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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR


CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS
CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

TRABALHABILIDADE DE ARGAMASSAS COM RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E


DEMOLIÇÃO COM ADIÇÃO DA FIBRA DO COCO VERDE

PAULO HENRIQUE BESSA SAMPAIO

Fortaleza-CE
2022
PAULO HENRIQUE BESSA SAMPAIO

TRABALHABILIDADE DE ARGAMASSAS COM RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E


DEMOLIÇÃO COM ADIÇÃO DA FIBRA DO COCO VERDE

Trabalho de Conclusão do Curso apresentado


ao curso de Engenharia Civil da Universidade
de Fortaleza, para obtenção do grau de Bacharel
em Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Me. Tiago Alves Morais

Fortaleza-CE
2022
PAULO HENRIQUE BESSA SAMPAIO

TRABALHABILIDADE DE ARGAMASSAS COM RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E


DEMOLIÇÃO COM ADIÇÃO DA FIBRA DO COCO VERDE

Trabalho de Conclusão do Curso apresentado


ao curso de Engenharia Civil da Universidade
de Fortaleza, para obtenção do grau de Bacharel
em Engenharia Civil.

Aprovada em: __/__/__


BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________
Prof. Tiago Alves Morais, Me.
Orientador – Universidade de Fortaleza (UNIFOR)

________________________________________________________
Prof. Raphael Pires de Souza, Dr.
Universidade de Fortaleza (UNIFOR)

________________________________________________________
Prof. Elton Rebouças Pereira, Me.
Universidade de Fortaleza (UNIFOR)
Este trabalho é dedicado à minha família,
amigos e aos meus queridos pais.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradecer a Deus por está permitindo realizar esse sonho e que nunca
me abandonou nessa longa jornada, sempre me concedendo forças e sabedoria para enfrentar
as barreiras.
Aos meus pais, Paulo Bessa e Márcia Sampaio, que foram e sempre serão a minha base
para tudo. Por sempre me apoiarem, incentivarem e lutarem comigo para que eu pudesse viver
esse grande sonho. Gratidão é o que eu sinto por tudo. Sem vocês nada disso seria possível. Eu
amo vocês.
As minhas irmãs, Jennifer Paula e Ilamara Beatriz, por toda força e apoio que tiveram
comigo para que eu nunca desistisse de lutar por tudo que eu sonho e por todo apoio quando
mais precisei. Amo vocês.
A minha amiga Millane Uchôa, por todo apoio que me deu nos momentos em que mais
precisei para continuar e que sempre acreditou que eu seria capaz de alcançar tudo que almejo.
Eu te amo.
Aos meus amigos e familiares por todos o apoio que me deram e por sempre acreditarem
que eu seria capaz de conquistar. Nunca deixaram de torcer por o meu sucesso.
Ao meu querido Professor Tiago Alves Morais, por todo empenho e dedicação por todos
os conhecimentos que obtive e por toda ajuda que tive nas minhas pesquisas e artigos. Levarei
meus conhecimentos adquiridos por toda minha carreira profissional.
“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros
de gigantes.”
Isaac Newton
RESUMO

Nessa busca por novas descobertas de materiais alternativos no mercado da construção civil, se
faz necessário diversos estudos tendo a finalidade do aumento da diversidade de materiais que
possam substituir os agregados naturais que se encontram em escassez em níveis cada vez mais
altos, como também visando a diminuição dos desperdícios de restos de obras para que não
possa degradar o meio ambiente. Este estudo, buscou analisar a trabalhabilidade da argamassa
substituindo o agregado miúdo por resíduos de construção e demolição em diferentes
proporções no tempo em aberto com o tempo inicial, após 5 minuto e 10 minutos
respectivamente. Portanto, concluiu-se que não é viável a utilização do material reciclado como
opção de substituição parcial ou total do agregado natural, bem como a adição da fibra de coco,
apresentando resultados negativos quanto a sua trabalhabilidade, além do que, não se encaixa
nos parâmetros exigidos pelas normas da ABNT para que fosse possível tornar uma fonte de
alternativa no mercado.

Palavras-chave: Trabalhabilidade; Material reciclado; RCD.


ABSTRACT

In this search for new discoveries of alternative materials in the civil construction market,
several studies are necessary with the purpose of increasing the diversity of materials that can
replace the natural aggregates that are in scarcity at increasingly higher levels, as well as aiming
at the reduction of the waste of remains of works so that it cannot degrade the environment.
This study sought to analyze the workability of the mortar by replacing the fine aggregate with
construction and demolition waste in different proportions in the open time with the initial time,
after 5 minutes and 10 minutes respectively. Therefore, it was concluded that the use of recycled
material as an option for partial or total replacement of the natural aggregate, as well as the
addition of coconut fiber, is not viable, presenting negative results regarding its workability, in
addition, it does not fit the parameters required by ABNT standards so that it could become an
alternative source in the market.

Keywords: Workability; Recycled material; RCD.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Fluxograma das etapas realizadas ....................................................................... 17


Figura 2 – Pesagem do cimento para ensaio de consistência ................................................ 25
Figura 3 – Pesagem da areia para ensaio de consistência ..................................................... 25
Figura 4 – Pesagem do RCD para ensaio de consistência .................................................... 26
Figura 5 – Pesagem da água para ensaio de consistência ..................................................... 26
Figura 6 – Pesagem da fibra do coco para ensaio de consistência ........................................ 27
Figura 7 – Fibra do coco utilizado nos ensaios .................................................................... 27
Figura 8 – Separação dos materiais para substituição parcial e global do agregado miúdo por
RCD .................................................................................................................................... 28
Figura 9 – Agitador de peneiras .......................................................................................... 29
Figura 10 – Mesa para índice de consistencia ...................................................................... 32
Figura 11 – Argamassadeira utilizada para formação da argamassa ..................................... 32
Figura 12 – Mesa utilizada para medir a consistência da argamassa..................................... 33
Figura 13 – Forma trocônico utilizado no ensaio ................................................................. 33
Figura 14 – Retroescavadeira adaptada com mordedor hidráulico ....................................... 34
Figura 15 – Pulverizador para trituração do concreto ........................................................... 35
Figura 16 – RCD após o processo de tritura ........................................................................ 35
Figura 17 – Processo de secagem do RCD na estufa ............................................................ 36
Figura 18 – Espalhamento da argamassa de referência ........................................................ 38
Figura 19 – Espalhamento da argamassa com 25% de substituição por RCD. ...................... 39
Figura 20 – Espalhamento da argamassa com 50% de substituição por RCD ....................... 40
Figura 21 – Espalhamento da argamassa com 100% de substituição por RCD ..................... 42
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Quantidade de resíduos coletado pelas empresas que possuem licença no SEMAM
e da Prefeitura Municipal de Fortaleza ................................................................................. 21
Gráfico 2 – Quantidade concentrada de resíduos coletado pelas empresas e pela Prefeitura
Municipal de Fortaleza e quantidade de RCD depositada nos aterros com a licença ............. 22
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Traços Utilizados .............................................................................................. 17


Quadro 2 – Dimensão das malhas das peneiras ................................................................... 30
Quadro 3 – Composição dos traços de argamassa ................................................................ 36
Quadro 4 – Medidas do espalhamento do traço de referência .............................................. 38
Quadro 5 – Medidas do espalhamento do traço com 25% de substituição ............................ 39
Quadro 6 – Medidas do espalhamento do traço com 50% de substituição ............................ 41
Quadro 7 – Medidas do espalhamento do traço com 100% de substituição .......................... 42
Quadro 8 – Resumo das médias encontradas no Ensaio de Consistência.............................. 43
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

RCD Resíduos de Construção e Demolição


RSU Resíduos Sólidos Urbanos
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
PNRS Plano Nacional de Resíduos Sólidos
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
CE Ceará
SINDUSCON Sindicato da Indústria da Construção Civil
PNSB Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
SEMAM Secretaria do Meio Ambiente e Controle Urbano
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
LSPA Levantamento Sistemático de Produção Agrícola
NBR Norma Brasileira Regulamentar
NM Norma Mercosul
LISTA DE SÍMBOLOS
m³ Metros Cúbicos
t/hab.ano Toneladas por habitante x ano
% Porcentagem
mm Milímetros

g Gramas

ºC Graus Celsius

± Mais ou Menos

MPa Mega Pascal


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 13
1.1. JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 15
1.2. OBJETIVOS................................................................................................................ 16

1.2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................. 16

1.2.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS ................................................................................... 16

1.3. FLUXOGRAMA DO ESTUDO .................................................................................. 17


1.4. ESTRUTURA DO TRABALHO ................................................................................ 18
2. REFERENCIAL TÉORICO .......................................................................................... 19
2.1 RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO NO BRASIL ............................. 19
2.2. CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS ...................................................... 19
2.2.1. CLASSIFICAÇÃO DE RESÍDUOS DE ACORDO COM O CONAMA ............... 19
2.3. IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA CONSTRUÇÃO CIVIL .............. 20
2.4. DESPERDÍCIOS GERADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL ...................................... 21
2.5. FIBRA DO COCO NA CONSTRUÇÃO CIVIL ........................................................ 23
2.6. ARGAMASSAS ........................................................................................................... 23
3. METODOLOGIA .......................................................................................................... 24
3.1. MATERIAIS ................................................................................................................ 24
3.1.1. MATERIAIS UTILIZADOS NA SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DO AGREGADO
MIÚDO POR RCD ............................................................................................................ 24
3.2 MÉTODOS ................................................................................................................... 28
3.2.1. GRANULOMETRIA POR PENEIRAMENTO ...................................................... 28
3.2.2. MASSA ESPECÍFICA ............................................................................................. 31
3.2.3. ENSAIO DE DETERMINAÇÃO DA CONSISTÊNCIA ........................................ 31
4. RESULTADOS ............................................................................................................... 34
4.1. COLETA DO RCD E COMPOSIÇÃO DOS TRAÇOS DE ARGAMASSA ............. 34
4.1.1. TRABALHABILIDADE DA ARGAMASSA .......................................................... 37
4.1.2. ARGAMASSA DE REFERÊNCIA .......................................................................... 37
4.1.3. TRAÇO COM 25% DE SUBSTITUIÇÃO E ADIÇÃO DA FIBRA DO COCO ... 39
4.1.4. TRAÇO COM 50% DE SUBSTITUIÇÃO E ADIÇÃO DA FIBRA DO COCO ... 40
4.1.5. TRAÇO COM 100% DE SUBSTITUIÇÃO E ADIÇÃO DA FIBRA DO COCO.. 41
5. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 444
13

1. INTRODUÇÃO

O processo para reutilização dos resíduos originados no âmbito da construção civil vem
ganhando cada vez mais espaço, uma vez que desempenha um papel importante e fundamental
para o meio ambiente como a diminuição da extração de recursos naturais, diminuição do uso
de água e energia, redução da poluição, impacto ambiental e preserva os recursos naturais que
por sua vez estão cada vez mais escassos, descreve Joyce (2018). Entretanto, apesar dos
inúmeros beneficiamentos coletivos que impõe na natureza, essa solução se torna viável
financeiramente, uma vez que isso resulta em economia de custos na obra com material e
transporte, instigando para que novos produtos fabricados a partir de sedimentos obtidos em
construções e/ou demolições se tornem crescente a viabilidade dessas alternativas no mercado
de trabalho.
Nos últimos anos pôde ser analisado e comprovado o crescimento no ambiente de obras,
sejam elas civis, industrial, rodoviárias, etc., devido ao desenvolvimento social e econômico,
impactando na economia, meio ambiente e na sociedade. Com isso, o crescimento geral do setor
de engenharia civil está mudando a realidade dos canteiros de obras. A qualidade da construção
civil já avança a passos largos, pois o SINDUSCON-CE (2011) investe em tecnologia e
qualificação como forma de aumentar a produtividade e reduzir o desperdício. Diante disso,
uma das principais causas de contaminação e degradação do meio ambiente se dar pelo descarte
inadequado dos resíduos gerados pela população, podendo causar problemas a saúde, a
qualidade de vida humana e dos animais, como também os ecossistemas como um todo. Porém,
quando se refere a construção civil, os resíduos oriundos desse setor não se tornam isentos dessa
problemática, visto que a falta de gerenciamento se torna mais um causador desses problemas.
Responsável pela maior extração de recursos naturais para uso industrial, a construção
civil tem um papel importante para a economia brasileira. No Brasil, são gerados 83 milhões
de m³ de resíduos, sejam elas em etapa de construção ou em demolição, os quais são
denominados Resíduos de Construção e Demolição (RCD). Entretanto, os resíduos gerados
nesse setor são provenientes de erros de execução, incompatibilização de projetos, materiais de
baixa qualidade que ocasiona a substituição desses itens no processo de execução, no qual
origina o desperdício desses insumos.
Dados publicados no Fórum Econômico Mundial, em 2016, mostraram que apenas 20%
a 30% dos resíduos de construção e demolição são recuperados globalmente. Com isso, apesar
14

de alguns países possuírem uma recuperação dos seus resíduos acima da média como os Estados
Unidos e Reino Unido, a Diretiva 2008/98/CE que tem como objetivo reduzir os impactos
adversos decorrentes da geração e gestão de resíduos estimou que até o ano de 2020 tivesse a
média de 70% dos países com implantação da reciclagem, logo não houve esse feito
permanecendo abaixo da média.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA em 5 de julho de 2002,
homologou a resolução 307, onde considerava a necessidade de implantação para que houvesse
uma redução dos impactos ambientais gerados pelos resíduos advindos da construção civil.
Com isso, grandes empresas geradoras de resíduos de construção e demolição se tornaram
obrigatórias a desenvolver e implantar um plano de gestão RCD, objetivando uma correta
destinação desses resíduos como também a reciclagem, visando um ciclo produtivo para a
construção civil.
Embora os primeiros estudos científicos no Brasil sobre o uso de agregados reciclados
de construção e demolição (RCD) tenha sido desenvolvido por Pinto (1986), somente entre os
anos de 1991 a 1994, as usinas de reciclagem foram tornando presentes no país, dentre elas em
São Paulo (1991), Paraná (1993) e em Minas Gerais (1994). De acordo com a Política Nacional
de Resíduos Sólidos os Resíduos de Construção e Demolição são os gerados nas construções,
reformas, reparos e demolições de obras da construção civis incluídas os resultantes da
preparação e escavação de terreno para obras civis. Entretanto, é importante discernir que a
geração de resíduos de construção e demolição é proveniente de pequenos e grandes geradores.
A Política Nacional também afirma que o RCD é gerado entre 0,4 a 0,7 t/hab.ano e
representa cerca de 66% da massa dos resíduos sólidos municipais ou em torno do dobro dos
resíduos sólidos domiciliares. Cerca de 70% da geração desses resíduos oriundos de pequenas
reformas e obras são de pequenos geradores e grande parte é coletada por empresas de coleta
urbana, enquanto 30% são gerados a partir de construções formais de empresas de grande porte,
sendo considerado o setor como o maior gerador desses entulhos, conforme PNRS (2011).
Leite (2001), cita que após longos estudos em busca de implementação dessa gestão, em
algumas indústrias o ciclo produtivo tornou-se de maneira efetiva transformando os rejeitos em
insumos como a sílica ativa e a escória de alto forno. Porém, o resíduo de construção e
demolição ainda necessita de um estudo sistemático para que de fato sua aplicação se torne
viável no âmbito global.
15

Contudo, o uso de fibras como material em componentes da construção civil tem sido
alternativo para conter o aumento da quantidade de resíduos dispostos em ambientes
inapropriados. Inúmeros fatores referentes a fibras são de extrema importância em sua
utilização como a tipologia e propriedades para serem usadas como reforço de argamassas,
podendo aumentar a capacidade de resistência da argamassa, sua ductilidade e uma melhor
trabalhabilidade. Essa utilização também possui uma grande importância para o setor
socioeconômico além de poder gerar renda.
Com a incansável busca por alternativas a fim de suprir a demanda do uso dos agregados
naturais não renováveis graúdos e miúdos na construção civil, os resíduos de demolição e
construção vêm sendo estudado por diversos autores como uma alternativa para substituição
dos agregados visando à escassez desses recursos naturais e como forma de minimizar os
impactos ambientais. Diante disso, têm-se cada vez mais resultados positivos de que a
substituição total por esses materiais reciclados em concretos e argamassas é viável,
principalmente da miúda.

1.1. JUSTIFICATIVA

O Centro de Eventos Edson Queiroz, em 2019, no Ceará, foi realizado a demolição


completa desse local gerando um total de 10.000 m³ de resíduos a partir desse feito. Com a
pretensão de 100% de reaproveitamento desses resíduos, se faz a necessidade de novos estudos
buscando alternativas para elaboração de novos materiais com substituição total ou parcial dos
agregados naturais por recicláveis para que possa reaproveitar e retornar as obras agregando
valor e assim contribuindo para a diminuição da poluição na atmosfera, a busca por recursos
naturais e não menos importantes, a redução de custos para a execução da obra.
Diversos autores comprovaram através de pesquisas a viabilidade do uso dos agregados
reciclados de RCD na produção de concreto. Entre eles, ETXEBERRIA et. al. (2007);
OIKONOMOU (2005) com uso de agregado graúdo e também com a utilização do agregado
miúdo (EVANGELISTA & BRITO, 2007; 2010). Oliveira (2015), Moriconi et al. (2009) e
outros inúmeros pesquisadores comprovaram que a substituição do agregado natural por
agregado reciclado em frações ou total em argamassas também apresentou resultados positivos
quanto a sua resistência.
16

Contudo, apesar de diversas comprovações dos benefícios da reutilização desses


agregados, surgiu a necessidade da realização de argamassas com esses insumos e de realizar
uma comparação entre os resultados obtidos no trabalho de conclusão de curso de graduação
da aluna RIELLO (2022) com os obtidos nesse trabalho, uma vez que foi dado prosseguimento
ao estudo.

1.2. OBJETIVOS

1.2.1 OBJETIVO GERAL

O presente estudo tem como principal objetivo avaliar a trabalhabilidade de argamassas


com substituição em massas do agregado natural por resíduos de construção e demolição com
adição da fibra do coco verde na composição de diferentes traços de argamassas utilizando o
Cimento Portland do tipo II, composto de Fíler e com classe de resistência à compressão de 32
MPa. Com isso, foram utilizados traços de substituição de 25%, 50% e 100% do agregado
miúdo natural por agregado reciclado, bem como o de referência.

1.2.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS

Comparar a trabalhabilidade das argamassas desenvolvidas com RCD adicionada de


fibras do coco verde com a argamassa de referência através da realização do ensaio de
determinação da consistência em intervalos de 1 minuto, 5 minutos e 10 minutos.
Caracterizar o agregado miúdo produzido a partir dos resíduos de construção e
demolição – RCD do antigo Centro de Eventos do Ceará e verificar quanto a sua
granulometria, massa específica e unitária, conforme as Normas Técnicas – ABNT.
17

1.3. FLUXOGRAMA DO ESTUDO

Nesse presente estudo, foram analisados três traços com adição de fibras e substituição
do agregado em diferentes proporções e um traço sem adição e sem substituição para
comparação. No quadro 01 estão apresentados os traços utilizados.

Quadro 01 – Traços Utilizados.


Material Relação – Cimento; Areia; Água; RCD e Fibras
Referência 1:3:0,47
Fibra e Agregado 1:2,25:0,47:0,75:0,005 1:1,5:0,47:1,5:0,01 1:0,47
Reciclado :3:0,015
Fonte: Autor (2022).

Após a determinação dos traços e as proporções das fibras e agregados reciclados, foi
definido o fluxograma para a realização dos experimentos. A figura 1 apresenta um fluxograma
com as etapas elaboradas nesse trabalho.

Figura 1 – Fluxograma das etapas realizadas.

Fonte: Autor (2022).


18

1.4. ESTRUTURA DO TRABALHO

Para uma melhor interpretação e compreensão do tema abordado, o presente estudo foi
dividido em quatro capítulos.
No primeiro capítulo foi apresentada a introdução, bem como a justificativa do tema, os
objetivos desse estudo e a metodologia adotada.
No segundo capítulo foi desenvolvida uma fundamentação teórica com os respectivos
temas: resíduos da construção civil e fibras do coco verde.
No terceiro capítulo é realizada a análise dos ensaios de consistência, com seus
intervalos determinados para estudos e a verificação da sua trabalhabilidade.
No quarto capítulo são apresentados os resultados e a conclusão em relação ao tema
abordado.
19

2. REFERENCIAL TÉORICO

2.1 RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO NO BRASIL

O trabalho da construção civil é titulada sendo uma das atividades mais valiosas para os
setores de crescimento socioeconômico. Reconhecida também como uma das maiores áreas
geradoras de resíduos, o setor da engenharia civil é responsável por mais de 50% da quantidade
de resíduos gerados no mundo (BRASILEIRO et. al., 2015).
Em outras palavras, define-se os resíduos de construção e demolição como entulhos,
que são gerados pelo setor da engenharia civil em ampliações, reformas, novas construções,
demolições, obras de infraestruturas e saneamento básico. Entretanto, esses resíduos são
considerados na constituição dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), explica BARROS (2017
apud NETO, 2005).
Dados do PNSB divulgados em 2010 mostraram que, por se tratar de destino dos
resíduos, os vazadouros a céu aberto, mais conhecido como lixões, ainda constituem como
destino final no Brasil. Cerca de 50,8% dos municípios brasileiros, é responsável por a
disposição desses resíduos em lugares inapropriados. Contudo, em 2008 foi abordado que nos
últimos 20 anos, esse quadro vem tendo mudanças positivas principalmente nas regiões sul e
sudeste do país, afirma a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – PNSB.
Carneiro (2011) consideram os resíduos de construção e demolição como materiais
heterogêneos e compostos basicamente por concretos, argamassas, materiais cerâmicos como
blocos, tijolos e lajotas, solos e argila materiais derivados do processo de terraplenagem, metais
ferrosos utilizados nos elementos estruturais como lajes, vigas e pilares, madeiras e outros
materiais passiveis de reciclagem.

2.2. CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

No Brasil, a classificação dos resíduos é definida pelo Conselho Nacional do Meio


Ambiente – CONAMA.

2.2.1. CLASSIFICAÇÃO DE RESÍDUOS DE ACORDO COM O CONAMA


20

Segundo a resolução nº 431/2011 do CONAMA, onde estabelecem as diretrizes para o


gerenciamento dos resíduos da construção civil, legalizando condutas essenciais para a redução
de prejuízos ambientais. Para o tema proposto, os materiais utilizados serão de acordo com as
categorias A e B da resolução n° 431/2011, são eles:
 Categoria A – São os sedimentos reutilizáveis ou recicláveis como agregados,
tais como:
a) Materiais de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras
obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
b) Materiais de construção e/ou arrasamento, restaurações e reparos de estruturas:
artefatos de cerâmica (blocos, telhas, cerâmicas, porcelanatos etc.), e produtos à base de
cimento;
c) Materiais desenvolvidas em fábrica e/ou arrasamento de peças pré-fabricadas em
concreto (blocos, tubulações, canaletas etc.) feitas em obras.
 Categoria B - é resíduo reciclável para outros destinos, como: plástico, papel,
papelão, metal, vidro, madeira e gesso;
 Categoria C – são resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias
ou aplicações economicamente viáveis que permitam sua reciclagem ou recuperação;
 Categoria D – são resíduos perigosos como tintas, solventes, óleos e amianto
(contaminados).

2.3. IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA CONSTRUÇÃO CIVIL

De acordo com os dados de 2020 obtidos pelo Urbanismo e Meio Ambiente de


Fortaleza, foi divulgada a geração de resíduos da construção civil ocorrido em Fortaleza no mês
de outubro, totalizando 120.205,15 m³ de resíduos dividido em 11 classes conforme o manual
obtido no Urbanismo.
Contudo, dados apresentados pelo Urbanismo e Meio Ambiente de Fortaleza (2020),
dos aproximados 120 mil m³ desses sedimentos gerados no ambiente de construção civil em
outubro desse ano, cerca de 36.241,50 m³ (volume gerado pelas classes A, A2 e A3), foi possível
serem reciclados e beneficiados. Desse total, aproximadamente 59,12% (cerca de 21.426,50
m³) foram destinados para serem reciclados por Usinas de Reciclagem e 40,88% (cerca de
14.815,00 m³) foram destinadas para áreas que necessitou de aterro.
21

Os grandes problemas dos RCD não se retratam pelo perigo que pode apresentar, mas
sim do que pode causar devido ao volume excessivo desses resíduos gerados. Para Scremin
(2007), quando parte do volume podem ser reciclados são depositados em locais de aterros e
reduzem a vida útil desses materiais e quando destinados a locais impróprios causam
degradações ao meio ambiente que podem comprometer a paisagem, tráfego de veículos e
pedestres e principalmente a drenagem urbana, além da multiplicação de diversas doenças.
Entretanto, quaisquer que sejam as obras de engenharia estão passíveis de gerar
impactos ambientais, sejam para as pessoas que residem no perímetro do local da construção,
sejam a vizinhança do bairro ou até mesmo da cidade. Porém, com o avanço das tecnologias, é
possível obter uma grande redução desses impactos, como por exemplo, não desperdiçando
materiais, organizando de forma otimizada o canteiro de obras e a reciclagens desses resíduos.

2.4. DESPERDÍCIOS GERADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

A sociedade vem demonstrando preocupações diante ao cenário do aumento de resíduos


oriundos da construção civil sem os devidos cuidados, especialmente porque pode aumentar o
impacto no meio ambiente, como também o aumento dos desperdícios que por muitas vezes
são gerados por projetos malfeitos e falta de planejamento para a execução, ressalta (JÚNIOR
et. al. 2018).
Estudos realizados por Cabral et al. (2011), apresenta nos gráficos 01 e 02 a quantidade
de resíduos de construção e demolição coletados em Fortaleza entre março de 2008 a fevereiro
de 2009 por sete empresas licenciadas pela Secretaria do Meio Ambiente e Controle Urbano –
SEMAM e pela Prefeitura Municipal de Fortaleza como também o acúmulo de RCD coletada
pelas empresas que possuem a licença e pela prefeitura do município de Fortaleza.
22

Gráfico 01 – Quantidade de resíduos coletado pelas empresas que possuem licença no


SEMAM e da Prefeitura Municipal de Fortaleza.

Fonte: Cabral et al. (2011)

Gráfico 02 – Quantidade concentrada de resíduos coletado pelas empresas e pela Prefeitura


Municipal de Fortaleza e quantidade de RCD depositada nos aterros com a licença.

Fonte: Cabral et al. (2011)

De acordo com (COSTA, 2010) apud (SANTOS, 2018), a ausência de um bom


gerenciamento propício para os resíduos de construção e demolição acaba sendo disposto em
lugares não apropriados para esse serviço, tais como: terrenos baldios, próximos às áreas
hídricas, próximos às estradas e diversos locais inadequados. Com essas práticas irregulares,
vem se transformando constantemente em problemas para limpeza desses locais, visto que, se
torna um custo alto para arcar quando os infratores não são identificados.
De acordo com o CONAMA (2002), no setor da construção civil, as construtoras geram
em suas obras em média de 20 a 25% desse entulho, sendo que, a outra parte é gerada por
23

reformas e obras de autoconstrução. Sabendo os impactos ambientais que podem acarretar, é


importante que a equipe de gestores esteja atento para os cumprimentos das condicionantes
dispostas na Resolução nº 307 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), como
também na lei que visa a PNRS (Plano Nacional de Resíduos Sólidos).

2.5. FIBRA DO COCO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Dentre os tipos de materiais orgânicos e inorgânicos consumados no mundo gerando


sedimentos e sem um local licenciado, a fibra do coco vem tornando destaque em estudos
abrangendo diversas objetividades, entre elas a junção (através do acréscimo) com o uso de
cimento Portland na produção de argamassas e concreto para a construção civil, cita SILVA et.
al. (2015).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE (2013), através do
Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – LSPA, a produção de coco no Brasil foi de
1.955.924 de toneladas na safra 2013. Com isso, considerando que em média 10% da massa do
fruto são constituídas de fibras, pode-se afirmar que o volume de fibras gerado na safra de 2013
foi aproximadamente 970.000 m³ de fibra.
Diversos autores como Ramli et al. (2013) e Silva et al. (2014) realizaram estudos e
comprovaram que a aplicação da fibra pode apresentar melhorias tanto as propriedades
mecânicas quanto a física dos compósitos cimentícios. Silva et al. (2014) analisaram as
propriedades e resistência a compressão de argamassas com a adição da fibra do coco (entre 0,1
a 0,5% em relação ao volume do cimentício) com comprimentos de: 12,5; 25,0; 37,5; 50,0; 62,5
e 75,0 mm. Foi comprovado que a argamassa com o aditivo das fibras de 25 milímetros de
comprimento apresentou melhor resultado para as três idades avaliadas na pesquisa.

2.6. ARGAMASSAS

A argamassa é definida como uma mistura homogênea de cimentos e agregados miúdos


(areia natural ou de britagem), cimento e água, incluindo ou não aditivos ou adições de outros
materiais alternativos com a função de aderência, endurecimento, resistência e etc., e que pode
ser dosada in loco ou em usinas, afirma MOEMA (2017).
24

“A durabilidade de uma argamassa é um conceito que pode ser entendido de uma


forma mais simples como sendo a capacidade de uma argamassa em manter sua
estabilidade química e física ao longo do tempo em condições normais de exposição
a um determinado ambiente, desde que submetida aos esforços que foram
considerados para seu projeto, sem deixar de cumprir as funções para as quais foi
projetada (RECENA, 2012).”

Quanto a sua tipologia, Recena (2012) ressalta que a argamassa tem diversas formas de
utilização, dentre elas como assentamento de alvenarias de blocos, revestimentos de paredes,
estruturas de concreto, como fixação de revestimentos cerâmicos, sejam elas em paredes
internas e/ou fachadas e pode também ser utilizada como regularização de parâmetros
horizontais como preparação de substrato (contrapiso) e verticais como elemento de emboço.

3. METODOLOGIA

3.1. MATERIAIS

3.1.1. MATERIAIS UTILIZADOS NA SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DO AGREGADO


MIÚDO POR RCD

Para a substituição parcial e total do agregado miúdo natural por Resíduos de


Construção e Demolição – RCD, para o ensaio de consistência foram separados e pesados o
cimento, o agregado miúdo, o RCD, a água e a fibra do coco conforme as figuras 02 a 08.
25

Figura 02 – Pesagem do cimento para ensaio de consistência.

Fonte: Autor (2022).

Figura 03 – Pesagem da areia para ensaio de consistência.

Fonte: Autor (2022).


26

Figura 04 – Pesagem do RCD para ensaio de consistência.

Fonte: Autor (2022).

Figura 05 – Pesagem da água para o ensaio de consistência.

Fonte: Autor (2022).


27

Figura 06 – Pesagem da fibra do coco para o ensaio de consistência.

Fonte: Autor (2022).

Figura 07 – Fibra do coco utilizado nos ensaios.

Fonte: Autor (2022).


28

Figura 08 – Separação dos materiais para substituição parcial e global do agregado miúdo por
RCD.

Fonte: Autor (2022).

Importante salientar que para esse ensaio não foram realizadas as compensações das
massas específicas do agregado natural e do RCD, visto que, a massa específica do agregado
natural é maior do que a massa específica do agregado reciclado (RCD).

3.2 MÉTODOS

3.2.1. GRANULOMETRIA POR PENEIRAMENTO

O ensaio de granulometria tem o objetivo de estudar a dimensão dos agregados e


determinar a percentagem em peso que cada item especificado do tamanho das partículas
representa na massa total utilizada no ensaio. O ensaio granulométrico por peneiramento
consiste em adicionar e passar uma determinada quantidade de agregados nas peneiras com
dimensões padronizadas. Após a passagem das partículas nas peneiras com o auxílio do agitador
de peneiras (Figura 09), verifica-se a quantidade retida em cada uma para que possa prosseguir
com o cálculo da porcentagem passante em cada peneira.
29

Figura 09 – Agitador de peneiras

Fonte: SP Labor (2018).

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é um órgão brasileiro que


desenvolve normas técnicas em diversas áreas. No Quadro 2, apresenta as aberturas das malhas
das peneiras padronizadas de acordo com o órgão.
30

Quadro 2 – Dimensão das malhas das peneiras


Série Normal Série
Intermediária
76mm -
- 64 mm
- 50 mm
38 mm -
- 32 mm
- 25 mm
19 mm -
- 12,5 mm
9,5 mm -
- 6,3 mm
4,8 mm -
2,4 mm -
1,2 mm -
0,600 mm -
0,300 mm -
0,150 mm -
Fonte: NBR 7217 (1987).

Para a determinação das dimensões das partículas dos agregados, é calculado conforme
determinado pela NBR 7217, usando a equação 01. Esse estudo é primordial para que se possa
fazer a escolha dos agregados corretos conforme a dimensão solicitada.

Equação 01 – Equação da Granulometria

Fonte: Lagetec, 2017.


Onde:
Ps, é o peso total da amostra seca;
Pt, é o peso total da amostra seca ao ar;
Pg, é o peso do material retido na peneira de Nº 10;
H, é a umidade higroscópica do material passado na peneira Nº 10.
31

3.2.2. MASSA ESPECÍFICA

É definida pela relação entre a massa do agregado em estudo no estado seco e o seu
volume, exceto os poros permeáveis. Esse ensaio é realizado conforme é determinado pela NBR
NM 52 demonstrado na equação 02.

Equação 02 – Equação da Massa Específica

Fonte: NBR NM 52.


Onde:
d3, é a massa específica do agregado, em gramas por centímetros cúbicos;
m, é a massa da amostra seca em estufa, determinada em gramas;
V, é o volume do frasco, em centímetros cúbicos;
Va, é o volume de água adicionado ao frasco, em centímetros cúbicos;
Ms, é a massa de amostra na condição saturada superfície seca, em gramas;
ρa, é a massa específica da água, em gramas por centímetro cúbico.

É importante ressaltar que, a importância do ensaio da massa específica para essa


determinação é que essa variável é importante nos estudos dos materiais para qualificação e
classificação quanto a sua massa.

3.2.3. ENSAIO DE DETERMINAÇÃO DA CONSISTÊNCIA

Esse ensaio busca determinar o índice da consistência da argamassa realizada de acordo


com a ABNT NBR 13276/2016, calculado através da média das três medidas de diâmetro,
expressa em milímetro e arredondada ao número inteiro sucessor. A argamassa para o estudo
deve ser preparada e misturada seguindo as determinações da norma ABNT NBR 16541 e os
ensaios são realizados através do aparelho de mesa para índice de consistência, uma forma
troncônica, mostrado nas figuras 10 a 13.
32

Figura 10 – Mesa para Índice de Consistência

Fonte: Solotest (2020).

Figura 11 – Argamassadeira utilizada para formação da argamassa.

Fonte: Autor (2022).


33

Figura 12 – Mesa utilizada para medir a consistência da argamassa.

Fonte: Autor (2022).

Figura 13 – Forma trocônico utilizado no ensaio.

Fonte: Autor (2022).


34

4. RESULTADOS

4.1. COLETA DO RCD E COMPOSIÇÃO DOS TRAÇOS DE ARGAMASSA

Para iniciar as análises dos experimentos foram retiradas amostras de RCD da obra de
demolição do antigo Centro de Convenções de Fortaleza, capital do Ceará. Para isso, utilizando
a retroescavadeira adaptada com mordedor hidráulico foi realizada a demolição por completo,
conforme a Figura 14, e em seguida, os resíduos foram transportados para um pulverizador de
grande potência para triturar o concreto e formar o Resíduos de Construção e Demolição como
mostra a Figura 15. Após toda a execução e a etapa de trituração da demolição, conforme Figura
16, os materiais foram coletados para fins de pesquisas no laboratório da Universidade de
Fortaleza.

Figura 14 – Retroescavadeira adaptada com mordedor hidráulico.

Fonte: Autor (2022).


35

Figura 15 – Pulverizador para trituração do concreto.

Fonte: Autor (2022).

Figura 16 – RCD após o processo de tritura.

Fonte: Autor (2022).

Após isso, o material a ser usado para estudo foi levado para o laboratório para a
secagem na estufa a 110ºC para retirada de toda a umidade do agregado miúdo,
apresentado na Figura 17. Foi então realizado o ensaio de consistência com a finalidade de
determinar o traço da argamassa a ser utilizado nesse estudo. Para isso, o traço da argamassa de
referência foi tomado como base de acordo com a quantidade de água necessária para que o
espalhamento estivesse dentro do padrão estipulado, considerando o espalhamento em 165mm
+- 5mm.
36

Figura 17 – Processo de secagem do RCD na estufa.

Fonte: Autor (2022).

Após as análises das proporções dos materiais que compõe o traço, foi definido o traço
da argamassa de referência sendo composta de 312g de cimento, 936g de areia e 148g de água.
Após a pesagem desses elementos, foram colocados em uma argamassadeira automática e
misturado por um tempo de 240 segundos até a formação da argamassa. Com isso, iniciou-se o
ensaio de determinação da consistência.
O Quadro 03 exibe as composições e quantidades de materiais compostos nos traços
desse estudo sendo eles, referência, traço com 25% de substituição, 50% e 100%
respectivamente.

Quadro 03 – Composição dos traços de argamassa


Traço Composição (g)
- Cimento Areia RCD Água Fibra
Ref. 312 936 - 148 -
T25 312 702 234 148 1,56
T50 312 468 468 148 3,12
T100 312 - 936 148 4,68
Fonte: Autor, 2022.
37

4.1.1. TRABALHABILIDADE DA ARGAMASSA

Conforme a ABNT NBR 13276/2016, utiliza-se a mesa de consistência para a


realização das medições em milímetros do espalhamento da argamassa. Logo após a preparação
da argamassa, o material é despejado em um molde troncônico dividido em 3 camadas, com
alturas aproximadas, e em seguida são realizados golpes divididos em 3 camadas com 15, 10 e
5 golpes respectivamente. Após essa etapa, são realizadas 30 quedas padronizadas em 30
segundos para prosseguir com as medições utilizando paquímetro ou régua metálica após o
espalhamento da argamassa e assim ser possível realizar a média das 3 medidas realizadas para
cada ensaio.

4.1.2. ARGAMASSA DE REFERÊNCIA

Utilizando o traço 1:3:0,47 como referência, se deu início aos ensaios para analisar a
trabalhabilidade da argamassa nos 3 tempos determinados. Para isso, foram separados e pesados
os materiais e transportado para a argamassadeira para a preparação. Após a mistura e a
moldagem no molde troncônico, foram realizadas as medidas da argamassa no tempo inicial,
conforme a Figura 18.
38

Figura 18 – Espalhamento da argamassa de referência.

Fonte: Autor (2022).

Realizado as medições, a argamassa é colocada na cuba, misturado manualmente e


novamente feito a moldagem para verificar a trabalhabilidade após 5 minutos e após 10 minutos
seguindo o mesmo procedimento. O Quadro 04 apresenta as medidas encontradas utilizando o
material de referência.

Quadro 04 – Medidas do espalhamento do traço de referência.


Tref M1 M2 M3 Mméd
Medidas (mm) tempo inicial 166 167 164 165,7
Medidas (mm) após 5 minutos 160 165 163 162,7
Medidas (mm) após 10 minutos 159 162 159 160,0
Fonte: Autor (2022).

Pode-se notar que, sendo possível essas proporções a argamassa possui uma boa
trabalhabilidade, visto que seu espalhamento no tempo inicial, 5 minutos e 10 minutos após,
ficaram dentro dos limites de 165mm +- 5mm, sendo assim, podendo ser utilizado no dia a dia
das obras.
39

4.1.3. TRAÇO COM 25% DE SUBSTITUIÇÃO E ADIÇÃO DA FIBRA DO COCO

Nesse traço foi substituído 25% do agregado miúdo natural por Resíduos de
Construção e Demolição – RCD e adicionado 1,56g de fibra do coco sendo determinado assim
o traço de 1:2,25:0,47:0,75:0,005. Em seguida, inicia-se a preparação da argamassa e
direcionando-se para a mesa de consistência para a moldagem e posteriormente poder ser
efetuado as medições novamente e observado a trabalhabilidade no tempo inicial, após 5
minutos e 10 minutos, respectivamente. A seguir, a Figura 19 representa o estado do
espalhamento no tempo inicial, seguindo o Quadro 05 onde são inseridas as medidas
encontradas nos tempos determinados.

Figura 19 – Espalhamento da argamassa com 25% de substituição por RCD.

Fonte: Autor (2022).

Quadro 05 – Medidas do espalhamento do traço com 25% de substituição.


T25 M1 M2 M3 Mméd
Medidas (mm) tempo inicial 145 144 142 143,7
Medidas (mm) após 5 minutos 146 142 145 144,3
Medidas (mm) após 10 minutos 144 141 141 142,0
Fonte: Autor (2022).
40

Para esse traço é possível notar que no tempo inicial a argamassa apresentou
visualmente um estado mais seco, necessitando assim de uma maior adição de água, visto que
as medidas todas ficaram abaixo do limite estipulado nesse estudo, portanto, não possui uma
boa trabalhabilidade.

4.1.4. TRAÇO COM 50% DE SUBSTITUIÇÃO E ADIÇÃO DA FIBRA DO COCO

Nesse traço foi substituído 50% do agregado miúdo natural por Resíduos de
Construção e Demolição – RCD e adicionado 3,12g de fibra do coco e sendo possível realizar
o ensaio de consistência conforme a figura 20 ficando determinado assim o traço de
1:1,5:0,47:1,5:0,01.

Figura 20 – Espalhamento da argamassa com 50% de substituição por RCD.

Fonte: Autor (2022).

Pode-se notar também que ao realizar a substituição do agregado miúdo por RCD em
50%, a argamassa fica em estado “esfarelado”, dificultando ainda mais as medições desse
41

ensaio e consequentemente apresentando uma trabalhabilidade ruim tanto no tempo inicial


quanto ao longo do tempo. A seguir, o Quadro 06 mostra as medidas encontradas para esse traço
utilizado no ensaio.

Quadro 06 – Medidas do espalhamento do traço com 50% de substituição.


T50 M1 M2 M3 Mméd
Medidas (mm) tempo inicial 124 120 125 123,0
Medidas (mm) após 5 minutos 126 125 124 125,0
Medidas (mm) após 10 minutos 131 125 126 127,3
Fonte: Autor (2022).

Levando em conta que a média padrão do espalhamento é de 165,0mm +- 5,0mm, o


traço com 50% de substituição apresentou um valor muito fora da média, tendo
aproximadamente 40mm abaixo em relação ao traço de referência e 2 vezes mais em relação a
substituição de apenas 25% do agregado miúdo.

4.1.5. TRAÇO COM 100% DE SUBSTITUIÇÃO E ADIÇÃO DA FIBRA DO COCO

Nesse traço foi realizado a substituição total do agregado miúdo natural por Resíduos
de Construção e Demolição – RCD e adicionando 4,68g de fibra do coco e assim podendo
realizar o ensaio de consistência conforme a figura 21, ficando determinado assim o traço de
1:0,47:3,0:0,015.
42

Figura 21 – Espalhamento da argamassa com 100% de substituição por RCD.

Fonte: Autor (2022).

Para esse ensaio utilizando o traço que foi substituído totalmente o agregado miúdo
natural por Resíduos de Construção e Demolição e utilizado 3 vezes mais fibra do coco em
relação ao traço com substituição de apenas 25% do agregado miúdo. No Quadro 07, foi
possível enfatizar que não houve nenhuma medição no tempo inicial, 5 minutos e 10 minutos
respectivamente.

Quadro 07 – Medidas do espalhamento do traço com 100% de substituição.


T100 M1 M2 M3 Mméd
Medidas (mm) tempo inicial - - - -
Medidas (mm) após 5 minutos - - - -
Medidas (mm) após 10 minutos - - - -
Fonte: Autor (2022).

É possível notar que esse traço não tornou possível suas medições pelo estado mais
“esfarelado” e muito seco, visualmente era notório que o RCD suga muita água onde apresentou
muitas fissuras na argamassa ainda no tempo inicial. No quadro 08, apresenta um resumo das
médias obtidas para os traços de referência, 25%, 50% e 100% de substituição do agregado
miúdo natural por RCD no tempo inicial, 5 minutos e 10 minutos.
43

Quadro 08 – Resumo das médias encontradas no Ensaio de Consistência.


Tref M1 M2 M3 Mméd
Medidas (mm) tempo inicial 166 167 164 165,7
Medidas (mm) após 5 minutos 160 165 163 162,7
Medidas (mm) após 10 minutos 159 162 159 160,0
T25 M1 M2 M3 Mméd
Medidas (mm) tempo inicial 145 144 142 143,7
Medidas (mm) após 5 minutos 146 142 145 144,3
Medidas (mm) após 10 minutos 144 141 141 142,0
T50 M1 M2 M3 Mméd
Medidas (mm) tempo inicial 124 120 125 123,0
Medidas (mm) após 5 minutos 126 125 124 125,0
Medidas (mm) após 10 minutos 131 125 126 127,3
T100 M1 M2 M3 Mméd
Medidas (mm) tempo inicial - - - -
Medidas (mm) após 5 minutos - - - -
Medidas (mm) após 10 minutos - - - -
Fonte: Autor (2022).

Conforme mencionado no quadro 08, todos os traços com exceção da substituição


100% do agregado miúdo natural que não foi possível obter a média, pode-se notar que a média
foi decrescendo mediante foi aumentando o tempo em aberto e com isso sua trabalhabilidade
vai perdendo a qualidade. Enfatizando que, somente o traço de referência foi sucessivo em
manter dentro do limite estipulado para os 3 tempos abordados no estudo.
44

5. CONCLUSÃO

Visando a busca de novos materiais que possam serem integrados no dia a dia das
obras, realizando a substituição de agregados naturais por agregados reciclados para suprir a
demanda desses materiais foi possível alcançar os objetivos determinados quanto aos resultados
da sua trabalhabilidade, e assim pode-se concluir que o RCD juntamente com a fibra do coco
não apresentou uma boa trabalhabilidade, uma vez que os ensaios realizados no laboratório
apresentaram que esses materiais reciclados não possui capacidade de substituição do agregado
miúdo natural, como a areia grossa.
Ademais, esse estudo teve como objetivo equiparar a trabalhabilidade da argamassa
de referência com argamassas havendo substituição de 25%, 50% e 100% do agregado natural
por reciclado e adicionando a fibra do coco e podendo chegar aos resultados acerca dos
parâmetros utilizados.
Quanto ao ensaio do Índice de Consistência realizado, no qual é o principal ensaio para
a obtenção da trabalhabilidade de argamassa, os valores encontrados demonstraram que ao
substituir em 3 proporções determinados para a preparação da argamassa, além de ficarem fora
do padrão definido, apresentaram um estado seco, fissurado, sendo necessário uma maior
adição de água e consequentemente não tendo uma boa trabalhabilidade.
Pode-se perceber que o agregado reciclado utilizado para estudo possui partículas
muito fino em comparação ao agregado miúdo natural utilizado, e sendo assim, juntamente com
a fibra de coco que é um material muito leve e retém muito líquido, com o aumento das
quantidades dos mesmos, ambos os materiais são prejudiciais na mistura e formação da
argamassa utilizado para esses estudos por demandar uma grande quantidade de água.
Portanto, fica a sugestão para estudos futuros a substituição do agregado miúdo por
RCD em menores proporções em comparação ao estudo realizado e consequentemente uma
menor porcentagem de adição da fibra do coco, visto que, por serem materiais finos esses
demandam uma maior quantidade água em comparação ao traço de referência.
45

REFERÊNCIAS

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Classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13276: Argamassa para


assentamento e revestimento de paredes e tetos – Determinação do índice de consistência. Rio
de Janeiro: ABNT, 2016.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9778: Argamassa e


concreto endurecidos – Determinação da absorção de água, índice de vazios e massa
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46

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