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ROBERTO BUCHAIM

A INFLUÊNCIA DA NÃO-LINEARIDADE FÍSICA DO CONCRETO


ARMADO NA RIGIDEZ À FLEXÃO E NA CAPACIDADE DE
ROTAÇÃO PLÁSTICA

SÃO PAULO
2001
ROBERTO BUCHAIM

A INFLUÊNCIA DA NÃO-LINEARIDADE FÍSICA DO CONCRETO


ARMADO NA RIGIDEZ À FLEXÃO E NA CAPACIDADE DE
ROTAÇÃO PLÁSTICA

Tese apresentada à Escola Politécnica da


Universidade de São Paulo para obtenção do título
de Doutor em Engenharia.

Área de Concentração: Engenharia de Estruturas

Orientador: Prof. Dr. Fernando R. Stucchi

SÃO PAULO
2001
Buchaim, Roberto
A influência da não-linearidade física do concreto armado na rigidez
à flexão e na capacidade de rotação plástica. São Paulo, 2001.
260 p.

Tese (Doutorado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.


Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações.

1. Concreto armado 2. Armadura tracionada – Enrijecimento 3.


Rigidez à flexão 4. Rotação plástica I. Universidade de São Paulo.
Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Estruturas e
Fundações II. t.
Este trabalho é dedicado a Maria
Terezinha, Tomás e Ana Luísa.
AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Fernando R. Stucchi pela orientação, solicitude e


interesse demonstrados ao longo deste trabalho.

Aos professores do Departamento de Estrutura do Centro de


Tecnologia e Urbanismo da Universidade Estadual de Londrina, especialmente aos
Profs. Jorge Bounassar Filho e José A. O. do Nascimento, pelo estímulo e incentivo.

A Victor H. Kono pela excelente ajuda na elaboração das figuras em


AutoCad.

A todos aqueles que de uma maneira ou de outra colaboraram neste


trabalho.
i

SUMÁRIO

Lista de Figuras........................................................................................................ iii


Lista de Tabelas ....................................................................................................... x
Lista de Abreviaturas................................................................................................ xiii
Lista de Símbolos.......................................................................................................xiv
Resumo .................................................................................................................... xx
Abstract .................................................................................................................. .xxi

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1

1.1 Dimensionamento e Análise ................................................................................ 1


1.2 Objetivos.............................................................................................................. 5
1.3 Hipóteses Adotadas e Limitações do Presente Trabalho.................................... 8

2 LEIS CONSTITUTIVAS .........................................................................................11

2.1 Introdução...........................................................................................................11
2.2 Concreto em Compressão Uniaxial.....................................................................11
2.3 Concreto em Tração Uniaxial..............................................................................21
2.4 Resistência à Tração do Concreto na Flexão Simples...................................... 26
2.5 Critérios de Resistência do Concreto................................................................ 37
2.6 Leis Constitutivas dos Aços para Armaduras de Concreto ............................... 48
2.7 Leis Constitutivas do Concreto na Flexão ......................................................... 58

3 ADERÊNCIA ENTRE O CONCRETO E A ARMADURA. FISSURAÇÃO 62

3.1 Introdução.......................................................................................................... 62
ii

3.2 Lei Tensão de Aderência-Deslizamento do MC-90........................................... 63


3.3 Fissuração do Concreto e Espaçamento Médio das Fissuras .......................... 78
3.4 Lei Tensão da Armadura na Fissura Associada à Sua Deformação Média ....... 97

4 O DIAGRAMA MOMENTO-CURVATURA NA FLEXÃO COMPOSTA NORMAL


..................................................................................................................................101

4.1 Introdução..........................................................................................................101
4.2 O Ponto de Máximo do Diagrama Momento-Curvatura....................................106
4.3 Obtenção do Diagrama Momento-Curvatura....................................................114
4.4 Apresentação de Resultados .......................................................................... 133
4.5 Pilares no Estado Limite Último....................................................................... 158

5 DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE ROTAÇÃO PLÁSTICA .................... 171

5.1 Introdução........................................................................................................ 171


5.2 Consideração da Força Cortante e Obtenção da Força do Banzo
Tracionado. ...................................................................................................... 177
5.3 Determinação Simplificada da Capacidade de Rotação Plástica.................... 182
5.4 Determinação Rigorosa da Capacidade de Rotação Plástica......................... 184
5.5 Variação Paramétrica ...................................................................................... 196
5.6 Comparação entre Resultados Teóricos e Experimentais .............................. 206
5.7 Capacidade de Rotação Plástica de Pilar Cintado.......................................... 216
5.8 Considerações Adicionais.................................................................................224
5.9 A Capacidade de Rotação Plástica Segundo Normas .................................... 232

6 CONCLUSÃO..................................................................................................... 239

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 251


iii

LISTA DE FIGURAS

Capítulo 1

Fig. 1.1 - Classificação das rótulas plásticas, cf. Bachmann (1970) ...................... 09

Capítulo 2

Fig. 2.1 - Leis tensão-deformação do agregado, da pasta de cimento e do


concreto, cf. FIP/CEB, Bull. 197 (1990)................................................... 12

Fig. 2.2 - Lei tensão-deformação do concreto em compressão uniaxial,


deformação volumétrica e efeito Poisson, cf. McGregor (1997).............. 14

Fig. 2.3 - Zona de dano no corpo de prova cilíndrico...............................................14

Fig. 2.4 - Amolecimento do corpo de prova de concreto em compressão


uniaxial, cf. Sigrist (1995)..........................................................................16

Fig. 2.5 - Obtenção da energia de ruptura por unidade de área GcF do concreto
em compressão uniaxial, cf. Sigrist (1995)...............................................18

Fig. 2.6 - Obtenção simplificada do módulo de amolecimento.................................19

Fig. 2.7 - Leis tensão-deformação para concreto em compressão uniaxial,


cf. Sigrist (1995) ..................................................................................... 20

Fig. 2.8 - Leis constitutivas do concreto e modelo da fissura coesiva ................... 22

Fig. 2.9 - Lei σ c (∆l ) para concreto em tração uniaxial .......................................... 23

Fig. 2.10 - Leis σ c (ε c ) e σ c (w) simplificadas .......................................................... 24

Fig. 2.11 - Influência do comprimento do corpo de prova nos ramos descendentes


das leis σ c (∆l ) e σ c (ε c ) , cf. Sigrist (1995) ............................................. 25

Fig. 2.12 - Valores extremos da resistência do concreto à tração na flexão............ 27

Fig. 2.13 - Dados para o cálculo da resistência do concreto à tração na flexão, cf.
Sigrist (1995) ........................................................................................... 30

Fig. 2.14 - Momento relativo em função da altura relativa da fissura coesiva, cf.
Sigrist (1995) ........................................................................................... 34

Fig. 2.15 - Relação cinemática ................................................................................. 36


iv

Fig. 2.16 - Critério de Mohr-Coulomb e formas de ruptura....................................... 39

Fig. 2.17 - Ensaio de compressão simples............................................................... 40

Fig. 2.18 - Ensaio de cisalhamento simples ............................................................. 41

Fig. 2.19 - Compressão triaxial, comparação entre resultados experimentais e o


critério de Mohr-Coulomb, cf. Menne, apud Sigrist (1995) ...................... 41

Fig. 2.20 - Critério de Mohr-Coulomb em função das tensões principais extremas . 43

Fig. 2.21 - Critério de Mohr-Coulomb no plano (σ f c , τ f c ) .................................... 45

Fig. 2.22 - Resistência do concreto em estado duplo de tensão, cf. Kupfer,


Hilsdorf e Rüsch (1969)........................................................................... 46

Fig. 2.23 - Modos de ruptura dos espécimes em estado duplo de tensão, idem ..... 47

Fig. 2.24 - Ensaio de tração e tipos de diagramas tensão-deformação dos aços.... 50

Fig. 2.25 - Leis tensão-deformação simplificadas .................................................... 54

Fig. 2.26 - Configuração geométrica das nervuras, cf. NBR 7480/1996 .................. 55

Fig. 2.27- Ensaio de tirante armado, cf. NBR 7477/1982, para obtenção do
coeficiente de conformação superficial ................................................... 55

Fig. 2.28- Determinação da deformação média da armadura na fissuração


estabilizada.............................................................................................. 57

Fig. 2.29 - Leis constitutivas σ c (ε c ) na flexo-compressão para f ck / f cm = 20 / 28MPa ,


parábola-linear e Grasser........................................................................ 61

Capítulo 3

Fig. 3.1 - Tirante com uma fissura, deslizamento entre a armadura e o concreto,
deformações nos dois materiais, equilíbrio da barra da armadura.......... 64

Fig. 3.2 - Lei tensão de aderência-deslizamento, cf. o MC-90 ............................... 67

Fig. 3.3 - Distribuição das deformações e tensão de aderência no comprimento de


transmissão ............................................................................................. 69

Fig. 3.4 - Ensaio de arrancamento ......................................................................... 72

Fig. 3.5 - Ensaio de arrancamento, boa aderência, concreto não-confinado......... 73


v

Fig. 3.6 - Fissura isolada..........................................................................................74

Fig. 3.7 - Fase de formação de fissuras para diferentes diâmetros, f ck = 35MPa ,


boa aderência............................................................................................76

Fig. 3.8 - Ações do estribo na indução da fissuração do concreto......................... 79

Fig 3.9 - ................................................. .................................................................. 80

Fig. 3.10 - ............................................................... ................................................. 82

Fig. 3.11 - Comparação dos espaçamentos médios das fissuras,


cf. o MC-90 e o EC- 2 .............................................................................. 85

Fig. 3.12 - Área efetiva do banzo tracionado nas vigas e nas lajes ......................... 88

Fig. 3.13 - Determinação do espaçamento médio das fissuras, cf. Meier, apud
Kreller (1989)........... ............................................................................... 89

Fig. 3.14 - Influência da armadura transversal sobre o espaçamento médio das


fissuras, cf. Rizkalla, Hwang e El Shahawi, apud Collins e Mitchell
(1987)............................... ....................................................................... 95

Fig. 3.15.- ..................................................................................................................96

Fig. 3.16 - Lei tensão-deformação média da armadura do banzo tracionado (Indica-


se também a lei tensão-deformação da barra nua), cf. o MC-90, item
3.2.3.........................................................................................................100

Capítulo 4

Fig. 4.1 - Formas de seção e convenção de sinais................................................103

Fig. 4.2 - Distinção entre estrutura isostática e hiperestática.................................104

Fig. 4.3 - Capacidade de carga de estruturas isostática e hiperestática................104

Fig. 4.4 - Dados para a determinação do ponto de máximo da curva M (1 r ) .......107

Fig. 4.5.-...................................................................................................................108

Fig. 4.6 - Discretização das seções de concreto e de aço.....................................114

Fig. 4.7.- ..................................................................................................................115

Fig. 4.8.-...................................................................................................................121

Fig. 4.9 - Tipos de diagramas momento-curvatura ................................................123


vi

Fig. 4.10 - Passo da curvatura relativa ....................................................................125

Fig. 4.11 - Comparação dos resultados teóricos e experimentais da relação


momento-curvatura média, cf. Ahmad e Shah (1980) .................... 134

Fig. 4.12........................................... ...................................................................... 136

Fig. 4.13 - Comparação entre as curvas momento-curvatura média teórica e


experimental, cf. ensaio de Priestley, Park e Lu, apud Collins e
Mitchell (1987).........................................................................................138

Fig. 4.14 - Determinação da rigidez secante, cf. França (1991). ........................... 139

Fig. 4.15 - Dados da seção transversal.................................................................. 141

Fig. 4.16 - Diagramas momento-curvatura relativos, seção retangular, flexão


simples, armadura simples, CA-50 ........................................................ 144

Fig. 4.17a- Comparação entre as curvas M (1 r ) para força normal relativa igual
a − 0,4 ...................................................................................................147

Fig. 4.17b- Comparação entre as curvas M (1 r ) para força normal relativa igual a
− 0,8 ......................................................................................................147

Fig. 4.18 - Viga T: Momento-curvatura relativos, seções do vão e do apoio, CA-50,


f ck f cm = 20 28MPa ...............................................................................148

Fig. 4.19 - Rigidez de vigas no Estádio II, armadura dupla. (Dados cf. Tabela
4.11) ...................................................................................................... 151

Fig. 4.20 - Comparação das curvas de interação no ELU, flexo-compressão. Leis


parábola-retângulo, cf. NBR 6118, 2000, e parábola do segundo grau,
com momento último obtido do ponto de máximo do diagrama
momento-curvatura. Armadura simétrica, y s1 h = 0,10 e y s 2 h = 0,90 .
Aço CA-50, ε su = 10 0 / 00 ...........................................................................159

Fig. 4.21a – Curvas completas da rigidez relativa equivalente em função da força


normal relativa de cálculo, para três taxas mecânicas da armadura total.
Dados cf. Tabela 4.14.............................................................................163

Fig. 4.21b - Pilares com fissuração: M cr ( N d ) < M du ( N d ) e ( EI ) eq cf. Equação


(4.83).......................................................................................................164

Fig. 4.21c - Pilares sem fissuração: M cr ( N d ) ≥ M du ( N d ) e ( EI ) eq = ( EI )1 ...............164


vii

Fig. 4.21 - Rigidez equivalente de pilares não esbeltos em flexão composta normal.
Seção retangular, armadura simétrica. Dados cf. Tabela 4.14 ............. 164

Fig. 4.22 - Rigidez relativa equivalente para resistências à tração características


superior e inferior, ω tot = 0,5 . Demais dados cf. Tabela 4.14. ............... 165

Fig. 4.23 - Comparação da rigidez equivalente, cf. Equação (4.83), e rigidez secante,
cf. França, para tensões de pico f ck / 1, 27 e f yk / 1,15 . Seção retangular,
armadura simétrica, As1 = As 2 = Astot / 2 , y s1 h = 0,15 e y s 2 h = 0,85 . Aço
CA-50, f ck = 20 MPa , f ct , d = 1, 26MPa , Eci = 10 3 × ( f ck 1,27) = 15,75GPa ,
I 0 = bh 3 12 . Adimensionais: ν d = N d (bhf cd ) , ω tot = Astot f yd (bhf cd ) .... ..166

Capítulo 5

Fig. 5.1 - Viga equivalente na região de apoio de continuidade. ......................... 172

Fig. 5.2 - Deslocamentos relativos das faces da fissura. ..................................... 176

Fig. 5.3 - Viga equivalente: geometria, campos de tensão descontínuos, força


no banzo tracionado. ............................................................................. 178

Fig. 5.4 - Determinação simplificada da capacidade de rotação plástica ............ 184

Fig. 5.5 - Dados para o cálculo da rotação plástica ............................................. 186

Fig. 5.6 - Curvas θ pl (ω 1 ) obtidas pelos métodos rigoroso e simplificado. Flexão


simples, armadura simples, CA-50 ........................................................ 191

Fig. 5.7- Capacidade de rotação plástica cf. método rigoroso, para cot υ função
da taxa mecânica da armadura. (Indicam-se também as curvas
de υ = 90º ou cot υ = 0 e υ = 40º ou cot υ = 1,20 ) .................................. 192

Fig. 5.8 - Representação qualitativa do ângulo crítico da rótula plástica em


função da tensão de cisalhamento em rótulas de flexão e de flexão e
força cortante, cf. Bachmann (1967) ..................................................... 194

Fig. 5.9 - Determinação das taxas mecânicas correspondentes a 0,75τ r1 e a τ r1 195

Fig. 5.10 - Influência da inclinação do campo de compressão na capacidade de


rotação plástica ....... ............................................................................. 196

Fig. 5.11 - Influência da deformação limite do concreto na capacidade de rotação


plástica.. .................. ............................................................................. 198

Fig. 5.12 - Influência da esbeltez sobre θ pl , altura útil d = cte .............................. 198
viii

Fig. 5.13 - Capacidade de rotação plástica em função da esbeltez....................... 199

Fig. 5.14 - Influências do espaçamento médio das fissuras e do diâmetro da barra


em θ pl ...................... ............................................................................. 200

Fig. 5.15 - Capacidade de rotação plástica em função de ρ s , para f ck = 20 e


50 MPa ................................................................................................... 201

Fig. 5.16 - Capacidade de rotação plástica em função de ω 1 , para f ck = 20 e


50 MPa ................................................................................................... 201

Fig. 5.17 - Capacidade de rotação plástica para f t f y variável, ε su e f y ctes .... 202

Fig. 5.18 - Influência da armadura dupla sobre a capacidade de rotação plástica.203

Fig. 5.19 - Influência da força normal de compressão na capacidade de rotação


plástica, para armadura simétrica.......................................................... 204

Fig. 5.20 - Dados dos ensaios de Eligehausen e Fabritius, CEB 218 (1993) ........ 207

Fig. 5.21 - Seção transversal das vigas ensaiadas por Sigrist e Marti (1993) e
seção adotada no cálculo...................................................................... 209

Fig. 5.22 - Resultados teóricos e experimentais, aço A, ensaios de Bosco e


Debernardi, CEB 218 (1993). ................................................................ 215

Fig. 5.23 - Resultados teóricos e experimentais, aço B, ensaios de Bosco e


Debernardi, CEB 218 (1993) ................................................................. 215

Fig. 5.24 - Efeito do cintamento em pilar de seção quadrada ................................ 217

Fig. 5.25- Lei tensão-deformação do concreto confinado, cf. Sheikh e Uzumeri


(1982). ..................... ............................................................................. 219

Fig. 5.26 - Pilar cintado ............ ............................................................................. 223

Fig. 5.27 - Capacidade de rotação plástica para o caso de pórtico plano. Exemplo
com três fissuras plastificadas............................................................... 225

Fig. 5.28 - Capacidade de rotação plástica em viga equivalente assimétrica........ 226

Fig. 5.29 - Diagrama momento-rotação da viga equivalente.................................. 229

Fig. 5.30 - Comparação entre as capacidades de rotação plástica do MC-90


e do método rigoroso. Flexão simples, armadura simples,
f yk = 500MPa para os três aços ............................................................ 234
ix

Fig. 5.31 - Capacidade de rotação plástica para três classes de concreto e


aço CA-50, calculada pelo método rigoroso com resistências
f cd = f ck 1,2 , f yd = f yk 1,15 , f td = 1,1 f yd e deformações limites
ε c lim = −5 0 / 00 , ε su = 50 0 / 00 . Flexão simples, armadura simples, esbeltez
L d = 6. ...................................................................................................236

Fig. 5.32 - Capacidade de rotação plástica, f ck = 20 MPa e aço CA-50,


método rigoroso com resistências f cd = f ck 1,2 , f yd = f yk 1,15 ,
f td = 1,1 f yd e deformações limites ε c lim = −5 0 / 00 e ε su = 50 0 / 00 , má
aderência. Indicam-se as curvas do EC-2 e da equação
aproximada proposta. Flexão simples, armadura simples, esbeltez
L d = 6 .................................................................................................. 237
x

LISTA DE TABELAS

Capítulo 2

Tabela 2.1- Obtenção das curvas m para três índices de fragilidade ................... 34

Tabela 2.2- Comparação entre resistências à tração na flexão, Equações


(2.44), (2.35) e MC-90 ......................................................................... 37

Tabela 2.3- Classificação dos aços conforme sua ductilidade............................... 48

Tabela 2.4- Determinação da abertura máxima da fissura, conforme ensaio de


tirante, NBR 7477/1982 ....................................................................... 57

Tabela 2.5- Deformação limite do concreto em compressão, Equações


(2.75) e (2.83)...................................................................................... 61

Capítulo 3

Tabela 3.1- Parâmetros para a definição da lei tensão de aderência-deslizamento,


cf. o MC-90 .......................................................................................... 68

Tabela 3.2- Espaçamento médio das fissuras com influência dos estribos ........... 96

Capítulo 4

Tabela 4.1- Determinação da curva carga-deslocamento F (δ ) ............................104

Tabela 4.2- Comparação entre o presente cálculo e o obtido com as hipóteses


da NBR 6118, 2000, para o ELU Flexão.............................................111

Tabela 4.3- Dados da seção de concreto...............................................................115

Tabela 4.4- Resultados teóricos do ensaio da Fig. 4.11 ...................................... 134

Tabela 4.5- Resultados teóricos para a viga protendida de Priestley,


Park e Lu ........................................................................................... 138

Tabela 4.6- ELU, comparação entre valores de França e do programa .............. 141

Tabela 4.7- Comparação entre as rigidezes secantes de França e do


programa ........................................................................................... 143

Tabela 4.8- Seção retangular, flexão simples, CA-50 .......................................... 145


xi

Tabela 4.9- Dados referentes à Fig. 4.17............................................................. 146

Tabela 4.10- Viga T, seções do apoio e do vão................................................... 149

Tabela 4.11- Rigidez de vigas no Estádio II, ( EI ) y ( Eci I 0 ) . Seção retangular,


flexão simples, armaduras simples e dupla. f ck f cm = 20 28MPa ,
CA-50 .............................................................................................. 151

Tabela 4.12a- Pilares: Dados para o primeiro segmento do diagrama


momento-curvatura. Seção retangular, flexo-compressão
normal, armadura simétrica As1 = As 2 = Astot / 2 , CA-50,
f ck f cm = 20 / 28MPa . Adimensionais: ω tot = ( Astot f yk ) (bhf cm ) e
ν = N (bhf cm ) ................................................................................... 152

Tabela 4.12b- Pilares: Dados para o segundo segmento do diagrama momento-


curvatura. Seção retangular, flexo-compressão normal, armadura
simétrica As1 = As 2 = Astot / 2 , CA-50, f ck f cm = 20 / 28MPa .
Adimensionais: ω tot = ( Astot f yk ) (bhf cm ) e ν = N (bhf cm ) .................. 153

Tabela 4.13- Valores de F (ξ ) para aço CA-50, ε sy = 2,5 0 / 00 , f ck f cm = 20 / 28MPa ,


ε c1 = 2 0 / 00 , seção retangular, armadura simples ............................ 156

Tabela 4.14- Rigidez relativa equivalente, ( EI ) eq ( Eci I 0 ) , de pilares não esbeltos


em flexão composta normal. Seção retangular, armadura simétrica,
As1 = As 2 = Astot / 2 , y s1 h = 0,10 e y s 2 h = 0,90 . Aço CA-50,
f ck / f cm = 20 / 28MPa , f ct ,5% = 1,47 MPa , Eci = 28GPa , I 0 = bh 3 12 ,
ν d = N d (bhf cd ) , ω tot = Astot f yd (bhf cd ) . Área sombreada: não há
fissuração..........................................................................................165

Capítulo 5

Tabela 5.1- Valores de υ r e de τ c , M + N − τ c , M para f ck = 35MPa ........................... 179

Tabela 5.2- Resultados do programa para comparação entre os métodos rigoroso e


simplificado, má aderência, cot υ = função(ω 1 ) ....... ........................ 192

Tabela 5.3- Valores de τ 1 f c , cf. Bachmann (1967). ( f c ≅ 0,87 β w ) .................... 193

Tabela 5.4- Dados da armadura do apoio central ................................................ 207

Tabela 5.5- Resultados teóricos e experimentais (Eligehausen e Fabritius,


CEB 218 (1993))................................................................................ 208
xii

Tabela 5.6- Dados da armadura e espaçamento médio das fissuras .................. 210

Tabela 5.7- Resultados teóricos para encurtamentos limites iguais a − 8 0 / 00 e


− 9,5 0 / 00 (em parênteses).................................................................. 211

Tabela 5.8- Resultados teóricos e experimentais (Sigrist e Marti (1993)) ........... 211

Tabela 5.9- Dados da armadura........................................................................... 212

Tabela 5.10- Resultados experimentais e teóricos, aço A ..................................... 213

Tabela 5.11- Resultados experimentais e teóricos, aço B ..................................... 213


xiii

LISTA DE ABREVIATURAS

ABS valor absoluto

CA concreto armado

CEB Comitê Europeu do Concreto

CG centro de gravidade

cte constante

D/S deslizamento / separação

EC-2 Eurocódigo 2

ELU Estado Limite Último

INT inteiro

LN linha neutra

MC-90 Código Modelo 90 do CEB

NBR Norma Brasileira

PDN ponto de deslizamento nulo

SGN sinal algébrico


xiv

LISTA DE SÍMBOLOS

Letras Romanas Minúsculas

a comprimento, altura, coeficiente, distância, abscissa


b largura, coeficiente
c coeficiente de flexibilidade, coesão, cobrimento, coeficiente
d altura útil, lado, distância, elemento do vetor de deformação da
seção transversal na forma adimensional
e espessura
f resistência, área relativa, ruptura
h altura
jb número de segmentos do subelemento
k coeficiente de rigidez
l comprimento, vão
m momento relativo
n expoente, número de barras longitudinais, número de arcos
entre barras longitudinais
p expoente
q elemento da matriz de rigidez tangente na forma adimensional,
quantil
r raio de curvatura, ou inverso da curvatura, raio do círculo de
Mohr
s espaçamento, deslizamento
t tempo
u deslocamento axial
w abertura da fissura na boca da fissura coesiva, ou ao nível da
primeira camada de armadura
x abscissa, altura da linha neutra
y ordenada
z braço de alavanca, distância, altura da seção resistente à força
cortante
xv

Letras Romanas Maiúsculas

A área, classe de aço, coeficiente, deformação plástica última


B índice de fragilidade, classe de aço, coeficiente
C constante, expoente
D módulo de amolecimento na curva σ (w) , elemento do vetor de
deformação da seção transversal
E módulo de elasticidade, módulo de amolecimento na curva σ (ε )
(EI) rigidez à flexão
F força, ação, fator
G energia por unidade de área
I momento de inércia
JE número de subelementos por lado da viga equivalente
JF número de fissuras em cada metade da viga equivalente, mais a
fissura central, que delimitam os subelementos onde há
plastificação da armadura
K coeficiente, rigidez à flexão, fator
L vão
M momento fletor
N força normal, expoente
P probabilidade, força de protensão, carga concentrada
Q elemento da matriz de rigidez tangente, carga concentrada
R força interna
S classe de aço, desvio padrão, elemento do vetor de solicitação
U energia por unidade de volume
V volume, força cortante
W energia acumulada ou dissipada no sólido
X eixo
xvi

Letras Gregas Minúsculas

α relação entre tensões principais, deformação relativa, expoente,


relação entre módulos de elasticidade, coeficiente, área relativa
β fator de distância relativa, fator de integração, parâmetro,
resistência
γ coeficiente de ponderação das ações, ou coeficiente de
segurança parcial
δ flecha, coeficiente, deslocamento
ε deformação
ζ tensão relativa correspondente à máxima abertura da fissura
coesiva, fator de tamanho
η altura relativa da fissura coesiva, coeficiente de conformação
superficial
θ rotação
λ coeficiente
µ coeficiente de atrito, momento relativo
ν coeficiente de Poisson, força normal relativa
ξ comprimento relativo da barra da armadura referente à zona de
dano, profundidade relativa da linha neutra
ρ taxa geométrica da armadura, curvatura relativa
σ tensão normal
τ tensão tangencial de força cortante ou de aderência
υ coeficiente de efetividade, ângulo de inclinação do campo de
compressão (υ ) ou da fissura (υ r ) da alma em relação ao eixo
longitudinal da peça
φ diâmetro, ângulo de atrito interno
ψ fator do coeficiente de ponderação das ações, relação entre os
momentos de fissuração e resistente último de cálculo
ω taxa mecânica da armadura
xvii

Letras Gregas Maiúsculas

∆ acréscimo, variação, deslocamento


Σ somatório

Índices Romanos Minúsculos

ax axial
b aderência
bal referente a estados limites de deformação com duas
deformações conhecidas
c concreto, compressão
cc concreto confinado
d dano, cálculo, direita
e elástico, esquerda
ef efetivo
eq equivalente
estr estribo
exp experimental
f ruptura
fl flexão
i inicial, i-ésima camada, caso de carga
inf inferior
jb número de segmentos do subelemento no banzo tracionado
j1 número do subelemento
j2 ponto da barra da armadura dentro do subelemento
jc número de camadas de concreto
js número de camadas de armadura
k característico
l longitudinal
lim limite
m médio
xviii

max máximo
min mínimo
origem referente à origem do diagrama momento-curvatura
p protensão, plástico
pl plástico
r fissuração, fissura
s aço, armadura, secante
sh encruamento da deformação
sp separação
sup superior
t transversal, tração, transmissão, tangente
teor teórico, teoria
test teste, experimental
tot total
u último
w alma, cúbico
y escoamento do aço
zf número da fissura

Índices Romanos Maiúsculos

A apoio
B zona B
D dano, amolecimento, zona D
E subelemento de concreto (trecho da barra entre duas fissuras
sucessivas)
I referente à região do corpo de prova fora da zona de localização
de deformação, estádio, direção principal
II referente à região de localização de deformação do corpo de
prova, estádio, direção principal
LN linha neutra
M máquina ou aparato de ensaio, momento fletor
xix

M+N- flexo-compressão normal


R nervura da barra da armadura
V volume, cisalhamento

Índices Gregos Minúsculos

ε c1 referente ao momento e à curvatura correspondentes à

deformação ε c1 , na borda mais comprimida da seção, associada

à tensão de pico na curva tensão-deformação do concreto


σc referente à tensão do concreto

σs referente à tensão na armadura

Índices Numéricos

0 centro de gravidade
02 referente, no diagrama momento-curvatura, à curvatura
resultante da interseção da reta de inclinação 1 : ( EI ) 2 com o
eixo da curvatura
0-0 eixo passante pelo centro de gravidade
1,2,3 direções principais
5%, 95% quantis
xx

BUCHAIM, Roberto. A influência da não-linearidade física do concreto armado


na rigidez à flexão e na capacidade de rotação plástica. 2001. 260 f. Tese
(Doutorado em Engenharia) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São
Paulo

RESUMO

O presente trabalho é uma contribuição para o esclarecimento e a quantificação das


influências na deformabilidade e na capacidade portante de elementos
unidimensionais de concreto armado em solicitação plana, decorrentes da não-
linearidade física dos materiais concreto e aço, bem como da fissuração e do
enrijecimento da armadura tracionada, também na sua fase plástica. Para aplicações
práticas determinam-se a rigidez à flexão e a capacidade de rotação plástica dos
elementos estruturais, o que permite limitar com mais precisão e coerência a
demanda de rotação plástica obtida na análise. De início, descrevem-se os
comportamentos não-lineares do concreto e do aço, aplicando-se conceitos da
Mecânica da Fratura, bem como a atuação conjunta destes materiais, sob os
aspectos de aderência e de fissuração. O núcleo deste trabalho concentra-se na
obtenção do diagrama momento-curvatura e dos seus pontos principais, e na
subseqüente determinação da capacidade de rotação plástica dos mencionados
elementos. Consideram-se as seções geradas a partir da seção duplo T assimétrico,
com várias camadas de armadura, sujeitas à flexão composta normal. Com dados
deste diagrama e através do modelo da viga equivalente simétrica, posteriormente
estendido à viga equivalente assimétrica e às vigas contínuas de pórticos planos,
determina-se a capacidade de rotação plástica, considerando-se nesta suas
múltiplas influências. Por fim, comparam-se os resultados teóricos e experimentais
da capacidade de rotação plástica, e resumem-se as principais conclusões
encontradas e os pontos que exigem subseqüente desenvolvimento.
xxi

ABSTRACT

The present study is a contribution to the enlightenment and evaluation of the


influences on deformability and load carrying capacity of one-dimensional elements
of reinforced concrete subject to in-plane loading, arisen from the constitutive non-
linearity of concrete and steel, as well as from the concrete cracking and the tension
stiffening of the reinforcement, prior and after yielding. For practical applications, the
flexural rigidity and the plastic rotation capacity of structural elements are determined,
which makes it possible to limit, more precisely and coherently, the plastic rotation
demand coming from the analysis. Firstly, the non-linear behaviors of concrete and
steel are described, applying concepts of Fracture Mechanics, and then the joint
action of both materials concerning bond and cracking is studied. The core of this
study lies on obtaining the bending moment-curvature diagram, specially its main
points, and on the subsequent determination of the plastic rotation capacity of the
aforementioned elements. The cross-sections generated from an asymmetric double
T cross-section are considered, with several layers of reinforcement, acted upon
simple or combined bending about one principal axis. With data based on this
diagram and through the model of equivalent symmetric beam, later extended to
equivalent asymmetric beam and to continuous beams of plane frames, the plastic
rotation capacity is determined, considering its multiple influences. Finally, theoretical
and experimental results of plastic rotation capacity are compared, and the main
conclusions and points in need of subsequent development are summarized.
1 INTRODUÇÃO

1.1 Dimensionamento e Análise

O cálculo de estruturas de concreto armado, como se sabe,


pressupõe duas etapas distintas e intimamente relacionadas, que são o
dimensionamento e a análise. Estabelecidas a geometria geral da estrutura e as
ações, o dimensionamento fixa as resistências dos materiais, as dimensões das
seções transversais dos diferentes elementos estruturais, as correspondentes
armaduras e respectivas distribuições, para que sejam atendidos, com a devida
segurança, os vários estados limites últimos e de utilização. Com a estrutura assim
pronta segue-se a sua análise, etapa na qual são determinadas as solicitações que
permitem comprovar as exigências dos mencionados estados limites. Este
procedimento pressupõe uma fase inicial de análise e de subseqüente pré-
dimensionamento. É quase sempre iterativo e em certa medida arbitrário, pois há
diferentes dimensionamentos para uma mesma capacidade portante.
Atualmente as normas permitem os seguintes tipos de análise
estrutural:

(1) Análise linear


(2) Análise linear, seguida de redistribuição limitada
(3) Análise plástica
(4) Análise não-linear

Em qualquer uma delas as condições de equilíbrio e de resistência


devem ser satisfeitas, e as diferenças entre elas originam-se das leis constitutivas
adotadas para os materiais e do eventual preenchimento das condições de
compatibilidade.
A análise é definida como não-linear se o comportamento não-linear
dos materiais concreto e aço for considerado. A fissuração e a plastificação devem
2

ser incluídas, e os efeitos de segunda ordem podem estar presentes ou não. As


condições de compatibilidade devem ser atendidas. Nesta análise (como nas
demais, exceto na primeira) o princípio da superposição de efeitos perde a validade,
e nela não basta o conhecimento das dimensões das seções transversais. É preciso
conhecer também as respectivas armaduras e suas distribuições ao longo das
peças.
A análise é definida como plástica se for atendido pelo menos um
dos dois teoremas básicos da Plasticidade: o estático (a favor da segurança) ou o
cinemático (contra a segurança). O comportamento material é admitido como rígido-
plástico (deformações elásticas desprezadas) ou elastoplástico, com ou sem
encruamento. No primeiro modelo constitutivo, associado ao teorema cinemático, a
condição de compatibilidade é substituída pela exigência de suficiente ductilidade
(que se traduz, nas peças lineares e nas lajes, pela capacidade de rotação plástica),
para que a conformação de colapso prevista seja alcançada. Este modelo é aplicado
na determinação da capacidade portante de lajes (pela Teoria das Charneiras
Plásticas, talvez um dos poucos casos em que as duas fases mencionadas são
integradas numa única), na comprovação da capacidade portante de estruturas
existentes, sobre as quais há dúvidas quanto à segurança ao colapso, e é muito útil
no pré-dimensionamento. A análise plástica com o modelo constitutivo elastoplástico
é uma simplificação da análise não-linear que, se atendido o teorema estático,
engloba a análise linear, mesmo com redistribuição de solicitações.
Como a plastificação é, em geral, restrita a uma região muito
limitada da estrutura, esta pode ser simulada, nas peças lineares, através de uma
rótula plástica concentrada na seção crítica. Nas lajes as faixas com plastificação da
armadura são concentradas nas linhas (charneiras) de ruptura que definem a
conformação de colapso. A demanda de rotação plástica, decorrente da análise, não
pode superar a capacidade de rotação plástica da seção crítica correspondente.
A análise é definida como elástica e linear se os materiais forem
admitidos como elásticos lineares. Como conseqüência deste comportamento
material o diagrama momento-curvatura é linear (sem qualquer limitação de
deformação e de resistência na fase de análise), e por isso as condições de
compatibilidade são violadas. Com isso, mesmo respeitando-se as condições de
resistência no dimensionamento, a capacidade portante da estrutura pode não se
3

verificar, se nela não houver suficiente ductilidade (capacidade de rotação plástica)


para atingir a distribuição de solicitações prevista. Esta é a razão pela qual
atualmente impõem-se, nas estruturas hiperestáticas, limites para a profundidade
relativa, x / d , da linha neutra no Estado Limite Último por flexão, com o que se
garante implicitamente uma capacidade mínima de rotação plástica das diferentes
seções críticas. Nas vigas contínuas e nas vigas pertencentes a pórticos
indeslocáveis são impostas as seguintes condições, cf. o MC-90, item 5.4.2:

x / d ≤ 0,45 f ck ≤ 35MPa , aços de ductilidade alta e muito alta (1.1)

x / d ≤ 0,35 f ck > 35MPa , aços de ductilidade alta e muito alta (1.2)

x / d ≤ 0,25 f ck ≤ 80 MPa , aços de ductilidade baixa (1.3)

Ver a classificação dos aços conforme sua ductilidade na Tabela 2.3. Os dois
primeiros limites são respectivamente iguais a 0,50 e 0,40 na NB1, 2000, item
14.5.4.3, lembrando-se que esta norma trata de concretos até a Classe 50 .
A análise linear, seguida de redistribuição limitada das solicitações,
consiste em reduzir nas seções críticas (geralmente nos apoios de continuidade,
onde se dão os maiores momentos elásticos, e a influência favorável da força
cortante é maior do que no vão) os momentos fletores elásticos, multiplicando-os
pelo seguinte coeficiente δ , cf. MC-90, item 5.4.3.2:

x
δ ≥ 0,44 + 1,25 f ck ≤ 35MPa , aços de ductilidade alta e muito alta (1.4)
d

x
δ ≥ 0,56 + 1,25 f ck > 35MPa , aços de ductilidade alta e muito alta (1.5)
d

observando-se os limites:
4

0,75 ≤ δ ≤ 1 nas vigas contínuas e nas vigas de pórticos indeslocáveis, para aços de
ductilidade alta e muito alta,

0,90 ≤ δ ≤ 1 nos pórticos deslocáveis, para aços de ductilidade alta e muito alta, e
ainda

x
δ ≥ 0,75 + 1,25 f ck ≤ 60MPa , para aços de ductilidade baixa (1.6)
d

Observe-se que, na análise linear, com ou sem redistribuição, não


mais se permite escolher, por economia, x / d na fronteira dos domínios 3 e 4, pois
para tal valor (igual a 0,628 para o CA-50) a capacidade de rotação plástica é muito
baixa, como se poderá comprovar no Capítulo 5, e não há em absoluto a garantia de
que a suposta distribuição de solicitações no ELU seja atingida. Note-se também
que, se os limites das Equações (1.1) e (1.2) forem substituídos nas Equações (1.4)
e (1.5), respectivamente, obtém-se δ = 1 .
A redistribuição em si mesma deve ser entendida como uma questão
de projeto relacionada com a análise elástica, porquanto não há redistribuição de
solicitações na estrutura, mas distribuição de solicitações conforme alteração da sua
rigidez ao longo do processo de carregamento. Obedecidas as condições do
coeficiente δ , é arbitrária a escolha de quais momentos das seções críticas serão
reduzidos, assim como é arbitrário o valor dessa redução. Feita a redução dos
momentos, refaz-se a análise para garantir o equilíbrio. Essas são as condições de
ductilidade, que substituem as de compatibilidade, e com isso é dispensável a
comprovação da capacidade de rotação plástica. Note-se que o EC-2, item 2.5.3.4.2,
não permite redistribuição alguma nos pórticos deslocáveis. A NB1, 2000, permite
nesse caso uma redistribuição de até 10% , como o MC-90, e abre, com acerto, a
possibilidade de limites maiores, desde que “a estrutura seja calculada mediante o
emprego da análise não-linear ou da análise plástica, com a verificação explícita da
capacidade de rotação plástica”. Os coeficientes δ das Equações (1.4) a (1.6)
decorrem de simulações em estruturas hiperestáticas simples, através da análise
não-linear, e são confirmados experimentalmente. Ver Eligehausen e Fabritius
(1991). Este coeficiente é associado à capacidade de rotação plástica que por sua
5

vez é associada à profundidade relativa da LN no ELU por flexão, para facilitar o


trabalho do calculista. Quanto maior for a redistribuição de solicitações, menor é o
valor de δ e maior deve ser a capacidade de rotação plástica. Note-se, novamente,
que na solução elástica (δ = 1) esta capacidade não é nula, embora possa ser
pequena. Seu valor, aliás, pode ser determinado com os limites dados nas Equações
(1.1) a (1.3) e os gráficos do item 5.9, Fig. 5.30 ou Fig. 5.31. Da mesma forma,
também não é nula a demanda de rotação plástica, mesmo que isto não seja
apontado na análise elástica.

1.2 Objetivos

Como se depreende do item anterior, é essencial a consideração da


não-linearidade física dos materiais nos diferentes tipos de análise, para que seja
estabelecida corretamente a capacidade resistente das estruturas de concreto. O
presente trabalho restringe-se a estruturas planas de concreto armado,
especificamente a vigas contínuas, pórticos e lajes armadas numa só direção. Nesse
contexto procura-se esclarecer problemas relacionados com a deformabilidade e a
resistência das mencionadas peças, considerando-se as fontes de não-linearidade
física que influem na determinação das solicitações, em especial a fissuração e a
plastificação dos materiais. Para efeitos práticos serão determinadas as rigidezes
dos elementos estruturais submetidos à flexão composta normal, com força axial de
compressão, bem como a respectiva capacidade de rotação plástica. Para conseguir
isso é necessária a consideração do enrijecimento da armadura tracionada (tension
stiffening), pelo efeito da sua aderência ao concreto circundante, não apenas na fase
elástica da armadura, mas especialmente na fase plástica. A deformabilidade do
banzo tracionado, nas peças dúcteis, é fator essencial na deformabilidade do
correspondente elemento estrutural.
Precedendo a parte principal deste trabalho, concentrada nos
capítulos 4 e 5, consideram-se no capítulo 2 os comportamentos não-lineares do
concreto e do aço, e usam-se conceitos da Mecânica da Fratura. Para o concreto
este comportamento é descrito na compressão simples e na tração uniaxial, através
do Modelo da Fissura Coesiva, a seguir aplicado na dedução da resistência à tração
6

na flexão simples. Toma-se como base, na descrição destes três temas, o trabalho
de Sigrist (1995). Além disso, são descritos dois critérios de resistência que bastam
para as aplicações usuais. São dadas as equações escolhidas para o concreto em
flexão, a serem usadas nos capítulos 4 e 5. Para os aços, além de suas equações
constitutivas, mostram-se as condições de ductilidade exigidas pelas normas atuais,
em particular pela NBR 7480/1996. Comentam-se também as condições de
aderência desta norma, associadas ao ensaio de tirante definido pela NBR
7477/1982.
No capítulo 3 examina-se o comportamento conjunto do concreto e
da armadura na tração, sob os aspectos de aderência e de fissuração. Mostra-se
também a influência dos estribos no espaçamento médio das fissuras. Toma-se
como base a lei tensão de aderência-deslizamento do MC-90 para a solução
simplificada da equação diferencial do deslizamento, aplicada na fase de formação
de fissuras e anterior à plastificação da armadura. Esta mesma lei é posteriormente
usada, no capítulo 5, na consideração rigorosa do enrijecimento da armadura
tracionada. Mostra-se, ainda, a lei simplificada da tensão da armadura na fissura
associada à sua deformação média, também dada no MC-90, deduzindo-a para a
fase de fissuração estabilizada e anterior à plastificação da armadura, e
complementando-a com o seu último ramo, na fase plastificada da armadura. Esta
lei será utilizada nos capítulos 4 e 5, na determinação da rigidez à flexão e da
capacidade de rotação plástica pelo método simplificado.
No capítulo 4 são obtidos os diferentes tipos de diagramas
momento-curvatura para seções em forma de duplo T assimétrico, com várias
camadas de armadura, na flexão composta normal. Através do caso básico da seção
retangular em flexão simples, deduz-se o ponto de máximo deste diagrama, a partir
do qual se discute o dimensionamento da seção, com a dispensa dos conhecidos
domínios de deformação, e a deformabilidade das peças hiperestáticas de concreto
armado na ultrapassagem deste ponto. Mostra-se, também, que as curvas de
interação na flexo-compressão podem ser obtidas desse ponto de máximo, se a lei
constitutiva do concreto possuir um ramo descendente, ao invés de um patamar. Na
seqüência, destaca-se a obtenção geral dos vários pontos principais deste diagrama,
correspondentes a um dado evento na seção transversal, a saber: o ponto inicial, a
fissuração do concreto, o início da plastificação da armadura tracionada, o início da
7

“plastificação” do concreto (usualmente admitida a partir da deformação


correspondente à tensão de pico da curva tensão-deformação), os seus pontos de
máximo e último, correspondente a uma deformação limite num dos dois materiais.
Este diagrama, para efeito de aplicação na análise estrutural, é linearizado entre
estes pontos principais. Disso decorrem leis lineares momento-curvatura (média) por
segmento e, por conseqüência, as rigidezes à flexão correspondentes, conforme o
intervalo da curvatura (média). Essas rigidezes são determinadas tanto para vigas
quanto para pilares. Obtém-se também, de forma mais geral, a rigidez tangente na
origem do diagrama momento-curvatura, muito útil em pilares esbeltos. Além disso,
tiram-se deste diagrama as grandezas a serem usadas na determinação da
capacidade de rotação plástica. Este capítulo é, portanto, essencial para o que
segue.
No capítulo 5 determina-se a capacidade de rotação plástica dos
elementos unidimensionais mencionados, através de dois métodos diferentes quanto
à forma de consideração do enrijecimento da armadura tracionada. Adota-se o
modelo da viga equivalente e consideram-se as diferentes fontes de influência nessa
capacidade, a saber: a qualidade da aderência, a força cortante, o espaçamento
médio das fissuras, o diâmetro da armadura tracionada, a esbeltez da peça, a
resistência do concreto e sua deformação limite, as resistências e deformações
últimas do aço (suas características de ductilidade), a armadura dupla, a força
normal de compressão, bem como o confinamento do concreto em pilares
fortemente comprimidos. Mostra-se, também, como se deve proceder para
determinar essa capacidade nos casos de assimetria da viga equivalente e nas vigas
pertencentes a pórticos, para as quais é mais correto pressupor rótulas plásticas na
interface viga-pilar. No presente capítulo 5, como no anterior, são feitas
comparações com resultados experimentais. Concluindo o capítulo 5, descreve-se
como são determinadas as curvas da capacidade de rotação plástica, em função da
profundidade da LN na flexão simples, encontradas nas normas atuais, e propõe-se
a curva correspondente do aço CA-50, para uso em projeto.
No capítulo 6 resumem-se as principais conclusões encontradas
neste trabalho, e indicam-se os pontos que exigem subseqüente desenvolvimento.
8

1.3 Hipóteses Adotadas e Limitações do Presente Trabalho

Sabendo-se que os objetivos propostos não são tarefa fácil, mesmo


restritos a elementos unidimensionais, uma vez que englobam múltiplas influências,
é forçoso limitar o trabalho. As limitações decorrem do seguinte:

(1) Consideram-se só os carregamentos monotonicamente crescentes, e


excluem-se as ações dinâmicas e cíclicas.
(2) A fluência do concreto é desconsiderada.
(3) Os efeitos de segunda ordem não são considerados.
(4) A influência da força cortante na rigidez da peça é desconsiderada, mas
é levada em conta na determinação da capacidade de rotação plástica, a
partir da fissuração diagonal, quando então essa influência passa a ter
papel relevante. Ver na Fig. 1.1 a classificação das rótulas plásticas, cf.
Bachmann (1970). Quanto às leis de deformabilidade do concreto
estrutural sob solicitações múltiplas, vale repetir a observação de Levi et
al. (1995): “O único caso verdadeiramente bem conhecido (da lei de
deformabilidade) é o da combinação de momento e de força normal”. A
deformabilidade do concreto armado sob solicitações múltiplas vem
sendo, atualmente, bastante pesquisada. Em particular, na combinação
de tensões normais e tangenciais oriundas da flexão e da força cortante
ou do momento torçor, podem-se destacar, no Brasil, os trabalhos de
Schulz (1988) e de Stucchi (1991).
(5) Não se considera a influência favorável dos estribos no confinamento da
zona comprimida das seções transversais, exceto na aplicação a pilares
cintados.
(6) Consideram-se concretos até a Classe 50, como na NB1, 2000.

Adotam-se, em geral e onde possível, as propriedades mecânicas


médias dos materiais. É de se notar que nas normas tais propriedades só estão
definidas para o concreto. Para os aços há falta de dados referentes a essas
propriedades médias, como salientado por Levi et al., ibidem. Conforme o EC-2,
9

(a) Rótula plástica de flexão (b) Rótula plástica de flexão e de força cortante

Fig. 1.1: Classificação das rótulas plásticas, cf. Bachmann (1970).

Anexo 2, A2.1, P(3), as deformações e, por conseqüência, a distribuição das


solicitações na estrutura devem ser calculadas com base nos valores médios das
propriedades dos materiais (p. ex., f cm , f ctm , Ecm , etc.). No entanto, deverão

considerar-se os valores de cálculo dessas propriedades em zonas críticas, nas


quais a resistência última deve ser calculada com base no disposto em 4.3.1 (do EC-
2), item que se refere ao dimensionamento no ELU por solicitações normais. Este
ponto no MC-90, item 5.4.1.4, salvo melhor interpretação, dá margem a confusão,
pois este código diz que “atingido o escoamento (da armadura tracionada) nas
regiões críticas, devem-se usar os valores de cálculo das propriedades dos materiais
tanto na análise quanto na determinação da resistência”. Na verdade, os valores de
cálculo das resistências devem ser admitidos somente no dimensionamento e não
na análise, conforme explicado na Fig. 5.29 do capítulo 5. Essa diferenciação está
claramente apontada na NB1, 2000, Anexo C. Tal procedimento, relacionado com o
formato de segurança atualmente vigente nessas três normas, implica postular a
existência simultânea de rótulas plásticas em todas as seções críticas da estrutura,
cujas armaduras tracionadas tenham atingido a resistência de cálculo, f yd . Equivale,

também, à situação análoga nas lajes, para as quais são admitidas resistências de
cálculo ao longo de todo o comprimento das charneiras plásticas. Esta questão
relativa à segurança das estruturas de concreto é matéria controversa, e não será
discutida aqui. Ver os trabalhos correspondentes nos Boletins do CEB de números
229 (1995) e 239 (1997). Note-se, ainda, que o procedimento permitido pela NBR
10

8681 na análise não-linear com efeito de segunda ordem, no qual se desdobra o


coeficiente de ponderação das ações γ f em seus três coeficientes parciais,

realizando-se a análise até o nível das ações γ f 1γ f2 Fk , e fazendo-se em seguida o

dimensionamento com a solicitação Sd = γ f3 S ( γ f 1γ f2 Fk ) , sendo γ f3 = 1,1 ,

praticamente faz desaparecer as rótulas plásticas. Isso inviabiliza a consideração


dessas rótulas e a possibilidade de redistribuição das solicitações nos pórticos
planos decorrente da plastificação da armadura, uma vez que o momento do início
do escoamento da armadura e o momento último pouco diferem entre si, e tais
pórticos inevitavelmente têm pilares (pelo menos mediamente) esbeltos. Ver Levi et
al., ibidem.
Na configuração de colapso de estruturas aporticadas procura-se
sempre preservar os pilares, pois esses elementos estruturais têm pouca ou
nenhuma ductilidade e exibem ruptura frágil, a menos que sejam cintados ou que
apresentem suficiente escoamento da armadura tracionada. Com isso, em geral não
se permite que os pilares tenham deformações anelásticas, mesmo no ELU com as
ações majoradas, e delega-se às vigas a função de dissipar energia, através das
rótulas plásticas, com o que a estrutura pode ser considerada dúctil. Esse é o
modelo de “colunas fortes, vigas fracas” (strong-columns weak-beams), cf. Heyman
(1971).
2 LEIS CONSTITUTIVAS

2.1 Introdução

Descrevem-se a seguir as leis constitutivas do concreto e do aço.


Mostra-se a obtenção destas leis para o concreto na compressão e na tração
uniaxiais, através de conceitos da Mecânica da Fratura, seguindo-se principalmente
o trabalho de Sigrist (1995). Expõe-se a solução dada por Sigrist para a obtenção da
resistência à tração na flexão simples, assim como uma alteração dessa solução.
Ambas soluções são comparadas com aquela dada no MC-90. Descrevem-se
também os critérios mais usuais de resistência do concreto. Para os aços,
atualmente classificados de acordo com sua ductilidade, são dadas as
características mecânicas, conforme as normas brasileiras vigentes, as quais
permitem determinar, de forma simplificada, as correspondentes leis constitutivas.
Mostram-se ainda as características de aderência exigidas pela NBR 7480/1997 e
procura-se explicar o ensaio de tirante da NBR 7477/1982 do qual decorre o
coeficiente de conformação superficial e seus valores mínimos exigidos na primeira
dessas normas. Descrevem-se por fim as equações das leis constitutivas do
concreto na flexão utilizadas neste trabalho.

2.2 Concreto em Compressão Uniaxial

O concreto é um material heterogêneo, composto de duas fases, o


agregado graúdo e a matriz (ou pasta) de cimento e areia. Essas duas fases têm
isoladamente um comportamento frágil e de resposta linear. Atuando em conjunto o
material heterogêneo tem resposta não-linear e mostra, na compressão uniaxial, um
comportamento dúctil (Fig. 2.1).
12

Tensão

Tensão
Agregado Agregado
σ

Concreto
Concreto
ε
εt

Pasta de cimento Pasta de cimento


σ

Deformação Deformação

(a) Concretos de baixa e média (b) Concretos de alta resistência


resistência

Fig. 2.1: Leis tensão-deformação do agregado, da pasta de cimento e do concreto (cf. FIP/CEB, Bull.
197 (1990)).

A diferença evidente entre os comportamentos lineares das duas


fases e não-linear do material composto deve-se à concentração de tensões nas
zonas de contato entre elas. Nestas há microfissuras, de abertura inferior a 10 µm e
comprimento entre 3 e 13 mm, antes mesmo da aplicação da carga. Após a
aplicação da carga, a microfissuração ocorre gradualmente no interior do concreto
como resultado da alteração de distribuição de tensões entre as duas fases, e se dá
pela ausência ou perda progressiva da aderência nas zonas de contato, cf.
McGregor (1997). Segundo este autor, no processo de carregamento, os materiais
frágeis tendem a desenvolver fraturas perpendicularmente à direção do
encurtamento principal. Na compressão uniaxial do concreto até a ruptura a
microfissuração transforma-se em macrofissuração (fissuras visíveis), e nesse
processo distinguem-se quatro etapas, descritas a seguir.
A retração da pasta durante a hidratação e secagem do concreto é
impedida pelo agregado e gera tensões internas auto-equilibradas, já antes do
carregamento do concreto. As trações na interface agregado-matriz de cimento e
areia levam a fissuras de aderência as quais têm pouca influência no
13

comportamento do concreto, e sua curva σ c (ε c ) é praticamente linear até cerca de

30% da resistência à compressão f c .

No segundo estágio, para tensões aplicadas ao corpo de prova


maiores que (0,3 a 0,4) f c , as tensões na interface agregado-matriz de cimento e

areia excedem a sua resistência à tração e ao cisalhamento, e há formação de


novas fissuras, chamadas fissuras de aderência, as quais são estáveis, e só se
propagam se houver aumento de carga. Qualquer tensão interna adicional tem de
ser transmitida pelas zonas das interfaces ainda sem perda de aderência. Esta
alteração na distribuição de tensões tem como efeito um acentuamento da resposta
não-linear da curva σ c (ε c ) .

No terceiro estágio, para tensões aplicadas no corpo de prova acima


de (0,5 a 0,6) f c , desenvolvem-se fissuras localizadas na argamassa entre as

fissuras de aderência. A propagação das fissuras é estável, i. e., não há progressão


delas sob carga constante. A fissuração dá-se paralelamente à direção da carga, e
este estágio é chamado limite de descontinuidade.
No quarto estágio, para tensões aplicadas na faixa (0,75 a 0,80) f c ,

cresce o número de fissuras na pasta as quais se coalescem, e com isso aumentam


o dano na estrutura do concreto. Disso resulta um maior acentuamento da não-
linearidade da curva σ c (ε c ) . Este estágio é chamado de tensão crítica.

Estes estágios estão indicados na Fig. 2.2, incluindo-se a


deformação volumétrica, ε v = ∆V V , que mede a variação de volume do corpo de

prova em relação ao volume original, bem como o efeito Poisson, através de


ν = − ε 3 ε 1 , onde ε 1 é o encurtamento principal paralelo à carga, e ε 3 é alongamento
principal na direção ortogonal à mesma. No quarto estágio, observa-se o
crescimento muito rápido do encurtamento axial, com a propagação instável da
fissuração, levando o corpo de prova à ruptura. Também se vê nesta figura a
reversão da deformação volumétrica que passa de contração a expansão.
No ramo descendente há aumento de encurtamento
simultaneamente com queda da carga aplicada. Nesse ramo, possível de ser
detectado em ensaios de deformação controlada com máquinas de alta precisão
14

hoje em dia existentes, há, na realidade, uma localização de deformação em uma


zona bem definida de dano da estrutura do material.

σ1
σ1
ε3 fc

PROPAGAÇÃO εV = ε1 + ε2 + ε3
INSTÁVEL DAS FISS. TENSÃO CRÍTICA ε1
ε2=ε3
PROPAGAÇÃO
ESTÁVEL DAS FISS.
LIMITE DE DESCONTINUIDADE

FISSURAÇÃO σ1
ESTÁVEL

ε2 = ε3 ALONGAMENTO (+) ENCURTAMENTO (-) ε1

Fig. 2.2: Lei tensão-deformação do concreto em compressão uniaxial, deformação volumétrica e


efeito Poisson, cf. McGregor (1997).

l ld

Fig. 2.3: Zona de dano no corpo de prova cilíndrico.

A representação do ramo descendente da Fig. 2.2 corresponde à


transformação do descontínuo em contínuo equivalente. Para essa transformação, o
que se deve medir é o encurtamento axial ∆l do corpo de prova em função da carga
aplicada, e em seguida obter a tensão média, F A , decorrente da força aplicada
dividida pela área da seção transversal do corpo de prova, e a deformação média
equivalente, considerando-se os comportamentos distintos das partes de
comprimentos respectivamente iguais a l d e l − l d , onde l d corresponde à zona de
15

dano e l é a altura do corpo de prova. Ver a Fig. 2.3. O fato de a ruptura do corpo de
prova, no ensaio de deformação controlada, não se dar bruscamente é explicado
pela ação de forças de atrito e de engrenamento nas interfaces das lamelas da zona
danificada.
A importância do ramo descendente está em sua aplicação às peças
com gradiente de deformação. Nessas reduz-se muito a propagação instável das
fissuras, porque à medida que as fissuras da argamassa amolecem o concreto com
encurtamentos maiores, há transferência de carga para zonas comprimidas mais
rígidas e mais estáveis (encurtamentos menores), mais próximas da linha neutra.
Com isso as peças com gradiente de deformação têm uma lei σ c (ε c ) que pode

entrar na região de amolecimento (strain-softening). No ramo ascendente dessa


curva há pouca influência de um gradiente de deformação, como comprovado
experimentalmente.
Para obter o ramo descendente da lei σ c (ε c ) é necessário introduzir

conceitos da Mecânica da Fratura. A explicação que segue baseia-se no trabalho de


Sigrist (1995), Fig. 2.4. Considere-se o sistema máquina de ensaio-corpo de prova
mostrado nesta figura, representado por três molas em série. A da máquina tem
coeficiente de flexibilidade c M = 1 k M , onde k M é a sua rigidez, geralmente fornecida
pelo fabricante. O corpo de prova é cilíndrico, de comprimento l , diâmetro φ e área

A . Após o pico da curva σ c (ε c ) , forma-se no corpo de prova uma nítida região (II)
de localização de deformação, cujo comportamento é distinto das demais regiões (I)
as quais sofrem no descarregamento uma queda de encurtamento (alongamento
elástico). Para quantificar isso, considere-se o estado de equilíbrio referente ao
ponto A da Fig. 2.4, nas curvas σ c (ε c ) das partes (I) e (II) do cilindro de prova. A um

aumento do encurtamento ∂(∆l ) < 0 corresponde uma queda de compressão ∂σ > 0


no sistema, do que resultam alongamentos das zonas (I), de módulo de elasticidade
E, e da mola. A região (II) tem rigidez negativa, representada por E d . Considerando-
se as três componentes deste sistema, pode-se escrever para o acréscimo de
encurtamento:

∂(∆l ) = ∂(∆l ) I + ∂(∆l ) II + ∂ (∆l ) M (2.1)


16

(I)
E
F -fc
1

-∆ l cM
∂σ/E
(I) ε
σ
l ld (II)

(II)

φ A -Ed

∂σ/Ed
ε
σ

Fig. 2.4: Amolecimento do corpo de prova de concreto em compressão uniaxial, cf. Sigrist (1995).

l − l d ld
∂(∆l ) = ∂σ ( + + Ac M ) (2.2)
E Ed

Em decorrência dos sinais diferentes dos acréscimos do


encurtamento total e da correspondente tensão, a expressão entre parênteses deve
ser negativa. Disso decorre o limite inferior de l d , e como l d ≤ l resulta:

l + EAc M
l ≥ ld > (2.3)
E
1−
Ed

Esta inequação dá, de outra forma, a condição de estabilidade para


a obtenção do ramo descendente da lei σ c (ε c ) do concreto e dela decorre o limite

do comprimento l d da zona de ruptura para que o ensaio seja estável. Se ocorrer


17

l + EAc M
ld ≤ (2.4)
E
1−
Ed

o processo de descarga é instável. Para uma máquina de ensaio muito rígida


( c M ≅ 0 ), obtém-se a condição de estabilidade do ensaio:

l
ld > (2.5)
E
1−
Ed

sendo E d < 0 . De ensaios próprios em cilindros de esbeltez l φ = 3 , com φ = 60, 120

e 180 mm, Sigrist constatou que o comprimento da zona de dano l d é

aproximadamente igual a 2φ . Em decorrência disso, é possível obter a tensão média


no corpo de prova em função do encurtamento ∆l II da zona de dano, σ (∆l II ) . Ver a
Fig. 2.5. Da área do diagrama da Fig. 2.5b resulta a energia de fratura necessária
para destruir completamente o corpo de prova. Como se trata de energia dissipada
no volume da região (II), indicada por U cF , é necessário dividir a energia de fratura

por unidade de área do corpo de prova, GcF , pelo comprimento l d , com o que se

obtém:

GcF
U cF = (2.6)
ld

valor que varia entre 60 e 120 KJ m 3 ( 1KJ / m 3 = 10 −3 Nmm / mm 3 ). Se forem


desprezadas as influências da resistência do concreto e da dispersão do tamanho do
agregado, esta grandeza pode ser considerada aproximadamente constante para os
concretos de construções usuais, de resistências entre 20 e 60 MPa.
O ramo ascendente pode ser representado com boa aproximação
pela seguinte parábola do segundo grau:
18

- fc cM =0 - fc

E0 E0 E Área G cF
l =
1 l l - ld
∆l II
- 0,1 fc
∆l ∆l II

σ σ
(a) (b)

Fig. 2.5: Obtenção da energia de ruptura por unidade de área GcF do concreto em compressão

uniaxial, cf. Sigrist (1995).

σc ε ε
= − c (2 − c ) (2.7)
fc ε c1 ε c1

onde ε c1 é a deformação correspondente à tensão de pico f c e pode ser obtida da

seguinte equação, dada no trabalho de Sigrist:

fc
− ε c1 = + 1,5 (2.8)
60

com f c em MPa, e ε c1 em 0 / 00 . Na faixa f c = 20 a 60 MPa este encurtamento varia

de 1,83 0 / 00 a 2,5 0 / 00 .

Aproximando-se o ramo descendente por uma reta e admitindo-se a


energia dissipada por unidade de volume como constante, pode-se obter o módulo
de amolecimento como segue (Fig. 2.6). Desta figura obtém-se:

ld f (l − l d ) c M f c A f (− f c )
U cF = [− c − + c ]×
l El l EcD 2

ou
19

− f c2 El
EcD = (2.9)
2U cF El d − (l − l d ) f c − c M AEf c
2 2

de onde se vê que para obter este módulo (negativo) é preciso conhecer o


coeficiente de flexibilidade da máquina de ensaio, c M , e a energia de ruptura, U cF .

Áreas UcF
ld GcF
=
l l

- fc - fc

E0 1
1 E0 -EcD
1
- 0,1 fc

∆l ∆l
l l
εc1 - cM A fc σ
σ l fc
x
l - l d cM A f
- c
fc
E l EcD
l

(a) (b)

Fig. 2.6: Obtenção simplificada do módulo de amolecimento.

O módulo de elasticidade do sistema, E 0 , na descarga a partir da

tensão de pico é obtido desta expressão pondo-se U cF = 0 :

El
E0 = (2.10a)
l − l d + Ec M A

Eliminando-se a influência da máquina de ensaio ( c M = 0 ) resulta,


conforme indicado na Fig. 2.5a:

E0 E
= (2.10b)
l l − ld
20

onde o módulo de elasticidade E do concreto, o mesmo da origem, pode ser


tomado, cf. Sigrist, igual a:

E = 18000 + 400 f c (em MPa) (2.11)

Esta expressão é muito próxima daquela dada no MC-90:

E = E ci = 10 4 × ( f c )1 3 (em MPa) (2.12)

Com as expressões apresentadas, e com a hipótese feita para a


altura da zona de dano, pode-se obter todo o diagrama σ c (ε c ) do concreto em

compressão uniaxial, em função da esbeltez do corpo de prova, l φ , ( Fig. 2.7).


Como se mostrou, o ramo descendente da lei σ c (ε c ) não é uma propriedade apenas

do material, mas do sistema máquina de ensaio-corpo de prova.

35 70
30 60
Tensão (MPa)
Tensão (MPa)

25 50
20 40
15 30
10 20
5 10
0 0
0 2 4 6 8 10 0 5 10 15

Deformação x 1000 Deformação x 1000

fc=20 MPa, E=26 GPa, -EcD=2 GPa


l / fi = 15,3 l / fi = 8 l / fi = 4 l / fi = 2
fc=60 MPa, E=42 GPa, -EcD=18 GPa

(a) (b)

Fig. 2.7: Leis tensão-deformação para concreto em compressão uniaxial, cf. Sigrist (1995). (a): Lei
σ c (ε c ) em função da esbeltez l φ do corpo de prova, para f c = 30MPa , c M = 0 , E = 30GPa ,

− ε c1 = 2 0 / 00 e U cF = 100 KJ / m 3 ; (b): Lei σ c (ε c ) para f c = 20 e 60MPa , esbeltez l φ = 2 e

U cF = 100 KJ / m 3 .
21

Para que os resultados sejam fiéis é necessário conhecer o


coeficiente de flexibilidade da máquina de ensaio. A título de informação
reproduzem-se os seguintes valores do coeficiente de rigidez k M , extraídos do

catálogo da MTS Teststar II: 2,6 × 10 8 N / m , 4,3 × 10 8 N / m e 7,5 × 10 8 N / m , para


capacidades respectivamente iguais a 100 KN , 250 KN e 500 KN .
Observe-se ainda que na expressão de EcD há um comprimento
crítico do corpo de prova que anula o denominador, a saber:

2 EU cF
l cr = l d (1 + 2
) − Ac M E (2.13)
fc

Para esse valor o ensaio é instável e não pode ser controlado. Na Fig. 2.7a isso
ocorre para l cr = 15,3φ , e o ramo descendente é vertical.

2.3 Concreto em Tração Uniaxial

A resistência à tração do concreto é uma característica mecânica


que intervém em diferentes fenômenos do concreto estrutural, p. ex., na formação de
fissuras, na aderência entre o concreto e as barras da armadura, na conseqüente
ancoragem dessas barras, na resistência à força cortante e à torção, especialmente
nas lajes, nos deslocamentos da estrutura, etc. Sem a consideração dessa
resistência “seria virtualmente impossível construir estruturas de concreto”, cf.
Hillerborg (1985). A descrição completa do comportamento do concreto à tração é
feita também por meio de conceitos da Mecânica da Fratura, e o modelo físico deve-
se a Hillerborg et al. Esse modelo é chamado Modelo da Fissura Coesiva ou Fictícia.
Nele empregam-se duas leis constitutivas na descrição do comportamento mecânico
do concreto: uma lei σ c (ε c ) que descreve o comportamento elástico e eventual

encruamento antes da fissuração até a sua resistência à tração f ct , incluindo

descarregamento nesta fase, e outra lei σ (w) que relaciona a tensão aplicada e a
22

abertura da fissura coesiva até o valor último desta abertura, wu , para o qual há
completa separação do material. Ver a Fig. 2.8. A fissuração do concreto em peças
fletidas, cf. Fig. 2.8d, apresenta uma zona de comprimento a onde há completa
separação do material, sem qualquer transmissão de tensões nas faces da fissura, e
outra de comprimento a d , adiante da verdadeira fissura, onde há dano e

microfissuração. Esta é a chamada zona de processo, onde o material é


“parcialmente suturado por inclusões, pelos agregados, e eventualmente por fibras”,
cf. Carpinteri (1997), e por isso mesmo nela há transmissão de tensões.

σ σ
fct fct

E GF
1
wu = abertura na boca da
UV fissura coesiva

w
εct ε wu

(a) σ(ε) para ε ≤ εct (b) σ(w) na fissura


zona fora da fissura

w
fct
F F
ad
wu
a
l + ∆l

(c) tirante de concreto (d) fissura coesiva na


simples flexão

Fig. 2.8: Leis constitutivas do concreto e modelo da fissura coesiva.

Havendo encruamento, a energia fornecida ao elemento estrutural


(tirante da Fig. 2.8c) é dissipada tanto no volume do material não fissurado, quanto
na superfície da fissura. A energia dissipada por unidade de volume, U V , é dada

pela área da Fig. 2.8a, e a energia dissipada por unidade de área da fissura, G F , é
dada pela área da Fig. 2.8b. A energia total dissipada no volume da barra resulta da
23

fct

w = abertura da fissura
coesiva

∆l
∆l ct ∆l u

Fig. 2.9: Lei σ c (∆l ) para concreto em tração uniaxial.

soma U V Al + G F A , onde A é a área da seção transversal do tirante e l o seu

comprimento. Se o material for elástico linear, como se pode admitir para o concreto
em tração no ramo ascendente de sua lei, então U V = 0 e toda energia dissipada no
tirante reduz-se à parcela referente à fissura. Assim, o ensaio do tirante até a
completa separação (ou fratura) do corpo de prova deve ser feito medindo-se a
tensão média, σ = F A , em função do alongamento ∆l , e não em função da
deformação ∆l l , Fig. 2.9.
Quando o alongamento ∆l ultrapassa aquele correspondente à
resistência f ct , a saber, ∆l ct , as partes adjacentes à fissura coesiva descarregam-se

elasticamente, de modo que ao fim ∆l é quase que totalmente igual à abertura da


fissura coesiva. A energia específica de fratura, G F , decorrente do ramo
descendente da lei σ (w) pode ser considerada independente das dimensões do
corpo de prova e é, portanto, uma característica do material. Essa energia é obtida
experimentalmente (Ver Hillerborg (1985)) e depende principalmente da resistência à
tração do concreto e do diâmetro do agregado graúdo. Para diâmetros entre 16 e 32
mm, G F varia entre 80 e 140 J/m2 ( 1J / m 2 = 10 −3 Nmm / mm 2 ).
Os modelos para o cálculo numérico são os dados na Fig. 2.10.
Utilizando-se o modelo de Sigrist (1995) é possível reunir as duas leis numa só,
dependente porém do comprimento l do corpo de prova, como se mostra a seguir.
24

F F
(I) (I)

(II)
l + ∆l

σ σ σ

fct fct fct


1
GF -D

E (I) (II) (II)


1 fct
3
ε w w

εct 0,8G F
wu =
3,6GF wu
fct fct

(a) (b) Hillerborg, A., 1985 (c) Sigrist, V., 1995

Fig. 2.10: Leis σ c (ε c ) e σ c (w) simplificadas.

Da Fig. 2.10c obtém-se:

w
σ c = f ct (1 − ) (2.14)
wu

e portanto

dσ f
D= = − ct (2.15)
dw wu

Como

f ct wu
GF = (2.16)
2

resulta para D, grandeza que caracteriza o ramo descendente da lei σ c (∆l ) , cf. Fig.

2.11a:
25

2
f
D = − ct (2.17)
2G F

σc σc
fct fct
l < l cr l = l cr l > lcr
l < l cr
1 1
-D 1
E
-E D
l > l cr

εc = ∆l
∆l l
∆ l ct wu fct wu
εct =
E l
(a) (b)

Fig. 2.11: Influência do comprimento do corpo de prova nos ramos descendentes das leis σ c ( ∆l ) e
σ c (ε c ) , cf. Sigrist (1995).

Na Fig. 2.11b, para ε c > ε ct tem-se:

f ct wu
σc = (ε c − ) (2.18)
f ct wu l

E l

dσ c f ct El
ED = = (2.19)
dε c f ct l − wu E

Usando-se (2.16) e (2.17) resulta o módulo de amolecimento na tração:

EDl Elf ct2


ED = =− (2.20)
Dl + E 2 EGF − lf ct2
26

grandeza que caracteriza o ramo descendente da lei σ c (ε c ) . Observe-se,

novamente, que E D depende do comprimento l do tirante e é, portanto, uma


característica do sistema (da estrutura) e não apenas do material.
O denominador de (2.20) anula-se para o comprimento crítico dado
por:

2 EG F E
l cr = 2
=− (2.21)
f ct D

resultado que também pode ser obtido igualando-se a energia elástica acumulada na
barra, We = Alf ct (2 E ) , com a dissipada na fissura coesiva, W p = AG F . Se l < l cr a
2

energia elástica acumulada na barra pode ser dissipada na fissura coesiva; em caso
contrário esta energia supera a dissipável na fissura coesiva, e assim que o
carregamento levar a uma tensão σ c = f ct ocorre um descarregamento instável,

fenômeno chamado snap-back. Ver a Fig. 2.11. Para os seguintes valores:


2
E = 30GPa , G F = 100 J m 2 = 0,1 Nmm mm , f ct = 3 a 4 MPa , tem-se l cr = 350 a 650
mm .
No MC-90, item 2.1.3.3.2, encontram-se valores da energia de
fratura G F em função do diâmetro máximo do agregado e da resistência
característica do concreto. Ver também Hilsdorf e Brameshuber (1991).

2.4 Resistência à Tração do Concreto na Flexão Simples

A resistência à tração do concreto na flexão é, como se sabe, maior


do que a sua resistência à tração simples. Para uma seção retangular de dimensões
b × h , esta resistência é definida formalmente pela equação:

6M max
f ct , fl = (2.22)
bh 2
27

onde M max é o máximo momento que a peça de concreto simples pode resistir antes
de romper-se.

fc→∝
x→0
h
2
bhfct
h
2
bh bh
2

M= f M= f
6 ct 2 ct

fct,fl = 3 fct
fct,fl = fct fct

(a) Concreto muito frágil, (b) Concreto muito dúctil,


solução elástica solução plástica

Fig. 2.12: Valores extremos da resistência do concreto à tração na flexão.

No que segue mostra-se a solução analítica desenvolvida por Sigrist


(1995) para obter esta resistência, usando-se o Modelo da Fissura Coesiva, dado no
item 2.3. Esta solução será alterada adiante, para incluir uma condição de contorno
geométrica.
Já se pode adiantar o intervalo de variação de f ct , fl , considerando-

se dois concretos de comportamentos extremos: um muito frágil, outro muito dúctil


(Fig. 2.12). Desta figura vê-se que a resistência do concreto na flexão varia na faixa
(1 a 3) f ct . O Eurocódigo 2, item 3.1.2.3, adota exatamente o valor médio desses

extremos, através da expressão:

f ct , fl = 2 f ct ,ax (2.23)

onde f ct ,ax é a resistência à tração simples (axial), obtida da resistência de

separação em duas metades, f ct , sp , de corpos de prova cilíndricos sujeitos à

compressão diametral, conforme ensaio idealizado por Carneiro, F. L. L., com a


seguinte conversão: f ct , ax = 0,9 f ct , sp . A NBR 6118, 2000, item 7.1.5, adota um valor
28

mais preciso que o da Equação (2.23), a saber, f ct , fl = (1 0,7) f ct = 1,43 f ct , como se

pode ver na Fig. 2.14 ou na Tabela 2.1, para B = 1 e B = 0,3 .


Na tração o concreto apresenta uma dispersão maior de sua
resistência do que na compressão. O valor médio dessa resistência é dado, tanto no
EC-2 quanto no MC-90 e na NBR 6118, 2000, pela expressão, em MPa:

f ctm = 0,3 f ck2 3 (2.24)

Considerando-se, para essa resistência, uma distribuição normal, de


coeficiente de variação δ = S c f ctm = 0, 20 , onde S c é o desvio padrão, têm-se as

resistências características correspondentes aos quantis de 5% e 95%


respectivamente iguais a f ct ,5% = 0,67 f ctm e f ct , 95% = 1,33 f ctm . Usando-se (2.24) vem:

f ct , 5% = 0,2 f ck2 3 e f ct ,95% = 0,4 f ck2 3 (2.25a) e (2.25b)

A mencionada solução de Sigrist para a obtenção da resistência à


tração na flexão simples tem como base as seguintes hipóteses. Ver também a Fig.
2.13.
(1) A seção permanece plana após fletir.
(2) Não se consideram as influências da força cortante, da dispersão das
propriedades mecânicas do concreto e do aparato de ensaio.
(3) O concreto, na compressão e na tração até ε c = ε ct , tem comportamento

elástico linear.
(4) A máxima flecha δ no centro do vão é obtida com a rigidez da seção de
altura (h − a d ) , sendo a d a altura da fissura coesiva, e a variação da

curvatura ao longo da viga é afim com a variação do momento fletor.

Conforme a Fig. 2.13d pode-se escrever:

N M1
σ sup = − −6
b( h − a d ) b( h − a d ) 2
29

N M1
f ct = − +6
b( h − a d ) b( h − a d ) 2

Destas equações resultam:

ad η
σ sup = − (σ inf + f ct ) = −(σ inf + f ct ) (2.26)
h − ad 1 −η

ad
η= (2.27)
h

b(h − a d ) 2 N
M1 = [ f ct + ]
6 b( h − a d )

Pondo-se:

σ inf
ζ = (2.29)
f ct

decorre, usando-se a igualdade N = 0,5(σ inf + f ct )ba d :

bh 2 f ct
M1 = (2 − η + ηζ )(1 − η ) (2.30)
12

Considerando-se que os esforços das seções parciais 1 e 2 da Fig.


2.13d são estaticamente equivalentes ao momento M aplicado, vem:

h − a d a d 2ζ + 1
M = N( + × ) + M1
2 3 ζ +1
30

F
F
h 1
2
2α δ
b
ad α

l l (b)
2 2

1 M1
=
r EI 1

(a)

σsup

1
σ ε
h M

fct εct
2 ad

σinf
(c)

σsup
1
h - ad N
- N
h - ad b( h-a d) M1
2

fct

fct
a d 2ζ+1
ad N 3 ζ+1
2

σinf
(d)

Fig. 2.13: Dados para o cálculo da resistência do concreto à tração na flexão, cf. Sigrist (1995).

Após simplificar obtém-se:

6M
m= = 1 + 2ηζ (2.31)
bh 2 f ct
31

Da Fig. 2.13a decorre a relação entre a flecha δ no centro do vão e


a correspondente curvatura 1 r :

l 2 1 l 2 M1
δ = × = ×
12 r 12 EI 1

Substituindo-se nesta equação M 1 de (2.30) e pondo-se I 1 = b(h − a d ) 3 12 vem:

f ct l 2 (2 + ηζ − η )
δ = (2.32a)
12 Eh(1 − η ) 2

Introduzindo-se (2.31) resulta:

f ct l 2 (3 + m − 2η )
δ = (2.32b)
24 Eh(1 − η ) 2

Na borda inferior da seção central a abertura da fissura coesiva é dada


aproximadamente pela seguinte relação cinemática (Fig. 2.13b):

4δ f lη (2 + ηζ − η )
winf = a d = ct (2.33)
l 3E (1 − η ) 2

Da lei σ c (ε c ) do ramo descendente, cf. Fig. 2.10c e Equações (2.16), (2.17) e

(2.18), obtém-se:

σ inf − f ct f
winf = = ct (ζ − 1) (2.34)
D D

Igualando-se (2.33) e (2.34), após introduzir m de (2.31), resulta finalmente:


3 − 2(3 + B)η + (3 + B)η 2
m = 1 + 2η[ ] (2.35)
3 − 6η + (3 + B)η 2
32

Observe-se que a fração entre colchetes é exatamente ζ , Equação (2.29). A


constante B é uma característica do sistema estrutural que representa sua
fragilidade, e é dada por:

Dl f 2l l l h
B=− = ct = =( ) (2.36)
E 2G F E lcr h l cr

Este índice, como se vê, depende do vão l da viga e da constante característica D


do ramo descendente da função σ c (∆l ) , Fig. 2.11a, e é proporcional à relação entre

a energia elástica acumulada no corpo, We = bhf ct2 l /(9 E ) , e a energia de ruptura,

W p = bhG F . Mostra, ainda, que a fragilidade do sistema cresce com o vão l da viga,

pois l cr , Equação (2.21), para um dado concreto, é uma propriedade do material. Vê-

se também que, para uma esbeltez (l h) constante, a fragilidade cresce com a


altura da seção.
Observe-se na Fig. 2.13a que, sendo M = Fl 4 , a máxima
capacidade de carga desta viga de concreto simples é obtida da condição

dF 4 dM
= =0 (2.37)
dδ l dδ

equivalente ao máximo da função M (δ ) , pois a viga é isostática.


Sigrist examina a solução numérica deste problema para uma viga
com a seguinte geometria: l = 200mm , b × h = 50 × 50mm 2 , e resistência f ct = 3,5MPa ,

para três valores do índice de fragilidade, a saber: (1) pasta de cimento: B = 1,0 e
E = 28GPa ; (2) concreto de resistência normal: B = 0,3 e E = 35GPa ; (3) concreto
com 1% de fibra metálica: B = 0,01 e E = 30GPa . Quanto ao concreto dotado de

fibras metálicas na proporção de 1%, i. e., cerca de 25kg de fibras por m 3 de


concreto, este dado coincide com a informação de Franco (1997). Nesse trabalho é
dito explicitamente que “não se trata de promover um aumento da resistência à
tração do concreto” (o que foi coincidentemente considerado nos três exemplos de
33

Sigrist, ao manter-se f ct = cte ), mas de obter com a inclusão de fibras metálicas “a

segurança de uma ruptura dúctil à tração”. O aumento na ductilidade do concreto


decorre, com o uso de fibras metálicas, do aumento da energia de fratura por
unidade de área da fissura, G F . Com isso, consegue-se também um aumento da
resistência à tração na flexão, como se mostra a seguir.
A obtenção do momento resistente é feita através das Equações
(2.35) e (2.32b). Em cada passo fixa-se um valor de η = a d h , iniciando-se com

η = 0 , quando a viga é inteiramente elástica, e prosseguindo-se com η crescente


até obter-se ζ = 0 , i. e., σ inf = 0 , ou até verificar-se a condição (2.37). Para cada η
obtém-se m de (2.35), ζ de (2.31) e δ de (2.32b). Ver na Fig. 2.14 e na Tabela 2.1
as funções m(η ) para os três índices B mencionados. Para o valor máximo de m
lido nesta tabela obtém-se:

bh 2 f ct
M max = mmax
6

Comparando esta equação com a (2.22) resulta:

f ct , fl = m max f ct (2.38)

Logo, o máximo momento relativo é precisamente o fator com o qual


se multiplica a resistência à tração simples para obter aquela da flexão simples. Nos
três exemplos tem-se: f ct , fl f ct = 1,37 ; 1,65 e 2,40 para B = 1 ; 0,3 e 0,01 ,

respectivamente.
Note-se que a inclusão de 1% de fibras metálicas por m3 de
concreto, distribuídas homogeneamente na argamassa, aumenta em 45% a
resistência à flexão da viga, além de causar um grande aumento na sua ductilidade
(o deslocamento δ no centro do vão, correspondente ao ponto de máximo, aumenta
9 vezes, quando B cai de 0,3 a 0,01 ).
34

2,5
momento relativo m

Concreto com 1% de fibra


2 metálica: B=0,01
Concreto de resistência
1,5
normal: B=0,3
1 Pasta de cimento: B=1

0,5

0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
altura relativa da fissura coesiva ad/h

Fig. 2.14: Momento relativo em função da altura relativa da fissura coesiva, cf. Sigrist (1995)

Tabela 2.1: Obtenção das curvas m para três índices de fragilidade

Concreto de resistência Concreto com 1% de fibra


Pasta de cimento: B=1
normal: B=0,3 metálica: B=0,01
η = ad h m ζ δ (mm) η = ad h m ζ δ (mm) η = ad h m ζ δ (mm)
0 1 1 0,017 0 1 1 0,013 0 1 1 0,016
0,1 1,184 0,918 0,020 0,1 1,195 0,975 0,016 0,1 1,200 0,999 0,019
0,2 1,318 0,796 0,026 0,2 1,375 0,938 0,021 0,2 1,399 0,998 0,024
0,3 1,369 0,615 0,033 0,3 1,528 0,880 0,027 0,4 1,794 0,993 0,043
0,4 1,284 0,355 0,040 0,4 1,630 0,787 0,036 0,6 2,170 0,975 0,097
0,5 1 0 0,050 0,45 1,649 0,721 0,042 0,65 2,255 0,965 0,126
0,5 1,636 0,636 0,050 0,7 2,329 0,949 0,170
0,6 1,465 0,388 0,070 0,75 2,383 0,922 0,242
0,7 0,990 0 0,101 0,8 2,397 0,873 0,370
0,85 2,313 0,772 0,626
0,90 1,950 0,528 1,228
0,92 1,616 0,335 1,692
0,94 1,080 0,043 2,384

A solução de Sigrist pode ser melhorada através de uma nova


relação cinemática entre a abertura da fissura coesiva winf e o deslocamento δ no
centro do vão.
A rotação 2α concentrada na seção central pode ser considerada
como uma rotação decorrente da plastificação, numa certa extensão da viga, da
zona da fissura coesiva, de altura a d . Assim, a abertura da fissura deve inexistir até
35

δ atingir a flecha elástica δ el , para a qual se tem na borda inferior da seção central

a tensão normal igual à resistência f ct , donde ζ = σ inf f ct = 1 e η = a d h = 0 . Ver a

Fig. 2.15. Esta flecha elástica decorre de (2.32b) com m = 1 e η = 0 , e vale:

f ct l 2
δ el = (2.39)
6 Eh

Considerando-se o que foi dito, a Equação (2.33) deve ser alterada


como se mostra a seguir. Conforme a Fig. 2.15, sendo agora

4
winf = (δ − δ el )a d (2.40)
l

f ct l 2 (3 + m − 2η ) f ct l 2
δ − δ el = − (2.41)
24 Eh (1 − η ) 2 6 Eh

resulta, inserindo (2.41) em (2.40):

f ct l (m + 6η − 4η 2 − 1)
winf = η (2.42)
6E (1 − η ) 2

De (2.34), com ζ = (m − 1) (2η ) de (2.31), tem-se:

f ct m − 1
winf = ( − 1) (2.43)
D 2η

Igualando-se estas duas últimas equações obtém-se a nova expressão do momento


relativo, a qual substitui a (2.35):
36

δ el
δ


ad

δ - δ el w inf

Fig. 2.15: Relação cinemática.

3 − 6η + 3(1 − B)η 2 + 2 Bη 3
m = 1 + 2η[ ] (2.44)
3 − 6η + ( B + 3)η 2

Observe-se, novamente, que a expressão entre colchetes desta


equação é igual a ζ = σ inf f ct . O máximo momento relativo obtém-se da condição

dm dη = 0 , da qual resulta a equação:

k =0

∑a η
k =5
k
k
=0 (2.45)

com a5 = 4 B( B + 3) , a 4 = 3[(1 − B)(3 + B) − 12 B] , a3 = 12(5B − 3) , a 2 = 6(9 − 5 B) ,

a1 = −36 e a0 = 9 .

Recalculando-se os três exemplos dados, obtém-se:

B =1 f ct , fl = 1,497 f ct (9,4% maior)

B = 0,3 f ct , fl = 1,731 f ct (5% maior)

B = 0,01 f ct , fl = 2,406 f ct (coincidente)

Desses resultados vê-se que as diferenças entre as Equações (2.44)


e (2.35) crescem com o índice de fragilidade B . Pode-se constatar que ambas
equações aproximam-se bastante da solução de Hillerborg, dada no trabalho de
37

Sigrist, e obtida por elementos finitos, empregando-se a lei bilinear σ (w) da Fig.
2.10b.
Comparam-se a seguir, na Tabela 2.2, as duas soluções dadas com
a resistência à tração na flexão do MC-90, item 2.1.3.3.1, para os seguintes dados:
esbeltezes l h = 4 e 10 , G F = 0,0875 Nmm / mm 2 , f ct = 3,5MPa , Ec = 35000MPa . Fica

evidente desta tabela a maior proximidade dos resultados da Equação (2.44) com
aqueles da equação do MC-90, particularmente para maiores esbeltezes. Neste
exemplo, a diferença máxima entre a presente solução e a de Sigrist é igual a 13%.
Note-se, também, que as peças com altura maior que 800mm e esbeltez usual já
podem ser consideradas frágeis na tração, já que f ct , fl tende a f ct para h crescente.

Esta solução pode ser estendida à flexo-compressão normal, com o


que seriam incluídas as peças protendidas, e mesmo os pilares medianamente
comprimidos.

Tabela 2.2: Comparação entre resistências à tração na flexão, Equações (2.44), (2.35) e MC-90

mmax = f ct , fl f ct f ct , fl 1 + 1,5(0,01h) 0 , 7
=
h(mm) f ct 1,5(0,01h) 0 ,7
Equação (2.44), Equação (2.35), MC-90
Sigrist melhorado Sigrist
l/h=4 l / h = 10 l/h=4 l / h = 10
100 1,537 1,384 1,413 1,240 1,667
200 1,418 1,291 1,278 1,144 1,410
400 1,318 1,216 1,171 1,081 1,253
600 1,269 1,181 1,123 1,056 1,190
800 1,238 1,159 1,097 1,043 1,156

2.5 Critérios de Resistência do Concreto

Um dos critérios mais simples de resistência do concreto em estados


múltiplos de tensão é o de Mohr-Coulomb truncado na tração, que consta no plano
(σ , τ ) , Fig. 2.16, de duas retas inclinadas que tangenciam os círculos de Mohr de
raios máximos, definidas por dois parâmetros materiais (positivos), a saber, a
38

coesão c e o ângulo de atrito interno φ . E, adicionalmente, pela reta vertical σ = f ct ,

onde f ct é a resistência à tração simples do concreto. É, portanto, um critério de três

parâmetros, e para determiná-los são necessários três ensaios distintos. Usualmente


esses ensaios são os de compressão, tração e cisalhamento simples, mas também
os de compressão triaxial.
Segundo a hipótese de Coulomb há ruptura do material quando a
tensão de cisalhamento num determinado plano vence a resistência a deslizamento
originada de duas parcelas: uma proveniente da referida coesão do material, outra
vinda da fração µ da tensão normal atuante nesse mesmo plano, onde µ é o
coeficiente de atrito, igual a tgφ . Esta condição de deslizamento é dada por:

τ = c − µσ (2.45)

Como já se mostrou, na tração simples verifica-se um modo de


ruptura diferente, caracterizada pela fratura ou separação do material num plano
ortogonal à direção da carga. Observe-se que se trata aqui de ensaios em material
virgem, e uma ruptura por separação do corpo de prova não significa
necessariamente uma ruptura do elemento estrutural, visto que geralmente há neste
armaduras colaborando na sua resistência.
Os dois tipos de ruptura estão mostrados nas Figs. 2.16b e c. A
condição de separação, desprezando-se as tensões na fissura coesiva, é dada por:

σ = f ct (2.46)

e é necessário obter a transição entre esses dois modos de ruptura, o que se


consegue determinando-se o círculo de raio máximo que passa pelo ponto de
coordenadas ( f ct ,0) e tangencia as duas retas de Coulomb.

No triângulo retângulo OAB da Fig. 2.16a, a projeção da hipotenusa


OB sobre o cateto OA é igual ao raio do círculo de Mohr:

σ1 +σ3 σ −σ3
(− + c cot φ ) sen φ = 1
2 2
39

A τ
OA =
σ -σ1 3

2 c
φ
σ σ σ B
3 2 1
σ
O
σ1

σ
2
fct
σ 3

-
σ +σ
1 3 c cotφ
2
(a)

σ3 σ 1

σ3 σ 1

(b) Deslizamento (c) Separação

Fig. 2.16: Critério de Mohr-Coulomb e formas de ruptura.

Simplificando esta expressão obtém-se:

kσ 1 − σ 3 = 2c k (2.47)

onde

k = (µ + 1 + µ 2 ) 2 (2.48)

e a Equação (2.47) representa a condição de deslizamento em termos de tensões


principais. Nela se vê que a tensão principal intermediária σ 2 não aparece, e isso
significa que este critério não contempla sua influência na resistência do concreto.
O ensaio de compressão simples (Fig. 2.17) sempre envolve
deslizamento na zona de dano, e nele se tem σ 3 = − f c , σ 1 = σ 2 = 0 , sendo f c a
40

direção da normal ao
σ
plano de 3 = -fc
plano de
σ = -fc
3
estado de tensão
τ na superfície
de deslizamento
pólo A A
σA

c τ A
π- φ
4 2 π -φ
φ
σ = -fc
3
2
B
σ
O

σ = -fc
3

planos de igual probabilidade


de deslizamento

π- φ
4 2

σ = -fc
3

Fig. 2.17: Ensaio de compressão simples.

resistência do concreto na compressão uniaxial. De (2.47) resulta:

f c = 2c k (2.49)

No ensaio de cisalhamento simples (Fig. 2.18) a resistência f V ao

cisalhamento é igual à resistência à tração simples, e a ruptura dá-se por separação:

f V = f ct (2.50)

Ainda, de resultados experimentais obtém-se o ângulo de atrito


interno φ constante e aproximadamente igual a 37º , de modo que resultam

µ = tgφ = 0,75 , k = 4 e c = 0,25 f c .


41

σ = fct
1
fv

fv τ
pólo

fv π
σ = -fct
3
4
σ = fct
1
σ
direção da normal
ao plano de σ 1

Fig. 2.18: Ensaio de cisalhamento simples.

Na compressão triaxial (Fig. 2.19, reproduzida de Sigrist (1995)),


obtém-se, pelo impedimento das deformações laterais, ε 1 e ε 2 , um considerável

aumento tanto na resistência à compressão, σ 3 , quanto no encurtamento, ε 3 ,

correspondente à carga axial máxima. Com isso a ductilidade do concreto aumenta,


o que se explica pela inibição do processo de microfissuração, conseguida pela
compressão lateral. Como a ruptura ocorre por deslizamento, a reta de Coulomb
representa bem estes estados de compressão triaxial, como se vê na Fig. 2.19.

Fig. 2.19: Compressão triaxial, comparação entre resultados experimentais e o critério de Mohr-
Coulomb, cf. Menne, apud Sigrist (1995).
42

A representação adimensional do presente critério de resistência no


plano definido pelas duas tensões principais extremas (a seguir denominadas σ I e
σ II ), divididas por f c , está dada na Fig. 2.20. Na Fig. 2.21 este mesmo critério é

representado no plano (σ f c ,τ f c ) . Conforme esta figura, o raio do máximo círculo

de Mohr que passa no ponto de abscissa f ct f c e tangencia as retas de Coulomb é

dado por:

1 c f
rD / S = ( cos φ − ct sen φ ) (2.51)
sen φ f c fc

Para φ = arctg 0,75 e c = 0,25 f c resulta:

1 f
rD / S = (1 − 3 ct ) (2 52)
2 fc

Na Fig. 2.20, o ponto D/S que separa as duas formas de ruptura tem
abscissa σ I f c = f ct f c e ordenada σ II f c = kf ct f c − 1 . Com k = 4 , e, p. ex.,

f ct f c ≅ 0,1 , resulta σ II f c = −0,60 . Se σ I f c = 0,5 f ct f c resulta ainda

σ II f c = −0,80 . Esses resultados simples mostram que esse critério dá uma boa
indicação da resistência à compressão do concreto em estado duplo compressão-
tração, que ocorre, p. ex., na alma das vigas sujeitas à ação simultânea de força
cortante e de momento fletor. Após completar o quadro de fissuração, a tração no
concreto da alma deve-se à aderência entre a armadura transversal tracionada e o
concreto, e ao atrito entre as faces da fissura. Essa tração é necessariamente
inferior a f ct . Assim, pondo-se σ II f c = −0,70 , i. e., a média dos valores calculados

há pouco, pode-se deduzir a resistência à compressão do concreto da alma como


segue. Esta é afetada por dois fatores: o primeiro, igual a 0,85 , considera

principalmente o efeito Rüsch; o segundo fator, igual a (1 − f c 140) , com f c em MPa,

é tal que, multiplicado pelo fator 0,7 dado acima, compõe o chamado coeficiente de
efetividade υ da resistência do concreto armado e fissurado, cf. Nielsen (1998):
43

σ II

fc

D/S
σ II - σ I -1 1
4
σI
k =1
fc fc 0.25 fc

separação
D/S
estado plano de tensão
4 deslizamento
1

-1

f ct
estado plano de
deformação fc

k σ I - σ II = 1
fc fc

Fig. 2.20: Critério de Mohr-Coulomb em função das tensões principais extremas.

fc
υ = 0,7(1 − ) ≤ 0,5 (2.53)
140

Com isso, obtém-se a resistência efetiva (ou equivalente, cf. item


4.1) do concreto da alma (indicada no MC-90 por f c 2 em contraposição à resistência

f c1 do banzo comprimido):

f c ,ef fc f
= 0,85 × 0,7(1 − ) = 0,6(1 − c ) (2.54)
fc 140 140

substituindo-se, no dimensionamento, o valor de f c dentro do parênteses pela

resistência característica f ck e o valor no denominador pela resistência de cálculo

f cd = f ck γ c . Menciona-se que o Eurocódigo 2 considera o fator υ de (2.53), mas


44

não considera o fator 0,85. Já no MC-90 e na nova NB1, tem-se 250 nas expressões
(2.53) e (2.54) no lugar de 140.
Retomando-se o concreto em compressão triaxial (confinado por
pressões hidrostáticas laterais), tem-se a seguinte expressão para a sua resistência
(substituindo-se σ I ≡ σ 3 por − f cc , e σ II por σ 1 na reta da Fig. 2.20):

f cc σ
=1− 4 1 ≥ 1 (2.55)
fc fc

onde a segunda parcela (positiva, pois σ 1 < 0 ) representa o ganho de resistência


conseguido pelo confinamento lateral.
A deformação ε cc correspondente à tensão de pico f cc do concreto

confinado cresce muito mais rapidamente do que a resistência e pode ser estimada
pela seguinte expressão (pondo-se ε cc = ε 3 ):

ε cc σ f
= 1 − 5(4 1 ) = 1 + 5( cc − 1) ≥ 1 (2.56)
ε c1 fc fc

onde ε c1 é a deformação correspondente à tensão de pico f c do concreto não-

confinado, Equação (2.8).


O confinamento do concreto é usado, por vezes, em pilares, e isso é
conseguido através de armadura transversal de cintamento (estribos fechados ou
espiras). Esse efeito só é ativado para valores altos da tensão no concreto, cerca de
(0,8 a 0,9) f c , de modo que o pilar cintado pouco difere do não-cintado, no que diz

respeito à maior parte do ramo ascendente da lei σ c (ε c ) . A fração σ 1 f c ,

conseguida por essa armadura, usualmente não é muito grande. Mas, mesmo
assim, há um considerável aumento na resistência e, sobretudo, na deformação ε cc .

Além disso, os ramos descendentes das curvas do concreto confinado têm um


amolecimento muito menos acentuado do que o do concreto simples, e apresentam
quase que uma espécie de um longo patamar de escoamento, refletindo com isso
sua grande ductilidade.
45

τ =
c - µσ
fc fc fc

estado plano de
deformação τ
fc

D/S
estado plano de tensão
r D/S φ
σ
-1 -0.5 fc

fct
fc

Fig. 2.21: Critério de Mohr-Coulomb no plano (σ f c , τ f c ) .

Outro critério de resistência mais preciso do que o anterior,


freqüentemente referido na literatura específica, é o estabelecido por Kupfer,
Hilsdorf, e Rüsch (1969), para concreto em estado duplo de tensão. Esse critério
está reproduzido no MC-90. Os ensaios foram realizados em 240 espécimes
(chapas) de dimensões 200X200X50 mm3, 28 dias após a concretagem e com
velocidade de deformação quase-estática (20 min. até atingir a carga máxima). As
resistências na compressão uniaxial são iguais a 19, 31,5 e 59 MPa. Neles foram
registradas as cargas nas duas direções principais, e as deformações nas três
direções principais. As Figs. 2.22 e 2.23 dão a resistência e a forma de ruptura,
respectivamente. As equações da resistência do concreto, cf. Fig. 2.22,
estabelecidas por Kupfer (1973), são as seguintes:

σ2
α= (2.57)
σ1
46

σ 1
fcm
σ 2 = fctm = 0.3 fcm
2/3

-1 -0.96
σ 2
fctm fcm
fcm
σ 1

σ 2
1 + 0.8
σ 1
20 cm σ 2 fctm
=
fcm

5 cm
20 cm -0.96
-1

(σ σ σ σ
2
1 2 1 2
+ + + 3.65 = 0
fcm fcm fcm fcm

Fig. 2.22: Resistência do concreto em estado duplo de tensão, cf. Kupfer, Hilsdorf e Rüsch (1969).

Região compressão-compressão (deslizamento):

σ1 1 + 3,65α σ1
=− se ≤ −0,96 (2.58)
f cm (1 + α ) 2 f cm

Região compressão-tração (separação):

σ2 σ
= 1 + 0,8 1 (2.59)
f ctm f cm

Região tração-tração (separação):

σ 2 = f ctm = 0,3 f cm2 3 = cte (2.60)

Nessas equações substituiu-se a resistência prismática β p por f cm , cf. MC-90. Na

primeira equação o fator 3,65 foi substituído por 3,80 no MC-90 e o seu limite de
validade (−0,96) está dado somente no MC-90.
47

σ 1 σ 1 σ 1

σ 2 σ2 σ 2

(a) σ /σ
1 2 = -1 /-1 (b) σ /σ
1 2 = -1 /0,052 (c) σ /σ
1 2 = -1 /0,103

σ 1 σ 1

σ 2 σ2

(d) σ /σ
1 2 = 1 /0,54 (e) σ /σ
1 2 = 1/1

Fig. 2.23: Modos de ruptura dos espécimes em estado duplo de tensão, idem.

Da Fig. 2.23 vê-se que há deslizamento na compressão biaxial (Fig.


2.23a) e uma transição entre deslizamento e separação (Fig. 2.23b) para
compressão e pequena tração, prevalecendo para maiores trações a separação
(Figs. 2.23c e d). Também há separação a 45º para iguais tensões principais de
tração (Fig. 2.23e).
Observe-se que este critério engloba o anterior na região
compressão-compressão e mostra valores maiores de resistência do concreto. Por
exemplo, para α =1 e α = 0,5 tem-se, respectivamente, σ 1 f cm = −1,16 e

σ 1 f cm = −1,26 , ou seja, na compressão biaxial com iguais tensões principais a


resistência do concreto aumenta 16%, e para uma tensão principal igual à metade
da outra há um aumento de 26% nessa resistência.
Na compressão-tração o critério modificado de Mohr-Coulomb está
ligeiramente contra a segurança. Na região tração-tração há coincidência de
resultados entre os dois critérios, e a resistência assume um valor constante, igual
ao da tração simples. Note-se a diferença das definições da resistência média à
tração dadas pelas Equações (2.60) e (2.24).
Quanto ao coeficiente de Poisson foram observados os seguintes
valores:
48

na compressão biaxial ν = 0,20


na tração biaxial ν = 0,18
na compressão-tração ν = 0,18 a 0,20

Para baixas tensões o módulo de elasticidade e o coeficiente de


Poisson são independentes da fração α entre as tensões principais.

2.6 Leis Constitutivas dos Aços para Armaduras de Concreto

Os aços para armaduras de concreto são atualmente classificados


pela característica de ductilidade, que é a capacidade de dissipação de energia por
deformações plásticas até a ruptura. Esta energia dissipável por unidade de volume
é dada pela área sob a curva σ s (ε s ) até a ruptura (fratura) da barra ensaiada,

descontada a parcela elástica (recuperável). É, então, evidente que quanto maior for
essa área maior é a ductilidade do aço.
Na tabela seguinte dão-se as condições exigidas na classificação
dos aços segundo sua ductilidade, de acordo com a NBR 7480/1996, o Eurocódigo 2
e o MC-90, respectivamente.

Tabela 2.3: Classificação dos aços conforme sua ductilidade

NBR 7480/1996 Eurocódigo 2 MC-90

Categoria ft Along. em ε suk Ductili- ft ε suk Classe ft ε suk


( )k 10 dade ( )k ( )k
fy diâmetros fy fy

CA-50 ≥ 1,10 ≥ 8% ≥ 8, 275% Alta >1,08 >5% A ≥ 1,08 ≥ 5%

CA-60 ≥ 1,05 ≥ 5% ≥ 5,33% Normal >1,05 >2,5% B ≥ 1,05 ≥ 2,5%


CA-25 ≥ 1,20 ≥ 18% ≥ 18,15% S ≥ 1,15 ≥ 6%
49

Nesta tabela definem-se:

( f t f y ) k : valor característico, quantil de 5%, da relação entre as resistências

de ruptura e de escoamento.
ε suk : alongamento característico, idem, sob força máxima, i. e., sob força de
ruptura.

O alongamento em 10 diâmetros é o alongamento plástico (residual)


medido em um comprimento igual a 10 vezes o diâmetro nominal da barra, após a
ruptura e fora da zona de estricção. Para obter a correspondente deformação última
deve-se somar a esse alongamento a parcela elástica, recuperada após a ruptura,
igual a f tk E s , onde f tk é a resistência característica na ruptura, quantil de 5%, e E s

é o módulo de elasticidade do aço, igual na carga e na descarga. Observe-se que a


definição do alongamento último do aço na NBR 7480/1996 é diferente da definição
do Eurocódigo 2 e do MC-90.
A NBR 7480/1996 define f t (= f st ) como sendo a resistência

convencional à ruptura, ou resistência convencional à tração, mas não menciona o


seu quantil, porque este já está pressuposto pela fração ( f t f y ) k , e pelo valor

característico f yk , devendo-se entender como mínimo exigível para f tk o produto

desses valores, para qualquer barra dos lotes que compõem qualquer partida
fornecida a uma obra. Observe-se, entretanto, que esta resistência f t pode chegar a

1,5 f y .

Se for admitido para esses aços um diagrama bilinear, as áreas sob


as curvas σ s (ε s ) do CA-60 e do aço Classe A do MC-90 são quase iguais. Com isso

o CA-60 poderia ser classificado como um aço de ductilidade alta. Já o aço CA-50
tem essa área quase 30% superior à do aço Classe S do MC-90, e seria portanto de
ductilidade muito alta. Estes aços S são utilizados em obras sujeitas a abalos
sísmicos. A discrepância nesta classificação vem, possivelmente, das definições
diferentes do alongamento de ruptura. Para os aços de ductilidade muito alta, pode-
se aplicar a Teoria da Plasticidade, sem qualquer verificação das deformações
50

F
ft

A0 ∼ 2f t
l0 2φ

∆l φ
F

(a)

F F
σ= A0
σ= A0

ft U ft U
σA A A

σL L σL = f y L SH

Es
Es Es 1
1 1
O A' U' O U'
∆l e ∆l u
ε = ∆l ε sy ε sh ε = ∆l
l0 l0
∆ l pl l0 l0
l0

(b) (c)

Fig. 2.24: Ensaio de tração e tipos de diagramas tensão-deformação dos aços.

(rotações plásticas), desde que a taxa mecânica da armadura seja escolhida


adequadamente. O mesmo não se pode dizer, com a devida certeza, do aço CA-60,
utilizado, p. ex., em lajes na forma de telas soldadas. Para este aço, a NBR
7480/1996 exige uma resistência à ruptura não inferior a 660 MPa, e uma resistência
característica de escoamento igual a 600 MPa. Assim, considerando-se também a
comparação anterior, parece possível alterar o quociente ( f t f y ) k de 1,05 para outro

maior, talvez 1,08 ou 1,10, aparentemente sem ônus para o processo de fabricação.
51

Descreve-se, a seguir, o ensaio de tração sob deformação


controlada de uma barra de comprimento inicial l 0 e área A0 (Fig. 2.24). Verifica-se

que até a ruptura desta barra as deformações ocorrem praticamente sem redução de
volume, de modo que a sua área é constante em todo o processo de carregamento.
Conforme o processo de fabricação das barras e dos fios de aço, o
diagrama obtido pode ser de dois tipos, um sem, outro com patamar de escoamento
bem definido (Figs. 2.24b e c). Nessas curvas há um trecho inicial OL nitidamente
linear, em que há completa recuperação, na descarga, da energia aplicada. Se a
barra for carregada até o ponto A, e descarregada em seguida, há um alongamento
residual ∆l pl , e parte da energia aplicada é dissipada (área OAA’, Fig. 2.24b).

Recarregando-se a barra até o ponto A, atinge-se o escoamento, agora para uma


tensão σ A > σ L . Este é o fenômeno de encruamento, e isso quer dizer que o
material virgem escoa para uma tensão inferior à do material já carregado além do
escoamento inicial e descarregado em seguida. O processo de encruamento dá-se
uniformemente ao longo de toda a barra, e pressupõe deslizamento uniforme entre a
cadeia de cristais que formam a estrutura do aço. O ponto U corresponde à
formação, na seção mais fraca da barra, de uma região de estrangulamento de
comprimento igual a 2φ , aproximadamente, e tensão cerca do dobro da resistência

à tração f t , e a barra rompe-se bruscamente. A máxima energia dissipada por


unidade de volume é dada pela área OAUU’, e a deformação correspondente é igual
a:

ft
ε su = ε pl ,u + (2.61)
Es

onde ε pl ,u = ∆lu l 0 − f t E s é a deformação plástica (residual) medida fora da zona de

estrangulamento. Embora esta parcela seja bem maior do que a deformação elástica
(recuperada) f t E s , ela não se confunde com a deformação última ε su .

Nos aços com patamar de escoamento definido (Fig. 2.24c), tão logo
seja atingida a tensão σ L do fim do trecho elástico, há um súbito aumento da
deformação sem aumento da carga. No trecho L-SH (strain-hardening) o processo
52

de deformação ao longo da barra não é uniforme. O comprimento l 0 subdivide-se

em dois trechos: um deles, de comprimento l d crescente, onde há dano na estrutura

dos cristais, e nele a deformação é igual a ε sh ; e outro complementar, de

comprimento (l 0 − l d ) decrescente, com deformação igual à do início do

escoamento, ε sy . Assim, pondo-se ξ = l d l 0 , o alongamento da barra medido num

ponto do patamar é igual a:

∆l
εs = = (1 − ξ )ε sy + ξε sh (2.62)
l0

sendo ε sh a deformação correspondente ao ponto SH. Esse valor é igual a 8 a 15

vezes a deformação do início do escoamento ε sy , sendo 12 um valor usual, cf. Chen

(1982). Estas considerações têm implicação, p. ex., na deformação crítica


correspondente à tensão σ s = f y com que se dá a flambagem das barras

comprimidas, particularmente em pilares cintados. Fica evidente destas


considerações que o módulo de deformação do aço no patamar de escoamento não
é nulo e que a resposta do material depende do comprimento da barra.
Para efeito de projeto, é difícil antecipar qual a curva real σ s (ε s ) dos

aços a serem utilizados, pois só são exigidos os valores mínimos das características
mecânicas da Tabela 2.3. Para os casos em que um conhecimento mais preciso
desta curva seja necessário, pode-se representá-la pelas seguintes funções, cf.
Cosenza et al., CEB 218 (1993):

Aços sem patamar de escoamento:

σs σ
εs = + 0,002( s ) n (2.63)
Es fy

onde
53

ln(ε pl ,u 0,002)
n= (2.64)
ln( f t f y )

e ε pl ,u decorre de (2.61). Esta é a expressão de Ramberg-Osgood, válida também

no trecho linear. Ela contém a definição da deformação convencional de


escoamento, a qual resulta substituindo-se σ s por f y em (2.63).

Para os aços com patamar de escoamento tem-se a seguinte lei,


devida a Shima, Chou e Okamura, cf. consta no trabalho dos autores acima:

σ s = E s ε s se ε s ≤ ε sy (2.65a)

σs = fy se ε sy ≤ ε s ≤ ε sh (2.65b)

ε s − ε sh
σ s = f y + ( f t − f y )[1 − exp(− )] × 1,01 se ε s ≥ ε sh , e (2.65c)
k

ε su − ε sh
k = 0,028 (2.66)
0,16 − ε sh

Usualmente no projeto são feitas as idealizações das leis σ s (ε s )

mostradas na Fig. 2.25, dependendo do grau de refinamento da análise.


Além da curva σ s (ε s ) , é necessário conhecer também as
características de aderência das armaduras. O anexo A da NBR 7480/1996 define
as condições necessárias da configuração geométrica referentes às nervuras que
por sua vez condicionam as propriedades de aderência. Através delas é possível
saber qual é a área relativa mínima das nervuras, dada a seguir pela grandeza f R ,
imposta por esta norma (Fig. 2.26).
54

σs σs

rígido - plástico ( E s →∝ )
ft
fy
fy 1
E sh
elasto - plástico

Es Es
1 1

ε sy εs ε sy ε su ε

(a) (b)

σs

ft
fy E sh
1

Es
1

ε sy ε sh ε su

(c)

Fig. 2.25: Leis tensão-deformação simplificadas.

A área relativa f R resulta da seguinte expressão:

π (φ + a )a
fR = (2.67)
π (φ + 2a)b
55

onde φ é o diâmetro da barra, a é a altura da nervura e b é a distância entre as


nervuras, transversais ou oblíquas.

φ
a a
b = (0,5 a 0,8) φ
≥45°

a≥
{0,02
0,04
φ
φ
se
se
φ<10
φ≥10

Fig. 2.26: Configuração geométrica das nervuras, cf. NBR 7480/1996.

l ≥ 15 d

φ σsmáx = 0,8 f y
d

sr d

Fig. 2.27: Ensaio de tirante armado, cf. NBR 7477/1982, para obtenção do coeficiente de
conformação superficial.

Além das condições dadas na Fig. 2.26, as nervuras devem


abranger pelo menos 85% do perímetro nominal da barra. Com todas estas
condições, a área relativa das nervuras assume os seguintes valores mínimos:
f R ≥ 0,040 a 0,065 para φ ≥ 10mm , e f R ≥ 0,020 a 0,033 , em caso contrário.
Na tabela 2 desta mesma norma são exigidos os valores mínimos do
coeficiente de conformação superficial η para diâmetros não inferiores a 10 mm, a
saber: η ≥ 1 para CA-25 e η ≥ 1,5 para CA-50 e CA-60. Este coeficiente resulta do
ensaio de tirante armado, cf. NBR 7477/1982, e é calculado pela expressão:
56

2,25d
η= (2.68)
s rm

onde d = πφ (0,25φ + 7) , em cm, é o lado da seção transversal (quadrada) do tirante

e s rm é o espaçamento médio das fissuras, consideradas as quatro faces. Ver a Fig.

2.27.
Procura-se, a seguir, esclarecer qual é o objetivo da NBR 7480/1996
ao fixar os mencionados valores mínimos do coeficiente η . Da expressão do lado da
seção do tirante obtém-se a taxa geométrica da armadura:

πφ 2 φ
ρs = 2
= 1 − 7π (2.69)
4d d

Conforme a Fig. 2.28, a tensão mínima na armadura, no ponto


s rm
médio entre duas fissuras sucessivas, é igual a σ s min = σ s max − 2τ b1 . Portanto, a
φ
tensão e a deformação médias da armadura resultam da seguinte equação:

σ s max + σ s min s
σ sm = = σ s max − τ b1 rm = E s ε sm (2.70)
2 φ

onde τ b1 = 0,6 × ( f c ) 2 3 , em MPa, é a tensão média de aderência antes do

escoamento da armadura, para um quadro de fissuração estabilizada (a ser vista no


capítulo 3), Equação (3.54), com τ b1 ≡ τ bm .

Desprezando-se o alongamento do concreto, a abertura média da


fissura no tirante e seu valor máximo (característico) são dados por:

wm = ε sm s rm (2.71)

wk = 1,5wm (2.72)
57

srm
2
πφ
σsmáx
τb1 4

wm

s rm/2 s rm/2

σsm σsmín σsmáx

τb1
τb1

Fig. 2.28: Determinação da deformação média da armadura na fissuração estabilizada.

Na Tabela 2.4 estão dados os resultados do presente ensaio, para


as seguintes grandezas: f y = 550 MPa , σ s max = 0,8 f y = 440 MPa , E s = 200GPa ,

f c = 30MPa , τ b1 = 5,8MPa , φ = 10; 16; 25 e η = 1,2; 1,5; 1,8.

Tabela 2.4: Determinação da abertura máxima da fissura, conforme ensaio de tirante, NBR 7477/1982

φ d (cm) ρ s (%) s rm (mm) 10 3 ε sm wk (mm)


η = 1,2 1,5 1,8 1,2 1,5 1,8 1,2 1,5 1,8
10 4,77 3,45 89,4 71,6 59,6 1,94 1,99 2,03 0,27 0,21 0,18
16 6,10 5,41 114,4 91,5 76,2 1,99 2,03 2,06 0,34 0,27 0,23
25 7,74 8,20 145,1 116,1 96,7 2,03 2,07 2,09 0,44 0,34 0,28

Destes resultados observa-se que a deformação média no aço é


praticamente constante e igual a 0,2%, e que o objetivo da referida norma, ao impor
os valores mínimos do coeficiente de conformação superficial, é limitar a abertura
máxima da fissura em serviço entre 0,2 e 0,4 mm, aproximadamente, mesmo em
condições extremas (tensão muito alta na armadura). Além disso, vê-se que para η
crescente resultam espaçamentos médios das fissuras e aberturas características
58

decrescentes. Evidentemente, há uma relação implícita entre os coeficientes η e f R ,


uma vez que um aumento da área relativa f R das nervuras reflete-se em um
aumento da tensão média de aderência e, portanto, numa queda da deformação
média do aço e da abertura máxima das fissuras. Isso equivale a aumentar η . Note-
se desde já que um aumento na mobilização da aderência entre a barra e o concreto
circundante equivale também a uma localização maior de deformações plásticas nas
proximidades da fissura. Isso reduz a capacidade de rotação plástica das vigas e
das lajes, conforme será visto no capítulo 5. Por essa razão não é necessário, nem
desejável aumentar o coeficiente η de conformação superficial além dos valores
mínimos estabelecidos na NBR 7480/1996.

2.7 Leis Constitutivas do Concreto na Flexão

A lei constitutiva σ c (ε c ) do concreto na flexão é atualmente objeto


de pesquisa da área da Mecânica da Fratura. Como se viu na descrição da
compressão uniaxial, há uma região de localização de deformação que influencia o
ramo descendente desta lei. Diferentemente da tração axial, este problema depende
da distribuição espacial de deformações, associada à expansão volumétrica da zona
comprimida onde há localização de deformação. Depende ainda da forma e altura da
seção transversal, da profundidade da LN, da eventual armadura (estribos) de
confinamento. Hillerborg (1989) dá as indicações iniciais para a obtenção desta lei.
Devido à presente dificuldade de estabelecer uma lei mais precisa
que considere os mencionados fatores, adotam-se para o que segue duas leis
constitutivas para o concreto em flexão, ambas truncadas no ramo descendente no
ponto correspondente à metade da tensão de pico. A primeira é a lei parábola-linear
dada no item 2.2, cf. Sigrist, que pode ser descrita como segue:

σc
= −α (2 − α ) (2.73)
f cm
59

onde α = ε c ε c1 ≤ 1 , e

σc E
= −[ cD (α − 1) + 1] (2.74)
f cm Ec1

com 1 ≤ α = ε c ε c1 ≤ α lim

ε c lim E
α lim = = 1 − c1 (2.75)
ε c1 2 E cD

f cm
E c1 = − (2.76)
ε c1

f cm2
EcD = − , e U cF = 0,1Nmm / mm 3 (2.78)
2U cF

f cm
ε c1 = −( + 1,5) , em MPa e 0 / 00 (2.79)
60

Na expressão (2.78) adotou-se o valor médio da energia dissipada


por unidade de volume e esbeltez do corpo de prova l φ = 2 , conforme a Fig. 2.7b.
Observe-se ainda que esta lei contém o diagrama parábola-retângulo, bastando por
EcD = 0 , e atribuir a ε c1 e ε c lim os valores apropriados.

Na tração ( ε > 0 ) considera-se o mesmo módulo de elasticidade


tangente na origem da compressão, dado por:

f cm
Eci = −2 = 2 Ec1 (2.80)
ε c1

donde

σ c = Eci ε c ≤ f ctm (2.81)


60

Também considera-se a lei de Grasser, cf. o MC-90, item 2.1.4.4, a


qual consta no EC-2 e na NBR 7187. Esta lei é dada pela seguinte expressão:

σc kα − α 2
=− (2.82)
f cm 1 + (k − 2)α

onde

εc
α= ≤ α lim
ε c1

ε c1 = −2,2 0 / 00 : deformação correspondente à tensão de pico f cm

Eci
k=
E c1

Eci = 10 4 × ( f cm )1 3 : módulo tangente na origem, em MPa , Equação (2.12)

f cm
E c1 = −
ε c1

ε c lim 1 k 1 k 1
α lim = = ( + 1) + [ ( + 1) 2 − ]1 2 (2.83)
ε c1 2 2 4 2 2

Na tração é válida a Equação (2.81), usando-se porém E ci de (2.12).

Observe-se que esta lei, para k = 2 , reduz-se a uma parábola do segundo grau.
O MC-90, item 2.1.4.2, admite no projeto a seguinte relação entre as
resistências média e característica do concreto em compressão, em MPa :

f cm = f ck + 8 (2.84)

Ver também o item 7.1.4 da NBR 6118, 2000.


61

Representam-se na Fig. 2.29 as duas leis constitutivas tratadas aqui,


para f ck / f cm = 20 / 28MPa . Na Tabela 2.5 mostra-se para estas duas leis a

deformação limite, correspondente no ramo descendente à metade da tensão de


pico. Como observado no MC-90, item 2.1.4.4.1, esta deformação limite não tem
outro significado além do de limitar a aplicabilidade da lei (2.82). Esta limitação foi
aqui estendida também à lei parábola-linear, como se disse. Ver nas Figuras 4.17a e
4.17b as comparações destas duas leis, aplicadas ao diagrama momento-curvatura
na flexo-compressão.

1
Parábola-linear
−σ c / fcm Grasser

0,75

0,5

0,25

0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

α = ε c / ε c1

Fig. 2.29: Leis constitutivas σ c (ε c ) na flexo-compressão para f ck / f cm = 20 / 28MPa . Parábola-


linear: ε c1 = −1,967 0 / 00 , α lim = 2,816 , Eci = 28,475GPa , Ec1 = 14,237GPa ,
EcD = −3,920GPa . Grasser: ε c1 = −2,2 0 / 00 , α lim = 1,934 , Eci = 30,366GPa ,
Ec1 = 12,727GPa , k = 2,386 .

Tabela 2.5: Deformação limite do concreto em compressão, Equações (2.75) e (2.83).

f ck
20 30 40 50 Observação
(MPa)
f cm = f ck + 8
28 38 48 58
(MPa)
ε 1,934 1,675 1,5 1,769 Eq. (2.83)
α lim = c lim
ε c1 2,816 2,234 1,906 1,699 Eq. (2.75)
-4,26 -3,68 -3,3 -3 Grasser
ε c lim ( 0 / 00 )
-5,54 -4,76 -4,38 -4,19 Sigrist
3 ADERÊNCIA ENTRE O CONCRETO E A ARMADURA.
FISSURAÇÃO

3.1 Introdução

Na compressão e na tração antes da fissuração, a armadura e o


concreto vizinho possuem iguais deformações. Tão logo haja fissuração do concreto,
essas deformações, nas proximidades da fissura, passam a ser diferentes: a
armadura alonga-se mais do que o concreto. A diferença de alongamentos entre
ambos os materiais implica na existência de deslizamento da armadura em relação
ao concreto. A quantidade de deslizamento, proveniente de cada lado da e medida
na fissura, é igual à própria abertura da fissura. No primeiro caso, em que há
igualdade de deformações, tem-se a chamada aderência rígida, pois não há
deslizamento; no segundo caso em que os alongamentos diferem entre si, esta
aderência é chamada deslizante ou móvel.
O estudo da aderência deslizante entre as barras da armadura e o
concreto que as envolve está, portanto, intimamente relacionado com a fissuração.
Sobre este tema há na literatura específica muitos trabalhos, com diferenças de
abordagem do problema. Pode-se distinguir duas formas de tratamento do problema.
Na primeira, devida a pesquisadores canadenses e norte-americanos ( Collins e
Mitchell (1986), Hsu e Belarbi (1994), entre outros), não se faz uma consideração
direta da lei tensão de aderência em função do deslizamento, mas antes
estabelecem-se leis constitutivas do aço e do concreto em termos de deformações
médias. Na deformação média do concreto, igual à da armadura, incluem-se o seu
efetivo alongamento médio entre fissuras e as aberturas destas, transformadas em
deformação, dividindo-as pela distância entre fissuras, as quais são, assim,
espalhadas ao longo da peça fissurada. Novamente, transforma-se o descontínuo
num contínuo equivalente. Na segunda forma, devida a pesquisadores europeus, o
problema é tratado por meio da definição de uma lei tensão de aderência em função
63

do deslizamento. Desta decorre, como simplificação, uma lei tensão da armadura na


fissura associada à sua deformação média. Em qualquer uma dessas formas de
tratamento do problema, fica considerado o chamado efeito de enrijecimento das
barras da armadura na tração (tension stiffening), em contraposição à barra nua.
Este fenômeno precisa ser considerado na determinação das deformações dos
elementos estruturais, não só antes, mas também após o escoamento do aço.
Procura-se, a seguir, mostrar alguns aspectos da segunda forma de
tratamento através da lei tensão de aderência-deslizamento, ou da lei tensão da
armadura na fissura associada à sua deformação média, ambas dadas no MC-90, e
derivadas do trabalho de Eligehausen, Popov e Bertero. Além desta, menciona-se
também o modelo de Sigrist (1995). No primeiro caso, tem-se uma lei
aparentemente bastante complexa, a qual procura abarcar o maior número de
influências possível; ao passo que no segundo tem-se uma lei tensão de aderência-
deslizamento bem mais simples, do tipo rígido-plástica, com dois níveis de tensão
(média) de aderência: o maior ocorre para deformações na armadura inferiores à de
escoamento, o menor em caso contrário. O argumento destes dois modelos é, como
não pode deixar de ser, a concordância com os respectivos resultados experimentais
considerados. Entretanto, como se afirma nos diferentes trabalhos, nenhum deles
pode ser considerado como totalmente definitivo. Apesar disso, estas diferenças
tendem a diminuir quando se considera o elemento estrutural propriamente,
subordinado a condições de equilíbrio, compatibilidade e demais leis constitutivas.

3.2 Lei Tensão de Aderência-Deslizamento do MC-90

Seja o tirante armado da Fig. 3.1 sujeito à ação de uma carga F,


monotônica e crescente. No tirante seja também a seção B onde já existe uma
fissura. Nela o concreto terá deslocado u c e a armadura u s , em cada lado desta

seção. No caso de uma única fissura os respectivos deslocamentos de cada


material, à esquerda e à direita de B, são iguais. No que segue admite-se que a
seção permaneça plana após deformar-se.
64

A B
φs
F F

se sd
PDN uce ucd

F F
use usd
lt

ε
ε s(x)
ε c = εs
εc(x) x

dx
φs
Fs(x) = F - Fc(x) Fs(x) + d Fs(x)
τb(x)

Fig. 3.1: Tirante com uma fissura, deslizamento entre a armadura e o concreto, deformações nos dois
materiais, equilíbrio da barra da armadura.

O deslizamento entre os dois materiais numa determinada seção


próxima de B é igual a:

s ( x) = u s ( x ) − u c ( x ) (3.1)

e sua variação ao longo da barra é dada por:

ds du s du c
= − = ε s ( x) − ε c ( x) (3.2)
dx dx dx

Esta variação ocorre no chamado comprimento de transmissão l t ,

onde há deslizamento. Nele a força da armadura na fissura, a mesma aplicada no


tirante, é transmitida, por aderência ao concreto e pela própria armadura, à seção
65

composta, quando então as deformações nos dois materiais são iguais (aderência
rígida).
Na seção B tem-se uma fissura cuja abertura w resulta da soma dos
deslizamentos s e e s d , respectivamente à esquerda e à direita desta seção, i. e.:

w = (u se − u ce ) + (u sd − u cd ) = s e + s d (3.3)

À força Fs (x ) da armadura ao longo do comprimento de transmissão

correspondem as deformações no aço e no concreto, ε s (x) e ε c (x ) . Por equilíbrio no

elemento de comprimento dx , Fig. 3.1, tem-se, indicando-se por φ s o diâmetro da

barra e por τ b a tensão de aderência atuante na superfície lateral da barra:

dFs dF
= − c = πφ sτ b (x) (3.4)
dx dx

ou:

πφ s dσ s ( x) dσ c ( x )
2

= − Ac = πφ sτ b ( x)
4 dx dx

donde resulta, pondo-se ρ s = πφ s


2
4 Ac , onde Ac é a área da seção de concreto:

dσ s ( x ) 1 dσ c ( x ) 4
=− = τ b ( x) (3.5)
dx ρ s dx φs

Observe-se que a variação da tensão no concreto é, em módulo e a menos de uma


constante, igual à do aço.
Dadas as leis constitutivas dos materiais, as derivadas das tensões
em (3.5) podem ser postas em função das deformações do aço e do concreto.
Considerando-se que o aço pode estar plastificado, define-se E st como o módulo de
66

deformação tangente do aço, admitido simplificadamente como constante e não


nulo. Logo:

dε s ( x ) E dε c ( x ) 4
E st =− c = τ b ( x) (3.6)
dx ρ s dx φs

Derivando-se (3.2) e considerando-se (3.6), resulta a equação diferencial que une o


deslizamento e a tensão de aderência:

d 2 s ( x ) 4 τ b ( x)
= (1 + α st ρ s ) (3.7)
dx 2 φ s E st

onde α st = E st Ec .

Não há maior interesse aqui em considerar o módulo de deformação


tangente do aço como variável, pois após a plastificação da armadura esta equação
tem, em geral, de ser resolvida por integração numérica. Antes do escoamento este
módulo é o próprio módulo de elasticidade do aço E s . Observe-se que a expressão

do parênteses de (3.7) é igual a 1, se o alongamento do concreto for desprezado em


face do alongamento do aço. Adiante mostra-se uma solução desta equação para a
fase elástica da armadura. A solução da equação diferencial que une o deslizamento
e a tensão de aderência pressupõe o conhecimento da lei constitutiva τ b (s ) , bem

como das condições de contorno de cada problema. Esta lei, representada na Fig.
3.2, assume a seguinte forma, cf. o MC-90, item 3.1.1:

s
τ b = τ b max ( )α 0 ≤ s ≤ s1 (3.8a)
s1

τ b = τ b max s1 ≤ s ≤ s 2 (3.8b)

s − s2
τ b = τ b max − (τ b max − τ bf )( ) s 2 ≤ s ≤ s3 (3.8c)
s3 − s 2
67

τ b = τ bf s ≥ s3 (3.8d)

τ
τbmax

τ bf
s1 s2 s3 s

Fig. 3.2: Lei tensão de aderência-deslizamento, cf. o MC-90.

Os seis parâmetros destas quatro equações estão resumidos na


Tabela 3.1. Nesta tabela tem-se f ck em MPa e o expoente α constante. Os
parâmetros aí indicados são valores médios e pressupõem barras nervuradas, cuja
área relativa f R é aproximadamente igual ao seu valor mínimo. As grandezas
referentes ao deslizamento, s1 , s 2 e s 3 , e as referentes à resistência, τ b max e τ bf ,

devem ainda ser multiplicadas pelo fator:

dx
β d = 0,2 ≤1 (3.9)
φs

onde d x é a distância ( ≤ 5φ s ) medida a partir da fissura até o ponto considerado,

onde se calculam as grandezas que interferem no problema (Fig. 3.3).


Conforme mencionado no item 3.1 do MC-90, o ramo ascendente da
curva τ b (s ) refere-se ao estágio em que as nervuras penetram na matriz da

argamassa, caracterizado por esmagamento local e microfissuração do concreto


envolvente. O ramo horizontal só ocorre para concreto confinado, e deve-se a
esmagamento em fase avançada e a corte do concreto entre as nervuras. O ramo
linear descendente deve-se à redução da resistência de aderência por fissura de
separação ao longo da barra da armadura, e o ramo horizontal subseqüente
68

representa a capacidade residual de aderência, mantida pela existência de uma


armadura transversal mínima. Para maiores detalhes, ver o MC-90, item 3.1.1.

Tabela 3.1: Parâmetros para a definição da lei tensão de aderência-deslizamento, cf. o MC-90.

1 2 3 4
Concreto não-confinado, ruptura por Concreto confinado, ruptura por corte
fissuração longitudinal à barra do concreto entre nervuras
Zonas de boa Todas as demais Zonas de boa Todas as demais
aderência zonas aderência zonas
s1 (mm) 0,6 0,6 1 1

s 2 (mm) 0,6 0,6 3 3

s 3 (mm) 1 2,5 Espaçamento Idem


entre nervuras
α 0,4 0,4 0,4 0,4
τ b max 2 f ck f ck 2,5 f ck 1, 25 f ck
τ bf 0,15τ b max 0,15τ b max 0,4τ b max 0,4τ b max

Considere-se agora o ramo ascendente dado pela Equação (3.8a).


Embora exista um trecho inicial próximo à fissura no qual a aderência é destruída,
considera-se válido este ramo ascendente também para distâncias próximas da
fissura. Ver a Fig. 3.3, onde se indica por s 0 ≅ 2φ s o trecho sem aderência próximo à

fissura. Para considerar este fato, o valor médio da tensão de aderência, no trecho
onde há deslizamento, é reduzido no MC-90 em 10%. Observe-se também que a
tensão de aderência é máxima onde o deslizamento o for, quando na realidade
aquela deve ser nula na fissura. Esta correção é realizada pelo coeficiente β d ,

Equação (3.9). Nas soluções que seguem estes dois fatos não estão considerados.
Com estas considerações, é possível integrar analiticamente a
Equação (3.7), para estágios do carregamento anteriores ou próximos do
escoamento da armadura. Pondo-se nesta equação E st = E s e α s = E s Ec , resulta

para a fase elástica:


69

φs PDN fissura

F (I) (II)

lt

ε ε s(x)
≈2φs
ε c = εs

εc (x) x

5φs
τb(x)
τbm
x

Fig. 3.3: Distribuição das deformações e tensão de aderência no comprimento de transmissão.

d 2 s ( x) 4 τ b ( x)
= (1 + α s ρ s ) (3.10)
dx 2 φ s Es

De (3.8a) obtém-se s (x) em função de τ b (x) :

τ b ( x) α1
s ( x) = s1 [ ] (3.11)
τ b max

Para integrar a equação diferencial (3.10) põe-se:

τ b ( x ) = K b f ck2 / 3 x p (3.12)

onde K b e p são constantes a serem determinadas identificando-se, na seção

genérica distante x do ponto de deslizamento nulo (PDN), os deslizamentos s (x)


obtidos das equações (3.10) e (3.11), nelas já se inserindo a (3.12). Assim, resultam:
70

2/3
d 2 s ( x) 4 K b f ck
= (1 + α s ρ s ) x p (3.13)
dx 2
φs Es

x p +1
2/3
ds ( x ) 4 K b f ck
= (1 + α s ρ s ) + C1 (3.14)
dx φ s Es ( p + 1)

4 K b f ck2 / 3 x p+2 K f 2/ 3x p 1 α
s ( x) = (1 + α s ρ s ) + C1 x + C 2 ≡ s1 [ b ck ] (3.15)
φs Es ( p + 1)( p + 2) τ b max

A constante de integração C 2 é sempre nula, uma vez que no PDN


tem-se s (0) = 0 , mas a constante C1 não é necessariamente sempre nula, pois ela é
igual à diferença de deformações do aço e do concreto no PDN, cf. Equação (3.2).
Por esta razão, a presente integração é limitada aos casos em que
s (0) = ds (0) dx = 0 , com o que ambas constantes são nulas. Isso ocorre no problema
da Fig. 3.3. De (3.15) resultam:


p= (3.16)
1 −α

1
α
(τ ) 1−α
2(1 + α s ρ s ) (1 − α ) 2 1−α
K b = b max2 / 3 [ ] (3.17)
f ck φ s s1 E s (1 + α )

A tensão de aderência ao longo da abscissa x é dada por:

τ b ( x) = K b f ck2 / 3 x 1−α (3.18)

O deslizamento correspondente resulta igual a:

s ( x) = K s x 1−α
(3.19)

onde
71

K b f ck2 / 3 1 α
K s = s1[ ] (3.20)
τ b max

As tensões na armadura e no concreto decorrem de (3.5):

1+α

σ s ( x ) = σ s ( x = 0) + K σ s x 1−α
(3.21a)

4 1−α
Kσ s = K b f ck2 / 3 (3.21b)
φs 1+α

1+α

σ c ( x) = σ c ( x = 0) − K σ c x 1−α
(3.22)

com

Kσ c = ρ s Kσ s (3.23)

Considere-se como uma primeira aplicação destas equações o


ensaio de arrancamento de uma barra de armadura (Fig. 3.4), através do qual
obtém-se o comprimento de ancoragem reta lb , e, neste comprimento, a tensão

média de aderência τ bm e a relação entre as deformações do aço média e na borda


do corpo onde se aplica a força F . Na borda oposta são nulas as tensões no aço e
no concreto, a tensão de aderência e o deslizamento.
De (3.21a) resulta o comprimento de ancoragem:

1−α
fy
lb = ( ) 1+α
(3.24)
Kσ s

Neste comprimento a tensão média de aderência é igual a:


72

φs f y
τ bm = (3.25)
4 lb

lb

φs
πφs2 fy
F=
τbm 4

Fig. 3.4: Ensaio de arrancamento.

A deformação média na armadura resulta de sua tensão média


dividida pelo módulo de elasticidade do aço. A integral de (3.21a) dividida por lb e

por E s é:

1+α
1 − α Kσ s
ε sm = (lb ) 1−α (3.26)
2 Es

Considerando-se as condições da Tabela 3.1, coluna 1, zona de boa


aderência, concreto não-confinado, e os dados adicionais seguintes:
E s = 200GPa , f y = 500 MPa e α s s ρ s ≅ 0 , obtém-se a Fig. 3.5, onde estão indicadas

as relações τ bm f ctm e lb φ s em função do diâmetro da barra, para três valores de

f ck , sendo f ctm = 0,3 f ck2 / 3 , em MPa. Na Fig. 3.5a observa-se que a tensão média de

aderência cresce com o diâmetro da barra e está no intervalo (1 a 1,75 ) f ctm . Na Fig.

3.5b vê-se que o quociente lb φ s decresce com a mesma variável. A relação entre

as deformações média e de escoamento, ε sm ε sy , é constante e igual a 0,3 . Se for


73

considerada zona de má aderência, este último quociente é o mesmo, lb φ s é cerca

de 1,64 vezes maior, e a tensão média de aderência é 0,62 (= 1 1,64) vezes menor.
O deslizamento máximo que se dá na extremidade carregada é igual ao produto da
deformação média do aço pelo comprimento de ancoragem, desprezando-se a
deformação do concreto:

s max = s ( x = lb ) = ε sm l b (3.27)

e varia de 0,32mm a 0,61mm para f ck = 20 MPa .

2 50
Tau-bm/fctm

1,5 40
fck=20 MPa fck=20 MPa
lb/ds

30
1 fck=35 MPa fck=35 MPa
20
0,5 fck=50 MPa fck=50 MPa
10
0 0
0 10 20 30 0 10 20 30
Diâmetro da barra (mm) Diâmetro da barra (mm)

(a) Tensão média de aderência (b) Comprimento de ancoragem

Fig. 3.5: Ensaio de arrancamento, boa aderência, concreto não-confinado.

Sigrist (1995) utiliza a equação tensão de aderência-deslizamento


proposta por Noakowski (1985), a saber:

τ b = K b f c2 / 3 s N (3.28)

onde as unidades são mm e MPa , as constantes valem K b = 0,8 e N = 0,15 , e f c é

a resistência à compressão do concreto (20 a 40 MPa) observada no ensaio. Com


estes dados o valor da tensão média de aderência varia de τ bm = 0, 49 f c2 / 3 a

τ bm = 0,57 f c2 / 3 , para diâmetros respectivamente iguais a 10 e 30 mm. De outra forma


74

tem-se τ bm (0,3 f c2 / 3 ) = 1,63 a 1,90 , valores que se aproximam dos obtidos na Fig.

3.5a para f ck = 20 MPa e diâmetros grandes.

w
αsfct f ct PDN

F F

lt lt
x

Fig. 3.6: Fissura isolada.

A segunda aplicação das equações (3.17) a (3.21) refere-se à


determinação do comprimento de transmissão l t , da tensão média de aderência

relativa à resistência média à tração do concreto, do quociente entre as deformações


do aço, a média ao longo deste comprimento e a na fissura, bem como da abertura
da fissura, no tirante da Fig. 3.6. Este tirante está sujeito à força F que produz no
concreto, no Estádio I, a tensão f ctm . Esta aplicação refere-se ao estado de

formação de fissuras, a ser mais bem detalhado adiante. A força aplicada no tirante
é igual a:

F = Ac f ctm + As (α s f ctm ) = Asσ s 2 (3.29)

Desta equação de equilíbrio obtém-se a tensão da armadura na fissura:

f ctm
σ s2 = (1 + α s ρ s ) (3.30)
ρs

onde α s = E s Ec , ρ s = As Ac . De (3.21a) resulta:


75

σ s ( x = l t ) = σ s 2 = α s f ctm + K σ s l t7 / 3 (3.31)

Logo:

f ctm 3 7
lt = ( ) (3.32)
ρ s Kσ s

onde K σ s decorre de (3.21b) usando-se a (3.17).

Conhecido o comprimento de transmissão de (3.32), os valores


médios das tensões de aderência e da armadura, e a correspondente deformação
média nesse comprimento são respectivamente iguais a:

1 φ s f ctm
τ bm = (3.33)
4 lt ρ s

σ sm = E s ε sm = α s f ctm + 0,3K σ s lt7 / 3 (3.34)

O deslizamento máximo decorre de (3.19), com K s de (3.20):

s max = K s l t10 / 3 (3.35)

A abertura w da fissura é o dobro deste valor. Estas equações são


aplicadas com os seguintes dados: Concreto: f ck = 35MPa , f ctm = 3,21MPa ,

Ec = 10 4 × ( f ck + 8)1 3 = 35030 MPa , Aço: f y = 500 MPa ; α s = 5,71 . A tensão da

armadura na fissura varia de 100 a 500 MPa , e para cada valor desta tensão fica
definida uma taxa geométrica da armadura através de (3.30), de modo a manter-se a
tensão no concreto constante e igual a f ctm . Também fica determinada a fração dada

pela Equação (3.37), a ser usada adiante.


76

40
Tau-bm / fctm
2
ds=25 mm 30 ds=10 mm
1,5

lt / ds
1 ds=16 mm 20 ds=16 mm
0,5 ds=10 mm 10 ds=25 mm
0 0
0 200 400 600 0 200 400 600

Tensão na armadura na Tensão na armadura na


fissura (MPa) fissura (MPa)

(a) (b)
Abertura da fissura

aço/def.do aço na
1,2 0,5

Def. média do
1 0,4
ds=25 mm
fissura
0,8
(mm)

0,3 qualquer
0,6 ds=16 mm
0,2 diâmetro
0,4
ds=10 mm
0,2 0,1
0 0
0 200 400 600 0 200 400 600

Tensão na armadura na Tensãona armadura na fissura


fissura (MPa) (MPa)

(c) (d)

Fig. 3.7: Fase de formação de fissuras para diferentes diâmetros, f ck = 35MPa , boa aderência. (a)

Tensão média de aderência; (b) Comprimento de transmissão; (c) Abertura da fissura; (d) Quociente
entre as deformações do aço média e na fissura, ε sm ε s 2 .

Na Fig. 3.7 estão representadas as soluções do problema descrito,


para a fase de formação de fissura (fissuras isoladas, sem interferência mútua), em
função da tensão da armadura na fissura, σ s 2 . Na Fig. 3.7a vê-se que a tensão

média de aderência ativada no segmento de comprimento l t cresce com a tensão

σ s 2 , de (0,5 a 1,5) f ctm , e é tanto maior quanto maior for o diâmetro da barra. O

quociente lt φ s , Fig. 3.7b, entre o comprimento de transmissão e o diâmetro da

barra também cresce com a mesma variável, mas a influência do diâmetro é inversa
77

do caso anterior. Na Fig. 3.7c tem-se a abertura da fissura w , a qual varia de 0,13 a
0,46 mm , para tensões na faixa 200 a 300 MPa (em serviço), conforme o diâmetro
da barra, e é maior para diâmetros maiores, em igualdade de tensões σ s 2 . Na Fig.

3.7d está representada a fração entre as deformações do aço, a média e a na


fissura, ε sm ε s 2 . Excluindo-se tensões muito baixas (<200MPa), esta grandeza pode

ser considerada constante, pois varia pouco, de 0,36 a 0,33. Se neste problema for
considerada a condição de má aderência, este último quociente é o mesmo, como
no primeiro problema. A relação entre τ bm f ctm das zonas de má e de boa aderência

é constante e igual a 0,61. O mesmo ocorre com lt φ s , mas a fração inverte-se

( 1,64 = 1 0,61 ), i. e., lt φ s das zonas de má aderência é 1,64 vezes maior que lt φ s

das zonas de boa aderência. A mesma fração existe entre as respectivas aberturas
de fissura, independentemente do diâmetro da barra. Todos estes números são
praticamente iguais aos do primeiro problema.
O MC-90, item 3.2.2, define um coeficiente β , que é um fator de
integração da deformação da armadura ao longo do comprimento de transmissão,
dado por:

ε sm
(1 − )
ε s 2 − ε sm ε ε s2
β= = s2 (3.36)
ε sr 2 − ε sr1 ε sr 2 ε
(1 − sr1 )
ε sr 2

onde ε sr 2 é a deformação da armadura na fissura quando se tem no concreto a

tensão f ctm , e ε sr1 é a deformação na armadura no PDN, para a mesma tensão.

Sendo:

f ctm
ε sr1 E 1 αs ρs
= c = (3.37)
ε sr 2 f ctm 1 1+αsρs
( +αs )
Es ρ s
78

esta relação independe de f ct , não importa o quantil desta resistência.


Considerando-se a determinação de β para a fase de formação de fissuras

( ε s 2 = ε sr 2 ), obtém-se dos resultados anteriores o valor de β constante e igual a 0,7 .

Note-se, na Fig. 3.9, que este fator seria igual a 0,5 se ε s variasse linearmente. No

MC-90 este valor é igual a 0,6 . A diferença deve-se, possivelmente, à


desconsideração do coeficiente dado pela Equação (3.9) e ao fato de não estar
sendo considerada a fissuração estabilizada.
No capítulo 5 dá-se a solução numérica da Equação (3.7) para o
caso específico do banzo tracionado de peças fletidas, com o que fica considerado o
enrijecimento da armadura na tração, para um quadro de fissuração estabilizada,
incluída a eventual plastificação da armadura.

3.3 Fissuração do Concreto e Espaçamento Médio das Fissuras

A fissuração do concreto origina-se de deformações impostas e/ou


impedidas e das cargas aplicadas na estrutura. No que segue dá-se precedência à
fissuração originada por cargas, pois tem-se em vista estudar os estágios avançados
do carregamento, em que a armadura está próxima do escoamento ou encontra-se
já plastificada. Nestes estágios a influência de deformações impostas ou impedidas
é relativamente pequena. No estudo da fissuração é usual definir duas fases
distintas:
(1) Formação de fissuras: é a fase em que se iniciam e se formam novas
fissuras naquelas seções de menor quociente Resistência/Solicitação, e
geralmente não há interferência mútua entre as fissuras;
(2) Estabilização das fissuras: é a fase em que já se formaram praticamente
todas as fissuras, e para aumento subseqüente da carga só há aumento
das aberturas das fissuras.
79

L N
área
τ b

tracionada
reduzida pela A
presença
do estribo

DETALHE A DETALHE A

(a) Redução da área tracionada de (b) Concentração de tensões nos cantos do


concreto estribo

ε cl

VISTA A

(c) Alongamento longitudinal no concreto

Fig. 3.8: Ações do estribo na indução da fissuração do concreto.

Outra causa de indução de fissuras são os estribos (Fig. 3.8), pois,


de um lado, reduzem a área da seção transversal de concreto (Fig. 3.8a), e, de
outro, a sua tração induz no concreto, junto ao canto do estribo, tensões de
fendilhamento, através de alongamentos longitudinais que se somam àqueles
originados pela carga (Figs. 3.8b e c). É freqüente encontrar na literatura específica
o espaçamento médio das fissuras identificado com o espaçamento dos estribos.
Entretanto, estes espaçamentos não são necessariamente iguais. Adiante mostra-se
a determinação do espaçamento médio das fissuras considerando-se a influência do
estribo, cf. Kreller (1989).
Para melhor entendimento, a descrição que segue pressupõe um
tirante de concreto armado, como o da Fig. 3.9. Uma grandeza que desempenha um
papel importante no espaçamento das fissuras, na fase de formação de fissuras, é o
comprimento de transmissão, l t , calculado simplificadamente no item anterior.
80

α s f ct PDN
A B

F F
f ct
lt lt
x

ε
εs
β∆ ε sr
ε sm ∆ ε sr
εc = ε sr1
εc x
ε cm = βε sr1

Fig. 3.9

Considerando-se a dispersão da resistência à tração do concreto,


para os quantis de 95% e 5% , tem-se uma variação de ± 30% em relação à
resistência média f ctm . A variação correspondente em l t , conforme Equação (3.32),

é bem menor e aproximadamente igual a ± 15% . Isso quer dizer que se erra pouco
na determinação do espaçamento médio das fissuras, se for admitida para o cálculo
do comprimento de transmissão a resistência média à tração do concreto.
No que segue usa-se o valor médio da tensão de aderência τ bm .

(Este deve ser substituído pelo valor característico, τ bk , na determinação da abertura

máxima da fissura em serviço). Na fase de formação de fissuras, como se indica na


Fig. 3.9, o tirante tem trechos no Estádio I, onde são iguais as deformações no aço e
no concreto, e trechos onde há deslizamento entre o concreto e a armadura. A
deformação média do aço, onde há deslizamento, é dada por:

ε sm = ε s 2 − β∆ε sr = ε s 2 − β (ε sr 2 − ε sr1 ) (3.38)

onde:
81

β = 0,6 é o já mencionado fator de integração da deformação do aço entre a


fissura e o PDN.
ε s 2 é a deformação da armadura na fissura, inferior ou igual à de
escoamento.
ε sr 2 é a deformação da armadura na fissura para a força F tal que a tensão

no concreto seja igual a f ctm . Seu valor decorre da correspondente tensão

da armadura na fissura, Equação (3.30), dividida por E s .

ε sr1 é a deformação da armadura no PDN, e igual à do concreto, para a

mesma força F, i. e., ε sr1 = f ctm Ec = α s f ctm E s .

∆ε sr = ε sr 2 − ε sr1 é o aumento da deformação da armadura entre o PDN e a

fissura.

O comprimento de transmissão l t é obtido igualando-se a força de

aderência Fb , transmitida ao concreto ao longo deste comprimento, com a diferença

de forças da armadura na fissura e no PDN:

πφ s πφ s2
2

Fb = πφ sτ bm l t = (σ s 2 − σ s1 ) = E s ∆ε sr (3.39)
4 4

Mas σ s1 é a tensão da armadura resultante da aplicação da força πφ s σ s 2 4 na


2

seção de área ideal Ac (1 + α s ρ s ) , onde Ac é a área da seção de concreto e

ρ s = πφ s 4 Ac é a taxa geométrica da armadura. Logo:


2

αsρs
σ s1 = σ s2 (3.40)
1+ αs ρs

σ s2
σ s 2 − σ s1 = (3.41)
1+ αs ρs
82

ε
2 β∆ε sr 2 ∆ε
3 sr
3
ε s2 εs
ε sm
ε s1
εc

2
ltm ltm = 3
lt

4
Srm S rm = lt
3

Fig. 3.10

Portanto:

φs σ s2
lt = (3.42)
4 τ bm (1 + α s ρ s )

Observe-se que, cf. a Fig. 3.9:

(1) para a dada força F que causou a fissura na seção B de menor


resistência,
(2) se na seção A, distante l t de B, existir a mesma resistência da seção B,

ter-se-ia, somente aí, não antes, formado também outra fissura, simultaneamente
com a primeira. Disso decorre que o menor espaçamento das fissuras é igual ao
próprio comprimento de transmissão l t . Por outro lado, para aumento subseqüente

da força F, a fissura mais próxima de B não poderá distar desta seção mais do que o
dobro deste comprimento, pois do contrário seria possível transmitir ao concreto, por
tensões de aderência, uma força maior do que a de fissuração. Com mais rigor
pode-se dizer que a menor distância das fissuras é igual ao comprimento de
83

transmissão calculado com f ct , 5% , e a maior distância é igual ao dobro do

comprimento de transmissão calculado com f ct ,95% .

Considerando-se concluída a formação de fissuras, existirão no


tirante fissuras com espaçamentos variando aleatoriamente entre l t e 2lt ,

desaparecem todos os trechos no Estádio I, e há diferença de deformações dos dois


materiais em toda parte. O término da formação de fissuras pode ser admitido
quando a força F for tal que corresponda à tensão no concreto igual a f ct ,95% , um

valor, portanto, f ct , 95% f ctm = 0,4 0,3 = 1,33 vezes maior que a força Ac f ctm (1 + α s ρ s ) .

A teoria clássica da fissuração assume como espaçamento médio


das fissuras, s rm , a média aritmética das distâncias extremas entre fissuras, l t e 2lt ,

supondo a resistência à tração do concreto como uma grandeza determinística. Este


valor do espaçamento médio só seria verdadeiro se o tirante fosse muito longo, pois
neste caso seriam iguais os números de espaçamentos s rm − ∆s rm e s rm + ∆s rm dentro

daquele intervalo. De fato, comprova-se teórica e experimentalmente que a distância


média das fissuras é 33% maior que o comprimento de transmissão l t . A dispersão

da resistência à tração do concreto foi considerada por Kreller (1989) na


determinação do espaçamento médio das fissuras. Este espaçamento, cf. Equação
(3.60), é igual a 1,31lt , sendo o comprimento de transmissão l t (variável com o

quantil tomado para a resistência do concreto) calculado com o valor médio da


resistência à tração do concreto, f ctm . Assim, pode-se pôr:

4 2
s rm = l t = (2l t ) (3.43)
3 3

Mantido o valor médio da tensão de aderência, a força de aderência


reduz-se em 1 3 , conforme a redução no comprimento de transmissão, agora igual a

s rm 2 = 2l t 3 . Ver a Fig. 3.10. Logo, de acordo com a Equação (3.39), resulta:

2 2
Fbm = Fb = E s As ∆ε sr (3.44)
3 3
84

Nesta equação ∆ε sr é, como já definido, o salto na deformação da armadura na

formação de fissuras isoladas, calculado com σ c = f ctm , donde:

σ sr 2 − σ sr1 1 f ctm
∆ε sr = ε sr 2 − ε sr1 = = [ (1 + α s ρ s ) − α s f ctm ]
Es Es ρ s

ou

f ctm
∆ε sr = (3.45)
ρ s Es

Usando-se as equações (3.41), (3.42) e (3.45) obtém-se:

φ s f ctm
lt =
4 ρ s τ bm

De (3.43) resulta a expressão do espaçamento médio das fissuras, após a conclusão


da fase de formação de fissuras:

1 φ s f ctm
s rm = (3.46)
3 ρ s τ bm

Pondo τ bm = 2,25 f ctm ( 10% menor que o valor usual, 2,5 f ctm , para considerar a

mencionada destruição da aderência junto à fissura), o espaçamento médio das


fissuras é igual a:

φs
s rm = 0,15 (3.47)
ρs

e esta expressão coincide com a deduzida por Kupfer et al. (1983). Entretanto, o
MC-90 utiliza no cálculo da abertura característica da fissura o quantil inferior da
resistência média de aderência, τ bk , 20% menor do que o valor de τ bm e igual a
85

1,8 f ctm para fissuração estabilizada. Disto resulta para o cálculo da abertura máxima
da fissura:

φs
s rm = 0,185 (3.48)
ρs

Todas estas equações relacionadas com o tirante da Fig. 3.9 podem


ser usadas para outras peças, trocando-se a taxa geométrica ρ s pela taxa

geométrica efetiva, ρ sef , definida adiante.

O EC-2 dá a seguinte equação semi-empírica do espaçamento


médio das fissuras:

φs
s rm = 50 + 0,10 (3.49)
ρ sef

com s rm e φ s em mm . Esta equação tem a vantagem de impor no cálculo numérico

um limite inferior para este espaçamento.

1600
Epaçamento médio das fissuras

400
Espaçamento médio das

1400
350
1200
fissuras (mm)

300
1000
250
(mm)

800
200
600
150
400
100
200
50
0
0
0 1 2 3 4 5 6 7
0 1 2 3 4 5 6 7

Taxa geométrica efetiva (%)


Taxa geométrica efetiva (%)

Equação (3.47), ds = 6,3 mm Equação (3.49), ds = 6,3 mm Equação (3.47), ds = 25 mm Equação (3.49), ds = 25 mm

(a) (b)

Fig. 3.11: Comparação dos espaçamentos médios das fissuras, cf. o MC-90 e o EC-2.
86

Mostra-se na Fig. 3.11 a comparação entre as equações (3.49) e


(3.47), para dois valores extremos do diâmetro: φ s = 6,3 e 25mm . É visível nestas

figuras que as diferenças entre os valores de s rm destas duas equações diminuem

com o aumento do diâmetro da armadura, e são razoavelmente concordantes para


taxas ρ sef médias e altas, no caso de diâmetros não muito baixos. Nos dois

exemplos dados adiante (Figs. 3.14 e 3.15) supõe-se válida a Equação (3.43) para o
espaçamento médio do EC-2.
Na fissuração estabilizada, a redução da deformação no aço entre a
fissura e o ponto médio entre fissuras é, cf. Equação (3.44), igual a:

2
∆ε sm = ∆ε sr (3.50)
3

Com isto a deformação média do aço, igual à deformação média do tirante, cf. a Fig.
3.10, passa a ser, com β = 0,6 :

2
ε sm = ε s 2 − β∆ε sm = ε s 2 − β (ε sr 2 − ε sr1 ) = ε s 2 − β t (ε sr 2 − ε sr1 ) (3.51)
3

2
onde β t = β = 0,40 para cargas instantâneas. Para cargas de longa duração ou
3
repetidas este valor é alterado para β t = 0,25 . Note-se que a relação 0,25 0,40 = 0,62

é a mesma obtida no item anterior, comparando-se grandezas em zonas de boa e de


má aderência.
Na fissuração estabilizada, a força média de aderência transmitida
ao concreto entre a fissura e o ponto de deslizamento nulo é também igual a:

Fbm = πφ sτ bm s rm / 2

Considerando as equações (3.44), (3.50), (3.51) e β = 0,6 resulta:


87

τ bm s rm
ε s 2 − ε sm = 1,2 (3.52)
Es φs

com a tensão média de aderência, em MPa, igual a:

τ bm = 2,25 f ctm = 0,675 f ck2 3 (3.53)

O fator 1,2 em (3.52) pode possivelmente ser explicado pelo fato de


a resistência média à tração do concreto estar em função da resistência
característica f ck , ao invés do valor médio f cm . Para efeito de comparação, no

mencionado modelo de Sigrist não aparece o fator 1,2 de (3.52), e tem-se, antes do
escoamento da armadura, a tensão média de aderência dada em função da
resistência à tração:

τ bm = 2 f ct = 0,6 f c2 3 (3.54)

onde f c é a resistência do concreto na compressão uniaxial, observada no ensaio.

Nesse mesmo modelo a tensão de aderência é reduzida à metade, i. e., f ct , no

segmento da barra em escoamento.


Na determinação da máxima abertura da fissura em serviço o MC-
90, item 7.4.3.1.1, trunca as duas fases mencionadas através da condição seguinte.
Se ocorrer

ρ sef σ s 2 > f ctm (1 + α s ρ sef ) (3.55)

tem-se fissuração estabilizada, do contrário tem-se a fase de formação de fissuras.


Nesta desigualdade:

As
ρ sef = é a taxa geométrica efetiva do banzo tracionado.
Acef
88

Acef é a área efetiva do banzo tracionado (Fig. 3.12).

L N
d
h

x
hef = 2,5(h-d) ≤ h-x/3 L N
h
hef = 2,5(c + 0,5 φs ) ≤ h-x/3
c + 0,5 φs
φs
c = cobrimento

(a) Viga (b) Laje

Fig. 3.12: Área efetiva do banzo tracionado nas vigas e nas lajes.

A comprovação teórica da Equação (3.43), onde se lê que o


espaçamento médio das fissuras é 33% maior que o comprimento de transmissão,
está dada no trabalho de Kreller, a partir do trabalho de Meier. Nela são necessárias
considerações probabilísticas, como se mostra a seguir.
Sejam dois estados iniciais a partir dos quais é determinada a
distância média entre fissuras (Fig. 3.13):

(1) A distância inicial s r entre fissuras está no intervalo (2lt ,3l t ) .

(2) A distância inicial s r entre fissuras está no intervalo (3lt ,4l t ) .

Outros intervalos subseqüentes reduzem-se a estes dois casos, cf. Kreller.


No primeiro caso, entre as duas fissuras já existentes só é possível
formar-se uma única nova fissura, de modo que a distância média entre elas é:

1
s rm ,1 = (1 × lt + 1,5 × lt ) = 1,25l t (3.56)
2

No segundo caso, pode-se igualar a distância entre as duas fissuras já existentes a


(k + 2)l t , onde k é uma variável no intervalo (1,2) . Nos dois trechos extremos, de
89

F F

lt
lt lt lt

(II) (I) (II)

σc (2-k)l t

(k-1)l t (k-1)l t

kl t

(k+2)l t

Fig. 3.13: Determinação do espaçamento médio das fissuras, cf. Meier, apud Kreller (1989).

comprimento l t e adjacentes às duas fissuras já existentes, não é possível a

formação de novas fissuras. Se ocorrer uma nova fissura no trecho central (I), então
não é possível formar outra fissura. Mas se uma fissura ocorrer num dos trechos (II),
é possível a ocorrência de outra fissura. A distância média entre fissuras deste
segundo caso decorre das probabilidades de ocorrência de uma fissura nos trechos
(I) e (II), e esta distância é uma função de k :

s rm , 2 = s rmI PI + s rmII PII (3.57)

onde:
s rmI = (k + 2)lt 2 : distância média das fissuras, se a nova fissura ocorrer na
zona (I).
PI = (2 − k ) k : probabilidade de ocorrer uma nova fissura só na zona (I).

s rmII = (k + 2)lt 3 : distância média das fissuras, para duas novas fissuras
ocorrendo nas zonas (II).
90

PII = 2(k − 1) k : probabilidade de ocorrência de duas novas fissuras nas


zonas (II).

Logo, a Equação (3.57) passa a ser:

lt (k 2 + 4k + 4)
s rm , 2 (k ) = (3.58)
6 k

Variando-se k entre 1 e 2 obtém-se a distância média através da seguinte integral:

2
lt 1
s rm , 2 × (2 − 1) =
61 ∫ (k + 4 + )dk
k

ou

s rm , 2 = 1,38lt (3.59)

Admitindo-se igual probabilidade de ocorrência em ambos os casos, a distância


média final será:

s rm ,1 + s rm , 2 1,25 + 1,38
s rm = = lt = 1,31lt (3.60)
2 2

sendo s r min = l t e s r max = 2lt .

Esta é a dedução de Meier, descrita no trabalho de Kreller. Seu


resultado praticamente coincide com o dado no item 3.2.2 do MC-90, s rm = 1,33lt , que

por sua vez decorre de resultados experimentais. Nesta demonstração não foi
considerada a dispersão da resistência à tração do concreto. Kreller considera isto,
através do conceito de grau de formação de fissuras, associado à resistência à
tração f ct , q correspondente ao quantil q , com 5% ≤ q ≤ 95% , e mostra que a

Equação (3.60) é válida no fim da fase de formação de fissuras, com o comprimento


91

de transmissão l t calculado com a resistência f ctm , i. e., q = 50% . E isto é o que foi

considerado antes, na dedução de (3.46) e nos dois exemplos do item 3.2.


Com esta dedução pode-se levar em conta a influência dos estribos
no espaçamento médio das fissuras. Para isto, Kreller faz as seguintes hipóteses:

(1) O estribo é considerado como uma coação na formação de fissuras, e


não se leva em consideração a redução da área de concreto decorrente
da presença do estribo na seção transversal.
(2) Num trecho do elemento estrutural de igual probabilidade para a posição
das primeiras fissuras, estas ocorrem sempre em um estribo.
(3) Toma-se como base o comprimento de transmissão correspondente à
resistência f ctm , e isto quer dizer fissuração estabilizada.

Os seguintes casos podem ocorrer (indica-se por s estr o

espaçamento dos estribos, e por s rm ,estr o espaçamento médio das fissuras

considerada a influência dos estribos):

Caso I: O espaçamento dos estribos é inferior ao comprimento de


transmissão, i. e., s estr < l t .

Na conclusão da formação de fissuras, a distância média entre


fissuras é:

lt
s rm ,estr = s estr [ INT ( ) + 1] (3.61)
s estr

onde INT (lt s estr ) é a parte inteira da fração lt s estr . Seu valor mínimo é igual a 1, e

tem-se, então, uma fissura a cada dois estribos. Se este inteiro for igual a 2 tem-se
uma fissura a cada três estribos, e assim por diante.
92

Caso II: O espaçamento dos estribos é inferior ao dobro do


comprimento de transmissão, i. e., lt ≤ s estr < 2l t .

Neste caso faz-se:

s rm ,estr = s estr (3.62)

ou seja, uma fissura a cada estribo. Observe-se que este é o caso mais
freqüentemente admitido em diferentes trabalhos da área.

Caso III: O espaçamento dos estribos é inferior ao triplo do


comprimento de transmissão, i. e., 2lt ≤ s estr < 3lt .

Para este caso põe-se:

s estr
s rm ,estr = (3.63)
2

quer dizer, uma fissura a cada estribo e outra entre dois estribos sucessivos.

Caso IV: O espaçamento dos estribos é inferior ao quádruplo do


comprimento de transmissão, i. e., 3lt ≤ s estr < 4lt .

De acordo com a Fig. 3.13, neste caso a distância (k + 2)l t entre as


duas fissuras já existentes, e coincidentes ali com os estribos, é igualada à distância
entre estes, ao invés de ser considerada variável:

s estr = (k + 2)lt (3.64)

Com o valor de k desta equação posto em (3.58), resulta:


93

2
s estr
s rm ,estr = (3.65)
s
6( estr − 2)lt
lt

Os intervalos subseqüentes, na afirmação de Kreller, não têm


significado prático. Como uma tentativa de obter s rm ,estr por outro caminho, altera-se

a Equação (3.65) com base no seguinte:

(1) Na fase de fissuração estabilizada, com a distância dos estribos superior


a três vezes o comprimento de transmissão, existem já duas fissuras,
uma em cada estribo, como nos segundo e terceiro casos.
(2) O número de espaçamentos das fissuras que se formam entre as duas
coincidentes com os estribos é, evidentemente, inteiro. Este fato não
está considerado pela Equação (3.65).
(3) O espaçamento entre as fissuras no intervalo de dois estribos tanto pode
se aproximar de l t quanto de 2lt , mas o mais provável é que este

espaçamento esteja próximo do espaçamento médio s rm que não

contém a influência dos estribos. Supõe-se, no que segue, que o número


de fissuras entre dois estribos quaisquer e sucessivos repita-se nos
demais intervalos entre estribos sucessivos.

Com base nestas considerações propõe-se, nos casos em que


s estr ≥ 3lt , escolher o espaçamento médio das fissuras como um submúltiplo da
distância entre estribos, de modo que seja mínimo o afastamento entre este
espaçamento e o obtido sem a consideração da influência dos estribos, i. e., com s rm

de uma das Equações (3.47) e (3.49). A Equação (3.65) tem como alternativa as
duas seguintes:

s estr s estr
s rm ,estr = ou s rm ,estr = (3.66a) ou (3.66b)
s s
INT ( estr ) + 1 INT ( estr )
s rm s rm
94

valendo o resultado mais próximo de s rm . Na segunda equação, se s estr for um

múltiplo de s rm tem-se a igualdade s rm ,estr = s rm . Do contrário, a primeira equação leva

a valores de s rm ,estr abaixo de s rm , e a segunda a valores de s rm ,estr acima de s rm .

Deve-se lembrar que s rm ,estr não pode ser inferior a l t , nem superior a 2lt .

Mostra-se a seguir a comparação entre os resultados teóricos aqui


descritos e os experimentais de Rizkalla, Hwang e El Shahawi, relatados no livro de
Collins e Mitchell (1987). Ver a Fig. 3.14. Estes experimentos evidenciam, em parte,
a influência da armadura transversal sobre o espaçamento das fissuras. Com os
dados da Fig. 3.14 tem-se:

Cobrimento: c = 19mm
Diâmetro nominal das barras: φ s = 11,3mm

Área da armadura longitudinal: As = 800mm 2

Área de concreto: Ac = 178 × 305 − 800 = 53490mm 2

Taxa geométrica da armadura: ρ s = 800 53490 = 1,5%

Área efetiva de concreto: Acef = 2 × [2,5 × (19 + 11,3 2)] × 305 = 37591mm 2

Taxa geométrica efetiva da armadura: ρ sef = 800 37591 = 2,13%

Comparam-se, neste exemplo, somente os espaçamentos médios


teórico e experimental das fissuras. No primeiro caso não há armadura transversal, e
de (3.49) e (3.43) obtém-se s rm = 103mm e lt = 0,75 × 103 = 77,3mm . O espaçamento
médio observado experimentalmente é igual a 104mm , 1% maior.
No segundo caso a armadura transversal tem espaçamento
s estr = 216mm , e sendo:

2lt = 154,6mm ≤ s estr = 216mm < 3l t = 232mm

resulta s rm ,estr = 108mm da Equação (3.63). O resultado experimental é 96mm , 11%

menor.
95

Fig. 3.14: Influência da armadura transversal sobre o espaçamento das fissuras, cf. Rizkalla, Hwang e
El Shahawi, apud Collins e Mitchell (1987).

No terceiro caso tem-se s estr = 102mm , e portanto:

lt = 77,3mm ≤ s estr = 102mm < 2l t = 154,6mm

donde, cf. Equação (3.62), s rm ,estr = 102mm , valor coincidente com o medido

experimentalmente.
Desta comparação fica evidente a concordância muito boa entre os
resultados teóricos e experimentais.
Como exemplo no qual pode ocorrer a condição s estr ≥ 3lt , seja a

viga da Fig. 3.15, de largura b = 200mm e estribos com espaçamentos iguais a


s estr = 100 , 200 e 300mm . Os resultados estão dados na Tabela 3.2.
96

c+ Øt = 26,3mm
ev = 25mm

45,3mm 34,3mm 48,8mm 54,8mm

As = 5Ø10 = 400 mm2 2Ø16 = 400 mm2 10Ø10 = 800 mm2 4Ø16 = 800 mm2
Acef = 22650 mm2 17150 mm2 24400 mm2 27400 mm2
ρsef = 1,77% 2,33% 3,28% 2,92%

(a) (b) (c) (d)

Fig. 3.15

Tabela 3.2: Espaçamento médio das fissuras com influência dos estribos.

s rm ,estr (mm)
lt (mm) s rm (mm)
φ s / ρ sef (%) Equação Equação
Espaçamento médio das fissuras com
influência dos estribos
(3.43) (3.49)
s estr = 100mm 200mm 300mm
100 100 100
10 / 1,77 80 106,5
Eq. (3.62) Eq. (3.63) Eq. (3.66a)
75
10 / 3,28 100 66,7
60,4 80,5 Eq. (3.66a)
Eq. (3.62) Eq. (3.66a)
100
16 / 2,33 100 100
89 119 Eq. (3.66a)
Eq. (3.62) Eq. (3.63)
100
16 / 2,92 100 100
78,6 105,8 Eq. (3.66a)
Eq. (3.62) Eq. (3.63)

Nesta tabela observa-se que os espaçamentos médios das fissuras


incluindo-se a influência dos estribos, s rm ,estr , diferem pouco do espaçamento médio

das fissuras, s rm , sem esta influência, e há um número inteiro de espaçamentos

entre os estribos. Se fosse aplicada a Equação (3.65) para φ s = 16 , ρ sef = 2,33% e

s estr = 300mm , resultaria s rm ,estr = 123mm , que não é submúltiplo de 300mm .

Concluída a determinação do espaçamento médio das fissuras,


pode-se definir o subelemento estrutural cujo comprimento é exatamente igual a este
97

espaçamento, e que servirá de base para as análises subseqüentes, na fase de


fissuração estabilizada, com ou sem plastificação da armadura.

3.4 Lei Tensão da Armadura na Fissura Associada à Sua


Deformação Média

No item anterior mostrou-se que, na fissuração estabilizada e


armadura com tensão na fissura inferior à de escoamento, a diferença entre as
deformações da armadura na fissura e média é igual a uma constante, Equações
(3.51) e (3.52). Conforme o MC-90, item 3.2.3, a deformabilidade global do banzo
tracionado pode ser descrita pelo valor médio da deformação na armadura, com o
que fica considerado o seu enrijecimento na tração, proveniente da aderência com o
concreto circundante. No que segue, descreve-se resumidamente a lei tensão da
armadura na fissura em função da sua deformação média, σ s (ε sm ) , incluindo-se a

fase pós-escoamento do aço. Esta lei será usada nos capítulos seguintes, na
determinação da rigidez à flexão (capítulo 4) e no cálculo simplificado da capacidade
de rotação plástica (capítulo 5).
Supõe-se que a barra nua tenha uma lei constitutiva, σ s (ε s ) , bilinear

com encruamento. No Estádio I a deformação média do aço coincide com a sua


deformação na seção não fissurada. O fim desta fase anterior à fissuração é
estabelecido no MC-90 conforme a finalidade da análise, decorrendo daí diferentes
valores da resistência à tração do concreto, conforme o quantil considerado. Na
determinação de deslocamentos são sugeridos os valores médio e característico
inferior desta resistência. No que segue usa-se (principalmente) o valor médio f ctm ,

Equação (2.24). Definida a tensão no concreto com a qual se inicia a fissuração,


obtém-se a tensão correspondente no aço na (primeira) fissura, σ sr1 . A conclusão da

fase de formação de fissuras dá-se para um valor da tensão na armadura 33%


superior a σ sr1 (no MC-90, 1,3σ sr1 ), conforme mostrado antes. A fase de fissuração

estabilizada ocorre para tensões da armadura na fissura acima deste valor, e é


98

caracterizada por uma reta σ s (ε sm ) paralela à do aço nu, pois o recuo na

deformação, igual à diferença entre a deformação do aço na fissura e a


correspondente deformação média, ou seja, ε s − ε sm = β t ∆ε sr , é constante. O

coeficiente β t é igual a 0,4 para cargas de curta duração e 0,25 para cargas

repetidas ou de longa duração, como se viu. E o salto na deformação do aço, ∆ε sr ,

na passagem do Estádio I para o II decorre de (3.45), usando-se para peças fletidas


ρ sef no lugar de ρ s .

A fase pós-escoamento é representada pela seguinte equação,


decorrente do trabalho de Kreller (1989):

σ sr1
ε sm = ε smy + δ (1 − )(ε s 2 − ε sy ) se ε sy ≤ ε s 2 ≤ ε su (3.67)
f yk

onde:
ε s 2 = ε sy + (σ s 2 − f yk ) E sh é a deformação da armadura na fissura. Ver a Fig.

2.25b.

ε smy é a deformação média da armadura no início do escoamento na fissura.

É uma constante e decorre de (3.51) ou (3.52) com ε s 2 = ε sy .

δ = 0,8 é um coeficiente válido para aços de ductilidade tipo A do MC-90 e


f yk = 500MPa . Admite-se, como aproximação, que este coeficiente seja o

mesmo para os aços nacionais CA-50 e CA-60.

σ sr1 é a tensão da armadura na fissura ao formar-se a primeira fissura. Esta


tensão é função do momento de fissuração e da força normal atuante,
σ sr1 ( M cr , N ) . Considera-se, neste texto, a força normal aplicada primeiro e o
momento fletor crescente até atingir a fissuração do banzo tracionado.
99

Observe-se nesta equação que a qualidade da aderência,


representada pelo fator β t , só aparece em ε smy , e está, portanto, excluída na

diferença ε sm − ε smy . Isto terá influência no cálculo da rotação plástica (capítulo 5).

O momento de fissuração que serve de base para a determinação


do salto na deformação entre os Estádios I e II tem aqui uma definição um pouco
diferente da usual, mas coerente com o modelo de tirante adotado para o banzo
tracionado. Este momento, considerada a força normal já atuante, é definido como
aquele necessário para causar a deformação ε ctm = f ctm Eci na camada mais

alongada da armadura (primeira camada). Esta definição tem em vista evitar os


casos de flexo-compressão em que há fissuração (i. e., a borda tracionada atinge o
alongamento de ruptura do concreto), mas a armadura ainda está comprimida.
Deve-se, é claro, aplicá-la somente aos casos usuais de disposição da armadura
próxima à borda da seção. Tenha-se em mente que:

(1) de um lado, não está considerado o aumento da resistência à tração na


flexão pela ação da fissura coesiva, e que no projeto estima-se a
resistência média do concreto à tração através da Equação (2.24), onde
se tem f ck2 / 3 , e não através da Equação (2.60), onde se tem f cm2 / 3 ,

(2) e, de outro lado, o momento de fissuração, assim definido, é ligeiramente


maior do que o convencional, e com isto é também maior a tensão σ sr1 .
Assim, após o escoamento o efeito do enrijecimento da armadura é
ligeiramente maior, pois a deformação média da armadura decai.

No capítulo 5, quando da determinação simplificada da capacidade


de rotação plástica em vigas, retoma-se a definição usual do momento de fissuração
(e ainda com f ct , 5% , cf. o MC-90), para efeito de comparação com uma solução mais

rigorosa e independente do momento de fissuração. Mas é evidente que um


enrijecimento maior corresponde a uma melhor qualidade da aderência, com o que
se tem menor deformabilidade (i. e., menor capacidade de rotação plástica, a favor
da segurança no projeto).
Resume-se na Fig. 3.16 a lei simplificada tensão da armadura na
fissura associada à sua deformação média, tirada do MC-90, item 3.2.3, conforme
100

explicado neste item. Deve-se notar que nesta figura σ s é a tensão da armadura na

fissura, aqui indicada por σ s 2 , e que σ srn é a tensão da armadura na fissura no fim

da fase de formação de fissuras, igual a 1,33σ sr1 .

σs = F / A s σs σs = F / A s

ftk εsm εs
fyk 1 Esh

βt∆εsr
σsrn Es
σsr1 1

εsy εsu εsm , εs


∆εsr
Fig. 3.16: Lei tensão-deformação média da armadura do banzo tracionado (Indica-se também a lei
tensão-deformação da barra nua), cf. o MC-90, item 3.2.3.

A linha cheia entre σ sr1 e σ srn pode ser substituída pela linha

tracejada, quando se calculam os efeitos das deformações impostas, conforme dito


no mesmo item do MC-90. Como estas estão sempre presentes, este segmento será
substituído, nos capítulos seguintes, pela linha tracejada.
4 O DIAGRAMA MOMENTO-CURVATURA NA FLEXÃO COMPOSTA
NORMAL

4.1 Introdução

Mostra-se neste capítulo a obtenção do diagrama momento-


curvatura para seções transversais em forma de duplo T assimétrico, com diversas
camadas de armadura, e sujeitas a solicitações normais (a força cortante será
considerada no capítulo 5). Neste diagrama será incluído o enrijecimento da
armadura tracionada, com a finalidade de considerar com mais precisão a
deformabilidade do elemento estrutural, mas apenas quando na seção transversal
houver dois banzos distintos, um tracionado, outro comprimido.
O diagrama momento-curvatura reflete as leis tensão-deformação
não-lineares do aço e do concreto, e pode ser admitido, não fosse a ação da fissura
coesiva, como uma propriedade da seção transversal. Retém-se aqui a hipótese de
Bernoulli. Com isto a curvatura é igual ao gradiente das deformações na seção
transversal, e também igual à variação da rotação por unidade de comprimento da
barra.
A hipótese usual da Teoria da Elasticidade Linear, que consiste em
atribuir a cada barra seu módulo de elasticidade E e seu momento de inércia I ,
corresponde a uma lei momento-curvatura linear, sem qualquer limite de
deformação, i. e., sem limite de curvatura na análise. A inclinação da reta que
representa esta lei é dada pelo produto EI . Esta hipótese está longe de refletir a
verdadeira resposta do material concreto armado, e fere também as condições de
compatibilidade local (na seção) e global (na estrutura). Assim, ao invés de atribuir a
cada barra seu módulo de elasticidade e seu momento de inércia, usa-se a sua lei
momento-curvatura. Possibilita-se com isto a análise não-linear, que pode, então,
atender, além das condições de equilíbrio, também as de compatibilidade e as leis
constitutivas dos materiais.
102

As seguintes hipóteses são admitidas:

(1) A seção transversal permanece plana após deformar-se (Hipótese de


Bernoulli).
(2) Na compressão e na tração antes da fissuração há aderência rígida (sem
deslizamento) entre a armadura e o concreto circundante. O mesmo já
não se pode afirmar na tração após a fissuração, pois há deslizamento
entre os dois materiais. Entretanto, pode-se afirmar que ainda há
igualdade de alongamentos mÈdios do aço e do concreto, se para este
último for adicionada ao seu efetivo alongamento médio a parcela da
abertura da fissura, dividida pelo espaçamento das fissuras. Esta
abertura é, assim, espalhada no banzo tracionado.
(3) Consideram-se carregamentos monotônicos quase-estáticos, sem
qualquer alternância ou repetição ( dε dt ≅ 10 −5 / s ).
(4) O efeito da fluência do concreto não é considerado.
(5) Após a fissuração despreza-se, na seção transversal fissurada, a
resistência à tração do concreto.

As seções transversais que poderão ser consideradas pelo


programa desenvolvido (em Qbasic) são aquelas geradas a partir de uma seção
duplo T assimétrico, conforme Fig. 4.1. Nesta figura indica-se também a convenção
de sinais.
As tensões de tração no concreto logo abaixo da linha neutra (LN) e
as originadas pela fissura coesiva, cf. Fig. 2.8d, poderiam, eventualmente, ser
consideradas. Para isto teria de ser obtida a abertura (média) da fissura ao nível da
camada de armadura de maior alongamento, decorrente da distância (média) entre
fissuras e da diferença de alongamentos (médios) do aço e do concreto. Havendo só
solicitações normais, as fissuras são ortogonais ao eixo da peça. Entretanto, estas
tensões de tração, após a fase de formação de fissuras, só têm alguma importância
nas peças fracamente armadas (taxas geométricas próximas da mínima). Além
disso, se esta consideração for feita para fissuras de flexão, por coerência deve-se
fazê-la também para as fissuras de flexão e de força cortante, o que torna o
problema bem mais complexo.
103

2 ε2 σc

0 - 0 CG ε0 N M

1 ε1

Fig. 4.1: Formas de seção e convenção de sinais.

Faz-se a seguir a distinção entre os comportamentos das estruturas


isostática e hiperestática, de acordo com suas respostas ao carregamento aplicado
(Fig. 4.2), i. e., de acordo com a função carga-deslocamento, através do exemplo
usado por Thürlimann et al. (1989), para definir a resistência equivalente da
estrutura, correspondente à capacidade portante. Ver também Bazant et al. (1991).
A lei constitutiva admitida para o concreto, neste exemplo, é a dada
pela Equação (2.82):

kα − α 2
σ c = − fc
1 + (k − 2)α

εc
onde α = , ε c1 = −2,2 0 / 00 e k = 2,279 .
ε c1

Escolhendo-se uma seqüência de deslocamentos δ obtém-se


imediatamente as deformações, e destas as tensões e as forças em cada elemento
estrutural. A soma destas forças dá o valor da carga F aplicada, correspondente ao
deslocamento δ escolhido. Ver a Tabela 4.1 e a Fig. 4.3.
104

F E I →∝
F
δ δ
A
0,5 l
A 2 A
l = 500mm l

1 1 1

A=200x200 mm2

(a) Estrutura isostática (b) Estrutura hiperestática

Fig. 4.2: Distinção entre estrutura isostática e hiperestática.

Tabela 4.1: Determinação da curva carga-deslocamento F (δ ) .

Estrutura isostática Estrutura hiperestática


δ − εc −σc F − εc
(1)
− εc
( 2)
−σc −σc
(1) ( 2)
F (1) F ( 2) F
(mm) 0 (KN ) (KN ) (KN ) (KN )
( / 00 ) (MPa) ( 0 / 00 ) ( 0 / 00 ) (MPa) (MPa)

0 0 0
0,22 0,44 10,88 435,5 0,44 0,88 10,88 20,28 435,5 811,2 1681,6
0,44 0,88 20,28 811,4 0,88 1,76 20,28 29,02 811,4 1160,8 2783,2
0,55 1,10 23,42 936,9 1,10 2,20 23,42 30 936,7 1200 3073,6
0,66 1,32 25,89 1035,5 1,32 2,64 25,89 29,10 1035,5 1164 3235,2
0,88 1,76 29,02 1160,8 1,76 3,52 29,02 22,53 1160,8 901,2 3222,8
1,10 2,20 30 1200 2,20 4,40 30 10,74 1200 429,6 2829,6
1,32 2,64 29,10 1164
1,54 3,08 26,50 1061,9
1,76 3,52 22,53 901,3

3500
Cargas aplicadas na

elementos (KN)
estrutura e nos

3000
1400
Carga aplicada (KN)

2500 F=2F1+F2
1200
2000
1000 2F1
800
1500
F1 1000 F2
600
400 500
200 0
0 0 0,5 1 1,5
0 0,5 1 1,5 2
Deslocamento (mm)
Deslocamento (mm)

(a) Estrutura isostática (b) Estrutura hiperestática

Fig. 4.3: Capacidade de carga de estruturas isostática e hiperestática.


105

Destes resultados pode-se ver que:

(1) Tanto na estrutura isostática quanto na hiperestática a máxima


capacidade portante é dada pela condição

dF
=0 (4.1)

(2) Na estrutura isostática a máxima força obtida corresponde à máxima


resistência do material ( σ c = − f c = −30 MPa para ε c = −2,2 0 / 00 ) e a curva

F (δ ) reflete a lei σ (ε ) do material.

(3) Na estrutura hiperestática a máxima força aplicada não resulta da soma


das capacidades individuais dos elementos estruturais isoladamente
(que seria igual a 3600 KN no exemplo), mas tem de ser obtida pela
condição de compatibilidade. Isto está claramente mostrado na Fig. 4.3b,
onde os máximos individuais não correspondem à carga máxima obtida.
desta figura tem-se ε c = −1,32 0 / 00 e
(1)
Observe-se que para Fmax

εc = −2,64 0 / 00 , encurtamentos bem inferiores a um possível limite


( 2)

imposto ao material (no caso, ε c , lim = −3,68 0 / 00 ).

(4) Na Teoria da Plasticidade é usual definir uma resistência equivalente


correspondente à carga máxima (p. ex., na alma e no banzo comprimido
de peças fletidas). Ver Thürlimann et al. (1989) e Nielsen (1998). Esta
resistência, na estrutura isostática igual a f c , na estrutura hiperestática

passa a ser:

f c ,eq Fmax
= (4.2)
fc ∑ Ac f c

no caso igual a:
106

f c ,eq 3235,2 × 10 3
= = 0,9
fc 3 × 200 2 × 30

ou seja, 90% da resistência à compressão uniaxial do concreto.

A condição de máximo, dada pela Equação (4.1), pode


eventualmente ser substituída por outra que lhe é equivalente, a saber, a de
mudança do sinal desta derivada, na ultrapassagem do ponto de máximo da curva
carga-deslocamento. Isto pode ocorrer em estruturas que envolvam pilares esbeltos,
cuja armadura tracionada entra em escoamento toda ela de uma só vez.
Estes resultados simples podem ser transpostos para vigas e
pórticos de concreto armado com igual validade. Entretanto, é preciso considerar as
deformações limites dos materiais, no aço seu alongamento último, no concreto seu
encurtamento limite (“nominal”).

4.2 O Ponto de Máximo do Diagrama Momento-Curvatura

A discussão do item anterior pode ser mais bem esclarecida através


de um caso simples de obtenção do ponto de máximo do diagrama momento-
curvatura, que é examinado a seguir. Para facilitar a dedução, introduzem-se as
seguintes grandezas adimensionais, todas elas positivas (Fig. 4.4 e Fig. 4.5):

x
ξ= profundidade relativa da LN (4.3)
d

M
µ= momento relativo (4.4)
bd 2 f c

Rc
νc = força normal relativa do concreto (4.5)
bdf c
107

σc σs
fy
fc
F y x
h d Es
As parábola do 2º grau
1
b εc1 εc εsy εs
L L
2 2 (b) Seção transversal (c) Leis constitutivas

M
FL
máx M = máx
4
FL
M=
4
1
(a) Viga isostática, diagrama de momento fletor r

(d) Momento - curvatura

Fig. 4.4: Dados para a determinação do ponto de máximo da curva M (1 / r ) .

As f y
ω = taxa mecânica da armadura (4.6)
bdf c

a
distância relativa da força ν c à LN (4.7)
d

y
ζ = variável de integração (4.8)
d

z a
= 1−ξ + braço de alavanca das forças internas (4.9)
d d

10 3 d
ρ= curvatura relativa (4.10)
r
108

νc = ω
ξ ζ
d=1
a/d µ
ρ z/d

εs ω
Fig. 4.5

Supondo a armadura já em escoamento, as forças no concreto e no


aço, iguais entre si, são constantes. Mas o braço de alavanca é variável com a
curvatura. Disto resulta que a variação do momento fletor resistente com a curvatura
deve-se exclusivamente àquela variação. Portanto, o momento fletor será máximo
quando o braço de alavanca o for.
A força no concreto é dada por (com ε = 10 3 ε ):

ρξ 2 1 ρξ
νc = (1 − ) =ω (4.11)
ε c1 3 ε c1

e sua distância relativa à LN é:

a ξ2 ρξ ρξ
= [8 − 3( ) 2 ] (4.12)
d 12ω ε c1 ε c1

Em (4.11) põe-se ρ em função de ξ :

ε c1 2 ω
ρ2 −3 ρ + 3ε c1 3 = 0 (4.13)
ξ ξ

donde a raiz:
109

3ε c1 4ω
ρ= (1 − 1 − ) (4.14)
2ξ 3ξ

Nesta equação só vale o sinal negativo, pois a outra raiz conduz a uma
impossibilidade. Tirando-se desta equação ρξ / ε c1 e substituindo-se o resultado em
(4.12) e em (4.9), obtém-se a expressão do braço de alavanca em função da
profundidade relativa da LN:

z ξ ξ2 ω ξ 4
= 1− − + − (4.15)
d 4 8ω 8 ω 3

A derivada desta função igualada a zero leva a uma equação do 3º grau em ξ , de


raiz igual a:

ξ = 1,3447ω (4.16)

donde

z
( ) max = 1 − 0,5489ω (4.17)
d

e portanto:

z
µ max = ω ( ) max = ω (1 − 0,5489ω ) ≅ ω (1 − 0,55ω ) (4.18)
d

Se fossem usados os blocos retangulares de tensões da NBR 6118,


2000 e do ACI, cf. Park e Paulay (1975), seriam obtidos respectivamente 0,5 e 0,59
no lugar de 0,55 .
A equação inversa de (4.18), usada para dimensionamento, é:

ω = 0,91 × (1 − 1 − 2,20 µ ) (4.19)


110

A curvatura correspondente ao momento resistente máximo decorre


da substituição de (4.16) em (4.14), e é inversamente proporcional à taxa mecânica
da armadura:

ε c1
ρ = 1,013 (4.20)
ω

A deformação da armadura, para a mesma condição, é:

ε c1
ε s = ρ (1 − ξ ) = 1,013 (1 − 1,345ω ) ≥ ε sy (4.21)
ω

e deve ser inferior à deformação de ruptura ε su e superior à deformação de


escoamento, como pressuposto. Para uma dada deformação ε c1 correspondente à

tensão de pico f c resulta:

1,013ε c1
ω≤ (4.22)
1,362ε c1 + ε sy

onde o segundo membro desta desigualdade é o limite da taxa mecânica da


armadura para haver escoamento, e é igual a 0,423 para ε c1 = 2 0 / 00 e ε sy = 2,07 0 / 00 .

O encurtamento máximo do concreto, na borda da seção


transversal, decorre de:

ε c1
ε c max = ρξ = 1,013 × 1,3447ω = 1,362ε c1 (4.23)
ω

Como se vê, este encurtamento só depende de ε c1 , e vale 2,72 0 / 00 e 3 0 / 00 , para

ε c1 = 2 0 / 00 e 2,2 0 / 00 , respectivamente. Não cabe estranhar estes valores, e

tampouco o fato de serem constantes. O ACI 318-95, item 10.2.3, adota um valor
constante e igual a 30 / 00 .
111

Na situação de cálculo basta trocar nas equações anteriores f c por

0,85 f cd , f y por f yd , ε sy por ε syd , µ por µ d = M d (0,85 f cd bd 2 ) . Portanto, a taxa

mecânica será ω d = As f yd (0,85 f cd bd ) .

Mostra-se na Tabela 4.2 a comparação do presente cálculo com o


obtido utilizando-se o diagrama parábola-retângulo e os domínios de deformação da
NBR 6118, 2000, na situação de cálculo, para aço CA-50 e ε c1 = 2 0 / 00 . Neste último

caso faz-se uso das equações deduzidas por Nascimento (1988), as quais, na flexão
simples, ligam o momento fletor diretamente à taxa me cânica da armadura.

Tabela 4.2: Comparação entre o presente cálculo e o obtido com as hipóteses da NBR 6118,
2000, para o ELU Flexão.

ωd Presente cálculo Parábola-retângulo (NBR 6118)


µd ξ ρ µd ξ ρ
εs εs
0,052 0,051 0,070 36,23 38,96 0,050 0,108 10 11,21
0,111 0,104 0,149 15,53 18,25 0,104 0,167 10 12
0,152 0,139 0,204 10,61 13,33 0,140 0,205 10 12,58
0,201 0,179 0,270 7,36 10,08 0,180 0,251 10 13,35
0,266 0,227 0,358 4,89 7,62 0,230 0,329 7,13 10,63
0,324 0,266 0,436 3,53 6,25 0,270 0,400 5,25 8,75
0,355 0,286 0,477 2,98 5,71 0,290 0,438 4,48 7,98
0,404 0,314 0,543 2,29 5,01 0,320 0,499 3,52 7,02
0,423 0,325 0,568 2,07 4,79 0,333 0,522 2,66 5,57

Desta comparação podem ser tiradas várias conclusões:

(1) As diferenças na resistÍncia entre os dois cálculos são irrelevantes, e a


lei parabólica aqui admitida para o concreto não é restritiva. Sob este
aspecto outras leis poderiam ser admitidas, com resultados igualmente
aceitáveis, como é permitido em diferentes normas. O presente cálculo
não fez qualquer uso dos domínios de deformação, mas reteve a
hipótese de Bernoulli, através da qual se pode determinar as condições
de compatibilidade local. Na determinação da superfície de plastificação
(yielding surface ) ou diagrama de interação, a Teoria da Plasticidade, em
coerência com o Teorema Estático, só retém as condições de equilíbrio
112

e de resistência (equivalente, cf. item anterior), e descarta qualquer


condiÁ„o de compatibilidade de deformaÁıes. Ver Heyman (1971).
Como confirmação disto, vê-se que as diferenças nas deformações da
armadura são grandes para momentos quase iguais. Note-se nesta
tabela que: (a) para baixas taxas mecânicas da armadura a ruptura da
seção pode dar-se pela ruptura (fratura) da armadura, pois teria de haver
alongamento ilimitado do aço para que houvesse sempre esmagamento
do concreto; (b) o fim do escoamento da armadura dá-se, no caso, para
a profundidade da LN ocupando 56,8% da altura útil d da seção, menor,
portanto, que o valor correspondente à transição entre os domínios 3 e
4, igual a 62,8% .

(2) A questão principal que se deseja colocar aqui não é a da resistência,


mas a da deformabilidade. Na Tabela 4.2 vê-se que também na
curvatura há grandes diferenças entre os dois cálculos. Entretanto
permanece ainda o problema da deformação limite em peças fletidas,
uma questão ligada ao ramo descendente da lei σ c (ε c ) , onde intervêm

conceitos da Mecânica da Fratura, por causa da localização das


deformações, como se mostrou na compressão uniaxial. Esse ramo
depende da forma e do tamanho da seção, do grau de confinamento do
concreto pelos estribos, da armadura longitudinal, cf. Bazant et al.
(1991), e ainda da profundidade da LN. Quanto ao encurtamento limite
do concreto, cf. Sigrist (1995), pode-se partir de um encurtamento
nominal de ruptura igual a 5 0 / 00 , com base em resultados experimentais

de Bachmann e Thürlimann (1965), e de Sigrist e Marti (1993). Este


mesmo limite é usado nos trabalhos de Langer (1987) e de Longfei
(1995), que adotam como lei constitutiva do concreto o diagrama
parábola-retângulo. Longfei observa que a deformação limite do
concreto, 3,5 0 / 00 , baseia-se nos trabalhos de Rüsch, de Rasch e de

Rüsch e Stöckl, nos quais tomou-se como base de medida de


encurtamento do concreto um comprimento de 300mm , na borda da
zona comprimida de vigas em flexão. Na seção transversal este limite
113

(um valor médio) é muito conservativo. A conseqüência de um aumento


neste limite é evidente: aumenta-se a ductilidade do concreto, enquanto
o momento resistente permanece praticamente o mesmo .

(3) O ponto de máximo da lei momento-curvatura, M (1 r ) , na viga isostática


da Fig. 4.4 corresponde realmente à máxima capacidade portante, e
para este valor da carga há ruína da viga. Mas numa estrutura
hiperestática a ultrapassagem deste ponto não significa
necessariamente ruína da estrutura. Pode significar apenas que a seção
crítica em questão está transferindo solicitações para outras regiões da
estrutura superabundantes em resistência. A ruína ocorre quando se
forma um mecanismo (pelas rótulas plásticas), cf. Equação (4.1), ou
quando é atingida uma deformação limite no concreto ou no aço, na
seção mais crítica. Em vários trabalhos experimentais do CEB 218
(1993) é tomado como referência, no ramo descendente da curva
momento-rotaÁ„o , o valor correspondente a 90% ou 95% do momento
máximo dessa curva. No trabalho de Eligehausen e Fabritius, publicado
nesse boletim, constata-se que há aumentos de 40% a 100% na rotação
plástica se se chegar a 0,95M max no ramo descendente da mencionada

curva, em comparação com a rotação plástica obtida somente pelo valor


de pico, M max , dessa curva.

Destas observações fica evidente que uma vez estabelecida a lei


σ c (ε c ) do concreto, em especial o seu ramo descendente, a ser usada em cálculos

não-lineares, a definição de uma deformação limite torna-se dispensável, conforme


mostrado no exemplo do item 4.1. Este tema é atualmente objeto de pesquisa na
área da Mecânica da Fratura. Como nos trabalhos de Langer (1987), Kreller (1989),
Sigrist (1995) e Longfei (1995), adota-se aqui também uma deformação limite do
concreto, cf. a Tabela 2.5 ou outro valor confirmado experimentalmente.
114

4.3 Obtenção do Diagrama Momento-Curvatura

b1

h1

0 0
CG
h hw A si
y0
yci ysi

X h2 A s1 X

bw

b2

(a) concreto (b) armadura

Fig. 4.6: Discretização das seções de concreto e de aço.

A seção considerada neste trabalho é um duplo T, com pelo menos


um plano de simetria, o vertical passante pelo centro de gravidade da seção, onde
atuam os esforços solicitantes ( M , N ) . A seção é discretizada em j c (= 40)

camadas de concreto e j s (≤ 20) camadas de armadura, Fig. 4.6. A área da seção

transversal e a distância entre o eixo X, passante pela base da seção, e o CG são


iguais a:

A0 = b2 h2 + bw hw + b1 h1 (4.24)

0,5b2 h22 + bw hw (h2 + 0,5hw ) + b1 h1 (h − 0,5h1 )


y0 = (4.25)
A0
115

2 ε2
x x>0
0-0
h
N
M
1/r
ε0
h-x-ys1
y0
As1
ys1
εs1
1 ε1
Fig. 4.7

Conforme a Fig. 4.6, definem-se os dados para o concreto na Tabela


4.3. Para as j s camadas de armadura são dadas as distâncias y si e as áreas Asi .

Tabela 4.3: Dados da seção de concreto.

Número Espess. da Larg. da Distância do CG da camada ao


de Camadas camada camada Eixo X (base da seção)
Flange y ci = e2 (i − 0,5)
jc 2 e2 = h2 j c 2 b2
inferior 1 ≤ i ≤ jc 2
y ci = h2 + ew (i − 0,5 − j c 2 )
Alma j cw ew = hw j cw bw
j c 2 ≤ i ≤ j c 2 + j cw
Flange y ci = h2 + hw + e1 (i − 0,5 − jc 2 − j cw )
j c1 e1 = h1 j c1 b1
superior jc 2 + j cw ≤ i ≤ jc
j c = j c1 + j cw + j c 2
Total

As equações de compatibilidade decorrem da hipótese de Bernoulli,


cf. Fig. 4.7. A curvatura da seção é dada pelo gradiente dε dy , donde:

1 ε ε −ε2 ε s1 ε − ε0
= − 2 = s1 = = s1 (4.26)
r x h − y s1 h − x − y s1 y 0 − y s1

Adimensionalmente tem-se, pondo ε = 10 3 ε :


116

10 3 h ε 2 ε s1 − ε 2 ε s1 ε s1 − ε 0
ρ= =− = = = (4.27)
r ξ 1 − y s1 h 1 − ξ − y s1 h y 0 h − y s1 h

sendo a profundidade relativa da LN dada por:

x
ξ= (4.28)
h

Escolhem-se como incógnitas básicas a deformação no centro de


gravidade da seção e a curvatura. Logo, a deformação da armadura da primeira
camada é:

y 0 − y s1
ε s1 = ε 0 + ρ (4.29)
h

Com esta deformação obtém-se a da borda mais comprimida (ou


menos tracionada):

y s1
ε 2 = ε s1 − (1 − )ρ (4.30)
h

assim como a da borda mais tracionada (ou menos comprimida):

y s1
ε 1 = ε s1 + ρ (4.31)
h

e numa ordenada y i ( y ci ou y si ):

y s1 y i y y
ε i = ε s1 + ( − )ρ = ε 0 + ( 0 − i )ρ (4.32)
h h h h
117

Das deformações ε ci e ε si decorrem as tensões nas camadas de

concreto, σ ci , e da armadura, σ si , através das leis constitutivas dadas. Os esforços

resistentes do concreto e do aço são:

jc jc 2 jc 2 + jcw jc
Rc = ∑ bi eiσ ci = b2 e2 ∑ σ ci + bw ew ∑ σ ci + b1e1 ∑σ ci (4.33)
1 1 jc 2 +1 jc 2 + jcw +1

jc jc 2 jc 2 + jcw jc
M c = Rc y 0 − ∑ bi eiσ ci y ci = Rc y 0 − [b2 e2 ∑ σ ci y ci + bw ew ∑ σ ci yci + b1e1 ∑σ ci y ci ] (4.34)
1 1 jc 2 +1 jc 2 + jcw +1

js
Rs = ∑ Asiσ si (4.35)
1

js
M s = Rs y 0 − ∑ Asiσ si y si (4.36)
1

Os momentos referem-se ao eixo 0 − 0 , passante pelo CG da seção,


onde, por hipótese, são aplicados os esforços solicitantes. Os esforços resistentes
totais são dados pelas seguintes somas:

N = Rc + R s (4.37)

M = Mc + Ms (4.38)

e adimensionalmente:

N Rc Rs
ν= = + = ν c +ν s (4.39)
A0 f cm A0 f cm A0 f cm

M Mc Ms
µ= = + = µc + µs (4.40)
A0 hf cm A0 hf cm A0 hf cm
118

Na determinação dos esforços resistentes do concreto não se fez o


desconto da área ocupada pela armadura. Nestas equações f cm é a resistência

média do concreto em compressão, e também a tensão de pico da lei constitutiva do


concreto.
Delimita-se o intervalo da força normal de modo a ter-se no
concreto, na tração pura, a tensão correspondente à resistência f ctm , e na

compressão pura a tensão pouco inferior à de pico, a saber, − 0,95 f cm . Com esta

restrição tem-se no pior caso um encurtamento igual a − 2,03 0 / 00 , no diagrama

parábola-linear para f ck = 50 MPa . Supõe-se também que na tração pura haja uma

armadura total mínima (distribuída em pelo menos duas camadas) suficiente para
resistir à força A0 f ct 95% = 1,33 A0 f ctm , donde:

4
Astot f y ≥ A0 f ctm
3

com o que a taxa mecânica total da armadura (só na tração pura) é limitada
inferiormente a:

Astot f y 4 f ctm
ω tot = ≥ (4.41)
A0 f cm 3 f cm

Na flexo-compressão a armadura deve ser tal que não atinja o


escoamento no Estádio II nu, assim que o momento fletor igualar o de fissuração.
Com estas restrições, não há fissuração da seção nem escoamento da armadura
( ε sy ≥ 2,5 0 / 00 > α 95 ABS (ε c1 ) = 0,7764 ABS (ε c1 ) , ver a seguir) ao iniciar-se o diagrama

momento-curvatura, situação em que já está presente a força normal.


Para efeito do programa, o intervalo da força normal é dado por:

λinf N inf = λ inf [− A0 (0,95 f cm ) + Astot σ s (ε s = α 95 ε c1 )] < N < λsup N sup = λsup ( A0 f ctm + α s Astot f ctm )

(4.42a)
119

σ s (ε s = α 95ε c1 ) N f
λinf ν inf = λinf [−0,95 + ω tot ] <ν = < λ supν sup = λsup ctm (1 + α s ρ stot )
fy A0 f cm f cm

(4.42b)

com α s = E s Eci , ρ stot = Astot A0 e ainda σ s (ε s = α 95ε c1 ) f y = α 95ε c1 ε sy . Para o

diagrama de Grasser, Equação (2.82), obtém-se:

0,05k + 1,90 − (0,05k + 1,90) 2 − 3,80


α 95 = (4.43a)
2

e para o diagrama parábola-linear ( k = 2 ) decorre desta equação:

α 95 = 0,7764 (4.43b)

Os coeficientes λ de (4.42), ambos inferiores a 1, foram fixados


iguais a λsup = 0,95 e λinf = 0,90 , para facilitar a convergência da solução.

O ponto inicial da função µ (ρ ) corresponde ao valor nulo da


curvatura, e há na seção um estado uniforme de deformação, nulo ou não. O
momento resistente, µ 0 , em relação ao CG da seção e correspondente a ρ = 0 ,

decorre de (4.40), após determinar-se a deformação inicial ε in . Se a força normal for

nula, esta deformação também é nula, do contrário ela tem o sinal da força normal.
Na tração pura, pela hipótese adotada, não há fissuração, e a deformação ε in

decorre da equação de equilíbrio da força normal:

10 3 f cm 1
ε in = ν (4.44)
E ci 1 + α s ρ stot

válida para 0 ≤ ν < ν sup .

Na compressão pura, obtém-se:

N = A0σ c + Astot σ s
120

De acordo com a lei de Grasser tem-se:

kα − α 2
σ c = − f cm
1 + (k − 2)α

Com α in = ε in ε c1 e estando a armadura aquém do escoamento, resulta da equação

de equilíbrio da força normal:

− b − b 2 − 4c
α in = (4.45)
2

onde:

ρ stot E s ε c1
A=− (> 0) (4.46a)
10 3 f cm

A + k + (k − 2)ν
b= (4.46b)
A(k − 2) − 1

ν
c= (4.46c)
A(k − 2) − 1

Esta solução é também válida para o diagrama parábola-linear, bastando nela fazer
k = 2 e tirar ε c1 da Equação (2.79).

Conhecida esta deformação inicial, resulta da Equação (4.40) o


momento resistente µ 0 ou M 0 , para curvatura nula, em relação ao CG da seção, o

qual só será nulo se a força normal o for, ou se a seção tiver dupla simetria, inclusive
da armadura.
Para construir a curva µ (ρ ) por pontos, supõe-se a força normal
presente desde o início desta curva, como se disse. Escolhe-se uma seqüência
crescente de curvaturas relativas a partir do valor nulo, e para cada ρ determina-se,

iterativamente, na Equação (4.39) da força normal, a deformação ε 0 no CG da


121

seção, e de (4.32) as deformações em qualquer outro ponto da seção. De (4.40)


resulta o momento correspondente.

2 ε2=εclim ε2=εclim ε2=εclim

0-0 νbal1 νbal2 νbal3


h=1 ρbal1 ε0 ε0 ε0
ρbal2 ρbal3
y0 / h
As1
ys1/ h
1
εs1=εsu εs1= εsy εs1 = εctm
(a) Ruptura simultânea (b) Ruptura do concreto (c) Ruptura do concreto
dos dois materiais simultânea com o início simultânea com o início
do escoamento da fissuração do banzo tracionado

Fig. 4.8

Um dos objetivos da construção deste diagrama é obter seus pontos


principais, a partir dos quais o diagrama pode ser substituído por segmentos de reta,
dos quais decorrem as rigidezes à flexão nos diferentes trechos do diagrama. O
primeiro deles, a origem do diagrama, já foi determinado. Os seguintes são
comentados a seguir.
Considere-se os três estados de deformação mostrados na Fig. 4.8,
em que pelo menos uma deformação limite ocorre. No primeiro deles (Fig. 4.8a) há
ruptura simultânea dos dois materiais, e como a curvatura e a deformação no CG
são conhecidas e dadas por:

ε su − ε c lim
ρ bal1 = (4.47)
1 − y s1 h

y 0 − y s1
ε 0 = ε su − ρ bal1 ( ) (4.48)
h

determina-se, sem qualquer iteração, a força normal correspondente, ν bal1 , da

Equação (4.39). Compara-se a força normal efetivamente atuante na seção com


122

este valor. Se ocorrer ν > ν bal1 , há ruptura da armadura com ε s1 = ε su , mas não há

ruptura do concreto. E se ν < ν bal1 , há ruptura apenas do concreto com ε 2 = ε c lim .

No segundo estado, Fig. 4.8b, tem-se a ruptura do concreto


simultânea com o início do escoamento da primeira camada de armadura (a de
maior alongamento), e:

ε sy − ε c lim
ρ bal 2 = (4.49)
1 − y s1 h

y 0 − y s1
ε 0 = ε sy − ρ bal 2 ( ) (4.50)
h

Com estes valores obtém-se, analogamente ao caso anterior, a força


normal ν bal 2 . Se ocorrer ν < ν bal 2 , não há escoamento, em tração, da armadura em

ponto algum da curva µ (ρ ) , pois o concreto atinge antes sua deformação limite. Do

contrário, i. e., se ν ≥ ν bal 2 , há escoamento da armadura tracionada.

O terceiro estado de deformação dá uma condição para saber de


antemão se haverá fissuração da seção. Conforme explicado no item 3.4, a respeito
da Equação (3.67), considera-se que a fissuração ocorre para a deformação no
banzo tracionado (primeira camada) igual a ε ctm . Com isto tem-se:

ε ctm − ε c lim
ρ bal 3 = (4.51)
1 − y s1 h

y 0 − y s1
ε 0 = ε ctm − ρ bal 3 (4.52)
h

Se ocorrer ν ≤ ν bal 3 , não há fissuração da seção: o concreto esmaga

antes. Mas esta condição apenas não basta para garantir que não haverá fissuração
da seção, porque esta se dá pela ocorrência simultânea das duas condições
seguintes: ν > ν bal 3 e µ cr < µ max , onde µ cr é o momento relativo de fissuração, a ser

determinado adiante.
123

M M
Mu
Mmax Mmax
My (EI)3 -(EI) 4 My
1 1 Mu -(EI)4
1
(EI)2 (EI)2 Mu
1 1 -(EI)5
1
Mcr Mcr
(EI)1 (EI)1
M0 1 M0 1
(1/r)m (1/r)m
1 1
(EI)origem (1/r)crI (1/r)ym (1/r) um (EI)origem (1/r)crI (1/r) Mmax, m (1/r) um
(1/r)cr,mII (1/r) Mmax, m (1/r)cr,mII (1/r)ym

(a) Escoamento em tração antes (b) Escoamento em tração após o


do momento máximo momento máximo
N ≥ N bal2 N ≥ N bal2

M M

Mmax Mu Mmax Mu
Mεc1 (EI)3 -(EI) 4 -(EI) 4
1 1 1
Mcr 1
(EI)2
(EI)2
1 Mεc1
(EI)1
Mcr 1
(EI)1
M0 1 M0
(1/r)m (1/r)m
1
(EI)origem (1/r)crI (1/r) εc1,m (1/r) um 1 (1/r)crI (1/r) um
(1/r)cr,mII (1/r) Mmax, m (EI)origem (1/r)cr,mII (1/r) Mmax, m

(c) Fissuração sem escoamento (d) Fissuração sem escoamento


em tração em tração
N bal3 < N < N bal2 e Mcr < M εc1 N bal3 < N < N bal2 e Mcr > M εc1

Mmax Mu
Mεc1 (EI)3 -(EI) 4
1 1

(EI)1
1
M0
(1/r)
1
(EI)origem (1/r) εc1 (1/r) u
(1/r) Mmax

(e) Sem fissuração


N ≤ Nbal3

Fig. 4.9: Tipos de diagramas momento-curvatura.


124

Com o conhecimento prévio destas três forças normais e do


momento de fissuração, obtêm-se os diferentes tipos de curva M (1 r ) indicados na
Fig. 4.9, bem como as correspondentes rigidezes dos trechos linearizados. Nesta
figura indica-se por (1 r) m a curvatura média decorrente do enrijecimento da

armadura tracionada. E se não há fissuração tem-se (1 r ) m = 1 r . Na Fig. 4.9c

representou-se o momento de fissuração abaixo do momento M ε c1 para o qual

ocorre na borda superior a deformação ε c1 correspondente à tensão de pico f cm .

Entretanto, estes dois momentos podem trocar de posição, Fig. 4.9d, devendo-se
então alterar adequadamente a definição das rigidezes.
Se ocorrer M cr > M max , as rigidezes são calculadas como indicado

na Fig. 4.9e.
O momento máximo pode corresponder à condição dM d (1 r ) = 0 ou
a uma deformação limite, quando então M max = M u , conforme indicado em tracejado

na Fig. 4.9a. Esta derivada nula é detectada quando, para a dada seqüência de
curvaturas crescentes, houver queda do momento interno, i. e., quando M j < M j −1 e

M j −1 > M j − 2 , sendo, portanto, M max = M j −1 . Esta condição é dada pela inequação:

( M j − M j −1 )( M j −1 − M j − 2 ) < 0 (4.53)

Os demais pontos principais da curva M (1 r ) , indicados na Fig. 4.9,


com exceção daqueles correspondentes ao momento de fissuração, são obtidos por
interpolação linear entre dois pontos sucessivos desta curva, onde se situa a
deformação em questão. Isto inclui o último ponto, o de ordenada M u .

O acréscimo ∆ρ na curvatura relativa ρ é escolhido igual a 0,5 para


forças normais decrescentes (compressões crescentes) até ν bal 2 , e decai

linearmente a 0,025 para ν = ν inf . Ver a Fig. 4.10. Para forças normais muito
próximas de limite inferior (um caso de pouca importância) pode ser que, para haver
convergência, o incremento ∆ρ tenha de ser diminuído ainda mais.
125

∆ρ

0,5

Tração 0,025 Compressão

ν ν sup ν bal2 ν inf


Intervalo da força normal
0,95νsup 0,9ν inf

Fig. 4.10: Passo da curvatura relativa.

A determinação do momento de fissuração, M cr , e das

correspondentes curvaturas nos Estádios I e II, (1 r) crI e (1 r) crII , é feita como segue.
Havendo escoamento na tração (Figs. 4.9a e b) deve-se ter obrigatoriamente
M cr < M y , o que significa que a seção tem armadura mínima adequada, calculada à

parte do programa elaborado para obtenção da curva M (1 r ) . Esta desigualdade é


uma restrição que faz parte do programa.
No Estádio I impõe-se na primeira camada da armadura ε s1 = ε ctm , e
há a seguinte relação entre a curvatura e a deformação no CG:

ε ctm − ε 0
ρ crI = (4.54)
y 0 y s1

h h

de modo que a deformação ε 0 pode ser obtida iterativamente da equação de


equilíbrio da força normal (4.39). Conhecidas as grandezas ε 0 e ρ crI , o momento de

fissuração resulta de (4.40).


O passo seguinte consiste em determinar a curvatura no Estádio II
nu (resistência à tração desprezada), para este mesmo momento. Este problema
pode ser resolvido pelo método da rigidez tangente, cf. Chen e Shoraka (1975). As
equações de equilíbrio podem ser reescritas da seguinte forma:
126

jc js
N = ∑ Aciσ ci + ∑ Asiσ si (4.55)
1 1

jc js
M = y 0 N − ∑ Aci y ciσ ci − ∑ Asi y siσ si (4.56)
1 1

Na forma incremental estas equações passam a ser:

jc js
∂N = ∑ Aci ∂σ ci + ∑ Asi ∂σ si ( 4.57)
1 1

jc js
∂M = y 0 ∂N − ∑ Aci y ci ∂σ ci − ∑ Asi y si ∂σ si (4.58)
1 1

Os incrementos de tensão são tomados nas tangentes às curvas σ (ε ) dos


materiais, ou seja:

∂σ ci = E cti ∂ε ci = E cti [∂ε 0 + ( y 0 − y ci )∂ (1 r )]

∂σ si = E sti ∂ε sci = E sti [∂ε 0 + ( y 0 − y si )∂ (1 r )]

Nestas equações usou-se a (4.32) na sua forma dimensional. As


grandezas E cti e E sti são obtidas, para cada fibra de concreto e para cada camada

de armadura, da derivada (∂ σ ∂ε ) i , correspondente ao estado de deformação

existente na seção, antes de serem dados os acrÈscimos ∂ε 0 e ∂ (1 r ) . Substituindo-

se ∂σ ci e ∂σ si em (4.57) e (4.58), bem como ∂N de (4.57) em (4.58), resulta:

 ∂N  Q11 Q12  ∂ε 0 
 
 = ∂ ( 1 ) (4.59)
∂M  Q21 Q22  r 

ou de forma compacta:
127

{∂S } = [Q]{∂D}

onde [Q] é a matriz de rigidez tangente que une os vetores acréscimos de


solicitação e de deformação, {∂S } e {∂D} . Esta matriz, quadrada e de ordem 2, é
simétrica, pois os acréscimos de tensão foram considerados na tangente às leis
constitutivas, e representa a rigidez tangente da barra de comprimento unitário, ou a
rigidez tangente da seção transversal. Ela depende do estado atual de deformação a
partir do qual é dado o acréscimo {∂D} . Seus elementos são:

jc js
Q11 = ∑ Aci E cti + ∑ Asi E sti (4.60a)
1 1

jc js
Q12 = Q21 = ∑ Aci ( y 0 − y ci ) E cti + ∑ Asi ( y 0 − y si )E sti (4.61a)
1 1

jc js
Q22 = ∑ Aci ( y 0 − y ci ) Ecti + ∑ Asi ( y 0 − y si ) 2 E sti
2
(4.62a)
1 1

e na forma adimensional:

Q11
q11 = (4.60b)
10 A0 f cm
3

Q12
q12 = q 21 = (4.61b)
10 A0 hf cm
3

Q22
q 22 = (4.62b)
10 A0 h 2 f cm
3

Observe-se que para evitar a divisão por 10 3 nestes q ij basta pôr os módulos

tangentes E cti e E sti em GPa e a resistência f cm em MPa . Estes módulos são

definidos a partir das leis constitutivas do concreto e do aço. Para o concreto em


128

compressão (ε ci ≤ 0) , pondo-se α i = ε ci ε c1 , com ε c1 = −2,2 0 / 00 , vem, conforme a lei

de Grasser:

f [k − 2α i − (k − 2)α i ]
2

E cti = − cm se 0 ≤ α i ≤ k (4.63a)
ε c1 [1 + (k − 2)α i ]2

E cti = 0 se α i > k (4.63b)

Para o diagrama parábola-linear tem-se, com k = 2 em (4.63a), no ramo


ascendente:

2 f cm
E cti = − (1 − α i ) se 0 ≤ α i ≤ 1 (4.64a)
ε c1

No ramo descendente, resulta:

Ec1
E cti = E cD se 1 < α i ≤ 1 − (4.64b)
E cD

Ec1
E cti = 0 se α i > 1 − (4.64c)
EcD

Na tração (ε ci > 0) , antes da fissuração, tem-se:

f ctm
Ecti = Eci se ε ci ≤ ε ctm = (4.65a)
E ci

f ctm
E cti = 0 se ε ci > ε ctm = (4.65b)
Eci
129

Após a fissuração, no Estádio II nu, tem-se E cti = 0 para qualquer ε ci > 0 .

Para o aço, de diagrama bilinear com encruamento, resulta:

E sti = E s se ABS (ε si ) ≤ ε sy (4.66a)

E sti = E sh se ε sy < ABS (ε si ) ≤ ε su (4.66b)

E sti = 0 se ABS (ε si ) > ε su (4.66c)

Através de (4.59) e das equações de equilíbrio podem-se resolver,


passo a passo, diferentes problemas de determinação das deformações para uma
dada seqüência de aplicação das solicitações, ou ainda problemas mistos de
aplicação de esforços e deformações, como se pode ver na mencionada bibliografia.
A determinação do estado de deformação no Estádio II nu,
correspondente ao momento de fissuração já conhecido, é feita aplicando-se
inicialmente a dada força normal. Deste estado de deformação inicial, indicado pelo
índice i = 1 , tem-se, na forma adimensional, o vetor das deformações igual a:

ε in 
{d }i =1 =   (4.67)
 0  i =1

bem como a matriz [q]i =1 e o momento inicial µ 0 = µ i =1 . Impondo o primeiro

acréscimo no momento igual a ∂µ = µ cr − µ i =1 , uma quantia finita, ao invés de

infinitesimal, e ∂ν = ν − ν i =1 , no caso igual a zero, têm-se, de (4.59) na forma

adimensional, os acréscimos:

q 22 ∂ν − q12 ∂µ
(∂ε 0 ) i =1 = [ ]i =1 (4.68)
q11 q 22 − q12
2

q11 ∂µ − q12 ∂ν
(∂ρ ) i =1 = [ ]i =1 (4.69)
q11 q 22 − q12
2
130

com os quais se obtém o estado de deformação seguinte:

ε in  ∂ε 0 
{d }i = 2 =   +   (4.70)
 0  i =1  ∂ρ  i =1

Observe-se que o momento de fissuração só seria atingido com


estes acréscimos se os materiais fossem elásticos lineares, o que, em geral, não é o
caso.
Do novo estado de deformação decorrem a nova matriz [q ]i = 2 e as

solicitações {s}i = 2 . O processo é repetido até uma tolerância no erro dos esforços

relativos inferior a 10 −4 , na i-ésima iteração:

(∂ν 2 + ∂µ 2 )1i 2 < 10 −4 (4.71)

com o que fica determinado o correspondente estado de deformação logo após a


fissuração, e, portanto, a curvatura relativa no Estádio II, ρ crII , correspondente ao

momento de fissuração, µ cr .

Um outro problema que interessa resolver por este método é o da


obtenção da rigidez tangente na origem da curva M (1 r ) , indicada por ( EI ) origem .

Esta rigidez é importante no controle das demais rigidezes desta curva, pois é um
limite superior ( d 2 µ dρ 2 ≤ 0) , e é muito útil em pilares que não sofrem fissuração,
em particular em pilares esbeltos. Esta rigidez foi determinada por Buchaim (1990)
para seções retangulares com dupla simetria da armadura ( µ 0 = 0) , com o que é

possível obter a carga de instabilidade de pilares esbeltos bi-articulados. Indicações


sobre esta rigidez também são encontradas no trabalho já mencionado de Bazant et
al. (1991).
Considere-se agora o caso mais geral de seções com um só plano
de simetria. Uma vez aplicada a força normal, resulta imediatamente o estado
uniforme de deformação da seção, através de ε in , Equação (4.44) ou (4.45). Como

na origem da curva M (1 r ) o aço não está em escoamento, pela hipótese aqui feita,
131

tem-se E sti = E s . De uma das equações (4.63) a (4.65) decorre o módulo tangente

E cti correspondente à deformação inicial ε in . E sendo ∂N = 0 , a rigidez procurada

resulta de (4.69), na sua forma dimensional:

∂M Q Q − Q12
2

( EI ) origem = = ( 11 22 ) i =1 (4.72)
∂ (1 r ) Q11

sem qualquer outro passo adicional. Expressando esta rigidez em função do produto
do módulo de deformação do concreto E ci , Equação (2.12) ou (2.80), pelo momento

de inércia I 0 da seção da peça, obtém-se:

( EI ) origem 1 Q11Q22 − Q12


2

= ( ) i =1 (4.73)
E ci I 0 Eci I 0 Q11

Como mostrado antes, o enrijecimento da armadura na tração é


considerado a partir da tensão da armadura da primeira camada na seção fissurada
(Estádio II nu). Da lei tensão da armadura na fissura em função de sua deformação
média, σ s (ε sm ) , dada na Fig. 3.16, resulta a deformação média ε s1m da armadura da

primeira camada. Considerando-se que a maior contribuição à deformabilidade da


peça resulta da seção fissurada, toma-se simplificadamente a distância da LN à
primeira camada da armadura igual à da p rópria seção fissurada. Com isto a
curvatura relativa média é dada por:

ε s1m
ρm = (4.74)
1 − ξ − y s1 h

onde ξ = x h é a profundidade relativa da LN na seção fissurada, e y s1 é a distância

da camada 1 à borda inferior da seção. Não havendo fissuração este cálculo é,


evidentemente, desnecessário.
Em um segmento linearizado da curva M (1 r ) , entre os pontos
inicial k − 1 e final k , obtém-se a correspondente rigidez da seguinte expressão:
132

M k − M k −1
( EI ) k = (4.75a)
1 1
( ) m ,k − ( ) m ,k −1
r r

ou adimensionalmente:

( EI ) k µ k − µ k −1
= C3 (4.75b)
E ci I 0 ρ m ,k − ρ m ,k −1

onde a constante C 3 vale (com f cm em MPa e E ci em GPa ):

A0 h 2 f cm
C3 =
Eci I 0

Com a teoria descrita neste item têm-se as ferramentas para obter o


diagrama momento-curvatura completo, bem como seus pontos principais e as
rigidezes dos trechos linearizados. No item seguinte são apresentados resultados do
programa em Qbasic que incorpora esta teoria. Menciona-se, ainda, a ocorrência
dos seguintes casos, que podem, talvez, parecer estranhos à primeira vista:

(1) Na flexo-tração, se a LN estiver fora da seção ( ξ = x h < 0) , há só um


banzo, formado pela seção inteira, e a teoria aqui apresentada para o
cálculo da curvatura média perde em precisão, pois o enrijecimento da
armadura na tração é considerado apenas na primeira camada da
armadura (na mais alongada).
(2) Em casos de altas forças normais relativas de compressão e grande
concentração de armadura abaixo do eixo 0 − 0 , a curva µ (ρ ) pode
estar no quarto quadrante, sem que haja qualquer erro.

Lembre-se, também, que a seção transversal, se isto facilitar a


compreensão, deve ser disposta de modo a ter-se a armadura mais tracionada, ou
menos comprimida, na sua parte inferior. Assim, p. ex., uma seção T de um apoio de
continuidade deve ser representada com a flange tracionada voltada para baixo.
133

4.4 Apresentação de Resultados

Mostram-se, a seguir, os resultados da teoria exposta no item


anterior, começando pela comparação com o ensaio descrito por Ahmad e Shah
(1980). Trata-se de um diagrama momento-curvatura mÈdia de uma viga bi-apoiada
de seção retangular, obtido para o trecho central em flexão pura. Ver a Fig. 4.11 e a
Tabela 4.4. Os dados de entrada do programa são os seguintes:

Concreto: Diagrama de Grasser


f ck = f cm = f c = 5,89 Ksi = 40,61MPa , f ctm = 0,3 f cm2 / 3 = 3,54 MPa
'

β t = 0,40

Aço: f y = 66,6 Ksi = 459,2 MPa , f t = f su = 89,95Ksi = 619,5MPa

ε sy = 2,30 / 00 , ε sh = 4,85 0 / 00 , ε su = 12,85 0 / 00 , E s = 199,82GPa

E sh = 10 −5 GPa se ε sy < ε s < ε sh , E sh = 19,98GPa se ε s ≥ ε sh

Geometria: bw = 101,6mm , h = 152,4mm , y s1 = 12,7mm (adotado),

As1 = 0,486in 2 = 313,5mm 2

Na Fig. 4.11 pode-se ver a boa concordância entre os resultados


teóricos e experimentais, particularmente com os de Desayi B. Krishnan, e em
especial na fase pós-escoamento. O penúltimo ponto, obtido no programa por
interpolação, corresponde a ε c lim = −3,57 0 / 00 no ramo descendente, e está bastante

próximo do último ponto experimental. Observe-se que a curva de Ahmad e Shah


termina um pouco adiante, para a curvatura 19,1 × 10 −4 rad / in , indicando um
encurtamento da borda comprimida maior do que o do programa. Além disso, o
momento resistente máximo concorda totalmente com o obtido no ensaio.
134

Fig. 4.11: Comparação dos resultados teóricos e experimentais da relação momento-curvatura


média, cf. Ahmad e Shah (1980).

Tabela 4.4: Resultados teóricos do ensaio da Fig. 4.11.

1
M 10 4 ( ) m
h r
h ρ m = 10 3 ( ) m µ= 2 M
ρ = 10 3 r bh f cm ( Kgfm )
Observação
r
(rad in)

ρ crI =0,278
ρ crm =0,40 0,0237 0,67 227 Fissuração
ρ crII =0,542
1 0,86 0,0433 1,43 415
2 1,86 0,0851 3,10 816
3 2,85 0,1248 4,75 1196
4 3,85 0,1619 6,42 1551
4,41 4,24 0,1744 7,07 1671 M = My
5 4,64 0,1782 7,73 1708
6 5,28 0,1798 8,80 1723
7 5,94 0,1808 9,90 1733
8 6,61 0,1813 11,02 1737
9 7,30 0,1847 12,17 1770
10 8,01 0,1874 13,35 1796
10,5 8,37 0,1875 13,95 1797 M = M max
M = Mu
10,66 8,48 0,1869 14,13 1791

11 8,74 0,1854 14,57 1777


135

O exemplo seguinte refere-se aos resultados experimentais de


Priestley, Park e Lu (1971), bem como aos correspondentes resultados teóricos de
Collins e Mitchell, relatados no livro destes autores, Prestressed Concrete Basics
(1987). Neste caso tem-se uma viga bi-apoiada, de seção retangular
b × h = 102 × 203mm 2 , protendida em prÈ -traÁ„o, com dois fios aderentes
posicionados no centro da seção, de diâmetro φ p = 7 mm , área A p = 77mm 2 e pré-

alongamento ∆ε p = 4,24 0 / 00 . Os dados do concreto são: parábola do segundo grau,

f ck = f cm = f c = 44,9 MPa , ε c1 = −2,5 0 / 00 , f cr = f ct = 3,79 MPa (ao invés de 2,90 MPa ,


'

cf. consta na Fig. 4.13) e β t = 0,40 .

Este problema pode ser resolvido considerando-se como resistente


apenas metade da altura da seção transversal, com o que resulta h = d = 101,5mm .
O enrijecimento da armadura decorre do momento (fictício) de fissuração para o
qual resulta, no Estádio I, na camada da armadura a deformação ε 1 = ε ct = f ct E ci .

Neste exemplo, Collins e Mitchell tratam o enrijecimento da armadura como se na


seção transversal existisse uma tensão de tração uniforme e igual a
0,5 f ct = 1,45MPa , na área efetiva do banzo tracionado, formada pela largura da viga

e por uma altura igual a 7,5φ p medida no sentido da borda tracionada e, no sentido

oposto, até 7,5φ p ou a distância da armadura até a LN, o que for menor.

Estes autores utilizam para o aço a curva modificada de Ramberg-


Osgood, Fig. 4.12a, dada pela seguinte equação:

1− A
σ p = E pε p {A + } ≤ f pu
[1 + ( Bε p ) C ]1 C

no caso, com a expressão:

0,968
σ p = 200 × 10 3 ε p {0,032 + } ≤ f pu
[1 + (135ε p ) 6 ]1 6
136

No programa adota-se, ao invés desta curva, a lei bilinear com


encruamento, sendo E sh = 6,4GPa , ε py = 1 B = 7,410 / 00 , f py = 1482 MPa . Mantendo-

se E sh constante, arbitra-se f pu = 1860 MPa , donde:

1860 − 1482
ε pu = 10 −3 (7,41 + ) = 66,47 0 / 00
6,4

e isto não tem maior importância, uma vez que a ruptura ocorre pelo concreto.

σp σp σs
(MPa) (MPa) ft = 1012
fpy = 1482 fy = 634 6,4 GPa
AEp = Esh 1
1
(1-A)Ep / B 200 GPa
Ep = 200 GPa 1
Ep A = 0,032
848 εs ( / )
0

εsy = 3,17 εsu = 62,23


00
B = 135
1 C=6

εp( / )
0

εp( / )
00
0

∆εp = 4,24 εpy = 7,41 εpu = 66,47


00
1/B

(a) Equação de Ramberg - Osgood (b) Diagrama tensão - deformação da armadura


passiva equivalente

Fig. 4.12

Este exemplo vem muito a propósito, visto que permite considerar a


força de protensão como uma força normal de compressão aplicada no CG da
seção completa, sem que haja efeito de segunda ordem. Para isto considera-se a
armadura protendida como passiva, com a lei constitutiva indicada na Fig. 4.12b,
obtida daquela dada na Fig. 4.12a, após descontar a protensão. Sendo P a força de
protensão, a força normal aplicada é N = − P = −848 × 77 = −65296 N .
Os resultados do programa estão dados na Tabela 4.5 e na Fig.
4.13, devendo-se observar que: (1) as curvaturas nesta figura são valores mÈdios
no trecho central da viga; (2) o momento resistente fornecido pelo programa inclui o
momento de protensão, igual a 65296 × 101,5 / 2 = 3,314 × 10 6 Nmm = 3,314 KNm .
137

Assim, o momento devido ao carregamento deve ser obtido somando-se ao


momento resistente esta última parcela.
Da Fig. 4.13 e da Tabela 4.5 observa-se o seguinte:

(1) Na fase pré-escoamento, os resultados do programa dão curvaturas


médias maiores que as observadas experimentalmente, o que significa
que a colaboraÁ„o do concreto na traÁ„o , mas não o enrijecimento da
armadura, está subestimada. Como a taxa da armadura é pequena, o
modelo só poderia ser melhorado se fossem consideradas as tensões
na fissura coesiva, tanto mais que está disponível a metade inferior da
seção transversal, aqui desprezada.

(2) A partir do escoamento há concordância muito boa com os resultados


experimentais. O momento último observado no teste é igual a
10,50 KNm , ao passo que o calculado (máximo) é igual a 10,17 KNm , 3%
menor, e corresponde a uma deformação no concreto na borda superior
igual a − 3,510 / 00 .

(3) Para o penúltimo ponto calculado tem-se M u = 10,05 KNm e uma

curvatura média 10 3 (1 r ) m = 104,48rad / m , valor praticamente

coincidente com o observado experimentalmente. Neste caso o


encurtamento limite do concreto é ε c lim = −4,27 0 / 00 .
138

Tabela 4.5: Resultados teóricos para a viga protendida de Priestley, Park e Lu.

h M 1
M c arg a
h ρ m = 10 3 ( ) m µ= 10 3 ( ) m
ρ = 10 3
r bh 2 f cm r Observação
r (rad / m) (KNm)
Fissuração
0,5973 0,5973 0,0384 5,88 5,13
Est. I
Fissuração
0,6898 0,5856 0,0384 5,01 5,13
Est. II
1 0,93 0,0484 9,16 5,60
2 1,95 0,0732 19,21 6,77
3 2,95 0,0947 29,06 7,78
4 3,96 0,1148 39,01 8,73
5 4,96 0,1336 48,87 9,62
5,28 5,21 0,1370 51,33 9,78 M = My
6 5,75 0,1407 56,65 9,95
7 6,47 0,1426 63,74 10,04
8 7,21 0,1439 71,03 10,10
9 7,95 0,1449 78,33 10,15
10 8,69 0,1454 85,62 10,17
10,50 9,07 0,1454 89,36 10,17
11 9,45 0,1453 93,10 10,17
12 10,21 0,1441 102,59 10,11
12,51 10,60 0,1427 104,48 10,05 M = Mu
13 10,99 0,1402 108,28 9,93

Fig. 4.13: Comparação entre as curvas momento-curvatura média teórica e experimental, cf. ensaio
de Priestley, Park e Lu, apud Collins e Mitchell (1987).
139

Como uma terceira comparação considera-se a rigidez secante


proposta por França (1991), para a verificação e o dimensionamento de pilares
esbeltos, cuja obtenção está resumida na Fig. 4.14.

-0,85 fcd -1,3 x 0,85 fcd

εc (%) εc (%)
-0,2 -0,35 -0,2 -0,35
Md σc σc
M'd = Md / γf3
Md M'd = Md / γf3

N'd = Nd / γf3
γf3 = 1,10

(EI)cs
1
Nd 1/r'

Nd, bal2 Nd (1/r')cs

N'd = Nd / γf3

(a) Diagrama de interação no ELU (b) Momento - curvatura e rigidez


secante
Fig. 4.14: Determinação da rigidez secante, cf. França (1991).

Segundo a NBR 8681- Ações e Segurança nas Estruturas, o


coeficiente de ponderação das ações, γ f , pode ser desdobrado em seus

coeficientes parciais, γ f 1 , ψ 0 e γ f3 , quando se considerar a não-linearidade

geométrica, aplicando-se γ f3 à solicitação S , calculada com a ação característica

Fk multiplicada por γ f 1ψ 0 , i. e., S d = γ f3 S (γ f 1ψ 0 Fk ) , onde S d é a solicitação de

cálculo. O coeficiente parcial γ f3 leva em conta possíveis erros de avaliação dos

efeitos das ações, seja por deficiência do método de cálculo empregado, seja por
problemas construtivos. O coeficiente γ f1 leva em conta a variabilidade das ações

e o coeficiente ψ 0 (= γ f2 ) considera a baixa probabilidade de ocorrência simultânea

de valores característicos de ações variáveis de naturezas distintas.


Os cálculos feitos a seguir têm duplo objetivo:
140

(1) comparar os resultados do programa desenvolvido com os dados por


França, e
(2) indicar, novamente, como se alteram as leis tensão-deformação dos
materiais quando são introduzidos os coeficientes de segurança parciais
e as deformações especificadas em normas.

A rigidez secante K cs é definida adimensionalmente pela expressão

(Fig. 4.14b):

1 Md γ f3 ( EI ) cs
K cs = =
bh f cd (1 r ) cs
3 '
bh 3 f cd

Para efeito de comparação, escolhem-se no ábaco B05 de França


a taxa mecânica total (Fig. 4.15a):

4 Af yd
ωt = = 0,9
bhf cd

e as resistências de cálculo f cd = 20 MPa e f yd = 500 / 1,15 MPa , para a seção

indicada na Fig. 4.15b.


A transformação da distribuição da armadura da Fig. 4.15a naquela
da Fig. 4.15b deve considerar que a seção tem áreas de armadura iguais por face.
Escolhendo barras de mesmo diâmetro com nove espaçamentos iguais por face,
têm-se nas primeira e última camadas 10 barras, e 2x8 barras nas 8 camadas
intermediárias. Logo, as áreas da primeira e da última camada são iguais a
(10 36) × 414 = 0,2778 × 414 = 115mm 2 (e não 0,25 × 414mm 2 ) . Em cada uma das 8

camadas intermediárias tem-se (2 36) × 414 = 23mm 2 . As distâncias das camadas à


borda inferior são 5, 15, ..., 95 mm.
O cálculo é feito em duas etapas: na primeira comprova-se o
diagrama de interação, e na segunda, a rigidez secante.
141

4A = 414 mm2

5 mm
A

h A A h = 100 mm 9 x 10 mm

d' 5 mm

d' / h = 0,05
b = 100 mm

(a) Ábaco B05 (b) Seção usada no programa

Fig. 4.15: Dados da seção transversal.

1a. Etapa: Diagrama de interação no ELU.

No programa usa-se o diagrama parábola-linear, transformado em


parábola-retângulo, pondo-se para o concreto: f cm = 0,85 f cd = 17 MPa , ε c1 = −2 0 / 00 ,

ε c lim = − 3,5 0 / 00 , E cD = 10 −5 GPa . Para o aço faz-se: f y = f yd = 434,78MPa ,

f t = 435MPa , E s = 210GPa e ε su = 10 0 / 00 . Ver os resultados na Tabela 4.6.

Tabela 4.6: ELU, comparação entre valores de França e do programa.

Nd
−ν d = − 0,2 0,4 0,6 0,8 1
bhf cd
Md
µd = 0,385 0,389 0,363 0,315 0,263 França
bh 2 f cd
− N d (KN ) 40 80 120 160 200
M d (KNm) 7,70 7,78 7,26 6,30 5,26
Md
µd = 0,4524 0,4584 0,4254 0,3687 0,3085 Progra-
bh 2 f cm
ma
M d = 17 µ d ( KNm) 7,69y 7,79y 7,23 6,27 5,24
y: há escoamento da armadura tracionada
142

Comparando-se as linhas em negrito, confirma-se a coincidência


entre ambos os momentos resistentes.

2a. Etapa: Obtenção da rigidez secante K cs

Conforme a Fig. 4.14b, ainda com f cd = 20 MPa , tem-se agora a

tensão de pico f cm = 1,3 × 0,85 × f cd = 22,10 MPa . O aço tem suas propriedades

mecânicas inalteradas.
Pondo-se M d = M d γ
'
f3 e (1 r ' ) a curvatura correspondente a este

momento e à força normal N d = N d γ


'
f3 , pela definição da rigidez secante tem-se:

3 f cm µ
'
1 Md '
K cs = = 10
bh 3 f cd 1 f cd ρ '
( ')
r

e como 10 3 f cm f cd = 10 3 × 1,3 × 0,85 = 1105 obtém-se do programa:

K cs , progr = 1105 µ ' ρ '

Os resultados estão dados na Tabela 4.7, observando-se que: (1) o


enrijecimento da armadura na tração é desprezado no trabalho de França, e é
também desconsiderado aqui; (2) a curvatura ρ ' é obtida por interpolação linear,

para o dado momento µ ' . Das duas últimas linhas vê-se que há completa
concordância entre ambas rigidezes.
A adoção de uma única rigidez para os pilares esbeltos por certo
simplifica o cálculo a favor da segurança, no sentido de majorar a parcela do
momento devida aos efeitos de segunda ordem, e o diagrama da Fig. 4.14b
proposto por França equivale a usar para o concreto, no cálculo dos
deslocamentos, uma tensão de pico igual a f ck 1,27 , um valor intermediário entre o

do MC-90 ( f ck 1,20) e do EC-2 ( f ck 1,35) . Como na análise das estruturas não


esbeltas são usadas as propriedades mecânicas mÈdias (ou características, como
143

simplificação no projeto), conclui-se que há descontinuidade na probabilidade de


ruína na transição para estruturas esbeltas, fato reconhecido no próprio MC-90,
item 6.6.3.1.1.

Tabela 4.7: Comparação entre as rigidezes secantes de França e do programa.

Nd
− Nd = −
'
(KN ) 36,36 72,73 109,09 145,45 181,82
γ f3
Md
Md =
'
(KNm) 6,99 7,08 6,57 5,70 4,76
γ f3
'
M
µ = 2d
'
0,316 0,320 0,297 0,258 0,215
bh f cm
10 3 h
ρ = '
4,41 4,04 3,51 2,78 2,15
r
K cs , progr = 1105 µ ' ρ ' 79,2 87,5 93,6 102,5 110,5
K cs , FRANÇA 80 87,5 94 103 111,2

Como um efeito secundário na determinação da rigidez, decorrente


deste procedimento, pode-se notar o seguinte: com os dados da Fig. 4.14a, se
ABS ( N d ) > ABS ( N d / γ f 3 ) > ABS ( N dbal 2 ) , tem-se para esta força normal dividida por

γ f3 , um momento resistente maior. O contrário ocorre se

ABS ( N d / γ f 3 ) < ABS ( N d ) < ABS ( N dbal 2 ) . Isto quer dizer que se estima a rigidez

secante a maior nos pilares em que não há escoamento da armadura mais


tracionada ou menos comprimida, nas condiÁıes do ELU , Fig. 4.14a, e a menor nos
pilares com maior capacidade de redistribuição de esforços, pois há maior
escoamento da armadura tracionada. Deve-se notar, ainda, como se comenta
adiante, que os pilares têm em geral momento de fissuração bem maior que o das
vigas, por causa da força de compressão, e com isto apresentam rigidez no Estádio
I, (EI )1 , Fig. 4.9, em boa parte de sua altura, se houver fissuração. Também pode
ser considerado o enrijecimento da armadura na tração, especialmente nos pilares
em que a força normal for inferior em módulo a ABS ( N bal 2 ) , i. e., naqueles em que
144

há escoamento da armadura tracionada, embora este efeito seja menor do que nas
vigas.
Na seqüência da apresentação de resultados, mostram-se na Fig.
4.16 as curvas M (1 r ) para uma seção retangular com diversas taxas geométricas
da armadura. Os dados desta figura são os seguintes:

Concreto: f ck / f cm = 20 / 28MPa , f ctm = 2,21MPa , E ci = 30,366GPa

Diagrama de Grasser: ε c1 = −2,2 0 / 00 , ε c lim = −4,256 0 / 00

Aço: f y / f t = 500 / 550 MPa , ε sy = 2,5 0 / 00 , ε su = 82,5 0 / 00 .

Áreas das armaduras: 500 , 1000 , 1890 e 3000mm 2


Aderência: β t = 0,40

Geometria: b / h / d = 200mm / 550mm / variável

0,3
momento relativo M/(fcmbh^2)

0,25

0,2
ro-s = 3,08%
ro-s = 1,92%
0,15
ro-s = 1%

0,1 ro-s = 0,48%

0,05

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40

curvatura relativa 1000h/r

Fig. 4.16: Diagramas momento-curvatura relativos, flexão simples, armadura simples, CA-50.

Na Tabela 4.8 estão reunidos alguns resultados do programa.


Desta tabela e da Fig. 4.16 conclui-se que:

(1) A ductilidade da seção (ou sua capacidade de dissipação de energia),


dada aproximadamente e a menos de uma constante pelo produto da
145

taxa da armadura pela diferença entre a curvatura última e a curvatura


do início do escoamento, decai com o aumento da taxa geométrica da
armadura. Note-se também a rápida queda dos quocientes entre as
curvaturas última e do início do escoamento, com e sem o enrijecimento
da armadura, para aumento da mesma variável.
(2) A rigidez (EI ) 2 do Estádio II, no trecho entre os momentos de
fissuração e de escoamento, depende fortemente da taxa geométrica.
Esta rigidez pouco difere daquela obtida ligando-se o ponto de
coordenadas [(1 r ) ym , M y ] à origem, a saber, ( EI ) y . Também indicam-

se na Tabela 4.8 as rigidezes dos demais segmentos das curvas


M (1 r ) . Observar que, para a maior taxa geométrica, o momento de
escoamento dá-se após o ponto de máximo dessa curva. Ver a Fig.
4.9b.

Tabela 4.8: Seção retangular, flexão simples, CA-50.

ρ s = As bd (%) 0,48 1 1,92 3,08


µ cr 0,0162 0,0175 0,0197 0,0223
µ max = M max ( A0 hf cm ) 0,0752 0,1348 0,2248 0,2808
ρ um ρ ym 6,90 2,97 1,88 ≅1
ρu ρ y 10,80 3,78 2,17 1,13
( EI ) origem ( E ci I 0 ) 1,0679 1,1144 1,1924 1,2766
( EI )1 ( E ci I 0 ) 1,0550 1,0999 1,1752 1,2558
( EI ) 2 ( Eci I 0 ) 0,2201 0,3407 0,4690 0,4651
( EI ) 3 ( E ci I 0 ) 0,0030 0,0170 0,1279 não há
( EI ) 4 ( Eci I 0 ) -0,0008 -0,0055 -0,0313 -0,0691
( EI ) 5 ( Eci I 0 ) - - - -0,1279
( EI ) y ( E ci I 0 ) = C 3 µ y ρ ym
0,2408 0,3595 0,4975 0,4825

Nas Figs. 4.17a e b estão dados os resultados obtidos para uma


seção retangular, adotando-se para o concreto as leis de Grasser e parábola-
146

linear, na flexo-compressão. A seção tem dimensões b × h = 400 × 1000mm 2 , e as


mesmas resistências do caso anterior. As áreas da armadura são iguais a
4000mm 2 por face menor. Como se vê nestas figuras, as diferenças entre ambas
as curvas são pequenas, aumentam com o aumento da força normal de
compressão, e se acentuam no ramo descendente. Estas diferenças ficam mais
visíveis comparando-se as rigidezes dos diversos segmentos das curvas M (1 / r ) ,
Tabela 4.9.

Tabela 4.9: Dados referentes à Fig. 4.17.

0,4 0,4 0,8 0,8


−ν = − N (bhf cm ) Grasser Parábola Grasser Parábola
-linear -linear
µ cr 0,1010 0,1031 0,1713 0,1714
µ max = M max ( A0 hf cm ) 0,2734 0,2703 0,1914 0,1849

ε c 2 ( / 00 )
0
-3,11 -3,15 -3,00 -2,83
( EI ) origem ( E ci I 0 ) 1,0680 1,1419 0,8020 0,9006
( EI )1 ( E ci I 0 ) 1,0558 1,1277 0,7415 0,8369
( EI ) 2 ( Eci I 0 ) 0,3928 0,4003 0,6767 0,6091
( EI ) 3 ( E ci I 0 ) 0,1110 0,1042 0,1950 0,1923
( EI ) 4 ( Eci I 0 ) -0,0855 -0,0796 -0,2663 -0,2522
( EI ) y ( E ci I 0 ) = C 3 µ y ρ ym
0,5208 0,5395 - -

Desta Tabela 4.9 vê-se que:

(1) Para a menor força de compressão, i. e., havendo escoamento da


armadura, não se pode desprezar o momento de fissuração no cálculo
da rigidez no Estádio II. Compare-se (EI ) 2 com ( EI ) y .

(2) Para a maior força de compressão, o momento de fissuração está muito


próximo do momento máximo, e isto significa que no elemento
estrutural predomina a rigidez do Estádio I, (EI )1 , em grande parte,
senão na totalidade de sua extensão.
147

Momento relativo M/(fcmbh^2) 0,3

0,25

0,2

0,15

0,1

0,05

0
0 2 4 6 8 10 12

Curvatura relativa 1000h/r

Diagrama de Grasser, Força normal relativa=-0,4


Diagrama parábola-linear, Força normal relativa=-0,4

Fig. 4.17a: Comparação entre as curvas M (1 / r ) para força normal relativa igual a − 0,4 .

0,25
Momento relativo M/(fcmbh^2)

0,2

0,15

0,1

0,05

0
0 1 2 3 4 5 6 7

Curvatura relativa 1000h/r

Diagrama de Grasser, Força normal relativa=-0,8


Diagrama parábola-linear, Força normal relativa=-0,8

Fig. 4.17b: Comparação entre as curvas M (1 / r ) para força normal relativa igual a − 0,8 .
148

0,14

0,12
Momento relativo M/(Aohfcm)

0,1

0,08

0,06

0,04

0,02

0
0 10 20 30 40 50 60
Curva tura relativa 1000h/r

Viga T: seção do apoio Viga T: seção do vão

Fig. 4.18: Viga T: Momento-curvatura relativos, seções do vão e do apoio, CA-50,


f ck f cm = 20 / 28MPa .

A Fig. 4.18 representa as curvas M (1 r ) de duas seções T de uma


viga contínua, a do apoio de continuidade e a do vão, de mesma geometria e
momentos resistentes aproximadamente iguais. Os dados comuns às duas seções
são os seguintes:

Concreto: f ck / f cm = 20 / 28MPa , f ctm = 2,21MPa , E ci = 30,366GPa

Diagrama de Grasser: ε c1 = −2,2 0 / 00 , ε c lim = −4,256 0 / 00

Aço: f y / f t = 500 / 550 MPa , ε sy = 2,5 0 / 00 , ε su = 82,5 0 / 00 .

Áreas das armaduras: As = 7φ16 = 1400mm 2 (apoio)

As = 6φ16 = 1200mm 2 (vão)

Aderência: β t = 0,40

Geometria: bw / h = 200 / 600mm , b flange / h flange = 600 / 100mm


149

Os resultados do programa estão dados na Tabela 4.10. Destes


resultados e da Fig. 4.18 pode-se ver que:

(1) As rigidezes tangentes na origem e as da fase pré-fissuração (Estádio I)


das duas seções são muito próximas entre si, como tem de ser.
(2) As rigidezes do Estádio II, no segmento entre os momentos de
fissuração e de escoamento, também são bastante próximas entre si.
Se fosse desprezado o momento de fissuração seriam obtidas as
rigidezes 0,3005 e 0,3258 para as seções do apoio e do vão,
respectivamente. Estes valores são cerca de 9% e 6% maiores que os
respectivos valores anteriores.
(3) Na seção do apoio o momento passa por um máximo antes da
deformação limite do concreto, para curvatura relativa igual a 11 e
encurtamento na borda comprimida igual a ε c 2 = −30 / 00 . Da mesma

forma, o momento da seção do vão também passa por um máximo,


mas para uma curvatura relativa bem maior, igual a 52 , com
ε c 2 = −4,230 / 00 , valor próximo do encurtamento limite − 4,256 0 / 00 .

Tabela 4.10: Viga T, seções do apoio e do vão.

Seção do apoio Seção do vão


M cr (KNm) 67,12 43,77
µ max = M max ( A0 hf cm ) 0,1305 0,1223
M max ( KNm) 350,78 328,74
( EI ) origem ( E ci I 0 ) 1,0646 1,1291
( EI )1 ( E ci I 0 ) 1,0396 1,1206
( EI ) 2 ( Eci I 0 ) 0,2749 0,3087
( EI ) 3 ( E ci I 0 ) 0,0171 0,0048
( EI ) 4 ( Eci I 0 ) -0,0077 -0,0001
( EI ) y ( E ci I 0 ) 0,3005 0,3258
150

Observe-se que, quando há fissuração destas seções T, há uma


queda de aproximadamente 70% na rigidez. Como, em geral, estas duas seções de
uma mesma viga contínua, ou de um pórtico, não atingem o momento de fissuração
simultaneamente, é forçoso haver transferência de solicitações das zonas mais
fracas (as que fissuram primeiro e em maior extensão) para aquelas de maior
resistência, antes mesmo do escoamento da armadura.
Em todos estes exemplos o programa fornece as curvaturas médias
dos pontos principais e com isto os intervalos das curvaturas médias
correspondentes às rigidezes mostradas. Têm -se, então, todos os segmentos
linearizados da curva M (1 / r ) , como mostrado na Fig. 4.9.
No exemplo da Tabela 4.8 e Fig. 4.16 já se pôde notar que, para as
vigas com força normal nula e fissuração estabilizada, o segmento mais importante
da curva M (1 / r ) é o situado entre os momentos de fissuração e de escoamento,

representado pela rigidez (EI ) 2 . Esta rigidez, como se disse, pouco difere daquela
dada pela inclinação da reta ligando-se à origem o ponto de coordenadas
[(1 r ) ym , M y ] , ou seja, ( EI ) y . Dão-se na Tabela 4.11 e na Fig. 4.19 os valores da

rigidez relativa ( EI ) y /( E ci I 0 ) em função da taxa mecânica da armadura inferior,

para vigas de seção retangular com armaduras simples e dupla. As Tabelas 4.12a
e b, por outro lado, referem-se a pilares, para os quais são dadas as grandezas que
permitem usar os dois primeiros segmentos da curva M (1 / r ) , representados pelas

rigidezes (EI )1 e (EI ) 2 . Para os pilares que não fissuram (Fig. 4.9e) é fornecida a
rigidez (EI )1 . Nestas tabelas adotam-se os seguintes dados:

Concreto: parábola do segundo grau


ε c1 = −2 0 / 00 , f ck / f cm = 20 / 28MPa , E ci = − 2 f cm ε c1 = 28GPa

f ctm = 0,3 f ck2 / 3 = 2,21MPa

Aço: CA-50, f y = f yk = 500 MPa , E s = 200GPa

Aderência: β t = 0,40

Geometria: Posição da camada inferior da armadura: y s1 h = 1 11

Posição da camada superior da armadura: y s 2 h = 1 1,1


151

As 2 As1 = 0 / 0,25 / ... / 1

bh 3
Momento de inércia: I 0 =
12

Tabela 4.11: Rigidez de vigas no Estádio II, ( EI ) y /( E ci I 0 ) . Seção retangular, flexão simples,
armaduras simples e dupla. f ck / f cm = 20 / 28MPa , CA-50.

As1 f yk
ω1 = .025 .05 .075 .10 .15 .20 .25 .30 .35 .40 .45 .50
bd f cm

0 .111 .162 .214 .259 .345 .410 .467 .510 .536 .537 - -
As 2 As1 = 0,25 .111 .162 .216 .264 .353 .426 .495 .551 .604 .647 .685 .713
0,50 .111 .163 .217 .265 .358 .440 .514 .589 .649 .710 .772 .823
0,75 .112 .164 .219 .268 .363 .454 .532 .610 .691 .759 .826 .895
1 .112 .164 .221 .271 .368 .465 .549 .631 .714 .798 .879 .953

1,2

1
Rigidez de vigas no Est. II:

0,8
(EI)y / (EciI0)

0,6

0,4

0,2

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

Taxa mecânica da armadura inferior


w1 = As1fyk / (bdfcm)

As2 / As1 = 0 As2 / As1 = 0,25 As2 / As1 = 0,50


As2 / As1 = 0,75 As2 / As1 = 1

Fig. 4.19: Rigidez de vigas no Estádio II, armadura dupla. Dados cf. Tabela 4.11.
152

Tabela 4.12a: Pilares: Dados para o primeiro segmento do diagrama momento-curvatura. Seção
retangular, flexo-compressão normal, armadura simétrica As1 = As 2 = Astot / 2 , CA-50,
f ck / f cm = 20 / 28MPa .
Adimensionais: ω tot = ( Astot f yk ) (bhf cm ) e ν = N (bhf cm )

−ν 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00


ω tot =0,2 1,063 0,956 0,833 0,686
1,056 0,934 0,767 0,623
0,061 0,100 0,134 sem fissuras
0,691 1,289 2,103 -
ω tot =0,4 1,231 1,133 1,024 0,900 0,749
1,224 1,116 0,981 0,772 0,705
0,066 0,110 0,151 0,184 sem fissuras
0,651 1,183 1,847 2,869 -
ω tot =0,6 1,398 1,308 1,210 1,100 0,975
1,392 1,294 1,178 1,025 0,928
0,072 0,118 0,164 0,206 sem fissuras
0,617 1,098 1,668 2,414 -
ω tot =0,8 1,564 1,481 1,391 1,293 1,184
1,558 1,469 1,366 1,241 1,066
0,076 0,126 0,174 0,222 0,266
0,588 1,028 1,533 2,146 3,000
ω tot =1,0 1,729 1,652 1,569 1,480 1,383
1,724 1,642 1,549 1,441 1,306
0,081 0,132 0,184 0,235 0,284
0,563 0,969 1,424 1,954 2,614

Para cada taxa mecânica: 1 . linha: ( EI ) origem ( E ci I 0 ) , 2a. linha: ( EI )1 ( E ci I 0 ) ,


a

a
3 . linha: µ cr = M cr (bh 2 f cm ) , 4a. linha: ρ crI = 10 3 (h / r ) crI .

As hipóteses aqui adotadas para gerar estas tabelas diferem


daquelas dadas por Kordina e Quast no Beton-Kalender, vol. 1, (1997), para pilares
de seções retangulares e circulares. Nesse trabalho são admitidas as leis parábola-
retângulo para o concreto (ε c lim = −3,5 0 / 00 ) e bilinear sem encruamento para o aço

(ε su = 5 0 / 00 ) , ambas com resistências caracterÌsticas . A resistência à tração, em

geral, é desconsiderada, e só aparece no cálculo da rigidez no Estádio I (pré-


fissuração), usada para obter a carga de flambagem de um pilar carregado
centricamente. Isto quer dizer que a rigidez ( EI ) origem é aproximada, a favor da

segurança, pela rigidez do Estádio I, (EI )1 . Ver a Tabela 4.12a. As curvas M (1 / r )


são classificadas em dois tipos, com e sem fissuração, conforme a intensidade da
153

força normal (esta separação não está quantificada explicitamente), e nelas está
pressuposto momento inicial nulo, M 0 = 0 , pois trata-se de seções com dupla

simetria. O enrijecimento da armadura tracionada não está considerado.

Tabela 4.12b: Pilares: Dados para o segundo segmento do diagrama momento-curvatura. Seção
retangular, flexo-compressão normal, armadura simétrica As1 = As 2 = Astot / 2 , CA-50,
f ck / f cm = 20 / 28MPa .
Adimensionais: ω tot = ( Astot f yk ) (bhf cm ) e ν = N (bhf cm )

−ν 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00


ω tot =0,2 0,267 0,294 0,218
0,149(*) 0,156(**) 0,139(**)
4,621(*) 3,396(**) 2,032(**)
0,666 1,136 1,775
ω tot =0,4 0,452 0,458 0,403 0,180
0,228(*) 0,204(**) 0,182(**) (***)
4,909(*) 3,531(**) 2,499(**) -
0,621 1,053 1,587 2,383
ω tot =0,6 0,621 0,624 0,578 0,408
0,302(*) 0,255(**) 0,226(**) (***)
5,036(*) 3,617(**) 2,751(**) -
0,588 0,988 1,458 2,051
ω tot =0,8 0,787 0,790 0,748 0,573 0,258
0,377(*) 0,306(**) 0,272(**) 0,235(**) (***)
5,151(*) 3,677(**) 2,928(**) 2,131(**) -
0,561 0,934 1,358 1,858 2,530
ω tot =1,0 0,954 0,957 0,917 0,781 0,640
0,457(*) 0,358(**) 0,320(**) 0,281(**) (***)
5,269(*) 3,721(**) 3,062(**) 2,429(**) -
0,539 0,888 1,277 1,718 2,251

linha: ( EI ) 2 ( E ci I 0 ) ,
a a
Para cada taxa mecânica: 1. 2. linha:

(*) µ y = M y (bh 2 f cm ) ou (**) µ ε c1 = M ε c1 (bh 2 f cm ) , 3a. linha: (*) ρ ym = 10 3 (h / r ) ym ou (**)

ρ ε c1 ,m = 10 3 (h / r ) ε c1 ,m , 4a. linha: ρ crmII = 10 3 (h / r ) crmII . (***) Momento µ ε c1 inferior ao de fissuração

µ cr , já dado na Tabela 4.12a.

Para obter a rigidez à flexão, o diagrama momento -curvatura é


linearizado da seguinte maneira: tendo já sido calculada toda a curva M (1 / r ) , fica

conhecido o momento último, M u , correspondente a uma deformação limite num


154

dos dois materiais. Nessa curva determina-se o ponto de ordenada 0,5M u , e este é

o primeiro ponto de apoio da reta equivalente com a qual o diagrama é linearizado.


Havendo fissuração e escoamento na tração, toma-se como segundo ponto aquele
correspondente ao início do escoamento da armadura tracionada. Em caso
contrário, i. e., não havendo escoamento em tração, toma-se aquele correspondente
ao inÌcio do escoamento da armadura comprimida (uma hipótese
desnecessariamente desfavorável). A união dos primeiro e segundo pontos
determina a reta procurada. Esta reta na ordenada M u define uma curvatura

(fictícia) k u , a qual delimita o fim do (único) segmento ascendente da lei M (1 / r ) . A

inclinação deste segmento dá a rigidez ( EI ) = ∂M ∂ (1 r ) , válida para curvaturas

0 ≤ k ≤ k u . Neste procedimento adotado pelos mencionados autores reside um ponto

que chama a atenção: a relação momento-curvatura toma como base a rigidez


assim obtida, mesmo que a reta n„o passe pela origem , como de fato ocorre para as
seções consideradas, pois, alegam os autores, é pequeno o erro que se comete no
cálculo dos deslocamentos, decorrente do erro da rigidez adotada para os
segmentos da peça com momentos pequenos. Assim, p. ex., a rigidez (EI ) 2 não
seria substituída pela rigidez ( EI ) y , como se fez na Tabela 4.11. Mas, por outro lado,

com o aumento da força normal de compressão, o momento de fissuração M cr

cresce, e chega a ser comparável aos momentos M y e M ε c1 , determinando assim

uma grande extensão da peça sem fissuração. Observe-se que no momento de


fissuração não está considerada a resistência da fissura coesiva (resistência à
tração na flexão, ver o item 2.4). É razoável, então, considerar na análise de peças
comprimidas (especialmente nos pilares) o momento de fissuração como não nulo
pela mesma razão com que se considera o enrijecimento da armadura tracionada.
Em ambos os casos confia-se na resistência à tração do concreto, pois o que se tem
em vista, de imediato, é o cálculo de deslocamentos, e não a verificação da
segurança de seções críticas. Note-se também que a análise elástica usualmente
pressupõe a rigidez à flexão da seção Ìntegra , mesmo havendo fissuração.
Entretanto, interessa aqui distinguir as rigidezes das diferentes peças da estrutura,
conforme seu comportamento , com o que o cálculo dos deslocamentos e das
solicitações resulta mais preciso. Ver o item 4.5.
155

Para completar as informações sobre a rigidez à flexão de vigas, dá -


se a seguir, como alternativa, a expressão da rigidez relativa no Estádio II para
seção retangular em flexão simples, com armadura simples, ( EI ) y /( E ci I 0 ) , deduzida

no trabalho de Buchaim (1997), agora incluindo nela o enrijecimento da armadura na


tração, representado pelo fator ε sy ε sym . Esta expressão é:

( EI ) y d ε sy
= 6 β ( ) 3 F (ξ ) (4.76)
( Eci I 0 ) h ε sym

onde

1 3 ω ξ
F (ξ ) = (1 − ξ ) 2 + ξ (8 − 3 ) (4.77)
12 β β 1−ξ

e a profundidade relativa da LN, ξ = x d , resulta da seguinte equação cúbica:

ω 3
(1 + )ξ − (1 − β )ξ 2 − 2 βξ + β = 0 (4.78)

com

As f yk
ω= (4.79)
bd f cm

ε c1
β =ω (4.80)
ε sy

tomando-se nestas equações ε c1 em valor absoluto. Ver a Tabela 4.13, onde está

dado o fator F (ξ ) em função da taxa mecânica da armadura, Equação (4.79).


156

Tabela 4.13: Valores de F (ξ ) para aço CA-50, ε sy = 2,5 0 / 00 , f ck f cm = 20 / 28MPa ,


ε c1 = 2 0 / 00 , seção retangular, armadura simples.

As f yk
ω= .025 .05 .075 .10 .15 .20 .25 .30 .35 .40 .4254
bdf cm
ξ=x d .136 .189 .230 .263 .319 .365 .408 .447 .488 .534 .584
F (ξ ) .824 .758 .709 .669 .605 .551 .504 .460 .415 .364 .306

O mencionado fator do enrijecimento da armadura na tração pode


ser obtido da equação (3.51) ou (3.52). Esta última leva à seguinte expressão para o
inverso desse fator:

ε sym τ bm s rm
= 1 − 1,2 ≤1 (4.81a)
ε sy f yk φ s

onde a tensão média de aderência (em MPa), cf. Equação (3.53), para carga de
curta duração, é igual a:

τ bm = 2,25 f ctm = 0,675 f ck2 3

valor que corresponde a β t = 0,40 , e que deve ser multiplicado por 0,625 para

β t = 0,25 , quando se considera carga de longa duração ou repetida. Em (4.81a) o

fator que representa o espaçamento médio das fissuras dividido pelo diâmetro da
armadura e multiplicado por 1,2 , cf. Equação (3.47), pode ser posto igual a:

s rm 0,15 0,18
1,2 = 1,2 × =
φs ρ sef ρ sef

de modo que (4.81a) passa a ser:

ε sym 0,18 τ bm
= 1− ≤1 (4.81b)
ε sy ρ sef f yk
157

e a taxa geométrica efetiva, ρ sef , decorre da Fig. 3.12. O fator que deve ser posto

em (4.76) é então igual a:

ε sy 1
= ≥1 (4.82)
ε sym 0,18 τ bm
1−
ρ sef f yk

Os resultados obtidos com estas equações, sem que se tenha


calculado o momento de fissuração, praticamente coincidem com aqueles do
programa momento-curvatura, p. ex., com os dados na Tabela 4.11, na linha
correspondente a As 2 As1 = 0 . O fator do enrijecimento da armadura na tração

decorre da consideração nas curvas M (1 / r ) e M [(1 / r ) m ] dos pontos de ordenada

M yk (a mesma em ambas) e da igualdade (aproximada) das profundidades da LN

para as duas leis constitutivas da armadura, uma com, a outra sem o enrijecimento
na tração. A rigidez de vigas, assim determinada, facilita a aplicação em casos mais
simples, uma vez que dispensa a determinação da curva M (1 / r ) e do momento de
fissuração.
O diagrama momento-curvatura e a rigidez elástica na flexão
simples de vigas fissuradas e de seção retangular foram determinados por Franco
(1957), considerando-se para o concreto um diagrama parábola-retângulo e para o
aço uma lei bilinear. Nesse trabalho, de notável antecipação (quase simultâneo com
o de Baker (1956) e anterior ao de Macchi (1972)), já é obtida, através de exemplos
simples de vigas hiperestáticas com armadura unilateral, a redistribuição de
momentos fletores na ruptura em relação à solução elástica, concluindo -se que esta
pode chegar, para os aços da época, a 20% para baixas taxas geométricas da
armadura, e a cerca de 12% para taxas geométricas usuais, em torno de 1% ,
decrescendo rapidamente com o crescimento desta taxa.
158

4.5 Pilares no Estado Limite Último

Procura-se neste item detalhar melhor duas questões relacionadas


com pilares no ELU por solicitações normais. A primeira delas refere-se à
determinação da capacidade resistente, na situação de cálculo, decorrente do ponto
de máximo da correspondente curva M (1 r ) . Isto foi feito analiticamente no item 4.2,
para vigas de seção retangular na flexão simples, conforme as hipóteses dadas na
Fig. 4.4. Como referência, esta mesma capacidade resistente também é
determinada, para o presente caso de pilares, de acordo com as hipóteses da NBR
6118, 2000, item 17.1, onde se usa para o concreto a lei parábola-retângulo, com
tensão de pico igual a 0,85 f cd , e encurtamento limite igual a − 3,5 0 / 00 ; para o aço

tem-se uma lei bilinear sem encruamento, com tensão f yd no patamar de

escoamento, e deformação última ε su = 10 0 / 00 , sendo ainda E s = 210GPa . Neste

caso (e na questão seguinte), as curvas de interação no ELU, µ d (ν d ) , são obtidas

das tabelas dadas no trabalho de Buchaim (1979). Para determinar o ponto de


máximo da curva M (1 r ) , adotam-se para o aço estes mesmos dados. Mas, para o
concreto, escolhe-se a parábola do segundo grau, com a mesma tensão de pico,
0,85 f cd , conforme particularização da lei de Grasser com k = 2 , dada no item 2.7. O

encurtamento correspondente a este ponto de máximo é inferior ao valor limite dado


pela Equação (2.83).
As curvas de interação no ELU, resultantes destes dois caminhos
muito distintos, estão mostradas na Fig. 4.20. Conforme se pode ver nesta figura, os
resultados para as três taxas mecânicas consideradas mostram o seguinte:

(1) Para forças normais entre 0 e ν d ,bal 2 (definida na Fig. 4.14a), quando há

escoamento da armadura tracionada, a diferença entre as duas curvas é


muito pequena e independente da taxa mecânica da armadura.
(2) Nos ramos descendentes das curvas de interação µ d (ν d ) , para taxas

mecânicas próximas da mínima, esta diferença pode variar de 10% a


159

13% . Para maiores taxas mecânicas, a diferença entre as duas curvas


diminui, e chega a 6% na curva de parâmetro ω tot = 1 .

(3) As curvas de interação µ d (ν d ) obtidas pelo ponto de máximo do

diagrama momento-curvatura estão a favor da segurança, como


esperado.

0,5

0,45
Momento relativo: Md/(bh^2fcd)

w tot=1: parábola-retâng.
0,4

0,35 w tot=1: parábola

0,3
w tot=0,5: parábola-retâng.
0,25
w tot=0,5: parábola
0,2

0,15 w tot=0,2: parábola-retâng.


0,1
w tot=0,2: parábola
0,05

0
0 0,5 1 1,5 2

Força normal relativa: -Nd/(bhfcd)

Fig. 4.20: Comparação das curvas de interação no ELU, flexo-compressão. Leis parábola-retângulo,
cf. NBR 6118, 2000, e parábola do segundo grau, com momento último obtido do ponto de máximo do
diagrama momento-curvatura. Armadura simétrica, y s1 h = 0,10 e y s 2 h = 0,90 . Aço CA-50,
ε su = 10 0 / 00 .

Se fosse usada a lei de Grasser ou a parábola-linear, ambas dadas


no item 2.7, seriam obtidos resultados igualmente próximos aos das curvas µ d (ν d )

derivadas das hipóteses da referida norma. Ver, também, as Figuras 4.17a e b.


Note-se que, por este caminho, não é relevante fixar a deformação
última do aço em 10 0 / 00 , como se fez, pois o ponto de máximo é, em geral,

condicionado pela lei constitutiva do concreto.


Assim evidencia-se, também na flexo-compressão, que as curvas
M (1 r ) podem ser usadas tanto para a obtenção da resistência da seção, seja num
160

ensaio, como mostrado antes, seja no dimensionamento no ELU, quanto para


mostrar a deformabilidade dessa mesma seção.
A segunda questão, tratada a seguir, refere-se à rigidez equivalente
de pilares a usar na análise da estrutura no ELU. Neste caso, a força normal
decorrente das ações características, Fk , majoradas pelo coeficiente de segurança

parcial, γ f , é por conseqüência a de cálculo, i. e., N = N d = N (γ f Fk ) . Se forem

utilizadas no ELU as Tabelas 4.12a e 4.12b, deve-se lá considerar esta mesma


força, tudo o mais permanecendo igual (restrição feita aos pilares esbeltos, como
indicado a seguir).
A dedução seguinte da rigidez equivalente pressupõe, em princípio,
pilares não esbeltos. Para obter esta rigidez é necessário separar, no ELU, os
pilares para os quais há fissuração daqueles que não sofrem fissuração. Consegue-
se, assim, uma transição satisfatória na determinação desta rigidez na passagem de
vigas para pilares, como se comenta adiante. Além disso, visa-se evitar erros
grandes na rigidez e, por conseqüência, também nos deslocamentos -
principalmente nestes - e nas solicitações da estrutura. Isto tem também especial
importância na determinação da demanda de rotação plástica nas seções críticas
das vigas do pórtico. Tenha-se em mente que, na fissuração estabilizada, a rigidez
das vigas é determinada com maior precisão do que a dos pilares, uma vez que esta
rigidez praticamente independe do momento de fissuração, é influenciada
predominantemente pela armadura, e pouco influenciada pela resistência do
concreto. Ver a Fig. 4.19 e a Tabela 4.11.
No que segue tem-se em vista principalmente os pilares de pórticos
planos, fletidos em curvatura dupla. Para tanto, considere-se um pilar em balanço,
engastado na sua base. Ao longo de sua altura admitem-se constantes a seção
transversal, a armadura e as forças normal e cortante de cálculo nele atuantes.
Como se pressupõe pilar não esbelto, o momento fletor de cálculo distribui-se
linearmente em sua altura, de zero no seu topo, correspondente ao ponto de
momento nulo no pilar fletido em curvatura dupla, a um valor máximo no engaste. As
seguintes hipóteses adicionais são admitidas:
(1) Despreza-se a dimensão de um eventual nó que, no pórtico plano, dá o
engaste parcial ao pilar.
161

(2) Supõe-se que, na seção do engaste, o momento solicitante de c·lculo ,


advindo da análise, seja exatamente igual ao momento resistente ˙ltimo
de c·lculo , decorrente das resistências de cálculo dos materiais. Esta
hipótese viabiliza os cálculos subseqüentes.
(3) O momento de fissuração, M cr , dependente da força de compressão N d

e da quantia e disposição da armadura na seção transversal, é


determinado com a resistência f ct ,5% , correspondente ao quantil de 5% ,

cf. Equação (2.25a). Admite-se que a fissuração ocorre quando a tensão


no concreto igualar-se a esta resistência, na fibra da camada da
armadura mais alongada, como se fez anteriormente.
(4) Na consideração do enrijecimento da armadura tracionada adota-se
β t = 0,25 . Este efeito, de qualquer modo, é menor em pilares.

Note-se que estas quatro últimas hipóteses levam a uma menor


rigidez equivalente do pilar, especialmente se houver fissuração.
Para a variação paramétrica considerada adiante nos resultados
obtidos na Fig. 4.21 e na Tabela 4.14, verifica-se que o momento resistente último
de cálculo, M ud , dependente da força normal de cálculo e decorrente do

dimensionamento, é inferior, em todos os casos , aos momentos M y e M ε c1 . Estes

dois momentos são calculados com as resistências f cm e f yk . Isto facilita a escolha

das rigidezes, cf. a Fig. 4.9, pois só serão consideradas, no máximo, as rigidezes
dos primeiro e segundo segmentos das curvas M (1 r ) linearizadas. O momento de
fissuração, M cr ( N d ) , também calculado com estas resistências e com f ct ,5% - cf. a

hipótese (3) anterior - deve ser comparado com o momento máximo, no caso
admitido igual a M ud ( N d ) , para decidir se há ou não fissuração do pilar. Assim, se

ocorrer M cr ( N d ) < M ud ( N d ) há fissuração, e a rigidez equivalente do pilar depende

das rigidezes (EI )1 , do trecho sem fissuras, e de (EI ) 2 , do trecho onde há fissuras.
Esta rigidez decorre igualando-se os deslocamentos horizontais no topo do pilar
obtidos num caso com ( EI ) eq , e noutro através da integração dupla da curvatura,

considerando-se no trecho não fissurado a curvatura M /(EI )1 , e no trecho com


162

fissuras a curvatura média correspondente a momentos linearmente distribuídos


entre M cr e M ud . Conforme a Equação (4.75a), tem-se neste segundo trecho uma

reta de inclinação 1 : ( EI ) 2 , que não passa pela origem da curva M (1 r ) . A rigidez


equivalente é dada pela seguinte equação, pondo-se ψ = M cr M ud e ρ 02 a curvatura

relativa decorrente da interseção da reta de inclinação 1 : ( EI ) 2 com o eixo das


abscissas:

1 ψ3 1 3ψ (1 − ψ 2 )
= + [2 − 3ψ + ψ 3 + ] (4.83)
( EI ) eq ( EI )1 2( EI ) 2 ρ 02
(1 − )
ρ cr ,mII

Nesta equação deve-se ter 0 ≤ ψ ≤ 1 . Note-se que para estes


extremos tem-se, respectivamente, ( EI ) eq = ( EI ) 2 e ( EI ) eq = ( EI )1 . Se ocorrer

M cr ( N d ) ≥ M ud ( N d ) não há fissuração no ELU, donde ( EI ) eq = ( EI )1 .

As Figuras 4.21a, b e c e a Tabela 4.14 baseiam-se nos seguintes


dados:

Geometria: seção retangular: b × h , momento de inércia I 0 = bh 3 12

armadura simétrica: y s1 h = 0,10 e y s 2 h = 0,90

Concreto: parábola do segundo grau, com tensão de pico f cm = 28MPa ,

ε c1 = −2 0 / 00 , ε c lim = −3,414 0 / 00 , E ci = 10 3 × f cm = 28GPa

f ck = 20 MPa , f ct ,5% = 1,47 MPa

Aderência: β t = 0,25

Aço: lei bilinear sem encruamento, f yk = 500 MPa , E s = 200GPa


163

1,2

Rigidez relativa equivalente: (EI)eq / (EciIo)


1

0,8

w tot=1
0,6 w tot=0,5
w tot=0,2
0,4

0,2

0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8
Força norm al relativa de cálculo: -Nd / (bhfcd)

Fig. 4.21a: Curvas completas da rigidez relativa equivalente em função da força normal relativa de
cálculo, para três taxas mecânicas da armadura total. Dados cf. Tabela 4.14.

Na Fig. 4.21a mostra-se a rigidez equivalente, dividida pelo produto


E ci I 0 , considerando-se, para melhor visualização, apenas três valores da taxa

mecânica total. Como se vê nesta figura, a rigidez ( EI ) eq é crescente com a

intensidade da força normal de compressão enquanto houver fissuração. Quando


esta inexistir, a rigidez decresce com a força normal, conforme transparece nas
curvas superiores, onde se tem ( EI ) eq = ( EI )1 . A taxa mecânica total tem influência

considerável, com ou sem fissuração, especialmente enquanto houver escoamento


da armadura tracionada. Estas curvas são separadas naquelas das Figuras 4.21b e
c, conforme haja ou não fissuração, para uma variação mais extensa da taxa
mecânica. Ver também a Tabela 4.14. Os resultados da Fig. 4.21b para ν d = 0

fornecem valores próximos da rigidez (EI ) 2 , mas não iguais, pois aqui M cr ≠ 0 . Esta

rigidez, para vigas com armadura simétrica (e nas mesmas condições desta figura),
pouco difere da rigidez definida para estas, ( EI ) y , como já observado.
164

1,2

1,1

1
Rigidez relativa equivalente: (EI)eq / (EciIo)

0,9
w tot=1
0,8 w tot=0,9
w tot=0,8
0,7 w tot=0,7
w tot=0,6
0,6
w tot=0,5

0,5 w tot=0,4
w tot=0,3
0,4 w tot=0,2
w tot=0,1
0,3

0,2

0,1

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

Força normal relativa de cálculo: -Nd / (bhfcd)

Fig. 4.21b: Pilares com fissuração: M cr ( N d ) < M du ( N d ) e ( EI ) eq cf. Equação (4.83).

1,2
Rigidez relativa equivalente: (EI)eq / (EciIo)

1,1

w tot=1
w tot=0,9
1
w tot=0,8
w tot=0,7
w tot=0,6
0,9
w tot=0,5
w tot=0,4
w tot=0,3
0,8
w tot=0,2
w tot=0,1

0,7

0,6
0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 1,3 1,4 1,5 1,6 1,7 1,8

Força normal relativa de cálculo: -Nd / (bhfcd)

Fig. 4.21c: Pilares sem fissuração: M cr ( N d ) ≥ M du ( N d ) e ( EI ) eq = ( EI )1 .

Fig. 4.21: Rigidez equivalente de pilares não esbeltos em flexão composta normal. Seção retangular,
armadura simétrica. Dados cf. Tabela 4.14.
165

Tabela 4.14: Rigidez relativa equivalente, ( EI ) eq ( E ci I 0 ) , de pilares não esbeltos em flexão


composta normal. Seção retangular, armadura simétrica, As1 = As 2 = Astot / 2 , y s1 h = 0,10 e
y s 2 h = 0,90 . Aço CA-50, f ck / f cm = 20 / 28MPa , f ct ,5% = 1,47 MPa , E ci = 28GPa ,
I 0 = bh 3 12 , ν d = N d (bhf cd ) , ω tot = Astot f yd (bhf cd ) . Área sombreada: não há fissuração.

ω tot 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
0 0,123 0,188 0,252 0,314 0,375 0,436 0,488 0,540 0,592 0,644
0,1 0,225 0,267 0,323 0,376 0,426 0,476 0,528 0,576 0,634 0,679
0,2 0,311 0,336 0,376 0,422 0,471 0,521 0,565 0,610 0,655 0,701
0,3 0,416 0,411 0,438 0,472 0,511 0,552 0,596 0,641 0,687 0,732
0,4 0,590 0,517 0,513 0,533 0,565 0,599 0,635 0,673 0,712 0,753
0,5 0,880 0,737 0,666 0,646 0,653 0,671 0,696 0,728 0,763 0,799
0,6 0,868 0,919 0,874 0,808 0,775 0,769 0,776 0,793 0,817 0,845
0,7 0,833 0,885 0,936 0,971 0,930 0,893 0,878 0,877 0,888 0,907
−ν d 0,8 0,794 0,848 0,901 0,954 1,006 1,041 1,039 1,034 1,034 1,043
0,9 0,808 0,864 0,918 0,972 1,024 1,081 1,114 1,123 1,130
1,0 0,764 0,822 0,879 0,935 0,989 1,044 1,097 1,156 1,190
1,1 0,776 0,836 0,895 0,952 1,008 1,063 1,117 1,171
1,2 0,787 0,850 0,910 0,969 1,026 1,082 1,138
1,3 0,799 0,864 0,926 0,986 1,045 1,102
1,4 0,810 0,878 0,942 1,004 1,064
1,5 0,820 0,891 0,958 1,022
1,6 0,830 0,905 0,974
1,7 0,840 0,919
1,8 0,849

1,1
Rigidez relativa equivalente: (EI)eq / (EciIo)

0,9

0,8
fct,95%=2,95 MPa
0,7
fct,5%=1,47 MPa
0,6

0,5

0,4

0,3
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2
Força normal relativa de cálculo: -Nd / (bhfcd)

Fig. 4.22: Rigidez relativa equivalente para resistências à tração características superior e inferior,
ω tot = 0,5 . Demais dados cf. Tabela 4.14.
166

É interessante notar, na Fig. 4.22, a influência relativamente


pequena do quantil adotado para a resistência à tração do concreto na rigidez
equivalente do pilar. Isto se explica pela influência favorável da força normal de
compressão sobre o momento de fissuração, diferentemente da flexão simples.

120
Rigidez relativa Keq = (EI)eq / (fcd*b*h^3)
e Kcs,França = (EI)cs / (fcd*b*h^3)

100

80

60

40

20

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
Força norm al relativa de cálculo: -Nd/(bhfcd)

w tot=1: França w tot=1: presente cálculo


w tot=0,5: França w tot=0,5: presente cálculo
w tot=0,2: França w tot=0,2: presente cálculo

Fig. 4.23: Comparação da rigidez equivalente, cf. Equação (4.83), e rigidez secante, cf.
França, para tensões de pico f ck / 1,27 e f yk / 1,15 . Seção retangular, armadura simétrica,
As1 = As 2 = Astot / 2 , y s1 h = 0,15 e y s 2 h = 0,85 . Aço CA-50, f ck = 20 MPa ,
f ct ,d = 1,26 MPa , E ci = 10 3 × ( f ck 1,27) = 15,75GPa , I 0 = bh 3 12 . Adimensionais:
ν d = N d (bhf cd ) , ω tot = Astot f yd (bhf cd ) .

Na Fig. 4.23 mostra-se a comparação da rigidez equivalente, cf.


Equação (4.83), e rigidez secante, cf. ábaco A15 de França (1991), considerando-se
as tensões de pico f ck / 1,27 e f yk / 1,15 para o concreto e o aço, respectivamente.

Por coerência, a resistência à tração do concreto é tomada com um coeficiente de


segurança igual a (1,27) 2 3 = 1,17 . Pode-se ver nesta figura que os resultados são
relativamente próximos, e seguem a mesma tendência no caso de fissuração. A
167

maior diferença encontrada ocorre para a menor taxa mecânica total ω tot = 0,2 e

força normal relativa de cálculo − ν d = 0,5 , com K cs , França K eq = 56 73 = 0,77 .

Não se pretende aqui estender irrestritamente estes resultados aos


pilares esbeltos. Para estes, a determinação da rigidez equivalente teria de
considerar, além da própria deformabilidade do pilar, também a rotação do nó que
dá o engaste parcial. Além disso, como mostrado na Fig. 4.23, há a questão da
rigidez (principalmente) do concreto, representada pela sua lei constitutiva adotada,
e obtida com uma tensão de pico menor que f cm , i. e., f ck 1,27 , conforme a proposta
de França, intermediária entre a do EC-2 e do MC-90. Entretanto, destes resultados
é possível tirar conclusões para os pilares esbeltos pelo menos qualitativas. Se o
momento solicitante de cálculo na seção de engaste decorrer de uma análise que
inclua os efeitos de segunda ordem, então o erro que se comete na Equação (4.83)
está apenas na variação linear adotada para a distribuição do momento fletor, uma
vez que a rotação nodal está implícita na análise. Supõe-se, nesta consideração,
que os efeitos da força normal e da esbeltez sejam suficientemente moderados, de
modo que o máximo momento ocorra no engaste. A variação não-linear do momento
poderia ser considerada, adotando-se uma distribuição plausível, ou aquela
decorrente da análise não-linear com efeito de segunda ordem, se o pilar, em
pórticos mais simples, for suficientemente discretizado. Com isto, diminui-se o erro
na estimativa da rigidez equivalente. Note-se, porém, que, se o momento de
fissuração for maior que o máximo momento solicitante de cálculo, praticamente não
há erro algum em adotar a rigidez equivalente igual a (EI )1 , na dependência apenas
da tensão de pico considerada para o concreto. A introdução desta resistência,
significativamente menor que o valor médio, reduz muito a rigidez do pilar,
particularmente quando não houver escoamento em tração da armadura, e tem a
intenção de garantir uma segurança maior para os pilares esbeltos. Assim, p. ex.,
para ω tot = 1 e − ν d = 1 tem-se da Fig. 4.23: ( EI ) eq = 112 × (20 1,4) × bh 3 = 1600 × bh 3 ; e

da Tabela 4.14: ( EI ) eq = 1,19 × 28 × 10 3 × (bh 3 12) = 2777 × bh 3 , donde uma redução na

rigidez equivalente igual a (1 − 1600 2777) × 100 = 42% . Se esta redução for igual a
50% , os deslocamentos mais do que dobram e, por conseqüência, mais do que
dobram também as parcelas do momento fletor devidas ao efeito de segunda ordem
168

(parcelas P∆ ). Há, assim, uma dupla majoração no efeito de segunda ordem: uma
advinda da majoração das cargas, outra decorrente da minoração das rigidezes,
(Menegotto (1995)).
Observe-se, além disso, que, se os efeitos de segunda ordem forem
inexistentes ou mesmo pequenos, há preponderância do momento de primeira
ordem, com o que interessaria majorar as rigidezes dos pilares, em face das
rigidezes das vigas. Conforme afirma MacGregor (1993): “...uma vez que os
deslocamentos laterais decorrentes da análise do pórtico são afetados pelas
rigidezes de todos os elementos da estrutura, os valores de (EI) usados nesta
análise devem se aproximar dos valores mÈdios dos elementos individuais ”.
Somente na verificação da estabilidade de cada elemento isolado deve-se introduzir
um limite inferior e seguro de sua rigidez. Assim, do ponto de vista de análise global,
a rigidez equivalente aqui obtida preenche esta condição, a menos da distribuição
linear adotada. Note-se, ainda, que as rigidezes aproximadas indicadas na NBR
6118, 2000, item 15.6.2, para a análise global de segunda ordem, a saber:

vigas: ( EI ) sec = 0,4 E c I c se As1 ≠ As 2 , e ( EI ) sec = 0,5 Ec I c se As1 = As 2

pilares: ( EI ) sec = 0,8E c I c

são valores muito próximos dos indicados por Kordina e Hage, conforme consta no
trabalho de MacGregor (1993). Estes valores têm, justamente, a intenção de
reproduzir uma estimativa média daqueles obtidos na Fig. 4.21 ou na Tabela 4.14.
Como já se disse antes, a análise (seja de primeira, seja de segunda
ordem) e o dimensionamento são necessariamente iterativos. Entretanto, como se
depreende dos trabalhos de França (1991) e de Oliveira e França (2000), só isto
não basta. É preciso um passo essencial a mais, que é a determinação das rigidezes
à flexão das vigas e dos pilares do pórtico plano, subseq¸entemente ao
dimensionamento . Embora isto represente um trabalho adicional, que pode, aliás,
fazer parte de uma sub-rotina extra, ganha-se muito em clareza e precisão,
especialmente quando são considerados os efeitos de segunda ordem.
Antes de decidir se um pórtico é esbelto, é preciso realizar uma
análise de primeira ordem, seguida do dimensionamento e da determinação das
rigidezes (para estas, de forma análoga à que se fez na Tabela 4.14). Concluída
169

esta primeira etapa, faz-se uma análise de segunda ordem, com as mesmas
rigidezes anteriores. Se os esforços solicitantes, especialmente os momentos
fletores das seções críticas, decorrentes destas duas análises não diferirem entre si
em mais de 10%, a estrutura como um todo é considerada não esbelta. Este critério
está dado na NBR 6118, 2000, item 15.1. Bastaria, então, verificar localmente os
pilares cujos efeitos simultâneos da força normal e da esbeltez levam a um momento
fletor máximo fora das seções extremas do pilar. Por outro lado, se este critério não
se verificar, faz-se, da mesma forma, uma análise de segunda ordem e os
subseqüentes dimensionamento e determinação das rigidezes. Neste caso, pode-se
também indicar, pelo menos como uma primeira aproximação, a rigidez equivalente
aqui obtida, pois a despeito da distribuição não-linear do momento fletor ao longo do
pilar, foram feitas na sua determinação várias hipóteses a favor da segurança. Note-
se, ainda, que no mencionado trabalho de Kordina e Quast, é definida uma (única)
rigidez (do tipo tangente), semelhante a (EI ) 2 , independente, portanto, da
distribuição do momento fletor. Assim, restaria, novamente, verificar apenas se os
máximos momentos ocorrem nos extremos do pilar, ou fora deles. Nesta análise
local como pilar isolado, num caso e noutro, caberia considerar as rigidezes
decorrentes das resistências minoradas f ck / 1,27 e f yk / 1,15 .

Claro está que, nas decisões de projeto, deve-se sempre ser


conservativo. As considerações aqui feitas, bem como os resultados apresentados,
embora não pretendam ser definitivos, podem auxiliar nestas decisões.
No trabalho de MacGregor (1977) encontram-se enumeradas as
várias influências na rigidez à flexão de pilares (ìo principal problema em qualquer
an·lise de segunda ordem ou de estabilidade de estruturas de con cretoî) , que
devem ser consideradas na análise. Para uma dada forma da seção transversal,
estas são: “a quantia e a disposição da armadura, a extensão da fissuração, a carga
axial, a fluência do concreto, os comportamentos não-lineares do concreto e do aço”,
e, por último, “a variação da rigidez ao longo de todo o comprimento da barra em
questão, considerando-se os trechos fissurados e os não fissurados. A rigidez deve
ser representativa de toda a peça em questão, não apenas da seção mais crítica”.
Assim, com exceção da fluência do concreto e da esbeltez do pilar, todas estas
influências estão consideradas na presente estimativa da rigidez de pilares no ELU.
Para a consideração da fluência do concreto ver MacGregor (1993). A dedução da
170

excentricidade da força normal proveniente da fluência do concreto está mostrada no


trabalho de Buchaim (1979). Além disso, no presente trabalho, está dada a rigidez
tangente na origem, ( EI ) origem , cf. Equações (4.72) e (4.73), a qual permite obter a

carga de instabilidade de pilares esbeltos bi-articulados. Também nesta rigidez cabe


escolher resistências minoradas, i. e., f ck / 1,27 ou f ck / 1,20 e f yk / 1,15 .

Ressalte-se, novamente, que a determinação mais precisa das


rigidezes do pórtico no ELU visa não somente assegurar a determinação dos efeitos
de primeira ou de segunda ordem nos pilares, mas igualmente a demanda de
rotaÁ„o pl·stica das vigas . A determinação da capacidade de rotação plástica é
tratada a seguir.
5 DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE DE ROTAÇÃO PLÁSTICA

5.1 Introdução

O presente capítulo trata da determinação da capacidade de rotação


plástica de elementos unidimensionais de concreto armado que apresentam
escoamento em tração da armadura longitudinal. Procura-se também mostrar o
aumento dessa capacidade em pilares cintados. Para estes, mais do que um
possível aumento na resistência, busca-se um aumento na sua deformabilidade, e
neste caso o cintamento é necessário apenas numa região limitada do pilar,
aproximadamente igual à altura de sua seção transversal, onde ocorrem as
deformações anelásticas.
A determinação da capacidade de rotação plástica em peças de
concreto armado ganhou grande impulso com os trabalhos quase simultâneos de
Dilger (1966) e de Bachmann (1967). No deste último já são levantadas as
principais questões envolvidas no problema, especialmente a do enrijecimento da
armadura tracionada, pela ação da aderência (móvel, deslizante) entre os dois
materiais, não apenas antes, mas principalmente, para o que interessa aqui, após a
plastificação da armadura. Mais recentemente este problema foi investigado por
Langer (1987), Kreller (1989), Longfei (1995) e Sigrist (1995), entre outros. Do
trabalho de Kreller resultou a lei tensão da armadura na fissura associada à sua
deformação média, σ s (ε sm ) , da qual foi retida no MC-90 somente o trecho pós-

escoamento. Para determinar essa lei simplificada foi utilizada uma lei tensão de
aderência-deslizamento, τ b (s ) , aproximadamente igual à dada nesse código. A

solução de Langer utiliza o diagrama momento-curvatura acoplado à solução


numérica da equação diferencial tensão de aderência-deslizamento, e usa também a
mesma lei τ b (s ) mencionada e o conceito de viga equivalente.
172

Mu > M > My Mu > M > My


My simplificação

Q
Ly
L L

Fig. 5.1: Viga equivalente na região de apoio de continuidade.

A viga equivalente, na configuração de colapso, é o segmento da


peça entre dois pontos sucessivos de momentos nulos, onde se situa a seção crítica
(Fig. 5.1). Nela são aplicadas duas cargas, em duas etapas distintas. Na primeira,
aplica-se a carga Qu correspondente a uma deformação última (no aço ou no

concreto) na seção crítica. Através do espaçamento médio das fissuras delimitam-se


os subelementos de concreto entre duas fissuras sucessivas, ao longo dos quais
obtém-se a curvatura. Uma vez conhecido todo o diagrama momento-curvatura
(desprezando-se a resistência à tração do concreto) têm-se imediatamente as
deformações ε s do banzo tracionado e as distâncias da LN a este banzo, (d − x) ,

correspondentes ao conjunto de pontos do diagrama. A variação desta distância


(d − x) dentro do subelemento, entre duas fissuras sucessivas, é admitida por

Langer como parabólica. Determinada a deformação ε s de um dado ponto dentro do

subelemento na solução da equação diferencial tensão de aderência-deslizamento


obtém-se, para este ponto, a curvatura ε s (d − x) . Isto é feito para todos os pontos

do subelemento, bem como para todos os subelementos. Assim, fica determinada a


distribuição da curvatura ao longo da peça. Da integral da curvatura em toda a viga
equivalente obtém-se a rotação total entre as duas seções extremas correspondente
à carga última. O mesmo cálculo é repetido para a carga Q y para a qual tem-se na

seção crítica o início do escoamento da armadura. Da subtração das rotações totais


destas duas etapas decorre, segundo Langer, a capacidade de rotação plástica.
173

Este processo equivale a calcular, em cada etapa, as rotações de cada fissura ao


longo de todo o vão da viga equivalente.
A solução de Longfei aplica a teoria de Bachmann para as rotações
de cada fissura em todo o vão, em vigas de concreto protendido com armadura
mista, na flexão simples. Novamente, como na solução de Langer, são calculadas as
rotações totais para as cargas Qu e Q y , e destas a capacidade de rotação plástica.

A solução de Sigrist (1995) utiliza uma lei tensão de aderência-


deslizamento do tipo rígido-plástica, segundo sua proposta, com dois níveis de
tensão de aderência. Na viga equivalente (ou no sistema estrutural) calculam-se em
duas etapas as rotações apenas nas seções fissuradas onde há plastificação da
armadura para a carga última. A soma das rotações da primeira etapa, subtraída da
soma das rotações da segunda etapa, resulta igual à capacidade de rotação
plástica, que se verifica quando a carga aumenta de Q y a Qu .

As soluções que seguem usam o conceito de viga equivalente. Na


solução simplificada utiliza-se a lei σ s (ε sm ) de Kreller, na mais rigorosa determinam-

se as rotações somente nas fissuras com plastificação da armadura, como no


trabalho de Sigrist, mas adota-se a lei tensão de aderência-deslizamento dada no
MC-90. Também há diferenças na consideração da força cortante. Com isso, estas
soluções distinguem-se das anteriores e seguem as linhas gerais do MC-90.
O MC-90, item 3.7, define a rotação plástica pela seguinte integral:

l pl
1
θ pl = ∫
a=0
d − x LN ( a )
[ε sm (a ) − ε smy ]da (5.1a)

no trecho plastificado de extensão l pl , onde:

ε sm (a ) é a deformação média da armadura no trecho plastificado da peça,

para momento na seção crítica igual a M u , correspondente a uma

deformação limite num dos dois materiais.

ε smy é a deformação média da armadura para tensão na fissura igual a f yk .


174

a é a abscissa contada a partir da posição da deformação ε smy . (Adiante

substitui-se a notação a por x ).

x LN é a profundidade da linha neutra, e pode ser tomada conservativamente

igual ao valor da seção crítica, pois a plastificação geralmente ocorre num


trecho pequeno da peça.

d é a altura útil da seção.

A partir da definição anterior, aplicando-se a lei σ s (ε sm ) obtida por

Kreller, cf. Equação (3.67) e Fig. 3.16, decorre esta outra:

l pl
δ σ sr1
θ pl = ∫d−x
0 LN
(1 −
f yk
)(ε s 2 − ε sy )dx (5.1b)

onde, como já se viu antes no item 3.4:

δ é um coeficiente, igual a 0,8, que leva em consideração a resistência f yk

e o quociente ( f t f y ) k entre as resistências à ruptura e ao escoamento do

aço. O valor 0,8 é válido para o aço tipo A desse código e f yk = 500 MPa.

Supõe-se, como aproximação, que este valor seja válido também para os
aços nacionais CA-50 e CA-60.

σ sr1 é a tensão da armadura na fissura, obtida com as solicitações que

levam a seção à fissuração por tensões normais, o que se dá para a tensão


na borda do banzo tracionado igual à resistência à tração do concreto, fct5%.
(Lembra-se aqui que no capítulo 4 foi adotado o valor médio desta
resistência, e a tensão σ sr1 foi obtida impondo-se f ctm na primeira camada

da armadura).
175

ε s 2 e ε sy são, respectivamente, as deformações da armadura na fissura e de

escoamento.

l pl é o comprimento do trecho plastificado, a rigor igual à distância entre as

posições da deformação ε sy , em cada lado da seção crítica. No método

simplificado esta distância corresponde à posição da força do início do


escoamento da armadura, Rsy = As1 f yk , onde As1 é a área da armadura do

banzo tracionado, distante z s do CG da seção (Fig. 5.3).

Nesta equação a única variável é a deformação ε s 2 do banzo tracionado, e sua


variação ao longo do vão decorre da variação da força neste mesmo banzo.
Observe-se que, quando se impõe na seção crítica uma deformação limite num dos
dois materiais, resulta destas definições o valor máximo da rotação plástica, que é a
capacidade de rotação plástica. Para saber de antemão qual a forma de ruptura que
ocorre em uma dada seção transversal, impõe-se o estado de deformação
correspondente à ocorrência simultânea da deformação limite do concreto na borda
comprimida e da deformação última do aço no banzo tracionado. Deste estado
decorre a força normal (positiva, se tração), chamada no item 4.3 N bal1 ou ν bal1 , Fig.

4.8a, a ser comparada com a efetivamente atuante na seção. Se esta for superior
àquela (maior tração ou menor compressão) há ruptura (fratura) do aço, em caso
contrário (menor tração ou maior compressão) há esmagamento do concreto.
A rotação total da viga equivalente, ou a rotação relativa entre duas
seções quaisquer, decorre das rotações que se verificam em cada fissura do trecho
considerado, conforme a teoria de Bachmann. Observando-se a Fig. 5.2, num
quadro de fissuração estabilizada tem-se numa fissura a rotação e o deslocamento
vertical relativos das suas faces respectivamente iguais a:

wmi
θi = (5.2)
d − xi

θi
δ mi = (d − xi ) (5.3)
tgν ri
176

xi θi
d - xi
θi
υri
υri δi
wi wi
sr

(a) (b)

Fig. 5.2: Deslocamentos relativos das faces da fissura.

Este último deslocamento é nulo para fissuras verticais. Nestas


equações, wmi é a abertura média da fissura, a qual independe de sua inclinação ν ri

em relação ao eixo longitudinal da peça, s rm é o espaçamento médio das fissuras e

xi é a profundidade da LN. A rotação total relativa das duas seções consideradas é

igual à soma das rotações das n fissuras que ocorrem entre elas:

n
θ = ∑θ i (5.4)
1

devendo-se observar que em cada fissura há descontinuidade da tangente à


deformada, exatamente como numa rótula, plástica ( M ≠ 0 ) ou não ( M = 0 ).
No trabalho de Bachmann as rótulas plásticas são classificadas, cf.
Fig. 1.1, em dois tipos: as de flexão e as de flexão e força cortante. Nas primeiras só
há uma ou algumas poucas fissuras verticais, onde há plastificação da armadura
tracionada, e por isso a capacidade de rotação plástica pode ser pequena. Nas
segundas há influência da força cortante, quando esta tem um valor apreciável, com
o que as fissuras são inclinadas e em maior número. Como se sabe, a força cortante
aumenta a força do banzo tracionado e, por conseqüência, espraia a plastificação da
armadura em uma extensão maior do que no caso anterior. Por esta razão, no
projeto deve-se dar preferência às rótulas de flexão e de força cortante, pelo menos
177

em vigas. A influência da força cortante e a obtenção da força do banzo tracionado


são tratadas a seguir.

5.2 Consideração da Força Cortante e Obtenção da Força do Banzo


Tracionado

Em uma estrutura sujeita a um dado carregamento, conforme o


Teorema Estático da Plasticidade, é possível determinar campos de tensão
descontínuos, estáveis (resistências dos materiais não ultrapassadas) e admissíveis
(condições de equilíbrio e de contorno estáticas preenchidas), de tal modo que o
dado carregamento é inferior ou no máximo igual ao de ruína. Assim, na viga da Fig.
5.3, sujeita à ação de solicitações normais (M, N) e tangencial (V), assimilam-se as
forças longitudinais resistentes nos banzos ao concreto da zona comprimida e à
armadura longitudinal tracionada. Na alma desta viga atribuem-se aos estribos
campos de tração na sua direção, e ao concreto campos de compressão inclinados.
Subdividindo-se esta viga em zonas B e D, é possível demonstrar, somente por
equilíbrio, que as forças nos banzos variam linearmente nas primeiras e
parabolicamente nas segundas. Ver Thürlimann et al. (1989), e Sigrist et al. (1995).
Conhecida a inclinação υ do campo de compressão das zonas B, as forças nos
banzos são obtidas como segue. Como na região B a inclinação do campo de
compressão é constante (e, por isso, a distribuição das tensões tangenciais também
é constante ao longo da altura da seção resistente à força cortante), a força inclinada
deste campo atua a meia distância dos banzos. Como os esforços solicitantes são
supostos atuantes no CG (eixo 0 − 0 ) da seção, distante y 0 da sua base, deve-se

considerar nesta região os esforços:

N + V cot υ

M + V cot υ ( z s − 0,5 z )
178

Qu
L/2

b0
Rc
N υ N C G
V=0 Mu
z d h
y0 zs
0,5Qu Rs max
As1
bw

lB /2 l D/2 = zcotgυ + b0 /2

ay

R sA
R sB R sy R s max
linear

parábola do 2° grau

Fig. 5.3: Viga equivalente: geometria, campos de tensão descontínuos, força no banzo tracionado.

com o que as forças nos banzos são iguais a:

M z
Rc = − + N s + 0,5V cot υ (5.5)
z z

M z
Rs = + N (1 − s ) + 0,5V cot υ ( 5.6)
z z

onde as grandezas envolvidas estão indicadas na Fig. 5.3. M e V são positivos e N


é positiva se tração.
O ângulo υ da inclinação do campo de compressão é estabelecido
conforme as FIP Recommendations (1999), e decorre da inclinação υ r da fissura
( 40º na flexão simples), pela seguinte equação, válida para forças normais nula e de
compressão e para estribos verticais (ver Kirmair (1985)):
179

1 ( L − b0 )
cot υ = cot υ r ≤ (5.7)
τ c,M + N − 2z
1−
τ0

N
cot υ r = 1,2 − 0,30 (5.8)
A0 f ctm

onde τ 0 = V bw z deve ser maior que τ c, M + N − , z é a distância entre os banzos, b0 é a

largura da placa de apoio, A0 é a área da seção transversal, f ctm = 0,3 f ck2 / 3 , em MPa,

τ c,M + N − cot υ r
= 1,429 × (1 − ) (5.9a)
τ c,M 4

τ c , M = 0,04 f ck (5.9b)

τ c,M + N−
Tabela 5.1: Valores de υ r e de para f ck = 35MPa .
τ c,M

υr
N N f ck (Inclinação τ c,M + N−
− − da
( A0 f ck ) ( A0 f ck ) f ctm fissura) τ c,M

0 0 39,8 0 ≅ 40 0 1
0,10 1,09 33,2 0 0,875
0
0,20 2,18 28,3 0,759
0
0,30 3,27 24,6 0,643
0,40 4,36 21,7 0 0,527
0
0,50 5,45 19,4 0,411

A inclinação do campo de compressão, como se vê, é menor do que


a da fissura, pois há tensões de atrito transmitidas nas faces da fissura, e forças
cortantes transmitidas no banzo comprimido e por corte da armadura longitudinal.
180

Aplicando-se as equações (5.8) e (5.9a) para f ck = 35MPa e

f ctm = 3,21MPa obtêm-se os resultados da Tabela 5.1. Como se vê nesta tabela, a

presença da força normal de compressão diminui a inclinação da fissura e, por


conseqüência, a do campo de compressão. Simultaneamente diminui a fração
τ c , M + N − /τ c , M , isto porque a força de compressão aumenta a profundidade da LN, mas

a tensão tangencial τ c, M + N − , em boa parte devida ao atrito na fissura, continua sendo

“espalhada” na seção resistente à força cortante, de altura z .


Observe-se na Equação (5.7) que o limite geométrico aqui imposto
limita a região D à própria viga equivalente.
Para decidir se há fissuras inclinadas na alma da viga, o MC-90, item
3.7, dá o valor da força cortante que causa a fissuração inclinada, obtida
experimentalmente (sem a separação das três parcelas mencionadas). Em um
quadro de fissuração inclinada totalmente desenvolvido a tensão tangencial
correspondente é igual a:

2Vrd 1
τ r1 = = 0,24ζ (100 ρ sl f ck )1/ 3 (5.10)
bw d

com f ck em MPa, não superior a 50 MPa , e

200
ζ = 1+ fator de tamanho, d em mm
d

Asl
ρ sl = taxa geométrica da armadura longitudinal
bw d

A multiplicação do valor de cálculo desta tensão tangencial por 2, ao


invés de γ c = 1,5 , pode ser explicada pela correspondência ao quantil de 95% dos

resultados experimentais (fissuração inclinada já existente, com 95% de


probabilidade). Logo, a fissuração inclinada pode já estar presente para 0,75 τ r1 ,
correspondente ao quantil de 5%, pois Vrd 1 é igual a Vr1,5% dividido por γ c = 1,5 .
181

Uma vez estabelecido o ângulo da inclinação do campo de


compressão (que para fissuras verticais é inferior a 90º , donde no limite cot υ = 0 , e
desaparece a influência da força cortante, Equações (5.5) e (5.6)), obtêm-se as
forças do banzo tracionado, bem como a posição da força Rsy através das seguintes

equações:

x 2 lD
Rs ( x) = Rs max − 4( Rs max − RsB )( ) se x ≤ (5.11a)
lD 2

RsB − RsA L l
Rs ( x) = RsA + ( L − 2 x) se ≥x≥ D (5.11b)
lB 2 2

sendo l D = b0 + 2 z cot υ e l B = L − l D . As forças na extremidade da viga e no limite

das regiões B e D (leque) são respectivamente iguais a:

zs
RsA = N (1 − ) + 0,5V cot υ (5.12a)
z

Vl B
RsB = + RsA (5.12b)
2z

A obtenção do trecho plastificado usa a Equação (5.11a), se a força


Rsy = As1 f yk for superior a RsB , com o que a zona plastificada está dentro do leque,

ou da Equação (5.11b), em caso contrário. Assim, tem-se:

l pl Rs max − Rsy
ay = = 0,5l D se Rsy ≥ RsB (5.13a)
2 Rs max − RsB

l pl Rsy − RsA
ay = = 0,5( L − l B ) se Rsy ≤ RsB (5.13b)
2 RsB − RsA
182

Estas equações foram deduzidas para as grandezas b0 (largura da

placa) e cot υ não simultaneamente nulas, e serão utilizadas tanto no método


simplificado, quanto no mais rigoroso, para a determinação da capacidade de
rotação plástica.

5.3 Determinação Simplificada da Capacidade de Rotação Plástica

Estabelecida a extensão l pl = 2a y da zona plastificada e admitindo-

se a lei constitutiva do aço como bilinear com encruamento, de inclinações dadas


pelos módulos de elasticidade E s ( = 200GPa ) no trecho elástico e de encruamento

E sh no trecho plástico, de valor

ft − f y
E sh = (5.14)
ε su − ε sy

resulta, com ε s 2 = ε s ( x) e σ s 2 = σ s ( x) :

σ s ( x) − f yk Rs ( x) − Rsy
ε s ( x) − ε sy = = (5.15)
E sh As1 E sh

Da Equação (5.1b), após integrar, decorre a capacidade de rotação plástica:

2δ σ l ( Rs max − Rsy ) 3
θ pl = (1 − sr1 ) D se Rsy ≥ RsB (5.16a)
3(d − xu ) f yk As1 E sh Rs max − RsB

e se Rsy ≤ RsB

δ σ sr1 l B ( RsB − Rsy )


2
1 lD
θ pl = (1 − ) [ (2 Rs max − 3Rsy + RsB ) + ] (5.16b)
d − xu f yk As1 E sh 3 2 ( RsB − RsA )
183

Do diagrama momento-curvatura obtém-se a tensão σ sr1 , o valor xu

da profundidade da LN e a distância z entre os banzos comprimido e tracionado, a


força Rs max e o correspondente momento último, M u , na seção central da viga

equivalente. De M u decorre a carga última aplicada na viga, Qu , e desta a força

cortante Vu = 0,5Qu :

4M u 1 2M u 1
Qu = e Vu = (5.17a) e (5.17b)
L b L b
(1 − 0 ) (1 − 0 )
2L 2L

Deve-se ter em mente que a extensão plastificada da viga (l pl = 2a y )

é, a rigor, aproximada, pois a posição da força do início do escoamento não


corresponde à posição da deformação de escoamento. Isto só ocorreria se, por
acaso, a distância a y fosse um múltiplo do espaçamento médio das fissuras, s rm . No

item seguinte esta solução será comparada com a solução mais rigorosa.
Pode-se obter uma expressão ainda mais simples para a capacidade
de rotação plástica nos casos em que são desprezíveis a largura da placa de apoio
bem como o efeito da força cortante (i. e., b0 = 0 e cot υ = 0 ). Conforme a Fig. 5.4, o

comprimento do trecho plastificado na metade do vão resulta igual a:

l pl L My
ay = = (1 − ) (5.18)
2 2 Mu

e a capacidade de rotação plástica, conforme a Fig. 5.4c, é dada por:

1 1
θ pl = a y [( ) um − ( ) ym ] (5.19a)
r r

e, de acordo com a Fig. 5.4b, tem-se finalmente:

Mu − M y L (M u − M y ) 2
θ pl = a y = (5.19b)
( EI ) pl 2( EI ) pl Mu
184

M
L/2 Qu
Mu
My (EI) pl
1
N N
M cr
My
Mu
N = cte
M cr
ay
M0
(1/r) m
(a) Momento fletor
(1/r)crI (1/r)ym (1/r) um
(1/r)cr,m II

(1/r)cr,m II
(1/r)ym (b) Rigidez na fase plástica

(1/r) um

Área = θpl / 2
(c) Curvatura média

Fig. 5.4: Determinação simplificada da capacidade de rotação plástica.

As grandezas M u , M y e ( EI ) pl são obtidas do programa momento-

curvatura. Embora nesta Fig. 5.4 tenha sido pressuposto escoamento da armadura
tracionada, as equações anteriores podem ser usadas para os casos em que isto
não ocorre, especialmente nos pilares cintados (como se mostra adiante),
substituindo-se o momento do início do escoamento, My, por aquele

correspondente à deformação ε c1 (ou ε cc1 ) na borda mais comprimida, i. e., M ε c1 (ou

M ε cc1 ).

5.4 Determinação Rigorosa da Capacidade de Rotação Plástica

A lei tensão de aderência-deslizamento, τ b (s ) , descrita com mais

detalhes no item 3.1.1 do MC-90, foi dada no item 3.2, pelas equações (3.8), a
185

seguir repetidas. Neste texto só se consideram barras nervuradas e concreto sem


confinamento (ruptura por fissuração longitudinal à barra):

s
τ b = τ b max ( )α 0 ≤ s ≤ s1 (5.20a)
s1

s − s1
τ b = τ b max − (τ b max − τ bf )( ) s1 ≤ s ≤ s 3 (5.20b)
s3 − s1

τ b = τ bf s ≥ s3 (5.20c)

onde α = 0,4 , s1 = 0,6mm e τ bf = 0,15τ b max . Para zonas de boa aderência s3 = 1mm ,

τ b max = 2 f ck , para as demais zonas s3 = 2,5mm , τ b max = f ck , com f ck em MPa. As

grandezas referentes ao deslizamento, s1 e s3 , e as referentes à resistência, τ b max e

τ bf , devem ainda ser multiplicadas pelo fator definido pela Equação (5.31).

Para a formulação do problema, considere-se a viga equivalente da


Fig. 5.5, sujeita à carga Q no centro do vão. Dados o espaçamento médio das

fissuras e o diagrama da força no banzo tracionado para Q = Qu , obtém-se a

distância a y correspondente à posição da força Rsy através de uma das Equações

(5.13).
O número de fissuras, J F , em cada metade da viga, incluída a
central, e o número de subelementos, J E , a examinar são dados por:

ay
J F = INT ( )+2 (5.21)
s rm

J E = J F −1 (5.22)
186

srm
Q x ∆x

b0
N 1 2 3 j2 j2+1 Øs jb+1
j1 = 1, 2, ..., JE
no do sub-elemento PDN
3 2 1
0,5Q zf = 1, 2, ..., JF
4 3 2 1
no da fissura
sr m sr m sr m zf+1 zf
(a) (c) Sub-elemento j1
lB/2 lD/2
+
L/2 εs r , zf+1 = εs,1 εs r , zf = εs, jb+1

ay(Q = Qu)
(d) Deformação (ou Tensão) na armadura
RsA Q = Qy
Rsy RsB Rs max +
Q = Qu -
(b) (e) Tensão de aderência

szf
+
szf+1 -
(f) Deslizamento

Fig. 5.5: Dados para o cálculo da rotação plástica; (a) Numeração das fissuras e dos
subelementos, (b) Força no banzo tracionado, (c) Subelemento, repartição em intervalos iguais e
numeração dos pontos internos, (d) a (f) Grandezas a serem determinadas.

Em cada fissura z f = 1,2,..., J F são calculadas a tensão e a

deformação da armadura, σ sr, z f e ε sr, z f , a partir da força Rs e da lei constitutiva do

aço, para duas etapas: Q(i = 1) = Qu , e Q(i = 2) = Q y .

Cada subelemento j1 = 1,2,..., J E é subdividido em segmentos de


mesmo comprimento ∆x = s rm jb , sendo jb o número de segmentos (30 a 40), os

quais determinam os pontos onde se calculam as grandezas em questão (Figs. 5d,


e, f).
Considerando-se no subelemento dois pontos sucessivos, j 2 e
j 2 + 1 , do equilíbrio deste trecho resulta o acréscimo de tensão na armadura, cf.
Equação (3.5):
187

∆x
∆σ sj 2, j 2+1 = 4 τ bj 2, j 2 +1 (5.23)
φs

onde τ bj 2, j 2 +1 é a tensão média de aderência entre estes dois pontos:

τ bj 2 + τ bj 2+1
τ bj 2, j 2+1 = (5.24)
2

e este valor tem de ser estimado de início.


Observe-se que são negativos o deslizamento e a correspondente
tensão de aderência à esquerda do ponto de deslizamento nulo (PDN), Figs. 5e, f.
A tensão na armadura no ponto j 2 + 1 é igual a:

∆x
σ sj 2 +1 = σ sj 2 + ∆σ sj 2 , j 2 +1 = σ sj 2 + 4 τ bj 2, j 2+1 (5.25)
φs

valor que permite obter a deformação neste ponto pela lei constitutiva do aço:

ε sj 2+1 = ε s (σ sj 2 +1 ) (5.26)

O acréscimo no deslizamento entre os mesmos pontos é dado por:

ε sj 2 + ε sj 2 +1
∆s j 2, j 2+1 = ∆x (5.27)
2

com o que se obtém o deslizamento no ponto j 2 + 1 :

ε sj 2 + ε sj 2+1
s j 2+1 = s j 2 + ∆s j 2, j 2+1 = s j 2 + ∆x (5.28)
2

e deste valor, através da lei τ b (s ) , a tensão de aderência no ponto j 2 + 1 :


188

τ bj 2+1 = SGN ( s j 2+1 )τ b [ ABS ( s j 2 +1 )] (5.29)

Logo, o novo valor da tensão média de aderência entre os pontos j 2 e j 2 + 1 é:

τ bj 2 + τ bj 2+1
novoτ bj 2, j 2+1 =
2

e deve ser comparado com o anterior, até a seguinte tolerância:

ABS (novoτ bj 2, j 2+1 − antigoτ bj 2, j 2+1 ) ≤ τ b max 10 6 (5.30)

Para esta tolerância a convergência é conseguida rapidamente, com 2 a 4 iterações.


Como se disse antes, os parâmetros de resistência e de
deslizamento que aparecem na lei τ b (s ) são afetados pelo fator:

d j2
β dj 2 = 0,2 ≤1 (5.31)
φs

onde d j 2 é a distância do ponto considerado à fissura correspondente. Para pontos

j 2 à esquerda e à direita do PDN, respectivamente, têm-se:

s rm ( j 2 − 1) j −1
d j 2 = ( j 2 − 1) e d j 2 = s rm − s rm = (1 − 2 ) s rm (5.32a) e (5.32b)
jb jb jb

Os parâmetros mencionados passam a ser β dj 2τ b max , β dj 2τ bf , β dj 2 s1 e β dj 2 s3 .

Para atender às condições de contorno do subelemento


considerado, observe-se que a tensão de aderência no ponto 1 é nula, e que a
deformação na fissura z f + 1 , ε sr , z f +1 , a mesma do ponto 1, é dada. Com isto a

deformação do último ponto do subelemento, a mesma na fissura z f , à direita do

PDN, é posta em função do deslizamento s z f +1 do primeiro ponto do subelemento,


189

na fissura à esquerda do PDN, ou seja, F ( s z f +1 ) = ε s , jb +1 . O deslizamento s z f +1

procurado é aquele para o qual a deformação deste último ponto do subelemento


iguala-se à deformação conhecida na fissura, ε sr, z f . A função F pode então ser

alterada para a seguinte:

F ( s z f +1 ) = ε s , jb +1 − ε sr , z f (5.33)

A raiz desta função é determinada pelo Método Modificado da Falsa Posição, ou


Regula Falsi. Ver Conte e Boor (1981). Admite-se como tolerância uma das duas
condições seguintes, a que se der primeiro (ε já multiplicado por 1000, e m é o
número da iteração):

ABS[ F ( s z f +1 )] < ε sr , z f / 10 4 (5.34a)

ABS (ε sm, +jb1+1 − ε sm, jb +1 ) < 5 10 5 (5.34b)

Atendida uma destas tolerâncias ficam determinadas as grandezas


do subelemento considerado, a saber, ε s (x) , σ s (x) , τ b (x) e s (x) . O número de

iterações, para as tolerâncias acima, é grande (cerca de 5 a 25).


Este cálculo é feito para as duas etapas mencionadas, i. e., para
i = 1 faz-se Q(1) = Qu , e para i = 2 faz-se Q(2) = Q y . Conhecidos os deslizamentos

s em cada extremo de um subelemento, resulta a rotação em cada fissura. Na


central tem-se a rotação:

2 × s (i,1, jb + 1)
θ (i,1) = (5.35)
d − x(i )

e nas demais fissuras, onde há plastificação da armadura para a primeira etapa,


resulta:
190

− s (i, j1 − 1,1) + s (i, j1 , jb + 1)


θ (i, j1 ) = (5.36)
d − x(i )

Nestas equações o numerador é a abertura da fissura considerada, ao nível da


armadura, cf. Equação (5.2). A soma destas rotações é :

J F −1
θ (i ) = θ (i,1) + 2 ∑θ (i, j1 ) (5.37)
j1 = 2

e a capacidade de rotação plástica resulta igual a:

θ pl = θ (1) − θ (2) (5.38)

Nas Equações (5.35) e (5.36) x(i ) é a profundidade da LN na seção

central, e assume os valores correspondentes a Qu para i = 1 e a Q y para i = 2 .

Observe-se que, em geral, a inclinação υ do campo de compressão (mas não a das


fissuras, supostas já estabilizadas) é distinta para estes dois carregamentos.
Pressupõe-se neste item, como no anterior, que a peça esteja
adequadamente dimensionada à força cortante. Também se admite que as
armaduras longitudinal e transversal (estribos verticais) - esta última se houver -
sejam constantes em todo o vão da viga equivalente. A influência do espaçamento
dos estribos sobre o espaçamento médio das fissuras, não necessariamente iguais,
não está considerada (ver o item 3.3).
A Fig. 5.6 mostra as curvas da capacidade de rotação plástica em
função da taxa mecânica da armadura do banzo tracionado ω 1 = As1 f y (bhf cm ) , para

uma viga de seção retangular, obtidas com os métodos rigoroso e simplificado


descritos. Os dados básicos desta figura são os seguintes: Geometria:
b / h / d = 300 / 600 / 540mm , L / d = 6 , b0 = 150mm , cot υ = 1,20 ; Concreto: lei parábola-

retângulo, ε c1 = −0,2% e ε c ,lim = −0,5% , f cm = 43MPa (tensão de pico), f ck = 35MPa ,

f ct ,5% = 2,14 MPa ; Aço: lei bilinear com encruamento, ε su = 8% e f t f y = 1,1 ,


191

f y = 500 MPa . Os diâmetros da armadura são crescentes com a taxa mecânica de

forma escalonada, e variam de 8 a 25 mm.

70

60
θ pl
(mrad)
50

40 Mét. Rig.: má aderência


Mét. Rig.: boa aderência
30 Mét. Simplificado

20

10

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4
Taxa Mecânica da Armadura

Fig. 5.6: Curvas θ pl (ω 1 ) obtidas pelos métodos rigoroso e simplificado. Flexão simples, armadura
simples, CA-50.

Como se vê na Fig. 5.6, esta comparação vem muito a favor do


método simplificado, que dá resultados próximos daqueles do método rigoroso,
considerando-se má aderência, até ω 1 ≅ 0,15 . A partir deste valor as diferenças são
irrelevantes. Não é de se estranhar que ambos os métodos sejam quase
coincidentes, pois a lei σ s (ε sm ) deduzida por Kreller decorre da lei τ b (s )

aproximadamente igual à do MC-90. Destes resultados também se pode notar a


surpreendentemente pequena diferença entre as curvas de boa e de má aderência.
Esta diferença não ultrapassa 18% para o caso examinado nesta figura.
A função θ pl (ω 1 ) obtida tem o aspecto em forma de tenda,

usualmente encontrado nos textos da área. Entretanto, nesta figura a inclinação do


campo de compressão foi admitida constante, independente da tensão tangencial e
igual à inclinação das fissuras ( cot υ = 1,20 , υ = υ r = 40º ). Quando nesta função é
considerada a influência da força cortante, crescente com a taxa mecânica (υ
192

constante e igual a 90º para fissuras verticais, e υ crescente a partir da taxa


correspondente a τ r1 ), obtêm-se resultados diferentes.

60

θ pl
(mrad) 50
cotv = f(w )
cotv=0
40
cotv=1,2

30

20

10

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4

Taxa mecânica da armadura

Fig. 5.7: Capacidade de rotação plástica cf. método rigoroso, para cot υ função da taxa mecânica da
armadura. (Indicam-se também as curvas de υ = 90º ou cot υ = 0 e υ = 40 º ou cot υ = 1,2 ).

Tabela 5.2: Resultados do programa para comparação entre os métodos rigoroso e simplificado, má
aderência, cot υ = função(ω 1 ) .

θ pl θ pl
τ r1 τ 0 ε sr ,1 Núm.
ω1 / φ s 2a y L fiss. cot υ u (mrad ) (mrad )
(MPa) ( 0 / 00 ) plastif. Mét. Mét.
rigor. simpl.
0,015 / 8 0,661 / 0,266 80 0,103 1 0 10,39 7,90
0,025 / 10 0,784 / 0,446 80 0,107 3 0 14,05 14,61
0,035 / 10 0,876 / 0,625 80 0,109 3 0 17,54 17,68
0,045 / 10 0,953 / 0,801 76,40 0,106 3 0 18,82 18,19
0,050 / 12,5 0,987 / 0,879 64,73 0,094 3 0 15,22 14,38
0,060 / 12,5 1,049 / 1,045 57,29 0,086 3 0 12,77 12,38
0,075 / 12,5 1,130 / 1,285 44,35 0,071 3 0 7,67 8,47
0,10 / 16 1,244 / 1,691 32,80 0,271 9 3,040 27,21 26,90
0,125 / 16 1,340 / 2,096 25,55 0,237 9 3,085 17,57 19,01
0,15 / 20 1,424 / 2,499 20,60 0,198 7 2,728 12,67 13,10
0,20 / 20 1,567 / 3,314 14,09 0,138 5 2,078 5,34 6,50
0,25 / 25 1,688 / 4,116 10,45 0,106 5 1,819 2,87 3,77
0,30 / 25 1,794 / 4,924 7,93 0,083 3 1,677 1,51 2,25
0,40 / 25 1,974 / 6,540 4,71 0,049 3 1,527 0,15 0,69
193

Na Fig. 5.7 representam-se as curvas θ pl (ω 1 ) , conforme o método

rigoroso, escolhendo-se a inclinação do campo de compressão em função da taxa


mecânica. Na Tabela 5.2 dão-se os correspondentes resultados do programa,
incluídos os do método simplificado. Até um certo valor de ω 1 , determinado adiante
na Fig. 5.9, têm-se somente fissuras verticais, e a capacidade de rotação plástica
segue a curva correspondente a cot υ = 0 . Acima desse valor a tensão tangencial
(última), τ 0 , supera o valor τ r1 , Equação (5.10), correspondente a um quadro de
fissuração inclinada totalmente desenvolvido, e há um salto na curva. Este salto é
aqui considerado para valores de τ 0 > τ c, M + N − . Nesta figura indica-se novamente a

curva θ pl (ω 1 ) da Fig. 5.6 para cot υ = 1,2 , com o que fica visível a diferença entre

ambos resultados.
Os resultados, considerando-se a inclinação do campo de
compressão em função da taxa mecânica da armadura, i. e., cot υ = função(ω 1 ) ,
mostram concordância com a representação qualitativa de Bachmann (1967), dada
na Fig. 5.8. Observe-se antes que a um aumento da taxa mecânica corresponde um
aumento da carga aplicada Qu e, portanto, da tensão tangencial (última), τ 0 . Nesta

figura τ 1 é o valor da tensão tangencial a partir do qual surgem as fissuras


inclinadas. Ver a Tabela 5.3 ( β w é a resistência cúbica do concreto). Bachmann

indica também as várias formas de ruptura que podem afetar a capacidade de


rotação plástica, a saber:

(1) nos banzos, esmagamento do concreto ou ruptura da armadura,


(2) na alma, esmagamento do concreto ou ruptura do estribo, e
(3) perda de aderência da armadura longitudinal.

Tabela 5.3: Valores de τ 1 f c , cf. Bachmann (1967).


( f c ≅ 0,87 β w )

β w ( MPa) 20 30 40 ≥ 50
τ 1 (MPa) 0,8 1 1,2 1,4
τ1 fc 0,046 0,038 0,035 0,032
194

θcr

Ruptura do concreto da alma

τ1 ∼5 τ 1 τ

Rótula plástica de flexão : Rótula plástica de flexão e de força


ruptura do concreto do cortante: ruptura da armadura
banzo comprimido ou da longitudinal ou dos estribos, ou
armadura do banzo destruição da aderência da armadura
tracionado. longitudinal.

Fig. 5.8: Representação qualitativa do ângulo crítico da rótula plástica em função da tensão de
cisalhamento em rótulas de flexão e de flexão e força cortante, cf. Bachmann (1967).

A sua explicação para a Fig. 5.8 é a seguinte:

“...conforme o valor de τ formam-se rótulas de flexão ou de flexão e de força


cortante. Nas de flexão as deformações plásticas concentram-se tanto mais
em uma zona pequena quanto maior for τ . De acordo com isso diminui a
rotação crítica ao romper a armadura ou o concreto. Se a tensão tangencial
for suficientemente grande para gerar fissuras inclinadas, então as
deformações plásticas estendem-se a uma zona significativamente maior.
Apesar da variação mais rápida do momento solicitante, desenvolvem-se
deformações plásticas em um número maior de fissuras, com o que a
rotação da rótula pode crescer consideravelmente, até a ocorrência de uma
dentre as várias formas de ruptura”.

A Fig. 5.9 mostra as funções τ 0 (ω1 ) e τ r1 (ω 1 ) , bem como

0,75τ r1 (ω 1 ) . Através das interseções destas duas últimas curvas com a primeira
195

determinam-se as taxas mecânicas para as quais há, respectivamente, 95% e 5%


de probabilidade de fissuração inclinada. Para uma taxa mecânica situada neste
intervalo as fissuras inclinadas podem ou não estar presentes. Como a tensão
tangencial para a qual há fissuração inclinada está sujeita a dispersão,
possivelmente o melhor a fazer no projeto, pelo menos em vigas, é limitar
inferiormente a taxa mecânica de modo a corresponder a τ r1 , com o que nas seções
críticas examinadas resultam obrigatoriamente somente rótulas de flexão e de força
cortante, quer dizer, rótulas com fissuras inclinadas.

2,5

2
Tensão Tangencial (MPa)

1,5 Tau-0
Tau-r1
1 0,75*Tau-r1

0,5

0
0 0,05 0,1 0,15

Taxa Mecânica da Armadura

Fig. 5.9: Determinação das taxas mecânicas correspondentes a 0,75τ r1 e a τ r1 .

Observa-se que há maiores discrepâncias entre ambos os métodos


para baixas taxas mecânicas (detectadas em outro caso até ω 1 ≅ 0,045 ), e para
baixos quocientes f t f y (p. ex., 1,05), pois então o número de fissuras com

plastificação da armadura é pequeno, por vezes igual a 1. O problema aqui está na


distância a y que dá a posição de Rsy , mas não corresponde à extensão plastificada

(na realidade, menor que 2a y ), e esta distância cai com f t f y .


196

5.5 Variação Paramétrica

Mostra-se a seguir a influência dos parâmetros mais importantes na


capacidade de rotação plástica, através do modelo rigoroso desenvolvido no item
anterior, com o que se pretende deixar mais visíveis os seus efeitos. Toma-se como
referência os dados básicos da viga da Fig. 5.6, com alterações indicadas nas
demais figuras. Note-se, entretanto, que para facilitar o trabalho do calculista as
normas representam θ pl em função da profundidade relativa da LN no ELU, x d ,

para o que bastaria transformar a taxa mecânica aqui utilizada naquela do ELU, igual
a ω 1d = As1 f yd ( 0,85 f cd bd ) para seção retangular, valor do qual decorre x d . Com os

dados da Fig. 5.6 tem-se ω 1d = 1,96ω 1 e, grosso modo, x d ≅ 2,5ω 1 . Ver o item 5.8,

Equações (5.50) a (5.52).

90
80
θ pl 70
(mrad)
60
cotv=2,75
50
cotv=1,20
40
cotv=0,18
30
20
10
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4
Taxa Mecânica da Armadura

Fig. 5.10: Influência da inclinação do campo de compressão na capacidade de rotação plástica.

Na Fig. 5.10 está representada a função θ pl (ω 1 ) para três valores do

ângulo de inclinação do campo de compressão, independentemente do valor da


tensão tangencial, como foi feito na Fig. 5.6. Estes valores são iguais a υ = 20º ,40º
197

e 80º , correspondentes a cot υ = 2,75, 1,20 e 0,18 , respectivamente. Nesta figura fica

ainda mais evidente a regularidade das curvas θ pl (ω 1 ) , se o ângulo υ for constante

e desacoplado do nível da solicitação tangencial τ 0 = V bw z . O ramo ascendente é

praticamente linear, e nele o aço atinge sua deformação última. A ascendência pode
ocorrer porque: (1) A posição da força Rsy , dada por 2a y / L , é quase constante; (2)

O espaçamento médio das fissuras decai com a taxa mecânica. Este espaçamento
pode ser calculado pela expressão do EC-2, Equação (3.49). Logo, o número de
fissuras com plastificação da armadura no mesmo segmento a y pode aumentar; (3)

Mais importante que isto, e mesmo que este número não aumente (como se vê na
Tabela 5.2), há aumento da curvatura com ω 1 , porquanto na seção central é
constante a deformação na armadura até que seja atingida a deformação limite do
concreto, com o que cresce a rotação plástica. O ponto de máximo da função
θ pl (ω 1 ) corresponde à máxima curvatura possível na seção central, quando ambos

materiais atingem simultaneamente suas deformações últimas. A partir deste


máximo θ pl (ω 1 ) decai (quase) hiperbolicamente, e há ruptura do concreto. Ainda

quanto ao trecho desta curva correspondente à ruptura do aço, observa-se que este
pode se apresentar na forma de um patamar, ao invés de uma curva ascendente,
conforme se mostra adiante nas Figuras 5.14, 5.31 e 5.32,. Ver o item 5.9.
A influência da deformação limite (ou nominal) do concreto sobre a
capacidade de rotação plástica está mostrada na Fig. 5.11, para ε c lim = − 0,35% ,

− 0,5% e − 0,7% . Observe-se que os ramos ascendentes seguem a mesma evolução


para as três deformações, pois o aço rompe antes do concreto, e há aumento em
θ pl para maiores encurtamentos do concreto. O encurtamento − 0,5% é

freqüentemente mencionado por diversos pesquisadores, como já dito no item 4.2


(3), e produz rotações plásticas bem maiores que − 0,35% , um valor muito
conservativo para efeito de deformabilidade do concreto em peças hiperestáticas.
Qualitativamente, o valor − 0,7% (ou outro maior em módulo) pode representar o
confinamento do concreto por estribos fechados, ou pode, ainda, mostrar o efeito da
fluência do concreto sobre a rotação plástica, embora a fluência não-linear nas
198

proximidades da ruína seja pouco conhecida e tampouco a carga permanente


realmente aumenta 40% ou 50% seu valor característico, para este efeito.

80

70
θ pl
(mrad) 60

50

40

30

20

10

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4
Taxa Mecânica da Armadura

-0,35% -0,50% -0,70%

Fig. 5.11: Influência da deformação limite do concreto na capacidade de rotação plástica.

70

60
θpl
(mrad)
50

40

30

20

10

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4
Taxa Mecânica da Armadura

L/d = 4 L/d = 6 L/d = 8

Fig. 5.12: Influência da esbeltez sobre θ pl , altura útil d = cte .

A influência da esbeltez, L d , sobre θ pl (ω 1 ) está mostrada na Fig.

5.12, novamente considerando-se constante a inclinação do campo de compressão,


igual a 40º . Nesta figura manteve-se a altura útil da viga e variou-se o vão. Quanto
199

maior este, maior é a extensão plastificada, pois M u e M y são os mesmos para

uma mesma taxa mecânica, donde maiores rotações plásticas.

25

θ pl 20
(mrad)
15 w1 = 0,10
w1 = 0,15
10
w1 = 0,20
5

0
0 5 10 15

Esbeltez L/d

Fig. 5.13: Capacidade de rotação plástica em função da esbeltez.

Na Fig. 5.13 está mostrada a função θ pl ( L d ) para taxas mecânicas

crescentes, e nela se vê um desenvolvimento quase linear. Não se mostra nesta


figura a aproximação recomendada pelo MC-90 para o cálculo da capacidade de
rotação plástica a partir daquela obtida com L d = 6 , a saber, θ pl = θ pl , L / d =6 L (6d ) ,

pois ela é praticamente coincidente com as curvas indicadas. Entretanto, esta


simplificação é válida no ramo descendente, para taxas mecânicas acima daquela
correspondente a τ r1 , e não deve, em princípio, ser generalizada, especialmente se
a inclinação do campo de compressão υ for considerada variável com ω 1 .
Na Fig. 5.14 estão mostradas as influências do espaçamento médio
das fissuras, s rm , e do diâmetro φ s da armadura do banzo tracionado, aqui mantidos

constantes e independentes da taxa mecânica. A aderência mobilizada pela


armadura entre duas fissuras sucessivas é afetada pelo fator 4 φ s , Equações (3.5) e

(5.23). Assim, um aumento no diâmetro da armadura equivale a uma queda da


aderência, com o que resultam no banzo tracionado deformações médias maiores, e
com isso maiores rotações. O mesmo ocorre se houver queda do espaçamento
200

médio das fissuras. (Igual efeito também têm as barras lisas, não consideradas
aqui). Note-se, ainda, o erro que se pode cometer na deformabilidade da peça ao
confundir-se o espaçamento médio das fissuras (p. ex., s rm = 150mm ) com o

espaçamento dos estribos (p. ex., igual a 300mm ).

100
90
θ pl 80
(mrad) 70
60
50
40
30
20
10
0
0 0,1 0,2 0,3
Taxa Mecânica da Armadura
s rm = 150 mm ds = 25 s rm = 300 mm ds = 25
s rm = 150 mm ds = 12,5 s rm = 300 mm ds = 12,5

Fig. 5.14: Influências do espaçamento médio das fissuras e do diâmetro da barra em θ pl .

Para mostrar de forma mais clara a influência da resistência do


concreto sobre θ pl , escolhe-se na Fig. 5.15 a taxa geométrica da armadura,

ρ s = As1 bd , como variável, para os dois concretos aí indicados. Em igualdade de

taxas geométricas, as taxas mecânicas têm a seguinte relação: ω 1, f cm = 28 ω 1, f cm =58 ≅ 2 ,

com o que as profundidades das LNs também mantêm, aproximadamente, esta


relação. Logo, no ramo hiperbólico, sendo a deformação limite do concreto a mesma
para ambas resistências, têm-se menores curvaturas ( 1 r = − ε c lim x ) para o de

menor resistência, e com isso menores rotações plásticas.


Na Fig. 5.16 esta mesma capacidade é posta em função da taxa
mecânica da armadura. Fica evidente que esta variável é muito adequada para
representar θ pl , e que um concreto de resistência f ck = 35 MPa pode substituir com
201

boa aproximação todos os concretos na faixa 20 a 50 MPa , pelo menos no ramo


descendente.

70
θ pl
(mrad) 60
50

40

30

20

10

0
0 1 2 3 4 5

Taxa Geométrica da Armadura (%)

fck = 20 MPa fck = 50 MPa

Fig. 5.15: Capacidade de rotação plástica em função de ρ s para fck=20 e 50 MPa.

70

60
θ pl
(mrad) 50

40

30

20

10

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4
Taxa Mecânica da Armadura

fck = 20 MPa fck = 50 MPa

Fig. 5.16: Capacidade de rotação plástica em função de ω 1 para fck=20 e 50 MPa.


202

130
120
110
θ pl
(mrad) 100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4
Taxa Mecânica da Armadura

ft / fy = 1,30 ft / fy = 1,10 ft / fy = 1,05

Fig. 5.17: Capacidade de rotação plástica para f t f y variável, ε su e f y ctes.

Um parâmetro que exerce grande influência sobre a rotação plástica


é o dado pelo quociente f t f y , que juntamente com a deformação última ε su e a

resistência f y ao escoamento do aço, representam o grau de encruamento da

armadura e sua ductilidade (capacidade de dissipação de energia). As normas fixam


os valores característicos (quantil de 5%) destas grandezas para uso no projeto. Mas
geralmente têm-se nas estruturas valores superiores de f t f y , o que corresponde a

resistências e deformabilidades excedentes em relação às previstas no projeto. Isto


está mostrado qualitativamente na Fig. 5.17. Mantendo-se constantes ε su e f y , o

momento e a força cortante últimos crescem com f t , com o que se tem zona

plastificada de maior extensão. Assim, p. ex., para o aço CA-50 a NBR 7480/1996
especifica ( f t f y ) k = 1,1 e, indiretamente, ε su = 8,275 % (igual à deformação plástica

medida em 10φ s após a fratura da barra, 8% , somada à parcela elástica f t E s , cf.

Tabela 2.3). Se na realidade este quociente for 1,3 , p. ex., a capacidade de rotação
plástica aumenta muito. Na mesma figura, considerando-se este quociente igual a
1,05 , um valor que pode representar, como aproximação, os aços com patamar de
escoamento (embora na seqüência deste haja um trecho curvo com encruamento),
203

têm-se não apenas extensões plastificadas menores, como menores também são as
deformações médias da peça. Quer dizer, a plastificação avança pouco dentro do
subelemento. Com isto, tem-se menor capacidade de rotação plástica, como
mostrado nesta figura.

70

θ pl
60
(mrad)
50

40

30

20

10

0
0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35

Taxa mecânica da armadura

As2 / As1 = 0 As2 / As1 = 0,25 As2 / As1 = 0,50 As2 / As1 = 1

Fig. 5.18: Influência da armadura dupla sobre a capacidade de rotação plástica.

Na Fig. 5.18 mostra-se o efeito parcialmente favorável da armadura


dupla. Dada uma seção transversal, com resistências e armaduras definidas, tem-se
na ruptura uma correspondência biunívoca entre a profundidade da LN e a taxa
mecânica da armadura. Assim, existe um valor da taxa mecânica da armadura para
o qual a profundidade relativa da LN é exatamente igual à profundidade relativa da
armadura superior. Com isso a deformação nessa armadura na ruptura é nula, e é,
então, indiferente sua presença ou ausência na seção transversal. Na Fig. 5.18 esta
taxa é determinada pelo ponto por onde passa o feixe de curvas θ pl (ω 1 ) de

parâmetros As 2 As1 , sendo As 2 a área da armadura superior . Acima desta taxa a

armadura superior está comprimida e seu efeito sobre a capacidade de rotação


204

plástica é favorável, como se vê no exemplo pelo seu expressivo aumento para


ω 1 > 0,125 . Para valores abaixo da mencionada taxa a armadura superior está
tracionada e, em relação à curva de armadura simples, diminui a deformação da
armadura inferior, com o que há queda na rotação plástica (com exceção de taxas
muito pequenas). Um resultado semelhante está dado no trabalho de Graubner
(1988). Ver também o Boletim 239 do CEB (1997). Entretanto, nesse trabalho é
considerada no lugar da capacidade de rotação plástica a curvatura máxima na
seção transversal em função da taxa mecânica.
A influência desfavorável da força normal de compressão na
capacidade de rotação plástica está mostrada na Fig. 5.19, para três forças normais
relativas, a saber, ν = N ( A0 f cm ) = 0 , − 0,10 e − 0,20 . Os dados desta figura são os

mesmos da Fig. 5.6, mas aqui a armadura é simétrica, de posições y s1 h = 0,1 e

y s 2 h = 0,9 . Nesta figura usou-se o método rigoroso, considerando-se

cot υ = função(ω 1 ) , como na Fig. 5.18.

40

35

θ pl 30
(mrad)
25

20

15

10

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5

Taxa Mecânica da Armadura do Banzo Tracionado

N / (Aofcm) = 0 N / (Aofcm) = -0,10 N / (Aofcm) = -0,20

Fig. 5.19: Influência da força normal de compressão na capacidade de rotação plástica, para
armadura simétrica.
205

Em presença de uma força de compressão há alteração na forma de


ruptura, já para baixas taxas de armadura. Ao invés de romper a armadura, o
concreto atinge antes seu encurtamento limite. Simultaneamente há queda do
alongamento da armadura e da curvatura. A força cortante aumenta, pois há
aumento do momento resistente (até a força normal ν bal 2 , Fig. 4.8b), mas seu efeito

só aparece com mais intensidade quando há fissuras inclinadas. O efeito conjunto


das forças normal de compressão e cortante leva a uma diminuição da distância a y .

As quedas na curvatura e na extensão plastificada reduzem a capacidade de rotação


plástica. Deve-se notar ainda que, a partir de um certo valor da taxa mecânica, as
forças nas duas camadas da armadura são praticamente iguais, com o que o
concreto resiste quase que a toda a força normal aplicada. Disto resulta que a
profundidade da LN também é quase constante. Sendo fixa a deformação limite (a
do concreto), tem-se capacidade de rotação plástica aproximadamente constante,
como se pode ver na Fig. 5.19. Conforme explicado adiante, na Fig. 5.29, em caso
de análise no ELU, a força normal a usar na determinação de θ pl é a mesma do

dimensionamento, N d , mas as resistências correspondem aos valores médios (ou

característicos). Com isso, a Fig. 5.19 representa praticamente todos os pilares em


questão, cuja armadura sofre escoamento e têm capacidade de rotação plástica
significativa, compatível com a das vigas de um mesmo pórtico, se a taxa mecânica
for escolhida adequadamente.
Neste problema foi observada uma discrepância relativamente maior
entre os métodos rigoroso e simplificado, por causa da queda na distância a y em

relação ao caso de força normal nula.


Como a influência da força normal de compressão faz com que a
deformação limite atingida seja a do concreto, só se consegue aumentar a
ductilidade da peça através do cintamento do concreto. Ver o item 5.7.
Menciona-se, por fim, a influência da placa de apoio. Conforme a
Tabela 5.2, calculada com b0 = 150mm , tem-se a rotação 18,82mrad para a taxa

ω 1 = 0,045 . Esta rotação passa a ser 25,73mrad , se a largura da placa dobrar. Há,
com isso, um aumento de quase 40% na capacidade de rotação plástica para esta
taxa. Aumentos de mesma ordem de grandeza ocorrem, neste exemplo, em todos
206

os casos em que não há fissuração diagonal. Nesta mesma tabela, para taxas
mecânicas ω 1 ≥ 0,10 , quando a fissuração diagonal está presente, a capacidade de
rotação plástica praticamente não se altera.

5.6 Comparação entre Resultados Teóricos e Experimentais

Mostra-se a seguir a comparação entre os resultados teóricos e


experimentais obtidos em três séries de ensaios. Na primeira, consideram-se cinco
dentre sete resultados decorrentes de ensaios de lajes contínuas, realizados por
Eligehausen e Fabritius, CEB 218 (1993). A segunda série de ensaios, realizados
por Sigrist e Marti (1993), refere-se a quatro vigas I (T1 a T4) de concreto armado
(das quais só se examinam aqui as três primeiras) de um total de seis (duas
protendidas, T5 e T6). Na terceira série, têm-se os ensaios de Bosco e Debernardi,
CEB 218 (1993), em vigas isostáticas de seção retangular, das quais só se
consideram as de altura h = 400mm e sujeitas a uma única carga concentrada.
Os mencionados ensaios de Eligehausen e Fabritius, cf. a Fig. 5.20,
referem-se a lajes contínuas de dois vãos, carregadas simetricamente com duas
cargas concentradas por vão, e armadas com telas soldadas, de mesma área nos
vãos e no apoio interno ( ρ s = As bd = 0,3% ).

Como se vê nesta figura, todos os testes têm como apoio central


uma viga I metálica, com exceção do teste 4.1, no qual a laje apoia-se numa viga
transversal de concreto, de largura 200 mm. São dadas a distância entre pontos de
momentos nulos ( L d = 11 ) e as características da armadura (Tabela 5.4). O
concreto tem resistência f cm = 65,1MPa . No cálculo adota-se o diagrama parábola-

retângulo e fixa-se ε c lim = −0,4% ; além disso, admite-se boa aderência. As

inclinações das fissuras (verticais) e do campo de compressão valem υ = υ r = 90º . O


espaçamento médio das fissuras ( s rm = 123,8mm ), utilizando-se a expressão do EC-

2, Equação (3.49), é quase igual à metade do espaçamento da armadura transversal


que compõe a tela ( 125mm ).
207

P/2 P/2 P/2 P/2


1m 2m 2m 1m

4m 4m

(a) Geometria e carregamento

viga metálica viga de concreto


200 mm
200 mm

(b) Apoio central T1.1, T2.0, T2.1, T6.1 (c) Apoio central T4.1

Tela 90 / 250 / 7,5 / 6

As = 0,30 x 550 x 161/100 =


265,6 mm2
h = 180 mm d = 161 mm

b w = 550 mm

(d) Seção do apoio central

Fig. 5.20: Dados dos ensaios de Eligehausen e Fabritius, CEB 218 (1993).

Tabela 5.4: Dados da armadura do apoio central.

Teste 1.1 2.0 2.1 4.1 6.1


f y (MPa) 508 602 594 598 615
f t (MPa) 555 639 642 644 650
ft f y 1,093 1,061 1,080 1,077 1,057
AG ( 0 / 00 ) 49 42 33 35 34
A10 ( 0 / 00 ) 120 109 96 91 93
0,5 × ( AG + A10 ) ( / 00 ) 0
84,5 74,5 64,5 63 63,5
ω = As f y (bdf cm ) 0,0234 0,0277 0,0274 0,0276 0,0283
208

Toma-se como deformação última do aço a média entre Ag e A10 (a primeira é a

deformação plástica correspondente ao pico da curva carga-deformação da barra


nua ensaiada, a segunda é a deformação plástica residual medida na distância igual
a 10φ s , após a ruptura). A taxa mecânica, dada na Tabela 5.4, é muito baixa e varia

entre 0,0234 e 0,0283 , de modo que a ruptura da seção crítica ocorre pelo aço. Para
efeito de comparação toma-se a média das rotações plásticas medidas,
correspondentes ao colapso da laje ( θ pl , f ) e a 95% do máximo momento fletor no

apoio, no ramo descendente da curva M (θ ) , ( θ pl ,95% ). Os resultados dados na

Tabela 5.5 referem-se à seção do apoio central. Dela conclui-se que há


concordância muito boa entre a teoria e os experimentos, exceto no teste 4.1, isto
porque no apoio central formaram-se duas fissuras com plastificação da armadura,
uma em cada interface laje-viga de concreto, ao passo que a teoria acusou
plastificação em uma só fissura, na central, o que também ocorreu nos demais
testes.

Tabela 5.5: Resultados teóricos e experimentais (Eligehausen e Fabritius, CEB 218 (1993)).

M u ,teor M utest ,P max M u ,teor θ pl ,teor (θ pl ,95% + θ pl , f ) θ pl ,teor


θ pl ,u =
Teste (KNm) (KNm) M utest , P max (mrad ) 2 θ pl ,u
(mrad )
1.1 23,10 22,6 1,022 23,25 0,5x(18,8+30,1)=24,45 0,95
2.0 26,53 30,2 0,878 18,76 0,5x(20,0+22,2)=21,10 0,89
2.1 26,61 27,3 0,975 18,16 0,5x(15,5+15,9)=15,75 1,15
4.1 26,71 28,6 0,934 17,15 0,5x(21,8+28,3)=25,05 0,68
6.1 26,95 25,3 1,065 15,26 0,5x(15,8+20,6)=18,20 0,84

Nestes ensaios é interessante mencionar as seguintes conclusões


dos autores:

(1) A pretendida redistribuição de momentos fletores ( 28,5% ) em relação à


solução elástica foi conseguida.
209

(2) A redistribuição de momentos deveu-se a duas parcelas distintas: a


primeira, cerca de 60% , refere-se à fissuração mais pronunciada sobre o
apoio central comparada com a do vão; a segunda provém do
alongamento plástico da armadura. Com isso fica evidente também
experimentalmente que a redistribuição de solicitações é um problema
de rigidez relativa e de plastificação, como não pode deixar de ser.
(3) Como já mencionado no item 4.2 (3), a rotação θ pl ,95% é cerca de 40 a

100% maior do que a rotação plástica correspondente ao pico da curva


experimental M (θ ) .

800 800

140 155
30
ys(i)

M 400 440
800
Banzo comprimido
50

180 205

220 220

400 400

(a) Ensaio (b) Cálculo

Fig. 5.21: Seção transversal das vigas ensaiadas por Sigrist e Marti (1993) e seção adotada no
cálculo.

Nos ensaios de Sigrist e Marti têm-se vigas isostáticas com dois


vãos, um interno (9,60m) carregado com carga uniformemente distribuída, e outro
em balanço (3,50m) , com uma carga concentrada na sua ponta. Todas as vigas têm
mesma seção transversal (Fig. 5.21).
A capacidade de rotação plástica é determinada na seção crítica do
apoio vizinho ao balanço, através de uma viga bi-apoiada equivalente, de esbeltez
l / d = 8 , com d = 725mm . O talão comprimido (inferior) tem armadura transversal
210

igual a φ10c / 100mm , mais os estribos da alma, de diâmetro 12mm e espaçamentos


iguais a 100mm (T1), 200mm (T2 e T4) e 300mm (T3). As armaduras longitudinais
estão indicadas na Tabela 5.6.
A largura da placa de apoio é igual a 240mm . O banzo tracionado
contém barras de diferentes diâmetros, mas mantém o número total de barras, igual
a 16. Por isso, toma-se o diâmetro equivalente igual a

As1
φ s ,eq =

para o cálculo do espaçamento médio das fissuras, através da expressão do EC-2. A


área efetiva de concreto é igual à área do talão tracionado ( 800 × 155mm 2 ). A
resistência do concreto é f c = 45MPa , e as deformações limites admitidas no cálculo

são iguais a − 8 0 / 00 (mesmo valor adotado na comparação teórica feita por Sigrist

(1995)) e − 9,5 0 / 00 . Estes encurtamentos são elevados por causa do forte cintamento

do talão comprimido. Além disso, na T3 o destacamento do cobrimento de concreto


desse banzo deu-se para o encurtamento − 9,2 0 / 00 . Para o aço têm-se

f t f y = 600 / 500MPa e ε su = 100 0 / 00 .

Tabela 5.6: Dados da armadura e espaçamento médio das fissuras.

Banzo tracionado (superior) Banzo comprimido (inferior)


As1 y s1 φ s,eq s rm s rm As 2 ys2 As 3
y s3 As 4 ys4
Viga (mm 2 ) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm ) (mm) (mm ) (mm) (mm ) (mm)
2 2 2

(teoria) (teste)
1,2 7025 75 23,6 91,7 100
308 588 308 645 616 762
3 3645 75 17 107,8 100

Nessas vigas a taxa mecânica da armadura do banzo tracionado


(0,14 na T3 e 0,269 nas T1, 2 e 4) é tal que há influência da força cortante (fissuras
inclinadas), e a ruptura dar-se-ia pelo concreto do banzo comprimido, se a força
cortante fosse desconsiderada. Nas T2 e T4 o esmagamento do concreto da alma
211

precedeu o do banzo comprimido, mas esta última forma de ruptura, na T2, estava
prestes a ocorrer. Com isso, exclui-se desta comparação também a T4. Os
resultados teóricos, admitindo-se boa aderência, estão dados na Tabela 5.7.

Tabela 5.7: Resultados teóricos para encurtamentos limites iguais a − 8 0 / 00


e − 9,5 0 / 00 (em parênteses).

Viga Qu θ pl υu Número de
fissuras
( KN ) (mrad ) plastificadas

1637 20,3 30º 11


1,2
(1649,8) (28,3) (30º ) (13)

958,2 65,9 20,3º 17


3
(971,2) (88,9) (20,7 º ) (19)

Como se vê nesta tabela, as inclinações do campo de compressão


da teoria, para fissuras com inclinação υ r = 40º , indicaram 30º nas T1 e 2 e 20,3º na
T3. A média destes ângulos, 25º , é exatamente o valor considerado por Sigrist.

Tabela 5.8: Resultados teóricos e experimentais (Sigrist e Marti (1993)).

Ensaio Qu ,teor Qu ,test Qu ,teor θ pl ,teor θ pl ,test θ pl ,teor


(KN ) (KN ) Qu ,test (mrad ) (mrad ) θ pl ,test
T1 1643 1602 1,03 28,3 40 0,71
T2 1643 1560 1,05 28,3 23 1,23
T3 965 962 1,00 88,9 95 0,94

A Tabela 5.8 mostra lado a lado os resultados teóricos e


experimentais da carga última e da capacidade de rotação plástica. Para a primeira
grandeza tomou-se a média dos valores da Tabela 5.7 e para a rotação os valores
correspondentes ao maior encurtamento. Por esta comparação, vê-se que a
concordância entre a teoria e os testes pode ser considerada satisfatória,
212

especialmente porque aqui há influência da força cortante, ao contrário da primeira


série, em que as fissuras são praticamente verticais. Como no caso predomina a
ruptura do concreto, a capacidade de rotação plástica mostra-se bastante sensível
ao encurtamento limite adotado.
Na terceira série de ensaios, os autores Bosco e Debernardi
registraram os resultados de 44 vigas, dos quais só se examinam aqui os relativos à
seção b × h = 200 × 400mm 2 e com uma única carga concentrada (no centro do vão).
A esbeltez da viga L h é igual a 10. Para a largura da placa adota-se b0 = 100mm .

São considerados dois tipos de aço, denominados A (alta ductilidade) e B


(ductilidade normal). As vigas têm denominação T4 a T7, seguida das letras A ou B
conforme o aço, e do número 1, o que indica tratar-se de ensaios com uma única
carga no vão. As armaduras usadas estão resumidas na Tabela 5.9. Observe-se que
o diâmetro da armadura do banzo tracionado é o mesmo para todas as oito vigas. A
armadura transversal é igual a φ 6c / 200mm .

Tabela 5.9: Dados da armadura.

Armadura tracionada Armadura comprimida As1 As1


y s1 ys2 ρs =
Vigas
As1 As 2 bh
(mm 2 )
(mm) (mm) (% )
T4A1 e B1 2φ12 35 2φ10 355 0,28 226
T5A1 e B1 4φ12 35 2φ10 355 0,57 452
T6A1 e B1 8φ12 40 2φ10 355 1,13 904
T7A1 e B1 12φ12 50 2φ12 355 1,70 1360

As rotações plásticas foram determinadas, nos ensaios, de três


maneiras distintas:

θ pm é a rotação plástica correspondente ao pico da curva M (θ p ) , e decorre

da integral da diferença das curvaturas médias (1 rm − 1 rym ) no trecho

plastificado, medidas no ensaio.


213

θ pu é a rotação plástica última, correspondente a 90% do máximo momento,

medida no ramo descendente da curva M (θ p ) , antes da ruptura. Quando

esta ocorrer primeiro, usa-se a rotação correspondente.

θ pf = 4 (δ ftot − δ y ) L é a rotação plástica calculada a partir da diferença das

flechas medidas no centro do vão, entre o início do escoamento da


armadura e a ruptura da viga.

Estas duas últimas rotações diferem pouco entre si. Na comparação feita adotou-se
a menor delas. A primeira rotação é bem menor que θ pu e θ pf , exceto nas vigas

T4A1 e T5A1.

Tabela 5.10: Resultados experimentais e teóricos, aço A.

Ensaio Teoria

Qu ,exp θ pm θ pu θ pf Qu ,teor θ pl ,teor


Núm.
fiss.
Viga (mrad ) (mrad ) (mrad ) (KN ) υu Qu ,exp Qu ,teor
(KN ) (mrad ) plastif
.
T4A1 58,07 148,2 179 165 54,53 52,63 5 90º 1,065
T5A1 108,23 124,5 146,5 144 100,64 27,53 5 90º 1,075
T6A1 201,55 17,6 41 48 178,89 40,85 15 9,9º 1,127
T7A1 223,32 2 7,4 10 240,75 6,43 7 21º 0,928

Tabela 5.11: Resultados experimentais e teóricos, aço B.

Ensaio Teoria

Qu ,exp θ pm θ pu θ pf Qu ,teor θ pl ,teor Núm.


Viga (mrad ) (mrad ) (mrad ) (KN ) (mrad ) fiss. υu Qu ,exp Qu ,teor
(KN ) plastif.
T4B1 53,79 22,3 31,2 35 51,96 14,80 3 90º 1,035
T5B1 107,70 30,2 47,8 51 99,46 17,38 3 90º 1,083
T6B1 199,84 26,5 54,5 50 179,87 33,33 13 10º 1,111
T7B1 239,72 3,7 5,5 8 242,67 4,96 7 21º 0,988
214

Os parâmetros do aço A são os seguintes:


f t f y = 672,2 MPa 587,3MPa = 1,15 , ε su = 66,5 0 / 00 , e os do aço B são iguais a:

f t f y = 641MPa / 595,6MPa = 1,076 e ε su = 43,3 0 / 00 . Para o concreto tem-se

f c = 27,8MPa , encurtamento limite igual a − 8 0 / 00 (Sigrist considera dois

encurtamentos limites, − 6 0 / 00 e − 8 0 / 00 ), e boa aderência. O vão da viga é igual a

4m . Ver as Tabelas 5.10 e 5.11, e as Figuras 5.22 e 5.23.


Nestas tabelas e figuras pode-se observar que:

(1) A relação entre as cargas experimental e teórica, Qu ,exp Qu ,teor , mostra

concordância muito boa.


(2) Nas vigas 6 e 7 com fissuras (teoricamente) inclinadas, há concordância
relativamente boa entre as rotações plásticas teórica e experimental.
Desvio maior ocorre na viga 6B1, mas sua rotação plástica calculada
situa-se entre θ pm e θ pf .

(3) Nas vigas com baixas taxas geométricas de armadura (T4 e T5),
entretanto, há diferenças consideráveis entre as rotações plásticas
experimental e teórica. Como aqui há predominância de grandes
deformações no aço, isto sugere que seus parâmetros não estão bem
representados na teoria. O mesmo ocorre com a deformação limite do
concreto. Além disso, uma alteração no número de fissuras com
plastificação, relativamente menor do que nas vigas 6 e 7, produz uma
significativa alteração na rotação plástica. Também uma simples
alteração na inclinação do campo de compressão (de 90º para 60º , p.
ex.) aumenta a rotação plástica teórica, e aproxima os resultados.
(4) Note-se um fato interessante captado pelo modelo teórico nas vigas 4 e 5
(duas e quatro barras), a saber: o sinal da derivada da rotação plástica
em relação à taxa geométrica, dθ pl dρ s , é o mesmo na teoria e no

ensaio, negativo para o aço A, e positivo para o aço B.


215

180
160

θ pl
140
120
(mrad)
100
80
60
40
20
0
0 2 4 6 8 10 12 14

Nº de barras φ 12mm no banzo tracionado

Teoria T4A1, T5A1, T6A1, T7A1

Fig. 5.22: Resultados teóricos e experimentais, aço A, ensaios de Bosco e Debernardi, CEB 218
(1993).

60

θ pl 50

(mrad) 40

30

20

10

0
0 2 4 6 8 10 12 14

Nº de barras φ 12mm no banzo tracionado

Teoria T4B1, T5B1, T6B1, T7B1

Fig. 5.23: Resultados teóricos e experimentais, aço B, ensaios de Bosco e Debernardi, CEB 218
(1993).

Destas comparações destacam-se dois pontos importantes: o


primeiro refere-se à necessidade de uma representação precisa das leis
constitutivas dos materiais, o segundo diz respeito à necessidade de uma definição
216

convencional da capacidade de rotação plástica a partir de ensaios, especialmente


nas estruturas hiperestáticas.

5.7 Capacidade de Rotação Plástica de Pilar Cintado

O critério de plastificação Mohr-Coulomb, mostrado no item 2.5, do


qual resultaram a resistência e a correspondente deformação do concreto confinado,
dadas pelas Equações (2.55) e (2.56) respectivamente, pressupõe tensões de
confinamento constantes ao longo da superfície lateral do corpo de concreto nas
duas direções principais e ortogonais à direção da carga aplicada. Isso dificilmente
se consegue nas peças lineares de concreto, em particular nos pilares. O
confinamento lateral do concreto axialmente comprimido é obtido através de estribos
fechados nas seções retangulares, e de estribos circulares ou de espiras nas seções
circulares.
Além de confinar o concreto com um certo grau de eficiência a
armadura transversal nos pilares tem outras funções, a saber:

(1) resistir à força cortante,


(2) impedir a flambagem das barras longitudinais da armadura comprimida, e
(3) estruturar o esqueleto da armadura para permitir seu correto
posicionamento nas formas durante a concretagem.

No que segue estima-se a capacidade de rotação plástica de pilares


cintados, tomando-se como exemplo uma seção transversal quadrada. Para isso é
essencial obter a lei constitutiva do concreto confinado e sua deformação limite.
Como mostrado na Fig. 2.2, para tensões acima de (0,75a 0,80) f c , o

concreto comprimido axialmente sofre uma expansão lateral suficientemente grande


para levar a armadura transversal à plastificação. As forças transmitidas pelos
estribos ao concreto têm distribuição espacial em forma de arco (uma parábola do
segundo grau), tanto em planta, ao nível do estribo, quanto em elevação, entre dois
estribos sucessivos. Ver a Fig. 5.24.
217

bi / 4
b0

b0

bi

concreto não confinado ( f c )


(a) Seção transversal (b) Forças nos estribos e no
concreto

concreto confinado ( f cc )

f cc
fc
s

b 0 - s/2

s/4 s/ 4

(c) Vista lateral

Fig. 5.24: Efeito do cintamento em pilar de seção quadrada.

Considerando-se em planta a distância b0 entre eixos extremos dos

estribos, a área do núcleo de concreto é, cf. Fig. 5.24, Ac 0 = b02 . Ao nível do estribo

tem-se a área de concreto efetivamente confinado igual a

1 n 2
Ac 0 − ∑ bi
6 1

onde n é o número de arcos ( ≥ 4 ) em planta, igual ao número de barras


longitudinais. A área relativa efetivamente confinada em planta é dada pelo fator:

1 n 2
Ac 0 −
6 1
∑ bi 8
αn = = 1− (5.39)
Ac 0 3n
218

onde as distâncias bi foram admitidas constantes e iguais a 4b0 n .

Desprezando-se no cálculo da área efetivamente confinada em


elevação a redução de Ac 0 ao nível do estribo, resulta à meia distância entre dois

estribos sucessivos a seguinte área relativa efetivamente confinada em elevação:

s
(b0 − ) 2
αs = 2 = (1 − s ) 2 (5.40)
Ac 0 2b0

A área final efetivamente confinada, considerados os dois efeitos, é


igual a:

Acc = α nα s Ac 0 (5.41)

com o que a seção mais fraca do pilar é a situada à meia distância entre dois
estribos sucessivos. Pondo-se a resistência equivalente da seção de área Ac 0 igual

a K s f c , tem-se:

Ac 0 K s f c = ( Ac 0 − Acc ) f c + Acc f cc

ou, usando-se (5.41):

f cc
K s = 1 + α nα s ( − 1) (5.42)
fc

onde a segunda parcela representa o ganho de resistência devido ao confinamento.


O fator K s , conforme Sheikh e Uzumeri (1982), é dado por:

α nα s ρ stV f y
Ks = 1+ (5.43)
0,14 f c
219

onde as resistências estão em MPa, e ρ stV é a relação entre os volumes do estribo e

do núcleo de concreto entre dois estribos sucessivos, igual a (Fig. 5.24):

28 Ast1
ρ stV = (5.44)
3 b0 s

sendo Ast1 a área de uma barra transversal.

parábola do 2º grau

σcc ( εcc ) : concreto confinado


- fcc = -Ks f c
-0,85 fcc

- fc
σc( εc ) : concreto não confinado
-0,30 fcc
εcc, εc
εc1 εcc1 εcc2 εcc85 εcclim
εcsp
σcc, σc

Fig. 5.25: Lei tensão-deformação do concreto confinado, cf. Sheikh e Uzumeri (1982).

O diagrama σ cc (ε cc ) do concreto confinado proposto por Sheikh e

Uzumeri é o da Fig. 5.25, e para construí-lo são necessários quatro parâmetros: K s

de (5.43), ε cc1 , ε cc 2 , ε cc85 . As três deformações indicadas nessa figura são dadas por:

ε cc1 = −80 × 10 −6 × K s f c (5.45)

248 s 2 ρ stV f y
ε cc 2 = ε c1 [1 + (1 − 5 2 )] (5.46)
bi b0 fc

b0
ε cc85 = −[0,225 ρ stV − ε cc 2 ] (5.47)
s
220

com bi em mm , tensões em MPa e ε < 0 .

Para o cálculo da rotação plástica é preciso conhecer ainda a


deformação limite do concreto confinado. Esta é determinada, conforme Mander et
al. (1988), por uma igualdade de energia no instante em que há a primeira fratura do
estribo. O aumento de energia de deformação por unidade de volume na ruptura
(área hachurada da Fig. 5.25) só pode provir da capacidade de energia de
deformação da armadura de confinamento. Igualando-se a energia de deformação
última da armadura transversal por unidade de volume do núcleo confinado de
concreto, U sh , à diferença de áreas sob as curvas σ cc (ε cc ) e σ c (ε c ) dos concretos

confinado e não-confinado, U cc − U c 0 , somada à energia necessária para manter

plastificada a armadura longitudinal comprimida, U sl , obtém-se a seguinte equação,

onde a única incógnita é a deformação limite ε cc lim :

U sh = U cc − U c 0 + U sl

ou

ε su ε cc lim ε c , sp ε cc lim
ρ stV Ac 0 ∫ σ s dε s = Ac 0 ∫ σ cc dε cc − Ac 0 ∫ σ c dε c + ρ slV Ac 0 ∫ σ s dε s (5.48)
0 0 0 0

sendo ρ slV o quociente entre o volume da armadura longitudinal e o volume do

concreto do núcleo:

nAsl1
ρ slV = (5.49)
Ac 0

onde Asl1 é a área de uma barra longitudinal, ε c, sp é a deformação correspondente à

destruição do cobrimento da armadura, tomada simplificadamente igual a 2ε c1 .


A seguir estas equações são aplicadas à seção transversal da Fig.
5.24, com os seguintes dados:
221

Concreto: f c = 25MPa , ε c1 = −2,2 0 / 00

Aço bilinear com encruamento: f t f y = 550 500 MPa , ε sy = 2,5 0 / 00 ,

ε su = 80 0 / 00

Armadura transversal: Estribos φ10c / 100mm , Ast1 = 80mm 2

Armadura longitudinal: Asl = 12φ 25 = 6000mm 2 , n = 12 , Asl1 = 500mm 2

Das equações (5.39), (5.40), (5.43) e (5.44) resultam


respectivamente: α n = 0,778 , α s = 0,81 , K s = 1,492 e ρ stV = 1,493% . Portanto, a

resistência do concreto confinado é igual a f cc = K s f c = 1,492 × 25 = 37,3MPa . De

(5.49) resulta ρ slV = 6000 500 2 = 2,4% . As deformações que compõem a lei σ cc (ε cc ) ,

cf. equações (5.45) a (5.47), são iguais a ε cc1 = −3 0 / 00 , ε cc 2 = −7,2 0 / 00 e

ε cc85 = −14,7 0 / 00 . O valor da deformação correspondente à tensão de pico do

concreto não-confinado, ε c1 = −2,2 0 / 00 , está dado no trabalho de Sheikh e Uzumeri.

Para este concreto admite-se uma parábola do segundo grau, donde


ε c , sp = 2ε c1 = −4,4 0 / 00 .

Nas integrais que seguem tomam-se as tensões e deformações em


valor absoluto, e estas últimas multiplicadas por mil:

ε su f y ε sy ft + f y J
10 3 ρ stV ∫ σ s dε s = ρ stV [ + (ε su − ε sy )] = 616,8 × 10 9
0
2 2 m3

ε cc lim 2 0,15 (ε cc lim − ε cc 2 ) 2


10 3 ∫ σ cc dε cc = K s f c [ ε cc1 + (ε cc lim − ε cc1 ) − ]=
0 3 ε cc 85 − ε cc 2 2

J
= [−37,3 + 37,3ε cc lim − 0,373(ε cc lim − 7,2) 2 ] × 10 9
m3

ε c , sp 2 J
10 3 ∫ σ c dε c = f c ε c , sp = 73,3 × 10 9 3
0 3 m
222

ε cc lim f y ε sy E sh
10 3 ρ slV ∫ σ s dε s = ρ slV [ + f y (ε cc lim − ε sy ) + 10 −3 (ε cc lim − ε sy ) 2 ] =
0 2 2

J
= [−15 + 12ε cc lim + 0,00774(ε cc lim − 2,5) 2 ] × 10 9
m3

Estes resultados substituídos em (5.48) levam à solução


ε cc lim = −15,56 0 / 00 ≅ −15 0 / 00 .

Fixada a lei constitutiva σ cc (ε cc ) obtém-se o diagrama momento-

curvatura tão logo seja dada força normal. Para simplificar o problema despreza-se o
cobrimento da seção. Conforme a Fig. 5.24, têm-se quatro camadas de armadura
com os seguintes dados:

i y si (mm) Asi (mm 2 )


1 17,5 2000
2 184,2 1000
3 315,8 1000
4 482,5 2000

Para esta seção transversal não há escoamento da armadura em


N bal 2
tração a partir de N bal 2 = −8221,3KN , ou ν bal 2 = = −0,882 . Com os dados da
b02 K s f c
Fig. 5.26 e escolhendo-se N = −8392,5 KN , obtêm-se do programa momento-
curvatura os seguintes resultados (Ver a Fig. 5.4):

( EI ) pl = 9,83 × 1012 Nmm 2

Mu xu 10 3 h
µu = = 0,1809 , = 0,8376 e ρu = ( ) u = 17,91
b0 K s f c
3
h r

M ε cc1 xε cc1 10 3 h
µ ε cc1 = = 0,1180 , = 1,0758 e ρ ε cc1 = ( ) ε cc1 = 2,79
b03 K s f c h r
223

2
N = - 0,9 b 0 K s f c =
-8392,5 KN

l = 3000 mm
V

trecho sem
cintamento
l / 2 = 1500 mm

Diagrama de folga
M εcc1
momento fletor ay
Mu

Fig. 5.26: Pilar cintado.

O trecho plastificado do pilar, cf. Fig. 5.26, é igual a ( com L ≡ l ):

L M ε cc1 0,1180
ay = (1 − ) = 1500 × (1 − ) = 0,348 × 1500 = 521,6mm
2 Mu 0,1809

valor aproximadamente igual à altura da seção. Aplicando-se a Equação (5.19b),


obtém-se a capacidade de rotação plástica do pilar:

a y ( M u − M ε cc1 ) 521,6 (0,1809 − 0,1180)


θ pl = = × 500 3 × 37,3 = 7,8 × 10 −3 rad = 7,8mrad
2 ( EI ) pl 2 9,83 × 10 12

ou de outro modo, através da Equação (5.19a):

a y 10 3 h 10 3 h 521,6
θ pl = [( )u − ( ) ε cc1 ] × 10 −3 = (17,91 − 2,79) × 10 −3 = 7,9 × 10 −3 rad = 7,9mrad
2h r r 2 × 500

No trabalho de Watson et al. (1994) é dada uma expressão do


comprimento equivalente do trecho plastificado. Este comprimento, igual a

L p = 0,08 L0 + 6φ sl
224

é o lado do retângulo de altura e área iguais à do triângulo hachurado da Fig. 5.4.


Logo, L p = a y 2 . No caso tem-se, com L0 = l 2 e φ sl = 25mm :

ay
L p = 0,08 × 1500 + 6 × 25 = 270mm ≅ = 261mm
2

O valor da capacidade de rotação plástica, obtido neste exemplo


para uma força de compressão bastante alta, mostra a eficiência do cintamento em
aumentar a ductilidade de um pilar, e tem a mesma ordem de grandeza das rotações
que ocorrem nas vigas (nestas tem-se aproximadamente o dobro). Note-se ainda
que o cintamento não é necessário em toda altura do pilar (ver a Fig. 5.26). No
trecho sem cintamento, o pilar, agora com a seção completa, deve ter momento
resistente superior a M ε cc1 , e não deve apresentar encurtamentos superiores a ε c1

( − 2,2 0 / 00 no exemplo). Isso pode ser conseguido ajustando-se as dimensões

externas da seção do pilar. Observe-se, por fim, que o presente exemplo só cuidou
da determinação da capacidade de rotação plástica, sem examinar o
dimensionamento do pilar cintado.

5.8 Considerações Adicionais

Comentam-se neste item alguns aspectos relacionados com a


determinação da capacidade de rotação plástica, os quais complementam a teoria
exposta nos itens anteriores.
Na determinação da rotação plástica admitiu-se uma viga
equivalente simétrica, e isso não é o que ocorre em geral. A seguir indica-se como
obter a capacidade de rotação plástica nos casos de pórticos planos e de vigas
equivalentes assimétricas. A Fig. 5.27 mostra o trecho extremo de uma viga contínua
de um pórtico plano.
225

Fissuras 1 a 3 :
armadura
plastificada

5 4 3 2 1

M=0 V

L / 2 = distância da face do pilar à seção de M = 0

Q = 2V

b 0 (pequeno)
V V
L

θpl = θpl, viga eq - θpl2 - θpl3

Fig. 5.27: Capacidade de rotação plástica para o caso de pórtico plano. Exemplo com três fissuras
plastificadas.

O programa elaborado para determinar a capacidade de rotação


plástica calcula esta grandeza a partir das rotações de cada fissura com plastificação
da armadura. Quer dizer, tem-se como resultado deste cálculo a rotação de cada
fissura nos dois estágios de solicitação na seção crítica, M u e M y , e, por

conseqüência, os acréscimos de rotações que ocorrem quando o momento aumenta


de M y a M u . Este fato permite estender a solução para outros casos que não o da

viga equivalente simétrica. Conforme se vê nesta figura, a seção de momento


226

a b

θpl = (θpl I + θpl II ) / 2


VI VII
b0
L

LI / 2 L II / 2

VII

VI

b 0I / 2 = b0 VI /Q

b 0II / 2 = b0 VII /Q

QI = 2VI

θpl I
VI VI
b 0I

LI

QII = 2VII

θpl II
VII VII

b 0II
L II

Fig. 5.28: Capacidade de rotação plástica em viga equivalente assimétrica.

máximo considerada é a da interface viga-pilar, e o vão da viga equivalente é o


dobro da distância desta seção ao ponto de momento nulo. Com este vão e com a
carga no centro igual ao dobro da força cortante máxima fica definida uma viga
equivalente, para a qual obtém-se a capacidade de rotação plástica e as rotações
227

plásticas nas fissuras vizinhas àquela da seção crítica. Isso permite obter a
capacidade de rotação plástica da viga de extremidade pela subtração indicada na
Fig. 5. 27. Esse procedimento pode ser também aplicado nos trechos internos da
viga contínua, com o que são necessários dois cálculos como o anterior, um para
cada segmento da viga em cada lado do pilar.
Na Fig. 5.28 mostra-se o roteiro para o cálculo da rotação plástica
quando há assimetria da viga equivalente. Conhecidas as forças cortantes nas
seções de momento nulo, em cada lado da placa de apoio, ficam definidas duas
vigas equivalentes simétricas. A rotação plástica procurada é a semi-soma das
rotações plásticas de cada uma destas vigas equivalentes.
Note-se, ainda com relação à Fig. 5.27, que a análise deve
considerar, por coerência, uma rótula plástica por lado do pilar, em cada interface
com a viga. Estas rótulas ligam-se ao eixo vertical do pilar por pequenas barras
horizontais de grande rigidez. Como a demanda e a oferta de rotação plástica
referem-se ao mesmo segmento da estrutura, não cabe aqui dividir ou multiplicar por
2 o que quer que seja. Mas se a capacidade de rotação plástica, para um trecho da
viga como o da Fig. 5.27, for lida nas curvas dadas em normas, e em seguida
dividida por 2 para considerar meia viga equivalente (ao invés de ser calculada
como indicado na Fig. 5.27), fica-se do lado da segurança. Isso porque, assim
procedendo, a rotação plástica da fissura de maior alongamento (a de número 1 na
Fig. 5.27) terá sido considerada não integralmente, mas pela metade.
Um segundo aspecto, que se comenta a seguir, refere-se à variável
usualmente escolhida para representar a capacidade de rotação plástica. Esta
variável é a profundidade relativa da LN, ξ = x d , no ELU por flexão simples, com o
que resulta a função θ pl ( x d ) tal como dada nas normas, inclusive na NBR 6118,

2000. Para conseguir isso é preciso dar um passo a mais em relação à


representação dos itens anteriores, e que é, evidentemente, a determinação da
profundidade relativa da LN. Uma vez conhecidas a seção transversal, a armadura e
as resistências dos materiais, a grandeza ξ = x d no ELU é uma propriedade da
seção. Para uma seção retangular em flexão simples, a profundidade relativa da LN
pode ser posta em função da taxa mecânica da armadura, conforme as hipóteses da
NBR 6118, 2000, item 17.1, e as equações seguintes, cf. Nascimento (1988):
228

5 ξ 2
Sub-domínio 2a: ω d = ( ) (3 − 8ξ ) se 0 ≤ ω d ≤ 1 9 (5.50)
3 1−ξ

16ξ − 1
Sub-domínio 2b: ω d = se 1 9 ≤ ω d ≤ 17 81 (5.51)
15

17 17 3,5
Domínio 3: ωd = ξ se 17 81 ≤ ω d ≤ ( ) (5.52)
21 21 3,5 + 1000ε yd

onde os adimensionais são iguais a:

As f yd
ωd = (5.53)
bd 0,85 f cd

x
ξ= (5.54)
d

f yd
ε yd = (5.55)
Es

Note-se que a variável ξ = x d do ELU não é adequada para os


casos de pilares, conforme explicado na Fig. 5.19.
Do que foi exposto até aqui, fica evidente que o controle da
demanda de rotação plástica de uma determinada seção crítica, decorrente da
análise da estrutura sob ação das cargas majoradas (pelo coeficiente de segurança
parcial γ f ), é feito em dois níveis distintos. Num primeiro nível testa-se a segurança

da seção crítica comparando-se a solicitação resistente, obtida a partir das


resistências de cálculo (resistências características divididas pelos coeficientes γ s e

γ c , a do concreto afetada ainda pelo fator 0,85 ), com a solicitação decorrente das

cargas de cálculo. Num segundo nível, calcula-se a capacidade de rotação plástica


com as resistências médias (ou características, como simplificação no projeto) dos
materiais. Ver a Fig. 5.29, onde se representa o diagrama trilinear idealizado da
229

função momento-rotação da viga equivalente. Conforme esta figura e o MC-90, item


5.4.1.2, entre os dois níveis de verificação é admitida a existência de uma afinidade,
quer dizer, o ramo M d (θ ) do Estádio 3, obtido com os valores de cálculo das

resistências, é paralelo e de mesma extensão que o correspondente ramo M k (θ ) ,

obtido com os valores característicos das resistências.

M ym
M uk N = N d = N(γf F k ) Força normal de
M yk cálculo em
M ud N = N d = N(γf F k ) ambas as curvas
M yd 3
2 Estádio 3

Estádio 2

M cr 1
M0 Estádio 1

θel θpl θ ( rotação )

Fig. 5.29: Diagrama momento-rotação da viga equivalente.

É de se notar ainda que, em caso de flexão composta e de análise


da estrutura no ELU, a força normal deve ser a mesma para ambas as curvas, e
igual ao valor de cálculo, conforme indicado nesta figura. Com esta informação
conclui-se, adicionalmente, que no ELU não há fissuração em pilares se N d < N bal 3 ,

com N bal 3 conforme a Fig. 4.8c, ou em caso contrário, se M cr > M ud .

Observe-se também que o conhecimento adicional da capacidade


de rotação plástica determina o terceiro segmento da curva M k (θ ) , e com isso a

sua inclinação. Assim, pode-se melhorar a análise estrutural, introduzindo-se na


seção crítica uma mola que só é ativada quando se inicia a plastificação. A rigidez
desta mola, infinita para momentos inferiores ou iguais ao do início do escoamento,
é (aproximadamente) constante e igual a:
230

M uk − M yk M ud − M yd
k= = (5.56)
θ pl θ pl

para momentos superiores ao do início do escoamento. Usualmente esta rigidez é


feita igual a zero para simplificar a análise, isso quando não se dispõe da inclinação
da mencionada reta, o que não é mais o caso.
No item anterior mencionou-se o comprimento equivalente da zona
plastificada em pilares. No que segue, este comprimento, agora aplicado a vigas,
entra em jogo com o intuito de obter uma estimativa mais simples da capacidade de
rotação plástica. Ver Sigrist e Marti (1994) e também o CEB 189 (1988). Assim, a
capacidade de rotação plástica é por vezes determinada como segue. De um lado,
toma-se a diferença entre as curvaturas médias da seção crítica correspondentes,
respectivamente, a uma deformação limite (no aço ou no concreto) e ao início do
escoamento da armadura tracionada; e de outro, o comprimento equivalente da
extensão plastificada é igualado à altura útil d da seção considerada.
Esta capacidade de rotação é, então, igual ao menor dos dois valores seguintes
(deformação em valor absoluto):

1 1 ε ε sym
θ pl , s = d [( ) sum − ( ) ym ] = d ( sum − ) (5.57a)
r r d − xu d − x y

se houver ruptura do aço, ou

1 1 ε ε sym
θ pl ,c = d [( ) cum − ( ) ym ] = d ( cum − ) (5.58a)
r r xu d − xy

se houver esmagamento do concreto.

Nestas equações:

ε sum é a deformação média última associada à deformação última ε su na

fissura ( ε su = 5% para o aço A do MC-90, p. ex.).


231

ε sym é a deformação média associada ao início do escoamento da armadura

tracionada na fissura ( ≅ (0,80a 0,95) f yk E s ) .

ε cum é a deformação média última (ou nominal) do concreto, o mesmo que

ε c lim deste texto, e geralmente igualada a 0,35% nestas simplificações.

xu e x y são as profundidades da LN na seção crítica correspondentes a

uma deformação limite, conforme o tipo de ruptura, e à deformação ε sy ,

respectivamente.

10 3 d
Pondo-se ρ = , as duas equações anteriores transformam-se
r
nas seguintes:

10 3 θ pl , s = ρ sum − ρ sym (5.57b)

10 3 θ pl ,c = ρ cum − ρ sym (5.58b)

quer dizer, a capacidade de rotação plástica, em mrad , vem a ser simplesmente


igual a uma diferença de curvaturas relativas médias de dois estados de deformação
distintos na seção crítica. A rigor a extensão plastificada equivalente não pode ser
tomada como constante e igual à altura útil. Esta extensão equivalente pode ser
calculada a partir da resposta do problema resolvido neste capítulo. Ver também
Riva e Cohn (1990).
Como observações finais deste item, menciona-se que:

(1) não se deve utilizar as emendas por transpasse (ou qualquer outro tipo
de emenda) nas rótulas plásticas das seções críticas previstas no
projeto, uma vez que nelas a deformação da armadura decai e sua
determinação é incerta, e
232

(2) a armadura longitudinal, nas regiões de apoio de continuidade, deve


preferivelmente ser constante, pois esta hipótese foi adotada na viga
equivalente.

5.9 A Capacidade de Rotação Plástica Segundo Normas

Comenta-se neste item a determinação da capacidade de rotação


plástica tal como dada no MC-90, no EC-2 e na NBR 6118, 2000 para uso em
projeto. Além disso, esta capacidade é examinada introduzindo-se uma segurança
na deformabilidade da viga equivalente, resultando daí uma proposta para o aço CA-
50.
No item 5.5 foram mostradas as várias influências na capacidade de
rotação plástica. Delas fica visível a grande sensibilidade desta capacidade aos
diferentes parâmetros escolhidos. Isso dificulta a comparação entre os vários
métodos teóricos. As curvas do MC-90, item 5.4.1.2, da capacidade de rotação
plástica em função da profundidade relativa da LN no ELU por flexão simples são a
seguir tomadas como referência para comparação com aquelas obtidas pelo método
rigoroso descrito no item 5.4. Estas curvas foram determinadas com os seguintes
dados, cf. Eligehausen e Fabritius (1991):

(1) Seção retangular (viga ou laje) com altura h = 300mm , em flexão simples
e armadura unilateral.
(2) Esbeltez da viga equivalente: L h = 6 .
(3) Resistência do concreto f ck = 35MPa , tanto para a tensão de pico da

curva σ c (ε c ) , quanto para a resistência de aderência, presumidamente.


Não é informado o encurtamento limite do concreto.
(4) É admitida má aderência, para reproduzir as condições dos apoios de
continuidade.
(5) A influência da força cortante é considerada a partir da fissuração
inclinada. Supõe-se aqui que esta ocorre para a condição
233

τ 0 > τ c , M = 0,04 f ck , Equação (5.9b), aproximadamente a mesma usada

por Langer.
(6) Os aços S, A e B do MC-90 têm as características dadas na Tabela 2.3.
Entretanto, é admitida a mesma resistência f yk = 500 MPa para todos

eles.
Para completar as informações que faltam, algumas são tiradas do
trabalho de Langer (1987), outras são admitidas aqui. Na obtenção das curvas pelo
método rigoroso, adotam-se os seguintes dados:

Geometria da viga equivalente: b / h / d = 540 / 300 / 270mm


L = 6d = 1620mm
b0 pl = 0 (largura da placa de apoio)

Concreto: diagrama parábola-retângulo


f ck = 35MPa (para aderência e para o ELU)

f cm = 43MPa e ε c lim = −5 0 / 00 (para a curva σ c (ε c ) )

má aderência
Inclinação do campo de compressão: cot υ = 0,5 se τ 0 ≤ τ c , M = 0,04 f ck

cot υ = 1,2 se τ 0 > τ c , M = 0,04 f ck

Diâmetro da armadura: φ s = 10mm (constante)

Espaçamento médio das fissuras: cf. Equação (3.49) do EC-2

A profundidade relativa da LN no ELU, x d , é escolhida entre 0,075

e 0,50 . Para cada x d obtém-se a taxa mecânica da armadura ω d , na situação de

cálculo, através das Equações (5.50) a (5.52). Do valor desta taxa resulta a
0,85 f cd
correspondente área da armadura As = ω d bd , sendo f cd = f ck 1,5 e
f yd

f yd = f yk 1,15 , com f ck = 35MPa e f yk = 500 MPa . Conhecida esta área, e com os

demais dados, obtém-se a capacidade de rotação plástica pelo método rigoroso.


Note-se que o diâmetro adotado independe da taxa da armadura, e
seu valor baixo maximiza o efeito da aderência, conforme explicado na Fig. 5.14. O
234

ângulo da inclinação do campo de compressão, aqui adotado igual a 63,4º antes da


fissuração inclinada, equivale a deslocar o diagrama de momento fletor de uma
quantia igual a 0,25 z , cf. Equação (5.6). Havendo força cortante não nula, este
ângulo não pode ser 90º . Seu efeito é pequeno, mas não desprezível. Para o caso
de fissuração inclinada adotou-se a inclinação do campo de compressão igual à das
fissuras na flexão simples ( 40º ). A passagem de um caso para outro dá-se para x d
pouco acima de 0,20 , para os três aços nas curvas da Fig. 5.30. Por essa razão, e a

favor da segurança, não se considerou o ponto correspondente a x d = 0,25 .

30

25 50
θ pl
(mrad) 20 θ pl 40
Aço S (mrad)
15 30 Aço S: Programa
Aço A
20 Aço S: MC-90
10 Aço B
10
5
0
0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
x/d LN no ELU
x/d LN no ELU

(a) Capacidade de rotação plástica, cf. MC-90 (b) Aço S: ( f t f y ) k = 1,15 , ε suk = 60 0 / 00

25

θ pl 20
(mrad) 12
15 θ pl Aço B: Programa
Aço A: Programa (mrad) 8
Aço B: MC-90
10 Aço A: MC-90
4
5
0
0 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 x/d LN no ELU
x/d LN no ELU

(c) Aço A: ( f t f y ) k = 1,08 , ε suk = 50 0 / 00 (d) Aço B: ( f t f y ) k = 1,05 , ε suk = 25 0 / 00

Fig. 5.30: Comparação entre as capacidades de rotação plástica do MC-90 e do método rigoroso.
Flexão simples, armadura simples, f yk = 500 MPa para os três aços.
235

Conforme se vê nesta figura, a melhor concordância é obtida para o


aço A, Fig. 5.30c. Na Fig. 5.30d, onde se representam os resultados do aço B,
observa-se que os picos das curvas ocorrem para valores muito diferentes de x d ,
enquanto nas curvas do MC-90, Fig. 5.30a, esta variável é a mesma para os aços A
e B. Este resultado do MC-90 não está coerente, pois o aço B tem uma deformação
última igual à metade da do aço A. Como o encurtamento limite do concreto é o
mesmo em todos os casos, a passagem do ramo ascendente para o descendente
tem de ocorrer para uma profundidade da LN do aço B maior que a do aço A,
equivalente a uma taxa mecânica maior. Em outras palavras, quanto menor for a
deformação última do aço, tanto mais este pico desloca-se para a direita. Este fato
está considerado no EC-2, Anexo 2, item A.2.2, para aços de ductilidade alta (A) e
normal (B). Ver a Tabela 2.3. Nesse código, no lugar dos ramos ascendentes têm-se
patamares. Os ramos descendentes destes dois aços são coincidentes, o que está
aproximadamente em acordo com os resultados aqui obtidos. Ver também Sigrist e
Marti (1994).
As maiores diferenças ocorrem para o aço S, conforme se vê na Fig.
5.30b, especialmente na faixa x d = 0,10 a 0,20 . Uma razão para as discrepâncias
destas curvas pode estar nas leis constitutivas dos aços. No presente trabalho
adotou-se a lei bilinear com encruamento, enquanto nas curvas do MC-90 é adotada
uma lei do tipo Ramberg-Osgood (presume-se a partir do mencionado trabalho de
Langer). Para esta última lei, cf. Equação (2.63), a deformação convencional do
início do escoamento é 2 0 / 00 maior do que na primeira. Outra possível razão está

nas inclinações aqui adotadas para o campo de compressão. Discrepâncias


semelhantes aparecem também em outros modelos, conforme se pode ver no
Boletim 242 do CEB (1998). De qualquer modo, as curvas do MC-90 estão a favor
da segurança, conforme observado nos diferentes trabalhos desse mesmo Boletim.
Observa-se, ainda, que a equação dada na NBR 6118, 2000, a
saber, 10 3 θ pl = 3,5 /( x / d ) , concorda no ramo descendente com a curva do aço A do

MC-90, que por sua vez concorda, no mesmo ramo, com a do EC-2 para aço de alta
ductilidade.
A questão que se coloca a seguir diz respeito a uma possível
necessidade de impor segurança no cálculo da capacidade de rotação plástica.
236

25
30
θ pl θ pl
(mrad) 25 (mrad) 20

20
Aço CA-50: má 15 Aço CA-50: má
aderência aderência
15
Aço CA-50: boa Aço CA-50: boa
aderência 10 aderência
10

5 5

0 0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5

x/d, LN no ELU x/d, LN no ELU

(a) f ck = 50 MPa (b) f ck = 35MPa

20 30

θ pl θ pl 25
Aço CA-50: má (mrad)
(mrad) 15 aderência
20
Aço CA-50, boa Aço CA-50: fck=50 MPa
aderência
10 15 Aço CA-50: fck=35 MPa
Aço CA-50: fck=20 MPa
10
5
5

0 0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
x/d, LN no ELU x/d, LN no ELU

(c) f ck = 20 MPa (d) f ck = 50 / 35 / 20 MPa , má aderência

Fig. 5.31: Capacidade de rotação plástica para três classes de concreto e aço CA-50, calculada pelo
método rigoroso com resistências f cd = f ck 1,2 , f yd = f yk 1,15 , f td = 1,1 f yd e deformações

limites ε c lim = −5 0 / 00 , ε su = 50 0 / 00 . Flexão simples, armadura simples, esbeltez L d = 6.

Isso está em desacordo com os resultados do MC-90 e do EC-2, que adotam para
as leis constitutivas do concreto e do aço, representativas da deformabilidade dos
materiais, tensões de pico sem segurança alguma, como se viu. O problema aqui é
quase o mesmo da verificação local de pilares esbeltos, discutido no item 4.5. Como
o comprimento da viga equivalente, que contém a seção crítica onde se determina a
capacidade de rotação plástica, é pequeno, se comparado com os vãos da peça em
questão, então é razoável reduzir as resistências dos materiais a valores de cálculo,
na determinação segura da capacidade de rotação plástica. Assim, a presente
questão é posta como sugestão, e não pretende ser definitiva. Os resultados obtidos
a seguir para o aço CA-50, têm por base os mesmos dados anteriores, mas com as
237

seguintes alterações: a tensão de pico da curva σ c (ε c ) do concreto é igualada a

f ck 1,2 , e para o aço faz-se f yd = f yk 1,15 e f td = ( f t f y ) k × f yd , com ( f t f y ) k = 1,1 .

Para o ELU adota-se γ c = 1,4 . Ver as Fig. 5.31 e 5.32.

25

θ pl EC-2: Aço de alta ductilidade


(mrad) 20
10^3xTeta,pl = 3,5 / (x/d) - 6 para
15 (x/d)>=0,15
Mét. Rig.: Aço CA-50, fck=20 MPa
10

0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5

x/d, LN no ELU

Fig. 5.32: Capacidade de rotação plástica, f ck = 20 MPa e aço CA-50, método rigoroso com
resistências f cd = f ck 1,2 , f yd = f yk 1,15 , f td = 1,1 f yd e deformações limites ε c lim = −5 0 / 00 e
ε su = 50 0 / 00 , má aderência. Indicam-se as curvas do EC-2 e da equação aproximada proposta.
Flexão simples, armadura simples, esbeltez L d = 6.

As Figuras 5.31a, b e c mostram a capacidade de rotação plástica


para três classes de concreto, considerando-se as duas qualidades da aderência. A
Fig. 5.31d representa as curvas destas três classes para má aderência. Nesta última
figura fica visível que, no ramo descendente, a menor capacidade de rotação
plástica resulta para o concreto de resistência f ck = 20 MPa , como esperado. Nos

ramos onde há ruptura do aço, o patamar correspondente à curva de f ck = 20 MPa

situa-se aproximadamente no meio das curvas de f ck = 35MPa e f ck = 50 MPa . Note-

se nestas curvas que a tendência de um patamar já existe para f ck = 50 MPa . Esta

tendência acentua-se para f ck = 35MPa e aparece por completo para f ck = 20 MPa .

Isso se explica como segue. No segmento da curva onde se rompe o aço, para uma
mesma profundidade da LN no ELU, tem-se menor área de aço para o concreto de
238

menor resistência. Embora a extensão plastificada seja quase constante e o


espaçamento médio das fissuras diminua com x d , há só uma fissura com
plastificação da armadura em todo o patamar, para f ck = 20 MPa . Como a

profundidade da LN, calculada com as leis constitutivas adotadas, é pequena,


resultam curvatura e rotação plástica na seção crítica praticamente constantes.
Na Fig. 5.32 repete-se a curva obtida para f ck = 20 MPa , na condição

de má aderência, bem como a do EC-2 que não contém coeficientes de segurança


nas leis constitutivas. Indica-se, também, a curva decorrente da equação aqui
proposta para representar a primeira delas, a saber:

3,5
10 3 × θ pl = −6 se x d ≥ 0,15 (5.59a)
(x d )

θ pl = 17,33mrad se x d ≤ 0,15 (5.59b)

Para uma alternativa um pouco mais segura, troca-se o limite 0,15 de separação

destas duas equações por 0,167 , com o que em (5.59b) resulta θ pl = 15mrad .

É interessante notar que no trabalho de Levi et al. (1995) há uma


proposta de redução da capacidade de rotação plástica do EC-2 quase coincidente
com a presente, mas à qual se chega por outras razões. Nessa proposta subtrai-se
5mrad da curva do EC-2, pretendendo-se com isso controlar melhor não só a maior
dispersão das características do concreto no ramo descendente, mas também o
perigo de escoamento da armadura tracionada na seção crítica, na combinação rara
das ações em serviço. Além disso, esta redução visa obter uma melhor
concordância com o coeficiente δ da análise linear com redistribuição, para o qual é
dada uma nova equação. A estas considerações pode-se acrescentar ainda que, na
capacidade de rotação plástica assim proposta para projeto, é menor o risco de
ocorrência de outras formas de ruptura, particularmente por força cortante ou por
insuficiência de ancoragem das barras da armadura longitudinal, uma vez que as
resistências dos materiais usadas na deformabilidade do elemento estrutural são
exploradas com uma margem de segurança.
6 CONCLUSÃO

Este trabalho procurou mostrar os efeitos da não-linearidade física


do concreto armado no comportamento estrutural, decorrentes da não-linearidade
constitutiva dos materiais aço e concreto, da fissuração do concreto e do
enrijecimento da armadura tracionada, especialmente na fase plástica. No que
segue, resumem-se as principais conclusões encontradas e indicam-se os pontos
que exigem aprofundamento.
A não-linearidade física do concreto em compressão uniaxial decorre
da evolução da microfissuração existente entre o agregado e a matriz da argamassa
em macrofissuração desta última. A lei constitutiva correspondente, no ramo
ascendente, é uma propriedade do material, e pode ser usada sem alteração nas
peças com gradiente de deformação. Mas o ramo descendente desta lei não é uma
característica só do material, e sua obtenção depende do sistema formado pela
máquina de ensaio e pelo corpo de prova, segundo três parcelas distintas: a própria
máquina de ensaio, cuja influência precisa ser eliminada na subseqüente dedução
teórica, uma região do corpo de prova que se descarrega elasticamente, e outra
região, de comprimento aproximadamente igual ao dobro do diâmetro do corpo de
prova, onde há localização de deformação. O encurtamento desta última supera o
encurtamento total medido no ensaio de deformação controlada, pois na descarga
há ganho de alongamento nas duas primeiras parcelas. Tomando-se a energia de
ruptura por unidade de volume como praticamente constante com a resistência do
concreto, e em igualdade do diâmetro e da esbeltez do corpo de prova, resulta uma
queda mais rápida do ramo descendente para os concretos de maior resistência, cf.
Fig. 2.7b.
Na tração uniaxial o comportamento do concreto é descrito através
de duas leis constitutivas. A primeira, praticamente linear até a resistência f ct ,

refere-se ao ramo ascendente da lei σ c (ε c ) e é uma propriedade do material. A

segunda lei, conforme o Modelo da Fissura Coesiva, descreve no ramo descendente


a relação σ c (w) entre a tensão aplicada e a abertura da fissura coesiva, grandeza
240

sempre crescente a partir do início da fissuração até a completa separação do


material, e é também uma propriedade do material (através da energia de fratura,
G F , por unidade de área da fissura, função da resistência do concreto e do diâmetro
máximo do agregado). Esta segunda lei, do tipo tensão-deslocamento, pode ser
transformada numa lei do tipo tensão-deformação, σ c (ε c ) , caracterizada pelo

módulo de amolecimento E D , dependente porém do comprimento do corpo de


prova, com o que esta lei passa a ser uma propriedade da estrutura.
Este modelo é transposto para vigas de concreto simples em flexão
simples, e com isso é possível a determinação analítica da resistência à tração na
flexão simples. Nesta resistência é fundamental o índice de fragilidade B , uma
característica do sistema estrutural, que depende do material, através de sua
resistência à tração uniaxial f ct , da energia de ruptura por unidade de área da

fissura G F , do módulo de elasticidade E , e do vão l da viga. Mais precisamente, o


índice de fragilidade depende do quociente das energias elástica acumulada no
corpo (proporcional a f ct2 l 3 / E ) e de ruptura (proporcional a G F l 2 ). Com isso fica

evidente que uma forma de diminuir a fragilidade da estrutura está em aumentar a


energia de ruptura por unidade de área da fissura, G F , o que se consegue, p. ex.,
com o uso de fibras metálicas. Note-se também que, para vigas de esbeltez
constante, a fragilidade cresce com a altura da seção transversal. A partir da solução
analítica de Sigrist, de grande simplicidade e clareza, para a obtenção desta
resistência, foi dada aqui uma solução que inclui uma condição de contorno
geométrica, Equação (2.44). Esta condição associa à abertura da fissura coesiva
não a flecha total da viga, mas a diferença entre a flecha total e a máxima flecha
elástica, i. e., aquela para a qual resulta na borda tracionada a tensão f ct . Assim, as

aberturas da fissura coesiva são algo menores, as tensões normais nela atuantes
são maiores e, portanto, algo maior é a resistência à tração na flexão. A obtenção
analítica desta resistência mostra boa concordância com a expressão dada no MC-
90, item 2.1.3.3.1, e pode ser estendida a outras formas de seção transversal, além
da retangular, incluindo-se a força normal, com o que seriam consideradas as peças
protendidas, e mesmo os pilares medianamente comprimidos. À primeira vista, as
tensões na fissura coesiva parecem tão pequenas que deveriam ser desprezadas.
241

Mas na flexão simples de vigas de concreto simples, a força de tração nela


desenvolvida pode chegar a ser praticamente igual à força de compressão,
especialmente no ponto de máximo da curva momento-deslocamento vertical na
seção central.
Na seqüência, foram descritos os critérios de resistência de Mohr-
Coulomb truncado na tração, incluindo-se o confinamento lateral do estado plano de
deformação, e o de Kupfer et al., para o concreto em estado duplo de tensão. Estes
dois critérios são simples e bastante satisfatórios para a maioria das aplicações
práticas. Estima-se, a partir deles, a resistência do concreto da alma das vigas,
geralmente sujeitas a um estado plano de tensões do tipo compressão-tração.
Para os aços utilizados nas armaduras de concreto a Tabela 2.3 dá
as características de ductilidade exigidas pela NBR 7480/1996, pelo EC-2 e o MC-
90. Com os dados disponíveis, mostra-se que o CA-50 pode ser comparável ao aço
Classe S do MC-90, de ductilidade muito alta e usado em estruturas sujeitas a
abalos sísmicos. O CA-60, por sua vez, pode ser comparável ao aço Classe A do
MC-90, de ductilidade alta. Entretanto, estas conclusões devem ser mais bem
confirmadas através de investigações experimentais para os aços nacionais,
especialmente no que diz respeito à deformação última ε su .

Quanto às características de aderência exigidas pela NBR


7480/1996, mostrou-se analiticamente que o ensaio de tirante, do qual decorre o
coeficiente de conformação superficial das barras nervuradas, cf. a NBR 7437/1982,
impõe, em condição desfavorável de tensão muito alta na armadura no estado de
utilização, uma deformação média do tirante igual a 2 0 / 00 e aberturas de fissuras

máximas entre 0,2mm e 0,4mm . Como se confirma indiretamente no capítulo 5, não


é necessário, nem desejável aumentar o coeficiente de conformação superficial das
barras nervuradas além dos valores mínimos fixados na NBR 7480/1996, pois
quanto menor este coeficiente maior é a capacidade de rotação plástica.
Para o concreto em flexão foram consideradas duas leis
constitutivas: a de Grasser e a parábola-linear, deduzida no ramo descendente da
compressão uniaxial por Sigrist (1995). Neste ramo (um tema atualmente em
pesquisa na área da Mecânica da Fratura, especialmente na flexão), limitou-se a
deformação àquela correspondente à metade da tensão de pico, cf. o MC-90. Nas
242

referidas leis, incluem-se a parábola do segundo grau e a parábola-retângulo, como


casos particulares. Esta última lei, associada à deformação limite do concreto igual a
− 5 0 / 00 ou outro valor confirmado experimentalmente, foi usada no capítulo 5, na

determinação da capacidade de rotação plástica.


No capítulo 3 descreveu-se o comportamento conjunto do concreto e
da armadura em modelo de tirante, sob os aspectos de aderência e de fissuração,
nas fases de formação e de estabilização de fissuras. Este modelo é posteriormente
transposto para as peças fletidas.
Dá-se uma solução aproximada da equação diferencial de segunda
ordem do deslizamento para o ramo ascendente da lei constitutiva tensão de
aderência-deslizamento do MC-90, Equação (3.8a), admitindo-se a armadura na
fase elástica. Esta solução é aplicada em dois exemplos, dos quais se tiram vários
resultados (para o ensaio de arrancamento na Fig. 3.5, para a fase de formação de
fissuras na Fig. 3.7), referentes ao comprimento de ancoragem, à tensão média de
aderência, ao comprimento de transmissão, à deformação média do aço nesses
comprimentos e à abertura da fissura.
Na fase de fissuração estabilizada, antes do escoamento da
armadura, mostra-se a dedução do espaçamento médio das fissuras e a lei
simplificada tensão da armadura na fissura, associada à sua deformação média, cf.
o MC-90. Esta lei é completada na fase pós-escoamento da armadura pelo seu
último ramo, decorrente do trabalho de Kreller (1989). Com isso, o fenômeno do
enrijecimento da armadura tracionada e a conseqüente deformabilidade do banzo
tracionado podem ser considerados com boa aproximação, como mostrado no
capítulo 5 através de comparação com a solução rigorosa.
Ainda conforme o mesmo autor, dão-se as expressões para a
determinação do espaçamento médio das fissuras, incluindo-se a influência do
espaçamento dos estribos. Sugere-se aqui uma alteração no cálculo do
espaçamento das fissuras para os casos em que o espaçamento dos estribos
supera três vezes o comprimento de transmissão. Entretanto, as expressões dadas
para a influência do estribo no espaçamento médio das fissuras devem ser mais
bem confirmadas por ensaios, que poderiam servir também para a determinação
experimental do enrijecimento da armadura tracionada na fase plástica, no caso dos
aços nacionais.
243

O capítulo 4 ocupa-se da determinação do diagrama momento-


curvatura na flexão composta normal, para seções em forma de duplo T assimétrico,
com várias camadas de armadura, incluindo-se o enrijecimento da armadura
tracionada. Destaca-se aqui a obtenção dos pontos principais desse diagrama, todos
eles muito úteis e necessários na determinação da deformabilidade e da resistência
da seção transversal.
Através do caso básico de seção retangular na flexão simples,
examinado no item 4.2, mostra-se que é possível dimensionar a seção a partir do
ponto de máximo do diagrama momento-curvatura, dispensando-se o uso dos
domínios de deformação. Esta mesma possibilidade também existe na flexão
composta normal, com força axial de compressão, tratada no item 4.5. Nesse caso,
os diagramas de interação momento-força normal resistentes de cálculo mostram
surpreendente proximidade com aqueles obtidos com as hipóteses tradicionalmente
adotadas. O presente enfoque permite uma transição mais clara entre pilares curtos
e esbeltos. Nas peças hiperestáticas é possível ir além desse máximo, sem queda
significativa do momento resistente. Esta possibilidade está ligada à determinação
da capacidade portante da estrutura, seja de maneira mais precisa através de
análise não-linear, seja através do conceito de deformação limite dos materiais.
Os diagramas momento-curvatura são classificados em cinco tipos,
cf. a Fig. 4.9, considerando-se a possibilidade de ocorrência da fissuração, do
escoamento da armadura tracionada, do início da plastificação do concreto
(deformação ε c1 na borda mais comprimida), do ponto de máximo antes de uma

deformação limite e do último ponto correspondente a uma deformação limite. Os


pontos correspondentes a estes eventos, e à origem do diagrama, compõem os
denominados pontos principais.
Para efeitos práticos, este diagrama pode ser linearizado em um
número de segmentos que se julgar necessário. Da linearização dos segmentos
entre os pontos principais, adotada neste trabalho, decorrem as rigidezes
correspondentes, definidas pelas inclinações dos segmentos de reta que relacionam
o momento à curvatura (média). Como a curvatura média, na fissuração estabilizada,
relaciona-se linearmente com o momento fletor, resulta que sua variação ao longo
do elemento estrutural tem o mesmo tipo de variação do momento.
244

Ressalte-se que o momento de fissuração é obtido na flexo-


compressão de maneira mais precisa que a usual, pois são consideradas as leis
não-lineares dos materiais. Com isso a rigidez dos pilares pode ser mais bem
definida em função da força normal, conforme haja ou não fissuração.
As várias comparações feitas (incluídas as do capítulo 5) confirmam
o acerto da solução dada para a obtenção do diagrama momento-curvatura. Dessa
forma o cálculo dos deslocamentos (não incluída a fluência do concreto) pode ser
feito de maneira mais precisa.
Das mencionadas linearizações decorre a rigidez à flexão, que pode
ser utilizada nos diferentes tipos de análise, descritos no capítulo 1. Para as vigas,
considerando-se a fissuração estabilizada e desprezando-se o momento de
fissuração, são dados os valores da rigidez para seção retangular, incluindo-se os
casos de armadura dupla. Conforme a Tabela 4.11 e a Fig. 4.19, a rigidez à flexão
varia na faixa (0,11a 0,95) E ci I 0 , e é crescente com a taxa mecânica da armadura e

com o quociente As 2 As1 , no caso de armadura dupla, onde As1 e As 2 são,

respectivamente, as áreas das armaduras tracionada e próxima da borda


comprimida. Esta rigidez pode também ser determinada para qualquer seção
derivada do duplo T, com várias camadas de armadura, p. ex., para as seções
celulares usadas nas pontes. Dá-se, ainda, uma expressão da rigidez à flexão de
vigas de seção retangular em flexão simples, Equação (4.76), a qual considera o
enrijecimento da armadura tracionada e dispensa a obtenção do diagrama momento-
curvatura.
Para os pilares interessam na análise principalmente os dois
primeiros segmentos do diagrama momento-curvatura, se houver fissuração, ou só o
primeiro, em caso contrário. Isso porque no ELU os momentos solicitantes de cálculo
das seções críticas são inferiores, conforme o caso, aos momentos do início do
escoamento da armadura (se isto ocorrer) e àquele para o qual resulta na borda
mais comprimida o encurtamento ε c1 correspondente à tensão de pico da lei

constitutiva do concreto. Estes dois momentos são calculados com as resistências


média do concreto, f cm , e característica do aço, f yk . Nos pilares de seção retangular

com armadura simétrica, cf. a Tabela 4.12a, a rigidez do primeiro segmento, (EI )1 ,

pode variar na faixa (0,6a1,7) Eci I 0 . No segundo segmento, cf. a Tabela 4.12b, a
245

correspondente rigidez, (EI ) 2 , pode variar na faixa (0,22a0,95) Eci I 0 , dependendo da

taxa mecânica da armadura e do nível da força normal de compressão. O momento


de fissuração e as correspondentes curvaturas nos Estádios I e II separam os dois
segmentos. Se, em qualquer caso, a rigidez à flexão for admitida independente da
distribuição do momento fletor ao longo do pilar e de sua esbeltez, bastam os dados
destas tabelas para a análise.
Mostra-se, entretanto, que é possível obter a rigidez à flexão de
pilares de forma mais precisa, através de uma rigidez equivalente, cf. Equação
(4.83) dada no item 4.5. Nesta rigidez consideram-se as influências da distribuição
linear de momentos fletores ao longo do pilar, da armadura, da força normal e do
momento de fissuração. Considerando-se, para os pórticos planos usuais de
edifícios, os resultados recentes de análises não-lineares e dos métodos
aproximados (como, p. ex., o coeficiente γ z proposto por Franco e Vasconcelos
(1991), e o fator de majoração das cargas horizontais dado no MC-90, item 6.6.3.1.3,
devido a Kordina e Quast), verifica-se que a majoração dos momentos de primeira
ordem, decorrente dos efeitos de segunda ordem, é , ao que parece, mais moderada
do que se supunha antigamente, cerca de 10% a 25% , para pórticos bem
contraventados. Com isso, os momentos de primeira ordem compõem a maior
parcela dos momentos totais. Isso facilita a determinação da rigidez (equivalente)
dos pilares, pois nela é pequeno o erro decorrente da esbeltez, se esta for
desprezada. De qualquer modo, na determinação mais precisa das rigidezes dos
pilares e das vigas que formam o esqueleto do pórtico, não há como evitar iteração
na análise e no dimensionamento. Enfatiza-se a necessidade de incluir nestes
cálculos iterativos uma terceira sub-rotina, a que determina a rigidez dos elementos
estruturais. Dessa maneira, pode-se comprovar, com maior rigor, não apenas a
segurança dos pilares (e da estrutura), mas também a demanda e a oferta de
rotação plástica das vigas e, eventualmente, dos pilares.
O capítulo 5 trata da determinação da capacidade de rotação
plástica de elementos unidimensionais de CA, especificamente das vigas, das lajes
armadas numa só direção e dos pilares, incluídos os cintados (nestes, através de um
exemplo de seção quadrada). Nessa determinação são dados dois métodos: o
simplificado, que usa o ramo plástico da lei σ s (ε sm ) , cf. Equação (3.67), e o rigoroso,
246

que aplica diretamente a lei τ b (s ) , cf. Equações (5.20). Em ambos, segue-se aqui

um caminho diferente dos trabalhos consultados, e no primeiro método apresentam-


se equações originais da capacidade de rotação plástica.
Esta capacidade, na flexão simples, tem dois ramos. O primeiro
geralmente é ascendente, mas por vezes constante, conforme mostrado na Fig.
5.31. Neste ramo, o pólo da reta de deformação da seção central localiza-se na
armadura, com deformação fixa e igual à deformação última do aço, ε su . Para taxas

de armadura crescentes, cresce a profundidade da LN, com o que geralmente


cresce também a curvatura nesta e nas demais seções, donde o aumento da
capacidade de rotação plástica, até que seja atingida a deformação limite do
concreto. A partir daí, segue-se o ramo descendente, no qual o pólo da reta de
deformações da seção central passa a localizar-se na borda comprimida, com
deformação fixa e igual à deformação limite do concreto, ε c lim , com o que as

curvaturas decrescem para taxas mecânicas crescentes, donde a diminuição da


capacidade de rotação plástica.
A influência favorável da força cortante é considerada fixando-se a
inclinação do campo de compressão na alma da peça, a partir da inclinação diagonal
das fissuras, também na flexo-compressão. Esta inclinação é igual a 40 0 na flexão
simples, e diminui com a intensidade crescente da força normal de compressão. O
valor da força cortante a partir do qual há fissuração diagonal na alma da peça é o
dado pela Equação (5.10). Como esta força decorre de resultados experimentais,
naturalmente sujeitos a dispersão, ao invés de um valor determinístico, há uma faixa
da taxa mecânica em que a fissuração diagonal pode estar presente ou não. Esta
faixa está determinada na Fig. 5.9. Como a força cortante estende favoravelmente a
plastificação da armadura a um número maior de fissuras, recomenda-se no projeto
a adoção de taxas mecânicas das seções críticas não inferiores ao valor máximo da
mencionada faixa, pelo menos em vigas.
Observa-se, ainda, que para fissuras (teoricamente) ortogonais ao
eixo longitudinal da peça, embora não acusada pela Equação (5.7), há transmissão
de força cortante por atrito na fissura, mesmo sem haver deslocamento tangencial
relativo das faces da fissura, bem como no banzo comprimido e, ainda, por corte da
armadura longitudinal. Isso pode ocorrer nas vigas, nos pilares e, especialmente,
247

nas lajes. Esta influência pode ser simulada, cf. Equações (5.5) e (5.6), adotando-se
para a inclinação da fissura um ângulo menor que 90º , com o que a cotangente do
ângulo de inclinação do campo de compressão (inclinação menor do que a da
fissura) não se anula. Este é um ponto a ser melhor esclarecido. Ver o item 6.4.2.3
do MC-90.
A variação paramétrica considerada na capacidade de rotação
plástica mostra como atuam as suas diferentes fontes de influência. Esta capacidade
aumenta para:

(1) quedas na qualidade de aderência,


(2) ocorrência da fissuração diagonal na alma das vigas (influência favorável
da força cortante),
(3) aumentos da resistência do concreto e da sua deformação limite,
(4) aumentos do quociente ( f t f y ) k e da deformação última do aço, ε su ; ou

dito de outra forma, aumento da área sob a curva completa tensão-


deformação do aço em questão,
(5) queda no espaçamento médio das fissuras,
(6) aumento do diâmetro da armadura do banzo tracionado, e
(7) aumento da esbeltez da viga equivalente.

Também foram mostradas as influências:

(8) da força normal de compressão, a qual desloca a ruptura da armadura


que haveria na flexão simples correspondente, para a ruptura do
concreto, e faz cair rapidamente a capacidade de rotação plástica. Nos
casos de seção retangular com armadura simétrica, esta capacidade de
rotação plástica é quase constante, a partir de um certo valor da taxa
mecânica da armadura, correspondente ao início do escoamento da
armadura comprimida. Isso porque a força normal de compressão neste
caso passa a ser resistida quase que somente pelo concreto, com o que
a profundidade da LN na ruptura é praticamente constante. Como a
deformação limite (a do concreto) na seção central é constante, resultam
nesta e nas demais seções curvaturas quase constantes, e
248

(9) da armadura dupla, a qual pode ser desfavorável, se a camada de


armadura próxima da borda comprimida estiver tracionada (pois neste
caso há diminuição da deformação da armadura principal), e favorável
em caso contrário. O valor da taxa mecânica da armadura que separa
estas duas possibilidades corresponde à profundidade da LN, na
ruptura, igual à profundidade da camada de armadura próxima da borda
comprimida, cf. Fig. 5.18.

Podem ser mencionadas, ainda, as influências da forma do


diagrama de momento fletor e da largura da placa de apoio onde se aplica a carga
concentrada na viga equivalente. Um diagrama parabólico, p. ex., proveniente de
carga distribuída na viga equivalente, aumenta a rotação plástica, em relação à de
um diagrama triangular de igual momento máximo, proveniente de carga
concentrada na mesma viga. A influência da placa de apoio, para frações b0 L da

ordem de 5% a 10% correspondentes aos casos examinados aqui, mostra-se


expressiva somente quando não há fissuras inclinadas.
Das comparações entre os resultados teóricos e experimentais feitas
para três séries de ensaios conclui-se que há, em todos eles, muito boa
concordância na capacidade de carga. Quanto à capacidade de rotação plástica, a
concordância obtida nas duas primeiras séries (ensaios de Eligehausen e Fabritius,
e de Sigrist e Marti) é, também, muito satisfatória. Na última série (ensaios de Bosco
e Debernardi), entretanto, só há boa concordância em metade dos resultados,
naqueles correspondentes à existência de fissuração (teoricamente) inclinada da
alma das vigas. Ainda assim, nas vigas com baixas taxas de armadura a capacidade
de rotação plástica obtida experimentalmente está bem acima da teórica, quer dizer,
a favor da segurança. Discrepâncias semelhantes, nesta mesma série, também
foram obtidas por Bigaj-van Vliet e Mayer, CEB 242 (1998).
Através de um exemplo de pilar cintado de seção quadrada,
mostrou-se que é possível tornar dúctil um pilar com força axial elevada. A
capacidade de rotação plástica obtida tem ordem de grandeza compatível com a das
vigas de um mesmo pórtico. Além disso, não é necessário cintá-lo em toda sua
altura.
249

A determinação da capacidade de rotação plástica, inicialmente feita


para as vigas equivalentes simétricas, foi estendida às vigas contínuas de pórticos
planos e às vigas equivalentes assimétricas, através de soluções originais. Com esta
generalização abrange-se a maioria dos casos práticos que ocorrem em pórticos
planos, em vigas e em lajes contínuas, armadas numa só direção.
No item 5.9 discute-se a determinação conservativa da capacidade
de rotação plástica segundo as normas, para efeito de projeto. Em coincidência com
a proposta de Levi et al. (1995), mas por outro caminho, obtêm-se as curvas dessa
capacidade para o aço CA-50 e para concretos de resistências f ck = 20 / 35 / 50 MPa ,

nas condições de boa e de má aderência, na flexão simples, introduzindo-se


coeficientes de segurança na deformabilidade dos dois materiais, de maneira
inteiramente análoga à que se faz em pilares esbeltos isolados. Esta segurança não
aparece nas correspondentes curvas do MC-90 e do EC-2.
Como indicações para um prosseguimento deste trabalho, com
vistas na determinação mais completa de dados que facilitem a análise e o
dimensionamento de vigas e de lajes contínuas, e de pórticos planos, sugere-se:

(1) a consideração da protensão tanto na obtenção do diagrama momento-


curvatura, quanto na capacidade de rotação plástica, dando-se especial
importância à correspondente lei tensão de aderência-deslizamento,
(2) a determinação mais precisa das leis constitutivas dos aços nacionais,
especificando-se a extensão do eventual patamar de escoamento, o trecho
curvo de encruamento, bem como as demais grandezas mecânicas que
definem estas leis na fase pós-escoamento, com os seus valores médios e
característicos inferior e superior; especial atenção deve ser dada ao aço
CA-60,
(3) a determinação mais precisa do ramo descendente da lei constitutiva do
concreto na flexão, incluindo-se as influências da forma e altura da seção,
da profundidade da LN e do confinamento da zona comprimida
proporcionado pelos estribos, pelas diagonais comprimidas e pela reação
de apoio, nas zonas de continuidade das peças fletidas,
(4) a consideração da flexo-tração,
250

(5) a influência da força cortante nos casos de fissuras ortogonais ao eixo


longitudinal da peça,
(6) o condicionamento, no projeto, da demanda de rotação plástica aos
estados limites de utilização, especialmente no que diz respeito à abertura
das fissuras e da tensão na armadura tracionada ( ≤ 0,8 f yk , p. ex.) nas

seções críticas,
(7) ensaios de tirantes, que determinem o espaçamento médio das fissuras,
com e sem a influência da armadura transversal (estribos ou barras
soldadas à armadura longitudinal, no caso de telas), assim como o
enrijecimento da armadura, especialmente na fase plástica,
(8) determinação experimental da capacidade de rotação plástica, através de
ensaios de peças estruturalmente representativas, com aços CA-50 e CA-
60 e concretos de resistências mais freqüentemente empregadas no
Brasil, e
(9) a consideração de concretos de resistência superior a 50 MPa .

Como última observação, ressalta-se que a consideração da


capacidade de rotação plástica, associada à concentração da zona plastificada em
uma rótula na seção crítica e ao uso de rigidezes mais precisas, é uma forma
simples e eficiente de resolver o difícil problema de não-linearidade física das
estruturas de concreto armado compostas de elementos unidimensionais. Na análise
estrutural a demanda de rotação plástica tem de ser determinada com mais
precisão, para que a sua comparação com a oferta de rotação plástica seja
coerente. De pouco adianta conhecer bem só uma destas partes, sem conhecer bem
a que lhe é complementar.
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