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PATO BRANCO
2022
JOSÉ OTÁVIO DA ROSA TOMASI
Technical analysis of wood available on the market for use in civil construction in the
municipality of Iraí/RS
PATO BRANCO
2022
Esta licença permite remixe, adaptação e criação a partir do trabalho, mesmo para
fins comerciais, desde que sejam atribuídos créditos ao(s) autor(es) e que
licenciem as novas criações sob termos idênticos. Conteúdos elaborados por
4.0 Internacional terceiros, citados e referenciados nesta obra não são cobertos pela licença.
JOSÉ OTÁVIO DA ROSA TOMASI
___________________________________________________________________________
Osmar João Consoli
Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
___________________________________________________________________________
Gustavo Lacerda Dias
Doutor em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
___________________________________________________________________________
Jairo Trombetta
Mestre em Engenharia pela Universidade de Passo Fundo
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
PATO BRANCO
2022
Dedico este trabalho à minha família e amigos,
pelos inúmeros momentos de ausência.
AGRADECIMENTOS
Certamente estes parágrafos não irão atender a todas as pessoas que fizeram parte
dessa importante fase de minha vida. Portanto, desde já peço desculpas àquelas que não estão
presentes entre essas palavras, mas elas podem estar certas que fazem parte do meu pensamento
e de minha gratidão.
Primeiramente, agradeço a Deus, que mesmo nos momentos difíceis, nunca permitiu
que me faltassem força e fé para superar todos os obstáculos.
Agradeço a minha família, por todo o apoio e amor demonstrados, mesmo à distância,
além da compreensão pela ausência em tantos momentos.
Em especial, agradeço à minha mãe, Lia Gisela Da Rosa Fiuri, a qual conseguiu se
fazer presente todos os dias desta jornada, seja com uma mensagem ou ligação, sempre
prestando todo o apoio e amor do mundo. Agradeço também ao meu pai, João Tomasi Neto,
pelo amor e apoio incondicional durante todos estes anos, por todos os ensinamentos e
conselhos passados. A ambos, muito obrigado!
Agradeço à minha avó, Zulma Necy Fiuri, minha primeira professora de matemática e
grande responsável por meu amor pelas ciências exatas. Muito obrigado!
Agradeço a meus amigos Leonardo, Angelo, Felipe, Eduardo, Johnny, Carlos, Diego,
Ildo e João Carlos, pela amizade sincera e verdadeira de toda a vida. Obrigado gurizada!
Agradeço à minha namorada, Laura Maria Becker, pelo apoio incondicional na reta
final desta trajetória, me incentivando e comemorando cada pequena vitória do dia a dia. Muito
obrigado!
Agradeço também à Bruna Luiza, Marlete Ana e Ivo Oto Becker, por abrirem as portas
de sua casa e me permitirem conhecer a Laura. Em especial ao seu Ivo, pelas longas conversas
sobre madeira e por toda ajuda prestada ao longo da realização deste trabalho. Muito obrigado!
Agradeço ao meu orientador, Prof. Msc. Osmar João Consoli, não apenas pelo papel
fundamental no desenvolvimento deste trabalho, mas pelo apoio e amizade. Muito obrigado!
Estendo o agradecimento, pelos mesmos motivos, ao Prof. Dr. Cleovir José Milani,
Profa. Dra. Elizangela Marcelo Siliprandi. Muito obrigado!
Agradeço à banca que avaliou este trabalho, composta pelo Prof. Dr. Gustavo Lacerda
Dias e pelo Prof. Msc. Jairo Trombetta, que contribuíram enormemente com suas sugestões.
Por último, mas não menos importante, agradeço à minha primeira amizade feita em
Pato Branco, Juneor Neto Osokoski Sachet, e à minha última amizade feita, Ana Gabriela
Pelegrino. Muito obrigado!
“São nossas escolhas, mais do que nossas
habilidades, que mostram quem realmente somos.”
J.K. Rowling
RESUMO
The little dissemination of technical information about the production and construction process
of wood leads society to opt for construction in concrete or steel, generating a cultural issue of
limitation in relation to its use in civil construction. The present work brings an extensive
bibliographic review on some important aspects of material technology, such as: wood
identification, deterioration by biodeteriorating agents, natural durability of wood, how the
process occurs and the main drying methods, main preservative products, main methods of
treatment and construction techniques that protect the wood. The aim is precisely to bring this
knowledge closer to professionals in the area, especially those involved with civil construction.
In addition, it also brings a case study that applies the theory exposed, in order to diagnose the
current production situation and indicate ways of controlling the quality of the raw material by
those who acquire/use it, such as engineers and/or builders. The result was satisfactory, since
although the company under study provides high quality products to the market, some aspects
were identified that can be improved, bringing even more technical confidence to the products
marketed and safety for the professionals who use them.
Keywords: wood; technical analysis; wood technology; civil construction.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 17
1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................... 19
1.1.1 Objetivo geral ..................................................................................................... 19
1.1.2 Objetivos específicos .......................................................................................... 19
1.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 19
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................... 21
2.1 HISTÓRICO DO USO DA MADEIRA NA CONSTRUÇÃO CIVIL .............. 21
2.2 IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DE MADEIRA .......................................... 22
2.2.1 Espécies arbóreas produtoras de madeira ........................................................... 23
2.2.1.1 Gimnospermas .................................................................................................... 23
2.2.1.2 Angiospermas ..................................................................................................... 23
2.2.2 Nomenclatura ...................................................................................................... 24
2.2.2.1 Nome científico .................................................................................................. 24
2.2.2.2 Espécie ................................................................................................................ 24
2.2.2.3 Nome popular ..................................................................................................... 24
2.2.3 Estrutura anatômica da madeira.......................................................................... 24
2.2.3.1 Macroestrutura .................................................................................................... 24
2.2.3.1.1 Casca (líber) ....................................................................................................... 25
2.2.3.1.2 Câmbio vascular ................................................................................................. 25
2.2.3.1.3 Lenho ou xilema secundário ............................................................................... 25
2.2.4 Identificação de madeiras ................................................................................... 27
2.2.4.1 Abordagem macroscópica .................................................................................. 27
2.2.4.1.1 Identificação sensorial ou organoléptica ........................................................... 28
2.2.4.1.2 Identificação pelas características anatômicas.................................................. 36
2.2.4.2 Abordagem microscópica ................................................................................... 61
2.2.5 Bases de dados na internet .................................................................................. 62
2.2.6 Principais acervos (xilotecas) do país ................................................................. 62
2.3 DETERIORAÇÃO DA MADEIRA ................................................................... 63
2.3.1 Deterioração química .......................................................................................... 64
2.3.2 Principais agentes biológicos deterioradores ...................................................... 65
2.3.2.1 Bactérias ............................................................................................................. 65
2.3.2.2 Fungos ................................................................................................................ 66
2.3.2.3 Insetos ................................................................................................................. 69
2.3.2.3.1 Ordem isoptera ................................................................................................... 69
2.3.2.3.2 Ordem coleóptera ............................................................................................... 70
2.3.2.3.3 Ordem Hymenoptera .......................................................................................... 70
2.4 DURABILIDADE NATURAL DA MADEIRA................................................ 71
2.4.1 Fatores que contribuem para a durabilidade natural ........................................... 71
2.4.2 Métodos de avaliação ......................................................................................... 72
2.4.2.1 Índice do potencial de ataque fúngico (PAF) ..................................................... 73
2.4.2.2 Índice de susceptibilidade ao ataque de organismos xilófagos (ISA) ................ 74
2.5 SECAGEM DA MADEIRA ............................................................................... 74
2.5.1 Tipos de água existentes na madeira .................................................................. 75
2.5.1.1 Água de capilaridade .......................................................................................... 76
2.5.1.2 Água higroscópica .............................................................................................. 76
2.5.2 Importância e razões para secagem da madeira .................................................. 76
2.5.3 Influência da umidade nas características da madeira ........................................ 77
2.5.3.1 Determinação da umidade da madeira ................................................................ 78
2.5.3.1.1 Expressões para cálculo da umidade da madeira .............................................. 78
2.5.3.1.2 Métodos para determinação da umidade da madeira ........................................ 80
2.5.3.1.3 Ponto de saturação das fibras (PSF).................................................................. 85
2.5.4 Umidade do ar..................................................................................................... 86
2.5.4.1 Pressão do vapor d’água ..................................................................................... 86
2.5.4.2 Determinação da umidade do ar ......................................................................... 87
2.5.4.2.1 Método do ponto de orvalho ............................................................................... 88
2.5.4.2.2 Psicrômetros ....................................................................................................... 88
2.5.4.3 Umidade de equilíbrio com o ambiente (UE) ..................................................... 90
2.5.4.3.1 Efeito do histórico de exposição ......................................................................... 90
2.5.4.3.2 Efeito da espécie da madeira e extrativos .......................................................... 91
2.5.4.3.3 Efeito Barkas ...................................................................................................... 92
2.5.5 Instabilidade dimensional da madeira – Retração e inchamento ........................ 93
2.5.5.1 Características da variação dimensional da madeira .......................................... 94
2.5.5.1.1 Determinação da instabilidade dimensional ...................................................... 95
2.5.5.1.2 Relação entre variação volumétrica e a densidade básica da madeira ............. 96
2.5.5.1.3 Anisotropia das variações dimensionais e suas causas ..................................... 97
2.5.5.2 Aplicações práticas do estudo da variação dimensional da madeira .................. 100
2.5.6 Movimentação da água na madeira .................................................................... 102
2.5.6.1 Movimento da água capilar ................................................................................ 102
2.5.6.2 Movimento da água higroscópica e vapor d’água .............................................. 103
2.5.6.2.1 Água higroscópica .............................................................................................. 103
2.5.6.2.2 Vapor d’água ...................................................................................................... 104
2.5.7 O processo de secagem ....................................................................................... 104
2.5.7.1 Generalidades do processo de secagem .............................................................. 104
2.5.7.2 Gradientes de umidade ....................................................................................... 105
2.5.7.2.1 Influência da permeabilidade da madeira .......................................................... 106
2.5.7.2.2 Influência do período de secagem ...................................................................... 107
2.5.8 Métodos de secagem da madeira ........................................................................ 108
2.5.8.1 Secagem natural ou ao ar livre............................................................................ 108
2.5.8.1.1 Pátio de secagem ................................................................................................ 109
2.5.8.1.2 Empilhamento ..................................................................................................... 110
2.5.8.1.3 Recomendações gerais sobre empilhamento ...................................................... 115
2.5.8.1.4 Recomendações técnicas para em regiões de clima seco ................................... 116
2.5.8.2 Secagem controlada da madeira ......................................................................... 116
2.5.8.2.1 Vantagens da secagem artificial controlada ...................................................... 117
2.5.9 Defeitos de secagem ........................................................................................... 117
2.5.9.1 Empenamento ..................................................................................................... 118
2.5.9.1.1 Empenamento longitudinal ................................................................................. 118
2.5.9.1.2 Empenamento encanoado ................................................................................... 118
2.5.9.1.3 Empenamento torcido ......................................................................................... 119
2.5.9.2 Rachaduras .......................................................................................................... 119
2.5.9.2.1 Rachaduras superficiais ..................................................................................... 119
2.5.9.2.2 Rachaduras de topo ............................................................................................ 120
2.5.9.3 Encruamento ....................................................................................................... 120
2.5.9.3.1 Rachaduras em favos .......................................................................................... 121
2.5.9.4 Colapso ............................................................................................................... 121
2.6 PRODUTOS PRESERVATIVOS PARA MADEIRA ....................................... 122
2.6.1 Características de um produto preservativo adequado ....................................... 122
2.6.2 Tipos de preservativos para madeira .................................................................. 123
2.6.2.1 Preservativos oleosos .......................................................................................... 124
2.6.2.1.1 Creosoto.............................................................................................................. 124
2.6.2.1.2 Óleos naturais..................................................................................................... 125
2.6.2.1.3 Óxido de bis (Tributil-Estanho) - TBTO............................................................. 125
2.6.2.2 Preservativos oleossolúveis ................................................................................ 126
2.6.2.2.1 Pentaclorofenol – PCP ....................................................................................... 126
2.6.2.2.2 Tribromofenol – TBP .......................................................................................... 127
2.6.2.2.3 Outros produtos preservativos oleossolúveis ..................................................... 127
2.6.2.3 Preservativos hidrossolúveis: ............................................................................. 128
2.6.2.3.1 Arseniato de Cobre Cromatado – CCA .............................................................. 128
2.6.2.3.2 Borato de Cobre Cromatado - CCB ................................................................... 129
2.6.2.3.3 Arseniato de Cobre Amoniacal – ACA ............................................................... 129
2.6.2.3.4 Cromato de cobre ácido – ACC ......................................................................... 130
2.6.2.3.5 Cloreto de Zinco Cromatado – CZC .................................................................. 130
2.6.2.3.6 Compostos de Boro ............................................................................................. 130
2.6.3 Produtos preservativos registrados ..................................................................... 131
2.7 MÉTODOS DE TRATAMENTO ...................................................................... 131
2.7.1 Métodos passivos ................................................................................................ 131
2.7.1.1 Pincelamento da madeira seca ............................................................................ 131
2.7.1.2 Aspersão e pulverização da madeira seca ........................................................... 132
2.7.1.3 Imersão ou encharcamento da madeira seca ....................................................... 133
2.7.1.3.1 Imersão simples .................................................................................................. 133
2.7.1.3.2 Imersão prolongada............................................................................................ 133
2.7.1.3.3 Banho quente-frio ............................................................................................... 135
2.7.1.3.4 Tratamento por difusão simples ......................................................................... 135
2.7.1.3.5 Tratamento por dupla difusão ............................................................................ 136
2.7.1.3.6 Tratamento por substituição de seiva ................................................................. 136
2.7.1.3.7 Tratamento pelo processo de Boucherie ............................................................ 137
2.7.1.3.8 Tratamentos temporários da madeira verde ...................................................... 139
2.7.2 Métodos de tratamento ativo .............................................................................. 139
2.7.2.1 Processo de Bethell ou célula cheia .................................................................... 140
2.7.2.2 Processo de célula vazia ..................................................................................... 142
2.7.2.3 Processo de Gewecke ......................................................................................... 145
2.7.2.4 Processo MSU .................................................................................................... 145
2.7.2.5 Processo de Cellon ou Drilon ............................................................................. 147
2.8 TÉCNICAS CONSTRUTIVAS PARA PROTEÇÃO DA MADEIRA ............. 147
2.8.1 Princípios para construção em madeira .............................................................. 148
2.8.1.1 Técnicas construtivas para evitar a umidade ...................................................... 149
2.8.1.1.1 Beirais ................................................................................................................. 149
2.8.1.1.2 Calhas ................................................................................................................. 149
2.8.1.1.3 Impermeabilização ............................................................................................. 149
2.8.1.1.4 Bloqueio do sentido transversal da madeira ...................................................... 150
2.8.1.1.5 Inclinação ........................................................................................................... 150
2.8.1.1.6 Ventilação ........................................................................................................... 150
2.8.1.1.7 Uso de acabamentos ........................................................................................... 151
2.8.1.2 Técnicas construtivas para evitar insetos ............................................................ 152
2.8.1.2.1 Limpeza do terreno ............................................................................................. 152
2.8.1.2.2 Vãos entre a madeira e o concreto ..................................................................... 152
2.8.1.2.3 Telas de proteção ................................................................................................ 153
3 METODOLOGIA ............................................................................................. 154
3.1 ABORDAGEM DA PESQUISA ........................................................................ 154
3.2 ESTUDO DE CASO .......................................................................................... 156
3.2.1 A empresa ........................................................................................................... 156
3.2.2 Procedimento estudo de caso .............................................................................. 159
3.2.2.1 Determinação do teor de umidade de madeiras .................................................. 160
3.2.2.2 Informações complementares para a análise técnica .......................................... 161
4 RESULTADOS E ANÁLISES ........................................................................ 163
4.1 RESULTADOS DO ESTUDO CASO ............................................................... 163
4.1.1 Teor de umidade ................................................................................................. 163
4.1.2 Método de secagem ............................................................................................ 166
4.1.2.1 Parâmetros a serem analisados ........................................................................... 166
4.1.3 Método de tratamento ......................................................................................... 168
4.1.4 Patologias frequentes .......................................................................................... 169
4.1.5 Identificação de madeiras ................................................................................... 170
4.2 DIAGNÓSTICO DO PROCESSO PRODUTIVO ............................................. 175
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 177
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 179
APÊNDICE 1 – FORMULÁRIO ESTUDO DE CASO – PARTE 1 .............................. 13
APÊNDICE 2 – FORMULÁRIO ESTUDO DE CASO – PARTE 2 .............................. 14
ANEXO 1 – LISTA DE PRODUTOS PRESERVATIVOS REGISTRADOS NO IBAMA
13
ANEXO 2 – TABELA 1 DA NBR 5426/1985 – CODIFICAÇÃO DE AMOSTRAGEM
14
ANEXO 3 – TABELA 2 DA NBR 5426/1985 – PLANO DE AMOSTRAGEM SIMPLES
PARA INSPEÇÃO NORMAL ........................................................................................... 15
17
1 INTRODUÇÃO
pouquíssima energia, tornando-o ainda mais atraente (GESUALDO, 2003). Desse modo, se faz
importante o estudo da viabilidade na utilização deste material de forma disruptiva em relação
à mentalidade imposta pela sociedade brasileira e sul-americana.
Nesse intuito, o trabalho pretende fazer uma análise técnica da madeira disponível no
mercado para uso da construção civil no município de Iraí/RS. Suposto, este trabalho tem como
objetivo responder os seguintes questionamentos: tanto do ponto de vista da indústria, quanto
do engenheiro, como fazer para se obter uma matéria prima e/ou produto de madeira durável
com qualidade mínima assegurada de forma racional e técnica? Como proceder, desde que as
árvores chegam na indústria em forma de tora, até se obter o nível de qualidade suficiente para
se pensar em construir produtos duráveis em madeira?
Primeiramente, a pesquisa apresenta diversos aspectos que influenciam diretamente a
matéria prima e seus produtos, em suas utilizações finais as quais foram previamente definidas.
Para tal, realizou-se uma revisão bibliográfica reunindo o conhecimento necessário para
analisar o material de forma técnica.
Esta, apesar de ter sido realizada de forma ampla, desviou-se de alguns tópicos que
certamente enriqueceriam o objetivo do trabalho. Porém, devido ao fato de serem assuntos
muito extensos e ainda considerando a visita à indústria na qual foi realizado o estudo de caso,
muitas informações adquiridas in loco asseguraram a obtenção dos resultados satisfatórios desta
pesquisa.
Todavia, buscou-se aliar diversas análises em um estudo de caso, visando uma forma
de aplicar tais conhecimentos. Em decorrência disso, e fundamentado nos diversos tópicos
apresentados e normas regulamentadoras, se obtiveram dados com base científica para análise
técnica dos produtos disponíveis no comércio gerando um diagnóstico da atual situação da
cadeia produtiva da madeira na indústria no município em estudo.
Por último, realizaram-se as considerações sobre a análise técnica acerca do estudo de
caso, gerando as conclusões sobre o assunto, além de expor brevemente tópicos que não
puderam ser abordados no presente trabalho, resultando nas devidas sugestões para futuros
trabalhos no rumo da madeira.
19
1.1 OBJETIVOS
1.2 JUSTIFICATIVA
conhecimento técnico que existe no processo industrial até a obtenção dos produtos
comercializados para a construção civil, assim como, a falta de controle de qualidade por parte
de quem a adquire, principalmente construtores. Portanto, a originalidade deste trabalho se dá
em aproximar este conhecimento aos profissionais interessados que utilizam a madeira em seu
cotidiano.
A importância deste estudo é dada visto que existe uma grande área do conhecimento
negligenciada no mercado atual da construção civil, o que reflete em fuga por parte dos
profissionais que deveriam estar capacitados para usá-lo. Este fato abre brecha no mercado para
trabalhadores que, muitas vezes, com pouco ou nenhum conhecimento técnico, geram serviços
e produtos ineficientes, defeituosos e com baixa durabilidade, o que afasta a sociedade em geral
da construção baseada em madeira, pelo menos no tocante ao âmbito nacional, contribuindo
com a ideia inicial de que a madeira é um material inferior aos demais disponíveis no mercado
(GESUALDO, 2003).
A possibilidade de se realizar este estudo é concreta, visto que se têm acesso às Normas
Regulamentadoras Brasileiras (NBR) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
relacionadas ao assunto; à bibliografia, como: livros, manuais técnicos, normas
regulamentadores estrangeiras, notas de aula e demais conteúdos pertinentes, encontrados
gratuitamente através da Internet e; ao mercado madeireiro da cidade em estudo. Ademais, foi
possível adquirir, com recursos próprios, os materiais necessários para a realização do estudo
de caso, visto que são ferramentas relativamente simples e de baixo custo.
Vale ressaltar que não houve tempo hábil para adentrar em alguns aspectos do assunto
estudado, visto que são subtópicos bastante extensos. Exemplo disso são: a identificação
microscópica e microestrutura anatômica de madeiras; a secagem artificial de madeiras;
produtos preservativos antichamas; defeitos naturais da madeira; máquinas utilizadas no
processo industrial da madeira; alguns aspectos não abordados da caracterização física da
madeira, como a densidade, além de propriedades térmicas, elétricas e acústicas; produtos de
madeira para a construção civil e; composição química da madeira.
21
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Brasil, por exemplo, este material deve ser utilizado com a maior eficiência e durabilidade
possível (ISHIKURA, 2015).
Seguindo esta crença, as construções realizadas em madeira pelos japoneses devem
ter, pelo menos, a mesma vida útil que a idade da árvore que foi derrubada para tal, afim de
quitar o débito moral criado com a natureza (ISHIKURA, 2015). Isto justifica a necessidade
que os mestres carpinteiros, como são chamados os profissionais especializados no manuseio
da madeira, tem em obter vasto conhecimento sobre o material.
A escolha cuidadosa das árvores a serem utilizadas, a época de corte, o tratamento por
lixiviação em água corrente, a fundação elevada do nível do terreno, a boa ventilação da
estrutura para combater a umidade e, claro, a manutenção adequada para a estrutura
(ISHIKURA, 2015) são conhecimentos e práticas indispensáveis para um mestre carpinteiro e,
possivelmente, algumas das principais virtudes do trabalho preciso e coerente na construção de
inúmeras edificações centenárias que se ergueram durante centenas de anos, o que torna estas
obras icônicas, sustentáveis e, principalmente, duráveis.
Assim, todavia que exposta brevemente, já é possível perceber, de forma nítida, a
relação próxima que o ser humano desenvolveu com a madeira ao longo de sua história.
Segundo Lourenço e Branco (2013), a preferência por este material se deve, sobretudo, às suas
propriedades físicas e mecânicas que proporcionaram, num produto final, conforto térmico e
grande aptidão estética, associadas a um baixo consumo de energia para sua transformação.
Aliás, a madeira é um material estrutural que permite desenvolver soluções criativas,
inovadoras e robustas, com altíssima qualidade, visando solucionar os mais diversos desafios
arquitetônicos. Resultado disso é o surgimento, nos últimos tempos, de vários produtos
derivados que tem por objetivo minimizar as limitações naturais de seu emprego. Estes visam
a padronização e normalização do material de forma a permitir à indústria um contínuo
crescimento na garantia de qualidade dos mesmos (LOURENÇO e BRANCO, 2013).
Segundo Florsheim (et al., 2020) há dois grupos botânicos distintos de plantas que
produzem madeira: as Gimnospermas e as Angiospermas. As Gimnospermas, ou “folhosas”
como são popularmente conhecidas, tem como características folhas estreitas, finas, alongadas,
na maioria das vezes aciculares, em feixes de 2 a 4 e pontiagudas. Já as Angiospermas, ou
dicotiledôneas, possuem as sementes envolvidas pelo seu fruto e suas folhas possuem formas
variadas, o que ajuda na identificação e diferenciação das espécies.
2.2.1.1 Gimnospermas
2.2.1.2 Angiospermas
2.2.2 Nomenclatura
Segundo Florsheim (et al., 2020) é uma ferramenta utilizada por especialistas para
nomear seres vivos e possibilitar seu reconhecimento ao redor do mundo sem equívocos.
Geralmente é utilizada uma identificação de dois nomes, ou seja, um binome. O
primeiro diz respeito ao gênero (nome genérico) e o segundo à espécie (específico).
2.2.2.2 Espécie
É o nome dado pela própria população de uma dada região para uma determinada
espécie ou grupo de árvores. Este, segundo Florsheim et al. (2020) não possui embasamento
científico e é dado devido à alguma característica visível, seja em sua casca, folhas, flores ou
até mesmo propriedades medicinais.
Tal nome pode variar de região para região. Exemplo disso é a Dipteryx alata, também
conhecida popularmente como cumaru, cumbaru ou barujo (FLORSHEIM et al., 2020).
Segundo Florsheim (et al., 2020), o xilema secundário, mais conhecido como lenho,
é um material orgânico e heterogêneo, de estrutura complexa, com diferentes tipos de células
geralmente orientadas no sentido perpendicular ao eixo do tronco e paralelas entre si.
2.2.3.1 Macroestrutura
Segundo Pfeil (2003), as árvores que produzem madeira para construção são
exogênicas, ou seja, crescem pela adição de camadas externas sob a casca. Assim sendo, é
possível descrever cada camada de uma seção transversal (Figura 1), a qual é constituída, de
fora para dentro, por: casca, alburno (ou branco), cerne (ou durâmen) e medula (PFEIL, 2003).
25
Corresponde a uma camada morta que protege a árvore do meio exterior. A largura
desta pode variar conforme o tempo e espécie (PFEIL, 2003), e é constituída pela periderme
(felema, felogênio e feloderme) (FLORSHEIM et al., 2020). Ademais, esta casca possui ainda
uma camada fina interna, de tecido vivo, que tem por objetivo transportar alimento
(fotossintatos) preparado nas folhas para as partes da árvore em desenvolvimento (PFEIL,
2003), a qual é chamada de floema (FLORSHEIM et al.,2020).
Ainda, vale ressaltar que esta possui características específicas para cada espécie de
árvore, podendo variar sua cor, espessura, textura e aspecto em geral, muito importantes para
correta identificação de árvores vivas (FLORSHEIM et al.,2020).
Segundo Pfeil (2003) esta camada, que segue ao câmbio vascular e geralmente possui
de 3 a 5 centímetros, é formada basicamente por células vivas que conduzem a seiva das raízes
para as folhas (PFEIL, 2003).
Estas, que dão uma coloração clara ao alburno, precisam estar desobstruídas para que
sua funcionalidade não seja afetada, fornecendo um fluxo ascendente de substâncias nutritivas,
razão pela qual é geralmente atacada por agentes deterioradores (como fungos e insetos
xilófagos). Assim sendo, esta região é a que melhor recebe produtos preservativos durante o
processo de tratamento da madeira, o que ajuda a garantir a longevidade da peça (FLORSHEIM
et al.,2020).
2.2.3.1.3.2 Cerne
Após o alburno, a próxima camada do lenho é o cerne. Este possui uma coloração mais
escura com relação ao alburno, devido a possuir células que já perderam sua função condutora,
o que se denomina células sem atividade vegetativa. Tal cor escurecida é dada pela formação
de extrativos (óleos, resinas e depósitos) durante seu processo de formação. Quando as células
nesta região da madeira estão obstruídas por estes extrativos, isto acaba fornecendo uma maior
resistência ao tronco da árvore, o que posteriormente acaba dificultando o processo de
tratamento dela com produtos preservativos e devida secagem.
Nestes casos, mesmo com tratamento sob pressão em autoclave, praticamente não há
absorção de produto preservativo. Isto indica que a madeira possui um cerne durável,
característica de madeiras chamadas popularmente de “madeira de lei”, termo este que surgiu
na época do Brasil Colônia quando algumas espécies, as quais geralmente possuíam esta
característica, foram proibidas por lei de serem comercializadas. O termo é utilizado até hoje
para identificar madeiras como boas propriedades físicas, mecânicas e biológicas
(FLORSHEIM et al., 2020).
2.2.3.1.3.3 Medula
Tecido macio (PFEIL, 2003) parenquimático, localizado no centro do tronco, onde é
armazenado substâncias nutritivas. Pode deteriorar-se com o tempo, tornando-se apenas um
vazio.
Devido ao fato de localizar-se na região central do tronco, pode apresentar alguma
excentricidade quando ele possuir algum tipo de inclinação (FLORSHEIM et al., 2020).
27
Florsheim (et al., 2020) explica que a identificação de uma árvore, ou seja, sua
classificação taxonômica, é feita levando em consideração suas características morfológicas,
como cascas, folhas, etc., além de seus órgãos reprodutores, geralmente constituídos por flores
e frutos. Entretanto, quando uma árvore é derrubada e, em seguida, sua madeira desdobrada,
fazendo-a perder tais características morfológicas, a sua identificação por este meio fica
impossibilitada de acontecer.
É neste momento que é possível notar a importância de se conhecer as características
anatômicas da madeira, a fim de realizar a identificação da mesma com certo grau de
confiabilidade. Desta forma, surgem duas vertentes no processo de identificação: a abordagem
macroscópica e a microscópica (FLORSHEIM et al., 2020).
Botosso (2011) afirma que a utilização de um processo ou outro, ou até mesmo sua
aplicação simultânea, depende da estrutura existente no local de trabalho e da capacidade do
profissional que realizará a identificação da madeira.
Ademais, este reforça a importância de que se tenha acesso a um acervo de madeiras
onde os exemplares tenham sido corretamente identificados, e que os mesmos sejam rastreáveis
às amostras-padrão disponíveis em acervos institucionais (xilotecas) ou laboratórios
especializados (BOTOSSO, 2011).
2.2.4.1.1.1 Cor
Florsheim (2020) considera que a maior parte das espécies de madeira possuem uma
variação de cor entre o cerne, que é a região central do tronco onde ficam as células inativas da
árvore, e o alburno, região que circunda o cerne, indo até o câmbio vascular (FLORSHEIM et
al., 2020). Esta variação natural na coloração é proporcionada pelo acúmulo de substâncias
orgânicas nas células e paredes celulares do próprio cerne (BOTOSSO, 2011).
No Brasil, por exemplo, existe uma grande variação na cor dos cernes das árvores
encontradas no país. Dentre elas, encontra-se o esbranquiçado do pau-marfim, o enegrecido do
pau-santo, o amarelado do pau-amarelo, marrom acastanhado para o cerne do mogno, bege-
rosado para a peroba-rosa e avermelhado para o conduru. Todavia, existem cernes os quais
possuem cores intrínsecas, como por exemplo o arroxeado do pau-roxo, o rajado para o
angelim-rajado e o aspecto fibroso da sucupira (o qual realça as fibras escuras dentre as células
de parênquima axial, que são claras) (FLORSHEIM et al., 2020).
Na questão da avaliação desta cor, Botosso (2011) afirma que esta deve ser observada
em uma superfície longitudinal tangencial (também chamada de transversal) do cerne, exposta
ao ambiente o mais recentemente possível, devido a que algumas espécies de madeira que
podem vir a sofrer uma oxidação em decorrência à exposição ao ar, à luz (BOTOSSO, 2011) e
à alguns metais (FLORSHEIM et al., 2020).
Assim, para observação de sua coloração, a madeira precisa ser raspada com uma faca,
grosa ou lixa. Como critério de identificação a cor é bastante limitada, visto que se tem diversas
29
categorias (BOTOSSO, 2011), as quais algumas foram citadas anteriormente. Portanto, devido
a tal subjetividade nesta avaliação, é recomendado a utilização do reconhecimento desta
característica em conjunto com outras, melhorando sua confiabilidade.
Uma curiosidade que é mencionada por Florsheim (et al., 2020), em comparação às
madeiras de cerne claro, as espécies de madeira que possuem cerne escuro são mais duráveis,
devido a depósitos de taninos e resinas que as tornam mais resistentes ao ataque de xilófagos.
No tocante à coloração, esta deve ser observada no plano longitudinal do cerne recém
exposto (descrevendo de forma distinta a cor do cerne e do alburno quando houver diferença)
e especificada conforme a escala de cores de Munsell (Color Charts for Plant Tissue). A seguir,
Figura 2 com cores possíveis (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 2 - Compilado de figura 43 à 53 de Florsheim et al., 2020
Com relação ao paladar, Botosso (2011) afirma que madeiras com elevado teor de
tanino geralmente apresentam um gosto mais amargo. Todavia, outras espécies de árvores
podem apresentar sabor adocicado (BOTOSSO, 2011) adstringente e ácido (FLORSHEIM et
al., 2020).
O odor é uma característica bastante difícil de definir. Como procedimento a ser
adotado, deve ser levado em conta que a superfície precisa estar exposta ao ar o mais
recentemente possível devido à volatilidade de algumas substâncias contidas na madeira.
Todavia, é possível realçar tal odor raspando, cortando ou até umedecendo novamente a
superfície (BOTOSSO, 2011).
Além disso, o cheiro pode ser subdividido em duas vertentes: distinto e indistinto.
Quando é classificado como distinto (BOTOSSO, 2011), o mesmo pode ainda ser denominado
como agradável ou desagradável (FLORSHEIM et al., 2020). Tal característica pode valorizar
ou limitar o uso de uma espécie para determinado fim (BOTOSSO, 2011).
Vale lembrar, ainda, que apesar de tais propriedades serem bastante úteis no processo
de reconhecimento da madeira, alguns cuidados precisam necessariamente ser tomados para
sua determinação.
Em nenhuma hipótese deve-se cheirar e/ou provar uma madeira que esteja tratada ou
qualquer produto advindo da própria madeira, visto que estes podem conter substâncias
desconhecidas que podem ocasionar reações adversas ao ser humano. Mesmo nos casos em que
se tem conhecimento sobre tais substâncias, não é recomendado tal contato visto que não é
possível saber seu grau de pureza ou esterilidade, podendo estar biologicamente contaminado
(BOTOSSO, 2011).
Para fins de identificação da madeira com relação ao odor, recomenda-se que este seja
citado apenas quando for característico, podendo ser classificado como:
• Presente;
• Agradável;
• Desagradável e;
• Ausente.
Ademais, vale ressaltar que, para fins de ressaltar o odor da madeira, pode ser feito
polimento e umedecimento da amostra (FLORSHEIM et al., 2020).
Todavia, para fins de identificação no tocante ao paladar, também se recomenda a
citação dele apenas nos casos em que o gosto for característico, podendo ser classificado como:
• Amargo;
31
• Adocicado;
• Ácido e;
• Ausente.
Sempre relembrando os cuidados necessários para testes de odor e paladar, podendo a
madeira resultar tóxica para o ser humano (FLORSHEIM et al., 2020).
2.2.4.1.1.3 Grã
A orientação das estruturas e fibras do lenho em relação ao eixo do tronco principal,
que é vertical com relação ao solo e que ocorre devido ao crescimento da própria árvore, é
chamada de grã (FLORSHEIM et al., 2020).
A variação natural que ocorre nestas estruturais axiais é causada por diversos fatores
ambientais e ecológicos a que as árvores estão sujeitas durante o processo de crescimento, o
que acaba originando diversos tipos de grãs (BOTOSSO, 2011). Além disso, essas variações
podem ocorrer devido a tratamentos químicos e, inclusive pela inclinação do terreno, podendo
afetar negativamente em diversos aspectos da madeira, como: resistência mecânica,
deformações de secagem e dificuldade na trabalhabilidade (FLORSHEIM et al., 2020).
Florsheim (et al., 2020) indica que as grãs podem ser direitas ou irregulares. Elas são
direitas quando as células de seu lenho estão orientadas paralelamente ao eixo vertical do tronco
(Figura 3.A). Já quando são irregulares, o alinhamento destas células não coincide com o eixo
longitudinal da peça de madeira. Dentre as grãs irregulares, podem ser citados quatro tipos de
ocorrência: a helicoidal, a revessa, a ondulada (Figura 3.B) e a inclinada.
Na helicoidal, tem-se a orientação das células em forma, como o próprio nome diz,
helicoidal em relação ao eixo longitudinal, a qual geralmente pode ser observada devido à forma
retorcida da madeira depois de retirada a casca (FLORSHEIM et al., 2020).
Já na entrecruzada, ou revessa (BOTOSSO et al, 2020), tem-se uma grã orientada em
diversas direções, o que acarreta mudanças na direção do tronco. A ondulada é orientada em
forma sinuosa em relação ao eixo longitudinal da peça, entretanto isso acontece regularmente,
diferenciando-se da revessa (FLORSHEIM et al., 2020).
Por último, tem-se a inclinada, também chamada de diagonal ou oblíqua (BOTOSSO
et al., 2011), a qual possui células orientadas em diagonal com relação ao eixo vertical da peça,
o que é visto geralmente em árvores de tronco cônico (FLORSHEIM et al., 2020).
Sua classificação, pode ser dada a seguir e resumida na Figura 4:
• Regular;
• Irregular;
32
o Helicoidal;
o Revessa (entrecruzada);
o Ondulada e;
o Inclinada.
Figura 3 - Tipo de grã (plano longitudinal): A = grã direita, B = grã ondulada
2.2.4.1.1.4 Textura
A textura é a aparência de uma determinada superfície, a qual permite identificar a
árvore. Quando se toca, é possível perceber sua rugosidade, maciez, lisura, aspereza ou
ondulações. Portanto, a textura é tanto uma sensação visual quanto tátil, sendo esta produzida
33
Figura 5 - Tipos de textura, sua descrição e exemplos de madeiras onde podem ser encontradas
acabamentos superficiais como seladores e vernizes. Entretanto, este fato é irrelevante no que
diz respeito à identificação das madeiras (BOTOSSO, 2011).
No tocante à classificação do brilho, o mesmo pode ser feito sendo mencionado sua
existência ou não, observando-se a superfície do cerne recém exposta:
• Com brilho e;
• Sem brilho.
O desenho, assim como o brilho, deve ser indicado sua existência ou não através da
observação no plano longitudinal tangencial do cerne, classificando-o como:
• Com desenho ou;
• Sem desenho (FLORSHEIM et al., 2020).
Na Figura 6 pode ser observado um exemplo de madeiras com e sem desenho.
Figura 6 - Desenho (plano longitudinal): A = com desenho, B = sem desenho
2.2.4.1.2.3.1.1 Visibilidade
Existem três hipóteses possíveis. Quando:
• este pode ser analisado a olho nu;
• quando este é distinto apenas sob lente com 10 vezes de aumento ou;
• quando o parênquima é indistinto mesmo sob a lente supracitada
(FLORSHEIM et al., 2020).
2.2.4.1.2.3.1.2 Contraste
Neste caso, trata-se do contraste entre a cor das fibras e do parênquima axial, sendo
possível classificá-lo de duas formas:
• Contrastado (Figura 13.A);
• Pouco contrastado (Figura 13.B);
41
2.2.4.1.2.3.1.3 Disposição
A disposição do parênquima axial diz respeito à sua posição com relação aos vasos.
Assim, como dito anteriormente, é possível classificá-lo de duas formas: apotraqueal e
paratraqueal (BOTOSSO, 2011).
Todavia, vale lembrar que, dentro das classificações apotraqueal e paratraqueal,
existem diversos tipos de parênquima axial, os quais serão expostos, dentro dos dois tipos base,
a seguir (BOTOSSO, 2011):
• Apotraqueal: quando o parênquima axial não está ligado aos vasos;
o Difusa: quando as células do parênquima axial se distribuem de forma
isolada entre as fibras (Figura 14.A);
o Difusa em agregados: se dá quando as células do parênquima axial
tendem a formar pequenas linhas, as quais são curtas e interrompidas
(Figura 14.B) (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 14 - Parênquima axial apotraqueal
Segundo Florsheim (et al., 2020), estes podem ser laticíferos (Figura 30.B) ou
taniníferos (Figura 30.C). Geralmente são vistos sob aumento da lupa como pontos enegrecidos
em alguns raios, podendo, também, aparecer entre fibras.
Vale ressaltar que esta característica é de difícil visualização na macroscopia, por isso
geralmente não são diferenciados. Assim, para classificá-lo, basta com dizer estão presentes ou
ausentes.
• Presente;
• Ausente (FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 32 - Estruturas secretoras (setas)
2.2.4.1.2.3.6 Vasos
56
Os vasos são elementos celulares, geralmente axiais, que formam uma estrutura
tubiforme contínua de comprimento indeterminado, de diâmetro entre 20 e 500 micrômetros,
os quais são responsáveis pela condução ascendente de líquidos na árvore (BOTOSSO, 2011).
No plano transversal, os vasos possuem uma forma circular ou ovalada (FLORSHEIM
et al., 2020). Tais elementos, quando são observados em uma seção transversal, surgem como
pequenos orifícios, os quais geralmente são chamados de “poros”, sendo o tamanho,
distribuição e quantidade destes elementos de fundamental importância no reconhecimento de
uma espécie de madeira (BOTOSSO, 2011).
Características como diâmetro, frequência de ocorrência, tipo de porosidade, arranjo,
presença de obstruções, entre outros, bem como suas propriedades tecnológicas, são de imenso
valor na hora de identificar determinada madeira (BOTOSSO, 2011) e, por este motivo,
algumas destas características serão expostas a seguir.
Vale lembrar, todavia, que os vasos são visíveis tanto no plano transversal quanto no
longitudinal (FLORSHEIM et al., 2020).
• Pequenos: onde o diâmetro fica entre 60 e 100 micrômetros (ou 0,06 e 0,1
milímetros);
• Médios: onde o diâmetro tangencial fica entre 110 e 200 micrômetros (ou 0,11
e 0,2 milímetros);
• Grandes: quando o diâmetro é superior a 200 micrômetros (ou 0,2 milímetros)
(FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 35 - Diâmetro de vasos
2.2.4.1.2.3.6.4 Porosidade
Esta refere-se à dispersão dos vasos quando são observados em uma seção transversal
da amostra de madeira (BOTOSSO, 2011).
A madeira pode ser:
• Difusa (Figura 37.A): quando os vasos apresentam praticamente o mesmo
diâmetro independentemente das camadas de crescimento;
• Anel poroso (Figura 37.B): acontece quando os vasos do lenho inicial, que
possui cor mais clara, apresentam diâmetros bem maiores e concentrados do
que os do lenho tardio, o qual possui uma coloração mais escura, dentro da
mesma camada de crescimento, sendo abrupta a mudança no diâmetro;
• Anel semiporoso (Figura 37.C): assim como no caso anterior, existe uma
diferença considerável no diâmetro dos vasos entre o lenho inicial e o lenho
tardio, porém, ao invés de haver uma mudança abrupta nos mesmos, existe uma
diminuição gradativa entre um e outro dentro das camadas de crescimento
(FLORSHEIM et al., 2020).
Figura 37 – Porosidade
Botoso (2011) explica que os arranjos são formas diferenciadas de organização dos
vasos os quais podem permitir que certas espécies de madeira se destaquem de outras. Estas
disposições são vistas através de uma seção transversal, podendo ser classificadas como
(BOTOSSO, 2011):
• Tangencial (Figura 38.A): quando ocorre distribuição bem definida dos
elementos de vasos, perpendicularmente aos raios (FLORSHEIM et al., 2020);
• Radial (Figura 38.B): quando a disposição dos vasos é feita de forma paralela
aos raios (FLORSHEIM et al., 2020);
Figura 38 - Arranjo dos vasos
Segundo Florsheim (et al., 2020), as gomas ou depósitos, como são chamadas as
substâncias que podem acabar obstruindo os vasos, devem ser caracterizadas por seu aspecto e
cor. Ademais, podem surgir tilos nos vasos do cerne de algumas espécies, os quais geralmente
apresentam coloração clara e brilho característico.
Assim sendo, é possível classificar a madeira em duas situações:
• Vasos desobstruídos: quando não se verifica a obstrução por gomas/depósitos
ou tilos (FLORSHEIM et al., 2020);
• Vasos obstruídos (parcial ou totalmente): quando todos ou alguns dos vasos,
na região do cerne, possuem preenchimento por inclusões orgânicas, como
óleos, gomas, resinas, tilos, entre outros (BOTOSSO, 2011).
Figura 41 - Obstrução de vasos
Nestes, é possível encontrar inúmeras espécies dos diferentes biomas aos quais o Brasil
pertence, tendo a possibilidade, inclusive, de encontrar espécies de madeira do exterior
(BOTOSSO, 2011).
Assim sendo, tem-se na Figura 42 a seguir uma lista com as principais xilotecas
encontradas no país.
Figura 42 - Lista das principais coleções de madeira (xilotecas) existentes no país
A madeira é um material renovável que pode ser prejudicado por agentes biológicos,
reações químicas, entre outros, causando prejuízo tanto ao produtor quanto ao consumidor, no
64
que diz respeito à matéria prima e à mão de obra necessária para fazer a substituição daquele
produto afetado.
Ao longo do tempo, durante a evolução da natureza, organismos como bactérias,
fungos, insetos, moluscos e crustáceos foram se adaptando e passando a obter alimento direta
ou indiretamente da madeira. Estes, que fazem parte do grupo de agentes deterioradores
biológicos, são os que mais impactam a vida útil da madeira, sendo os fungos os que mais
incidem neste material (MORESCHI, 2013).
Por outro lado, existe a situação do gás carbônico disponível na atmosfera. Nas
florestas de todo o mundo, cerca de 400 bilhões de toneladas de 𝐶𝑂2 são armazenados. Sem a
decomposição ou queima de parte deste material, o gás carbônico disponível na atmosfera seria
totalmente usado em aproximadamente 20 ou 30 anos (CASTRO e GUIMARÃES et. al, 2018).
Resgatando, ainda, um pouco sobre os primórdios da utilização deste material, tem-se
o registro de Castro e Guimarães (2018), onde é exposto que os organismos causadores da
decomposição da madeira são chamados de praga na Bíblia. Assim, na antiguidade, a podridão
da madeira era considerada um ato punitivo de Deus. Somente em 1874, Robert Harting
reconheceu a relação entre praga e dano. Por isso, ainda nos dias de hoje, ele é considerado o
pai da patologia florestal e da deterioração da madeira.
Aliás, a diferença entre estes dois últimos, ou seja, entre a patologia florestal e a
deterioração da madeira, é o fato de falarmos do substrato morto do material. Logo, em um
curto período após a derrubada, as células da árvore morrem e, portanto, não podem adoecer.
Consequentemente, o termo patologia não é aplicável ao ataque sofrido após o corte (CASTRO
E GUIMARÃES, 2018).
A deterioração da madeira se dá de diferentes maneiras. Portanto, é importante que,
em cada situação de uso, seja identificada a principal causa da deterioração, para que controles
específicos e eficientes sejam tomados (ROCHA, 2001).
Percebe-se, assim, a importância que existe em conhecer minimamente estes agentes
quando se fala no material madeira, independente da utilização final que a mesma possa vir a
ter.
Dentro deste tipo de deterioração, pode-se citar a mancha química (ou enzimática) e a
mancha marrom. Como poderá ser apreciado a seguir, as duas tem características semelhantes
no que diz respeito a seu acontecimento.
65
2.3.2.1 Bactérias
Moreschi (2013) comenta que a madeira é atacada por bactérias quando se encontra
em seu estado úmido. Isto pode ocorrer em diversas situações. Exemplo disso é quando: a
madeira é recém cortada e ainda se encontra na forma de tora; está úmida na forma de peças ou
lâminas após o processamento industrial primário; está submersa em água ou; venha a
readquirir a umidade de alguma forma.
A madeira que esteve úmida por um tempo consideravelmente longo irá conter
bactérias quase que na sua totalidade. O cheiro típico de toras submersas nesta condição, por
exemplo, é um claro sinal de ação bacteriana. Além disso, a combinação de diferentes bactérias
e fungos pode acelerar o processo de apodrecimento da madeira (CASTRO e GUIMARÃES et.
al, 2018).
66
2.3.2.2 Fungos
Com exceção das bactérias, os fungos são os agentes biológicos que atacam a madeira
em maiores proporções. Estes se desenvolvem com grande rapidez e ocorrem em quase todos
os nichos ecológicos onde o material é utilizado. Isto não acontece com os demais xilófagos
por precisarem de condições mais específicas para seu desenvolvimento.
Em climas mais quentes, como em florestas tropicais, existem condições mais
favoráveis para a incidência de fungos. Já em climas mais amenos como em regiões subtropicais
(em épocas frias, como o inverno) ou temperados, o mesmo não acontece, o que dá uma maior
flexibilidade no controle da deterioração biológica para as indústrias (MORESCHI, 2013).
A celulose é a principal fonte de energia que estes agentes encontram na madeira
devido ao fato de ela ser um polímero regular que consiste em uma cadeia de unidade de
67
entre os diversos fatores existentes no lugar ao qual o material está sendo utilizado e de si
próprio (MORESCHI, 2013).
2.3.2.3 Insetos
Os insetos são parte da classe Insecta, a qual pode ser subdividida em 31 ordens. Seis
dessas ordens podem agir como deterioradores, sendo que apenas 3 causam danos
significativos. São elas: Isoptera (cupins), Coleoptera (besouros) e Hymenoptera (formigas,
abelhas e vespas) (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
aeração e despejo de excrementos, os quais são granulados escuros que formam montículos no
piso.
A superfície externa da peça de madeira geralmente não revela a presença de cupins,
apenas os montículos de excrementos e os pequenos furos. Porém, as galerias já podem ter
comprometido a maior parte estrutural do elemento, deixando apenas a capa superficial, a qual
pode enganar quem a enxerga (GONZAGA, 2006).
Os insetos da ordem Coleóptera são os que mais podem causar danos a madeira, depois
dos cupins (CASTRO e GUIMARÃES, 2018). Essa ordem, engloba milhares de espécies de
insetos (GONZAGA, 2006). Estes são reconhecidos por carunchos ou brocas, que atacam a
madeira em diversas condições de uso e umidade. O tamanho e extensão dos danos causados
por eles, além das características dos resíduos deixados para trás, dependem da espécie de
besouro. O tipo da madeira também pode influenciar na espécie de inseto que a ataca.
Ademais, a umidade da madeira é um fator muito importante, visto que algumas
espécies necessitam que a mesma permaneça numa faixa de 8% a 20% para sobreviver.
Entretanto, existem espécies que exigem umidade relativamente altas (acima de 30%), além de
que outros só atacam a madeira após ser previamente alterada por fungos deterioradores
(CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
Os indivíduos desta ordem, a qual possui cerca de 103.000 espécies descritas, são
considerados importantes agentes deterioradores da madeira e pertencem à família Formicidae,
gênero Camponotus. Estas, por sua vez, são as conhecidas "formigas carpinteiras”, as quais
atacam uma grande variedade de espécies de madeira.
Uma forma fácil de reconhecê-las é pelo seu tamanho, o qual é muito maior comparado
com outras espécies de formigas. Além disso, vale ressaltar que elas utilizam a madeira como
abrigo, e não como alimento (CASTRO e GUIMARÃES, 2018). Por isso, o dano que elas
causam é em forma de galerias planas e de paredes lisas, ou seja, sem resíduos de fibras, não
existindo perfurações ligando estas com o exterior, com exceção do furo utilizado para adentrar
no material (MORESCHI, 2013).
Formigas carpinteiras tem preferência pela madeira que é naturalmente mole ou, então,
que tenha sido amolecida por alguma podridão (CASTRO e GUIMARÃES, 2018). A
71
ocorrência destas geralmente se dá em peças de madeira úmida ou, como dito anteriormente,
previamente deterioradas por fungos. Também podem ocorrer ataques a madeiras próximas de
fontes de alimentos, como carrocerias de trens ou de caminhões que transportam grãos
(MORESCHI, 2013).
interferem na mesma, é que se torna possível compreender este material de forma racional para
sua utilização, evitando, consequentemente, inconvenientes diversos que podem vir a ocorrer
(CARVALHO et al., 2015).
Norteando estes ensaios, tem-se a norma COPANT 30:1-006 (COPANT, 1972) a qual
determina as dimensões dos corpos de prova a serem utilizados, o que permite avaliar tanto o
módulo de elasticidade quanto o de ruptura da madeira (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
Complementarmente pode ser utilizada a norma ASTM D-2017 (2005), a qual
determina as condições nas quais devem ser realizados os testes e ensaios. Ela também
classifica as classes de resistência da madeira, as quais são relacionadas com a perda de massa
obtida através da diferença entre a massa seca inicial e final dos corpos de prova (CASTRO e
GUIMARÃES, 2018).
Figura 45 - Classes de resistência sob o aspecto da perda de massa ao longo do tempo
Onde:
• T = temperatura média mensal (ºC);
• D = número de dias no mês com precipitação pluviométrica igual ou superior
a 0,3 mm (MARTINS et al., 2003).
Portanto, como pode ser observado, cada parcela que constitui o somatório
corresponderá a um mês do ano, devendo, para este fim, serem utilizados os dados mais
atualizados que se tenha disponível.
Por fim, é possível dizer que este índice serve para estimar o risco de incidência
fúngica que a madeira possui em razão de duas variáveis extremamente importantes para o
desenvolvimento destes agentes deterioradores: temperatura e precipitação (CASTRO e
GUIMARÃES, 2018).
A secagem inadequada tem sido a principal razão para o baixo padrão de qualidade
dos produtos a base de madeira manufaturados no Brasil (TOMASELLI, 1974). O
75
Para sintetizar, é possível dizer que a madeira tem dois tipos de água: água livre (ou
de capilaridade) e água presa (de adesão ou higroscópica) (MARQUES, 2002).
76
Também chamada de água livre, esta se encontra em estado líquido, sujeita a forças
capilares nas cavidades celulares e nos espaços entre as células, chamados de meatos.
Esta água pode ser removida da madeira sem nenhum problema, pois acarretará apenas
em sua perda de massa e não em suas propriedades. É justamente esta água que evapora mais
facilmente com o processo natural da secagem da madeira, devido a que esta passa de célula
em célula até atingir a superfície, onde finalmente evapora (MARQUES, 2002).
Também chamada de água presa ou de adesão, esta encontra-se vaporizada nas paredes
das células, unida às micro fibrilas de celulose por atração das moléculas. Por consequência,
sua remoção é mais lenta e difícil, ocorrendo apenas após a completa eliminação de toda a água
livre (MARQUES, 2002).
(JANKOWSKY; GALINA, 2013) e este influi direta e acentuadamente nas propriedades físico-
mecânicas da madeira (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Exemplo disto é a madeira de Peroba (Aspidosperma peroba), que com 0% de umidade
possui resistência à compressão de 1.250 kgf/cm² e com 30% de umidade esta resistência decai
para 620 kgf/cm², de acordo com resultados obtidos pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas
(1956) (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
A resistência elétrica da madeira também é afetada, sendo inversamente proporcional
ao seu teor de umidade, sendo que enquanto maior quantidade de água contida no material,
menor é sua resistência. Segundo Galvão e Jankowsky (1985), em uma madeira com teor de
umidade de 30% para uma com 0% a resistência elétrica aumenta aproximadamente 1 milhão
de vezes (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
O teor de umidade pode ser determinado por vários métodos, os quais são mais
comuns: o método gravimétrico (ou de pesagem de amostras) e o método do medidor elétrico
de umidade (MARQUES, 2002).
Todavia, antes de expor tais métodos, devem ser discutidos algumas expressões que
podem ser utilizadas para seu cálculo (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Onde:
• U = umidade expressa em porcentagem (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Celulose, papel e muitos outros materiais, cujo processamento utiliza suspensões de
fibras, têm a umidade (𝑢𝑐 ) expressa em termos de peso à umidade corrente através da seguinte
equação:
𝑃𝑢 − 𝑃𝑠
𝑢𝑐 = . 100 (6)
𝑃𝑢
Também, é possível se estimar a umidade de uma ou várias peças de madeira de forma
indireta, sem a secagem a 103ºC. Para tal, é necessário estimar o peso da peça seca, o qual é
dado por:
100. 𝑃𝑖
𝑃𝑠𝑒 = (7)
𝑈𝑖 + 100
Onde:
• Pse = peso seco da peça;
• Pi = peso inicial da peça à umidade determinada (Ui)
• Ui = umidade determinada por meio de amostragem retirada da madeira ou por
medidores elétricos (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Ademais, é possível substituir a variável Ps por Pse (ou seja, o valor constante
decorrente da secagem em estufa à 103ºC pelo seu valor estimado) na equação da umidade
medida em porcentagem (U).
Isto possibilita determinar, imediatamente e a qualquer instante através da simples
pesagem do material (denominada Pu), a umidade corrente de uma determinada madeira. Tal
técnica permite acompanhar a secagem comercial da madeira com o auxílio de amostras de
controle (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Dessa forma, obtém-se a seguinte equação:
𝑃𝑢
𝑈=( − 1) . 100 (7)
𝑃𝑠𝑒
80
Segundo Galvão e Jankowsky (1985) existem vários métodos para determinar o teor
de umidade da madeira. Porém, neste tópico serão expostos apenas os mais utilizados
(GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
2.5.3.1.2.2.1.1 Espécie
A influência da espécie é dada com relação à quantidade de substâncias minerais
encontradas na madeira que podem vir a atuar como eletrólitos. Assim sendo, os determinadores
elétricos são calibrados para uma determinada espécie e temperatura, sendo que, geralmente,
os fabricantes fornecem instruções para efetuar as correções necessárias em relação a outras
espécies.
84
2.5.3.1.2.2.1.2 Temperatura
Como dito anteriormente, a resistência elétrica varia inversamente com a temperatura
da madeira. Esta relação pode ser analisada através da Figura 49, onde são expostas as curvas
de correção para temperatura baseadas numa calibração a 20ºC.
Na Figura 49 também é exposto um exemplo. Neste, considerou-se a temperatura da
madeira igual a 36ºC, onde o aparelho indicou um teor de umidade igual a 16%. Assim, através
da figura supracitada, é possível corrigir a umidade, obtendo-se um teor de umidade igual a
18% (linhas pontilhadas) (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Figura 49 - Curvas de correção em função da temperatura para determinadores de umidade do tipo
resistência fabricados pela empresa Keet Eletric Laboratory
Este corresponde a um teor de umidade no qual toda a água livre foi eliminada das
cavidades celulares, restando apenas as paredes das células saturadas. Esta situação se dá
quando a madeira se encontra em uma faixa entre 22 e 30% de umidade, a depender de sua
espécie.
É bastante importante determinar este ponto pois, quando atingido, a madeira pode vir
a sofrer mudanças em suas propriedades, as quais podem acarretar defeitos como empenos e
rachaduras (MARQUES, 2002).
2.5.4 Umidade do ar
De forma inicial, é necessário saber que a água ocorre na natureza em três diferentes
estados, a depender das condições de temperatura e pressão às quais está sometida. No estudo
da secagem da madeira, é bastante importante o estudo com mais detalhe das propriedades da
água nas formas líquida e de vapor (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Considere-se um recipiente fechado, o qual está parcialmente cheio de água e com um
dispositivo instalado capaz de medir a pressão de vapor no interior dele. Nestas condições, seria
possível observar que, a uma temperatura constante, a pressão dentro do recipiente aumentaria
à medida que a água evapora, até um certo ponto de equilíbrio. Este ponto de equilíbrio é
chamado de “pressão de saturação de vapor d’água”, àquela temperatura. Em tal condição, dá-
se a “umidade absoluta de saturação” no ar, ou seja, este perde a capacidade de conter mais
umidade, o que leva a uma condensação da água que evapora nas paredes do recipiente.
Assim sendo, é possível afirmar que tanto a pressão de saturação de vapor d’água,
quanto a umidade absoluta de saturação, são funções da temperatura. Em outras palavras, para
cada temperatura, correspondem um valor diferente dos dois parâmetros supracitados
(GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Aplicando este conhecimento na prática, pode-se dizer que uma das maneiras de
aumentar a capacidade do ar em retirar umidade da madeira é elevando a temperatura do
ambiente em que está inserida, pois isto acarretará um aumento na capacidade do ar de absorver
87
água, ou seja, de aumentar a quantidade de água existente por unidade de ar (em outras palavras,
em aumentar a umidade absoluta de saturação do ar).
Galvão e Jankowsky (1985) explicam o fenômeno com um exemplo, no qual
consideram um ambiente a uma temperatura de 20ºC e umidade relativa de 70%. Isto
corresponde, no exemplo, a 10,33 g de vapor de água por kg de ar seco. Os autores explicam
que, nestas condições, a umidade absoluta de saturação do ar é atingida quando houver 14,75 g
por kg de ar seco. Logo, o ar poderia absorver apenas 4,42 g/kg a mais de água. Porém,
elevando-se a temperatura deste ambiente a 40ºC e mantendo-se os mesmos 10,33 g/kg de vapor
d’água no ar, o ponto de umidade absoluta de saturação passaria de 14,75 g/kg para 49,11 g/kg
e, então, o ar teria condições de absorver mais 38,78 g/kg de vapor d’água (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).
Tabela 1 - Pressão de saturação de vapor d'água e umidade absoluta de saturação a diferentes
temperaturas (para pressão barométrica de 76,0 cm Hg)
2.5.4.2.2 Psicrômetros
Skaar (1972) definiu como coeficiente de histerese a relação das UE para a adsorção e
a dessorção, considerando-se uma determinada umidade relativa.
A UE depende do sentido por meio do qual ela foi alcançada. A provável causa desse
fenômeno é o rearranjo das moléculas de celulose e lignina durante a secagem inicial, momento
em que as hidroxilas seriam deslocadas para uma menor distância entre si, possibilitando o
estabelecimento de pontes de hidrogênio que as deixa indisponíveis à atração de moléculas de
água.
Outro fator que influencia na UE é o número de etapas as quais a madeira é submetida,
visto que enquanto maior este número for, menor tende a ser a UE. Para ilustrar o fato recém
descrito, tem-se a Figura 51 (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Figura 50 - Relação entre a umidade de equilíbrio e o número de etapas utilizadas para alcançá-la, em um
processo de adsorção de 0% a 88% de umidade relativa
Galvão e Jankowsky (1985) consideram que as isotermas podem ser diferentes entre
as espécies de madeira. Atribui-se este fato às diferentes proporções em que se encontram os
constituintes da madeira, como celulose, hemicelulose, lignina, entre outros, e suas
interrelações nas paredes celulares. Para ilustrar este efeito, tem-se a Figura 52 (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).
92
Figura 51 - Isoterma higroscópica de adsorção para madeira de Eucalyptus regnans e seus componentes
Todavia, segundo a teoria, o contrário é verdadeiro, visto que quando submetida à tração a UE
aumentaria (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
É fato que a madeira trabalha, ou seja, retrai ou incha em função da umidade relativa
do ar (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985). À medida que a madeira perde água, ou seja, que
ocorre a dessorção, ela se retrai. Já quando a madeira adquire água, ou seja, quando ocorre a
adsorção, ela se incha.
Assim, é possível dizer que praticamente toda variação dimensional em peças de
madeira ocorre entre o PSF (ponto de saturação das fibras) e 0% de umidade. Analogamente,
pode-se afirmar que a variação dimensional ocorre em função da dessorção e adsorção da água
higroscópica que se aloja nas paredes das fibras da madeira (JANKOWSKY; GALINA, 2013).
As inúmeras implicações deste fenômeno fazem que sua compreensão seja muito
importante, visto que espécies de madeira podem ser descartadas para utilizações onde a
estabilidade dimensional seja importante (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Assim sendo, apresenta-se a Figura 52 que mostra a relação entre a retração
volumétrica do Pinus oocarpa em função do teor de umidade.
Figura 52 - Retração volumétrica da madeira de Pinus oocarpa em função de sua umidade (U),
possibilitando a determinação do PSF
Figura 57 - Diagrama da parede celular monstrando as diferentes espessuras das paredes primária (P) e
secundária (S), e a orientação das microfibrilas nas camadas S 1, S2 e S3 da parede secundária
Fonte: Galvão e Jankowsky, 1985.
lembrar que existem, também, experimentos que mostraram inexistente influência dos raios na
contração da madeira (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Segundo Marques (2002), a água livre se move por capilaridade de dentro para fora.
Isto se deve ao fato de que a madeira seca da parte externa para a parte interna. Assim, quando
a superfície rapidamente seca abaixo do PSF, ocorre um gradiente de umidade fazendo com
que a água se mova do interior para exterior, inicialmente por capilaridade e, depois, por
difusão, sendo a velocidade deste fenômeno variável das condições do meio, como velocidade
do ar, temperatura e umidade relativa do ar (URA).
Se as condições do meio evaporarem a água na superfície da madeira rápido demais,
a ponto de a madeira ser incapaz de enviar mais água até a superfície, a parte externa dela ficará
mais seca do que a interna. Logo, se a superfície atingir teores de umidade abaixo do PSF
primeiro que o interior, podem ocorrer rachaduras nas superfícies e nos extremos da peça
(MARQUES, 2002).
Assim, é conveniente considerar separadamente as várias forças que podem atuar
isolada ou conjuntamente com as demais no processo, sendo estas:
• O movimento da água capilar (acima do PSF);
• O movimento da água higroscópica (abaixo do PSF);
• O movimento do vapor de água.
Vale ressaltar que diferentes fenômenos físicos estão envolvidos nestes processos.
Dentre eles, é possível citar:
• Fenômenos capilares na movimentação da água capilar;
• Fenômenos de difusão na movimentação da água higroscópica e do vapor
d’água (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985);
O termo água capilar, segundo Galvão e Jankowsky (1985), refere-se à água na forma
líquida existente nas cavidades e nas aberturas ligando as cavidades celulares da madeira.
Assim, esta mesma ocorre apenas na madeira cujo conteúdo de umidade se encontrar acima da
umidade de saturação do ar.
No equilíbrio, a água exerce uma tração igual na superfície e na direção oposta. Assim,
esta tração da água puxa as paredes do tubo e a própria superfície líquida. Logo, estas forças
são regidas pela equação:
2. 𝑆
𝑇= (19)
𝑅
Onde:
• T = tensão capilar
• S = tensão superficial da interface ar/água
• R = raio da curvatura
Para simplificação, foi desconsiderado o efeito da gravidade pois na maioria dos casos,
as condições de secagem são tais que tornam desprezíveis estes efeitos em comparação às forças
capilares (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Em certas circunstâncias, as forças de tensão capilar podem acarretar colapso nas
células cheias de água. Isso pode ocorrer nos casos em que as aberturas das membranas são
suficientemente pequenas e a parede celular suficientemente fraca. Assim, uma única célula (ou
um grupo delas) pode vir a colapsar. Este efeito é ainda mais pronunciado a altas temperaturas,
condição esta que enfraquece ainda mais as paredes celulares.
Entretanto, a madeira que sofre colapso na secagem, pode ser restaurada por meio de
um procedimento no qual se submete a própria a altas temperaturas e umidade durante um
período de tempo adequado. Assim, o ar e o vapor d’água acabam exercendo uma pressão no
interior das células da madeira, revertendo as forças de tração que originalmente causaram o
colapso (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Durante o processo de secagem, tem-se uma fase em que a quantidade de água capilar
deslocada até a superfície é menor que a que evapora da superfície. Em tais condições, o teor
de umidade na superfície é menor que a umidade de saturação do ar. Em consequência, se
estabelece um gradiente de umidade causador de forças que movimentam a água abaixo da
umidade de saturação do ar.
Assim, pode-se deduzir a partir da primeira lei de Fick, que o fluxo de umidade na
madeira é proporcional ao gradiente de umidade:
𝑚 𝛥𝑢
= 𝑘. ( ) (20)
𝑡. 𝐴 𝑒
Onde:
A massa (m) de água que se movimenta através de uma peça de madeira com espessura
(e); em tempo (t); através de uma área (A) perpendicular à direção do fluxo considerado; com
coeficiente de difusão (k); e diferença do teor de umidade entre as duas superfícies consideradas
da peça (𝛥𝑢).
106
Por último, vale lembrar que os gradientes de umidade variam com a permeabilidade
da madeira e com o período de secagem. Logo, se faz conveniente estudar suas características
em diferentes situações. Ademais, salienta-se que a variação de qualquer destes fatores, visando
a diminuição do tempo de secagem, precisa ser cuidadosamente realizada, pois a utilização de
altas temperaturas visando diminuir a umidade relativa e acelerar a difusão da umidade sem
levar em consideração as características da madeira, pode acarretar colapsos e rachaduras nas
peças (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
Figura 59 - Ilustração dos gradientes de umidade para madeiras com diferentes permeabilidades
2.5.8.1.2 Empilhamento
da pilha, quando em lugares muito úmidos, pode evitar que as peças no centro da pilha fiquem
submetidas por longos períodos de tempo a uma umidade muito elevada e sujeitas à degradação.
Já na questão da altura, geralmente varia conforme a facilidade que se tenha de
empilhamento, ficando em torno de 2 a 2,5 m no empilhamento manual. Já no empilhamento
mecânico, este fator varia conforme a capacidade da empilhadeira. É sabido que é possível
construir pilhas de até 6 m de altura, desde que o equipamento tenha capacidade para tal. Na
secagem artificial, logicamente, a altura é definida em função da altura da estufa (MARQUES,
2002).
2.5.8.1.2.4.3 Separadores
Podem, também, serem tabiques, sarrafos ou semelhantes, os quais são utilizados para
separar as camadas de tábuas sobrepostas nas pilhas, permitindo a circulação do ar entre as
mesmas. Estes devem ser feitos a partir do cerne de uma madeira durável, com grã direita, secos
em estufa e isentos de defeitos. Ademais, é importante que estes sejam dispostos no sentido
perpendicular ao comprimento da pilha e alinhados verticalmente, visando evitar empenos nas
tábuas.
Com relação ao comprimento dos separadores, recomenda-se que estes tenham em
torno de 5 cm a mais do que a largura da pilha, tendo esta última as dimensões das peças, a
velocidade de secagem e o clima da região como variáveis. Assim, enquanto maior a espessura
dos separadores, maior será o volume de ar que transitará entre as peças e maior será a rapidez
de secagem (MARQUES, 2002).
A seguir, serão expostas na Tabela 6 recomendações com relação às dimensões para
os separadores e seus respectivos espaçamentos para determinada espessura de peça de madeira
a ser seca.
Tabela 6 - Relação entre espessura das tábuas, dimensões da seção transversal e espaçamento
dos separadores
2.5.8.1.2.4.4 Cobertura
Em termos gerais, a cobertura serve para proteger a pilha da incidência direta dos raios
de sol e da própria chuva. Caso a pilha não seja coberta, a madeira em processo de secagem
pode vir a sofrer defeitos como fendilhamentos, rachaduras e empenos (MARQUES, 2002).
No início do processo de secagem, o encharcamento da madeira devido à chuva,
apenas atrasará a secagem da água livre dela. Porém, nos últimos estágios, pode vir a agravar
defeitos, como fendilhamentos e, até mesmo, provocar novos, como por exemplo o surgimento
de manchas, principalmente nos lugares onde a água para entre as tábuas e os separadores.
Assim sendo, no que diz respeito às questões construtivas, a cobertura pode ser
realizada em diversos materiais como telhas cerâmicas, zinco, ou qualquer outro material que
permita executar o telhado de forma que ele consiga escoar adequadamente a água da chuva.
Todavia, vale lembrar que em caso de que a madeira seja nobre, pode ainda ser feito uma
proteção lateral, sendo construída alguma vedação vertical, desde que esta não impeça a livre
circulação do ar (MARQUES, 2002).
A secagem da madeira pode ser efetuada de forma natural sob as ações do meio
ambiente ou de forma artificial em secadores ou estufas (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
No que se refere à secagem artificial, tem-se diversos tipos, sendo o mais conhecido o
processo da secagem convencional. Pratt (1974), definiu como secagem convencional o
processo de secagem pelo qual a madeira serrada passa em equipamentos (determinados
117
Os defeitos devido a secagem são causados por tensões que acabam se desenvolvendo
no interior das peças de madeira devido às contrações geradas pela anisotropia do material e
pelo gradiente de umidade. Consequência disso, tem-se perdas de matéria prima para quem seca
a madeira, diminuição da qualidade final do produto e desestimulo da utilização de espécies
que são mais suscetíveis a defeitos, o que causa uma exploração seletiva (MARQUES, 2002).
A seguir, a Figura 63 exemplifica cada um dos defeitos que serão expostos nos próximos itens
do trabalho.
118
2.5.9.1 Empenamento
2.5.9.2 Rachaduras
Observadas na Figura 63.1, Galvão e Jankowsky (1985) entendem que este tipo de
rachadura surge, na grande maioria das vezes, nos raios constituídos por células
parenquimáticas de reduzida resistência mecânica, sendo consequência da diferença entre as
tensões tangenciais e radiais. Os autores afirmam que é bastante difícil a secagem de toras que,
em suas seções transversais, não terminem apresentando este tipo de rachadura (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).
2.5.9.3 Encruamento
2.5.9.4 Colapso
Este defeito é ocasionado, basicamente, por forças que são geradas durante a
movimentação da água capilar, que acabam deformando as células.
A seguinte equação permite prever o colapso quando a tensão desenvolvida pela saída
da água capilar for maior que a resistência da madeira à compressão.
𝑆
𝑇 = 2. ( ) (21)
𝑅
Assim sendo, os fatores que influenciam no colapso da madeira são:
• Pequeno diâmetro dos capilares;
• Altas temperaturas no início da secagem;
• Baixa densidade da madeira;
• Alta tensão superficial do líquido que é removido da madeira (GALVÃO;
JANKOWSKY, 1985).
Vale lembrar, também, que a presença de bolhas de ar na água capilar diminui a
possibilidade de colapso (GALVÃO; JANKOWSKY, 1985).
122
Este é um assunto bastante amplo, o qual envolve diversas frentes. Dentre elas, temos:
proteção da madeira contra o fogo, proteção contra-ataques de agentes bióticos, proteção contra
degradação química, intemperismos e proteção contra desgastes mecânicos. Assim, no caso da
madeira, se torna mais eficiente falar em prevenção do que tratamento de material infectado ou
comprometido (WALKER, 1993).
Como existem inúmeras espécies de agentes biológicos deterioradores da madeira, se
torna inevitável a utilização de produtos em tratamentos preservativos (MORESCHI, 2013).
Assim, a durabilidade natural de uma determinada espécie indica apenas a taxa com que ela se
deteriorará. Porém, ainda que este fato seja inevitável, isto não precisa ocorrer necessariamente
quando se fala em produtos madeireiros (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
Desta forma, é possível introduzir a utilização de diferentes tipos de preservativos,
visto que existem, como citado anteriormente, diversos agentes deterioradores, biológicos ou
não, que possuem especificidades únicas as quais precisam ser corretamente combatidas para
se obter um tratamento eficaz, maximizando a vida útil da madeira para o fim no qual ela foi
utilizada.
O uso final de um determinado produto de madeira tratada deve ser considerado como
um fator importante na hora de escolher o produto a ser usado (MORESCHI, 2013).
Assim, de forma geral, a AWPA (American Wood Preservers Association) ou,
traduzindo, Associação Americana de Preservadores da Madeira, expõe as principais
características que um produto preservativo necessita:
• O preservativo deve ser tóxico aos organismos xilófagos;
• A comprovação de sua qualidade precisa ser baseada em dados empíricos obtidos
de madeira em serviço;
• O produto deve possuir características químicas e físicas que o permitam ser
utilizado nas condições às quais ele é recomendado;
• O produto preservativo não pode possuir nenhuma característica indesejada ao uso
e manuseio dele;
• Ele precisa passar, de forma satisfatória, por testes em laboratórios e usinas;
123
2.6.2.1.1 Creosoto
umidade na madeira tratada, o que a favorece tornando mais estável e resistente a rachaduras
(RICHARDSON, 1993).
baniram o uso do PCP com apenas uma exceção, a preservação industrial de madeiras utilizadas
exclusivamente para postes e dormentes (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
O tribromofenol, como o próprio nome diz, é composto por três células de bromo e
uma de fenol, de cor branca e cristalizada em forma de agulhas ou flocos, é solúvel em etanol,
clorofórmio, éter etílico e soluções cáusticas, mas praticamente não é solúvel em água.
Este começou a ser utilizado em 1985, após o banimento a produtos como o
pentaclorofenol, substituindo estes que eram até então usados para tratamento de madeira e que
se mostravam bastante eficazes. No entanto, não demonstrou ser tão eficaz como seus
antecessores, provavelmente por fatores climáticos os quais contribuem para exaurir com maior
rapidez o produto da madeira e deteriorá-la mais facilmente, além de não proteger de forma
eficaz contra outros tipos de agentes biológicos (MORESCHI, 2013).
2.6.2.2.3.1 Aldrin
Inseticida por contato e ingestão, não fitotóxico quando usado dentro das
recomendações. Transforma-se em Dieldrin depois de aplicado na madeira e tem um poder
residual de aproximadamente 6 anos.
2.6.2.2.3.2 Dieldrin
Atua por contato e ingestão, não fitotóxico quando usado dentro das recomendações.
É um produto mais resistente, ou seja, com maior poder residual que o Aldrin.
2.6.2.2.3.3 Endrin
Atua por contato, ingestão e fumigação (usado no tratamento de solo quando havia
necessidade de ação inicial intensa contra cupins).
128
2.6.2.2.3.4 Clordane
Hidrolisa com facilidade e perde o efeito inseticida com maior rapidez que os
anteriores.
2.6.2.2.3.5 Heptacloro
Mais estável que o clordane (MORESCHI, 2013).
É considerado o melhor e mais usado produto hidrossolúvel. Nos Estados Unidos este
produto dominou o mercado de 1970 a 2004, época em que sua utilização passou a ser
controlada e restrita apenas a aplicações industriais, sendo proibida a venda de forma direta ao
público. Hoje em dia não é mais permitida a utilização de madeira tratada com este produto
para construção de decks nos domicílios ou em playgrounds (LEBOW, 2010).
É possível encontrar o CCA sendo comercializado em 3 formulações diferentes
apresentadas na Tabela 7 a seguir:
129
Em 1913, na Alemanha, Wolman começa a misturar cromo e boro com sais metálicos,
iniciando o desenvolvimento de um preservativo para madeiras. Assim, durante os anos de
guerra e pós-guerra (durante a década de 1910 e 1920), tal produto repercute e acaba
conquistando bastante aceitação em diversos lugares pelo mundo, como: Estados Unidos,
África e Ásia. Hoje, o CCB (assim chamado) é reconhecido e utilizado amplamente devido à
sua alta eficiência contra-ataques de fungos e insetos, assim como, contra brocas marinhas
(MORESCHI, 2013).
O CCB é um produto alternativo ao CCA, diferenciando-se pelo uso do elemento boro
no lugar do arsênio. Esta mudança na composição do produto teve motivação devido à
volatilização do arsênio em algumas situações, principalmente quando existe a necessidade de
calefação de um determinado ambiente fechado de forma prolongada, o que pode expor o
usuário ao envenenamento (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
Ainda assim, quando utilizado em condições favoráveis, onde não ocorra lixiviação
rápida do produto, ele é muito eficaz (MORESCHI, 2013), principalmente contra o ataque de
besouros Lyctus spp (ROCHA, 2001).
Além disso, a amônia possui dupla função neste produto, sendo: manter o preservativo
solúvel, retardando a precipitação de arsenito de cobre na solução e; reduzir o efeito corrosivo
em metais utilizados em contato com a madeira (MORESCHI, 2013).
utilizados neste caso são os do tipo oleossolúveis por terem uma maior fixação e resistência à
lixiviação (ROCHA, 2001).
Todavia, vale ressaltar que a profundidade de tratamento requerida depende de
algumas variáveis, como: a espécie de árvore; a futura utilização da madeira; os agentes
deterioradores xilófagos aos quais a madeira estará exposta, entre outros. Outro fator que se
destaca é a escolha do produto preservativo adequado para o fim requerido, garantindo certas
condições mínimas, como: toxicidade ao usuário da madeira tratada; viscosidade; cor; odor e;
compatibilidade com tintas e vernizes que serão utilizados (MORESCHI, 2013).
Portanto, é de suma importância definir corretamente o local e a utilização final da
peça de madeira para que possa ser definido o produto mais adequado para o tratamento, além
de sua profundidade, quantidade e concentração, que em conjunto de uma correta aplicação e
distribuição ao longo da peça, permite que haja a retenção suficiente do mesmo, assegurando a
proteção desejada.
Estes tratamentos são bastante similares (CASTRO e GUIMARÃES, 2018) e por isso
compõem um único item no presente trabalho.
A diferença básica entre um e outro é que, no método de aspersão, a peça de madeira
é levada até uma câmara especial para o tratamento, no qual é feito a pulverização de forma
manual ou automatizada mecanicamente (SILVA, 2008). Já quando se fala em pulverização
simplesmente, esta pode ocorrer em qualquer lugar.
Definida a diferença entre os dois, convém mencionar o método apenas como
pulverização, visto que a única diferença entre ambas é o local de aplicação no produto de
madeira. Assim sendo, vale ressaltar que uma demão de pulverização é aproximadamente três
vezes mais eficiente que uma demão do pincelamento (SILVA, 2008). Ademais, o tratamento
através de pincelamento proporciona apenas uma camada superficial de produto preservativo,
o qual acaba ficando mais suscetível à lixiviação e volatilização (RICHARDSON, 1993).
Uma desvantagem da pulverização com relação ao pincelamento se dá devido ao risco
de contaminação, tanto dos arredores de onde a peça está sendo pulverizada, quanto por parte
do próprio aplicador. Por isso, a necessidade da utilização de equipamentos de segurança que
proporcionem o devido isolamento do aplicador para com a substância preservativa, assim
como, uma preocupação com o ambiente que cerca a madeira a ser tratada, evitando ao máximo
a contaminação de grama, animais domésticos, etc. (MORESCHI, 2013).
133
Quando a madeira já está em uso, geralmente estes métodos mais simples são os mais
acessíveis para o tratamento (FAO, 1986). Não obstante, vale lembrar que tanto os métodos de
pincelamento quanto de pulverização são de baixa eficácia. Estes devem ser utilizados apenas
quando se tratar de peças de madeira de menor porte e que, além disso, não estejam destinados
a um uso muito prolongado devido à pequena penetração do preservativo (SILVA, 2008).
Segundo Moreschi (2013), uma madeira seca e permeável pode ser submersa em um
preservativo por tempo determinado empiricamente afim de alcançar a profundidade de
penetração desejada. Tal tempo pode variar de alguns poucos segundos a várias horas ou dias.
Neste método, a madeira é submersa em um recipiente de tratamento contendo o
produto adequado, à temperatura ambiente, durante o tempo necessário para se obter a absorção
desejada (SILVA, 2008), desde que ela seja suficientemente permeável (MORESCHI, 2013).
O tratamento é finalizado com a secagem da madeira para a evaporação do solvente (SILVA,
2008).
Vale ressaltar que a profundidade de encharcamento obtida sempre irá depender da
espécie da madeira e do produto preservativo utilizado (LEBOW, 2010).
Todavia, a depender do tempo de submersão ao qual a madeira será submetida, este
método de tratamento pode ser subdividido em dois grupos: a imersão simples e a imersão
prolongada.
Por outro lado, tem-se o tratamento prolongado, onde a peça de madeira fica submersa
por um período maior de tempo, podendo chegar até algumas semanas. Consequentemente, a
penetração do preservativo na madeira é maior, mesmo que não seja proporcional ao tempo em
que fica submerso (SILVA, 2008).
Guiotoku e Magalhães (2005), por exemplo, estudaram o método de imersão
prolongada no tratamento preventivo de mourões de Eucalyptus benthamii e dunni, no qual as
peças de madeira ficaram submersas durante 40 dias e, após isso, foram empilhados na sombra
e protegidos da chuva para que secassem, fixando os componentes do preservativo.
Segundo os autores supracitados, a penetração após este prazo é extremamente
pequena, não sendo mais eficaz a submersão das peças de madeira. Assim, mesmo sem um
período determinado, esta afirmação corrobora o que os autores Silva (2008) e Moreschi (2013)
delimitam como possível intervalo de tempo para um tratamento prolongado, visto que ambos
falam em um período não maior do que algumas semanas.
Além disso, devido às características hidrófilas da madeira, é recomendado, para maior
eficiência do tratamento, que se utilizem produtos preservativos oleossolúveis, por terem como
característica uma baixa viscosidade. Os hidrossolúveis, em contrapartida, por possuírem uma
viscosidade maior, aumentam bastante o tempo e a profundidade de absorção nas peças
(MORESCHI, 2013).
Outro ponto importante é que, sabendo-se o volume da madeira a ser tratada, o peso
do produto preservativo recomendado e a absorção requerida para que se atinja a penetração
previamente determinada, é possível calcular a concentração de solução a ser utilizada através
da seguinte equação:
𝑅. 𝑉. 100
𝐶= [%]
𝐴
Onde:
• C = Concentração da solução a ser utilizada, expressa em percentual;
• R = Peso do produto preservativo recomendado, expresso em kg/m³;
• V = Volume da madeira a ser tratada, expresso em m³;
• A = Absorção requerida para atingir determinada penetração, expressa em
L/m³.
Assim, pode-se concluir que o tratamento por imersão possui várias vantagens, por ser
simples, barato e atingir ótimos valores de absorção e retenção, desde que o tempo adequado
seja respeitado (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
135
Este método requer madeira seca e sem casca. Ele é geralmente realizado com dois
tanques, um com solução preservativa quente e outro fria. Entretanto, pode ser realizado em
apenas um tanque, substituindo-se apenas o preservativo.
O banho quente dura em torno de 2 horas e é feito através da imersão da madeira em
sua totalidade na solução, que geralmente é o creosoto, a uma temperatura de aproximadamente
100°C. Os efeitos desta imersão serão uma certa absorção do preservativo aliada à expansão do
ar estabelecido nas cavidades da madeira (GALVÃO et al., 2004).
Na sequência, as peças precisam ser rapidamente colocadas em posição vertical no
tanque com preservativo frio. Este banho frio, que tem duração aproximada de 4 horas, irá
contrair o ar contido nestas cavidades, causando um efeito de vácuo e, consequentemente,
fazendo com que mais produto seja absorvido pela madeira (GALVÃO et al., 2004).
Este método pode se ver limitado do ponto de vista prático, visto que alguns
preservativos, como é o caso dos aquosos e solventes orgânicos, não podem ser aquecidos.
Nestes casos, é recomendado o tratamento com vapor ou água quente para que, na sequência, a
madeira seja transferia a um tanque com o produto em temperatura ambiente (SILVA, 2008).
Refletindo sobre este método, o mesmo pode ser bastante atrativo, visto que o
investimento inicial em equipamentos é relativamente baixo, além de não precisar de mão de
obra qualificada para ser realizado. Vale ressaltar, também, que este pode obter resultados
equiparáveis a métodos de preservação ativos, o que o torna uma excelente opção de tratamento
(CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
Outro fator que importa neste método é a concentração da solução durante o tempo em
que a peça está submersa. Esta deve ser controlada e regulada levando-se em consideração o
volume de material a ser tratado e a retenção desejada. Isto se deve ao fato de que as moléculas,
como dito anteriormente, migram para o interior da madeira, exaurindo a solução e
comprometendo, em caso de não realização, o resultado final do tratamento (MORESCHI,
2013).
Após a imersão da madeira verde no preservativo pelo tempo predeterminado, é
importante que esta fique durante um período secando em ambiente sombreado e protegido da
chuva, possibilitando a secagem lenta e uma maior absorção do preservativo. Segundo Rocha
(2001), este período é de aproximadamente 4 meses (ROCHA, 2001). Galvão (et al., 2004) e
Moreschi (2013) discordam deste último autor e afirmam que este período pode estar completo
em aproximadamente um mês, porém ambos citam a utilização de uma película impermeável
cobrindo a madeira, o que potencializa o processo e ajuda a evitar a perda de umidade rápida.
Este refere-se ao tratamento da madeira, por difusão, com pelo menos duas substâncias
preservativas, aplicadas em tempos diferentes, com duas condições básicas: ter sido
devidamente descascada e possuir elevado teor de umidade.
Basicamente a peça é submersa em uma determinada solução por um determinado
período de tempo. Após isso, ela é retirada, enxaguada e submersa na segunda solução pelo
mesmo período de tempo. No final, ocorre o processo de secagem que se da mesma forma que
na difusão simples, onde a peça é coberta com película impermeável para se obter uma lenta
perda de umidade (MORESCHI, 2013).
O objetivo é se obter uma melhor qualidade no tratamento utilizando produtos
diferentes, os quais reagem com os constituintes da madeira formando compostos insolúveis
em água, o que também explica o porquê ser possível o enxague com água da peça entre a
submersão em uma solução e outra. O fato destas soluções precisarem ser utilizadas em
períodos diferentes deve-se ao fato de que, se colocadas ao mesmo tempo, reagiriam entre si,
precipitando-se antes de penetrarem na madeira (MORESCHI, 2013).
árvores recém cortadas por uma solução preservativa, geralmente hidrossolúvel (MORESCHI,
2013).
Neste método, madeiras roliças com no máximo 48 horas entre o corte e o início do
tratamento são colocadas de pé, em recipiente contendo solução preservativa, de forma que a
mesma penetre na madeira por capilaridade à medida que ocorre a evaporação da água contida
na peça. O processo é interrompido quando a mesma atingir o grau de penetração desejado do
preservativo (ROCHA, 2001).
Para que seja efetuado um bom tratamento, alguns cuidados precisam ser tomados: a
ponta submersa da peça de madeira a ser tratada deve ser recém cortada para que não ocorra
uma evaporação da água existente e consequente formação de bolhas indevida que venha a
atrapalhar a penetração do preservativo por capilaridade; a casca precisa ser devidamente
retirada para que haja uma maior permeabilidade e consequente evaporação da água,
principalmente na porção da peça que não está submersa e; a madeira precisa conter um elevado
teor de umidade, sendo preferível que seja de origem natural (MORESCHI, 2013).
Outro detalhe importante a ser destacado é que deve ser utilizado um produto
preservativo que seja hidrossolúvel e que reaja lentamente com as substâncias constituintes da
madeira. Para tal, geralmente utiliza-se CCB ou FCAP em concentrações entre 3 e 5%
(MORESCHI, 2013).
Após o tratamento, que deve ser realizado em local protegido de intempéries e bastante
ventilado, a peça pode ser descascada, se for o caso, e submetida à secagem (ROCHA, 2001).
Segundo Galvão et al (2004), uma pesquisa feita com madeira de Algaroba indicou
que a inclinação da tora não afeta a distribuição, penetração e retenção do preservativo
(GALVÃO et al., 2004). Além disso, Rocha (2001) explica que a solução pode penetrar na
madeira até 1,5 metros por dia.
O processo é dado por finalizado quando se inicia o gotejamento do preservativo na
extremidade baixa da peça. Na sequência, as toras podem ser descascadas e passar novamente
por um processo de tratamento superficial, como o de encharcamento. O produto utilizado
geralmente para este procedimento é o sulfato de cobre (ROCHA, 2001).
Ainda sobre o produto, existe uma divergência de Moreschi (2013), o qual afirma que
o sulfato de cobre entrou em desuso por ser um produto altamente corrosivo a metais que entram
em contato com a madeira tratada. Assim, o autor aponta como substitutos o flúor e o boro
(ácido bórico, tetraborato de sódio, octaborato de disódio).
O processo supracitado é ilustrado na Figura 64 a seguir:
Figura 64 - Instalações necessárias para tratamento pelo processo de Boucherie
Além disso, Moreschi (2013) ressalta que os cuidados com relação à secagem pós-
tratamento da madeira, com capa impermeável para manutenção da umidade da peça por
aproximadamente um mês, proporcionando tempo para que o preservativo se espalhe melhor e
reaja uniformemente com os componentes da madeira, fixando-se a eles, ajudará na obtenção
de uma melhor qualidade no procedimento como um todo (MORESCHI, 2013).
O tratamento temporário da madeira visa proteger a mesma até que ela seque e atinja
níveis de umidade não suscetíveis a agentes deterioradores biológicos, como fungos,
emboloradores e insetos da ordem coleóptera. Este acontece pelo método de difusão, sendo
geralmente aplicadas soluções hidrossolúveis, emulsões ou pastas concentradas, as quais são
diluídas nas proporções corretas para determinado objetivo.
Este tipo de tratamento pode ocorrer a profundidades pequenas (tratamento tipo
envelope), intermediárias ou profundas. A profundidade a qual é alcançada pelo produto
preservativo, contado a partir da superfície da madeira, está relacionada com as características
químicas dos ingredientes ativos, os quais mudam conforme o tipo de tratamento adotado.
Portanto, isto depende do poder de reatividade destes ingredientes com os constituintes da peça
de madeira e da concentração da solução (MORESCHI, 2013).
Estes são processos realizados com pressão superior à atmosférica exercida sobre o
preservativo. Assim, aumenta-se a penetração do produto na madeira e, consequentemente,
torna o procedimento mais econômico e eficiente em termos de proteção (Figura 65) (ROCHA,
2001).
Todavia, algumas desvantagens precisam ser levadas em conta antes da escolha deste
método para tratar a matéria prima. Dentre elas, tem-se o custo inicial elevado para aquisição
do equipamento e de sua correta manutenção, necessidade de uso de mão de obra treinada e,
quando necessário, deve ser levado em consideração o custo extra de transporte da usina de
tratamento até a indústria que irá utilizar tal matéria prima (ROCHA, 2001).
140
conhecido como processo de Bethell ou processo de célula cheia, o qual continua sendo, até os
dias de hoje, a base de todos os procedimentos modernos de tratamento da madeira.
Este processo consiste em utilizar um período de vácuo inicial, seguido do enchimento
de um cilindro com preservativo e posterior aplicação de um período de pressão para impregnar
o preservativo nas peças (FREEMAN et al., 2003), procedimento ilustrado na Figura 66.
O primeiro vácuo tem como função retirar o ar, ou a maior parte, presente na madeira.
Este fica sempre acima de -85kPa e deve durar, pelo menos, 15 minutos. Em seguida, é colocada
a solução preservativa, ainda com o vácuo, até que o tanque esteja completo. A partir daí, é
exercida uma pressão hidráulica gradual no preservativo a qual deve chegar à 1400kPa. Estima-
se que esta pressão desejada é atingida em aproximadamente 20 minutos. A mesma deve ser
mantida durante um intervalo de tempo que dependerá da facilidade de penetração na peça,
podendo variar de 1 até 3 horas. Assim, quando a taxa de absorção de preservativo torna-se
muito baixa (menor que 1 litro por minuto para cada metro cúbico de madeira), o procedimento
se encerra e o preservativo que não é absorvido acaba por ser drenado do tanque para que possa
ser reaproveitado (WALKER, 1993). Tudo o que ocorre, fase a fase, está descrito na Tabela 9.
A respeito do produto preservativo a ser utilizado, segundo Moreschi (2013) o
Creosoto (produto que faz parte do processo originalmente patenteado por Bethell) somente é
utilizado quando uma alta retenção de preservativo é desejado na peça. Assim, quando se
utilizam produtos oleossolúveis, o custo do solvente orgânico a ser utilizado pode acabar sendo
uma limitação financeira, devido ao maior volume que é necessário para a impregnação da
madeira (MORESCHI, 2013).
Figura 66 - Esquema do programa de tratamento preservativo pelo processo de Bethell
Tabela 9 - Descrição de ações e ocorrências durante o tratamento da madeira pelo processo de Bethell
pressão é liberada, o excesso de solução retida nas células da madeira acaba sendo expelido, o
que resulta em uma retenção de preservativo muito menor do que no processo de célula cheia
(FREEMAN et al.,2003).
Porém, segundo Moreschi (2013), este processo foi desenvolvido no intuito de
controlar o vazamento de solução impregnado na madeira (MORESCHI, 2013), portanto, antes
de ser finalizado, aplica-se um longo período de vapor e vácuo após a retirada da solução, o que
diminui o vazamento de preservativo e gera um tratamento mais limpo que o convencional de
célula cheia. Vale ressaltar, também, que se utiliza o Creosoto como principal produto
preservativo.
Decorridos 4 anos, em 1906, C. B. Lowry patenteou uma versão similar do tratamento
de célula vazia de Rüping utilizando a pressão atmosférica como pressão inicial do
procedimento, sendo o restante do procedimento bastante similar com o do colega,
anteriormente exposto, incluindo o principal produto preservativo utilizado (FREEMAN et
al.,2003). O esquema do programa de tratamento, assim como descrição fase a fase, estão
expostos na Figura 67 e Tabela 10, respectivamente.
Este processo é utilizado quando não existe uma preocupação tão grande com relação
à taxa de absorção de solução pela madeira, o que é afetado basicamente pela sua utilização
final. Consequentemente, a madeira tratada com este processo não é recomendada para
utilizações em situações de alto risco de deterioração (WALKER, 1993).
Figura 67 - Esquema do programa de tratamento preservativo pelo processo de Lowry (célula vazia)
Tabela 10 - Descrição de ações e ocorrências durante o tratamento da madeira pelo processo de Lowry
(célula vazia)
Este processo, que é destinado para madeiras secas com teor de umidade entre 20 a
25%, foi desenvolvido por William C. Kelso, do Laboratório de Produtos Florestais do
Mississipi, em conjunto com Escambia Treating Company, da Flórida, em 1977, nos Estados
Unidos.
A adaptação deste método, que foi baseado nos processos convencionais, consiste na
substituição da solução preservativa dentro da autoclave por água quente ou vapor d’água
imediatamente após a fase de impregnação da solução. Esta é removida por baixo da autoclave,
enquanto o ar comprimido é introduzido por cima. Após a remoção completa da solução na
autoclave, o ar é substituído por vapor d’água (fria ou quente), mantendo-se sempre constante
a pressão no interior, por duas horas, acelerando o processo de precipitação e,
consequentemente, fixação do produto na madeira (MORESCHI, 2013).
146
A madeira sempre foi muito utilizada para construção de casas. Alguns detalhes
construtivos deixam clara a intenção de protegê-la contra os agentes deterioradores, visando o
prolongamento de sua vida útil.
148
Algumas construções dadas ao longo da história, como certas construções sobre pilares
na Idade da Pedra, os templos Maias, as igrejas de madeira da Noruega (conhecidas como Stave
Churches), entre outros, os quais estão construídos há mais de 800 anos, são exemplos claros
da preocupação que o homem sempre teve no desenvolvimento de tecnologia para preservar o
principal material de construção que tinha em mãos: a madeira (UNGER et al., 2001).
Assim, aplicar medidas construtivas que garantam uma boa preservação das peças em
madeira é uma medida de extrema importância no que diz respeito à proteção passiva do
material. Tais medidas tem por referência a eliminação (ou mitigação) de todas as fontes de
umidade as quais não se tem controle, incluindo as já impregnadas na madeira afetada.
Logo, nesse sentido, projetar de forma a mitigar os erros e reduzir os impactos
negativos sobre a madeira que os agentes atmosféricos causam, evitando agentes
biodeterioradores, é uma atividade importantíssima (SILVA, 2008).
Atualmente, engenheiros e arquitetos encontram gradativamente possibilidades novas
de aplicação para o uso da madeira, principalmente em construções que são cada vez mais
verticais. Nos Estados Unidos, por exemplo, o International Building Code (IBC), documento
de normas técnicas e recomendações para boas práticas na construção civil, autoriza a
construção de edificações com até 5 pavimentos.
Tal limite já foi excedido em outros países, como na Austrália, Áustria e Inglaterra,
onde foram construídos prédios de até 8 pavimentos com a chamada madeira industrializada, a
qual conta com alguns produtos relativamente novos, como o CLT (Cross Laminated Timber
ou, traduzindo, madeira laminada cruzada) (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
Todavia, existem questões técnicas as quais ainda não foram totalmente resolvidas.
Dentre elas, a exposição da madeira aos agentes agressivos, como no caso de painéis expostos
à umidade. Nestes casos, os painéis podem sofrer com o surgimento, logo nas primeiras
semanas, de fungos manchadores e emboloradores (CASTRO e GUIMARÃES, 2018).
O princípio básico foi muito bem resumido em uma frase pelo Centre Technique du
Bois et de l’Ameublement (CTBA) (1990), citado por Bittencourt e Hellmeister (pg 06, 1995):
“A água não deve penetrar na madeira, mas se penetrar, deve ser eliminada rapidamente.”
Esta ênfase que foi dada à água (seja líquida ou vaporizada) não é excessiva. De fato,
a penetração da água na madeira é um fenômeno do qual decorrem a maioria das patologias da
149
2.8.1.1.1 Beirais
2.8.1.1.2 Calhas
Calhas são canais abertos os quais servem para coletar a água provinda da chuva que
incide sobre o telhado, terraços e similares. A calha de beiral, geralmente semicircular, é
utilizada quando se deseja evitar a queda livre das águas sobre a área adjacente à construção, o
que pode acarretar respingos nas madeiras protegidas justamente pelo próprio beiral (LANNES,
1992).
Porém, as calhas exigem certos cuidados. Manutenções periódicas (principalmente
após períodos de chuva), fabricação defeituosa e até cuidados com entupimentos devido a
galhos, folhas (CASTRO e GUIMARÃES, 2018), entre outros, devem ser preocupações
constantes para se obter um bom desempenho deste aparelho.
2.8.1.1.3 Impermeabilização
2.8.1.1.5 Inclinação
2.8.1.1.6 Ventilação
151
Para Santos e Duarte (2013), o uso de produtos para dar acabamento na madeira
aumenta sua vida útil pois a protege dos agentes deterioradores. Envernizamento, pintura, e
impermeabilização são exemplos os quais dão um bom aspecto final e contribuem na
conservação do material (SANTOS e DUARTE, 2013).
A pintura de peças de madeira, além de esconder defeitos e fornecer cor, pode prover
a madeira de proteção contra intemperismos e umidade. Ademais, os pigmentos, que são
152
produtos capazes de escurecer as tintas, também mitigam a deterioração da madeira devido aos
raios ultravioletas.
Por outro lado, tem-se a tinta a óleo e tinta a látex. A tinta a óleo pode proteger a
madeira da água, porém, acaba se tornando quebradiça com o passar do tempo. Já a tinta látex
é mais permeável ao vapor d’água e à água líquida, mas se adapta melhor às variações
dimensionais da madeira devido a que sofre um menor enrijecimento, com o tempo, que a tinta
a óleo (WILLIAMS et al., 1996).
Tem-se também os stains, que são misturas feitas com resinas, fungicidas e pigmentos
dissolvidos em óleo. Geralmente contendo filtro solar, são impermeáveis e não formam
películas. Devido a isso, não apresentam problemas de trincas e o desgaste ocorre por erosão,
o que facilita a manutenção.
Com ação fungicida e inseticida, stains protegem a superfície da madeira contra
cupins, brocas, fungos e mofos, além de serem repelentes à água, conferindo ao material maior
resistência contra o sol e a chuva. Tais características os tornam passíveis de utilização tanto
em ambientes internos quanto externos (WILLIAMS; FEIST, 1999).
Ainda, vale ressaltar que os vernizes poliuretânicos são os mais utilizados pois seus
componentes previnem a deterioração da cor, gerando uma proteção eficaz para a superfície
dos efeitos da radiação e da água (VALVERDE; MOYA, 2013).
Todo e qualquer resíduo de madeira, seja ele anterior a uma obra ou não, deve ser
retirado do terreno de forma a não ocorrerem abandono ou enterramento destes. Enterrar ou
abandonar este tipo de material pode aumentar a probabilidade de uma infestação de cupins
subterrâneos, de formigas e outros agentes deterioradores (BEAL et al., 1989).
Outro aspecto importante é o de drenagem do terreno. Para se evitar um aumento
indesejado da umidade no terreno, ele deve possuir uma certa inclinação que possibilite o
escoamento da água. Nos casos em que isso não seja possível, ou ao redor de construções com
porões, por exemplo, recomenda-se a construção de canais de drenagem para possibilitar este
escoamento (BEAL et al., 1989).
3 METODOLOGIA
A metodologia científica pode ser definida como uma série de etapas e instrumentos
em que o pesquisador, através deles, busca alcançar resultados que possibilitem a validação de
sua teoria inicial de forma criteriosa (CIRIBELLI, 2003). Assim sendo, o presente trabalho
pretende analisar tecnicamente a madeira disponível para utilização na construção civil no
município de Iraí/RS.
Para tanto, ao final do trabalho, serão discutidas conclusões obtidas durante o estudo
compreendido pela revisão bibliográfica e pelo estudo de caso, trazendo ideias e perspectivas
tanto da teoria quanto da prática, limitada pelo município em estudo. Portanto, é possível
classificar a abordagem de pesquisa do problema como sendo do tipo qualitativa, visto que,
segundo Mayer et. al. (2014), a observação é o procedimento de pesquisa qualitativa, o que
implica a quem a realiza observar pessoalmente e de maneira prolongada situações e
comportamentos de seu interesse, sem se ater apenas à forma como quem está inserido naquela
realidade os vê ou entende.
Em relação aos objetivos da pesquisa, podemos classificar sua natureza como sendo
exploratória e descritiva. Segundo Selltiz et al. (1965), encaixa-se como estudo exploratório
todo aquele que pretende descobrir novas ideias, na tentativa de conhecer melhor o objeto de
estudo. Já a pesquisa descritiva, Gil (1999) indica que tem como principal objetivo a descrição
das características de uma população, de um fenômeno ou das relações entre diversas variáveis.
Assim, podemos afirmar que o estudo tem viés exploratório pois envolve uma pesquisa
bibliográfica no intuito de aprofundar conhecimentos no tema. É possível afirmar, também, que
possui cunho descritivo pois para desenvolver uma discussão sobre o assunto é necessário
conhecer diversas características técnicas do material de forma a argumentar os aspectos
positivos e negativos de sua utilização para o fim desejado.
Quanto aos procedimentos técnicos a serem adotados, é possível classificar as etapas
do trabalho. Sua primeira etapa caracteriza-se como pesquisa bibliográfica; sua segunda etapa
em um estudo de caso e; suas duas últimas etapas em análise dos resultados obtidos e conclusões
finais.
A primeira etapa do trabalho constitui-se em uma revisão bibliográfica a fim de
contextualizar historicamente a utilização da madeira nas habitações humanas e reconhecer
155
3.2.1 A empresa
Determinação
Obtenção de amostras (conforme NBR Secagem das Cálculos para obtenção do
do teor de
5426) e pesagem das mesmas in-loco amostras em estufa teor de umidade de madeira
umidade das
imediatamente após sua extração (laboratório UTFPR) (conforme NBR ISO 4470)
madeiras
Ao ar livre
Método Em estufa
Registro do Pré-secagem
Informações
método de Duração Estimativa e variáveis consideradas
pertinentes
secagem Secagem
Tipo de empilhamento utilizado para
Empilhamento
secagem e armazenamento
Produto Variáveis
Registro do preservativo consideradas no
método de Produto/método mais utilizado
Método de processo de
tratamento
aplicação escolha
Bactérias
Tipo biológica Fungos
Registro de
patologias Tipo química Insetos
frequentes
Tipo secagem
Características
Identificação anatômicas
de espécies de Macroscópica
madeira Características
organolépticas
Para se obter o teor de umidade das madeiras prontas para comercialização, tem-se
dois métodos possíveis: o método de secagem em estufa e método por medidores de resistência
elétrica. Neste caso, devido às restrições de uso dos aparelhos que medem o teor de umidade
através da resistência elétrica da madeira, além de não haver disponibilidade deste tipo de
aparelhos, foi escolhido o método de secagem em estufa.
Assim, parte-se do princípio de que precisam ser coletadas amostras de madeira in-
loco. Para isto, como se trata de madeira após o primeiro desdobramento, ou seja, lotes de tábuas
de madeira, pode-se utilizar a NBR ISO 4470/2011, a qual determina os materiais necessários
e procedimentos a seguir para determinação do teor de umidade médio de um lote de madeira
serrada.
Por sua vez, no que diz respeito ao item 5.2 da norma supracitada, faz-se necessário,
também, a utilização da norma internacional ISO 2859/2020, a qual tem como sua respectiva
brasileira a NBR 5426/1985. Esta fala sobre planos de amostragem e procedimentos na inspeção
161
por atributos. Seguindo as recomendações do respectivo item (5.2), é possível, através das
Tabelas 1 e 2 da NBR 5426/1985 (Anexos 2 e 3 do presente trabalho), obter-se a quantidade de
amostras necessárias por tamanho de lote e, também, as condições mínimas para aceitar ou
rejeitar determinado lote.
Após determinado o número de amostras por lote, parte-se para etapa de obtenção das
amostras, as quais devem seguir rigorosamente as instruções contidas no item 5.3 da NBR ISO
4470/2011. Ademais, imediatamente após a obtenção das amostras, as mesmas devem ser
pesadas em balança com precisão mínima de 0,1 g.
Obtidos os pesos das amostras antes da secagem, deve proceder-se à secagem em si,
levando os corpos de prova até local onde haja equipamento para secagem de madeira como
descrito no item 5.1.2 da NBR ISO 4470/2011. O procedimento de secagem é descrito no item
5.4.3 da referida norma.
Na questão da pesagem dos corpos de prova, tem-se o item 5.4.1 da NBR ISO
4470/2011. Assim, respeitando-se o mesmo, pesam-se novamente os corpos de prova secos e
calcula-se o teor de umidade médio do lote, o qual é dado pelo item 5.5.1 da NBR ISO
4470/2011.
Finalmente, a supracitada norma exige um relatório de ensaios que incluam as
informações pertinentes, listadas no item 6 da mesma.
Entretanto, vale lembrar que cada aspecto analisado possui diversas informações que
são relevantes para se fazer um diagnóstico da atual situação do processo produtivo. Assim, no
intuito de abranger a totalidade destas informações, foram idealizados os questionários contidos
nos Apêndices 1 e 2, os quais foram utilizados durante a visita realizada e constam, no trabalho
preenchidos com as informações coletadas em visita técnica à empresa.
Por fim, vale ressaltar, também, que as análises realizadas na questão dos parâmetros
analisados seguem, rigorosamente, o descrito em seus correspondentes itens na fundamentação
teórica, tendo seus resultados expostos na conclusão do presente trabalho.
163
4 RESULTADOS E ANÁLISES
Tabela 14 - Tabela para cálculo da umidade de equilíbrio (UE) média mensal para Iraí/RS
Mês/2021 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
T média mensal (Cº) 24,3 24,0 22,8 20,2 16,3 14,9 14,1 16,1 17,9 20,4 21,6 23,5
UR média mensal (%) 73 74 75 76 78 81 79 74 73 75 71 72
K1 5,601 5,594 5,565 5,497 5,382 5,337 5,310 5,376 5,431 5,502 5,534 5,582
K2 0,744 0,743 0,742 0,738 0,732 0,730 0,729 0,732 0,735 0,738 0,740 0,743
W 251,196 250,719 248,846 244,969 239,623 237,842 236,857 239,364 241,748 245,258 247,025 249,932
H 0,730 0,740 0,750 0,760 0,780 0,810 0,790 0,740 0,730 0,750 0,710 0,720
UE médio mensal (%) 13,909 14,200 14,537 14,933 15,669 16,697 16,039 14,481 14,151 14,631 13,489 13,674
Figura 75 - Dados obtidos para determinação do teor de umidade das madeiras. Em azul, dados obtidos in-loco; em vermelho dados obtidos em laboratório; em
preto resultados finais.
PLANILHA PARA DETERMINAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE DAS AMOSTRAS DE MADEIRA COLETADAS
RESPONSÁVEL: José Otávio Da Rosa Tomasi
EMPRESA: A
ENDEREÇO: Iraí/RS
DATA: 15/05/2022
LOTE AM. ESTADO UTILIZAÇÃO FAMÍLIA GÊNERO ESPÉCIE Pu (g) P01 (g) P02 (g) P03 (g) P04 (g) P05 (g) Ps (g) ΔP (%) Tu (%)
1 1 Seca Assoalho Myrtaceae Eucalyptus - 53,08 49,05 46,73 46,58 46,39 46,39 46,39 0,00 14,42
1 2 Seca Assoalho Myrtaceae Eucalyptus - 51,79 48,06 45,66 45,52 45,31 45,30 45,30 0,02 14,33
2 1 Seca Parede Myrtaceae Eucalyptus - 50,83 46,31 44,36 44,23 44,10 44,10 44,10 0,00 15,26
2 2 Seca Parede Myrtaceae Eucalyptus - 49,04 44,87 42,77 42,64 42,52 42,52 42,52 0,00 15,33
3 1 Seca Parede inclinada Myrtaceae Eucalyptus - 73,26 68,14 64,76 64,52 64,25 64,25 64,25 0,00 14,02
3 2 Seca Parede inclinada Myrtaceae Eucalyptus - 71,23 66,29 63,09 62,87 62,60 62,58 62,58 0,03 13,82
4 1 Seca Rodapé Myrtaceae Eucalyptus - 20,03 18,00 16,85 16,80 16,71 16,72 16,71 0,00 19,87
4 2 Seca Rodapé Myrtaceae Eucalyptus - 20,22 18,17 17,00 16,93 16,84 16,85 16,84 0,00 20,07
5 1 Seca Cantoneira Pinaceae Pinus - 16,40 14,80 14,13 14,10 14,04 14,07 14,04 0,00 16,81
5 2 Seca Cantoneira Pinaceae Pinus - 16,67 14,97 14,40 14,36 14,31 14,33 14,31 0,00 16,49
6 1 Seca Guia forro Pinaceae Pinus - 69,63 64,16 61,40 61,26 61,19 61,25 61,19 0,00 13,79
6 2 Seca Guia forro Pinaceae Pinus - 71,15 65,30 62,57 62,43 62,34 62,38 62,34 0,00 14,13
7 1 Seca Guia forro Myrtaceae Eucalyptus - 116,98 111,52 104,04 103,26 101,85 101,72 101,72 0,11 15,00
7 2 Seca Guia forro Myrtaceae Eucalyptus - 114,64 109,26 102,32 101,56 100,19 100,09 100,09 0,09 14,54
8 1 Seca Caixaria Pinaceae Pinus - 92,89 80,43 80,16 79,99 79,95 79,95 79,95 0,00 16,19
8 2 Seca Caixaria Pinaceae Pinus - 88,71 80,10 76,43 76,28 76,20 76,29 76,20 0,00 16,42
9 1 Verde Caixaria Myrtaceae Eucalyptus - 147,67 126,10 98,64 96,08 93,16 93,02 93,02 0,09 58,75
9 2 Verde Caixaria Myrtaceae Eucalyptus - 147,30 125,16 98,35 95,71 92,59 92,46 92,46 0,09 59,31
166
Assim sendo, foram obtidos os dados necessários através do já citado site do Climate
Data e calculados todos os valores, expostos na tabela a seguir:
Tabela 15 - Tabela para cálculo do índice de potencial ataque fúngico. T média mensal = temperatura
média mensal em graus Celsius; D = número de dias no mês com precipitações maiores que 0,3 mm; PAF
mensal = índice de potencial ataque fúngico no mês; PAF final, 2021 = índice de potencial ataque fúngico
para o ano de 2021.
Mês/2021 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
T média mensal (Cº) 24,30 24,00 22,80 20,20 16,30 14,90 14,10 16,10 17,90 20,40 21,60 23,50
D 13,00 12,00 10,00 8,00 7,00 7,00 7,00 6,00 8,00 10,00 9,00 11,00
PAF mensal 13,35 11,86 8,72 5,45 3,43 3,09 2,90 2,53 4,76 7,71 7,04 10,30
PAF final, 2021 81,14
Dos 9 lotes analisados, foi possível identificar com bastante precisão apenas 6 deles.
Entre os 3 lotes faltantes, dois deles foi possível identificar parcialmente, restando dúvidas
quanto à identificação realizada. Os demais, não foi possível identificar, pois suas
características, tanto organolépticas quanto anatômicas não eram compatíveis com nenhuma
das espécies que constam nos bancos de dados analisados. Logo, nestes casos, é recomendado
que se prossiga com a identificação microscópica ou, então, a contratação de profissional
especializado e experiente em identificação de madeiras.
Os resultados dos 6 lotes que foram identificados, estão expostos nas Figuras 78, 79,
80, 81, 82 e 83.
Figura 78 - Identificação do lote nº 1. À esquerda, imagem macroscópica do banco de dados utilizado; à
direita imagem feita da amostra coletada.
Figura 82 - Identificação do lote nº 6. Acima, imagem macroscópica do banco de dados utilizado; abaixo,
imagem feita da amostra coletada.
Após a identificação das madeiras, pôde ser comprovado que os lotes 1, 2 e 4 são
Myrtaceae Eucalyptus grandis e que o lote 7 é Myrtaceae Eucalyptus cloeziana, o que corrobora
a assertividade da informação repassada pela empresa. Ademais, os lotes 5 e 6 foram
identificados como Pinaceae Pinus spp., o que também corrobora a informação repassada pela
empresa.
Com relação aos lotes 3 e 9, como dito anteriormente, não foi possível se obter uma
identificação precisa, restando algumas dúvidas com relação à conclusão feita. No caso do lote
3, foi identificado como sendo uma Apocynaceae Aspidosperma dispermum (nome popular,
Peroba-osso) e no caso do lote 9, foi identificado como sendo uma Myrtaceae Corymbia
citriodora (nome popular Eucalipto-cidró), como ilustrado nas Figuras 84 e 85 respectivamente.
Já o lote 8 não foi possível realizar a identificação.
Figura 84 - Identificação do lote nº 3. À esquerda, imagem macroscópica do banco de dados utilizado; à
direita, imagem feita da amostra coletada.
Vale lembrar, também, que o nome popular pode variar bastante, justificando a utilização da
nomenclatura científica das madeiras.
Inicialmente, é relevante destacar que a Empresa A não possui uma forma de gerenciar
o teor de umidade das madeiras que comercializa, não aferindo a mesma durante o processo de
secagem.
Com relação ao teor de umidade das madeiras em si, a análise deve ser feita para o
mês em que foram obtidas as amostras. Como neste caso, o estudo de caso foi feito no mês de
maio, para este tem-se que a umidade de equilíbrio (UE) na região do município em estudo é
de 15,67%. Tendo este valor como teor de umidade máximo recomendável para as madeiras
comercializadas, nota-se que os lotes 4, 5 e 8 não atenderam este requisito.
Todavia, cabe ressaltar que o lote 8 não tem por objetivo um uso final em bem durável,
sendo destinado para uso descartável de caixaria em obras. Entretanto, considerou-se o mesmo
na estatística pelo fato supracitado de que a empresa não afere o teor de umidade, o qual, em
teoria, deveria estar abaixo da UE.
Por outro lado, analisando-se o método de secagem é possível destacar alguns pontos:
• Com relação à orientação das pilhas de madeira, apesar do conhecimento
empírico utilizado na organização das mesmas parecer bastante correto, seria
interessante estudar mais a fundo a orientação predominante do vento naquela
localização específica da empresa, em períodos curtos de tempo, como mês a
mês, por exemplo, afim de se ter subsídio técnico nesta tomada de decisão.
• Outro ponto é a falta de padronização no espaçamento entre pilhas e nas
dimensões das bases, visto que foi observado bastante variação nestas duas. O
espaçamento entre pilhas, por vezes, é maior do que o mínimo recomendado
de 50 cm, porém há situações nas quais as mesmas se encontram com
espaçamento menor. Ademais, apesar de todas as pilhas possuírem base e que
estas proporcionem uma correta ventilação, a maioria delas não possui uma
padronização em suas dimensões, tendo muitas vezes menos de 20 cm, o que
é a distância mínima recomendada pela literatura de distância entre a pilha e o
solo.
No tocante ao método de tratamento e patologias frequentes, não é possível ser
tecnicamente conclusivo no tocante aos produtos que são utilizados pela construção civil, visto
176
que o subsídio de informações é insuficiente para tal. Isto se deve ao fato de que não se conhece,
com rigor científico, quais agentes biodeterioradores existem na região em estudo para que se
possa, primeiramente, escolher um produto preservativo adequado, levando em consideração a
espécie de madeira e sua utilização final, como o método de aplicação do mesmo, considerando
a hipótese de que a empresa estivesse autorizada pelos órgãos ambientais competentes a realizar
este tipo de serviço e que a mesma possuísse estrutura para tal.
Ainda assim, foi possível analisar as patologias frequentes no pátio de secagem e
armazenamento de madeira, as quais são basicamente manchas químicas e fungos causadores
de mofo e bolores. Neste último caso, calculou-se o PAF, índice de potencial ataque fúngico, o
qual apontou um valor anual de 81,14. Ademais, nos meses de janeiro, fevereiro e dezembro,
os quais são os meses com maior média de temperatura e maior número de dias chuvosos no
ano, obtiveram-se os maiores PAF, o que indica maior susceptibilidade ao ataque fúngico nesta
época do ano.
Ainda sobre patologias, tem-se as que ocorrem devido à secagem, as quais possuem,
segundo o proprietário da empresa, um elevado índice de desperdício de matéria prima quando
se trata de madeiras com nome comercial de Eucalipto, podendo chegar a valores em torno de
30%. Já no caso de madeiras com nome comercial de Pinus, mesmo que existente, o desperdício
é muito menor, girando em torno de 5%.
Por último, tem-se a identificação de madeiras, a qual realizou-se apenas na forma
macroscópica da mesma. Nesta, obtiveram-se resultados bastante satisfatórios do ponto de vista
de informações fornecidas pela empresa, visto que, mesmo que apenas a nível de gênero, esta
informou corretamente a madeira que comercializa, pelo menos dentro dos lotes os quais pôde
ser realizada a identificação, não havendo agrupamento de madeiras em um nome comercial,
por exemplo. Todavia, para utilizações mais específicas da construção civil, como, por
exemplo, em estruturas, onde é necessário um maior nível de precisão técnica, se faz necessária
a identificação das madeiras a nível de, no mínimo, espécie, afim de se conhecer diversas outras
características importantes.
177
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho se propôs a estudar o material madeira em duas frentes: teoria e prática.
Assim, trouxe não apenas uma revisão bibliográfica sobre a tecnologia do material, mas
também um estudo de caso onde visou aplicar os parâmetros estudados, no intuito de realizar
uma análise técnica da madeira que está disponível no mercado para utilização na construção
civil do município de Iraí/RS.
Por se tratar de um tema bastante amplo, a revisão bibliográfica foi delimitada a alguns
tópicos a respeito da tecnologia do material, afim de reconhecer questões bastante presentes no
dia a dia da indústria e, também, do consumidor, como: principais agentes biodeterioradores;
principais patologias decorrentes destes agentes, além de patologias devidas à secagem e
química; como se dá o processo de secagem da madeira e o método de secagem ao ar livre;
principais produtos preservativos e seus métodos de aplicação e; identificação macroscópica de
madeiras.
Como as informações trazidas na revisão bibliográfica serviram de subsídio para
posterior análise dos resultados do estudo de caso, pode-se afirmar que este objetivo do estudo
foi satisfeito. Vale ressaltar que os assuntos abordados vão além das informações contidas
apenas nas análises feitas no estudo de caso, visto que o mesmo é um caso bastante específico,
e que a revisão consegue ser muito mais ampla e generalista, dentro das restrições já
mencionadas.
Ademais, em decorrência da revisão bibliográfica, foi possível realizar um estudo de
caso que abrangesse todos os parâmetros abordados, onde definiu-se a estrutura exposta na
Figura 73, e que, consequentemente, abrangeu todo o processo produtivo realizado na empresa
em estudo. Além disso, observando-se os resultados obtidos e diagnóstico feito, pode-se
perceber que apesar de vasta experiência no mercado e de ser considerada uma empresa que
fornece alta qualidade nos produtos comercializados, a empresa pode aumentar a qualidade de
seus produtos e fornecer ainda mais confiança técnica para que profissionais como engenheiros
civis possam trabalhar maior conhecimento sobre seus produtos. Produtos estes, que podem ser
considerados satisfatórios, visto que forneceram subsídios de informações para um diagnóstico
da situação do processo produtivo da empresa.
Sugere-se, como assunto para futuros trabalhos, que se continue a revisão bibliográfica
realizada focando nos assuntos que limitaram a do presente trabalho, no intuito de aproximar
ainda mais conhecimento sobre o tema aos profissionais interessados e aliando a prática à teoria
178
com estudos de caso visando uma análise técnica que abranja cada vez mais variáveis, tornando-
a mais precisa e dando subsídio técnico para mitigar os problemas encontrados no dia a dia de
quem a utiliza na construção civil.
179
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application and maintenance. U.S. Department of Agriculture, Forest Service. Forest
Products Laboratory. Madison, Wisconsin, 1996.
13
Se sim, quais as possíveis variáveis que afetam Quais variáveis são levadas em consideração
desta forma o/s lote/s de madeira? Extrativos para escolha do método? Disponibilidade do
das madeiras que entram em contato com o mercado.
sol.
13
ANEXO 3 – TABELA 2 DA NBR 5426/1985 – PLANO DE AMOSTRAGEM SIMPLES PARA INSPEÇÃO NORMAL