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SOCIEDADE PIAUIENSE DE ENSINO SUPERIOR

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS CAMILLO FILHO – ICF


COORDENADORIA DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

BORIZ MENESES FORTES CASTELO BRANCO

LOTEAMENTO OLHO D'ÁGUA: um novo conceito de viver

Teresina
2015
BORIZ MENESES FORTES CASTELO BRANCO

LOTEAMENTO OLHO D'ÁGUA: um novo conceito de viver

Trabalho Final de Graduação apresentado


como requisito para obtenção do título de
bacharel em Arquitetura e Urbanismo pelo
Instituto de Ciências Jurídicas e Sociais
Prof. Camillo Filho.

Área de concentração: Urbanismo e Lazer.


Orientador: João Alberto Cardoso Monteiro.

Teresina
2016
BORIZ MENESES FORTES CASTELO BRANCO

LOTEAMENTO OLHO D'ÁGUA: um novo conceito de viver

Trabalho Final de Graduação apresentado


como requisito para obtenção do título de
bacharel em Arquitetura e Urbanismo pelo
Instituto de Ciências Jurídicas e Sociais
Prof. Camillo Filho.
Área de concentração: Urbanismo e Lazer.

Data de Aprovação: 13 de junho de 2016

________________________________________________________
Prof. Msc. João Alberto Cardoso Monteiro
Instituto Camillo Filho
Orientador

________________________________________________________
Prof. Esp. Daniela de Queiroz Ramos
Instituto Camillo Filho
1º examinador

________________________________________________________
Arquiteto Ernane Freitas
Instituto Camillo Filho
2º examinador
AGRADECIMENTOS

- A Deus, pelo dom da vida, fonte de fé e luz sempre me mostrando os bons caminhos a
seguir
- Ao meu orientador Prof. João Alberto, pela paciência e dedicação em me passar informações
e grandes conhecimentos de urbanismo para desenvolver este projeto
- Aos meus amigos, que acreditaram e me ajudaram de todas as formas no desenvolver desse
projeto
- Ao Instituto Camillo Filho, pela oportunidade de apresentar este trabalho de grande
importância para minha formação
RESUMO

Este trabalho consiste em pesquisa e realização de projeto de urbanismo voltado para


projeção de um loteamento denominado “Loteamento Olho D’água” localizado em Piracuruca
no Estado do Piauí. O objeto de estudo surge a partir da necessidade de atender a demanda de
crescimento populacional da região que necessita de espaços bem projetados, com ruas
amplas, calçadas arborizadas e de clima agradável. Desse modo, este trabalho busca
evidenciar, com o projeto do loteamento, a importância de se pensar no meio ambiente como
forma de se buscar o bem-estar, através de excelente arborização e boulevard central, além de
propiciar espaços para práticas de exercícios. Portanto, a proposta consiste em fazer do
Loteamento Olho D’água um modelo de urbanismo eficiente, prezando sempre a qualidade de
vida, e voltada para questões ambientais no que diz respeito à arborização, além de motivar a
convivência entre os moradores através dos seus boulevard.

Palavras-chave: Projeto; Urbanismo; Loteamento; Piracuruca.


ABSTRACT

This work consists of research and implementation of urban planning project


focused on projection of a housing development called "Loteamento Olho D’água",
Piracuruca located in the state of Piaui. The object of study arises from the need to meet the
demands of population growth in the region that requires well-designed spaces, with wide
streets, tree-lined sidewalks and pleasant climate. Thus, this paper seeks to show, with the
allotment of the project, the importance of thinking of the environment as a way to seek the
welfare through excellent afforestation and central boulevard, as well as providing space for
exercise practices. Therefore, the proposal is to make the Allotment Eye D'water an efficient
urban planning model, always maintaining the quality of life, and focused on environmental
issues in relation to afforestation and motivate coexistence among residents through its
boulevard.

Keywords: Design; Urbanism; Allotment; Piracuruca.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Local do terreno ............................................................................................. 09


Figura 2 - Exemplo de loteamento com uma infraestrutura adequada.......................... 11
Figura 3 - Parque Nacional de Sete Cidades - Formação rochosa conhecida como 13
"Mapa do Brasil"...........................................................................................
Figura 4 - Primeiro projeto habitacional do projeto Minha Casa, Minha Vida, no 20
estado de São Paulo.........................................................................................
Figura 5 - Litografia do condomínio Llewellyn Park - Artista: Alexander Jackson 22
Davis................................................................................................................
Figura 6 - Guarita de entrada do Condomínio Llywelly Park.......................................... 23
Figura 7 - Condomínio Alphaville em Barueri-SP........................................................... 24
Figura 8 - Condomínio Alphaville em Barueri-SP....................................................................
25
Figura 9 - Plano de urbanização de Cerdà ......................................................................... 26
Figura 10 Plano de urbanização de Cerdà ......................................................................... 28
-
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 09
2 JUSTIFICATIVA.......................................................................................... 10
3 PROBLEMATIZAÇÃO............................................................................... 12
4 OBJETIVOS.................................................................................................. 14
4.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................ 14
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.......................................................................... 14
5 METODOLOGIA.......................................................................................... 15
6 REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................ 16
6.1 PARCELAMENTO DO SOLO: conceitos e definições................................. 16
6.2 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS............................................................... 13
6.2.1 No mundo....................................................................................................... 17
6.2.2 No Brasil......................................................................................................... 19
7 ESTUDO DE CASOS.................................................................................... 22
7.1 LLEWELLYN PARK: Nova York, Estados Unidos...................................... 22
7.2 ALPHAVILLE: Barueri-São Paulo................................................................. 23
7.3 PLANO CERDÀ – Barcelona – Espanha ...................................................... 25
8 MEMORIAL DESCRITIVO ......................................................................... 30
8.1 Terreno ........................................................................................................... 30
8.2 Vegetação ....................................................................................................... 31
8.3 Descrição do empreendimento ....................................................................... 31
8.4 Legislação ....................................................................................................... 31
8.5 Masterplan ...................................................................................................... 32
8.6 Tendência de crescimento .............................................................................. 33
8.7 Terraplanagem ................................................................................................ 34
8.8 Sistema viário ................................................................................................. 34
8.9 Descrição dos Lotes ........................................................................................ 34
9 CONCLUSÃO ............................................................................................... 37
REFERÊNCIAS............................................................................................ 39
1 INTRODUÇÃO

Situada a 196 km, a norte, da capital do Piauí, Piracuruca (Piauí) é um município


brasileiro conhecido por sua rica biodiversidade natural, a qual abrange um grande campo
para o ecoturismo. Visto como um dos mais importantes polos turísticos do estado, e com o
seu potencial, Piracuruca se tornou referência ecológica, já que no local se situa o Parque
Nacional de Sete Cidades, uma área de preservação ambiental contemplada pelas belas
paisagens constituídas pela flora e formações rochosas peculiares.
Devido a isso, objetivando não só a expansão da infraestrutura urbana, mas também na
busca de alternativas que preencham as lacunas arquitetônicas da cidade, verificou-se a
necessidade de construção de um local que buscará suprir o déficit habitacional e regional.
Desta maneira, este trabalho tem como objetivo apresentar um projeto urbanístico de um
loteamento localizado em um lugar estratégico, à aproximadamente 2 km do Centro da
cidade, denominado Loteamento Olho D'água.
Agregado às potencialidades turísticas, o projeto urbanístico terá como analogia
arquitetônica os traços topográficos regionais e usará como referência alguns estudos de casos
semelhantes no âmbito regional e internacional. Nesse sentido, o contexto histórico de cada
caso será levado em conta, tendo em vista a história e as características locais.
A proposta, considerando esse aspecto, buscará compor sua forma nos traços do
urbanismo contemporâneo. Dessa forma, procurou-se um terreno propício para a execução do
projeto, que foi pensado com as possibilidades da topografia e da realidade sociocultural que
o município possui.
Figura 1 - Local do terreno

Fonte: google maps1

1
Acesso em: 03 maio. 2016.
9
2 JUSTIFICATIVA

Condomínios fechados são loteamentos e desmembramentos do solo urbano, com fins


habitacionais, separando-se fisicamente do restante da cidade. Esses empreendimentos
modificam a forma como as pessoas, principalmente das classes média e alta, vivem,
consomem, trabalham e usam o seu tempo de lazer. Além disso, eles também mudam o
panorama da cidade, seu padrão de segregação espacial e o caráter de espaço público e das
interações públicas entre as classes (CALDEIRA, 2000).
São espaços privados de uso coletivo, com ênfase no valor do privado e do restrito em
detrimento do que é público e aberto na cidade. A grande marca desses empreendimentos é a
segurança, por meio de muros, grades e espaços vazios que demarcam e os isolam do restante
da cidade, com uma rejeição à vida pública (CALDEIRA, 2000). Eles se configuram como
espaços independentes do restante do espaço urbano, situando-se em qualquer lugar.
Na década de 1980, a ausência de saneamento e de organização e planejamento para o
uso e a ocupação do solo, moradias irregulares (favelas principalmente), ocasionou o caos
urbano, implicando, assim, no surgimento de diversos movimentos em favor da reforma
urbana (SILVA, 2003).
A demarcação do espaço é evidente, toda sorte de barreiras físicas e artifícios de
distanciamento são aplicados de forma a restringir o espaço interno do condomínio a
moradores, alguns poucos visitantes e empregados. Assim, fica evidente a diferenciação
social desse espaço, com relação à cidade. As fronteiras estabelecidas não são apenas físicas,
mas sociais, contribuem para a criação de novas hierarquias entre os grupos sociais e
organizam explicitamente as diferenças como desigualdades (CALDEIRA, 2000).
Geralmente, os loteamentos se encontram às margens das cidades. Para Moura (2008),
esse conceito de moradia mudou o conceito de periferia, pois essa se transformou no local
onde residem grupos exigentes, modificando todo o entorno, seja por questões de relações
sociais, seja por uma infraestrutura que abastece as necessidades dessas pessoas, que
deveriam ser resolvidas pelo governo (vias de trânsito rápido, comércio, áreas verdes,
nascentes de córregos, dentre outros). Na verdade, esse fenômeno faz parte do novo conceito
de moradia, que articula segurança, equipamentos e serviços (ver figura 1).

10
Figura 2 - Exemplo de loteamento com uma infraestrutura adequada

Fonte: http://quixadanoticiasimobiliarias.blogspot.com.br/2014/11/ecolive-loteamento-renato-carneiro.html2

Os loteamentos fechados oferecem aos seus moradores uma qualidade de vida que o
espaço urbano não propicia, por conta das políticas malsucedidas de planejamento. Na
realidade, os loteamentos fechados vêm atender as aspirações da sociedade, oferecendo aos
moradores a sensação de segurança, de paz e de isolamento dos males da cidade, além de
propiciar áreas de lazer, comércio, serviços, vigilância, áreas verdes e conforto.
As transformações urbanas também levaram à necessidade de elaboração de legislação
que regulasse a ocupação dos espaços públicos, de forma a possibilitar o crescimento
minimamente ordenado das cidades. Pode-se destacar a lei nº 10.257/2001, Estatuto da
Cidade, garantindo o direito à cidade. Entretanto, os impactos causados, na sociedade, pelas
novas formas de ocupação da terra urbana, não foram necessariamente benéficos para todos.
Pensando nisso, a proposta do loteamento visa atender à grande demanda e servir de
incentivo para o setor turístico da região, já que a proposta visa também atrair pessoas, com
seus equipamentos urbanos. A região é contemplada por inúmeras belezas naturais, possui um
sólido crescimento econômico, tornando-se, portanto, economicamente viável a implantação
da proposta que se segue.

2
Acesso em: 10 out. 2015.
11
3 PROBLEMATIZAÇÃO

Piracuruca-PI está situada ao norte do estado do Piauí, e é cortada pelo rio homônimo.
Possui uma população estimada de 27.553 habitantes, segundo o Censo 2010, do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. De acordo com estimativas do mesmo órgão, a
população estimada, em 2015, é de 28.160. A sua região se situa em uma posição geográfica
com formações geológicas peculiares, como é o caso do Parque Nacional de Sete Cidades.
A cidade foi fundada no século XVI, e até hoje guarda a aparência da arquitetura do
tempo colonial, destacando-se pela hospitalidade dos habitantes. A economia se baseia
na pecuária e o extrativismo da carnaubeira, palmeira nativa que produz resinas vegetais de
larga aplicação na indústria. A proposta de um loteamento segue com o objetivo de elaborar
um espaço físico com planejamento urbano adequado para a classe média crescente na cidade,
a fim de atender à demanda.
O município se situa em uma posição geográfica marcada pela topografia acidentada e
irregular, o que torna as construções residenciais e comerciais mais complexas, por conta da
irregularidade do terreno. No entanto, o real aproveitamento dos recursos arquitetônicos em
locais como esses se tornam escassos, e a necessidade de definir um projeto adequado se torna
mais evidente, à medida que a cidade cresce demograficamente.
O centro histórico da cidade é um patrimônio único, que guarda importante acervo da
arquitetura típica piauiense. A área de tombamento compreende o centro da cidade, onde se
destacam remanescentes urbanos e arquitetônicos de todos os períodos pelos quais o
município passou ao longo de sua história, desde o início da ocupação de seu território, no
século XVII, até por volta da década de 1960.
Porém, esta arquitetura que compõe a paisagem urbana enfrenta sérios riscos, com o
vandalismo e o abandono. Também a falta de equipamentos urbanos e da manutenção dos
existentes conota uma administração falha, ao longo dos anos, em detrimento ao crescimento
demográfico e financeiro do município.
Diferentemente do Centro, as ruas da periferia da cidade se estendem de forma
irregular, traçando características de crescimento desordenado, o que acarreta dificuldades de
expansão da infraestrutura.
Embora possua esse tipo de terreno, a cidade possui seus encantos, como por exemplo,
o Parque Nacional de Sete Cidades (ver figura 2), Complexo Turístico Prainha e a Barragem,
cartão postal da cidade, situada a Sudeste do município.

12
Toda essa região é cercada por uma cadeia de serras e chapadas que se tornam
marcantes e aptas para a prática de esportes radicais e o ecoturismo. Além disso, o local é
conhecido também por possuir vasta fauna, tornando-se um dos principais atrativos locais.

Figura 3 - Parque Nacional de Sete Cidades - Formação rochosa conhecida como "Mapa do Brasil"

Fonte: http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-de-conservacao/biomas-
brasileiros/caatinga/unidades-de-conservacao-caatinga/21333

Porém, a falta de incentivos para a concretização de projetos arquitetônicos e


urbanísticos se tornou a grande necessidade real da cidade, além do déficit habitacional e da
falta de planejamento urbano adequados na região.
Dessa forma, surge a pergunta: Como a construção do Loteamento Olho D'água irá
melhorar o potencial turístico e urbanístico da região e a qualidade de vida dos
habitantes?

3
Acesso em: 10 out. 2015.
13
4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

Projetar um loteamento urbano na cidade de Piracuruca-PI, com a finalidade de


reduzir o déficit habitacional e melhorar a paisagem urbana, através de um planejamento
eficiente.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Implantar o loteamento em local favorecido pela infraestrutura básica necessária;


2. Elaborar um projeto de urbanismo visando ao melhoramento da paisagem urbana;
3. Estruturar o espaço urbano com equipamentos urbanos como praças, quadras
poliesportivas e academias ao ar livre, para o lazer;
4. Incentivar o ecoturismo do entorno, através de sua localização estratégica;
5. Dotar o loteamento com acessibilidade ao alcance de todos.

14
5 METODOLOGIA

A metodologia de trabalho compreende a descrição e métodos utilizados para


elaboração do trabalho. Segundo Cervo; Bervian; Silva (2007), metodologia é a ordem que se
deve impor às diferentes etapas necessárias para atingir um dado fim ou um resultado
desejado.
Neste trabalho, a elaboração do projeto urbanístico do Loteamento Olho D'água será
disposto em três etapas.
Na primeira etapa se realiza pesquisa bibliográfica minuciosa para, consequentemente,
apresentar uma proposta urbana adequada. Serão feitos levantamentos topográficos e
fotográficos no local de execução da obra, como forma de conhecer o local de forma profunda
e determinar quais diretrizes estruturais e estéticas deverão ser seguidas; analisar as
exigências da lei e normas existentes na cidade, para definir as limitações do empreendimento
no terreno; fazer estudo de casos semelhantes, em níveis regional, nacional e internacional, a
fim de buscar inspiração em suas formas e características; fazer análise e descriminação dos
problemas socioeconômicos locais, para poder propor ações conjuntas de integração com a
comunidade, através de projetos sociais.
Na segunda etapa, depois de analisar os itens acima, apresentar uma solução
urbanística do projeto. Em seguida, realizar estudos de insolação ao longo do ano, através da
carta solar, disposição dos ventos predominantes, para facilitar a ventilação cruzada, a fim de
garantir o conforto ambiental em todo o loteamento.
E na terceira etapa prática, estabelecer um programa de necessidades para o
empreendimento e desenvolver o projeto, de acordo com os parâmetros seguidos nas etapas
anteriores. Elaborar o anteprojeto, sendo passível de modificações junto ao orientador. Logo
em seguida, elaborar o projeto executivo, com detalhamentos e paisagismo para, enfim,
concluir o Trabalho Final de Graduação.
É importante frisar que o conteúdo prático e teórico terá como base as referências
bibliográficas do tema proposto, as normas da ABNT, tais como a NBR 9050, de
acessibilidade, o Plano Diretor de Piracuruca – Lei Complementar 001/2006, além de
pesquisas em páginas eletrônicas, através da Internet, providas de fontes confiáveis.

15
6 REFERENCIAL TEÓRICO

6.1 PARCELAMENTO DO SOLO: conceitos e definições

O parcelamento do solo é um dispositivo previsto em lei, sob a forma de loteamento


ou desmembramento, sendo utilizado a fim de organizar os territórios dos municípios e
garantir o uso adequado desses.
Por conta da má qualidade de vida e insegurança urbana, as cidades brasileiras estão
utilizando, cada vez mais, a dinâmica do parcelamento do solo, sob a forma de condomínio
fechado ou loteamento fechado. Segundo a Lei Federal nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979,
Art. 2º, parágrafos 1º e 2º, tem-se as seguintes definições:

§ 1º - Considera-se loteamento a subdivisão de gleba em lotes destinados a


edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou
prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes.
§ 2º- Considera-se desmembramento a subdivisão de gleba em lotes destinados a
edificação, com aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique
na abertura de novas vias e logradouros públicos, nem no prolongamento,
modificação ou ampliação dos já existentes.

Para se ter um entendimento melhor, é necessário conhecer alguns objetos que


compõem o parcelamento. Antes de o terreno sofrer alguma modificação, a porção de terra
recebe o nome de Gleba. Essa porção é subdividida em Quadras, que são delimitadas por vias
de circulação de veículos que, por sua vez, são compostas por Lotes, a menor porção da
Quadra, destinados às edificações em si.
Quando os loteamentos são fechados, ou seja, quando são delimitados por muros e
possuem guarita para controle, seja através do desejo do loteador, seja através da comunidade
de moradores, há o sistema de condomínio, com a divisão das despesas entre os moradores.
Nesse caso, tudo que está dentro desta área projetada é privado; porém, regulamentado
por lei própria, onde todos, inclusive o proprietário, têm a obrigação de participar das
despesas de conservação das áreas de uso coletivo. Partindo disso, tem-se a seguinte
afirmação:

A elaboração do projeto do loteamento e/ou loteamento fechado deve seguir uma


rígida legislação. "O parcelamento do solo é regulamentado por legislação federal,
estadual e municipal. De município para município, a situação é bastante
diferenciada, existindo em comum os aspectos previstos na legislação federal"
(MORETTI, 1987).

16
É importante lembrar que o dispositivo ainda define outros objetos de uso do solo, a
fim de assegurar a proteção ambiental e o uso sustentável da terra, como no caso da Area Non
Aedificandi, que são áreas presentes no terreno, que possuem inclinação superior a 45%,
impedindo as construções nesses locais. E também as faixas Non Aedificandi, que são faixas
de terras que têm por finalidade proibir construções de qualquer natureza, em faixa de reserva
de 15 metros, adjacente a cada lado da faixa de domínio da rodovia.
A implantação de loteamentos é considerada potencialmente poluidora, por suas
implicações demográficas ligadas à produção de resíduos sólidos, esgoto sanitário e outras
composições. A luta em defesa desse patrimônio paisagístico, cultural e ambiental deve estar
aliada ao resgate de sua importância, enquanto fonte de vida para as gerações futuras e, mais
ainda, pela incontestável importância de que qualquer forma de vida tem valor em si mesma.
Conciliar interesses econômicos com interesses ambientais é uma dificuldade, porque
o pensamento econômico que predomina é que a ecologia é uma espécie de atrito à economia.
A visão do bem-estar do usuário e do aumento dos lucros não pode estar associada a causar
danos ao ambiente. A ameaça à sobrevivência do homem, em face da degradação do meio
ambiente, a extinção das espécies da fauna e da flora, o aquecimento da temperatura, devido à
emissão de gases poluentes, fizeram a questão ambiental ocupar um lugar de destaque nos
debates internacionais. Assim, é importante analisar qual o impacto, no ambiente, dos
conjuntos residenciais fechados, que alteram as propriedades do ambiente, provocam
desequilíbrio nas relações constitutivas do ambiente e excedem a capacidade de absorção do
desse.

6.2 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS

6.2.1 No mundo

Por volta do ano 300 a.C. surgiram as primeiras fortalezas muradas, em solo inglês,
construídas por Roma. Soldados romanos recebiam as terras, a fim de defender os territórios
conquistados, logo após cumprirem o dever. As famílias se reuniam e construíam muros
externos e internos, com o intuito de garantir a proteção contra os invasores.
Quando a Idade Média começou, as atividades nas cidades se tornaram restritas e cada
vez mais a vida de seus moradores estava sujeita a invasões. Com o tempo, os habitantes
foram se deslocando para o campo, diminuindo drasticamente sua população. Em decorrência
disso, muitas vezes uma simples casa campestre valia mais que um palácio na cidade.

17
A vida urbana foi se deteriorando e a cidade deixou de funcionar como centro de
produção comercial. A economia passou a girar em torno da vida rural e começa, então, a
surgir a produção feudal.
A arquitetura militar é a base das fortificações, que com o tempo foram evoluindo,
passando a representar, para os moradores, uma forma de proteção contra as invasões, pois
assim tinham tempo para organizar sua resistência às invasões externas, transmitindo a
sensação de segurança. Porém, à medida que sua população crescia, as cidades ficaram
restritas as suas muralhas, e suas ruas se estreitavam e os espaços livres desapareciam, com a
demanda por novas moradias (BARROSO, 2010).
Com o surgimento da Revolução Industrial na Europa, a partir do século XVIII,
principalmente na Inglaterra, as cidades sofreram grandes transformações. O adensamento
habitacional elevado, ocasionado pelo crescimento populacional acentuado, gerou inúmeros
problemas de infraestrutura na zona urbana, como por exemplo, a questão da mobilidade,
ocasionada pelas grandes distâncias entre a moradia e o trabalho, dificultando o deslocamento
a pé.
As condições sanitárias eram precárias e andar pelas ruas estreitas da cidade se tornou
difícil, com a lama e o mau cheiro que emanava dessas vias. Por conta disso, a administração
pública começou a estabelecer normas e realizar obras para melhorar a qualidade de vida dos
cidadãos, enquanto que a classe mais rica da sociedade passou a procurar os subúrbios,
afastando-se do Centro, à procura de locais mais tranquilos e limpos.
Em Londres, no final do século XVIII surgiram as Country Villas, locais onde os mais
ricos residiam, na busca por melhor qualidade de vida, tornando o campo um local de morada.
No final do século XIX surgiu o conceito de Cidades Jardins, também conhecida como
Cidades Jardins de Howard. Foi através desse modelo que se tornou possível estabelecer um
modelo de fuga dos grandes e caóticos centros urbanos. Esse conceito foi concebido pelo
urbanista britânico Ebenezer Howard, e consiste em uma comunidade autônoma, cercada por
uma zona verde. Utilizando esse conceito, as grandes empresas imobiliárias resolvem
construir e administrar verdadeiros bairros suburbanos planejados com ruas bastante
arborizadas.
Nos EUA, a implantação ocorreu de forma semelhante. Começou-se a implementar
espaços para os ricos e uma grande parte da classe média branca, em ascensão, que estava
fugindo das áreas mais centrais da cidade, onde afloravam os problemas urbanos, como
violência, concentrações étnicas e deterioração.

18
6.2.2 No Brasil

O processo de urbanização, no Brasil, aconteceu de forma acelerada, a partir da década


de 1950, quando a industrialização se desenvolveu no Brasil, gerando o chamado êxodo rural,
aumentando em mais de sete vezes a população urbana em seis décadas. A ocupação
desenfreada no território brasileiro, ao longo do tempo, teve como consequências o uso
descontrolado dos recursos naturais. Atualmente, sabe-se que o processo de urbanização
modifica o clima local, as características geográficas e hídricas. Segundo Freitas (1999), o
Brasil passou por um processo de urbanização caótico, pois o crescimento urbano não veio
acompanhado de um planejamento de infraestrutura adequado com o abastecimento de água,
luz, esgoto e de serviços públicos de transporte, educação e saúde pública.
Grande parte da população vinda da zona rural ou de outras zonas urbanas não possuía
poder aquisitivo suficiente para adquirir uma habitação, ou sequer um lote. Em decorrência
disso, surgiu um mercado habitacional totalmente desestruturado, que permanece até os dias
atuais, tendo como uma das principais consequências a poluição dos recursos hídricos,
quando então são lançadas toneladas de esgotos, sem tratamento correto, nos rios, córregos e
afluentes, decorrente do surgimento do grande número de favelas e vilas.
Em meio a esse cenário, a parcela da população que tinha capital suficiente para
investir, podia morar nos "jardins", bairros novos, com desenvolvimento urbano ainda virgem,
e com qualidade na moradia. Para uma segunda parcela da população, com menores
condições financeiras, foram desenvolvidos projetos de bairros periféricos, muito diferentes
dos primeiros citados. E para a parcela da população sem condições de habitar esses
empreendimentos, sobrou o mercado informal da terra e da construção; foram obrigados a
morar nas favelas, na maioria das vezes, sem as condições mínimas necessárias de
infraestrutura e saneamento. O não planejamento de moradias dignas e, principalmente, com
as condições necessárias de infraestrutura, gerou – e ainda gera – favelização e graves
problemas ambientais, como enchentes e desmoronamento de encostas.
Em 1979 o Governo Federal lançou a lei 6.766/79, conhecida como Lei do
Parcelamento do Solo, para tentar conter os problemas territoriais no Brasil, decorrentes da
ocupação urbana desordenada. Essa lei trata do parcelamento do solo destinado a qualquer
tipo de edificação dentro da cidade.
Com o aumento da malha urbana, era mais evidente a necessidade de alterar a lei,
principalmente nos assuntos referentes às questões ambientais. Então, em 1999, foi

19
sancionada a lei nº 9.785, tendo como principal objetivo estimular a produção de loteamentos
e habitações populares, e também retomar os debates com a comunidade, tendo em vista
reformulações futuras da legislação, quando necessário.
Antes da lei nº 6.766 entrar em vigor, ainda na década de 1970, o loteamento fechado
vem sendo implantado no Brasil, numa tentativa de aumentar a segurança, face à violência
crescente no período. Desde então, esse tipo de loteamento vem sendo implantado sem
regulamentação, em nível federal ou municipal. Por conta disso, esse tipo de instalação tem
como consequência o fechamento de vias e instalação de guaritas, restringindo o acesso
apenas para pessoas autorizadas, contrariando a lei de 1979, que defende o uso comum das
vias de circulação para a população.
Sabendo que o solo urbano se torna cada vez mais valorizado com o passar dos anos,
os empreendedores buscam alternativas financeiramente viáveis para o loteamento, e uma
delas é a busca de executar esses empreendimentos nas periferias, onde o valor do lote é mais
em conta e o mercado consumidor tem como público-alvo as pessoas de baixa renda (ver
figura 3).

Figura 4 - Primeiro projeto habitacional do projeto Minha Casa, Minha Vida, no estado de São Paulo

Fonte: https://andradetalis.wordpress.com/tag/habitacao-popular/4

É importante observar um fenômeno que acontece no Brasil, relacionado à vida social


dentro de cada condomínio. A relação comunitária tem mais a ver com padrões financeiros
igualitários e o status que isso pode proporcionar. Os condomínios fechados brasileiros
compartilham várias características com os subúrbios dos EUA; porém, existem algumas
diferenças:

4
Acesso em: 8 nov. 2015.
20
• Enquanto que nos EUA os empreendimentos fechados constituem apenas cerca de
20% do total de todo o país, no Brasil, todos os condomínios são murados e com
acesso restrito apenas a pessoas autorizadas;
• Os tipos mais comuns de condomínios fechados, no Brasil, são os de prédios de
apartamentos; portanto, ainda são mais urbanos que suburbanos.

No Brasil, os vários tipos de loteamentos fechados possuem muitas características em


comum, como, por exemplo, a ideia de vizinhança homogênea, em verdadeiros bairros
fechados, com boa infraestrutura viária e de serviços. O isolamento ou fechamento entre os
muros e a implantação da segurança privada é modelo de condomínio originalmente
brasileiro.

21
7 ESTUDO DE CASOS

7.1 LLEWELLYN PARK: Nova York, Estados Unidos

Llewellyn Park é um condomínio residencial fechado, com 175 casas, situado a 12 km


a Oeste de Nova York, Estados Unidos. Possui uma área de aproximadamente 200.000 m²,
com uma paisagem composta por muitos riachos e trilhas. Foi fundado em 1857, por
Llewellyn Salomão Haskell, um empresário de Nova York, e desenhado pelo proeminente
arquiteto americano Alexander Jackson Davis. Ele descobriu uma área arborizada exuberante
na encosta oriental das Montanhas Watchung, e se propôs a criar uma comunidade suburbana
de propriedades rurais, com residências de acabamentos luxuosos, adentrando nas árvores
seculares ao longo do terreno. No ano seguinte, aconteceu a primeira reunião entre os
condôminos (conhecido no Brasil como assembleia), sendo essa uma prática que perdura até
os dias atuais.
Llewellyn Park foi projetado para ser o primeiro condomínio fechado de luxo dos
EUA, em uma zona rural, com predominância de ambiente natural. A paisagem possui a
característica do estilo romântico do século XIX, similar ao Central Park de Nova York,
incluindo caminhos sinuosos (ver figura 4), com raras árvores ornamentais, arbustos e flores.
Haskell trouxe árvores e flores nativas de outros locais, bem como espécies exóticas da
Europa, América do Sul e Ásia.

Figura 5 - Litografia do condomínio Llewellyn Park - Artista: Alexander Jackson Davis

Fonte: http://www.metmuseum.org/collection/the-collection-online/search/393721 (modificado pelo autor).5

5
Acesso em: 22 nov. 2015.
22
O conceito de desenvolvimento da paisagem de Llewellyn Park foram as teorias
sociais e religiosas da época, que eram de interesse do idealizador. A concepção e a execução
da paisagem residencial refletiram os aspectos de uma combinação de estética pitoresca (ver
figura 5) e natureza, com a intenção de trazer o homem para mais perto de seu criador, através
da arte e da natureza. Isso foi expresso de maneira mais vívida nos enfeites de paisagem do
local.

Figura 6 - Guarita de entrada do Condomínio Llywelly Park

Fonte: http://www.trulia.com/property/1044904126-15-Long-Branch-Way-West-Orange-NJ-070526

O condomínio foi o lar de muitos moradores ilustres, como por exemplo, Thomas
Edison, tendo sua casa como uma atração histórica nacional. Dentre outros residentes, estava
o abolicionista James Miller McKim, cuja morada charmosa continha câmaras secretas para
esconder escravos em fuga, onde atravessavam uma estrada de ferro subterrânea. O hall de
visitantes inclui personalidades conhecidas como Eleanor Roosevelt e o presidente Clinton.

7.2 ALPHAVILLE: Barueri, São Paulo

Idealizado pelos engenheiros Yojiro Takaoka e Renato Albuquerque, o Alphaville é


um condomínio fechado construído em 1973, através da compra de um terreno com
aproximadamente 500 hectares, pertencente à antiga propriedade local chamada fazenda

6
Acesso em: 22 nov. 2015.
23
Tamboré. Na época houve vários entraves durante a implantação do projeto, como por
exemplo, as reservas indígenas.
No início, a venda de lotes se limitava aos proprietários e executivos de grandes
empresas instaladas nas proximidades. A ideia original era construir um centro residencial em
torno da sede brasileira da empresa multinacional Hewlett Packard (HP), destinado aos
funcionários da mesma. Com o tempo, as vendas se estenderam para funcionários de outras
empresas, e logo em seguida, para qualquer comprador.
À medida que os anos passavam, os empreendedores perceberam que a venda de
residenciais era mais rentável que os imóveis comerciais. Com isso surgiu o Residencial I,
destinado exclusivamente para morada. Atualmente, o Alphaville contém 12 mil casas, 42
torres residenciais e diversos edifícios comerciais e empresariais. Com uma população
estimada em 35 mil habitantes, o local possui 5 hospitais, além de shopping e hotéis.
Expandindo-se para o Oeste, a proposta determinou o início da descentralização
urbana e trouxe desenvolvimento para o município de Barueri-SP, até então uma região de
baixa renda. O local se transformou com a chegada dos novos moradores e novos
investimentos

Figura 7 - Condomínio Alphaville em Barueri-SP

Fonte: http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/barueri-em-sp-entra-na-era-da-energia-inteligente7

No início dos anos 80, era possível comprar terrenos no condomínio pelo preço de
um automóvel; já em 1987, os preços eram muito mais elevados. Uma das poucas regras do
loteamento fechado era a proibição de instalar casas pré-fabricadas nos lotes, e foi

7
Acesso em: 22 nov. 2015.
24
estabelecido um número máximo de 22 lotes por quadra. Na mesma década o bairro se
verticaliza (ver figura 7), para atender à grande demanda habitacional.

Figura 8 - Condomínio Alphaville em Barueri-SP

Fonte: https://alphavilleimoveis.files.wordpress.com/2013/04/dsc04060.jpg8

7.3 PLANO DE CERDÀ: Barcelona, Espanha

A proposta de Cerdà para a cidade de Barcelona, aprovada inicialmente em 1859,


apresenta uma intervenção completamente diferente. Os dois traçados urbanísticos básicos na
época, a quadrícula e o radial – neste caso o segundo subordinado ao primeiro – eram
sintetizados em um grande retângulo de sessenta por vinte módulos, localizado no espaço
livre deixado entre a cidade medieval amuralhada e os povoados vizinhos e cortado por duas
diagonais.
Como um dos primeiros tratadistas de arquitetura e urbanismo a reivindicar a
salubridade das habitações de maneira radical e efetiva como a condição primeira a satisfazer
na criação da nova cidade, considerando a moradia como suporte fundamental da qualidade
de vida. A casa é o ponto de partida do raciocínio de Cerdà. As habitações planejadas por
Cerdà tinham como características: a privacidade do indivíduo no lar, com condições dignas
de vida, o higienismo (sol, vento, ar, luz natural), que deveriam estar presentes nas habitações
e o custo, adaptação do empreendimento para a classe operária.
Emprega grande esforço na formulação das “ilhas tipo” e, a partir do reconhecimento
da quadrícula como o traçado que reúne tanto vantagens de ordem circulatória, topológica,
8
Acesso em: 22 nov. 2015.
25
construtiva, jurídica como urbanística, chega ao módulo quadrado de 113m de lado com um
chanfro de 20m como o mais adequado.
Ao compreender a necessidade de compactação da cidade industrial, abre mão de
qualquer exemplo de habitação unifamiliar com jardim, ideais no seu pensamento, mas
procura manter o máximo de qualidade ambiental.

Figura 9 – Plano de urbanização de Cerdà

Fonte: http://planocerda.blogspot.com.br/2007/05/o-plano-cerd-nova-barcelona-proposta_29.html

Cerdà escreve em sua “Teoria Geral da Urbanização” que a presença dos dois
conceitos diretores, a “habitação” e a “circulação”, que hoje mais do que nunca continuam
sendo os dois pólos operacionais do urbanismo estão presentes no plano de Barcelona no
cuidado com a habitação e no projeto cuidadoso de uma rua realmente racional, com 20m de
largura e separação entre os meios de locomoção.
Deve-se entender como cidade tradicional um organismo urbano gerado através de um
longo processo histórico. Neste contexto, tanto o traçado viário como a habitação coletiva são
elementos que não podem ser concebidos separadamente. Não existem, portanto espaços
indefinidos nesta relação restrita aos domínios do publico e do privado. A quadra da cidade
tradicional se caracteriza por ser claramente delimitada e homogênea.

O plano de Cerdá desenha uma grelha ortogonal, com quadras de 113m x 113m e vias
de 20m de largura, elevando a taxa de superfície viária, incluindo praças, de 17% para 34%. A
cada conjunto de nove quadras e vias correspondentes se inscreve dentro de um quadrado de
400m de lado. A quadricula estende-se até os núcleos urbanos vizinhos e envolve a cidade
medieval. Apesar de aparentar a imposição de uma nova ordem, indiferente ao contexto, o

26
ajuste das bordas é feito com extrema habilidade tendo como suporte avenidas diagonais que
surgem a partir de conexões pré-existentes. O corte diagonal nas arestas da quadra transforma
o simples cruzamento de vias em lugar, gera também desta forma maior amplitude visual dos
edifícios de esquina. As grandes avenidas possibilitam a conexão metropolitana e a integração
à viabilidade universal. A tipologia é ortogonal, homogênea e igualitária. O melhor exemplo
de habitação coletiva inserida neste contexto é a Casa Milà de Antoni Gaudí.
O plano previa quadra com ocupação perimetral em dois ou no máximo três lados. Os
edifícios não ultrapassariam mais do que dois terços da superfície do quarteirão. Os espaços
internos resultantes se abririam para a cidade oferecendo equipamentos públicos e generosas
áreas arborizadas. O importante é enfatizar que neste momento a quadra passa de uma
condição de residual para se tornar suporte de uma composição urbana que a tem como
espaço da cidade. O perímetro da quadra deixa de ser o limite do espaço público
Cerdà prevê o fluxo simultâneo de pedestres (com ou sem carga), de carruagens e trens
elétricos. Serviços como água, rede de esgoto, telégrafo, ferrovia e rede de energia elétrica são
planejados de modo que não poluam ou interfiram na paisagem da cidade (cabos, fios, postes
e etc.), estes devem ser subterrâneos. Cerdá pensa na cidade como um todo: o ato de ir e vir,
seja qual for o meio de transporte, a ordenação dos serviços básicos, o enquadramento e as
perspectivas do lugar.
No “Plano geométrico parcelado” Cerdá mostra como seria a relação dos lotes após a
passagem da via proposta em seu projeto. Desenhou isto na escala 1/500 para todo o território
indicando as cotas atuais, as futuras cotas das ruas e a área de calçada. Ainda desenhou 7
perfis longitudinais e verticais que serviam para estabelecer o nível das novas vias. Em
1865, a epidemia de cólera e a crise industrial, diminuem a verba para a continuação das obras
de expansão da cidade.

27
Figura 10 – Plano de urbanização de Cerdà

Fonte: http://planocerda.blogspot.com.br/2007/05/o-plano-cerd-nova-barcelona-proposta_29.html

Após a crise, uma dualidade toma conta da sociedade: uma grande quantia é liberada
para a continuidade do plano de expansão, só que sua utilização estava dividida entre a
construção das grandes vias (indenização dos moradores) e o novo projeto de ocupação do
solo (loteamento).
Garriga, arquiteto do governo, propõe a construção de um grande boulevard,
referenciado nos casos de Berlim e Paris, com largura de 60m junto à área da antiga muralha,
o que se opõe aos planos de Cerdá, que era de tornar a área um elemento de costura entre a
expansão e o centro histórico de Barcelona. A cada proposta de Garriga, Cerdá apresentava
uma contraproposta. O projeto do boulevard foi alterado e corrigido por Cerdà
posteriormente.
As ruas eram planejadas seguindo os princípios da orientação solar, largura, perfis
transversais, tipo de pavimentação, diferença de cotas entre outros. As paisagens, praças e
quadras deveriam interagir entre si, além de serem elementos harmônicos na cidade: isso seria
possível através da análise de cortes (relação altura x largura) e na relação da casa com a
quadra.
Analisa as entradas (portas), muralhas e vias de acesso. As muralhas são as condições
do contorno e um elemento importante para a densificação do tecido urbano. Cada porta da
cidade é o ponto de confluência de vias, sendo estes acessos centros do movimento. Quando
limitamos as vias de acesso (interior x exterior), limitamos também a expansão natural das
cidades.

28
Os centros de ação de Cerdà eram classificados conforme o tipo de atividade exercida
e a mobilidade permitida pelo espaço: políticos ou administrativos, econômicos ou industriais,
viários existentes, lazer ou áreas verdes.
Do desejo original de Cerdà permaneceu apenas o traçado viário, que é o elemento
mais visível e conhecido de sua obra. As quadras foram maciçamente ocupadas no perímetro
junto ao alinhamento da calçada retomando um caráter que a reaproximou da quadra
tradicional. Originalmente as quadras foram concebidas em média com 67.000m³ de área
construída, atualmente após 150 anos de adensamento progressivo temos em média
295.000m³ de área construída por quadra.

29
8. MEMORIAL DESCRITIVO

8.1 O Terreno

A área de terras denominada Loteamento Olho D’água, com a superfície de


244.817,00m² (duzentos e quarenta e quatro mil oitocentos e dezessete metros quadrados),
apresenta as seguintes medidas e confrontações:
• Na face norte, tendo como confrontante atual o terreno de propriedade de João Fortes,
com medida de 610,00m;
• Na face leste, tendo como confrontante atuais a BR – 343, com medida de 610,00m.
• Na face sul, tendo como confrontante atual o terreno de propriedade de João Fortes
com medida de 259,92m;
• Na face oeste, tendo como confrontante atual o terreno de propriedade de João Fortes
com medida de 600,00m.

30
Área total: 244.817,00m²
Topografia: terreno com cotas de nível regulares, pouco acidentada, com diferença de níveis
de 7,00m, onde a cota mais alta se encontra na parte noroeste do local.
Seu formato geométrico é um trapézio, circunstanciado pelos limites.
Vegetação: Predominam arbustos espaçados e as árvores aparecem ainda distantes uma das
outras.
Ocupação: no entorno é possível observar algumas comunidades que se estabeleceram nas
proximidades do terreno, devido à influência da escola técnica, locada na área, e o aeroporto
mais ao norte.

8.2 Vegetação

A vegetação predominante existente na área é de porte arbustivo e as principais


espécies encontradas são Urtiga e Marmeleiro além de algumas árvores de baixo porte.

8.3 Descrição do empreendimento

A proposta do empreendimento consiste na implantação de um loteamento, com lotes


a partir de 220,00m² até 627,18m². O Loteamento Olho D’água é formado por 18 quadras
residenciais e comerciais, 276 lotes, 13 vias locais, 01 via coletora principal e 01 via coletora
secundária, 08 áreas verdes e 07 áreas institucionais.

8.4 Legislação

Para a execução desse projeto, foi necessário consultar as seguintes legislações:

• Legislação Federal
Lei Federal Nº 7803/89, que dispões área de preservação ecológica pela presença de água
superficial.
Lei Federal 6766/79, que dispõe sobre parcelamento de solo urbano (loteamentos e
desdobramentos)

31
• Lei Estadual
Lei Nº 4515/91, dispões sobre a proteção do patrimônio cultural e dá outras providências.

• Lei Municipal
Lei complementar Nº 3560 de 2006 – Perímetro Urbano
Lei complementar Nº 3561 de 2006 – Uso do Solo
Lei complementar Nº 3562 de 2006 – Parcelamento do Solo

8.5 Masterplan
Inicialmente o terreno foi dividido em 4 grandes setores separados através de duas vias
com características de boulevard, cruzando entre si. O intuito é formar os dois primeiros
setores, mais ao leste, para lotes maiores com áreas a partir de 300,00m², e os dois outros
grandes setores ao oeste, com lotes menores com áreas a partir de 200,00m². Próximo à BR-
343, planejou-se localizar a área comercial, devido sua localização privilegiada.

32
8.6 Tendência de crescimento

A cidade de Piracuruca possui 4 grandes tendências de crescimento, localizados no


esquema a seguir:

01- Tendência de crescimento ao Norte – Região onde fica localizado o loteamento, o


aeroporto e o Instituto Federal de Educação do Piauí – IFPI. Sendo a maior tendência
de crescimento, é possível observar que comunidades já se estabeleceram no entorno
desta região
02- Tendência de crescimento à Noroeste – Local onde está estabelecido o Loteamento
dos Ipês, com com várias casas já construídas
03- Tendência de crescimento à Sudeste – Local onde está estabelecido o Loteamento
Nova Piracuruca, com todas as suas edificações já construídas

33
04- Tendência de crescimento ao Sul – Neste setor há tendência de crescimento ao longo
da BR – 343, o que é comum. Devido ao seu trânsito de mercadorias e serviços, as
residências e comércios se estabelecem guiados pela rodovia.

8.7 Terraplanagem

A área onde será implantado o empreendimento apresenta solo não susceptível a


erosão, no entanto os serviços de terraplanagem estão planejados e serão executados de
maneira que a intervenção seja a menor possível, a fim de preservar o terreno natural na área
dos lotes.
Onde for necessário, será feita a compensação de cortes e aterros, de maneira a
melhorar, quando possível, o escoamento das águas superficiais para as Ruas e Avenidas, bem
como a topografia final dos lotes.
Com isso, os lotes poderão ter aterros, e ainda terrenos naturais, ou seja, cada lote tem
conformação, características e especificações próprias, que deverão ser consideradas quando
da sua utilização, por meio de sondagens necessárias à elaboração do projeto estrutural, de
estudo do projeto de escoamento das águas e tomando todas as demais medidas, com vista a
evitar eventuais prejuízos às construções em seu imóvel ou em de terceiros.

8.8 Sistema viário

A distribuição interna é feita por vias simples (8,00m de leito carroçável e 2,50m de
passeio lateral para cada lado) e de mão dupla – boulevard - (8,00m de leito carroçável, 2,5m
de passeio lateral para cada lado e 30,00m de canteiro central).

8.9 Descrição dos lotes

O loteamento se compõe de 276 lotes formado por 18 quadras residenciais e


comerciais, 13 vias locais, 01 via coletora principal e 01 via coletora secundária, 08 áreas
verdes e 07 áreas institucionais, sendo a primeira área institucional (denominada I1),
localizada na cota mais alta do terreno, reservada à uma pequena estação de distribuição de

34
água potável com armazenamento em caixas d’águas, e na I7, com cota mais baixa do terreno,
uma pequena ETE – Estação de Tratamento de Esgoto.

• Quadras:
A,B,C,D,E,F,G,H,I,J,L,M,N,O,P,Q,R,S,T
• Lotes:
Residenciais .......................................................................................................... 249
Comerciais ............................................................................................................ 27

• Vias de circulação: Rua 01, Rua 02, ..., Rua 08, Rua Alfa, Rua Beta, Rua Gama, Rua
Delta, Rua Lambda, Av. Norte, Av. Sul, Av. Leste, Av. Oeste.

35
Plano Diretor

36
CONCLUSÃO

O terreno escolhido para o projeto de loteamento foi dividido em 4 grandes zonas


inicialmente. A partir daí surgiram novos estudos para viabilizar este empreendimento de
forma mais econômica possível. No parcelamento do solo, foi seguindo a lei específica
municipal nº 3561 de 2006, da capital do Piauí, Teresina, como parâmetro. Apresenta a
seguinte produção:

Residenciais .......................................................................................................... 249


Comerciais ............................................................................................................ 27

A proposta de moradias é para que neste loteamento sejam construídas casas térreas
com área para residir uma família com uma média de 4 pessoas. Portanto, resume-se o quadro
a seguir:

Lotes residenciais de uso misto (residência e comercio) ..................................... 28


Lotes apenas residenciais ..................................................................................... 221

População permanente calculada para o loteamento:

Lotes residenciais de uso misto (residência e comercio) ..................................... 112


Lotes apenas residenciais ..................................................................................... 884
Total ..................................................................................................................... 916

A população flutuante, formada de pessoas que apenas trabalham no local, é de 4% da


população permanente, isto é, 37 pessoas aproximadamente. A composição familiar módulo
entende: pai, mãe, filho 01, filho 02 (4 pessoas)

Total de filhos (menores de idade) ....................................................................... 140


Total de adultos .................................................................................................... 1105

Segundo dados do IBGE, a distribuição de escolaridade da População


Economicamente Ativa – PEA – está de acordo com a tabela mostrada a seguir:

37
Especificações Taxa (porcentagem)
2º grau completo 0,5 %
1º grau maior (5ª a 8ª serie) 0,5 %
1º grau menor (1ª a 4ª serie) 0,75%
Pré-escolar (0 a 3 anos) 0,75 %

Com esses dados foi possível traçar uma linha de estudos a fim de projetar os
equipamentos urbanos presentes no projeto, inclusive a creche. Deste modo, o trabalho visa
contemplar as diversas faixas etárias de indivíduos que porventura residirão no loteamento.
Dentre outras atribuições, o projeto de urbanismo teve como plano a expansão e melhoria da
qualidade de vida dos habitantes do município de Piracuruca-PI, trazendo um
empreendimento bem elaborado, com partido urbanístico visando o conforto térmico, melhor
distribuição espacial, ruas e avenidas largas para facilitar a fluidez do transito de automóveis,
e boulevard para práticas de esporte, lazer e principalmente bem-estar

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REFERÊNCIAS

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cidades sustentáveis. Disponível em:<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/
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de São Carlos. São Carlos-SP, 2010. Disponível em: < http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/
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