada.
Também é importante se prever ventilação abaixo das edificações. Recomenda-se que
haja aberturas na fundação da casa, as quais possam proporcionar ventilação em quantidade
suficiente a evitar bolsões de ar parado. Estes bolsões podem ser bastante prejudiciais pois
aumentam a umidade e deterioram a madeira a qual estão em contato.
Todavia, vale lembrar que aberturas localizadas a aproximadamente 3 metros das
esquinas proporcionam uma maior e melhor ventilação. Em geral, a área de ventilação 1/150
da área de fundação é suficiente para proporcionar uma passagem de ar suficiente, sendo o
tamanho e quantidade das aberturas necessárias dependentes da umidade do solo e da
movimentação do ar na região em específico. Outro cuidado pertinente tem relação a arbustos
(e outras plantas que possam vir a dificultar o processo), os quais devem ser mantidos longe
das aberturas (BEAL et al., 1989).

2.8.1.1.7 Uso de acabamentos

Para Santos e Duarte (2013), o uso de produtos para dar acabamento na madeira
aumenta sua vida útil pois a protege dos agentes deterioradores. Envernizamento, pintura, e
impermeabilização são exemplos os quais dão um bom aspecto final e contribuem na
conservação do material (SANTOS e DUARTE, 2013).
A pintura de peças de madeira, além de esconder defeitos e fornecer cor, pode prover
a madeira de proteção contra intemperismos e umidade. Ademais, os pigmentos, que são
152

produtos capazes de escurecer as tintas, também mitigam a deterioração da madeira devido aos
raios ultravioletas.
Por outro lado, tem-se a tinta a óleo e tinta a látex. A tinta a óleo pode proteger a
madeira da água, porém, acaba se tornando quebradiça com o passar do tempo. Já a tinta látex
é mais permeável ao vapor d’água e à água líquida, mas se adapta melhor às variações
dimensionais da madeira devido a que sofre um menor enrijecimento, com o tempo, que a tinta
a óleo (WILLIAMS et al., 1996).
Tem-se também os stains, que são misturas feitas com resinas, fungicidas e pigmentos
dissolvidos em óleo. Geralmente contendo filtro solar, são impermeáveis e não formam
películas. Devido a isso, não apresentam problemas de trincas e o desgaste ocorre por erosão,
o que facilita a manutenção.
Com ação fungicida e inseticida, stains protegem a superfície da madeira contra
cupins, brocas, fungos e mofos, além de serem repelentes à água, conferindo ao material maior
resistência contra o sol e a chuva. Tais características os tornam passíveis de utilização tanto
em ambientes internos quanto externos (WILLIAMS; FEIST, 1999).
Ainda, vale ressaltar que os vernizes poliuretânicos são os mais utilizados pois seus
componentes previnem a deterioração da cor, gerando uma proteção eficaz para a superfície
dos efeitos da radiação e da água (VALVERDE; MOYA, 2013).

2.8.1.2 Técnicas construtivas para evitar insetos

2.8.1.2.1 Limpeza do terreno

Todo e qualquer resíduo de madeira, seja ele anterior a uma obra ou não, deve ser
retirado do terreno de forma a não ocorrerem abandono ou enterramento destes. Enterrar ou
abandonar este tipo de material pode aumentar a probabilidade de uma infestação de cupins
subterrâneos, de formigas e outros agentes deterioradores (BEAL et al., 1989).
Outro aspecto importante é o de drenagem do terreno. Para se evitar um aumento
indesejado da umidade no terreno, ele deve possuir uma certa inclinação que possibilite o
escoamento da água. Nos casos em que isso não seja possível, ou ao redor de construções com
porões, por exemplo, recomenda-se a construção de canais de drenagem para possibilitar este
escoamento (BEAL et al., 1989).

2.8.1.2.2 Vãos entre a madeira e o concreto


153

Quando a madeira é utilizada na construção de elementos externos à edificação, alguns


cuidados importantes devem ser tomados.
Exemplo disso são degraus e varandas feitos de madeira, adjacentes à edificação, os
quais precisam ficar separadas da mesma por, pelo menos, 5 cm a fim de evitar-se a passagem
de insetos; o último degrau de madeira deve ser colocado sobre uma base de concreto com pelo
menos 15 cm de espessura, para que não toque o solo; além de se ter os mesmos cuidados com
portas e batentes, os quais não pode se estender até a base de concreto (BEAL et al., 1989).

2.8.1.2.3 Telas de proteção

Recomenda-se a utilização de telas em portas e janelas a fim de evitar a entrada de


cupins e formigas, pois estes insetos podem acabar entrando na edificação por meio de voo, o
que pode ser impedido (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
154

3 METODOLOGIA

3.1 ABORDAGEM DA PESQUISA

A metodologia científica pode ser definida como uma série de etapas e instrumentos
em que o pesquisador, através deles, busca alcançar resultados que possibilitem a validação de
sua teoria inicial de forma criteriosa (CIRIBELLI, 2003). Assim sendo, o presente trabalho
pretende analisar tecnicamente a madeira disponível para utilização na construção civil no
município de Iraí/RS.
Para tanto, ao final do trabalho, serão discutidas conclusões obtidas durante o estudo
compreendido pela revisão bibliográfica e pelo estudo de caso, trazendo ideias e perspectivas
tanto da teoria quanto da prática, limitada pelo município em estudo. Portanto, é possível
classificar a abordagem de pesquisa do problema como sendo do tipo qualitativa, visto que,
segundo Mayer et. al. (2014), a observação é o procedimento de pesquisa qualitativa, o que
implica a quem a realiza observar pessoalmente e de maneira prolongada situações e
comportamentos de seu interesse, sem se ater apenas à forma como quem está inserido naquela
realidade os vê ou entende.
Em relação aos objetivos da pesquisa, podemos classificar sua natureza como sendo
exploratória e descritiva. Segundo Selltiz et al. (1965), encaixa-se como estudo exploratório
todo aquele que pretende descobrir novas ideias, na tentativa de conhecer melhor o objeto de
estudo. Já a pesquisa descritiva, Gil (1999) indica que tem como principal objetivo a descrição
das características de uma população, de um fenômeno ou das relações entre diversas variáveis.
Assim, podemos afirmar que o estudo tem viés exploratório pois envolve uma pesquisa
bibliográfica no intuito de aprofundar conhecimentos no tema. É possível afirmar, também, que
possui cunho descritivo pois para desenvolver uma discussão sobre o assunto é necessário
conhecer diversas características técnicas do material de forma a argumentar os aspectos
positivos e negativos de sua utilização para o fim desejado.
Quanto aos procedimentos técnicos a serem adotados, é possível classificar as etapas
do trabalho. Sua primeira etapa caracteriza-se como pesquisa bibliográfica; sua segunda etapa
em um estudo de caso e; suas duas últimas etapas em análise dos resultados obtidos e conclusões
finais.
A primeira etapa do trabalho constitui-se em uma revisão bibliográfica a fim de
contextualizar historicamente a utilização da madeira nas habitações humanas e reconhecer
155

diversos aspectos que influenciam diretamente na qualidade da matéria prima disponibilizada


para o uso na construção civil. Dentre estes, pode-se citar: identificação de madeiras, principais
agentes deterioradores e patologias decorrentes, durabilidade natural da madeira, a forma como
a madeira seca e os principais métodos de secagem existentes, principais produtos preservativos
de madeira, principais métodos de tratamento da madeira, e por último, técnicas construtivas
recomendadas para proteção da madeira. Esta será realizada com base em livros, artigos
científicos, notas de aula, apostilas e demais materiais que resultem ser pertinentes, encontrados
on-line e de forma gratuita.
Já a segunda etapa do trabalho constitui-se em um estudo de caso a partir de uma visita
técnica realizada em serraria localizada no município de Iraí/RS, a fim de se reconhecer as
espécies de árvores mais utilizadas, os produtos mais comercializados para a construção civil,
e todo o processo produtivo, buscando coletar informações pertinentes para realização de um
diagnóstico técnico dos procedimentos adotados pela empresa.
Para tal, foram coletadas amostras de madeira de pelo menos um lote por produto
comercializado, a fim de se obter material para análise e, com auxílio da observação do processo
produtivo, subsídio técnico para o já referido diagnóstico. Esta visita foi realizada tendo como
suporte um questionário, o qual constará nos Apêndices do presente trabalho.
Em sua terceira etapa, parte-se para a apresentação dos dados obtidos no estudo de
caso e em sua análise, realizando o supracitado diagnóstico da situação, ou seja, dos resultados
que a empresa obtém através do processo produtivo que adota atualmente. Ademais, após o
diagnóstico, são realizadas sugestões, baseadas na revisão bibliográfica previamente feita,
visando melhorias no processo realizado na empresa.
Em sua quarta e última etapa são discutidas algumas conclusões as quais se chegou
através do presente trabalho, com base nas informações levantadas e, além disso, são feitas
sugestões de futuros trabalhos em áreas as quais o presente não se aprofundou ou decidiu deixar
de lado devido à extensão do assunto escolhido.
156

Tabela 13 - Descrição das tarefas respectivas a cada etapa do trabalho


ETAPA DESCRIÇÃO TAREFAS
Reconhecer formas de identificar corretamente a madeira
Reconhecer os principais agentes deterioradores e patologias decorrentes
Revisão bibliográfica para Reconhecer fatores que influenciam na durabilidade natural da madeira
reconhecimento de características Reconhecer a forma em que se dá a secagem da madeira e os principais métodos
1
que influenciam a qualidade da utilizados
madeira utilizada na construção civil Reconhecer os principais produtos preservativos para madeira
Reconhecer os principais métodos de tratamento da madeira
Reconhecer técnicas construtivas para proteção da madeira
Estudo de caso em indústria Realizar visita in-loco para obtenção de dados de todo o processo produtivo, desde
2 madeireira voltada para a a chegada de matéria prima até a comercialização dos produtos
construção civil em Iraí/RS Processar a informação coletada visando o diagnóstico da situação
Expor os resultados do estudo de caso realizado
3 Análise dos resultados Realizar diagnóstico do processo produtivo da madeira realizado na empresa
Dar sugestões de melhorías em todo o processo produtivo da madeira analisado
Conclusões obtidas com os assuntos abordados
4 Conclusão
Sugestões de temas para futuros trabalhos

Fonte: Autoria Própria, 2022.

3.2 ESTUDO DE CASO

3.2.1 A empresa

Apesar da existência de outras empresas do setor madeireiro no município de Iraí/RS,


a empresa A, como será chamada afim de garantir o sigilo das informações fornecidas, foi
escolhida para o estudo de caso por ser a única que trabalha com exclusividade fornecendo
produtos para a construção civil.
Assim sendo, vale destacar que esta possui mais de 70 anos no mercado do município
contando com mais de 5.000 m² de área de operação, entre barracões e zonas descobertas para
secagem de madeiras (observável na Figura 69); quadro funcionários atualmente com 3
colaboradores; máquinas e meios de transporte diversos como empilhadeira, caminhão tipo
Munck, caminhão normal, camionete para entregas menores, entre outros.
157

Figura 69 - Visão geral da área de operação da Empresa A

Fonte: Autoria própria, 2022.


No total, tem-se 3 barracões com funções distintas. O primeiro, que é praticamente
todo aberto, foi adaptado para desdobro inicial de toras e estoque de diversos equipamentos e
ferramentas, os quais ficam em zona totalmente fechada e segura (Figura 70). O segundo possui
vedação em suas quatro faces, possuindo iluminação interna artificial, no qual ficam todas as
máquinas necessárias para o beneficiamento de madeiras e suas ferramentas para manutenção
(Figura 71). No terceiro e último, o qual tem como função estoque das madeiras, tanto para pré-
secagem como após a conclusão da secagem, possui vedação em apenas 3 de suas faces, as
quais duas são vazadas (na direção predominante do vento na região), o que proporciona uma
correta e desejada ventilação para as madeiras (Figura 72).
158

Figura 70 - Barracão para desdobramento inicial das madeiras

Fonte: Autoria própria, 2022.


Figura 71 - Barracão onde ocorre o beneficiamento final das madeiras

Fonte: Autoria própria, 2022.


159

Figura 72 - Barracão onde ocorre a pré-secagem e armazenamento de madeiras secas

Fonte: Autoria própria, 2022.


A respeito dos produtos e serviços oferecidos, como dito anteriormente, a empresa é a
única do município que atua na área da construção civil com exclusividade, fornecendo
madeiras para caixaria de estruturas, estruturas para telhado e madeiramento para casas pré-
fabricadas. Neste último tem-se diversos produtos, como a já mencionada estrutura para o
telhado, madeiramento para paredes externas e internas (inclinadas e não inclinadas), assoalho,
guias para forro, rodapés e cantoneiras.
Todavia, e como será exposto na Figura 75, vale ressaltar que cada lote de madeira
analisado corresponde a uma utilização final específica. Assim sendo, tem-se que o lote 1 foi
utilizado para assoalhos; lote 2 para paredes verticais; lote 3 para paredes inclinadas; lote 4 para
rodapés; lote 5 para cantoneiras; lotes 6 e 7 para guias de forro; lotes 8 e 9 para caixarias.

3.2.2 Procedimento estudo de caso

A seguir, na Figura 73, é exposto, resumidamente, o procedimento adotado no estudo


de caso para realizar-se a análise técnica do material objeto do estudo.
160

Determinação
Obtenção de amostras (conforme NBR Secagem das Cálculos para obtenção do
do teor de
5426) e pesagem das mesmas in-loco amostras em estufa teor de umidade de madeira
umidade das
imediatamente após sua extração (laboratório UTFPR) (conforme NBR ISO 4470)
madeiras

Ao ar livre

Método Em estufa
Registro do Pré-secagem
Informações
método de Duração Estimativa e variáveis consideradas
pertinentes
secagem Secagem
Tipo de empilhamento utilizado para
Empilhamento
secagem e armazenamento

Produto Variáveis
Registro do preservativo consideradas no
método de Produto/método mais utilizado
Método de processo de
tratamento
aplicação escolha

Bactérias
Tipo biológica Fungos
Registro de
patologias Tipo química Insetos
frequentes
Tipo secagem

Características
Identificação anatômicas
de espécies de Macroscópica
madeira Características
organolépticas

Figura 73 - Resumo da metodologia do estudo de caso


Fonte: Autoria própria, 2022.

3.2.2.1 Determinação do teor de umidade de madeiras

Para se obter o teor de umidade das madeiras prontas para comercialização, tem-se
dois métodos possíveis: o método de secagem em estufa e método por medidores de resistência
elétrica. Neste caso, devido às restrições de uso dos aparelhos que medem o teor de umidade
através da resistência elétrica da madeira, além de não haver disponibilidade deste tipo de
aparelhos, foi escolhido o método de secagem em estufa.
Assim, parte-se do princípio de que precisam ser coletadas amostras de madeira in-
loco. Para isto, como se trata de madeira após o primeiro desdobramento, ou seja, lotes de tábuas
de madeira, pode-se utilizar a NBR ISO 4470/2011, a qual determina os materiais necessários
e procedimentos a seguir para determinação do teor de umidade médio de um lote de madeira
serrada.
Por sua vez, no que diz respeito ao item 5.2 da norma supracitada, faz-se necessário,
também, a utilização da norma internacional ISO 2859/2020, a qual tem como sua respectiva
brasileira a NBR 5426/1985. Esta fala sobre planos de amostragem e procedimentos na inspeção
161

por atributos. Seguindo as recomendações do respectivo item (5.2), é possível, através das
Tabelas 1 e 2 da NBR 5426/1985 (Anexos 2 e 3 do presente trabalho), obter-se a quantidade de
amostras necessárias por tamanho de lote e, também, as condições mínimas para aceitar ou
rejeitar determinado lote.
Após determinado o número de amostras por lote, parte-se para etapa de obtenção das
amostras, as quais devem seguir rigorosamente as instruções contidas no item 5.3 da NBR ISO
4470/2011. Ademais, imediatamente após a obtenção das amostras, as mesmas devem ser
pesadas em balança com precisão mínima de 0,1 g.
Obtidos os pesos das amostras antes da secagem, deve proceder-se à secagem em si,
levando os corpos de prova até local onde haja equipamento para secagem de madeira como
descrito no item 5.1.2 da NBR ISO 4470/2011. O procedimento de secagem é descrito no item
5.4.3 da referida norma.
Na questão da pesagem dos corpos de prova, tem-se o item 5.4.1 da NBR ISO
4470/2011. Assim, respeitando-se o mesmo, pesam-se novamente os corpos de prova secos e
calcula-se o teor de umidade médio do lote, o qual é dado pelo item 5.5.1 da NBR ISO
4470/2011.
Finalmente, a supracitada norma exige um relatório de ensaios que incluam as
informações pertinentes, listadas no item 6 da mesma.

3.2.2.2 Informações complementares para a análise técnica

Além da determinação do teor de umidade das madeiras prontas para comercialização,


durante a visita in-loco também foram registrados todos os aspectos do processo produtivo da
empresa analisada. Dentre eles, tem-se o: método de secagem, produtos preservativos
utilizados, método de tratamento e patologias mais frequentemente encontradas.
Além disso, foi realizada a identificação da madeira em estudo, visto que podem
ocorrer enganos ou, até mesmo, agrupamento de diversas espécies com características similares
em um determinado nome comercial em comum.
Para fins acadêmicos do presente trabalho, os procedimentos de identificação da
madeira foram deixados por último no processo de estudo técnico do material, visto que não
existe a obrigação de, por exemplo, determinar a aceitação de um determinado lote de madeira
devido à sua espécie ou de fiscalizar um caminhão com suspeita de carregamento ilícito de
madeira, situações nas quais o procedimento poderia ser realizado inclusive in-loco durante a
visita, obtendo resultados bastante precisos.
162

Entretanto, vale lembrar que cada aspecto analisado possui diversas informações que
são relevantes para se fazer um diagnóstico da atual situação do processo produtivo. Assim, no
intuito de abranger a totalidade destas informações, foram idealizados os questionários contidos
nos Apêndices 1 e 2, os quais foram utilizados durante a visita realizada e constam, no trabalho
preenchidos com as informações coletadas em visita técnica à empresa.
Por fim, vale ressaltar, também, que as análises realizadas na questão dos parâmetros
analisados seguem, rigorosamente, o descrito em seus correspondentes itens na fundamentação
teórica, tendo seus resultados expostos na conclusão do presente trabalho.
163

4 RESULTADOS E ANÁLISES

4.1 RESULTADOS DO ESTUDO CASO

4.1.1 Teor de umidade

Inicialmente, é necessário definir-se o que será analisado. Assim sendo, no tocante ao


teor de umidade, devem ser analisados dois aspectos: o teor de umidade em que se encontra a
madeira pronta para comercialização e o teor de umidade de equilíbrio na região em estudo.
Durante o estudo de caso, foram extraídos in-loco, corpos de prova para que, dentre
outras análises, fosse feita a determinação do teor de umidade das madeiras prontas para
comercialização. Assim, e seguindo a metodologia definida, foram obtidos os teores de
umidade de cada amostra, os quais estão expostos na Figura 75. Vale ressaltar que as amostras
correspondentes aos lotes 1 a 8, são respectivas às madeiras prontas para comercialização. Já
as amostras correspondentes ao lote 9, são madeiras verdes recém chegadas ao pátio da
empresa.
Além disso, é relevante estimar o teor de umidade de equilíbrio destas madeiras a fim
de estabelecer-se uma estimativa do teor de umidade máximo (que é a própria umidade de
equilíbrio) para aceitação ou rejeição de um determinado lote de madeira em uma também
determinada região geográfica onde as peças serão utilizadas.
Segundo o IPT (2003), as madeiras podem ser consideradas secas quando seu teor de
umidade está em equilíbrio com a umidade relativa do ar do ambiente em que estas peças estão
inseridas ou serão utilizadas (IPT, 2003). Logo, se faz necessário definir este local onde a
madeira será utilizada e, pelo menos, obter-se a última média anual da umidade relativa do ar
do mesmo.
Para tal, consultou-se bases de dados meteorológicos disponíveis gratuitamente na internet,
obtendo-se os dados referentes à estação meteorológica mais próxima ao município de Iraí/RS,
a qual é a estação do município de Frederico Westphalen/RS, a aproximadamente 25 km de
distância. Para obtenção dos já referidos dados, foi utilizado o site Climate Data
(https://pt.climate-data.org/ ).
Conforme equação 11, foi possível calcular a umidade de equilíbrio (UE) para cada mês do ano,
conforme temperatura e umidade relativa do ar médias. Assim sendo, apresenta-se a Tabela 14
que contém os dados relativos ao cálculo e seus respectivos resultados.
164

Tabela 14 - Tabela para cálculo da umidade de equilíbrio (UE) média mensal para Iraí/RS
Mês/2021 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
T média mensal (Cº) 24,3 24,0 22,8 20,2 16,3 14,9 14,1 16,1 17,9 20,4 21,6 23,5
UR média mensal (%) 73 74 75 76 78 81 79 74 73 75 71 72
K1 5,601 5,594 5,565 5,497 5,382 5,337 5,310 5,376 5,431 5,502 5,534 5,582
K2 0,744 0,743 0,742 0,738 0,732 0,730 0,729 0,732 0,735 0,738 0,740 0,743
W 251,196 250,719 248,846 244,969 239,623 237,842 236,857 239,364 241,748 245,258 247,025 249,932
H 0,730 0,740 0,750 0,760 0,780 0,810 0,790 0,740 0,730 0,750 0,710 0,720
UE médio mensal (%) 13,909 14,200 14,537 14,933 15,669 16,697 16,039 14,481 14,151 14,631 13,489 13,674

Fonte: Autoria própria, 2022.


No que diz respeito aos dados coletados in-loco, durante estudo de caso, os resultados
obtidos em laboratório e ao teor de umidade final de cada amostra de madeira são expostos na
Figura 75. Além desses, foram obtidos outros dados, complementares, que ajudam a analisar
outros aspectos do material, como identificação e utilização final das madeiras, também
expostos na supracitada Figura.
Os mesmos foram obtidos pesando cada amostra de madeira retirada no momento em
que foram obtidas com o auxílio de balança de precisão de bolso (com precisão de 0,01g), como
exemplifica a Figura 74.
Figura 74 - Exemplo de pesagem de amostra de madeira

Fonte: Autoria própria, 2022.


165

Figura 75 - Dados obtidos para determinação do teor de umidade das madeiras. Em azul, dados obtidos in-loco; em vermelho dados obtidos em laboratório; em
preto resultados finais.
PLANILHA PARA DETERMINAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE DAS AMOSTRAS DE MADEIRA COLETADAS
RESPONSÁVEL: José Otávio Da Rosa Tomasi
EMPRESA: A
ENDEREÇO: Iraí/RS
DATA: 15/05/2022
LOTE AM. ESTADO UTILIZAÇÃO FAMÍLIA GÊNERO ESPÉCIE Pu (g) P01 (g) P02 (g) P03 (g) P04 (g) P05 (g) Ps (g) ΔP (%) Tu (%)
1 1 Seca Assoalho Myrtaceae Eucalyptus - 53,08 49,05 46,73 46,58 46,39 46,39 46,39 0,00 14,42
1 2 Seca Assoalho Myrtaceae Eucalyptus - 51,79 48,06 45,66 45,52 45,31 45,30 45,30 0,02 14,33
2 1 Seca Parede Myrtaceae Eucalyptus - 50,83 46,31 44,36 44,23 44,10 44,10 44,10 0,00 15,26
2 2 Seca Parede Myrtaceae Eucalyptus - 49,04 44,87 42,77 42,64 42,52 42,52 42,52 0,00 15,33
3 1 Seca Parede inclinada Myrtaceae Eucalyptus - 73,26 68,14 64,76 64,52 64,25 64,25 64,25 0,00 14,02
3 2 Seca Parede inclinada Myrtaceae Eucalyptus - 71,23 66,29 63,09 62,87 62,60 62,58 62,58 0,03 13,82
4 1 Seca Rodapé Myrtaceae Eucalyptus - 20,03 18,00 16,85 16,80 16,71 16,72 16,71 0,00 19,87
4 2 Seca Rodapé Myrtaceae Eucalyptus - 20,22 18,17 17,00 16,93 16,84 16,85 16,84 0,00 20,07
5 1 Seca Cantoneira Pinaceae Pinus - 16,40 14,80 14,13 14,10 14,04 14,07 14,04 0,00 16,81
5 2 Seca Cantoneira Pinaceae Pinus - 16,67 14,97 14,40 14,36 14,31 14,33 14,31 0,00 16,49
6 1 Seca Guia forro Pinaceae Pinus - 69,63 64,16 61,40 61,26 61,19 61,25 61,19 0,00 13,79
6 2 Seca Guia forro Pinaceae Pinus - 71,15 65,30 62,57 62,43 62,34 62,38 62,34 0,00 14,13
7 1 Seca Guia forro Myrtaceae Eucalyptus - 116,98 111,52 104,04 103,26 101,85 101,72 101,72 0,11 15,00
7 2 Seca Guia forro Myrtaceae Eucalyptus - 114,64 109,26 102,32 101,56 100,19 100,09 100,09 0,09 14,54
8 1 Seca Caixaria Pinaceae Pinus - 92,89 80,43 80,16 79,99 79,95 79,95 79,95 0,00 16,19
8 2 Seca Caixaria Pinaceae Pinus - 88,71 80,10 76,43 76,28 76,20 76,29 76,20 0,00 16,42
9 1 Verde Caixaria Myrtaceae Eucalyptus - 147,67 126,10 98,64 96,08 93,16 93,02 93,02 0,09 58,75
9 2 Verde Caixaria Myrtaceae Eucalyptus - 147,30 125,16 98,35 95,71 92,59 92,46 92,46 0,09 59,31
166

4.1.2 Método de secagem

Como já mencionado na revisão bibliográfica, no tocante à secagem de madeiras, tem-


se basicamente dois métodos: secagem ao ar livre e secagem artificial. No presente trabalho,
partiu-se do princípio de que a secagem no local em estudo seria feita ao ar livre pois foi
realizada visita prévia ao local e, portanto, não se estudou mais a fundo a secagem artificial.
Assim sendo, dentro do assunto abordado, existem vários parâmetros que precisam ser
analisados no intuito de fornecer às madeiras a melhor e mais segura secagem possíveis, os
quais serão expostos a seguir.
Vale lembrar que as informações coletadas durante visita técnica foram registradas em
formulários que constam como Apêndices 1 e 2, respectivamente.

4.1.2.1 Parâmetros a serem analisados

• Largura das vias de passagem no pátio de secagem


O pátio de secagem não possui necessidade de vias secundárias ou transversais. Suas
vias principais não possuem largura definida, visto que variam conforme necessidade, porém a
mesma contém o parâmetro ideal, que é de 5 a 8 metros no mínimo, possuindo até mais distância
em alguns pontos, o que é positivo do ponto de vista logístico para manobrar máquinas e
organizar o pátio.
• Orientação das pilhas de madeira com relação à direção predominante do vento
A orientação das pilhas se dá, geralmente, na direção predominante do vento. Todavia,
vale ressaltar que não há uma padronização nem um estudo mais aprofundado da área sobre
esta questão. O posicionamento das pilhas se dá conforme experiência do proprietário da
empresa e pode variar conforme necessidade de espaço no pátio.
• Espaçamento entre pilhas
O espaçamento entre pilhas possui, geralmente, a distância recomendada de, pelo
menos, 50 cm entre cada uma. Todavia, este parâmetro pode variar conforme necessidade
de espaço no local.
• Tipo de empilhamento
O tipo de empilhamento que mais se assemelha ao observado na empresa é o tipo
“Padrão”, o qual precisa de verificações específicas, feitas a seguir.
o Base
167

A base permite uma ventilação bastante adequada. Entretanto, não


existe uma padronização da mesma. Vale ressaltar, ainda, que os apoios
estão na mesma linha que os separadores, o que acaba formando efeito
de coluna na pilha, diminuindo o risco de patologias decorrentes de uma
má disposição destes suportes para secagem.
o Pilha de madeira
Na pilha de madeira, é possível observar-se que a mesma possui
comprimento igual ao das tábuas e largura igual a 5 tábuas acrescidos
do espaçamento entre ambas, que é de aproximadamente 5 cm. Outro
dado importante é que a secagem é feita sem cobertura, onde as
madeiras ficam expostas às intempéries.
o Separadores
Os separadores são feitos de madeira seca, geralmente com seção
aproximadas de 2,5 x 2,5 cm. Além disso, sua disposição nas pilhas de
madeira é feita através do comprimento das mesmas, sendo divididas
em 4 vãos, ou seja, são colocadas 5 peças ao longo das tábuas.
• Secagem prévia (ou pré-secagem)
É realizada a secagem prévia nas madeiras, diferindo-se da secagem de duas formas.
Em primeiro lugar, esta ocorre em ambiente coberto e bem arejado, evitando-se ao máximo a
incidência direta da luz solar e, em segundo lugar, são utilizados ventiladores industriais que
acabam aumentando velocidade de secagem da chamada água livre, como ilustrado na Figura
76.
Figura 76 - Ventiladores industriais utilizados na pré-secagem da madeira em local coberto e bem arejado

Fonte: Autoria própria, 2022.


168

4.1.3 Método de tratamento

No tocante ao método de tratamento das madeiras, é necessário avaliar dois aspectos:


o produto escolhido para realização do tratamento e o método de aplicação deste produto.
Com relação ao produto, é necessário definir o local final de utilização as peças para
que seja possível prever, minimamente, a quais agentes biodeterioradores a madeira estará
exposta durante sua vida útil. Além disso, é relevante identificar a família a qual a madeira
pertence, ou seja, se é uma madeira conífera ou dicotiledônea (em termos populares, “macia”
ou “dura”), visto que é um fator que influencia não apenas na escolha do produto, mas na
escolha do método de aplicação também.
Relativo ao método de aplicação do produto, é necessário definir, basicamente, a
eficiência do método requerida. Ou seja, fatores como a utilização das peças em bens duráveis,
por exemplo, podem influenciar no que diz respeito à quantidade de produto preservativo que
precisa fixar-se à madeira para se obter uma proteção adequada. Logo, definidos o produto e a
eficiência que o método de aplicação precisa ter para determinado fim, e levando em
consideração a infraestrutura que cada empresa possui, é possível escolher o método que melhor
se aplique a tais condições.
No caso da Empresa A, mesmo admitindo a importância para a durabilidade dos
produtos, não é realizado o tratamento das madeiras. Segundo o proprietário da empresa, esta
decisão é tomada visto que, além de aumentar o custo dos produtos em aproximadamente 15%,
sendo que o consumidor visa basicamente o melhor preço e não necessariamente a melhor
qualidade do produto. Ademais, seriam necessárias, também, as licenças ambientais pertinentes
para desenvolver tal atividade, visto que a mesma impacta diretamente o meio ambiente devido
aos produtos utilizados.
Todavia, vale ressaltar que, em alguns casos, quando requerido, a empresa compra
matéria prima já com o primeiro desdobramento realizado e com tratamento contra mofo feito.
Este, segundo relato do proprietário, é feito nas madeiras ainda no estado verde, através de
rápida imersão feita por meio de esteira, ou seja, a madeira é submersa em produto preservativo
durante os poucos segundos que a esteira passa pelo produto.
A escolha do produto, assim como o método de aplicação, leva em consideração
apenas o período em que a madeira permanecerá na Empresa A para secagem e/ou
beneficiamento final, no qual o principal agente deteriorador são os fungos que causam mofo e
bolores na madeira.
169

4.1.4 Patologias frequentes

No tocante às patologias, existem basicamente 3 tipos, sendo as causadas por: agentes


biodeterioradores, química e secagem.
Com relação às causadas por agentes biodeterioradores, tem-se ainda 3 subdivisões, as
quais são formadas pelas bactérias, fungos e insetos. Logo, outra importância referente à
determinação do local de utilização final das peças de madeira, é justamente a previsão de quais
agentes biodeterioradores a madeira precisará enfrentar (pelo menos, os mais frequentes) ao
longo de sua vida útil. Isso também influenciará diretamente no método de tratamento a ser
utilizado.
Outro tipo de patologia bastante frequente é devido à secagem da madeira. A
higroscopicidade do material e o desconhecimento de suas propriedades físicas pode acabar
gerando más práticas dentro das empresas, o que consequentemente acarreta em patologias
deste gênero.
Por último, tem-se as patologias de tipo química, as quais geralmente estão ligadas ao
contato dos extrativos existentes na madeira com os raios solares, o que pode causar manchas
na madeira, por exemplo.
Com relação à Empresa A, foi constatado, juntamente com o proprietário, que a maior
ocorrência de patologia dentro do pátio e dos barracões é com relação a fungos que causam
mofo e bolores nas madeiras, como já dito anteriormente.
Fora da empresa, é de senso comum dos moradores do município que existe uma
incidência bastante forte de insetos na região, principalmente cupins, que acabam afetando
consideravelmente o estado de conservação de casas de madeira, e produtos madeireiros em
geral. Todavia, para analisar-se tecnicamente este fator, seria necessário o apoio de outras áreas
de conhecimento, visto que extrapola a área de atuação de um engenheiro civil.
Ainda, é possível obter-se alguns fatores que ajudam a estimar algumas características
da região no qual as madeiras serão utilizadas. Exemplo disso é o índice PAF (potencial de
ataque fúngico), o qual é calculado a fim de se estimar o risco de ataque fúngico em uma
determinada região, além dos meses mais propensos para tal.
O mesmo é calculado levando-se em consideração as temperaturas médias mensais e
o número de dias (D) que ocorrem precipitações maiores que 0,3mm. Com estas informações,
é possível calcular mensalmente o PAF e, após, obter-se o PAF final no período de um ano,
dado passível de comparação com outros municípios os quais já foram determinados na
literatura.
170

Assim sendo, foram obtidos os dados necessários através do já citado site do Climate
Data e calculados todos os valores, expostos na tabela a seguir:
Tabela 15 - Tabela para cálculo do índice de potencial ataque fúngico. T média mensal = temperatura
média mensal em graus Celsius; D = número de dias no mês com precipitações maiores que 0,3 mm; PAF
mensal = índice de potencial ataque fúngico no mês; PAF final, 2021 = índice de potencial ataque fúngico
para o ano de 2021.
Mês/2021 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
T média mensal (Cº) 24,30 24,00 22,80 20,20 16,30 14,90 14,10 16,10 17,90 20,40 21,60 23,50
D 13,00 12,00 10,00 8,00 7,00 7,00 7,00 6,00 8,00 10,00 9,00 11,00
PAF mensal 13,35 11,86 8,72 5,45 3,43 3,09 2,90 2,53 4,76 7,71 7,04 10,30
PAF final, 2021 81,14

Fonte: Autoria própria, 2022.

4.1.5 Identificação de madeiras

Na questão da identificação das madeiras, como a revisão bibliográfica já traz, existem


basicamente dois tipos: a identificação macroscópica e a microscópica. No presente trabalho,
foi abordado apenas a identificação macroscópica de madeiras visto que, na maioria dos casos,
esta já traz subsídio técnico suficiente para as operações objeto de estudo. Todavia, vale lembrar
que foram analisadas tanto as características organolépticas das madeiras, quanto as
anatômicas.
Para tal, foram coletadas amostras in-loco durante o estudo de caso, devidamente
polidas e, com auxílio da lupa conta-fios com aumento de 10 vezes e escala, foi realizada a
identificação das amostras, ilustrada na Figura 77.
Figura 77 - Exemplo de utilização de lupa conta-fios 10x

Fonte: Autoria própria, 2022.


171

Dos 9 lotes analisados, foi possível identificar com bastante precisão apenas 6 deles.
Entre os 3 lotes faltantes, dois deles foi possível identificar parcialmente, restando dúvidas
quanto à identificação realizada. Os demais, não foi possível identificar, pois suas
características, tanto organolépticas quanto anatômicas não eram compatíveis com nenhuma
das espécies que constam nos bancos de dados analisados. Logo, nestes casos, é recomendado
que se prossiga com a identificação microscópica ou, então, a contratação de profissional
especializado e experiente em identificação de madeiras.
Os resultados dos 6 lotes que foram identificados, estão expostos nas Figuras 78, 79,
80, 81, 82 e 83.
Figura 78 - Identificação do lote nº 1. À esquerda, imagem macroscópica do banco de dados utilizado; à
direita imagem feita da amostra coletada.

Fonte: Autoria própria, 2022.


Figura 79 - Identificação do lote nº 2. À esquerda, imagem macroscópica do banco de dados utilizado; à
direita imagem feita da amostra coletada.

Fonte: Autoria própria, 2022.


172

Figura 80 - Identificação do lote nº 4. À esquerda, imagem macroscópica do banco de dados utilizado; à


direita imagem feita da amostra coletada.

Fonte: Autoria própria, 2022.


Figura 81 - Identificação do lote nº 5. Acima, imagem macroscópica do banco de dados utilizado; abaixo,
imagem feita da amostra coletada.

Fonte: Autoria própria, 2022.


173

Figura 82 - Identificação do lote nº 6. Acima, imagem macroscópica do banco de dados utilizado; abaixo,
imagem feita da amostra coletada.

Fonte: Autoria própria, 2022.


Figura 83 - Identificação do lote nº 7. À direita, imagem macroscópica do banco de dados utilizado; à
esquerda, imagem feita da amostra coletada.

Assim sendo, com relação às informações obtidas no estudo de caso, a Empresa A,


conforme consta na Figura 71, informou que tinha conhecimento apenas do gênero das madeiras
de cada lote, sendo os lotes 1, 2, 3, 4, 7 e 9 do gênero Eucalyptus (nome comercial Eucalipto)
e os lotes 5, 6 e 8 do gênero Pinus (nome comercial Pinus).
174

Após a identificação das madeiras, pôde ser comprovado que os lotes 1, 2 e 4 são
Myrtaceae Eucalyptus grandis e que o lote 7 é Myrtaceae Eucalyptus cloeziana, o que corrobora
a assertividade da informação repassada pela empresa. Ademais, os lotes 5 e 6 foram
identificados como Pinaceae Pinus spp., o que também corrobora a informação repassada pela
empresa.
Com relação aos lotes 3 e 9, como dito anteriormente, não foi possível se obter uma
identificação precisa, restando algumas dúvidas com relação à conclusão feita. No caso do lote
3, foi identificado como sendo uma Apocynaceae Aspidosperma dispermum (nome popular,
Peroba-osso) e no caso do lote 9, foi identificado como sendo uma Myrtaceae Corymbia
citriodora (nome popular Eucalipto-cidró), como ilustrado nas Figuras 84 e 85 respectivamente.
Já o lote 8 não foi possível realizar a identificação.
Figura 84 - Identificação do lote nº 3. À esquerda, imagem macroscópica do banco de dados utilizado; à
direita, imagem feita da amostra coletada.

Fonte: Autoria própria, 2022.


Figura 85 - Identificação do lote nº 9. À esquerda, imagem macroscópica do banco de dados utilizado; à
direita, imagem feita da amostra coletada.

Fonte: Autoria própria, 2022.


175

Vale lembrar, também, que o nome popular pode variar bastante, justificando a utilização da
nomenclatura científica das madeiras.

4.2 DIAGNÓSTICO DO PROCESSO PRODUTIVO

Inicialmente, é relevante destacar que a Empresa A não possui uma forma de gerenciar
o teor de umidade das madeiras que comercializa, não aferindo a mesma durante o processo de
secagem.
Com relação ao teor de umidade das madeiras em si, a análise deve ser feita para o
mês em que foram obtidas as amostras. Como neste caso, o estudo de caso foi feito no mês de
maio, para este tem-se que a umidade de equilíbrio (UE) na região do município em estudo é
de 15,67%. Tendo este valor como teor de umidade máximo recomendável para as madeiras
comercializadas, nota-se que os lotes 4, 5 e 8 não atenderam este requisito.
Todavia, cabe ressaltar que o lote 8 não tem por objetivo um uso final em bem durável,
sendo destinado para uso descartável de caixaria em obras. Entretanto, considerou-se o mesmo
na estatística pelo fato supracitado de que a empresa não afere o teor de umidade, o qual, em
teoria, deveria estar abaixo da UE.
Por outro lado, analisando-se o método de secagem é possível destacar alguns pontos:
• Com relação à orientação das pilhas de madeira, apesar do conhecimento
empírico utilizado na organização das mesmas parecer bastante correto, seria
interessante estudar mais a fundo a orientação predominante do vento naquela
localização específica da empresa, em períodos curtos de tempo, como mês a
mês, por exemplo, afim de se ter subsídio técnico nesta tomada de decisão.
• Outro ponto é a falta de padronização no espaçamento entre pilhas e nas
dimensões das bases, visto que foi observado bastante variação nestas duas. O
espaçamento entre pilhas, por vezes, é maior do que o mínimo recomendado
de 50 cm, porém há situações nas quais as mesmas se encontram com
espaçamento menor. Ademais, apesar de todas as pilhas possuírem base e que
estas proporcionem uma correta ventilação, a maioria delas não possui uma
padronização em suas dimensões, tendo muitas vezes menos de 20 cm, o que
é a distância mínima recomendada pela literatura de distância entre a pilha e o
solo.
No tocante ao método de tratamento e patologias frequentes, não é possível ser
tecnicamente conclusivo no tocante aos produtos que são utilizados pela construção civil, visto
176

que o subsídio de informações é insuficiente para tal. Isto se deve ao fato de que não se conhece,
com rigor científico, quais agentes biodeterioradores existem na região em estudo para que se
possa, primeiramente, escolher um produto preservativo adequado, levando em consideração a
espécie de madeira e sua utilização final, como o método de aplicação do mesmo, considerando
a hipótese de que a empresa estivesse autorizada pelos órgãos ambientais competentes a realizar
este tipo de serviço e que a mesma possuísse estrutura para tal.
Ainda assim, foi possível analisar as patologias frequentes no pátio de secagem e
armazenamento de madeira, as quais são basicamente manchas químicas e fungos causadores
de mofo e bolores. Neste último caso, calculou-se o PAF, índice de potencial ataque fúngico, o
qual apontou um valor anual de 81,14. Ademais, nos meses de janeiro, fevereiro e dezembro,
os quais são os meses com maior média de temperatura e maior número de dias chuvosos no
ano, obtiveram-se os maiores PAF, o que indica maior susceptibilidade ao ataque fúngico nesta
época do ano.
Ainda sobre patologias, tem-se as que ocorrem devido à secagem, as quais possuem,
segundo o proprietário da empresa, um elevado índice de desperdício de matéria prima quando
se trata de madeiras com nome comercial de Eucalipto, podendo chegar a valores em torno de
30%. Já no caso de madeiras com nome comercial de Pinus, mesmo que existente, o desperdício
é muito menor, girando em torno de 5%.
Por último, tem-se a identificação de madeiras, a qual realizou-se apenas na forma
macroscópica da mesma. Nesta, obtiveram-se resultados bastante satisfatórios do ponto de vista
de informações fornecidas pela empresa, visto que, mesmo que apenas a nível de gênero, esta
informou corretamente a madeira que comercializa, pelo menos dentro dos lotes os quais pôde
ser realizada a identificação, não havendo agrupamento de madeiras em um nome comercial,
por exemplo. Todavia, para utilizações mais específicas da construção civil, como, por
exemplo, em estruturas, onde é necessário um maior nível de precisão técnica, se faz necessária
a identificação das madeiras a nível de, no mínimo, espécie, afim de se conhecer diversas outras
características importantes.
177

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho se propôs a estudar o material madeira em duas frentes: teoria e prática.
Assim, trouxe não apenas uma revisão bibliográfica sobre a tecnologia do material, mas
também um estudo de caso onde visou aplicar os parâmetros estudados, no intuito de realizar
uma análise técnica da madeira que está disponível no mercado para utilização na construção
civil do município de Iraí/RS.
Por se tratar de um tema bastante amplo, a revisão bibliográfica foi delimitada a alguns
tópicos a respeito da tecnologia do material, afim de reconhecer questões bastante presentes no
dia a dia da indústria e, também, do consumidor, como: principais agentes biodeterioradores;
principais patologias decorrentes destes agentes, além de patologias devidas à secagem e
química; como se dá o processo de secagem da madeira e o método de secagem ao ar livre;
principais produtos preservativos e seus métodos de aplicação e; identificação macroscópica de
madeiras.
Como as informações trazidas na revisão bibliográfica serviram de subsídio para
posterior análise dos resultados do estudo de caso, pode-se afirmar que este objetivo do estudo
foi satisfeito. Vale ressaltar que os assuntos abordados vão além das informações contidas
apenas nas análises feitas no estudo de caso, visto que o mesmo é um caso bastante específico,
e que a revisão consegue ser muito mais ampla e generalista, dentro das restrições já
mencionadas.
Ademais, em decorrência da revisão bibliográfica, foi possível realizar um estudo de
caso que abrangesse todos os parâmetros abordados, onde definiu-se a estrutura exposta na
Figura 73, e que, consequentemente, abrangeu todo o processo produtivo realizado na empresa
em estudo. Além disso, observando-se os resultados obtidos e diagnóstico feito, pode-se
perceber que apesar de vasta experiência no mercado e de ser considerada uma empresa que
fornece alta qualidade nos produtos comercializados, a empresa pode aumentar a qualidade de
seus produtos e fornecer ainda mais confiança técnica para que profissionais como engenheiros
civis possam trabalhar maior conhecimento sobre seus produtos. Produtos estes, que podem ser
considerados satisfatórios, visto que forneceram subsídios de informações para um diagnóstico
da situação do processo produtivo da empresa.
Sugere-se, como assunto para futuros trabalhos, que se continue a revisão bibliográfica
realizada focando nos assuntos que limitaram a do presente trabalho, no intuito de aproximar
ainda mais conhecimento sobre o tema aos profissionais interessados e aliando a prática à teoria
178

com estudos de caso visando uma análise técnica que abranja cada vez mais variáveis, tornando-
a mais precisa e dando subsídio técnico para mitigar os problemas encontrados no dia a dia de
quem a utiliza na construção civil.
179

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13

APÊNDICE 1 – FORMULÁRIO ESTUDO DE CASO – PARTE 1

FORMULÁRIO ESTUDO DE CASO


PROCESSO DE SECAGEM AO AR LIVRE
Largura das vias de passagem no Espaçamento entre pilhas Sim (X)
Sim (X)
pátio de secagem Aproximadamente 50 cm X
Principais (5 a 8 metros) X Este parâmetro varia em alguma
Secundárias (aprox. 1/3 da principal) situação ou por algum motivo? X
Necessidade de vias transversais (60 Se sim, quais? Pode variar conforme a
a 80 metros de extensão de via necessidade de espaço no local onde se
principal) encontra o lote.
Transversais (dobro da principal)
Obs.: Não há necessidade de vias secundárias
ou transversais
Orientação das pilhas de madeira Tipo de empilhamento Sim (X)
com relação à direção Sim (X) Berço ou gaiola
predominante do vento Inclinado
Comprimento das pilhas/tábuas estão Tesoura
no sentido perpendicular ao sentido "Padrão" (A1) X
predominante do vento? X Outro
Obs.: Obs.:

A1 - Verificações tipo "Padrão" de empilhamento


Base Sim (X) Pilha de madeira Sim (X)
Tem altura que permita Comprimento igual ao das tábuas X
distanciamento de, pelo menos, 20 Qual a altura média das pilhas? Não existe um
cm do solo parâmetro
Tem altura que permita Qual a largura média das pilhas?
distanciamento de 45 cm (ou mais) Correspondente a aprox. 5 tábuas
do solo Obs.: Além da largura das tábuas, é necessário
Permite ventilação adequada X levar em consideração o espaçamento entre as
Os apoios estão na mesma linha que mesmas, o qual estima-se em 5 cm
separadores, formando colunas X aproximadamente.
Separadores Sim (X) Cobertura Sim (X)
Madeira (sarrafos) X A pilha possui cobertura?
Tabiques Se sim, de que material?
Outro
Obs.:

Dimensões médias (altura e largura): 2,5 x 2,5


cm

Espaçamento médio entre separadores:


colocam-se 5 separadores ao longo do
comprimento da tábua, formando 4 vãos.
O espaçamento muda por alguma
situação/variável?
Se sim, qual?
14

APÊNDICE 2 – FORMULÁRIO ESTUDO DE CASO – PARTE 2

FORMULÁRIO ESTUDO DE CASO


PROCESSO DE SECAGEM AO AR LIVRE
Secagem prévia (ou pré-secagem) Sim (X) Anotações pertinentes sobre o processo de
É realizada secagem prévia nos lotes secagem: A cobertura proporciona abrigo
de madeira? X para a incidência direta dos raios solares e, em
Se sim, esta acontece da mesma conjunto a isso, utiliza-se ventiladores
forma que a secagem? industriais para o aumento da velocidade de
Se não, o que muda? E por que? A pré- circulação do ar e, consequentemente,
secagem é realizada em ambiente coberto aumento da velocidade de secagem da água
livre.

PROCESSO DE TRATAMENTO DA MADEIRA


Deterioração da madeira Sim (X) Escolha do produto preservativo Sim (X)
Incidência de bactérias Oleoso
Incidência de fungos X Oleossolúvel
Incidência de insetos Hidrossolúvel
Se houver incidência, em qualquer um dos Obs.: Não se tratam madeiras na empresa.
casos, descrevê-los da melhor forma possível: Quando requisitado, a mesma é comprada
A maior incidência de deterioração é devida ao previamente tratada contra mofo.
mofo e fungos emboloradores. Quais variáveis são levadas em consideração
para escolha do produto? Disponibilidade do
mercado.

Escolha do método de aplicação Sim (X)


Existe deterioração química? X Método passivo X
Obs.: Método ativo
Obs.: É feito pelo processo de imersão através
de esteira.

Se sim, quais as possíveis variáveis que afetam Quais variáveis são levadas em consideração
desta forma o/s lote/s de madeira? Extrativos para escolha do método? Disponibilidade do
das madeiras que entram em contato com o mercado.
sol.
13

ANEXO 1 – LISTA DE PRODUTOS PRESERVATIVOS REGISTRADOS NO IBAMA

Produto Ingrediente Ativo Classe Empresa Registrante CNPJ Validade


1 Cipertrin MD Cipermetrina Inseticida MSM Química Ltda. 09.192.704/0001-88 26/05/2022
2 Cupinox Cipermetrina Inseticida Jimo Química Industrial Ltda. 92.783.687/0001-05 15/05/2025
3 Exterminador de Cupim Deltametrina Inseticida Renner Sayerlack S.A 61.142.865/0006-91 24/06/2024
4 Humogran Tribromofenol Fungicida Isogama indústria Química Ltda. 80.228.893/0001-66 05/02/2024
5 Icosal CB CCB Fungicida e Inseticida Icotema Mad. Trat. e Com. Ltda 50.229.749/0001-83 04/09/2025
6 Isogran C Ciflutrina Inseticida Isogama indústria Química Ltda. 80.228.893/0001-66 30/08/2021
7 Jimo Cupim Incolor Cipermetrina e Tribromofenol Fungicida e Inseticida Jimo Química Industrial Ltda. 92.783.687/0001-05 07/10/2025
8 Jimo Cupim Marrom Escuro Cipermetrina e Tribromofenol Fungicida e Inseticida Jimo Química Industrial Ltda. 92.783.687/0001-05 04/09/2025
9 Jimo TBF Concentrado Tribromofenol Fungicida Jimo Química Industrial Ltda. 92.783.687/0001-05 16/07/2025
10 Jimo TBF Export 64 Tribromofenol Fungicida Jimo Química Industrial Ltda. 92.783.687/0001-05 04/09/2025
11 Jimo Ecomofo Tanino Fungicida Jimo Química Industrial Ltda. 92.783.687/0001-05 04/09/2025
12 Lifewood 60 CCA Fungicida e Inseticida Koppers Performance Chemicals Brasil Comércio de Preservantes Ltda. 12.120.144/001-60 18/09/2023
13 Louro Fungicida Industrial TBP 40% Tribromofenol Fungicida Lorenzetti Química Ltda. 80.416.225/0001-62 23/05/2022
14 Madepil AC 40 - registro cancelado CCA Fungicida e Inseticida Koppers Performance Chemicals Brasil Comércio de Preservantes Ltda. 12.120.144/0001-60 28/09/2020
15 Madepil Tri 90 Fungicida Líquido Tribromofenol Fungicida Koppers Performance Chemicals Brasil Comércio de Preservantes Ltda. 12.120.144/001-60 18/09/2023
16 MOQ CP 50 Cipermetrina Inseticida Montana Química S/A 60.884.459/0001-27 07/10/2025
17 MOQ HQ Anti Blue - registro cancelado Carbendazim e Cobre-8-quinolato Fungicida Montana Química S/A 60.884.459/0001-27 22/09/2020
18 MOQ K 33 C CCA Fungicida e Inseticida Montana Química S/A 60.884.459/0001-27 28/06/2021
19 MOQ K 33 C 60 CCA Fungicida e Inseticida Montana Química S/A 60.884.459/0001-27 11/04/2026
20 MOQ OX 50 CCB Fungicida e Inseticida Montana Química S/A 60.884.459/0001-27 18/09/2023
21 Óleo Cresoto Carboderivados Óleo Creosoto Fungicida e Inseticida Elkem Part., Ind. e Com. Ltda 42.593.061/0004-00 04/02/2026
22 Osmocolor Stain IPBC Fungicida Montana Química S/A 60.884.459/0001-27 18/12/2025
23 Osmose CP 50 Cipermetrina Inseticida Montana Química S/A 60.884.459/0001-27 04/05/2023
24 Osmose TI 20 Cipermetrina e IPBC Fungicida e Inseticida Montana Química S/A 60.884.459/0001-27 16/11/2022
25 Osmose TI 80 Cipermetrina e IPBC Fungicida e Inseticida Montana Química S/A 60.884.459/0001-27 04/09/2024
26 Osmose K 33 C CCA Fungicida e Inseticida Montana Química S/A 60.884.459/0001-27 16/11/2022
27 Osmose K 33 C 60 CCA Fungicida e Inseticida Montana Química S/A 60.884.459/0001-27 18/09/2023
28 Osmotox Plus Carbendazim e Cobre-8-quinolato Fungicida Montana Química S/A 60.884.459/0001-27 31/10/2022
29 Pentox Super Cipermetrina Inseticida Montana Química S/A 60.884.459/0001-27 11/03/2024
30 Polesaver Bandage Boro e Fluoreto Fungicida e Inseticida Preschem do Brasil Ltda. 06.114.155/0001-35 12/07/2024
31 Polesaver Rods Boro e Fluoreto Fungicida e Inseticida Preschem do Brasil Ltda. 06.114.155/0001-35 12/07/2024
32 Polisten Deltametrina e IPBC Fungicida e Inseticida Renner Sayerlack S.A 61.142.865/0006-91 20/10/2025
33 Preventol HS 12 CE 50 Ciflutrina Inseticida Cupinicida Lanxess Ind. de Prod. Quím. e Plást. Ltda. 06.176.436./0001-12 17/05/2022
34 Tanalith 60% CCA-C CCA Fungicida e Inseticida Lonza do Brasil Especialidades Químicas Ltda. 03.988.220/0001-63 16/06/2025
35 Tanalith 72% CCA-C CCA Fungicida e Inseticida Lonza do Brasil Especialidades Químicas Ltda. 03.988.220/0001-63 24/04/2024
36 Tanalith E CA-B Tebuconazol e Cobre Fungicida e Inseticida Lonza do Brasil Especialidades Químicas Ltda. 03.988.220/0001-63 12/09/2021
37 Tanalith E μCA-C Cobre, Tebuconazol e Propiconazol Inseticida e Fungicida Lonza do Brasil Especialidades Químicas Ltda. 03.988.220/0001-63 10/09/2023
38 TBP 90 Tribromofenol Fungicida MSM Química Ltda. 09.192.704/0001-88 02/12/2025
39 Troysan Polyphase AF 3 IPBC Fungicida Troy Brasil Ltda. 02.728.736/001-06 20/06/2022
40 Troysan Polyphase P 100 IPBC Fungicida Troy Brasil Ltda. 02.728.736/001-06 25/05/2022
41 Vedacit® Inseticida para cupins em madeira Deltametrina Inseticida Otto Baumgart Ind. e Com. Ltda. 60.642.774/0001-48 14/06/2021
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ANEXO 2 – TABELA 1 DA NBR 5426/1985 – CODIFICAÇÃO DE AMOSTRAGEM


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ANEXO 3 – TABELA 2 DA NBR 5426/1985 – PLANO DE AMOSTRAGEM SIMPLES PARA INSPEÇÃO NORMAL

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