Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
FLORIANÓPOLIS
JULHO DE 2019
JACIARA MORAIS DE MELO
FLORIANÓPOLIS
JULHO DE 2019
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,
através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC.
Inclui referências.
1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 12
3 MÉTODO ................................................................................................. 52
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 79
LAUDO SPT..................................................................................................... 83
1 INTRODUÇÃO
A concepção estrutural de edifícios de concreto armado pode ser dividida em
três partes: superestrutura, estrutura de fundação e maciço de solo. A superestrutura,
composta por lajes, vigas e pilares, tem a função de receber as ações e transferi-las
para a estrutura de fundação. A estrutura de fundação, por sua vez, irá transferir estas
ações para o maciço de solo, que realizará a absorção e dissipação dos esforços
(MOTA, 2009).
De forma geral, os projetos da superestrutura são desenvolvidos admitindo-se
a hipótese de apoios indeslocáveis, sendo o cálculo das cargas na fundação e o
dimensionamento dos elementos estruturais realizados com base nessa hipótese. Por
outro lado, o projeto de fundação é desenvolvido considerando-se apenas as cargas
na fundação e as propriedades do solo, sendo os recalques estimados como se cada
elemento estivesse isolado e pudesse de deslocar de forma independente dos
demais (GUSMÃO, 1990).
Em uma estrutura real, a transferência de esforços para o maciço de solo
provoca uma deformação no solo que causa deslocamentos verticais, horizontais e
translacionais na fundação (VELLOSO E LOPES, 2010). Devido a ligação física entre
a superestrutura e a fundação, ao se deslocar as fundações solicitam a estrutura,
ocorrendo uma modificação dos esforços atuantes no sistema estrutural (IWAMOTO,
2000). Esta interdependência entre a superestrutura, estrutura de fundações e maciço
de solo chama-se de interação solo-estrutura (ISE).
Conforme Iwamoto (2000), uma das inúmeras vantagens de se considerar a
interação solo-estrutura é a possibilidade de estimar os efeitos da redistribuição de
esforços nos elementos estruturais, tornando os projetos mais eficientes e confiáveis.
Por outro lado, a modelagem da ISE depara-se com algumas dificuldades. Dentre
estas pode-se citar a alteração nas propriedades dos materiais ao longo do tempo, a
heterogeneidade vertical e horizontal do solo e a dificuldade em obter parâmetros
geotécnicos (MOTA, 2009).
A evolução computacional viabilizou a realização de análises estruturais mais
complexas e, atualmente, é possível projetar considerando a ISE. Porém, mesmo com
esta facilidade, é comum a manutenção da premissa de apoios indeslocáveis. Desta
forma, este trabalho visa avaliar a variação de parâmetros estruturais em pórticos com
fundações profundas ao se considerar a interação solo-estrutura.
13
1.1 Objetivo
1.1.1 Objetivo Geral
Analisar, para um pórtico com fundação profunda, a redistribuição de esforços,
as variações das cargas na fundação e a variação da estabilidade global ao ser
considerada a interação solo-estrutura.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Interação solo-estrutura em edificações
De acordo com Gusmão (1990), o desempenho estrutural de uma edificação é
governado pela interação entre a superestrutura, a fundação e o maciço de solo, em
um mecanismo chamado de interação solo-estrutura (ISE). Diversos fatores
influenciam a interação solo-estrutura, dentre estes, podem ser citados a
hiperestaticidade da estrutura, o tipo de fundação, a interação entre os elementos de
fundação, o maciço de solo e as etapas de construção (REIS, 2000).
A premissa de apoios indeslocáveis não corresponde totalmente a realidade,
entretanto, não é incomum que a interação solo-estrutura seja desconsiderada e os
apoios da estrutura sejam modelados como indeslocáveis (SOUZA e REIS, 2008).
Esta abordagem possibilitou o projeto de diversas edificações ao longo do tempo,
simplificando muitos mecanismos de cálculo.
No item 11.3.3.3 da Norma Brasileira (NBR) 6118/2014 - Projeto de estruturas
de concreto (ABNT, 2014), é definido que:
“Os deslocamentos dos apoios, ação permanente indireta, só devem
ser considerados quando gerarem esforços significativos em relação
ao conjunto das outras ações, isto é, quando a estrutura for
hiperestática e muito rígida. ”.
A norma ainda prevê que em casos mais complexos, os quais não se encaixam
nos métodos de análise previstos (análise linear, análise linear com redistribuição,
análise plástica, análise não linear), a interação solo-estrutura deve, então, ser
contemplada. Outros casos de aplicação previstos no item 22.7.3 da referida norma
são na ocorrência de forças horizontais significativas ou assimetria considerável em
blocos de fundação (ABNT, 2014).
A referida norma estabelece, nos itens 15.5.2 e 15.5.3, dois parâmetros para
verificar se os efeitos de 2ª ordem podem ser dispensados: os coeficientes α e γz. No
coeficiente α é realizada uma comparação com um pilar engastado na base e livre no
topo, que possua a mesma altura da estrutura e, sob efeito dos mesmos
carregamentos, o mesmo deslocamento horizontal no topo. A rigidez deste pilar é
utilizada para calcular o coeficiente α na equação 1.
Σ Nk
α = Htot √( ) (1 )
Ecs Ic
Sendo:
Htot – altura total da estrutura, desde o topo até a fundação, ou um nível pouco
deslocável;
ΣNk – somatório das cargas verticais características que atuam na estrutura;
Ecs Ic – rigidez do pilar equivalente.
A estrutura será considerada de nós fixos se o parâmetro α for menor que α1:
α1 = 0,2 + 0,1n para n ≤ 3;
α1 = 0,6 para n > 4.
Sendo n o número de barras horizontais (andares) acima da fundação ou do
nível pouco deslocável. Caso a estrutura possua contraventamento constituído por
pilares-parede α1 é igual a 0,7, e caso possua apenas pórticos α1 é igual 0,5.
O coeficiente γz é um parâmetro que permite estimar a grandeza dos efeitos de
2ª ordem em estruturas com no mínimo quatro andares. A estrutura pode ser
considerada como de nós fixos quando γz ≤ 1,1, ou seja, os efeitos globais de 2ª ordem
não são maiores que 10% dos respectivos efeitos de 1ª ordem (ABNT, 2014). Para o
cálculo de γz utiliza-se a equação 2.
1
γz = ΔMtot,d (2 )
1− M1,tot,d
Sendo:
M1,tot,d – a soma dos momentos de todas as forças horizontais da combinação
considerada, com seus valores de cálculo, em relação à base da estrutura;
ΔMtot,d – é a soma dos produtos de todas as forças verticais atuantes na
estrutura pelos deslocamentos horizontais de seus respectivos pontos de aplicação,
obtidos da análise de 1ª ordem.
19
Energia Aplicada
NSPT,60 = NSPT * (3 )
0,6
dispõe que os recalques devem ser lidos por extensômetros imediatamente após a
aplicação da carga e após intervalos sucessivos de tempo. Sendo que, só poderá ser
realizado acréscimo de carga após a estabilização do recalque, com tolerância
máxima de 5% do recalque total.
O ensaio é finalizado quando atinge um recalque total de 25 mm ou o dobro da
carga prevista para o solo. Após aplicar o último carregamento, caso não tenha
ocorrido a ruptura do solo, é necessário permanecer com a carga aplicada no mínimo
12 h.
O resultado do ensaio é uma curva tensão x recalque. A Figura 8 representa a
curva tensão x recalque para um solo argiloso. Ao analisar a curva, observa-se que
há uma tensão de ruptura definida em cerca de 160 kPa, pois, para um mesmo
carregamento, o solo apresenta um grande deslocamento. O comportamento da curva
de se aproximar de uma assíntota vertical é característico de solos argilosos.
Tensão (kPa)
0 50 100 150 200
0
5
Recalque (mm)
10
15
20
De acordo com Cintra et al. (2011), nas curvas obtidas destes ensaios,
constata-se que para tensões até aproximadamente metade da tensão de ruptura é
possível delimitar um trecho inicial com comportamento linear. Deste trecho linear do
gráfico é possível definir o Coeficiente de Reação do Solo (ΚS) como o coeficiente
angular da reta, conforme a equação 4.
σ
KS = (MPa/m) ( 4 )
ρ
Sendo:
σ – tensão aplicada;
ρ – deslocamento.
Este parâmetro também é chamado de coeficiente de mola e é utilizado nos
modelos de cálculo de estruturas que consideram a interação solo-estrutura. É
importante ressaltar que o KS é obtido para um determinado tipo de solo e dimensões
de placa, devendo ser ajustado conforme a aplicação.
é a não obtenção de amostras de solo, sendo necessário utilizar uma relação entre a
resistência de ponta e a resistência lateral para classificação do solo.
Tipo de estaca F1 F2
Franki 2,50 2 F1
Metálica 1,75 2 F1
Pré-moldada 1 + D/0,8 2 F1
Escavada 3,00 2 F1
Raiz, Hélice contínua e Ômega 2,00 2 F1
Fonte: Cintra e Aoki, 2010
Devido ao ensaio SPT ser mais utilizado no Brasil, Aoki e Velloso (1975)
propuseram uma correlação entre o CPT e o SPT por meio de fator de conversão da
resistência de ponta (K), conforme a equação 10.
qc = K NSPT (MPa) ( 10 )
De acordo com Cintra e Aoki (2010), para aplicar o método é necessário que o
NSPT ao longo do fuste esteja entre 3 e 15 para estacas escavadas e entre 14 e 50
para estacas cravadas ou escavadas com bentonita. A capacidade de carga lateral
(rL) pode ser calculada diretamente com a equação 13, sem distinção do tipo de solo.
Para o cálculo da capacidade de carga junto a ponta (rP) é introduzido um coeficiente
C, que pode ser obtido na Tabela 3 de acordo com o tipo de solo. A expressão para o
cálculo de rP é definida na equação 14.
NL
rL = 10 ( + 1) ( 13 )
3
rP = C NP ( 14 )
Sendo:
NP – valor médio a partir dos valores índice de resistência à penetração no nível
da ponta, o imediatamente anterior e o imediatamente posterior.
NL – valor médio do índice de resistência à penetração ao longo do fuste.
Tipo de Estaca
Tipo de Estaca
R = RP + RL = α NP AP + β NL U L ( 16 )
Sendo:
NP – valor médio do índice de resistência à penetração medidos no intervalo de
4 diâmetros acima da ponta da estaca e 1 diâmetro abaixo
NL – valor médio do índice de resistência à penetração ao longo do fuste.
Os valores dos parâmetros α e β podem ser obtidos, respectivamente, a partir
da Tabela 6 e da Tabela 7 de acordo com a estaca e o tipo de solo.
38
Deve-se ressaltar que para solos com espessas camadas de argilas moles, no
qual serão utilizadas estacas pré-moldadas com ponta flutuante, Teixeira recomenda
a utilização da tensão de atrito lateral fornecida na Tabela 8.
Sedimento rL (kPa)
Argila fluviolagunar (SFL)* 20 a 30
Argila transicional (AT)** 60 a 80
*SFL: argilas fluviolagunares e de baias, holocênicas – camadas situação até cerca de 20 a 25 m de
profundidade, com valores de NSPT inferiores a 3, de coloração cinza-escura, ligeiramente pré-
adensada.
**AT: argilas transicionais, pleistocênicas – camadas profundas subjacentes ao sedimento SFL, com
valores de NSPT de 4 a 8, as vezes de coloração cinza-clara, com tensões de pré-adensamento maiores
do que aquelas das SFL.
2.3.4 Recalques
A NBR 6122/2010 (ABNT, 2010) prevê que as tensões atuantes nas fundações
devem atender a critérios de estados-limite último e de estados-limite de serviço. Para
o primeiro, são utilizadas formulações experimentais, teóricas ou semi-empíricas para
cálculo da tensão admissível, e para o segundo é realizado o cálculo do recalque da
fundação, sendo comparado a valores máximos.
O recalque de uma fundação profunda está associado a deformações do solo
(ρs) e deformações do próprio elemento de fundação (ρe), também chamado de
encurtamento elástico (CINTRA e AOKI, 2010). Desta forma, o recalque total (ρ) se
dará pela soma dessas duas parcelas, conforme a equação 17.
ρ = ρs + ρ e ( 17 )
estaca foi dividida nos segmentos L1, L2 e L3, nos quais atuam, respectivamente, as
cargas médias P1, P2 e P3.
Sendo:
A – área da seção da estaca;
Ec – módulo de elasticidade do concreto, podendo ser utilizado o módulo de
elasticidade de 28 a 30 GPa para estacas pré-moldadas, 21 GPa para estacas hélice
contínua e 18 GPa para Strauss (CINTRA e AOKI, 2010).
Para o cálculo da deformação do solo, Aoki (1984) apud Cintra e Aoki (2010)
considera que a carga aplicada se encontra na fase inicial da curva tensão-recalque
e a deformação pode ser calculada pela teoria da elasticidade. Desta forma, a tensão
total pode ser estimada pela soma das tensões devido a carga que chega na ponta
da estaca (Δσp) com o somatório das tensões causadas pelas cargas Pi aplicadas em
cada segmento Li (σi). A Figura 15 ilustra o acréscimo de tensão que ocorre em uma
camada de espessura H a uma distância h da ponta da estaca.
42
Sendo:
σ – tensão geoestática no centro da camada;
43
Δσ – acréscimo de tensão;
n – fator que depende do solo: 0,5 para solos granulares e 0 para argilas.
E0 – módulo da deformabilidade do solo antes da execução da estaca, podendo
ser utilizado 6K N para estacas escavadas, 4K N para estacas hélice contínua e 3K N
para estacas escavadas, sendo K o coeficiente do método Aoki-Velloso (AOKI, 1984
apud CINTRA e AOKI, 2010).
da carga em uma área e a influência das fundações vizinhas (SILVA, 2006). Além
disso, as molas possuem comportamento linear elástico o que não representa de
forma real o solo que possui comportamento inelástico e não-linear.
Para fundações profundas, o método de Winkler consiste em simular a estaca
por um elemento de barra e o solo por um conjunto de molas, sendo estas colocadas
na base da estaca e espaçadas ao longo do fuste, conforme a Figura 18. A rigidez
das molas será representada pela rigidez do solo, sendo esta a principal dificuldade
do modelo, pois o coeficiente de rigidez pode variar com a profundidade e com a
direção considerada – vertical, horizontal, rotacional (CHRISTAN, 2012).
Z
kv = As + Bs tan-1 ( 24 )
D
Sendo:
kv – coeficiente de reação vertical do solo;
Z – profundidade abaixo do solo;
D – profundidade máxima de interesse, comprimento da estaca.
As pode ser obtido na equação 25 e Bs na equação 26.
As = C (c Nc Sc + 0,5 γ B Nγ Sγ) ( 25 )
Bs = C γ Nq Sq ( 26 )
Sendo:
γ – peso específico do solo;
C – coesão do solo;
Nc, Nq, Nγ – fatores de capacidade de carga;
Sc, Sq, Sγ – fatores de forma;
B – diâmetro da base.
C – fator de correção proposto por Bowles, sendo 40 para um deslocamento
máximo de 25,4 cm.
Os fatores de capacidade de carga são função do ângulo de atrito do solo e
podem ser obtidos na Tabela 10 proposta por Vesic (1975) apud Cintra e Aoki (2011).
48
φ° NC Nq Nγ φ° NC Nq Nγ
0 5,14 1,00 0,00 26 22,25 11,85 12,54
1 5,38 1,09 0,07 27 23,94 13,20 14,47
2 5,63 1,20 0,15 28 25,80 14,72 16,72
3 5,90 1,31 0,24 29 27,86 16,44 19,34
4 6,19 1,43 0,34 30 30,14 18,40 22,40
5 6,49 1,57 0,45 31 32,67 20,63 25,99
6 6,81 1,72 0,57 32 35,49 23,18 30,22
7 7,16 1,88 0,71 33 38,64 26,09 35,19
8 7,53 2,06 0,86 34 42,16 29,44 41,06
9 7,92 2,25 1,03 35 46,12 33,30 48,03
10 8,35 2,47 1,22 36 50,59 37,75 56,31
11 8,80 2,71 1,44 37 55,63 42,92 66,19
12 9,28 2,97 1,69 38 61,35 48,93 78,03
13 9,81 3,26 1,97 39 67,87 55,96 92,25
14 10,37 3,59 2,29 40 75,31 64,20 109,41
15 10,98 3,94 2,65 41 83,86 73,90 130,22
16 11,63 4,34 3,06 42 91,71 85,38 155,55
17 12,34 4,77 3,53 43 105,11 99,02 186,54
18 13,10 5,26 4,07 44 118,37 115,31 224,64
19 13,93 5,80 4,68 45 133,88 134,88 271,76
20 14,83 6,40 5,39 46 152,10 158,51 330,35
21 15,82 7,07 6,20 47 173,64 187,21 403,67
22 16,88 7,82 7,13 48 199,26 222,31 496,01
23 18,05 8,66 8,20 49 229,93 265,51 613,16
24 19,32 9,60 9,44 50 266,89 319,07 762,89
25 20,72 10,66 10,88
Fonte: Vesic (1975) apud Cintra e Aoki (2011).
Forma SC Sq Sγ
Sapata corrida 1,0 1,0 1,0
Quadrada 1,2 1,0 0,8
Circular 1,2 1,0 0,6
Fonte: Terzaghi e Peck (1967) apud Cintra e Aoki (2011).
do coeficiente e podem ser usados para comparar com os valores calculados pelas
equações propostas.
Solo Ks (kN/m³)
Areia fofa 4.800 - 16.000
Areia medianamente compacta 9.600 - 80.000
Areia compacta 64.000 - 128.000
Argila arenosa medianamente compacta 32.000 - 80.000
Silte arenoso medianamente compacto 24.000 - 48.000
Argila (qu ≤ 200 kPa) 12.000 - 24.000
Argila (200 < qu ≤ 800 kPa) 24.000 - 48.000
Argila (qu < 800 kPa) > 48.000
Fonte: Bowles, 1997.
Tabela 14. Peso específico para solos arenosos recomendados por Godoy.
Tabela 15. Peso específico para solos argilosos recomendados por Bowles.
Tabela 16. Peso específico para solos arenosos recomendados por Bowles.
3 MÉTODO
3.1 Modelagem dos pórticos
Neste estudo foram modelados quatro pórticos, três quadrados, variando o
número de pavimentos em 4, 8 e 12, e um pórtico retangular de 8 pavimentos. O pé
direito tem 3 m e a distância entre pilares 4 m, variando o número de pilares conforme
a altura do pórtico. As lajes são maciças, com 12 cm de espessura.
Considerou-se que as estruturas se localizam na cidade de Florianópolis,
pertencente a Classe de Agressividade Ambiental III (CAA III – Marinha), com uma
cobertura de 35 mm para lajes e 40 mm para pilares, vigas e elementos em contato
com o solo, conforme previsto na NBR 6118/2014. Para uma CAA III o concreto deve
ter no mínimo fck de 30 MPa, sendo este o adotado.
O pórtico foi modelado para uso comercial, possuindo uma carga acidental de
2 kN/m², além do peso próprio da estrutura e da carga adicional de 1,5 kN/m² de
revestimento. Além destes carregamentos, foi considerada também a ação do vento
na edificação, conforme a NBR 6123/1988 (ABNT, 1988). Para a análise do vento foi
utilizada uma velocidade básica de 42 m/s, o fator de terreno (S1) e fator estatístico
(S3) foram considerados iguais a 1,0. A rugosidade do terreno, fator S2, foi
considerada de Categoria IV (terrenos cobertos por obstáculos numerosos e pouco
espaçados) e a classe foi definida para cada pórtico conforme a sua maior dimensão.
Os pórticos foram modelados com auxílio do software Eberick, no qual é
possível realizar uma análise estática linear e obter as cargas nas fundações e o
coeficiente γz. As estruturas foram consideradas, inicialmente, engastadas nos apoios
e foi realizado um pré-dimensionamento dos elementos, sendo necessário ajustar as
dimensões após a análise estrutural. Com o dimensionamento finalizado foi realizada
novamente a análise do pórtico, pois os esforços e as cargas nas fundações
dependem da dimensão dos elementos.
No final da etapa de dimensionamento obteve-se, entre outros, os valores de
deslocamento horizontal, o coeficiente γz, os esforços nos elementos e um relatório
de cargas nas fundações. Com o relatório de cargas nas fundações foi realizado o
dimensionamento das estacas e o lançamento dos blocos, sendo assim, finalizado o
modelo dos pórticos.
53
valores de peso específico da Tabela 13, recomendados por Godoy (1972) apud
Cintra e Aoki (2010). O valor de E0 utilizado foi de 4 K NSPT, sendo K o coeficiente
empírico de Aoki-Velloso (1975), e n igual a 0 (solo argiloso).
57
4 EXEMPLOS NUMÉRICOS
Neste capítulo serão apresentados os pórticos hipotéticos modelados para a
análise da interação solo-estrutura, bem como a descrição geotécnica e os resultados
obtidos na modelagem da fundação e da interação solo-estrutura.
Neste pórtico, para análise da ação do vento foi considerada uma estrutura
Classe A, com a maior dimensão menor que 20 m. Desta forma, foram obtidas as
forças visualizadas na Tabela 19.
Ø 50 Ø 60 Ø 70
CP NSPT
RT RADM (kN) RT RADM (kN) RT RADM (kN)
1 10 216,0 108,0 311,0 155,5 423,3 211,7
2 14 336,9 168,5 476,9 238,4 641,0 320,5
3 5 254,7 127,4 346,9 173,5 452,9 226,4
4 11 477,4 238,7 663,6 331,8 880,0 440,0
5 6 341,9 170,9 459,7 229,9 594,1 297,0
6 22 630,7 315,3 870,8 435,4 1149,0 574,5
7 27 814,7 407,3 1117,6 558,8 1467,1 733,6
8 2 368,0 184,0 452,0 226,0 539,4 269,7
9 3 396,5 198,3 491,4 245,7 591,5 295,7
10 0 342,1 171,1 410,5 205,3 479,0 239,5
11 3 406,9 203,5 503,8 251,9 606,0 303,0
12 8 627,4 313,7 818,8 409,4 1032,3 516,1
13 9 688,1 344,1 900,0 450,0 1136,6 568,3
14 18 1027,1 513,5 1380,9 690,5 1784,3 892,1
15 13 914,6 457,3 1204,8 602,4 1530,6 765,3
16 15 1026,2 513,1 1355,2 677,6 1725,4 862,7
17 12 972,6 486,3 1266,1 633,1 1592,6 796,3
18 13 1046,6 523,3 1363,1 681,6 1715,4 857,7
19 10 986,4 493,2 1266,1 633,1 1573,4 786,7
20 16 1225,5 612,8 1602,6 801,3 2023,6 1011,8
21 19 1381,4 690,7 1814,4 907,2 2299,6 1149,8
22 28 1753,3 876,7 2334,9 1167,4 2993,4 1496,7
23 36 2120,6 1060,3 2841,6 1420,8 3661,5 1830,8
24 40 2376,8 1188,4 3182,0 1591,0 4097,2 2048,6
25 44 2646,2 1323,1 3538,3 1769,1 4551,3 2275,6
Para exemplificação tem-se o recalque estimado para a estaca P1, que possui
12 m e carga de 403,4 kN. Na Tabela 29 é possível visualizar a distribuição de cargas
ao longo do fuste e a estimativa de encurtamento para cada segmento, bem como o
encurtamento total da estaca.
Camadas de solo
Segmento 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
1 0,3 0,3 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1
2 0,5 0,5 0,4 0,3 0,3 0,3 0,2 0,2 0,2 0,2 0,2 0,1 0,1
3 0,2 0,2 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0
4 0,6 0,5 0,4 0,3 0,3 0,3 0,2 0,2 0,2 0,2 0,1 0,1 0,1
5 0,4 0,3 0,3 0,2 0,2 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1
6 2,0 1,6 1,3 1,0 0,9 0,7 0,6 0,5 0,5 0,4 0,4 0,3 0,3
7 3,3 2,5 1,9 1,5 1,3 1,1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,5 0,4
8 0,3 0,2 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0
9 0,3 0,2 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
ϒ K E0 σo Δσ Es ρ
Z NSPT
(kN/m³) (kPa) (MPa) (kPa) (kPa) (MPa) (mm)
13 17 350 9 12600 110 8,1 12600 0,639
14 19 350 18 25200 119 6,3 25200 0,248
15 19 350 13 18200 129 5,0 18200 0,275
16 19 350 15 21000 138 4,1 21000 0,196
17 19 350 12 16800 148 3,4 16800 0,205
18 19 350 13 18200 157 2,9 18200 0,161
19 17 350 10 14000 166 2,5 14000 0,180
20 19 350 16 22400 175 2,2 22400 0,098
21 19 350 19 26600 185 1,9 26600 0,072
22 21 350 28 39200 195 1,7 39200 0,043
23 21 350 36 50400 206 1,5 50400 0,030
24 21 350 40 56000 216 1,4 56000 0,024
25 21 350 44 61600 227 1,2 61600 0,020
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste tópico são apresentados os resultados, com base nos modelos
desenvolvidos, quanto as variações na estabilidade global (γz), deslocamentos
horizontais e cargas verticais na fundação. Em seguida, serão abordadas as variações
de momento ao longo do pilar P1 e uma análise de uniformização de recalques.
Tabela 32. Cargas máximas, em kN, na fundação antes e após a consideração da ISE.
4 PAVTO 8 PAVTO QUAD 8 PAVTO RETAN 12 PAVTO
N Pi Pf Dif Pi Pf Dif Pi Pf Dif Pi Pf Dif
P1 153,6 160,7 4,6% 352,4 367,7 4,3% 403,4 423,6 5,0% 622,1 625,0 0,5%
P2 318,8 317,6 -0,4% 622,1 622,9 0,1% 660,0 671,5 1,7% 1012,7 1003,9 -0,9%
P3 153,6 160,7 4,6% 611,4 615,0 0,6% 660,5 671,4 1,7% 1023,3 1024,2 0,1%
P4 321,5 319,2 -0,7% 352,5 367,9 4,4% 403,4 423,6 5,0% 1011,6 1003,7 -0,8%
P5 784,6 783,5 -0,1% 609,9 614,6 0,8% 659,3 699,2 6,1% 622,2 625,0 0,5%
P6 321,5 319,2 -0,7% 1228,3 1227,4 -0,1% 1268,1 1234,5 -2,6% 1011,7 1003,9 -0,8%
P7 153,6 160,7 4,6% 1225,5 1222,0 -0,3% 1265,0 1241,5 -1,9% 1751,9 1735,9 -0,9%
P8 318,8 317,6 -0,4% 622,8 623,2 0,1% 660,2 692,4 4,9% 1748,0 1734,0 -0,8%
P9 153,6 160,7 4,6% 622,7 623,1 0,1% 403,4 423,6 5,0% 1749,4 1735,7 -0,8%
P10 1225,1 1222,9 -0,2% 660,0 671,5 1,7% 1013,4 1004,7 -0,9%
P11 1225,6 1223,6 -0,2% 660,5 671,4 1,7% 1021,7 1023,8 0,2%
P12 611,4 614,9 0,6% 403,4 423,6 5,0% 1746,1 1733,8 -0,7%
P13 352,5 367,9 4,4% 1727,7 1729,8 0,1%
P14 611,4 615,0 0,6% 1748,2 1734,0 -0,8%
P15 622,8 623,3 0,1% 1023,2 1024,5 0,1%
P16 352,5 367,8 4,3% 1006,4 996,9 -0,9%
P17 1753,3 1737,4 -0,9%
P18 1746,1 1734,2 -0,7%
P19 1753,7 1739,8 -0,8%
P20 1005,8 997,0 -0,9%
P21 621,9 624,9 0,5%
P22 1011,1 1003,2 -0,8%
P23 1022,0 1023,5 0,1%
P24 1012,8 1004,4 -0,8%
P25 621,9 624,9 0,5%
e P4. A Figura 24 ilustra o croqui dos pórticos com destaque nas estacas
mencionadas.
Estaca
1 2 3
1,750
1,800
Recalque (mm)
1,950
2,000
2,050
P1, tem-se que a carga inicial de 153,6 kN (RLi) é resistida pelo atrito lateral nos
primeiros 6 segmentos da estaca (segmentos de 1 m), e quando passa para 160,7 kN
(RLf) a carga atinge um segmento a mais, como mostra a Tabela 37. Ao mobilizar a
resistência de mais um segmento tem-se uma distância menor entre o ponto de
aplicação da força e a camada na qual é calculado o recalque, obtendo um menor
espraiamento das tensões e um maior acréscimo de tensão na camada na qual é
calculado o recalque.
Z RLi RLf
1 0,0 0,0
2 34,6 34,6
3 48,4 48,4
4 16,5 16,5
5 36,3 36,3
6 17,9 19,8
7 0,0 5,1
8 0,0 0,0
Figura 26. Curvas de recalques para os pilares P1, P2, P3 e P4 do pórtico de 8 pavimentos quadrado.
Estacas
1 2 3 4
1,500
2,000
2,500
Recalque (mm)
Sem ISE
3,000
Com ISE
3,500
4,000
4,500
5,000
5,500
76
Figura 27. Curvas de recalques para os pilares P1, P2, P3 e P4 do pórtico de 8 pavimentos
retangular.
Estaca
1 2 3 4
2,000
2,500
3,000
Recalque (mm)
Sem ISE
3,500 Com ISE
4,000
4,500
5,000
5,500
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O estudo da ISE neste trabalho proporcionou uma melhor compreensão do
tema e dos desafios envolvidos em uma modelagem estrutural que considere essa
interação. A realização de projetos considerando os apoios indeslocáveis mostra-se
mais simples e prática, por outro lado, a consideração da ISE pode levar a resultados
mais próximos da realidade.
Os resultados obtidos indicam que a consideração da ISE pode ser significativa.
Para as cargas na fundação obteve-se variações de cerca de 5% para o pórtico de 4
pavimentos e menores para os pórticos com mais pavimentos, exceto para o pórtico
com formato retangular. Para os momentos nos pilares as variações foram de 10% no
primeiro pavimento, diminuindo para cerca de 3% no segundo pavimento. Na
estabilidade global do pórtico não se identificou grandes variações, menos de 1%,
porém os deslocamentos horizontais no topo alcançaram variações de 10% para o
pórtico com formato retangular. Desta forma, tem-se que fatores como o formato em
planta da edificação e o número de pavimentos influenciam nos efeitos da interação
solo-estrutura. Ressalta-se que os pórticos modelados nesse estudo possuíam
características que podem diminuir o efeito da ISE, como blocos de fundação rígidos
e cargas horizontais baixas, desta forma, ao projeto estruturas mais complexas, com
características diversas, os efeitos da ISE podem ser mais significativos que os
obtidos neste estudo.
Ao avaliar a uniformização de recalques tem-se que ela ocorreu nos pórticos
com 4 e com 8 pavimentos, porém a análise ficou limitada por não serem estimados
os recalques em blocos com mais de uma estaca. Desta forma, seria interessante
buscar métodos para realizar esta estimativa e poder comparar a curva de recalques
com e sem a consideração da ISE.
É importante destacar que a estimativa dos coeficientes de recalque para o solo
é um passo base para a modelagem da interação solo-estrutura, visto que todos os
cálculos são realizados a partir deste coeficiente. A utilização de coeficientes
incorretos pode levar a resultados imprecisos, não sendo possível prever se mais
próximos ou mais distantes da realidade. A maior dificuldade durante a realização
deste estudo foi justamente na estimativa do Ks, pois foram encontrados poucos
métodos para estima-lo em diferentes profundidades do solo.
Com relação aos resultados, as variações de cerca de 10% nos momentos dos
pilares são significativas, principalmente quando o formato da estrutura resulta em
78
rigidezes diferentes nas duas direções. Porém é importante ressaltar que há mais
fatores envolvidos na interação solo-estrutura que não foram considerados neste
estudo que poderiam resultar em aumento ou diminuição das variações encontradas.
Dentre estes, pode-se citar o processo construtivo e a heterogeneirdade do solo. Para
o primeiro, tem-se que as cargas não são aplicadas de uma vez como supõem os
modelos, mas sim aos poucos ao longo de um intervalo de tempo, e para o segundo
tem-se que houve uma limitação quanto a heterogeneidade do solo ao considerar um
mesmo laudo SPT para caracterizar todo o maciço de solo.
Considerando as conclusões obtidas e as considerações realizadas, para
trabalhos futuros sugere-se o seguinte:
a) Trabalhar com uma melhor caraterização do maciço de solo a partir de uma
quantidade mais vasta de ensaios SPT;
b) Buscar outros métodos de estimar o coeficiente de reação e comparar os
métodos;
c) Avaliar a variação de esforços nas vigas baldrame;
d) Avaliar a interação solo-estrutura considerando a sequência construtiva;
e) Variar as cargas horizontais aplicadas e analisar o efeito na estabilidade
global.
f) Analisar a ISE utilizando outros métodos, como o método dos elementos
finitos.
79
REFERÊNCIAS
LAUDO SPT
Laudo de ensaio de sondagem SPT utilizado para caracterização do maciço de
solo.
81
CROQUIS DE FUNDAÇÃO
Na Figura 28, Figura 29, Figura 30 e Figura 31 é possível visualizar,
respectivamente, o croqui dos blocos e da fundação do pórtico com 4 pavimentos, 8
pavimentos formato quadrado, 8 pavimentos formato retangular e 12 pavimentos.