Você está na página 1de 9

XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

Geotecnia e Desenvolvimento Urbano


COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

Análise das Emissões de CO2 Equivalente e do Consumo


Energético de Fundações por Estacas Cravadas
Leonardo Silva de Oliveira Pires
Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, Brasil, leonardosop@hotmail.com

Adinele Gomes Guimarães


Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, Brasil, adinele@unifei.edu.br

RESUMO: As construções civis, grandes consumidoras de energia e grandes geradoras de emissões


atmosféricas, podem incorporar conceitos de sustentabilidade para colaborar com um desenvolvimento
que respeite os limites ambientais. Na avaliação de ciclo de vida de um produto ou serviço, que engloba a
extração de matérias-primas, processamento, transporte e disposição final, as emissões ao ambiente e a
demanda de energia podem ser quantificadas de modo a permitir a interpretação dos resultados e auxiliar
na tomada de decisão. Este estudo apresenta um balanço das emissões de CO 2 geradas e da energia
consumida ao longo da construção de fundações por estacas cravadas e propõe que esse tipo de
quantificação integre as variáveis ponderadas durante a escolha entre alternativas viáveis tecnicamente e
economicamente. Os resultados mostraram que as estacas de madeira são as menos poluentes e as que
demandam menos energia, seguidas das estacas pré-moldadas de concreto e das estacas metálicas.

PALAVRAS-CHAVE: Emissões de CO 2, Energia, Estacas Cravadas.

1 INTRODUÇÃO de materiais e tecnologias alternativos, é essencial


para alcançar o desenvolvimento sustentável global.
As construções civis são grandes consumidoras de A Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) é uma
recursos naturais e de energia, bem como grandes ferramenta que analisa um produto ou serviço sob
geradoras de resíduos e emissões atmosféricas, o ponto de vista ambiental, podendo auxiliar na
causando muitos impactos ao meio ambiente. Elas escolha de alternativas. É realizada através do
podem e devem incorporar conceitos de estudo que engloba a extração de matérias-primas,
sustentabilidade para colaborar com um fabricação, transporte e disposição final do bem e
desenvolvimento que respeite os limites ambientais dos potenciais impactos ambientais a ele
enquanto atende às suas finalidades. Por constituir relacionados. As emissões ao ambiente devem ser
um contexto presente em quase todas as atividades quantificadas de modo a permitir a interpretação
humanas, o estudo da sustentabilidade nessa área dos resultados e auxiliar na tomada de decisão.
se torna não só pertinente, como indispensável. Assim sendo, este trabalho objetivou realizar um
De acordo com Basu et al. (2013), as obras balanço energético e de emissões de CO 2
geotécnicas, nas quais se incluem as fundações, provenientes de fundações por estacas cravadas,
mudam o padrão de uso do solo, afetando valores ao longo dos seus ciclos de vida, de modo a
sociais e econômicos em uma comunidade, além compará-las sob um ponto de vista ambiental.
dos danos ambientais causados. Uma vez que eles Sua importância reside na possibilidade de se
interferem nessas três questões, a abordagem do avançar e identificar alternativas que promovam o
conceito de sustentabilidade nessa área, muitas desenvolvimento sustentável e de auxiliar na
vezes baseado na reutilização de recursos e no uso implementação de ações de mitigação, vista a
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

escassez de estudos comparativos entre diferentes produtivo é simples e demanda pouca matéria-
métodos construtivos de obras geotécnicas, que prima.
avaliam aspectos relacionados aos seus ciclos de As estacas metálicas apresentam diversos
vida. perfis, podendo ser isolados ou associados
(soldados). Caracterizam-se por oferecer a maior
capacidade de carga por unidade de área de seção
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA transversal entre as estacas, além de facilidade de
corte, emenda e reaproveitamento de pedaços
Segundo Ferreira (2004), a ACV de um produto cortados. Sua produção na indústria siderúrgica
ou serviço consiste na compilação e avaliação das emite grandes quantidades de CO 2, sendo a maior
entradas (matérias-primas e energia) e saídas parte associada à conversão de minério de ferro
(emissões atmosféricas e outros resíduos) e dos em ferro, mais tarde utilizado na produção do aço,
potenciais impactos ambientais relacionados ao seu como esclarecido por Costa (2012).
ciclo de vida, que abrange a extração de matérias- Quanto às estacas pré-moldadas de concreto,
primas, fabricação, transporte e disposição final. elas estão entre as mais utilizadas no país,
Os recursos necessários e as emissões ao ambiente apresentando vantagem na boa qualidade que se
devem ser determinados de forma quantitativa a fim pode obter do concreto, feito em usina dosadora, e
de permitir a interpretação dos resultados e auxiliar na resistência a agentes agressivos e variações de
na tomada de decisão. secagem e umedecimento do solo. Podem ser
Como fundamentado por Soares et al. (2006, classificadas, quanto a armadura, em concreto
p. 98), a ACV “se destaca, atualmente, como armado ou concreto protendido, e, quanto a
ferramenta de excelência para análise e escolha de fabricação, em concreto vibrado ou concreto
alternativas, sob uma perspectiva puramente centrifugado.
ambiental”. Isso se deve à premissa de que os O processo de execução das estacas cravadas
produtos ou serviços comparados entre si que consiste basicamente na marcação do eixo da
tenham a mesma função. O resultado, que pode ser estaca, içamento pela torre do bate-estaca,
associado a uma análise econômica, auxilia na posicionamento no eixo e cravação no solo através
tomada de decisão. de percussão, isto é, golpes na parte superior do
Entende-se que o balanço energético e de elemento com um martelo de queda livre. Outro
emissões de CO 2 provenientes das fundações por processo de cravação consiste na prensagem da
estacas cravadas, ao longo dos seus ciclos de estaca, porém menos comum. Com exceção das
vidas, é um meio de obter um indicador da estacas metálicas, as estacas cravadas são
sustentabilidade dessas obras. Assim, será consideradas de grande deslocamento, ou seja,
considerada ambientalmente favorável a alternativa causam um aumento da compacidade e das
que apresenta menor quantidade de energia tensões do solo adjacente, à medida que seu
embutida e de emissões de CO 2. Os tipos de volume é introduzido.
estacas aqui analisados são: estacas de madeira,
estacas metálicas e estacas pré-moldadas de
concreto, cujas características, apresentadas por 3 METODOLOGIA
Velloso e Lopes (2010), são resumidas a seguir.
As estacas de madeira são troncos de árvore, 3.1 Identificação dos Insumos
razoavelmente retilíneos, devidamente preparados
para cravação no topo e na ponta e tratados com Inicialmente foram identificados os insumos de
produtos conservantes. Ou seja, seu processo fundações por estacas cravadas, isto é, os
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

materiais e equipamentos necessários para sua de Engenharia de Fundações e Geotecnia – ABEF


completa construção, bem como suas quantidades, (2012) e por Estacas Pré-Fabricadas (2008).
com base em ferramentas de composição de A ABEF (2012) estabelece uma potência
custos da construção civil, usualmente empregadas mínima para o motor a diesel do equipamento a ser
para a elaboração de orçamentos. Enquanto as utilizado na cravação de estacas metálicas e sua
Tabelas de Composição de Preços para produtividade média, isto é, o tempo médio exigido
Orçamentos – TCPO (2010) dispõe de dados para cravar um metro de estaca. Esses valores
acerca de estacas de madeira para diferentes foram adotados para todas as estacas desse tipo.
condições de terreno e com diferentes diâmetros, Para as estacas pré-moldadas de concreto, o peso
estacas metálicas com diferentes perfis e estacas do martelo do bate-estacas necessário foi
pré-moldadas de concreto, tanto armado quanto encontrado em função da área de concreto na
protendido, com diferentes seções transversais, o seção transversal, de acordo com a metodologia
Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices proposta por Estacas Pré-Fabricadas (2008). A
da Construção Civil – SINAPI (2015) disponibiliza partir desse valor, a potência do motor a diesel foi
apenas dados de estacas pré-moldadas de encontrada na TCPO (2010), em seus dados a
concreto armado para diferentes condições, respeito de equipamentos para fundações. Um
certamente por representarem o tipo mais utilizado valor de produtividade média para esse tipo de
no Brasil. A mão de obra presente nas estaca também foi adotado dessa referência. No
composições não foi considerada, uma vez que não caso das estacas pré-moldadas de concreto
implica emissões de CO 2 de forma direta. As horas disponíveis nas composições do SINAPI (2015), a
improdutivas consumidas pelos equipamentos, que adoção de um valor médio não foi necessária, uma
correspondem ao seu tempo inoperante no canteiro vez que elas já dispunham de um valor específico
de obra, quando disponíveis, também foram para cada item.
desconsideradas pelo mesmo motivo. No total, foi realizado o levantamento das
As composições das estacas metálicas composições de 30 diferentes estacas.
presentes na TCPO (2010) não indicavam a carga
admissível de cada uma, apenas o perfil. Por outro 3.2 Metodologia de Cálculo das Emissões de
lado, as composições das estacas pré-moldadas de CO2
concreto disponíveis no SINAPI (2015) não
apontavam as dimensões da seção transversal, Após reunir todas as informações necessárias a
apenas o formato (quadrada ou circular) e a carga respeito dos insumos, o fator de emissão de CO 2
admissível. Velloso e Lopes (2010) sintetizam os de cada um deles foi identificado. Costa (2012),
tipos usuais de estacas em tabelas, especificando após definir um método para quantificar as
as dimensões de suas seções transversais e suas emissões de CO 2 de materiais em três níveis
cargas de trabalho, a partir das quais as distintos de precisão (básico, intermediário e
características até então omissas foram adquiridas. avançado), calculou os fatores de emissão para os
A princípio, apenas as composições das estacas principais materiais utilizados na construção civil no
de madeira especificavam o equipamento (bate- chamado nível básico (baseado em dados médios,
estacas) necessário para a cravação do elemento a nível nacional), considerando a extração de
no solo, indicando a potência do motor e o peso matéria-prima, processamento e transporte (para a
do martelo. Para a obtenção dessas informações cidade do Rio de Janeiro). Além disso, Álvares Jr
nos demais tipos de estaca em estudo, foram et al. (2003), ao apresentar uma metodologia para
utilizados manuais técnicos de execução de estacas o cálculo de emissões de frotas de veículos no
publicados pela Associação Brasileira de Empresas Brasil, aponta o fator de emissão para veículos
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

pesados a diesel, como os equipamentos utilizados obtendo-se a emissão proveniente do bate-estaca,


na execução de estacas. como indicado na Equação (2):
A partir das quantidades de insumos
consumidos e seus respectivos fatores de emissão,
foi calculado o total de emissões de CO 2 para cada (2)
tipo de estaca, através do somatório do produto onde Ebate-estacas representa as emissões de CO 2
das duas variáveis mencionadas, como demonstra provenientes do bate-estacas por metro de estaca
a Equação (1): (kgCO 2/m); P é a potência do motor do bate-
estacas (kW); ∆t é o tempo de funcionamento do
bate-estacas, exigido para cravar um metro de
estaca no solo (hprod/m); FEbate-estacas é o fator de
(1) emissão de CO 2 do bate-estacas (kgCO 2/MJ).
onde E é o total de emissões de CO 2 por metro de
estaca cravada (kgCO 2/m); Ei representa as 3.3 Metodologia de Cálculo do Consumo de
emissões de CO 2 provenientes do i-ésimo insumo Energia
por metro de estaca (kgCO 2/m); Q i é a quantidade
consumida do i-ésimo insumo, na devida unidade
Para a quantificação da energia embutida nas
de medida por metro de estaca (por exemplo: m/m, estacas, o fator de consumo de energia de cada
kg/m, hprod/m); FEi é o fator de emissão do i-ésimo
uma delas foi identificado. Para a madeira, o aço e
insumo, em massa de CO 2 por unidade de medida o concreto simples foram utilizados os fatores
(por exemplo: kgCO 2/m³, kgCO 2/kg, kgCO 2/MJ).
apresentados por Monich et al. (2010). Já para o
concreto armado foi preciso determinar um fator
É preciso se atentar para o fato de que um com base nos dados de Monich et al. (2010), a
consumo e seu respectivo fator de emissão devem respeito do consumo de energia do aço e do
apresentar unidades compatíveis (por exemplo:
concreto simples, e de Lima (2010), a respeito da
consumo de material em m³ e fator de emissão em taxa de consumo de aço na produção de concreto
kgCO 2/m³ de material). No caso das estacas de armado, de forma análoga ao cálculo supracitado
madeira e pré-moldadas de concreto o consumo
do fator de emissão de CO 2 desse material.
de material é dado em m/m enquanto o fator de
A partir das quantidades de insumos e seus
emissão é dado em kgCO 2/m³. Assim, foi preciso
respectivos fatores de consumo de energia, foi
obter o volume de material consumido calculado o total de energia consumida por cada
multiplicando-se o comprimento dado pela área da
tipo de estaca, através do somatório do produto
seção transversal. As áreas circulares maciças e das duas variáveis mencionadas, como mostra a
quadradas puderam ser facilmente calculadas ao Equação (3):
passo que as circulares vazadas e octogonais
vazadas foram encontradas em tabelas fornecidas
por Estacas Pré-Fabricadas (2008), já que era
especificado apenas o diâmetro externo. (3)
No caso dos equipamentos, o consumo é dado onde C é o total de consumo de energia por metro
em hprod/m enquanto o fator de emissão é dado em de estaca cravada (MJ/m); C i representa o
kgCO 2/MJ. Portanto, foi calculada a energia consumo de energia proveniente do i-ésimo insumo
consumida (produto da potência do motor pelo por metro de estaca (MJ/m); Q i é a quantidade
tempo exigido) em MJ, sendo considerado um consumida do i-ésimo insumo, na devida unidade
rendimento de 0,3 (30%) para o motor a diesel, e de medida por metro de estaca (por exemplo: m/m,
então ela foi multiplicada pelo fator de emissão, kg/m, hprod/m); FCi é o fator de consumo de
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

energia do i-ésimo insumo, em MJ por unidade de Os fatores de emissão de CO 2 dos materiais e


medida (por exemplo: MJ/m³, MJ/kg). equipamentos presentes nas composições
estudadas estão reunidos na Tabela 1.
Como elucidado anteriormente, é preciso que
um consumo e seu respectivo fator de energia Tabela 1. Fatores de emissão de CO2 utilizados.
estejam em unidades compatíveis. No caso das Fator de
Componente Unidade
emissão
estacas de madeira e pré-moldadas de concreto o Madeira – Eucalipto 409 kgCO2/m³
consumo de material é dado em m/m enquanto os Aço 1,8452 kgCO2/kg
fatores de energia são dados em MJ/kg. Assim, Concreto 445 kgCO2/m³
foram determinados os fatores por unidade de Concreto armado / Concreto
620,3 kgCO2/m³
volume, multiplicando-se o fator medido por protendido
unidade de massa pela massa específica do Bate-estacas 0,074 kgCO2/MJ
material, como mostra a Equação (4):
4.1.2 Cálculo das Emissões de CO 2
(4)
onde FCi ((MJ/m³)
é o fator de consumo de energia A partir do cálculo do total de emissões de CO 2 de
do i-ésimo material, por unidade de volume cada tipo de estaca cravada, cuja metodologia foi
(MJ/m³); FCi(MJ/kg) é o fator de consumo de descrita anteriormente, foram obtidos os resultados
energia do i-ésimo material, por unidade de massa apresentados na Figuras 1, divididos entre as
(MJ/kg); ρi é a massa específica normatizada do i- emissões provenientes dos materiais e do
ésimo material (kg/m³). equipamento.
As estacas de madeira apresentaram as
No caso dos bate-estacas, foi preciso somente menores emissões acumuladas de CO 2, já que o
calcular a energia consumida pelo motor, sendo o processamento do material é o mais simples e o
produto da potência do motor pelo tempo de que envolve menos matéria-prima entre os
operação exigido, considerado um rendimento de analisados, demandando assim menos energia e
0,3 (30%) do motor, como indicado na Equação resultando menos emissões de poluentes. Já as
(5): estacas metálicas são, certamente, as menos
favoráveis do ponto de vista de emissões. Isso
ocorre porque a indústria siderúrgica emite grandes
(5) quantidades de CO 2, especialmente ao converter
onde C(bate-estacas) representa o consumo de energia minério de ferro no ferro a ser utilizado na
proveniente do bate-estacas por metro de estaca fabricação do aço. Por esse mesmo motivo, as
(MJ/m); P é a potência do motor do bate-estacas emissões provenientes do material são
(kW); ∆t é o tempo de funcionamento do bate- substancialmente maiores que as provenientes do
estacas, exigido para cravar um metro de estaca no equipamento utilizado na cravação de estacas.
solo (hprod/m).

4 RESULTADOS OBTIDOS E ANÁLISE

4.1 Emissões de CO 2

4.1.1 Fatores de Emissão de CO 2


XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

As estacas pré-moldadas de concreto, de uma


maneira geral, devem apresentar um aumento nas
emissões de CO 2 proporcional ao aumento da área
da seção transversal (e consequente aumento do
volume de material consumido). Percebe-se, no
entanto, que a estaca CP-Q-17, de seção 17 x 17
cm, a menor área entre as seções quadradas,
resultou em um valor superior ao das estacas CA-
Q-20-20 e CA-Q-20-30, ambas de seção 20 x
20 cm. Isso se deve à adoção de uma
produtividade média de 0,35 hprod/m para o bate-
estacas do primeiro caso, enquanto as horas
consumidas pelos outros elementos são de 0,0300
e 0,0200 hprod/m, respectivamente, valores bem
menores que o anterior. De fato, o maior consumo
de horas produtivas entre todas as estacas
disponibilizadas pelo SINAPI é de 0,2560 hprod/m,
enquanto para aquelas fornecidas pela TCPO a
média de 0,35 hprod/m foi considerada, resultando,
sempre, em emissões maiores oriundas do
equipamento. Contudo, ao efetuar uma média entre
as emissões das estacas de seção 20 x 20 cm, para
todos os comprimentos cravados, são obtidos
29,17 kgCO 2/m, valor superior ao das emissões da
estaca CP-Q-17.
O total de emissões das estacas pré-moldadas
de concreto se mostraram apropriados; são
maiores que o das estacas de madeira e menores
que o das estacas metálicas. Durante todo o
Figura 1. Emissões de CO2 de estacas cravadas. processo de obtenção do concreto armado, grande
Legenda: o primeiro termo da sigla refere-se ao material da parte das emissões são provenientes das reações
estaca (Ma: madeira, Me: metálica, CP: concreto químicas da produção do clínquer, que forma o
protendido, CA: concreto armado); o segundo termo, para
cimento utilizado no concreto. O aço também é um
as estacas de madeira, refere-se à condição do terreno
(CF: condições favoráveis, CP: condições pouco grande contribuinte das emissões totais geradas,
favoráveis), e para as demais, à geometria da seção como elucidado anteriormente. Porém, os
transversal (I: perfil metálico I, II: perfil metálico duplo I, Q: agregados do concreto possuem fatores de
quadrada, C: circular maciça, CV: circular vazada, O:
emissão menores e maior participação no volume
octogonal vazada); o terceiro termo refere-se à dimensão
da seção transversal (para as de madeira é o diâmetro em de material produzido, não permitindo assim que as
centímetros, para as metálicas é o valor em polegadas emissões geradas pelas estacas de concreto
designado no perfil, e para as de concreto é o diâmetro no armado sejam tão intensas quanto as das estacas
caso das circulares e octogonais e o lado no caso d as
metálicas.
quadradas, ambos em centímetros); o quarto termo,
presente apenas nas estacas de concreto armado com A Figuras 1 mostra que as emissões
seção quadrada, refere-se ao comprimento cravado relacionadas à produção dos materiais são sempre
máximo, em metros.
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

mais significativas que as geradas pelos


equipamentos no caso das estacas cravadas.
Embora a parcela de emissões relativas aos
equipamentos utilizados seja em geral menor em
relação aos materiais, o treinamento da equipe de
obra para que o equipamento não seja utilizado de
forma incorreta e desnecessariamente torna-se
indispensável para diminuir as emissões
atmosféricas, como também o investimento na
manutenção dos equipamentos e a aquisição de
maquinário mais eficiente, que consuma menos
combustível.

4.2 Consumo de Energia

4.2.1 Fatores de Consumo de Energia

Os fatores de consumo de energia dos materiais


presentes nas composições estudadas estão
expostos na Tabela 2.

Tabela 2. Fatores de consumo de energia utilizados.


Fator de
Componente consumo Unidade
de energia
3,50 MJ/kg
Madeira – Eucalipto
2240 MJ/m³
Aço 30,00 MJ/kg
1,20 MJ/kg
Concreto
2880 MJ/m³
Concreto armado / Concreto
5730 MJ/m³
protendido
Figura 2. Consumo de energia de estacas cravadas.
4.2.2 Cálculo do Consumo de Energia Legenda: idem Figura 1.

Os resultados obtidos através do cálculo do As estacas de madeira apresentaram as


consumo total de energia para cada tipo de estaca menores quantidades de energia embutida, o que
analisado são mostrados na Figura 2, divididos pode ser explicado pelo processamento mais
entre o que é decorrente dos materiais e do simples entre os materiais analisados, demandando
equipamento. assim menos energia. As estacas metálicas são,
novamente, as menos favoráveis ao se analisar a
energia consumida em seu processo. A energia
consumida na fabricação do aço é demasiada
quando comparada à energia consumida pelo bate-
estaca.
De uma maneira geral, as estacas pré-moldadas
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

de concreto devem apresentar um aumento na intermediários, em conformidade com a


quantidade de energia embutida conforme se diversidade de materiais que as constituem, alguns
aumenta a área da seção transversal e o volume de bem menos poluentes que o aço, não permitindo
material consumido. Novamente, a estaca de seção emissões tão altas quanto as das metálicas.
17 x 17 cm, que possui a menor área entre as Da mesma forma, foi possível realizar a
seções quadradas, mostrou um resultado superior a quantificação da energia consumida durante o
algumas estacas de seção 20 x 20 cm. Isso se deve processo de produção e de execução de
à adoção de um valor médio para a produtividade fundações por estacas cravadas. Similarmente ao
do bate-estaca no primeiro caso, ao passo que as observado nos resultados das emissões de CO2, as
horas consumidas pelos outros elementos são bem estacas de madeira se mostraram as mais
menores que o anterior e mais precisos, por não favoráveis e as metálicas as menos favoráveis do
serem valores adotados. As quantidades de energia ponto de vista de consumo de energia,
consumida pelas estacas pré-moldadas de apresentando as estacas pré-moldadas de concreto
concreto são valores que se mostram convenientes, valores intermediários.
sendo maiores que o das estacas de madeira e Sabe-se que a escolha de uma solução de
menores que o das estacas metálicas, como fundação passa por criteriosa análise técnica e
observado na quantificação das emissões de CO 2. econômica, e o presente estudo limita-se a
identificação da alternativa mais sustentáveis sob o
5 CONCLUSÕES ponto de vista construtivo. Entretanto, a pesquisa
propõe que as quantificações das emissões e do
A pesquisa aqui descrita teve como objetivo consumo energético integrem as variáveis a serem
principal a quantificação da energia consumida e ponderadas durante a escolha entre alternativas
das emissões de CO 2 provindas de fundações por viáveis tecnicamente e economicamente.
estacas cravadas, ao longo dos seus ciclos de vida, A pesquisa se mostrou relevante no âmbito da
permitindo a comparação entre elas sob um ponto investigação científica também ao utilizar um
de vista ambiental. Ao se definir a metodologia método para a quantificação de emissões de CO 2 e
para realizar esse balanço, foram identificadas as de energia consumida que poderia ser aplicado na
composições de insumos dessas fundações, os análise de outras obras geotécnicas e outros tipos
fatores de emissão dos materiais consumidos e dos de construções. Além disso, ao comparar
equipamentos utilizados e os fatores de consumo alternativas e identificar as ambientalmente
de energia dos materiais, além de obtidas as favoráveis, ela pode auxiliar em uma investigação
informações complementares necessárias. de ações de mitigação para aquelas menos
Desse modo, foi possível quantificar as favoráveis e assim promover o desenvolvimento de
emissões totais de fundações por estacas cravadas, materiais e técnicas menos poluentes.
oriundas da extração de matérias-primas,
fabricação, transporte e disposição final. Os
resultados se mostraram apropriados, já que as AGRADECIMENTOS
estacas de madeira, cujo processo produtivo
envolve pouca matéria-prima e energia, Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
apresentaram os menores valores de emissões, Científico e Tecnológico (CNPq) e à Universidade
enquanto as estacas metálicas são as geradoras das Federal de Itajubá (UNIFEI) pela concessão de
maiores quantidades de CO 2 entre as estacas bolsa de iniciação científica e incentivo à pesquisa.
analisadas, como esperado. As estacas pré- À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
moldadas de concreto resultaram valores de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo incentivo à
XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG 2018 – 28 de Agosto a 01 de Setembro, Salvador, Bahia, Brasil
©ABMS, 2018

participação em eventos acadêmicos. SINAPI. (2015) Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e


Índices da Construção Civil, Cadernos Técnicos de
Composições para Estacas Pré-moldadas - Lote 1,
Versão 001, Caixa Econômica Federal.
REFERÊNCIAS Soares, S. R.; Souza, D. M.; Pereira, S. W. (2006) A
avaliação do ciclo de vida no contexto da construção
Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de civil. In: SATTER, M. A; PEREIRA, F.O.R (Eds.).
Fundações e Geotecnia. (2012) Manual de Execução Coletânea Habitare, vol. 7, Construção e Meio
de Fundações e Geotecnia: Práticas Recomendadas, Ambiente, cap. 4, pp. 96-127, ANTAC, Porto Alegre.
1a ed. PINI, São Paulo. TCPO. (2010) Tabelas de Composição de Preços para
Álvares Jr., O. M.; Linke, R. R. A. (2003) Metodologia Orçamentos, 13a ed., Editora Pini, São Paulo.
simplificada de cálculo das emissões de gases do Velloso, D. A.; Lopes, F. R. (2010) Fundações, vol. 2,
efeito estufa de frotas de veículos no Brasil, CETESB, Fundações Profundas, Oficina de Textos, São Paulo.
São Paulo.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2014) NBR
6118: Projeto de estruturas de concreto –
Procedimento, Item 8.2.2, Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2010) NBR
6122: Projeto e execução de fundações , Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1997) NBR
7190: Projeto de estruturas de madeira, Anexo E, Rio
de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2014) NBR
16258: Estacas pré-fabricadas de concreto —
Requisitos, Rio de Janeiro.
Basu, D.; Misra, A.; Puppala, A. J.; Chittoori, C. S. (2013)
Sustainability in Geotechnical Engineering, 18th
International Conference on Soil Mechanics and
Geotechnical Engineering, Proceedings... Paris, pp.
3171-3178.
Brasil. Ministério do Meio Ambiente. (2011) 1o Inventário
nacional de emissões atmosféricas por veículos
automotores rodoviários, Relatório final, Brasília.
Costa, B. L. C. (2012) Quantificação das emissões de CO2
gerados na produção de materiais utilizados na
construção civil no Brasil, Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós -Graduação e
Pesquisa de Engenharia, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, 190 p.
Estacas Pré-Fabricadas. (2008) Manual Técnico - Estacas
Pré-fabricadas de Concreto, São Paulo.
Ferreira, J. V. R. (2004) Análise de ciclo de vida dos
produtos, Instituto Politécnico de Viseu, Viseu.
Lima, J. A. R. (2010). Avaliação das consequências da
produção de concreto no Brasil para mudanças
climáticas, Tese de Doutorado, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil, Departamento de
Engenharia de Construção Civil, Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, 129 p.
Monich, C. R.; Tavares, S. F. (2010) Energia e CO2
embutidos na fabricação dos materiais de construção:
panorama atual no Brasil e exterior, XIII Encontro
Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído ,
Anais... Canela, pp. 1-10.

Você também pode gostar