Você está na página 1de 58

AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE DE MATERIAIS GEOSSINTÉTICOS NO

REFORÇO DE SOLOS MOLES

Caso de estudo: Bairro Estoril-Cidade da Beira

Santos Sérgio Bridge

PROJECTO DE PESQUSA: ENGENHARIA CIVILUNIVERSIDADE ZAMBEZE

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

BEIRA

2022
SANTOS SÉRGIO BRIDGE

AVALIAÇÃO DA APLICABILIDADE DE MATERIAIS GEOSSINTÉTICOS NO


REFORÇO DE SOLOS MOLES

Caso de estudo: Bairro Estoril - Cidade da Beira

Trabalho de conclusão de curso apresentado no


curso de Engenharia civil da Universidade
Zambeze - Faculdade e Ciências e Tecnologia da
Beira, como requisito para obtenção do título de
Licenciatura em Engenharia Civil, sob orientação
do Prof. Dr. Albano Maparage.

Orientador: PhD. Albano Maparage

BEIRA

2023
DECLARAÇÃO

Eu, SANTOS SÉRGIO BRIDGE declaro que esta Monografia é resultado do meu próprio trabalho e
está a ser submetida para a obtenção da Licenciatura em Engenharia Civil na Universidade Uni-
Zambeze.

Ela não foi submetida antes para obtenção de nenhum grau ou para avaliação em nenhuma outra
universidade.

____________________________________

(Santos Sérgio Bridge)

Beira, ___ de _________________ de 202__


AGRADECIMENTOS
+ Em primeiro lugar agradecer a Deus pela força e bênçãos que ele me concedeu durante o percurso da
minha caminhada.
Agradecer a minha mãe pelo esforço despendido de modo a tornar possível a minha formação, mesmo
com falta de condições ela não deixava que nada me pudesse faltar.
Agradecer aos meus irmãos e a minha família pela força, motivação, patrocínio, paciência e
encorajamento, para que a minha caminhada académica fosse possível.
Aos docentes que durante as aulas esforçaram-se em transmitir os conhecimentos que hoje os detenho
através da sua formação.
Ao meu supervisor Prof. Doutor Eng. Albano Maparage.
Aos meus amigos (B25) e colegas de carteira que de forma direta ou indiretamente contribuíram para
que o meu sonho se tornasse uma realidade.

Khanimambo.
Em memória do meu pai e irmã
Sérgio Tomé F. Bridge e Filomena Santos Bridge
Epígrafe

“Nossas virtudes e nossos defeitos são inseparáveis,


assim como a força e a matéria. Quando se
separam o homem deixa de existir.”

Nikola Tesla
Índice
I. Introdução...................................................................................................................... 11

II. Problema de pesquisa ................................................................................................ 12

III. Justificativa............................................................................................................ 13

IV. Hipóteses ................................................................................................................... 13

V. Objectivos da pesquisa .................................................................................................. 14

Estrutura da Monografia ........................................................................................................ 15

CAPÍTULO 1......................................................................................................................... 16

Revisão bibliográfica ......................................................................................................... 16

Introdução ..................................................................................................................... 16

1.1 GEOSSINTETICOS .................................................................................................... 16

Breve histórico .............................................................................................................. 16

Definição ....................................................................................................................... 17

Matérias-primas e suas propriedades ............................................................................ 18

Classificação dos polímeros quanto a sua natureza ...................................................... 18

Geossintéticos e suas principais aplicações .................................................................. 19

Geossintéticos voltados a area de reforço .................................................................... 24

Geotêxtil ........................................................................................................................ 24

Geogrelhas .................................................................................................................... 25

O CONCEITO DE REFORÇO DE SOLO ....................................................................... 27

Introdução ..................................................................................................................... 27

Influência da compactação no comportamento de maciços reforçados ........................ 31

Acção do reforço em uma estrutura de solo reforçado.................................................. 35

Mecanismo de interação solo-reforço................................................................................ 40

Aspectos Relativos aos reforços – Factores de Redução .............................................. 45

FATOR DE REDUÇÃO DEVIDO A DEFORMAÇÕES POR FLUÊNCIA ............... 47

Fator de Redução Devido a Emendas. .......................................................................... 49

Fator de Redução Devido a Danos Mecânicos.............................................................. 49

ASPECTOS RELATIVOS AOS SOLOS ..................................................................... 51


RIGIDEZ RELATIVA SOLO-REFORÇO................................................................... 52

APLICAÇÕES DE REFORÇOS GEOSSINTÉTICOS EM OBRAS GEOTÉCNICAS


...................................................................................................................................................... 53

Muros e taludes reforçados em geogrelhas. .................................................................. 54

Aterros sobre solos moles. ............................................................................................ 56

CAPíTULO 2 ......................................................................................................................... 57

CASO DE ESTUDO (CIDADE DA BEIRA – Estoril) .................................................... 57

Referências Bibliografia ........................................................................................................ 58


Índice de ilustrações

Figura 1 Classificação dos polímeros quanto a sua natureza fonte (LOPES; BARROSO;
NEVES, 2020)....................................................................................................................................... 19
Figura 2 muralha da china, construida em 250 a.c, comm 7.200km de extensão, contém trechos
de solo reforçado. fonte (www.renovacaoli.com) apud (LIMA, 2016)................................................. 20
Figura 3 - Arranjo estrutural dos geotêxteis (fonte BENJAMIM, 2006). .............................. 24
Figura 4 interação da geogrelha como solo envolvente. (fonte BENJAMIM (2006))........... 26
Figura 5 comparação de custo fonte (DER (1986) apud BENJAMIM (2006)). .................... 28
Figura 6 Ilustração gráfica comparando a deformação de um solo sem material de reforço com
um solo reforçado (adaptada de MACCAFERRI, 2014) APUD (LIMA, 2016) ................................... 30
Figura 7 Experimento empírico para ilustrar o conceito de reforço de solo. ........................ 31
Figura 8 Curvas de compactação para diferentes tipos de solos adaptado de (Seyão, Sieira, &
Santos) ................................................................................................................................................... 32
Figura 9 Estado físico de misturas solo-agregado adaptado de (SOUZA JUNIOR, 2005) apud
(MACCAFERRI, 2009) ........................................................................................................................ 33
Figura 10 Compatibilidade de deformação considerando as tensões induzidas por efeito da
compactação (MACCAFERRI, 2009) .................................................................................................. 34
Figura 11 distribuições da máxima tensão em cada camada de reforço com a profundidade por
efeito da compactação (modificado de EHRLICH & AZAMBUJA, 2003) apud (MACCAFERRI, 2009).
............................................................................................................................................................... 35
Figura 12 - reforço de um elemento nde solo fonte (BENJAMIM, 2006)............................. 36
Figura 13 taludes com reforço e sem reforço fonte (BENJAMIM, 2006). ............................ 37
Figura 14 Elemento de ruptura idealizado fonte (BENJAMIM, 2006) ................................. 37
Figura 15 - Resistência ao cisalhamento vs orientação ao reforço fonte: (JEWELL, 1996) apud
(BENJAMIM, 2006) ............................................................................................................................. 38
Figura 16 Diagrama de compatibilidade de deformação para o equilíbrio em solo reforçado
fonte (JONES, 2000) apud (BENJAMIM, 2006). ................................................................................. 39
Figura 17 - Diagrama de compatibilidade de deformação para o equilíbrio de uma argila
plástica reforçada fonte: BENJAMIM, (2006) ...................................................................................... 40
Figura 18 - Representação das zonas ativa e resistente jusante com o comprimento inserido na
zona activa (Lr) e o de ancoragem (Le). Fonte (BENJAMIM, 2006). .................................................. 41
Figura 19 - Analise da estabilidade externa Fonte (Jewell, 1991) apud (BENJAMIM, 2006).
............................................................................................................................................................... 42
Figura 20 - Ábaco para a determinação da força de tracção no reforço fonte
(LESHCHINSCKY & BOEDEKER, 1989) apud (BENJAMIM, 2006). ............................................. 43
Figura 21 - Reorientação da força de tracção no reforço fonte (BENJAMIM, 2006). .......... 44
Figura 22 Mobilização de Tensões em Massa de Solo Reforçado (Ehrlich e Mitchell, 1994)
apud (MACCAFERRI) ......................................................................................................................... 53
Figura 23 Esquema sintetizado de uma estrutura reforçada com geogrelhas (MACCAFERRI,
2009) ..................................................................................................................................................... 55
Figura 24 Modos de ruptura de uma estrutura de contenção em solo reforçado fonte
(MACCAFERRI, 2009) ........................................................................................................................ 55
Figura 25 Mecanismos de estabilidade de reforço de base de aterro sobre solo mole (adaptado
de PALMEIRA, 2002) apud (Seyão, Sieira, & Santos) ........................................................................ 56

Índice de tabelas
Tabela 1. Funções dos geossintéticos em obras Geotécnicas (Vertematti, 2004) apud (LIMA,
2016) ..................................................................................................................................................... 21
Tabela 2. Principais polímeros utilizados na fabricação dos geossintéticos Adaptado de
(VERTEMATTI, 2004) apud (LIMA, 2016) ........................................................................................ 22
Tabela 3. vantagens e desvantagens dos principais polimeros adotados na fabricacao dos
geossinteticos adaptado de (VERTEMATTI, 2004) Apud (LIMA, 2016). .......................................... 23
Tabela 4 Fatores de Redução em Função do Tipo de Aplicação para Geotêxteis e Geogrelhas
(Adaptado de Koerner, 1998) apud (MACCAFERRI, 2009) ............................................................... 46
Tabela 5 de Redução em Função do Tipo de Polímero (Adaptado de Vidal et al, 1999) apud
(MACCAFERRI, 2009) ........................................................................................................................ 47
Tabela 6 apresenta faixas de valores para o fator de redução por dano mecânico em função da
CAPACIDADE DE sobrevivência do geossintético e da severidade do ambiente de instalação adaptado
de (MACCAFERRI, 2009) ................................................................................................................... 49
Tabela 7 Critério para Classificação da Capacidade de Sobrevivência de Geossintéticos
(Adaptado de Azambuja, 1994). ........................................................................................................... 50
Tabela 8 Classificação da Severidade do Meio (Allen 1991, citado por Azambuja 1999) apud
(MACCAFERRI, 2009) ........................................................................................................................ 51
I. Introdução

A fundação é o elemento de transição entre a edificação e o solo. É definida como sendo o


conjunto constituído pela infra-estrutura e o maciço solo, com ênfase para o solo por ser um elemento
mais fraco e complexo. A fundação é na realidade a interação solo/estrutura, cuja finalidade precípua é
a de transferir a carga da infra-estrutura para o terreno.

Actualmente, por conta da escassez de áreas que ofereçam condições condignas para a
construção e execução de fundações e para salvaguardar o meio ambiente levou a maior utilização de
áreas problemáticas para fins de construção. Deste modo, a construção surge em locais onde os solos
não possuam uma boa capacidade de suporte a necessidade da execução de estruturas de fundação.

É certo que um projecto de fundação deve considerar todas as variáveis envolvidas no


problema e a partir delas determinar o tipo de elemento a usar, para transmitir a carga da superestrutura
para o solo. Dependendo do tipo de elemento de fundação terremos as seguintes denominações:
Fundações Superficiais ou Rasas e Fundações profundas intermediarias.

Fundações superficiais (rasas ou directas): são aquelas cujo a profundidade é menor ou igual
1.5 vezes a menor dimensão ou diâmetro da base e não são capazes de transferir cargas por atrito lateral.

Fundações profundas (indirectas): são aquelas que cujo a profundidade é maior ou igual a
4vezes a menor dimensão ou diâmetro da base e são capazes de transferir a carga por atrito lateral.

As fundações profundas deixando o facto de serem dispendiosas, “envolvem custos


avultados”, elas têm uma série de inconvenientes do ponto de vista constructivo, tempo de execução e
equipamentos sofisticados. São executadas em grandes profundidades de escavação e dependendo do
método utilizado aumenta os riscos aos trabalhadores em obra.

Para as considerações acima citadas, notou-se a importância de criação de uma solução


alternativa em que se elevando/aumentando a capacidade de suporte do solo, fosse possível reduzir a
estrutura de fundação. Actualmente com a criação de materiais poliméricos pode-se sanar essas
dificuldades. Nos últimos tempos foram criados os matérias geossintéticos que ajudam a vencer essas
dificuldades.

A inclusão de materiais geossintéticos como reforço pode viabilizar a utilização de fundações


rasas para cargas consideradas excessivamente elevadas para determinados solos, tornando assim uma
solução simples e viável. Geossintéticos são uma família de materiais sintéticos empregados em
engenharia. Devido a sua versatilidade e ao crescente número de novos produtos, sua inserção em obras
geotécnicas cresceu enormemente.

11
O uso de geossintéticos em um maciço de solo compactado tem como principal objetivo o
aumento da resistência e a diminuição da compressibilidade do material formado. O uso de solo
compactado com geossintéticos se justifica em vista da facilidade de aplicação, rapidez de construção e
redução significativa de custos em comparação com as soluções convencionais.

II. Problema de pesquisa

Nos últimos tempos temos acompanhado uma série de eventos indesejados seja em obras
viárias, edifícios, pontes. Os eventos catastróficos podem variar de mais fracos aos mais fortes, como
por exemplo: Fissuramentos por conta de recalques diferenciais até mesmo o desabamento da estrutura.

O sector da construção é muito vasto, e sendo vasto traz consigo uma serie de soluções para a
contenção solos, como por exemplo a terra armada, solos grampeados, solos envelopados até mesmo
murros de contenção. Cada uma dessas técnicas traz consigo um determinado tipo de material, geometria
e até mesmo um(a) processo/técnica construtivo(a) diferenciado(a), porém são desenvolvidas para o
memo fim.

. Quando construímos a primeira camada de aterro sobre um solo mole ele poderá sofrer com
assentamentos diferenciados.

A estrutura de reforço de solos moles tem como propósito garantir a segurança da estrutura a
ser empregue no local e também de restringir as deformações nos maciços.

Questão-Problema: A inclusão de matérias geossintéticos pode viabilizar a utilização de


fundações rasas de modo a aumentar a capacidade de carga do solo do bairro residencial “Estoril-Beira”?

12
III. Justificativa

Os materiais geossintéticos oferecem soluções econômicas e tecnicamente avançadas em obras


de terra e fundações. O uso de materiais geossintéticos significa menor volume de transporte de solos e
melhor relação custo benefício. Isso acontece por ser uma alternativa viável frente a soluções como
substituição de camadas espessas de aterro. Para as fundações superficiais, esses materiais trabalham de
modo a melhorar o suporte do solo.

Embora várias pesquisas tenham mostrado o efeito benéfico do emprego de geossintéticos,


nesse tipo de aplicação, os resultados esperados tem praticamente se restringido aqueles obtidos em
laboratório, particularmente em ensaios em modelos.

Além da capacidade de suporte, a limitação de recalques é de vital importância para a


segurança e a operabilidade de uma construção assente em fundações directas.

IV. Hipóteses

Fazer uma avaliação do emprego dos materiais geossintéticos na vertente do reforço de solos
moles para fins de aumento da capacidade de carga de carga do solo.

13
V. Objectivos da pesquisa
Objectivo Geral

Avaliar o emprego dos materiais geossintéticos no reforço dos solos moles para o aumento de
resistência e diminuição da deformação do maciço de fundação para fins de redução de custos de
execução de infra-estrutura, daí expor a importância da utilização dos geossintéticos no aumento da
capacidade de carga em solos.

Objectivos específicos

O presente trabalho tem por objetivos específicos os seguintes:

• selecionar os materiais de reforço a serem utilizados;


• avaliar o comportamento mecânico dos materiais de reforço em meio a solos moles;
• efetuar o dimensionamento de maciços de fundação “fundações rasas” considerando os aspectos
internos e externos
• apresentar o arranjo final juntamente com o levantamento de custos do projecto.

14
Estrutura da Monografia
A presente monografia será dividida em dois Capítulos que são:

Introdução

A parte introdutória do trabalho se apresenta da seguinte forma: resumo, a introdução, a justificativa, a


problemática, os objetivos gerais e específicos, as hipóteses “proposta” e a metodologia que será usada.

Captulo 1

O primeiro capítulo fará uma breve apresentação da fundamentação teórica referentes ao tema em
estudo.

Capítulo 2

Logo após a realização da revisão da literatura da bibliografia no capítulo I, será apresentado o local de
estudo e a solução para o problema em questão,

15
CAPÍTULO 1

Revisão bibliográfica

Introdução
Os materiais geossintéticos são produtos industrializados poliméricos (sintéticos ou naturais),
cujas propriedades contribuem para melhoria de obras geotécnicas, nas quais eles desempenham
principalmente funções de: reforço, filtração, drenagem, proteção, separação, controle de fluxo
(impermeabilização) e controle de erosão superficial – a definição está em concordância com a norma
NBR12553.

A grande versatilidade destes produtos, com propriedades especificas como, por exemplo,
elevada rigidez, vem permitindo resolver problemas complexos, seja pelos altos custos de uma proposta
convencional ou pela amplitude das solicitações ou das restrições impostas. Assim, sua presença tem se
tornado indispensável em muitas obras geotécnicas da actualidade. Além disso, sua instalação é, na
maioria das vezes, rápida e simples.

Os principais materiais geossintéticos são: geotêxteis, geogrelhas, geomembranas,


geocompostos, geocélulas, entre outros. Apesar das várias aplicações dos diferentes tipos de
geossintéticos, este trabalho se concentrara em um produto voltado para o reforço, que são as geogrelhas.

As geogrelhas são materiais geossintéticos usados em reforço e estão sujeitos a solicitações


mecânicas, desde a fase de instalação e construção, seja durante a vida útil da obra. Nessa função, a
principal propriedade característica requerida é a resistência a tracção. A resistência ao arrancamento e
a resistência ao cisalhamento directo são as propriedades do sistema solo-reforço. O comportamento de
longo prazo é estimado a partir do ensaio em fluência, danos de instalação e ataques químicos.

1.1 GEOSSINTETICOS

Breve histórico

Na perspectiva de Lopes, Barroso e Neves (2020), as primeiras utilizações de materiais geossintéticos


datam dos finais dos anos 50. Nas ultimas sete décadas, o sucesso destes materiais tem vindo a aumentar,
repercutindo-se não só no número e diversidade de campos de aplicação, mas também em termos de

16
importância do papel que tem vindo a desempenhar em inúmeras obras de engenharia civil,
conquistando cada vez mais a aceitação de projetistas, empreiteiros e donos de obra.

Os materiais geossintéticos revolucionaram muitos aspectos da prática de engenharia e em muitas


aplicações substituíram inteiramente os materiais de construção tradicionais, permitindo aumentar
significativamente o fator de segurança, melhorar o comportamento das obras e reduzir os custos de
construção e manutenção. (LOPES; BARROSO; NEVES, 2020).

Definição
De forma sucinta, entende-se por geossintético o produto polimérico para o uso em obas geotécnicas e
de proteção ambiental. Em sua concepção mais abrangente, inclui os produtos de polímeros
manufacturados ou naturais, embora os primeiros predominem na maioria das aplicações,
particularmente naquelas que requerem elevado tempo de vida útil. Esses produtos podem ser utilizados
em uma grande variedade de problemas geotécnicos, tais como reforço (estruturais de contenção, taludes
íngremes ou aterros sobre solos moles) ou estabilização de solos, drenagem e filtração, barreiras para
fluidos e gases, controle de erosão, barreira de sedimentos, proteção ambiental, etc. (PALMEIRA,
2018).

Segundo Lopes, Barroso, & Neves, (2020) “Geossintético” é um termo genérico para descrever um
material, em que pelo menos um dos seus componentes é fabricado a partir de um polímero sintético,
na forma de folha, tira ou estrutura tridimensional, utilizado em contacto com o solo ou outros materiais
em obras de engenharia civil.

Segundo Batista (2004) A grande versatilidade destes produtos, com propriedades específicas como, por
exemplo, elevada rigidez, vem permitindo resolver problemas complexos, seja pelos altos custos de uma
proposta convencional ou pela amplitude das solicitações ou das restrições impostas. Assim, sua
presença tem se tornado indispensável em muitas obras geotécnicas da atualidade. Além disso, sua
instalação é, na maioria das vezes, rápida e simples.
Os principais tipos de geossintéticos são: geotêxteis, geogrelhas, geomembranas, geocompostos,
geocélulas, entre outros. Apesar das inúmeras aplicações dos diferentes tipos de geossintéticos, este
trabalho se concentrará nos produtos voltados para o reforço, que são os geotêxteis e as geogrelhas.
Os geossintéticos usados em reforço estão sujeitos a solicitações mecânicas, seja na fase de instalação e
construção, seja durante a vida útil da obra. Nessa função, a principal propriedade característica
requerida é a resistência à tração. A resistência ao arrancamento e a resistência ao cisalhamento direto
são as propriedades do sistema solo-reforço. O comportamento de longo prazo é estimado a partir do
ensaio em fluência, danos de instalação e ataques químicos. (BATISTA, 2004).

17
Matérias-primas e suas propriedades

Segundo Lopes, Barroso, & Neves (2020), na sua definição de geossintéticos foi referido que na sua
constituição faziam parte “polímeros Sintéticos”. A palavra polímero tem origem grega: poli (muitos) e
mero (partes: unidade de repetição). Assim, os polímeros são macromoléculas compostas por dezenas
de milhares de moléculas (chamadas monômeros) repetidas, ligadas entre si quimicamente. A forma
como essa ligação é conseguida tem nome de polimerização.

O polímero pode ser conseguido a partir da repetição de um só tipo de monômero (homopolímero) ou


de dois (copolímero) ou três (terpolímero) monômeros diferentes. Normalmente os geossintéticos são
homopolímeros.

A forma (aleatória, alternada, por blocos, ramos, etc.) como se dá essa repetição é que define as
propriedades do polímero resultante.

O grau de polimerização é o número de vezes que o monômero se repete, determinando assim o seu
peso molecular, com grande influência nas propriedades (por exemplo: seu aumento implica aumento
da resistência a tracção, da deformação e da resistência ao calor).

Classificação dos polímeros quanto a sua natureza


os polímeros podem ser classificados em orgânicos (derivados do petróleo) e inorgânicos (que ainda se
subdividem em minerais e metálicos).

Os polímeros orgânicos subdividem-se nos naturais transformados (por exemplo a viscose) e nos
sintéticos. Relativamente a estes últimos existem termoplásticos (polímeros suscetíveis de
repetidamente amolecer ou endurecer por acção do calor ou frio respetivamente) e os termoendurecíveis
(uma vez arrefecidos não suportam mais um novo aquecimento sem verem alteradas as suas
propriedades). Os termoplásticos incluem as poliolefinas, os vinis, os poliesters, e as polimidas.

18
Polímeros

inorgânicos Orgânicos

Naturais sinteticos

termoplastico termoendurecíveis

poliolefinas:
-Polietileno (PE) Vinis (PVC) Poliéster )PET Poliamida (PA)
-Polipropileno (PP)

Figura 1 Classificação dos polímeros quanto a sua natureza fonte (LOPES; BARROSO; NEVES, 2020).

Na fabricação de geossintético são usados polímeros termoplásticos, sendo os de uso mais corrente as
poliolefinas (polietileno e polipropileno) os vinis e os poliesters.

A estrutura molecular, o processo de produção e aditivos utilizados conferem propriedades especificas


a cada tipo de polímeros referidos para os geotêxtis e geomembranas, respetivamente. (LOPES;
BARROSO; NEVES, 2020).

Geossintéticos e suas principais aplicações


O uso de materiais para aprimorar a qualidade dos solos é uma prática comum desde alguns milênios
antes de Cristo. Solo misturado com palha, bambus, etc. em geral materiais de cunho vegetal
constituídos de fibras resistentes, foram empregados nos ziggurats, na grande muralha da china (figura
2) e em diversas obras do império romano (ABNT, 2001) Apud (LIMA, 2016).

19
Figura 2 muralha da china, construida em 250 a.c, comm 7.200km de extensão, contém trechos
de solo reforçado. fonte (www.renovacaoli.com) apud (LIMA, 2016)

Diante do contexto histórico, o uso racional da técnica se iniciou na década de 1960, com Henri Vidal,
que patenteou e desenvolveu uma metodologia para projecto de um sistema que passou a ser
denominado Terre Armée (Ehrlich, 2009, p.17) apud (LIMA, 2016).

A utilização de inclusões sintéticas no solo começou nos anos 50, com o desenvolvimento dos geotêxteis
tecidos.

Geossintético é a denominação genérica de um produto polimérico, sintético ou natural, industrializado,


cujas características contribuem para o melhoramento de obras geotécnicas, desempenhando uma ou
mais das seguintes funções: reforço, filtração, drenagem, proteção, separação, impermeabilização e
controlo de erosão superficial (VERTEMATII, 2004) apud (LIMA, 2016).

Os geossintéticos compõem um dos mais novos grupos de materiais de construção, aplicadas


corretamente em diversas obras civis, em especial na construção pesada. O termo provém da junção de
“geo”, referindo-se à terra, e “sintético”, referindo-se aos materiais poliméricos empregados na sua
fabricação (EHRLSH, 2009) apud (LIMA, 2016).

A norma brasileira NBR 12553 sobre Geossintéticos é responsável por denominar e classificar os
materiais geossintéticos. Os materiais mais conhecidos e utilizados no âmbito construído e utilizados no
âmbito construtivo são: Geotêxteis, Geogrelhas, Georredes, Geocomposto, Geomenbranas,
Geocomposto Argiloso, Geotubos, Geocelulas e o Geoexpandido.

20
Em obras de engenharia os geossintéticos podem exercer diversas funções. Neste sentido, a seleção do
tipo de geossintético é um fator crítico e determinante para eficiência do projecto. A tabela 1. demonstra
as funções de vários geossintéticos empregados em obras geotécnicas.

Tabela 1. Funções dos geossintéticos em obras Geotécnicas (Vertematti, 2004) apud (LIMA, 2016)

Aplicações

Impermeabilização
Geossintético

Drenagem
Separação

Filtração
Proteção

Reforço
Erosão
Geotêxteis X X X X X X X
Geogrelhas X - - - - X -
geomenbranas X - - - - - X
georredes - X - X - - -
Geocomposto betonílico argiloso - - - - - - X
Geocéula - X - - X X -
Geotubo - - - - - - -
Geofibras - - - - - X -

De acordo com (VERTEMATTI, 2004) apud (LIMA, 2016) a função de reforço de um geossintético
não depende apenas de um dimensionamento adequado dos esforços solicitantes de projecto, mas
também de sua peculiaridade através de valores adequados de suas propriedades relevantes. Neste
contexto, destacam-se as seguintes propriedades:

▪ Resistencia a tração, T(kn/m);


▪ Elongação sob Tração, ε (%);
▪ Taxa de deformação, ε’ (%/s);
▪ Módulo de rigidez à tração, j (kN/m);
▪ Comportamento em fluência;
▪ Resistencia a esforços de instalação;
▪ Resistencia à degradação ambiental; e
▪ Interação mecânica com solo envolvente.

21
Os geossintéticos são basicamente compostos por polímeros e, em menor proporção, por
aditivos. Os aditivos provêm melhorias nos processos de fabricação ou alteram os aspectos do
comportamento de engenharia do polímero básico. Em geral, os geossintéticos são fabricados
a partir de polímeros sintéticos, derivados de petróleo, embora algumas fibras naturais, como
o coco e o sisal possam ser empregues na fabricação de geotêxteis emantas (VERTEMATTI,
2004) APUD (LIMA, 2016).

No processo de fabricação dos geossintéticos, podem ser empregados diversos tipos de


polímeros, assim como mostra a tabela 2. De entre os mais utilizados estão o poliéster (PET),
o polietileno (PE), o Polipropileno (PP) e a poliamida (PA).

Tabela 2. Principais polímeros utilizados na fabricação dos geossintéticos Adaptado de


(VERTEMATTI, 2004) apud (LIMA, 2016)

Polímero Sigla Aplicações

Poliéster PET Geotêxtis e geogrelhas

Polietileno PE Geotêxtis, geomembranas, geogrelhas, geotubos, georredes e


geocompostos

Polipropileno PP Geotêxtis, geomembranas, geogrelhas, e geocompostos

poliamida PA Geotêxtis, geogrelhas e geocompostos

As características finais do geossintético não são diretamente relacionadas à composição


química e a estrutura do polímero empregado no processo de fabricação.

O polímero, por exemplo, polímero empregado na fabricação das geomembranas, apresenta


resistência elevada, por isso, pode ser aplicado em ambientes mais agressivos, como os aterros
sanitários. A tabela 3. retirada de (LIMA, 2016) lista as vantagens e desvantagens dos
polímeros mais aplicados na fabricação dos geossintéticos.

22
Tabela 3. vantagens e desvantagens dos principais polimeros adotados na fabricacao dos geossinteticos
adaptado de (VERTEMATTI, 2004) Apud (LIMA, 2016).

Polímero Vantagens Desvantagens

Poliéster Elevado modulo elástico; Redução das características mecânicas em


soluções fortemente alcalinas.
Deformabilidade baixa
sobre carga constante;

Custo relativamente baixo.

Polietileno Actividade química nula em Modulo elástico reduzido;


soluções acidas e básicas;
Polipropileno Deformabilidade elevada sob carga
Custo baixo. constante.

poliamida Modulo elástico elevado; Perda das características mecânicas por


permanência prolongada em água;
Resistencia à abrasão alta.
Custo elevado

O emprego dos geossintéticos nas obras civis abrange diversas áreas, sejam elas em drenagens
profundas e superficiais, canalizações, aterros sobre solos moles, pavimentação, murros de
contenção, barragens, controle de erosão, áreas verdes, áreas de esporte, reforço em fundações
e muitas outras (ABINT, 2001) apud (LIMA, 2016).

Estes materiais, principalmente os geotêxteis, tem sido bastante utilizado em diversas obras
de engenharia civil e geotécnicas. Esses artifícios apresentam ótimo desempenho, além de uma
relação custo benefício bastante satisfatória, em determinados casos, o uso desta alternativa
torna-se praticamente indispensável.

23
Geossintéticos voltados a area de reforço
Os geossinteticos voltados para o campo de reforço de solos sao nomeadamente os geotexteis
e as geogrelhas.

Geotêxtil
Na perspectiva de BENJAMIM (2006), os geotêxteis são produtos têxteis, flexíveis e porosos,
cuja principal característica relaciona-se com a sua capacidade de drenagem tanto através do plano
(permissividade) quando ao longo do mesmo (transmissividade).

Os geotêxteis são fabricados de materiais poliméricos, cuja produção deve ser considerada em
duas etapas distintas. A primeira consiste na fabricação de elementos lineares, como filamentos, fibras
ou fitas. O segundo processo consiste na combinação desses elementos lineares na confecção de
materiais planares.

Existem dois tipos diferentes de geotêxteis, tecidos e não tecidos, classificados em função de
arranjo estrutural de suas fibras figura 3. Os tecidos são compostos de dois conjuntos perpendiculares
de elementos lineares paralelos, sistematicamente entrelaçados segundo direções preferenciais com
maquinas têxteis convencionais. (BENJAMIM, 2006).

Os geotêxteis não tecidos são formados por filamentos ou fibras distribuídas aleatoriamente e
unidos para formar uma estrutura plana. Essa união pode ser realizada por entrelaçamento mecânico
com agulhas (agulhado), por fusão parcial (termoligado), com o uso de produtos químicos (resinados)
ou por reforço (reforçado). (BENJAMIM, 2006)

Figura 3 - Arranjo estrutural dos geotêxteis (fonte BENJAMIM, 2006).

24
Os geotêxteis são os geossintéticos com maior campo de actuação, possuindo uma gama de
aplicação muito grande na engenharia, não somente geotécnica, como também em outras áreas, como
estruturas e hidráulica. Como por exemplo, os geotêxteis podem ser utilizados como elementos de
separação (construção de rodovias com diferentes solos), como elemento filtrante (substituição de filtros
de areia naturais), ou até mesmo como elemento impermeável a líquidos ou vapores, quando
impregnados com asfalto.

Dentre as diversas vantagens de se utilizarem os geotêxteis com a função de reforço, podem-


se citar, como exemplo, a sua flexibilidade e facilidade de manuseá-la, boa resistência a danos mecânicos
de instalação, em especial os não tecidos, capacidade de dissipação de pressões neutras geradas durante
a compactação e , principalmente, o baixo custo de construção quando comparado com as estruturas de
arrimo convencionais.

Entretanto, os geotêxteis apresentam algumas desvantagens que, dependendo de sua aplicação


ou tamanho da estrutura, poderão inviabilizar a sua aplicação, como por exemplo, os deslocamentos que
ocorrem durante a construção que podem comprometer o alinhamento da estrutura, e a baixa resistência
à tracção da manta, quando comparada com outros elementos de reforço como, por exemplo, as
geogrelhas. (BENJAMIM, 2006)

Geogrelhas
Segundo BENJAMIM (2006) apud ABRAMENTO (1998), as geogrelhas são
materiais geossintéticos com estruturas planas com forma de grelha, em cujas aberturas se
promovem o imbricamento do solo, conforme mostra a figura 4. As geogrelhas são mais rígidas
que os geotêxteis e, portanto, seu emprego é quase que exclusivamente para reforço, embora
possam ser utilizadas em casos específicos como elemento de separação.

25
Figura 4 interação da geogrelha como solo envolvente. (fonte BENJAMIM (2006)).

As principais vantagens de se utilizarem geogrelhas, como elementos de reforço, são:


bom intertravamento com o solo, simples conexão com blocos segmentados, baixas
deformações durante a instalação de maior resistência à tracção quando comparadas com
geotêxteis. (BENJAMIM, 2006).

Poucas desvantagens limitam o uso desse material, como por exemplo, a necessidade
de se utilizar algum sistema contra erosão em conjunto com geogrelha em muros com face
envelopada. Em geral, para muros de pequenas alturas (4,0 m), as geogrelhas apresentam um
custo um pouco mais elevado do que os muros construídos com geotêxtil.

As principais aplicações das geogrelhas são em estruturas que requerem um elemento


de reforço no maciço de solo, como por exemplo, estruturas de arrimo e taludes íngremes, e
reforços sobre solos moles. Elas também podem apresentar outras funções, como reforço de
pavimento asfáltico e de fundações.

Os polímeros geralmente empregados na produção de geogrelhas são: o polietileno


de alta densidade (PEAD) e o poliéster (PET). Mais recentemente, começaram a ser produzidas
geogrelhas de fibras de vidro que, além que apresentarem um módulo de rigidez muito superior
às geogrelhas fabricadas com polímeros, praticamente eliminam o fenômeno de deformação
sob carregamento constante (fluência). (BENJAMIM, 2006).

26
O CONCEITO DE REFORÇO DE SOLO

Introdução
Na perspectiva de BENJAMIM (2006) os métodos de melhoria de solos com vista a
estabilização e a contenção de taludes têm sido objecto de inúmeras pesquisas nas últimas
décadas. Esses estudos são de suma importância, visto que os deslizamentos de terra acarretam
gastos anuais volumosos em obras de prevenção e correção, além das despesas indirectas
provenientes dos acidentes que freqüentemente ocorrem, principalmente durante os períodos
chuvosos. A construção de um muro de arrimo representa sempre um ônus no orçamento total
de uma obra. Há inúmeros casos em que essa etapa apresenta custo superior ao da própria obra.

Os principais componentes de maciços solo reforçado são o solo de aterro, os


elementos de reforço da face. Os elementos de face não possuem função estrutural, sendo
empregados com objectivo estético e para evitar instabilizações locais ou processos erosivos na
face do muro.

O processo de reforço de solo consiste em se introduzir no maciço de solo, elementos


que possuam resistência à tracção relativamente elevada (fitas metálicas, mantas de geotêxteis,
geogrelhas, malhas de aço, etc.). Em termos gerais, a estabilidade da estrutura em solo reforçado
é condicionada pela interação solo-reforço, a qual induz uma redistribuição global dos campos
de tensões e deformações no maciço.

A utilização de geossintéticos para reforço de estruturas de contenção e taludes


íngremes tem se tomado uma alternativa extensivamente utilizada. Esse sistema constitui-se na
aplicação de reforços planares e poliméricos, inseridos no maciço com um espaçamento entre
camadas definido em projecto. Esses reforços permitem a construção de taludes estáveis com
ângulos bem íngremes.

A técnica de reforço de solos por meio de inclusões de materiais sintéticos constitui,


actualmente, um dos campos mais estudados de pesquisa no âmbito da engenharia geotécnica.
O rápido desenvolvimento da tecnologia dos polímeros tem originado uma grande variedade de
materiais geossintéticos, resultando em diferentes sistemas de reforço.

As vantagens técnicas associadas ao emprego de solos reforçados são muitas, podendo


ser citadas, entre outras: os métodos simplificados de cálculo, fácil adaptação a vários tipos de
taludes e condições de solo, nãos exigem mão de obra especializada e equipamentos caros,
flexibilidade da estrutura, permitindo construções sobre solos relativamente moles ou
27
deformáveis, diversas possibilidades para o acabamento da face, sendo conveniente tanto para
centros urbanos como por exemplo, os blocos segmentados, como também em áreas de
preservação da natureza, em que a vegetação pode crescer na face da estrutura.

As vantagens técnicas são muitas, mas o que tem mais despertado a atenção de
projectistas e construtores são as vantagens econômicas associadas a esse tipo de estrutura,
quando comparadas com outras formas de contenção. Em geral, muros e taludes executados
com solos reforçados custam cerca de 30% a 50% menos do que as soluções convencionais.
Em geral, a economia aumenta com a altura da estrutura, conforme ilustra a figura 5 (DER,
1986) apud (BENJAMIM, 2006)

As vantagens econômicas são devidas a diversos fatores, como por exemplo, a


possibilidade de utilização de quase tosos os tipos de solo com a conseqüente redução da
distância de transporte do material de empréstimo e, tempo de construção. Pois não necessita
de tempo de espera para a cura do betão. (BENJAMIM, 2006).

Figura 5 comparação de custo fonte (DER (1986) apud BENJAMIM (2006)).

28
O solo reforçado é uma solução construtiva que proporciona melhorias nas características mecânicas do
maciço. De acordo com o Craig (2012, p.178) apud (LIMA, 2016) “consiste em uma massa de solo
compactado dentro do qual são embutidos elementos reforçadores”.

Em geral, os solos apresentam elevada resistência a esforços de tração.

Quando uma massa de solo é carregada verticalmente, ela sofre deformações


verticais de compressão e deformações laterais de extensão (tração). Contudo, se a
massa de solo estiver reforçada, os movimentos laterais são limitados pela reduzida
deformabilidade do reforço (maccaferri, 2014, p145). Apud (LIMA, 2016)

Segundo (MACCAFERRI, 2009), a técnica de solo reforçado consiste na introdução de elementos


resistentes a tracção, convenientemente orientados, que aumentam a resistência e diminuem a
deformabilidade do maciço. Neste método, designado reforço de solos, comportamento global do
maciço e melhorado à custa da transferência de esforços para elementos resistentes.

Os solos possuem em geral elevada resistência a esforços de tração. Quando uma massa de solo é
carregada verticalmente, ela sofre deformações verticais de compressão e deformações laterais de
extensão (tracção). Contudo, se a massa de solo estiver reforçada, os movimentos laterais são limitados
pela reduzida deformabilidade do reforço. Esta restrição de deformações é obtida graças ao
desenvolvimento de reforços de tracção no elemento de reforço.

A restrição das deformações características do solo reforçado é obtida mediante a transferência dos
esforços actuantes no maciço aos elementos resistentes. A figura 3. ilustra o princípio básico do
comportamento de um solo reforçado. Pode-se observar que a medida que tensões verticais (σ1) ou
laterais (σ3) são aplicadas no solo, é gerada uma deformação. A intensidade da deformação do maciço
figura 3.b). segundo Craig (2012) apud (LIMA, 2016), a massa de solo é estabilizada em consequência
da interação entre o solo e o reforço, onde, as tensões laterais no solo são transferidas ao material
resistente que são nele colocado sob tração.

29
Figura 6 Ilustração gráfica comparando a deformação de um solo sem material de reforço com um solo
reforçado (adaptada de MACCAFERRI, 2014) APUD (LIMA, 2016)

A figura 4 apresenta um experimento empírico que ilustra a restrição das deformações laterais que
ocorrem em uma massa de solo reforçado com elementos horizontais. Inicialmente, colocou-se areia
compactada em um copo plástico. A areia foi bem compactada, adquirindo a forma do copo, depois de
ser extraída do mesmo.

Ao ser carregado verticalmente com o mesmo copo plástico, parcialmente preenchido com areia (70%
do volume), é possível observar que o cone formado pela areia se desmorona de imediato, devido à falta
de resistência interna e restrição lateral Figura 4.b).

O mesmo experimento foi realizado reforçando a areia com 3 camadas de uma fina malha de
polipropileno (figura c). nesse caso, a areia foi compactada com a mesma umidade e energia similar ao
experimento anterior. O objetivo da introdução da malha do polipropileno consiste na restrição dos
movimentos laterais causados por um carregamento vertical externo.

Dando sequência ao experimento, aplicando-se a mesma carga vertical externa imposta por um copo de
plástico preenchido com (70%) do seu volume por areia figura 4.d). observa-se que o cone de areia,
reforçado com as malhas, mantem-se estável e é capaz de suportar a carga externa, sem romper.

Esta experiencia ilustra com clareza a didática o conceito de reforço do solo, mostrando que a introdução
de elemento sintético em uma massa de solo oferece uma resistência ao conjunto solo-reforço.

30
Figura 7 Experimento empírico para ilustrar o conceito de reforço de solo.

Influência da compactação no comportamento de maciços reforçados


A compactação de um maciço de solo pode influenciar diretamente na sua resistência, algo que depende
fundamentalmente de sua natureza. Os solos lateriticos, por exemplo em seu estado natural se
apresentam porosos e permeáveis, o que os torna na maioria dos casos colapsíeis. Toda via ao serem
compactados podem alcançar excelente resistência sob condições de baixa permeabilidade (Godoy et
al), apud (SOUZA JUNIOR, 2005).

No geral, os materiais utilizados no processo de compactação apresentam comportamento bem distinto


de acordo com sua característica granulométrica. No caso das argilas, quando compactadas, é possível
observar que no ramo seco da curva de compactação desenvolvem um arranjo de partículas que não
exibe influência marcante do tipo de compactação empregado, ao passo que, quando compactadas no
ramo úmido, são significativamente afetadas a orientação das partículas, a resistência, a permeabilidade
e a compressibilidade das argilas. Já as propriedades geotécnicas de solos não coesivos são
31
significativamente afetadas pela densidade relativa do solo. Geralmente, um aumento na sua densidade
implica em uma melhoria nas condições de resistência do solo granular, assim como reduz a sua
compressibilidade. É usual se utilizar a densidade como o único critério de especificação para a
compactação de solos não coesivos, desconsiderando-se o teor de umidade como parâmetro de controle,
em contraste ao procedimento freqüentemente empregado na compactação de solos coesivos (SOUZA
JUNIOR, 2005). O comportamento e as características de siltes e argilas compactadas são muito mais
difíceis de definir em uma determinada categoria do que o comportamento e as características dos solos
granulares. Enquanto estes ganham resistência através da compactação e do subseqüente aumento de
densidade, alguns siltes e argilas podem, em certas condições (método de compactação, teor de umidade,
etc.), apresentar uma redução de resistência após um dado aumento de densidade (CERNICA, 1995)
apud (SOUZA JUNIOR, 2005).

Solos de naturezas diferentes, quando compactados com a mesma energia, apresentam curvas de
compactação características a cada tipo de material Figura 5. As areias possuem maior densidade
máxima e menor umidade ótima do que as argilas, e estas apresentam uma curva de compactação com
um máximo bem mais definido. Já os siltes se comportam de forma intermediária (MELLO e
TEIXEIRA, 1971) apud (SOUZA JUNIOR, 2005).

Figura 8 - Curvas de compactação para diferentes tipos de solos adaptado de (Seyão, Sieira, & Santos).

(SOUZA JUNIOR, 2005) apud (MACCAFERRI, 2009), relatou que algumas características geotécnicas
em função da relação entre as porções grossa e fina de solo e agregado. A figura 5 mostra essas
características, de forma simplificada, de acordo com as condições impostas por essa relação. A
32
condição “a” representa um material sem a fracção fina. Apresenta densidade variável, alta
permeabilidade, elevada estabilidade e quando confinado, não é afetado pela condição de umidade,
meabilidade, elevada estabilidade e quando confinado, não é afetado pela condição de umidade, além
de ser difícil de compactar. A condição “b” mostra um material com finos suficientes para a densidade
máxima. O contato grão a grão produz um aumento da resistência contra as deformações. Esse material
apresenta baixa permeabilidade, relativa estabilidade em função das condições de confinamento, não é
muito afetado pelas condições de umidade e é moderadamente difícil de se compactar. Já a condição
“c” representa um material com grandes quantidades de finos. Apresenta baixa densidade,
permeabilidade e estabilidade, e é fortemente influenciada pelas condições de umidade. Nessa condição
o material é fácil de ser compactado (MACCAFERRI, 2009), apud SOUZA JUNIOR, 2005.

Figura 9 Estado físico de misturas solo-agregado adaptado de (SOUZA JUNIOR, 2005) apud
(MACCAFERRI, 2009)

As areias com pedregulhos, bem graduadas e com poucos finos, geralmente apresentam densidades
secas máximas elevadas (em torno de 2,0) e umidades baixas (de 9 a 10%). Umidades ótimas mais altas,
como 12 a 14%, com densidades secas máximas de 1,9, podem também representar as areias finas
argilosas lateríticas. Já os materiais argilosos apresentam umidades ótimas muito mais altas, sendo muito
comum 25 a 30%, e densidades secas máximas bem mais baixas, em torno de 1,5 (PINTO, 2000 apud
SOUZA JUNIOR, 2005). A compactação influencia sobremaneira o comportamento de solos
reforçados. As tensões horizontais induzidas durante a compactação podem invalidar as hipóteses
assumidas durante o projecto, pois podem exceder o valor previsto devido ao peso próprio do aterro (
(MACCAFERRI, 2009) apud (JONES, 1990). Razão pela qual se deve considerar seu efeito em
projectos.

33
Segundo (MACCAFERRI, 2009) apud (COSTA, 2004), alguns métodos (ex. BROMS, 1971;
INGOLD, 1979) permitem quantificar as tensões geradas durante a compactação em estrutura de
contenção. Com relação a deslocamentos, o acréscimo no estado de tensão em função da compactação
provoca conseqüentemente um aumento dos deslocamentos horizontais da face. A Figura 8 ilustra o
efeito da compactação nas deformações observadas nas estruturas, com base no conceito de
compatibilidade de deformação. Como mostrado na Figura 7, quando as tensões no solo induzidas pela
compactação são maiores do que as tensões pelo peso próprio, o equilíbrio é estabelecido para um valor
de deformação no reforço superior ao valor esperado sem considerar o processo de compactação.

Figura 10 Compatibilidade de deformação considerando as tensões induzidas por efeito da compactação


(MACCAFERRI, 2009)

A compactação pode representar o principal fator de influência nas tensões desenvolvidas no reforço.
Em outras palavras, a força e a deformação máxima em cada camada de reforço devem-se às tensões
resultantes do processo de compactação. A compactação determina a máxima tensão no reforço para
profundidades inferiores a c (Figura 8), a partir da qual a tensão no solo devido ao peso próprio das
camadas sobrejacentes excede a tensão induzida pela compactação. Como mostrado na Figura 9, devido
ao efeito da compactação, a distribuição da máxima tensão em cada inclusão com a profundidade pode
se apresentar diferente da distribuição esperada devido ao peso próprio da estrutura. Segundo
(MACCAFERRI, 2009) apud (EHRLICH & MITCHELL, 1994), as tensões em virtude do peso próprio
em muros de solo reforçado são inferiores às tensões ocasionadas pela compactação, geralmente, até a
estrutura atingir cerca de 6 m de altura, ou seja, zc = 6,0 m.

34
Figura 11 distribuições da máxima tensão em cada camada de reforço com a profundidade por efeito da
compactação (modificado de EHRLICH & AZAMBUJA, 2003) apud (MACCAFERRI, 2009).

Acção do reforço em uma estrutura de solo reforçado

As estruturas de solo reforçado são fundamentalmente diferentes das estruturas de


contenção convencionais que são estabilizadas externas utiliza uma parede estrutural contra a
qual são mobilizadas forças de estabilização. Um sistema de estabilização interna envolve os
reforços instalados dentro da massa de solo e estendidos além da massa potencial de ruptura.

Quando corretamente compactado, o solo desenvolve uma elevada resistência ao


cisalhamento para se tomar estruturalmente útil. Entretanto, o solo possui uma baixa resistência
a tracção. O princípio do reforço de solo se assemelha ao betão armado; em ambos os sistemas
são empregados materiais com elevada resistência à tracção para restringirem as deformações
que se desenvolvem no solo ou no betão devido ao peso próprio do material, associado ou não
a aplicação de carregamentos externos.

Enquanto que no betão armado, a transferência dos esforços para a armadura é


transmitida pela “aderência” existente na interface betão-armadura, no solo reforçado o
processo de transferência de carga se dá principalmente pelo “atrito” entre o solo e o elemento
de reforço.

A técnica de reforço de solos baseia-se na existência de um sólido mecanismo de interação entre


o solo e a inclusão. Na maioria dos casos práticos a interação por atrito requerer um solo de aterro de
boas propriedades mecânicas, em particular em termos de ângulo de atrito interno, o que implica a maior

35
adequabilidade dos solos granulares para as obras de solo reforçado (LAnz, 1992) apud (BENJAMIM,
2006).

Dentro desse sistema de transferência, mobilizando a capacidade de tracção de


elementos de reforço pouco espaçados, é removida a necessidade de uma parede estrutural.
Uma face é recomendada em um sistema de estabilização interna, mas na maioria dos casos isto
é somente para prevenir erosão e vandalismo, sem possuir função estrutural.

Os sistemas de estabilização interna possuem predominantemente elementos


horizontais de reforço, como tiras metálicas ou geogrelhas. O princípio básico do
funcionamento de um elemento de solo reforçado esta patente na figura 12. (BENJAMIM,
2006).

Figura 12 - reforço de um elemento nde solo fonte (BENJAMIM, 2006).

Extrapolando esses conceitos a uma estrutura de contenção em escala real, tem-se um


esquema como ilustrado pela figura 13, na qual são apresentados dois taludes, o primeiro sem
reforço e o segundo reforçado. No caso do talude sem reforço, quando esse atingir uma situação
crítica, ocorrerá um grande deslocamento da massa de solo levando o sistema à ruptura. Por
outro lado, uma vez que o talude possua reforços dispostos no seio do maciço, o atrito entre o
solo e o reforço gerará tensões de tracção nos reforços, que garantira a estabilidade da estrutura
pelo comprimento de ancoragem.

Se o elemento de solo não reforçado, ilustrado na figura 13.a, for girado


aproximadamente a 90º, pode-se idealizar uma caixa de cisalhamento directo, como
apresentado na figura 14.a. nessa figura, fica claro que a resistência ao cisalhamento que pode
36
se desenvolver nesta superfície de ruptura pode ser descrita pela equação 1, em que Pv é a carga
vertical atuante, ou a carga normal na superfície de ruptura em um talude sem reforço.
Entretanto, em um elemento de solo reforço, como mostrado na figura 13.b, à maneira da caixa
de cisalhamento, tem se um esquema como apresentado na figura 14.b.

Figura 13 taludes com reforço e sem reforço fonte (BENJAMIM, 2006).

Figura 14 Elemento de ruptura idealizado fonte (BENJAMIM, 2006)

P resistente = Pvtan φ (1**)

37
Do equilíbrio de forças no elemento do solo reforçado, podem ser identificados dois efeitos
benéficos na resistência ao cisalhamento da massa de solo reforçado. O primeiro consiste na redução da
força resultante de cisalhamento, tendo em vista a componente horizontal da força de tracção no reforço
(PR sen θ). O segundo consiste no aumento da força de tracção normal aplicada à superfície de
cisalhamento (PR cos θ), de tal forma que a resistência ao cisalhamento do elemento de solo reforçado
sofra um acréscimo para a presentada pela Equação 2.

Presistente = Pv tan φ + PR (sen θ + cos θ tan φ) (2***)

Estudos fundamentais mostram que o reforço é mais efetivo se estiver alinho à direção da
deformação de tracção no solo, de tal forma que a força de tracção se desenvolva no reforço com o
respeito ao plano potencial de cisalhamento (θ na figura 14.b) é a única geometria variável na equação
2 e, conseqüentemente, fica claro que a inclinação do reforço é o fator que governa a magnitude da
resistência ao cisalhamento adicional que é gerada pelo reforço. A figura 15 mostra a variação do
acréscimo de resistência com respeito ao ângulos θ e φ(ângulo de atrito interno do solo).

Figura 15 - Resistência ao cisalhamento vs orientação ao reforço fonte: (JEWELL, 1996) apud


(BENJAMIM, 2006)

38
A figura 15 mostra que a orientação óptima para o reforço é θopt =90º - φ (JEWELL, 1996).
Essa inclinação e possível de se obter para os casos dos reforços inclusos no solo in situ. Tal como a
técnica de solo pregado executada em taludes em corte, em que é possível variar a inclinação buscando
uma maior eficiência. Porém, no caso de aterros compactados, o processo construtivo determina que
esses sejam instalados na posição horizontal.

Na pratica, o grau de melhoria é extremamente dependente da magnitude da força que o


reforço (PR). Essa máxima força que o reforço pode suportar é governada, na verdade, pela interação
entre o solo e o reforço. A interação é máxima quando a máxima tensão de compressão no solo atua
perpendicularmente ao plano do reforço, resultando em menores comprimentos de ancoragem (JONES,
2000) apud (BENJAMIM, 2006).

A figura 16 apresenta um diagrama de compatibilidade bde deformação para o equilíbrio de


um elemento de solo reforçado, com a representação de duas massas de um mesmo solo reforçado por
elementos de Rigidezes diversas. (BENJAMIM, 2006).

A figura 16 mostra que as tensões horizontais no solo tendem a diminuir com a deformação,
caminhando-se da condição de repouso (Ko) para a condição ativa (Ka). Quanto ao reforço, as tensões
inicialmente nulas, aumentam com as deformações, até que o equilíbrio se estabeleça. No solo reforçado
com inclusões mais rígidas, o equilíbrio é atingido com menores deformações, e as tensões no solo e no
reforço são mais elevadas.

Figura 16 Diagrama de compatibilidade de deformação para o equilíbrio em solo reforçado fonte


(JONES, 2000) apud (BENJAMIM, 2006).

A figura acima ilustra o caso de um solo rígido como, por exemplo, areias compactadas ou
argilas normalmente adensadas. Os solos compactados de natureza argilosa podem apresentar curvas de

39
forma plástica. Nesse caso, a curva da força requerida pode ser assintótica. Como ilustra a figura 17.
Embora as deformações variem para diferentes reforços, a força requerida nos reforços será constante.

Figura 17 - Diagrama de compatibilidade de deformação para o equilíbrio de uma argila


plástica reforçada fonte: BENJAMIM, (2006)

Mecanismo de interação solo-reforço

Segundo Benjamim, (2006), o mecanismo desenvolvido em um elemento de solo reforçado


por inclusões que trabalham principalmente sob tracção é caracterizado pela mobilização é caracterizada
pela mobilização de forças de atrito (tensões de cisalhamento) ao longo do comprimento das inclusões,
resultando em uma geração de tracção é caracterizada pela mobilização de forças de atrito (tensões de
cisalhamento) ao longo do comprimento de inclusões, resultando em uma geração de forças de tracção
nos reforços (SCHLOSSER & BUHAN, 1990) apud (BENJAMIM, 2006).

Analisando-se o equilíbrio de um elemento de reforço, as tensões cisalhantes na interface solo-


reforço, relacionam-se com as tensões de tracção no reforço, pela equação 3, em que b é a largura do
reforço, l o comprimento do reforço, T o esforço de tracção e τ a tensão cisalhante na interface (VIDAL,
1966).

𝒍 𝒅𝑻
𝝉 = 𝟐𝒃 . 𝒅𝒍 (3)

A máxima tensão cisalhante τ que pode se desenvolver na interface é função da tensão normal
do elemento, do ângulo de atrito solo-reforço δ e do comprimento L. para que ocorra mobilização da
tensão cisalhante τ, é necessário que haja uma tendencia de deslocamento relativo entre o reforço e o
solo que o circunda. Entretanto, não é necessário que ocorra deslizamento na interface entre os dois
materiais.
40
Na perspectiva de Benjamim (2006) mecanismo governa a interação solo/geossintético em
uma estrutura de solo reforçado é afetado pela mobilização de resistência de atrito do solo/reforço e a
resistência passiva do solo. Esse mecanismo de interação pode ser simplificado como:

➢ Escorregamento do solo sobre o reforço (mecanismo de cisalhamento direto):


➢ Arrancamento do reforço do solo (mecanismo de arrancamento).

Ensaios de cisalhamento direto e arrancamento são usados para simular esses dois
mecanismos, respectivamente. Os ensaios de cisalhamento directo proporcionam uma relação nlocal
entre as tensões de cisalhamento e as deformações causadas pelo cisalhamento, enquanto que os ensaios
de arrancamento integram a variação na tensão de cisalhamento e os deslocamentos ao longo do reforço
(BERGADO et al, 1992) apud (BENJAMIM, 2006).

As características de atrito têm uma grande importância nos geossintéticos utilizados para
reforço de solos. Na verdade, um elevado atrito reduz a possibilidade de movimentos relativos entre o
reforço e solo, e permite a perfeita transferência de tensões de solo para os elementos de reforço
(CANCELLI et al, 1992).

A figura 18 apresenta uma estrutura típica de solo reforçado. Assumindo que a linha tracejada
na figura é uma superfície potencial de ruptura, o comportamento do reforço situado atras desta
superfície, posição A, será submetido ao mecanismo de arrancamento e, na posição B, cisalhamento
directo.

Figura 18 - Representação das zonas ativa e resistente jusante com o comprimento inserido na zona
activa (Lr) e o de ancoragem (Le). Fonte (BENJAMIM, 2006).

41
Além da análise da estabilidade externa, que é verificada considerando-se os mecanismos
clássicos, verifica-se também a possibilidade de deslizamento de um bloco de solo sobre cada camada
de reforço de tal forma que a força de deslizamento seja menor ou igual a Tadm. O comprimento final do
reforço será o maior valor obtido das análises da estabilidade interna e externa.

Como desvantagem, esse método não permite variações do tipo espaçamento entre as camadas,
resultando em estruturas com um custo superior aos outros métodos de cálculo. Dessa forma,
(Leshchinsky & Volk, 1986) apud (BENJAMIM, 2006)desenvolveram um método em que é possível
calcular as forças individuais dos reforços.

Esse método de projecto também utiliza equilíbrio limite e apresenta algumas similaridades
com o método de (Jewell, 1991). O reforço total requirido é de novo calculado com base na força
horizontal requerida para manter a estabilidade de um talude íngreme, porém nesse modelo é adoptada
uma superfície de ruptura espiral logarítmica.

Figura 19 - Analise da estabilidade externa Fonte (Jewell, 1991) apud (BENJAMIM, 2006).

Outro método que também admite que as superfícies potenciais de ruptura tenham a forma de
uma espiral logarítmica é o Leshchinsky & Boedeker (1989). Os autores calcularam valores das forças
de tracção em cada nível de reforço (tmj) para vários aterros reforçados com diversos valores de (φ) e de
inclinação do talude (m). Os valores das forças de tracção foram obtidos por instrumentações de
protótipos em escala real e por dados de simulações numéricas. Dessa forma, os autores desenvolveram
𝑡𝑎𝑛𝜑
um ábaco para calcular a força de tracção (Tm), em que 𝜑𝑚 = 𝑡𝑎𝑛−1 ( 𝐹𝑆
), como apresentado na figura

20.

42
Esse método utiliza técnicas de minimização analítica para determinação da superfície critica,
em lugar do processo iterativo de determinação da superfície crítica que é utilizado por outros métodos.
Essa técnica consiste em desenvolver equações que fornecem directamente a geometria da superfície
crítica e o correspondente valor máximo do empuxo. Para realizar a determinação da geometria da
superfície e o empuxo máximo, é preciso conhecer a geometria do maciço reforçado, a resistência ao
cisalhamento do solo, o número de camadas de reforço e a correspondente força de tracção em cada
nível de reforço.

Figura 20 - Ábaco para a determinação da força de tracção no reforço fonte (LESHCHINSCKY &
BOEDEKER, 1989) apud (BENJAMIM, 2006).

Leshchinscky & Boedeker (1989) apud Benjamim, (2006) desenvolveram um metodo de


dimensionamento que leva em conta a reorientação do reforço na superfície de ruptura, quando a sua
resistência à traccao é mobilizada pelo deslocamento do macico. Os autores observaram que o reforco

43
não permanece na direção horizontal ao longo do processo de interação, devido a pouca rigidez de
geossintético, mas sofre uma reorientação com inclinação (ζ), como mostrado na figura 21.

Segundo os autores, em analises convencionais, que se considera a posição horizontal do


reforço (ζ = 0), a força de traccao a ser resistida pelo reforço pode ser superestimada e o comprimento
de reforço necessário subestimado. Com a aplicação deste método, pode-se melhorar a estimativa de
valores das forças de traccao e dos comprimentos dos reforços.

Figura 21 - Reorientação da força de tracção no reforço fonte (BENJAMIM, 2006).

Ehrlich & Mitchell (1994) desenvolveram um método de cálculo que considera o equilíbrio
da estrutura sob condições de trabalho, em que os principais factores que influenciam as forças nos
reforços são os parâmetros de resistência do solo, a profundidade da camada em referência, a rigidez
relativa solo-reforço e a compactação.

Este método foi desenvolvido a partir de dados de instrumentação obtidos de cinco estruturas
de contenção em escala real. Resultados de instrumentação mostraram que as forças de tracção,
actuantes nos reforços, sofreram acréscimos com aumento da rigidez do reforço e também devido ao
processo de compactação.

44
Aspectos Relativos aos reforços – Factores de Redução

Um projecto envolvendo materiais geossintéticos deve considerar três tipos de propriedades:


propriedade requerida, propriedade índice e propriedade funcional. (Vidal et al, 1999) Apud
(MACCAFERRI, 2009).

A propriedade requerida está associada ao valor da função especificada no projecto para efeito de
dimensionamento. A partir da propriedade requerida, procede-se à escolha do geossintético que melhor
se aplica ao projecto. Os produtos capazes de atender às propriedades requeridas podem ser
posteriormente submetidos a ensaios, para possibilitar o dimensionamento final.

As propriedades índice são obtidas a partir de ensaios de caracterização e geralmente são fornecidas
pelo fabricante. Estas propriedades são inerentes ao produto e não consideram as condições de utilização
do geossintético. Os ensaios de caracterização têm como objetivo determinar as características básicas
do produto e possuem procedimentos estabelecidos em norma, tratando-se, em geral, de ensaios rápidos
e simples.

A propriedade funcional deve levar em consideração o tipo de solicitação imposta na obra e as condições
de utilização do geossintético. Esta propriedade representa o comportamento do geossintético sob as
condições de utilização impostas pela obra e permite considerar a interação com o meio adjacente.

A propriedade funcional (Tk) de um determinado geossintético pode ser determinada pela razão entre a
propriedade índice (Ti) e o fator de redução total (fT). O fator de redução total (fT) é dado pelo produto
dos fatores de redução parciais, definidos por função e tipo de aplicação.

No caso de obras de solo reforçado com geossintéticos, os principais fatores de redução a serem
considerados são:

• Factor de redução devido a deformações por fluência (ff);


• Factor de redução devido à degradação química e biológica pelo meio ambiente (fa);
• Factor de redução devido e eventuais emendas (fe);
• Factor de redução devido a danos mecânicos (fd);

Neste caso, a propriedade funcional é dada pela expressão:

𝑇𝑖
𝑇𝑓 =
𝑓𝑓 𝑓𝑒 𝑓𝑑

45
Em suma, os factores de redução indicam a razão entre a propriedade funcional sob condições
específicas de projecto. O fator de redução total é composto pelo conjunto dos factores de redução
parciais obtidos pra cada condição. A análise de sistemas de solo reforçado tem adoptado os factores de
redução parciais (ou factores de segurança parciais), ao invés de um único fator de segurança total, como
é usual em outras áreas de geotécnica. O motivo da adoção de factores de redução parciais deve-se às
inúmeras variais que intervêm as propriedades mecânicas dos reforços e condições de serviço.
(MACCAFERRI, 2009).

Segundo (MACCAFERRI, 2009), os factores de redução dependem basicamente das características do


geossintético e das características dos geossintéticos, pode-se citar o tipo e a natureza do polímero e o
processo de fabricação. Em relação às características do ambiente, destacam-se o tipo de instalação. A
tabela 4 sugere valores de fatores de dedução em função do tipo de aplicação para geotêxteis e
geogrelhas. Na tabela 5, são propostos factores de redução em função do tipo de polímero constituinte.

Tabela 4 Fatores de Redução em Função do Tipo de Aplicação para Geotêxteis e Geogrelhas (Adaptado
de Koerner, 1998) apud (MACCAFERRI, 2009)

Aplicação fd ff fa

Geotêxtis 1.1 a 2.0 2.0 a 4.0 1.0 a 2.0


Muros e Taludes
Geogrelhas 1.1 a 1.4 1.6 a 3.0 1.0 a 2.0

Geotêxtis 1.0 a 1.4 2.0 a 3.0 1.0 a 2.0


Aterro sobre Solo Mole
Geogrelhas 1.1 a 1.4 1.6 a 3.0 1.0 a 1.8

Geotêxtis 1.2 a 2.0 2.0 a 4.0 1.1 a 2.0


Reforço de Fundação
Geogrelhas 1.2 a 1.5 2.0 a 3.0 1.1 a 2.0

Geotêxtis 1.1 a 2.0 1.1 a 2.5 1.0 a 1.8


Rodovias Não-pavimentadas
Geogrelhas 1.1 a 1.6 1.5 a 2.5 1.0 a 1.8

46
Tabela 5 de Redução em Função do Tipo de Polímero (Adaptado de Vidal et al, 1999) apud
(MACCAFERRI, 2009)

França Alemanha

PET PP, PE PET PP, PE

ff 2,5 5,0 2,5 5,0

fd 1,5 1,5

f a1 1,05 2,0

f e2 1,0 1,0

Legenda: (PET: Poliéster PP: Polipropileno “sem impacto ambiental”) (PE: Polietileno “sem
emendas”)

FATOR DE REDUÇÃO DEVIDO A DEFORMAÇÕES POR FLUÊNCIA

Segundo (MACCAFERRI, 2009), a fluência pode ser definida como a aptidão de um material
ao alongamento, quando submetido a um carregamento estático de longa duração. A magnitude das
deformações por fluência depende da composição do polímero e da estrutura das fibras.

O geossintético, quando submetido a uma carga de tração constante, leva um determinado


intervalo de tempo para atingir a ruptura por fluência. A resistência do geossintético a ser utilizada no
dimensionamento de um aterro reforçado deve ser baseada na expectativa da resistência do material ao
final da vida útil da obra.

Em geral, o fator de redução por fluência é definido pela razão entre a carga de ruptura
convencional (obtida em ensaios de tração simples) e a carga que leva à ruptura do geossintético por
fluência.

O nível de fluência de um material está diretamente relacionado à porcentagem de carga


máxima a que ele está submetido e à temperatura ambiente (Bush, 1990) apud (MACCAFERRI, 2009).

47
FATOR DE REDUÇÃO DEVIDO A DEGRADAÇÃO PELO MEIO AMBIENTE

O meio ambiente pode produzir a degradação dos geossintéticos ao longo de sua vida útil. A
degradação ambiental manifesta-se através dos mecanismos de degradação química e biológica. Estes
mecanismos atuam continuamente ao longo do tempo de serviço do reforço. A degradação química
compreende a transformação estrutural dos polímeros, resultante da ação de substâncias quimicamente
ativas presentes no solo. É um processo mais intenso em polímeros de baixo peso molecular, baixa
porcentagem de cristalinidade e baixa densidade (Jewell e Greenwood, 1988) apud (MACCAFERRI,
2009).

Os principais mecanismos de degradação química são a termo-oxidação, a foto-oxidação e a


hidrólise, onde a seguir serão comentadas suas principais características.

• A termo-oxidação é o mecanismo de oxidação ativado pelo calor. Em temperaturas normais


de utilização em Geotecnia, os polímeros comumente empregados nos geossintéticos não apresentam,
em geral, problemas de estabilidade. No entanto, sob temperatura elevada, algumas propriedades
mecânicas podem sofrer alteração ao longo do tempo, especialmente a relação tensão-deformação.

• A foto-oxidação é um mecanismo oxidante ativado pela radiação ultravioleta. A ação da


radiação UV atinge apenas a superfície das fibras, tornando-as quebradiças e com menor resistência.

• A hidrólise consiste na ruptura das cadeias moleculares pela ação das moléculas de água. O
processo de hidrólise pode ocasionar uma perda de massa molecular do polímero para o meio em que
se encontra e uma erosão superficial das fibras do geossintético. A consequência desse processo é a
perda de resistência por enfraquecimento das fibras que compõem o produto (Salman et al, 1997).

• A oxidação provoca a corrosão das fibras do geossintético causando sua ruptura, e


consequêntemente, a redução de suas propriedades. Já a degradação biológica é resultante da atividade
de microrganismos (bactérias e fungos), que podem eventualmente se agregar à superfície dos
geossintéticos.

48
Fator de Redução Devido a Emendas.

As emendas em geossintéticos podem ser executadas através de 4 processos: solda ou colagem,


travamento simples, superposição de camadas ou costura. A presença de emendas gera uma região
menos resistente. Para os processos de solda, costura e travamento, os fatores de redução devido a
emendas são obtidos através de ensaios de tração em emendas. Em geral, o fator de redução devido a
emendas varia entre 1.0 e 1.2

Fator de Redução Devido a Danos Mecânicos.

O dano mecânico pode ser definido como a transformação da estrutura do geossintético


causada por esforços durante o manuseio e instalação do material e durante a compactação do sol
sobrejacente.

No caso de maciços reforçados, o fator de redução por danos de instalação (danos mecânicos)
prepondera sobre os demais. A ocorrência do dano mecânico é maior quando são empregados solos de
granulometria grosseira e métodos de compactação mais agressivos. Quanto maior a intensidade do dano
mecânico, maior o fator de redução. Durante o processo de instalação, o geossintético pode sofrer danos
provocados pela compactação, tráfego de veículos, lançamento de agregados pontiagudos, rasgos, etc.
Estes danos podem reduzir significativamente as propriedades mecânicas do produto.

Tabela 6 apresenta faixas de valores para o fator de redução por dano mecânico em função da capacidade
de sobrevivência do geossintético e da severidade do ambiente de instalação adaptado de
(MACCAFERRI, 2009)

Geossintético Capacidade de Severidade do meio


sobrevivência
Baixo Moderado Alta Muito Alta

Geogrelha Flexível Moderada 1,10 – 1,20 1,20 – 1,40 NR NR


revest. Acrilico
Alta 1,10 – 1,15 1,20 – 1,40 1,50 – NR NR

Moderada 1,05 – 1,15 1,15 – 1,30 1,40 – 1,60 NR


Geogrelha Flexível
revest de PVC Alta 1,05 – 1,15 1,015 – 1,30 1,40 – 1,60 1,50 – 2,00

49
Geogrelha Rígida de Moderada 1,05 - 1,15 1,05 - 1,20 1,30 - 1,45 NR
polipropileno

Geogrelha rígida de Moderada 1,05 – 1,15 1,10 – 1,40 1,20 – 1,50 1,30 – 1,60
polietileno
Alta 1,04 – 1,10 1,05 – 1,20 1,15 – 1,45 1,30 – 1,50

Faixa de Fatores de Dano para Geogrelhas (Azambuja, 1994) apud (MACCAFERRI, 2009).

Legenda: NR: não recomendável

O termo “capacidade de sobrevivência” é utilizado para descrever a resistência à destruição


do geossintético diante dos esforços decorrentes do processo construtivo e das solicitações iniciais da
obra. Os critérios de classificação da capacidade de sobrevivência de geotêxteis e geogrelhas registrados
na literatura estão resumidos na Tabela 4.

Os ambientes de instalação são classificados segundo a agressividade ou severidade do meio.


Allen (1991) apud (MACCAFERRI, 2009) propõe critérios de classificação da severidade do ambiente
em função das condições de instalação do geossintético em sistemas de contenção (Tabela 5). Esta
classificação é função da espessura da camada de solo sobrejacente ao geossintético, da forma e da
dimensão dos grãos de solo e do tipo de equipamento utilizado na compactação.

Tabela 7 Critério para Classificação da Capacidade de Sobrevivência de Geossintéticos (Adaptado de


Azambuja, 1994).

Capacidade de Geotêxteis Geogrelhas


Sobrevivência
Tecidos Não Tecidos Flexíveis Rígidas

Baixa MA ≤ 135 MA ≤ 135 - -

Moderada 135 < MA ≤ 150 135 < MA ≤ 200 T ≤ 55 T < 55

Alta MA > 150 MA > 200 T > 55 T ≥ 55

Legenda: Ma = massas por unidade de área ou gramatura (g/m2)

T = resistência a Tração (KN/m2)

50
Tabela 8 Classificação da Severidade do Meio (Allen 1991, citado por Azambuja 1999) apud
(MACCAFERRI, 2009)

Tipo de Aterro Espessura da Camada


Equipamento
< 15cm 15-30cm > 30cm

areia fina e grossa com grãos Baixa Baixa Baixa


sub-arredondados
Leve
areia e cascalho bem graduados
e com grãos de sub-arredondados a
Moderada Baixa Baixa
sub-angulares, fmax < 75mm
Rebocado
cascalho graduado com grãos muito alta alta moderada
angulosos, fmax < 75mm

areia fina e grossa com grãos baixa baixa


sub-arredondados
Pesado
areia e cascalho bem graduados alta moderada Baixa
e com grãos de subarredondados a
subangulares, fmax < 75mm
Autopropelido
cascalho aml graduado com NR muito alta alta
grãos angulosos, fmax < 75mm

Legenda: NR não Recomendável

ASPECTOS RELATIVOS AOS SOLOS

Segundo (MACCAFERRI, 2009), as características do solo utilizado com o reforço indeferem


diretamente no comportamento da estrutura do solo reforçado. Os solos arenosos são usualmente
preferidos para construção dos aterros de estruturas de contenção permanentes por possuírem
características geomecânicas adequadas e capacidade drenante elevada. Em alguns países, existem
mesmo normas que definem valores limites de algumas características (índice de plasticidade, ângulo
de atrito e percentagem de finos) que os solos devem exibir para aplicações em aterros.

51
A utilização de solos coesivos é limitada por várias razões. Apontando-se como exemplo, que
a aderência entre estes solos e reforço é baixa e está sujeira a redução, no caso de se desenvolverem
pressões neutras positivas, difíceis de prever e de controlar. No entanto, nem sempre é possível, por
razões econômicas, obter o material de aterro com as características do solo desejáveis, o que limitaria
a escolha do reforço como solução.

Por esta razão, nos últimos anos, diversos autores têm realizado ensaios de laboratório visando
o estudo da possibilidade de utilização da possibilidade de utilização de solos coesivos em aterros, sendo
os resultados favoráveis, em especial quando os reforços utilizados são geossintéticos.

RIGIDEZ RELATIVA SOLO-REFORÇO.

Um aspecto a ser levado em consideração no projecto de obras de solo reforçado é a rigidez


relativa solo-reforço. A Figura 4.7 apresenta um modelo simples capaz de representar o mecanismo de
mobilização de tensões em uma massa de solo reforçado. Hipoteticamente, sob condição de deformação
horizontal nula, o solo se encontraria em um estado de tensões correspondente ao repouso. Nesta
condição, os reforços estariam não tracionados. Com a deformação lateral, as tensões horizontais no
solo (ss,x) diminuem, tendendo à condição ativa. Simultaneamente, as tensões nos reforços crescem até
que o equilíbrio da massa de solo reforçada seja satisfeito. A tensão ou deformação de equilíbrio entre
os geossintéticos e o solo depende da relação entre a rigidez do solo e a rigidez do reforço. Esta relação
de rigidez é traduzida pelo índice de rigidez relativa (Si), que pode ser expresso pela seguinte expressão
(Ehrlich e Mitchell, 1994) apud (MACCAFERRI, 2009):

𝐸𝑟 𝐴𝑟
𝑆𝑖 =
𝐾. 𝑃𝑎 𝑆𝑣 𝑆ℎ

Sendo:

Er = módulo de elasticidade do reforço;

Ar = área da seção transversal do reforço;

K = módulo tangente inicial do solo do modelo hiperbólico (Duncan et al, 1980);

Pa = pressão atmosférica;

Sv = espaçamento vertical dos reforços;

Sh = espaçamento horizontal dos reforços.

52
Pela Figura, pode-se deduzir que quanto maior for à rigidez do reforço, menores serão as deformações
necessárias para que o equilíbrio seja atendido.

Figura 22 Mobilização de Tensões em Massa de Solo Reforçado (Ehrlich e Mitchell, 1994) apud
(MACCAFERRI, 2009)

Ressalta-se que, quando o geossintético atua como reforço numa obra geotécnica, é
fundamental que atenda satisfatoriamente aos seguintes requisitos: resistência à tração elevada, módulo
de deformação elevado, susceptibilidade baixa à fluência, grau de interação elevado com o solo
envolvente e durabilidade compatível com a vida da obra. Cada requisito pode ter uma maior ou menor
relevância em função das características da obra, onde a partir dos próximos volumes desse manual
serão descritas as principais aplicações de geossintéticos como elementos de reforço de solos,
juntamente com os critérios de projecto e dimensionamento.

APLICAÇÕES DE REFORÇOS GEOSSINTÉTICOS EM OBRAS GEOTÉCNICAS

Atualmente, quase todas as obras em terraplanagem necessitam de algum tipo de reforço ou


elemento estabilizante para que possam ser construídas. Isso ocorre devido à existência de solos com
53
baixa capacidade de suporte para construção dos terraplenos, a necessidade de verticalização de aterros
ou ainda a possibilidade de edificações sobre fundação direta. Não importa qual o tipo de obra
geotécnica, uma vez que envolva problemas de ruptura por cisalhamento dos solos, os reforços
geossintéticos estão envolvidos, mais especificamente as geogrelhas, devido a sua elevada resistência e
baixo alongamento.

Na pratica se verifica que existem alguns tipos de obras que já são típicas pela necessidade do
uso de reforços geossintéticos, entre elas se apresentam, as estruturas de contenção em solo reforçado,
os aterros sobre solos moles, os aterros estaqueados, as obras de reforço de base de pavimentos. A seguir
essas obras serão apresentadas de maneira sucinta, cabendo aos outros volumes que seguem esse manual
detalha-las e orienta-las sob o uso das metodologias de dimensionamento atualmente empregadas.

Muros e taludes reforçados em geogrelhas.

Segundo Kakuda, (2005) apud (MACCAFERRI, 2009), as estruturas em solos reforçados com
geogrelhas são constituídas de camadas horizontais de solo compactado intercalada por inclusões de
geogrelhas. Através da interação entre as inclusões e o solo, o sistema ganha uma condição de
estabilidade.

As Figuras 23 e 24 apresentam esquematicamente uma estrutura reforçada com geogrelhas com face de
blocos pré-moldados (muro de face segmentada). Na figura 4.8b observam-se drenos horizontais na
camada inferior do aterro, constituído de brita e um de tubo perfurado colocado na parte interna do pé
da face do talude. A colocação de drenos tem a finalidade de minimizar as pressões neutras no interior
do maciço reforçado.

A verificação da estabilidade dos projectos de maciço reforçados com geogrelhas é feita segundo duas
condições, a estabilidade externa e interna. Na verificação da estabilidade externa se admite que o
maciço de solo reforçado atue como um corpo rígido, ou seja, a zona reforçada funciona como uma
estrutura a gravidade.

A partir desse pressuposto, verifica-se a segurança do maciço segundo três mecanismos clássicos de
ruptura de estruturas de contenções: a) deslizamento ao longo da base; b) ruptura do solo de fundação e
c) ruptura global, ou seja, ruptura por uma superfície envolvendo todo o maciço reforçado.

A partir desse pressuposto, verifica-se a segurança do maciço para os quatro mecanismos clássicos de
ruptura de estruturas de contenções:

54
a) deslizamento ao longo da base; b) tombamento; c) ruptura do solo de fundação e d) ruptura
global (Figura 11).

Figura 23 Esquema sintetizado de uma estrutura reforçada com geogrelhas (MACCAFERRI, 2009)

perspectiva de um muro de bloco; b) seção tipo de um muro de bloco reforçado por geogrelhas
(Kakuda, 2005). Apud (MACCAFERRI, 2009)

Além das análises de estabilidade externa (analise como muro) devem ser feitas as analises
internas da estrutura, a fim de verificar a estabilidade dos reforços separadamente e com isso validar a
resistência e o comprimento individual por camada. Essa verificação se baseia na análise por equilíbrio
limite, separando o maciço em duas regiões denominadas de zonas ativa e resistiva, revelando duas
condições: a) arrancamento do reforço e b) ruptura do reforço. Os modos de rupturas de estruturas em
solo reforçado são apresentados de forma esquemática na Figura 24.

Figura 24 Modos de ruptura de uma estrutura de contenção em solo reforçado fonte (MACCAFERRI,
2009)
55
Aterros sobre solos moles.

Em geral as construções de aterros sobre zonas que apresentam solos com baixa capacidade
de suporte apresentam também um forte indicio do uso de alguma técnica de melhoramento da fundação
para receber esse aterro. Opta-se por troca de solo ou aditivos que levem a um melhoramento do solo,
porém essas técnicas induzem movimentos de terra que muitas vezes às inviabiliza. Algo contornado
cada vez mais com o uso de reforços geossintéticos como reforço de base de aterros compactados.

A aplicação de geossintéticos como elemento principal de reforço de base de aterro sobre solo
mole apresenta algumas vantagens como, rapidez do processo construtivo e a possibilidade de
construção de taludes mais íngremes.

No dimensionamento do reforço, analisa-se a estabilidade da obra considerando como hipótese


inicial, que a superfície de deslizamento seja circular, e emprega-se o método de equilíbrio limite.
Basicamente, os mecanismos de estabilidade a serem verificados são: ruptura do corpo do aterro ao
longo do contato com o geossintético, ruptura do solo de fundação Figura 25 e a ruptura generalizada
(Figura c).

Figura 25 Mecanismos de estabilidade de reforço de base de aterro sobre solo mole (adaptado de
PALMEIRA, 2002) apud (Seyão, Sieira, & Santos)

56
CAPíTULO 2

CASO DE ESTUDO (CIDADE DA BEIRA – Estoril)

57
Referências Bibliografia

ABNT- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. Geossintéticos -


Terminologia. Rio de Janeiro- RJ. 2003.

BATISTA, N. A. Fundações Rasas Reforçadas com Geossintéticos. INSTITUTO


TECNOLÓGICO DE AERONÁUTICA. São Paulo- SP. 2004.

BENJAMIM, V. D. S. C. avaliação experimental de protótiposde estruturas de contençÃo


em solo reforcado com geotéxtil. Escola de engenharia de são carlos de universidade São Paulo. São
Carlos. 2006.

DO NASCIMENTO, R. M. Uso de Geogrelhas no reforço de solos e biomantas para


proteção de taludes contra erosão. Universidade Federal de Pernambuco. Recife. 2010.

LIMA, P. R. G. J. DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS DE CONTEÇÃO EM


SOLO REFORÇADO POR GEOSSINTÉTICO E FACE ELABORADA EM BLOCOS
SEDIMENTARES DE CONCRETO. UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS. BRASIL.
2016.

LOPES, M. D. G.; BARROSO, M.; NEVES,. Geossintéticos em Engenharia Civil. 1a. ed.
Lisboa- PT: [s.n.], v. sd, 2020.

MACCAFERRI. Manual Tecnico- Reforço de Solos. São Paulo: Maccaferri do Brasil, 2009.

MASSAD, F. Obras de terra- Curso básico de geotecnia. 2a Edição. ed. São Paulo-SP:
oficina de textos, 2003.

PALMEIRA, E. M. Geossíteticos em geotecnia e meio ambiente. São Paulo-SP: oficina de


textos, 2018.

SILVA, N. H. D. muros de terra armada-verificaçao da segurança. muros de terra armada-


verificaçao da segurança, poetugal- lisboa, maio 2012.

SOLOTRAT. Manual de serviços geotécnicos. 6a. ed. São Paulo- Brasil: [s.n.], 2015.

VIEIRA, C. S. Obras de Reforço. Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.


Lisboa, Poetugal. 2021.

58

Você também pode gostar