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MACAPÁ – AP
2022
JULIANA AMARAL QUADROS
MACAPÁ – AP
2022
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal do Amapá
Elaborada por Jamile da Conceição da Silva – CRB-2/1010
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Profª. Ma. Dinah Reiko Tutyia (Orientadora)
Universidade Federal do Amapá – UNIFAP
___________________________________________________
Profª Drª. Fátima Maria Andrade Pelaes
Universidade Federal do Amapá – UNIFAP
____________________________________________________
Profª Ma. Laura Caroline de Carvalho da Costa
Instituto Federal do Pará – IFPA
AGRADECIMENTOS
A Deus, por todo amor, proteção e bençãos. Por ser o meu sustento.
Aos cientistas, que não cessam seus estudos e nos proporcionaram a entrega de vacinas contra
COVID-19 em tempo recorde.
Aos meus amados avós, Teresinha (in memoriam), Candeias e Misael, que foram os pilares dos
caminhos que hoje posso trilhar. Ao meu querido avô, Marcos (in memoriam), o qual não
cheguei a conhecer, mas que conseguiu me passar todo seu amor por meio da minha família.
Aos meus pais, Ildete e Marcos, que nunca mediram esforços para que eu alcançasse todos os
meus sonhos e que sempre lutaram para que eu tivesse a melhor educação possível.
Ao meu irmão, Vinícius, que ainda na minha infância me ensinou a forma mais fácil de entender
a fórmula da área do triângulo retângulo, tornando a geometria e a vida em coisas mais simples.
Ao meu namorado, Filipe, que escutou todos os meus lamentos e comemorações, me auxiliou
de infinitas formas na execução desse trabalho, com destaque na produção gráfica.
À minha orientadora, Profª Ma. Dinah Reiko Tutyia, por me direcionar sempre no caminho
certo, com paciência e dedicação.
Aos meus familiares, por toda confiança que sempre depositaram em mim, em especial ao meu
primo João Paulo que foi de grande ajuda nessa pesquisa.
Aos meus amigos de Arquitetura e Urbanismo, especialmente Carolina, Elder, Letícia Dias,
Letícia Abrantes, Marcus, Silvia, Tainá, Thaís Letícia, Yasmin e Ygor por compartilharem
comigo os momentos de dificuldade, estresse, angústia e alegria.
Aos meus amigos, os quais, cada um à sua maneira, tornaram esse processo mais fácil e feliz.
Aos professores do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFAP, que me ensinaram tanto em
suas aulas quanto nas conversas trocadas pelos corredores da universidade.
Ao Prof Dr. Marcos Vinícius de Freitas Reis que me indicou vários caminhos para dar partida
nessa pesquisa e me conectou aos entrevistados desse trabalho.
Ao Prof Dr. José Alberto Tostes por ceder a imagem aérea de Macapá de 1966.
Aos moradores do bairro Laguinho, em especial a Cristina, Daniel, Durica, José Antônio, José
Raimundo e Laura, que me permitiram conhecer suas histórias, suas vidas e suas memórias.
Aos servidores da CAESA pela disponibilização de material para a pesquisa.
Às marabaxeiras, por me inspirarem e motivarem com o movimento das suas danças.
Às lavadeiras, puxadeiras, benzedeiras, cantadeiras, costureiras, curandeiras, parteiras que
fazem parte da construção da nossa cidade.
À cada um que de alguma forma contribuiu com a minha formação: de vida e de graduação.
Ao São Benedito, padroeiro da minha família, que não cessou de interceder pelo meu TCC.
“E comecei a entender que a beleza da jornada não é
chegar, mas viver toda a experiência que existe no
caminho.” (LUCÃO. Viver não pode ser só isso: volume
1, 2020)
RESUMO
Este trabalho investiga os lugares atrelados às memórias dos moradores do bairro do Laguinho,
na cidade de Macapá, capital do estado do Amapá. O referido bairro tem uma importante
significância cultural e histórica para a história da cidade. O método para apreensão dos dados
dessa pesquisa se deu por revisão bibliográfica e documental e a partir de entrevistas realizadas
com moradores e antigos moradores do Laguinho. Também foram realizadas pesquisas em
projetos de referência para auxiliar na composição de uma proposta de intervenção urbano-
arquitetônica no bem cultural “Poço do Mato”, o qual foi escolhido por conta de sua relevância
para a história do bairro e pela viabilidade de intervir em seu entorno.
This work investigates the places linked to the memories of the residents of the Laguinho
neighborhood, in the city of Macapá, capital of the state of Amapá. This neighborhood has an
important cultural and historical significance for the city's history. The method for capturing
the data in this research was based on a bibliographical and documental review and based on
interviews carried out with residents and former residents of Laguinho. Research was also
carried out in reference projects to assist in the composition of a proposal for urban-architectural
intervention in the cultural property “Poço do Mato”, which was chosen because of its relevance
to the history of the neighborhood and the feasibility of intervening in its surroundings.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 16
CAPÍTULO 1 – MEMÓRIA, PAISAGEM, ORALIDADE E PATRIMÔNIO
CULTURAL ............................................................................................................................ 18
1.1 MEMÓRIA COLETIVA ................................................................................................. 19
1.2 PAISAGEM E A PRESERVAÇÃO DE REFERÊNCIAS TRADICIONAIS
CULTURAIS........................................................................................................................... 24
1.3 A GESTÃO DOS BENS CULTURAIS DE MACAPÁ, DO LAGUINHO E DO POÇO
DO MATO ............................................................................................................................... 28
1.3.1 Os bens culturais imóveis do bairro do Laguinho .................................................... 31
1.3.2 O Poço do Mato........................................................................................................ 32
CAPÍTULO 2 – “AONDE TU VAI RAPAZ, NESSE CAMINHO SOZINHO?” ............ 35
2.1 O BAIRRO DO LAGUINHO: UM BREVE HISTÓRICO .......................................... 36
2.1.1 Da colonização do Brasil ao Século XIX: Breve trajetória ...................................... 36
2.1.2 Da criação do Território Federal do Amapá............................................................. 47
2.1.3 Da formação do bairro do Laguinho ........................................................................ 51
2.1.4 O bairro do Laguinho dentro dos planos urbanísticos de Macapá ........................... 60
2.2 SER UM “LAGUINENSE”: PERCURSO PELOS MARCOS DE MEMÓRIAS ...... 66
2.3 POÇO DO MATO ............................................................................................................ 72
CAPÍTULO 3 – “EU VOU FAZER A MINHA MORADA LÁ NOS CAMPOS DO
LAGUINHO” .......................................................................................................................... 79
3.1 DEFINIÇÃO DO TEMA ................................................................................................. 80
3.1.1 Requalificação urbana .............................................................................................. 80
3.1.2 Referências projetuais .............................................................................................. 82
3.1.2.1 Requalificação do Largo da Igreja, Fajã de Baixo em Ponta Delgada – Portugal 82
3.1.2.2 Requalificação Urbana V-Plaza, Caunas – Lituânia ............................................. 86
3.1.2.3 Projeto Rua Compartilhada no Ceará – Brasil ...................................................... 90
3.2 CARACTERIZAÇÃO DOS USUÁRIOS....................................................................... 95
3.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES .............................................................................. 95
3.4 RELAÇÕES DO PROGRAMA ...................................................................................... 96
3.5 PRÉ-DIMENSIONAMENTO ......................................................................................... 97
3.6 ESTUDOS PRELIMINARES ......................................................................................... 98
3.6.1 Localização............................................................................................................... 98
3.6.2 Estudos de análise do terreno ................................................................................. 100
3.6.3 Relações com o entorno ......................................................................................... 105
3.6.4 Legislação urbana da área ...................................................................................... 112
3.6.5 Normas de acessibilidade ....................................................................................... 114
3.7 ADOÇÃO DO PARTIDO .............................................................................................. 115
3.8 PROJETO DE ARQUITETURA DA REQUALIFICAÇÃO URBANO-
ARQUITETÔNICA DO POÇO DO MATO ..................................................................... 123
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 131
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 133
APÊNDICE A – PRANCHAS DO PROJETO ARQUITETÔNICO .............................. 139
APÊNDICE B – DETALHAMENTO DE INTERIORES ................................................ 146
16
INTRODUÇÃO
1
“O Marabaixo é uma forma de expressão elaborada pelas comunidades negras do estado do Amapá, manifestada
especialmente por meio da dança e das cantigas denominadas ladrão” (IPHAN, 2018, p. 6).
17
grupos e registradas por meio de relatos, músicas, rodas de conversa com a contribuição de cada
integrante para a construção dessa lembrança.
Desvendar essas memórias de famílias as quais por muito tempo residiram na mesma
cidade ou na proximidade dos mesmos amigos, para Halbwachs (1990), é compreender que
estes se constituem como uma sociedade complexa, na relação cidade-família ou amigos-
família. Então as lembranças nascem compreendidas em dois planos de pensamentos comuns
aos membros dos dois grupos e, para reconhecer uma lembrança proveniente dessa relação, é
preciso fazer parte simultaneamente dos dois grupos. Quanto a esse vínculo estreito entre as
pessoas, as relações e o lugar, o autor assinala que o espaço não se comporta como um quadro
negro no qual escrevemos e depois apagamos, pois, diferente do quadro, o lugar possui signos
e a marca do grupo, “então, todas as ações do grupo podem se traduzir em termos espaciais, e
o lugar ocupado por ele é somente a reunião de todos os termos” (HALBWACHS, 1990, p.
133).
Halbwachs (1990) ainda coloca que cada aspecto de detalhe do espaço possui sentidos
que só são compreendidos pelos membros do grupo, “porque todas as partes do espaço que ele
ocupou correspondem a outro tanto de aspectos diferentes da estrutura e da vida de sua
sociedade, ao menos, naquilo que havia nela de mais estável” (HALBWACHS, 1990, p. 133).
Se, entre as casas, as ruas, e os grupos de seus habitantes, não houvesse apenas
uma relação inteiramente acidental, e de efêmera, os homens poderiam
destruir suas casas, seu quarteirão, sua cidade, reconstruir sobre o mesmo
lugar uma outra, segundo um plano diferente; mas se as pedras se deixam
transportar, não é tão fácil modificar as relações que são estabelecidas entre
as pedras e os homens. Quando um grupo humano vive muito tempo em lugar
adaptado a seus hábitos, não somente os seus movimentos, mas também seus
pensamentos se regulam pela sucessão das imagens que lhe representam os
objetos exteriores. Eliminai agora, eliminai parcialmente ou modificai em sua
direção, sua orientação, sua forma, seu aspecto, essas casas, essas ruas, essas
passagens, ou mudai somente o lugar que ocupam um em relação ao outro. As
pedras e os materiais não vos resistirão. Mas os grupos resistirão, e, deles, é
com a própria resistência, senão das pedras, pelo menos de seus antigos
arranjos na qual vos esbarreis (HALBWACHS, 1990, p. 136 e 137).
Nesses trechos, Halbwachs (1990) expõe que o locus da relação do grupo não se
resume a uma simples dimensão física, um mero palco para suas vivências e encontros. Se essa
relação de vizinhança, no entanto, fosse acidental e efêmera, seria facilmente possível
reconstruir um plano diferente na localidade. Só que a relação existente entre o homem e a
matéria não é tão facilmente modificada, principalmente se este espaço já está adaptado aos
seus hábitos.
21
2
A etnografia de rua, proposta por Eckert e Rocha (2003) nos convida a um passeio descompromissado pela
cidade, como o do flâneur, o personagem baudelairiano, que caminha sem traçar um destino fixo, mas com uma
trajetória que concebe a cidade e tudo que a compõe. As autoras destacam que esse processo de conhecimento da
cidade não é somente apropriar-se dos saberes e fazeres dos habitantes, mas compreender o lugar do meu próprio
ser em relação ao outro dentro do ambiente urbano. Desta forma, a etnografia “consiste em descrever práticas e
saberes de sujeitos e grupos sociais a partir de técnicas como observação e conversações, desenvolvidas no
contexto de uma pesquisa” (ECKERT e ROCHA, 2003, p. 104).
23
do Rosário Almeida, e com antigas moradoras do Laguinho: Laura Silva e Maria Cristina do
Rosário Almeida. Todas as entrevistas foram realizadas individualmente por meio da
plataforma de videoconferência Google Meets, com exceção do diálogo com José Raimundo
da Silva Sousa, o qual foi presencial, por ter ocorrido ainda antes do início da quarentena.
As entrevistas possuíam um caráter semiestruturado, em que se questionava quanto à
formação do bairro, sua importância para a história dos afrodescendentes do Amapá, a
existência ou não de subáreas dentro do bairro, as edificações que estão presentes em seu
imaginário, as práticas culturais do bairro e as necessidades ainda não atendidas. Nesse passeio
pela memória dos entrevistados, muitos relatos foram utilizados para construir parte desse
histórico do bairro, identificar os lugares onde recaem as memórias e elaborar uma proposta de
intervenção urbano-arquitetônica em um dos locais muito citado por eles: o Poço do Mato.
A história oral é entendida como uma metodologia, onde a relação de entrevistador-
entrevistado, segundo Amado e Ferreira (2006), gera um documento com uma característica
singular, visto que só existe por conta desse encontro, um resultado do diálogo do sujeito e do
objeto, além de proporcionar um caminho alternativo de interpretação para a pesquisa.
O uso da história oral no Brasil data dos anos 70, mas foi no início dos anos 90 que
passou por uma significativa expansão. A exploração dos conteúdos gerados pelo uso desse
método ainda representa um desafio aos pesquisadores brasileiros, que têm em vista um
aprofundamento entre a teoria e o método (AMADO e FERREIRA, 2006). Mas é por meio dela
que “o objeto de estudo do historiador é recuperado e recriado por intermédio da memória dos
informantes; a instância da memória passa, necessariamente, a nortear as reflexões históricas,
acarretando desdobramentos teóricos e metodológicos importantes” (AMADO e FERREIRA,
2006, p. xv). Amado e Ferreira (2006) ainda destacam que a história oral está no campo de uma
ponte entre prática e teoria, sendo sua capacidade somente a de suscitar questões, sem
solucioná-las.
Estar em contato com o outro para ouvir suas lembranças coletivas, segundo Fernandes
(2005) requer do pesquisador a manifestação de interesse e simpatia pela narrativa e pela
opinião do entrevistado, deve ouvir mais do que falar, assim como é importante que tenha
conhecimento da comunidade pesquisada, compreendendo termos, hábitos e costumes dela.
Quanto às perguntas, é importante que separe as temáticas a serem abordadas sem que isso
engesse a condução da entrevista ou que deixe de abordar algo.
Desta forma, tendo em vista situação pandêmica, a pesquisa adaptou-se para o método
da história oral que possibilitou o contato com o “nativo”, realizado por meio de entrevistas de
videochamadas, gravadas. Outro recurso de aproximação deriva dos blogs memorialistas de
24
Macapá. Escrito por jornalistas, radialistas, sociólogos, saudosos macapaenses os quais viveram
a época do Território Federal do Amapá, e que relatam em seus posts a “Macapá de outrora”.
Este acervo documental traz a história dos pioneiros, também recordam seus tempos de escola,
suas lendas da infância e os lugares onde costumavam brincar e encontrar amigos. Tais
blogueiros destacam na malha urbana os edifícios e casas que já não existem mais, contudo
auxiliam na contextualização dessas memórias.
Dentre os sujeitos produtores desse material, destacamos os blogs: “O Amapá é
lindo!”, de Hélida Pennafort; “Blog de Rocha”, de Elton Tavares; “Porta-retrato
Macapá/Amapá”, de João Lázaro Silva; e o blog de Alcilene Cavalcante.
Tendo como base essa compreensão da memória coletiva e do uso da história oral
como aproximação do objeto de estudo, cabe adentrar no entendimento do local, não como um
objeto isolado, mas como parte de uma paisagem e como locus de relações interpessoais. A
paisagem é um objeto de estudo compartilhado em diferentes disciplinas acadêmicas, isso
acarreta a abertura de um vasto campo de reflexão teórica sobre esse assunto visto que
determinar uma concepção para esse objeto implica na metodologia e na orientação dos
resultados de identificação e preservação dessa paisagem (RIBEIRO, 2007).
Uma vez que este conceito é “polissêmico e subjetivo”, Ribeiro (2007) traz uma
análise da evolução dessas abordagens a partir da geografia, uma ciência da paisagem, a qual
analisa suas formas materiais e como a cultura humana a tem transformado. Em suma, com a
ascensão do pensamento positivista, a paisagem é setorizada em dois conceitos: natural, sem
interferência humana, e cultural, que já sofreu influência do homem. A partir dessa visão, a
paisagem passa a ser estudada pelo método científico da época. Diante da ruptura com o
positivismo, no final da década de 60, o campo da geografia se aproxima do humanismo e passa
a ligá-la ao sistema de valores humanos, nascendo o conceito topofilia.
Esse conceito foi introduzido pelo geógrafo Yi-Fu Tuan, em 1974, em seu livro
“Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente”, que o define como
“o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico. Difuso como conceito, vívido e
concreto como experiência pessoal” (TUAN, 1980, p. 5). Compreender essa relação, é entender
a necessidade de preservar espaços da cidade que proporcionaram experiências pessoais e
coletivas.
25
Com efeito, Rafael Ribeiro (2007) identifica que a paisagem ultrapassa aquilo que é
visível, torna-se um documento a ser interpretado a partir de um nível moral, intelectual e
estético conquistado pela humanidade em algum momento de sua história, em que cada grupo
compreende segundo seu próprio conjunto de símbolos. Portanto o conceito se instala em uma
interação complexa entre a matriz e o marco. A matriz contribui para a continuidade de usos e
significações, já o marco sinaliza em seu espaço os sinais e símbolos da atividade de cada grupo.
Desta forma, a necessidade de preservar e colecionar esses locais como patrimônio
cultural, diz Gonçalves (2009), é importante para a vida social e mental de qualquer coletividade
humana. Mas é necessário entender que esse processo de patrimonialização é diferente em
diversas sociedades e é essencial que não haja uma imposição do nosso olhar a elas. Ainda
reitera Gonçalves (2009) que a nova concepção antropológica de cultura dá ênfase às relações
sociais ou às relações simbólicas e não a objetos e técnicas. A intangibilidade talvez esteja
associada ao caráter desmaterializado da moderna concepção da antropologia sobre a cultura.
No que tange o processo de preservação do acervo cultural brasileiro, em um histórico
feito por Antonio Andrade (1997), destaca que no Brasil a política de desenvolvimento do
século XX foi responsável por desencadear uma preocupação com a permanência das
referências tradicionais materiais e suscitaram várias iniciativas de instituir no país uma política
de proteção dos bens culturais.
Foi em 1933 que houve a primeira lei aprovada neste quesito, a qual erigia a cidade de
Ouro Preto, no estado de Minas Gerais, à categoria de “monumento nacional”. Três anos após,
uma iniciativa de Gustavo Capanema, o então Ministro da Educação e Saúde, cria
provisoriamente o “Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN”, que logo
tornou-se “Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN” sob a direção de
Rodrigo Mello Franco de Andrade (ANDRADE, 1997). Durante o Golpe do Estado Novo, em
1937, foi promulgado o Decreto-lei nº 25 que organiza a “proteção do patrimônio histórico e
artístico nacional” e permanece até os dias atuais como uma das principais legislações que
regem as práticas do IPHAN, o qual define os procedimentos adotados nas práticas de
tombamento e estabelece seus efeitos (ANDRADE, 1997).
A princípio as iniciativas de preservação se davam em monumentos isolados, todavia
as contribuições internacionais afloraram indagações que alargaram os horizontes para os ares
dos conjuntos urbanos. Castriota (1999) afirma que a ênfase muda, visto que não mais interessa
puramente o valor de uma edificação ou conjunto, mas em compreender como eles se
relacionam com a cidade. Essa ampliação ocasionou um aumento de demandas, o que ensejou
a criação de órgãos estaduais e municipais de preservação (ANDRADE, 1997).
26
3
Definido no Estatuto da Cidade, lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, pelo artigo 35, que discorre:
“Art. 35. Lei municipal, baseada no plano diretor, poderá autorizar o proprietário de imóvel urbano, privado ou
público, a exercer em outro local, ou alienar, mediante escritura pública, o direito de construir previsto no plano
diretor ou em legislação urbanística dele decorrente, quando o referido imóvel for considerado necessário para fins
de:
I – implantação de equipamentos urbanos e comunitários;
II – preservação, quando o imóvel for considerado de interesse histórico, ambiental, paisagístico, social ou cultural;
III – servir a programas de regularização fundiária, urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda
e habitação de interesse social.”
4
Definido no Estatuto da Cidade, lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, pelo artigo 32, parágrafo 1, que discorre:
“Considera-se operação urbana consorciada o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público
municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o
objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização
ambiental.”
27
5
Segundo o IPHAN, as Cartas Patrimoniais “apresentam as recomendações referentes à proteção e preservação
do Patrimônio Cultural, elaborados em encontros em diferentes épocas e partes do mundo”.
28
Em seu livro Tristes Trópicos (1970), Claude Lévi-Strauss ao observar as cidades nas
américas, fala que elas “jamais incitam a um passeio fora do tempo, nem conhecem essa vida
sem idade que caracteriza as mais belas cidades que chegaram a ser objeto de contemplação e
de reflexão, e não só instrumentos da função urbana” (LEVI-STRAUSS, 1970, p. 81-82 apud
CASTRIOTA, 1999, p. 134). Essa observação pode ser usada para refletir a capital do Amapá,
pois, de acordo com Cantuária (2020), as transformações urbanas de Macapá não possuem um
planejamento que considere as características históricas e culturais, ocasionando em uma cidade
com “poucas” marcas materiais culturais de sua história. Isso se dá pelo fato de que a
modernização do lugar propõe a destruição da cidade antiga em um movimento que “nega a
existência de uma história anterior” (CANTUÁRIA, 2020, p. 147).
No entanto, essa deficiência de planejamento não se dá por conta da inexistência de
uma legislação regulamentadora, visto que, de acordo com o Decreto Estadual nº 4026 de 06
de novembro de 2009 que revoga os decretos anteriores dos anos de 1992, 1995 e 2007, desde
a década de 90 já existiam determinações quanto a procedimentos da gestão de bens e sua
incorporação ao acervo patrimonial estadual e desde 2017 essa responsabilidade de gerir o
patrimônio cultural amapaense está sob domínio do Sistema Estadual de Cultura do Estado do
29
Amapá – SEC/AP, coordenado pela Secretaria Estadual de Cultura – SECULT. Essa gerência
não parece ser suficiente, visto que Cantuária (2020, p. 148) afirma que “a falta de instrumentos
e de Órgão Municipais e Estaduais de gestão das políticas patrimoniais tem permitido essa
constante destruição do patrimônio arquitetônico da cidade”.
No ano de 2009, a Superintendência Regional do IPHAN (SR-AP/IPHAN) no Amapá
tomou a iniciativa de criar o Inventário de Conhecimento dos Bens Imóveis da Cidade de
Macapá/AP com o objetivo de fomentar políticas de preservação dos bens patrimoniais
estaduais e municipais. A primeira etapa do inventário levantou os bens que possuíam interesse
histórico, artístico e cultural com “potencial de refletir o patrimônio, a história e a cultura da
comunidade amapaense e das pessoas que contribuíram para a de Macapá” (IPHAN, 2009b,
n.p), sendo estes bens as edificações remanescentes do período colonial e republicano e os “bens
de tipologia moderna de reconhecido valor cultural e histórico da sociedade macapaense”
(IPHAN, 2009b, n.p). A área de estudo compreendeu parte do bairro Central e seu entorno,
considerando locais com a maior concentração de edificações de valor cultural da cidade.
O Dossiê (2009a) gerado por essa iniciativa destacou que as construções inventariadas
convivem com uma tendência a alteração por conta de intervenções inadequadas e pela ausência
de regulamentação e legislação específica que direcione ações de salvaguarda patrimonial.
Dessa maneira, recomendou o tombamento de dois edifícios a nível estadual e de vinte e dois
bens a nível federal, incluindo o traçado urbano colonial, construídos durante a época da
colonização e do Território Federal do Amapá, visto que “a importância destes bens refere-se
não só a sua importância histórica, uma vez que representam um projeto nacional de integração
e defesa das áreas de fronteira do país, mas porque representam parte da história coletiva e
individual da sociedade macapaense” (IPHAN, 2009a, p. 134).
A poligonal fornecida pela SR-AP/IPHAN, entretanto, não abrangia nenhuma parte
dos bairros Laguinho e Santa Rita (antigo Favela), apesar de possuírem bens de valor histórico
e cultural da comunidade amapaense que muito contribuiu para a construção da cidade de
Macapá e de se enquadrarem no recorte histórico da instalação do Território Federal do Amapá,
na década de 40.
Na Figura 1 é possível identificar que a localização dos bens de interesse ao
tombamento federal e estadual estão presentes nos bairros Central e Trem, compreendendo os
seguintes itens à nível federal: Traçado urbano colonial, Prédio da Igreja de São José, Largo
dos Inocentes, Praça Veiga Cabral, Praça Barão do Rio Branco, Prédio da Escola Barão do Rio
Branco, Prédio da antiga escola Industrial (hoje, Escola Antônio Cordeiro Pontes), Prédio do
antigo Cinema Territorial, Conjunto arquitetônico da Rua São José, Prédio da antiga
30
Fonte: Dossiê Macapá – Inventário de Conhecimento dos Bens Imóveis da Cidade de Macapá/AP
31
A imagem que ilustra o início desse capítulo traz em seu conteúdo algumas residências
do bairro do Laguinho, que foram apreendidas no estágio inical dessa pesquisa, na elaboração
do diário de campo.
Os imóveis chamaram a atençao por possuírem elementos de uma arquitetura do
passado, além de fazerem parte da história do referido bairro, visto que as populações
remanejadas tiveram que reconstruir suas moradias nesse novo lugar.
Assim, encontramos por meio dessas casas uma parte da história da arquitetura da
cidade, em que pode-se destacar alguns empréstimos de alguns estilos artísticos, como as linhas
curvas do Art Nouveau, o uso de platibandas e a predominância das linhas retas e inclinadas da
arquitetura moderna, também os elementos decorativos da arquitetura erudita, o uso da
tecnologia de construção em madeira.
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Figura 2 – Três residências do bairro Laguinho: (da esquerda para a direita) elemento
da arquitetura erudita, uso de arcos e platibanda e linhas retas e inclinadas
Figura 3 – Lago do Poço do Mato: comparação das vistas aéreas de 1993 e 2003
Fonte: QUADROS, Juliana (2021) com base nas imagens do Google Earth (1993 e 2003)
6
O obelisco foi uma estrutura criada pelos egípcios e se popularizou em vários países da Europa, como Roma e
França, assim como se espalhou pelo Brasil, tendo como exemplo o Obelisco Comemorativo da Inauguração da
Avenida Central, no Rio de Janeiro no início do século XX, e alguns exemplares presentes nos projetos do arquiteto
Oscar Niemeyer. A estrutura possui, em geral, uma base quadrangular e que vai se afunilando até se tornar uma
pirâmide no ápice (SCHLEE, 2009).
34
7
Frase retirada do Ladrão de Marabaixo “Aonde tua vai rapaz”, a qual retrata a retirada da população
afromacapaense do centro da cidade.
36
No entanto, nessa região, de acordo com Costa e Sarney (2004), já residiam indígenas
tucujus, tapuiaçus e a dos marigus, os quais pertencem aos três grupos: aruaques, caraíbas e
tupis-guaranis. Os autores ainda explanam que estas etnias viviam da pesca e da caça e faziam
o consumo de raízes e frutos, residiam em habitações coletivas e produziam cestas e cerâmicas
primitivas. A chegada dos europeus e a colonização toma desses povos originários a posse do
território amapaense.
Ainda que o local fosse de domínio espanhol, a ocupação francesa ao norte do país
tinha muito interesse na área e realizava investidas na região, dentre estas, em 1605 efetivou
uma invasão que perdurou por 30 anos, culminando com a expulsão dos mesmos pelos
portugueses (CHELALA, 2008). Com isso, havia a necessidade de militarização e defesa das
terras, ocasionando a primeira ocupação portuguesa, referenciada em 1623, com o Forte
Cumaú, construído por Bento Maciel Parente, o qual foi demolido posteriormente por Feliciano
Coelho para expulsar a ocupação dos ingleses, os quais também cobiçavam esta porção do
território (ARAUJO, 1998).
38
Ainda no século XVII, no ano de 1688, uma nova fortificação foi erguida com o nome
de Santo Antônio de Macapá, sobre as ruínas do Forte Cumaú (ARAUJO, 1998). No século
seguinte, Araujo (1998, p. 147) afirma que “constrói-se um novo reduto a cerca de duas léguas
e meia de distância do forte de Santo Antônio”. Na Figura 6 pode-se compreender a distância
entre o Forte Cumaú e a Fortaleza de São José de Macapá, que foi erguida nas proximidades
desse novo reduto, e à direita está a planta do Forte Cumaú, contida no livro As Fortificações
da Amazônia de Arthur Vianna, o qual faz parte do “Annaes da bibliotheca e archivo publico
do Pará 1905”.
Fonte: Reprodução de Mapa Rodoviário do Amapá – DNIT (2002), modificado pela autora, 2021. Reprodução
do livro “As fortificações da Amazônia” de Arthur Vianna in Annaes da bibliotheca e archivo publico do Pará
1905.
No século XIX, em 1835 uma nova investida é realizada na região do Amapá pelos
franceses, tentando expandir a área das Guianas até o Rio Araguari. O conflito só foi resolvido
em 1900, por meio da decisão diplomática do “Laudo Suíço” o qual estabeleceu o Rio Oiapoque
como divisa entre os dois territórios. (CHELALA, 2008). Na Figura 7 podemos observar no
mapa a área do contestado que foi alvo de investida por parte dos franceses que, após a decisão
do laudo, tornou a ser considerada parte do estado do Amapá.
39
A referida narrativa também é contada nos dias atuais por moradores do bairro do
laguinho, dentre estes, Cristina Almeida, também confirma a origem de sua família ser atrás da
Matriz, afirmando que seu pai “era oriundo do Formigueiro, né, do centro da cidade”8.
Fonte: Thomas Rodrigues da Costa (1759), reprodução de Renata Malcher de Araújo (1998) e digitalizado em
ilustração digital por Juliana Quadros (2021).
8
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 24 de fevereiro de 2021.
41
o referido projeto com as praças São João9 (atual praça Veiga Cabral) e São Sebastião2 (atual
praça Barão do Rio Branco). A praça S. João, vulgarmente chamada de “Praça debaixo”, era
circundada pela Igreja Matriz de São José e a Casa da Câmara. O pelourinho ocupou a praça S.
Sebastião, conhecida como Praça de Cima (BAENA, 1873). Luna (2017, p. 33) afirma que “o
projeto de edificações urbanas da vila de Macapá contou com o corpo físico de negros e nativos
(índios), na forma de trabalho cativo e compulsório”.
Próximo à “Praça de Cima” havia a Vila de Santa Engrácia, um local considerado
nobre em que viviam muitos afroamacapaenses, assim como no Formigueiro, estes lugares
foram destacados na Figura 10. Essa informação é confirmada por Luna, que afirma:
9
De acordo com (BAENA, 1873), a praça que ficava em frente à Igreja Matriz de São José era nomeada São João.
No entanto, a imagem apresentada logo em seguida, em sua legenda, nomeia a praça Veiga Cabral como “São
Sebastião” e a atual praça Barão do Rio Branco como “São João”. Os versos do ladrão de Marabaixo “Aonde tu
vai rapaz” de Raimundo Ladislau denominam também a praça Barão do Rio Branco como “São João” na estrofe:
“Largo de São João / Já não tem nome de santo / Hoje é reconhecido / Por Barão do Rio Branco”.
43
Fonte: Reprodução de Gaspar João de Gronsfeld, Planta da Vila de S. José de Macapá tirada por ordem do Ilmo
e Exmo Sbr Manoel Bernardo de Mello e Castro Gov.or e Capp.am General do Estado do Para & em o Anno de
1761 pello Capitão Eng.ro Gaspar João de Gronsfeld (ARAÚJO, 2012) e digitalizado em ilustração digital por
Juliana Quadros (2021).
Em junho de 1773, o governador do Grão-Pará João Pereira Caldas faz uma visita à
vila de Macapá e envia um mapa ao Conselho Ultramarino constando como habitantes um total
de 986 pessoas livres e 321 escravizados, abrigados em um total de 245 fogos10. Já no relatório
do Sargento Mor João Vasco Manuel de Braum, publicado no ano de 1789 referindo-se à
expedição realizada pelo rio Amazonas em companhia do governador da província do Grão-
Pará, Martinho de Souza e Albuquerque (ROCHA, 2009), a população da vila era de 2000
pessoas brancas e 750 escravizados e alguns índios assalariados (ARAUJO, 1998).
Certos registros, embora não tratem da estruturação física da cidade, mas foram
significativos para o conhecimento do modo de vida da população macapaense em 1828. O
Tenente Coronel de Artilheria reformado, Antonio Ladisláu Monteiro Baena, no “Relatório”
presente no livro Pinsionia, organizado por Cândido Mendes Almeida, destacou que “o trabalho
dos moradores abrange artigos de negocio [sic], gêneros [sic] de lavoura, e uso de artes fabris:
10
Segundo o dicionário (PRIBERAM, [s.d.]), fogos significa “cada uma das unidades de um conjunto
habitacional”.
44
tudo em pouca quantidade” (BAENA, 1873). Também fez registros sobre a alimentação da
época, a qual se baseava na pesca e caça de animais e o cultivo de frutas, legumes, raízes e
grãos:
Os que não são fazendeiros, nem exercem officio [sic] mecânico algum, ou
algum outro emprego, occupão-se [sic] em caçar e pescar quando precisão
para aplacar [sic] a fome, e em fazer huma [sic] breve horta, na qual plantão
[sic] jurumú, taqueira, melancia, melão, pepino, machicho [sic], batatas, carás,
ariás, repolho, couve, mostarda, alface, jambú, beldroega, bringelas [sic], e
tomates.
[...]
Também plantão em curtos roçados feijão, milho, mandioca, algodão, arroz e
tabaco, o qual tudo chega para o consumo da villa [sic] (ALMEIDA, 1873, p.
34).
Se tratando das mulheres, Antônio Baena (1873, p. 34) cita funções atreladas a
manufaturas têxtil como atividades derivadas do extrativismo vegetal e animal, no trecho:
“tecer panno de algodão grosso e fino, fazer medíocres atoalhados, fabricar azeite de andiroba,
e criar galinhas, patos, perús, porcos, cabras e ovelhas”. Registra também as atividades no
Igarapé das Mulheres, que se localiza no atual bairro Perpétuo Socorro, comumente utilizado
para a higiene dessas mulheres:
O pântano [sic], e o lago existem desde antes da erecção [sic] da Villa [sic]: e
não ha [sic] tradição oral de que os periodos sazonaticos [sic] fossem
attribuidos [sic] à este pantano [sic], e à este lago, nem tambem [sic] à outro
lago que jaz da parte do Norte junto à Villa [sic], do qual corre para o
Amazonas hum [sic] igarapé denominado das Mulheres, por que he [sic]
onde ellas [sic] vão gozar do banho em razão de ser a isso accomodado [sic]
(ALMEIDA, 1873, p. 34).
O referido documento do século XIX aponta para espaços da cidade de Macapá que
ainda hoje encontram-se presentes e são envoltos de memórias da população, como o Igarapé
das Mulheres. Naquele período, a população de Macapá reivindicava uma autonomia territorial
que fosse independente da política e do mercado da Província do Pará, no entanto, o Império
não lhe deu o apoio político necessário, fazendo com que os moradores se revoltassem com o
desprezo pelo qual a vila passava, visto que isso fora muito prejudicial para um local com
potencialidade comercial e de navegação por conta foz do Rio Amazonas. O referido fato
contribuiu para que muitos edifícios públicos se deteriorassem, pela insuficiência de recursos
destinados à sua conservação, e hoje apenas a Igreja São José e a Fortaleza de São José
permanecem na paisagem macapaense oriundos dos anos do período pombalino (LUNA, 2017).
Essa perda constante de edificações as quais marcam momentos da história da cidade
se perpetua até os dias atuais e Cantuária, Silva e Pelaes (2010, p. 474) denunciam que
45
Macapá alcançou o status de cidade no ano de 1856, por estratégia meramente política
de silenciar os moradores, que há muito ansiavam pelo crescimento da vila por meio do
comércio após a Lei de Livre Comércio, oficializada em 1853, ação que não teve avanços
devido ao relatório do Conselheiro J. M. de Oliveira Figueiredo no ano de 1854 ter classificado
Macapá como um lugar doentio e insalubre, com ar e água envenenados (LUNA, 2017).
Esse anseio pelo crescimento do estado e da cidade é um sentimento que ainda perdura
dentre os moradores de Macapá, como relata o morador José Antônio Sousa: “eu tenho, assim,
uma esperança muito grande no Amapá, [...] que a nossa salvação está no mar e vem pelo mar
e no caso é o rio, esse rio nosso que a gente precisa explorar muito, o rio onde tem muitas
riquezas”11.
Essa terra ainda pouco habitada sofreu influência da Cabanagem12, a qual resultou em
um forte movimento migratório para o Amapá. Os cabanos eram formados por famílias
afrodescendentes, indígenas, mestiças e brancas pobres, que, ao chegarem nessas terras,
adotaram o estilo de vida ribeirinha. Além disso, a grande seca no Nordeste contribuiu, no
período de 1874 a 1879, resultando em um grande fluxo de pessoas vindo para essa região
fronteiriça (LUNA, 2017).
Segundo Luna (2017), em Macapá o cenário para a criação do Território Federal do
Amapá era o seguinte: seu centro urbano constituído, em sua maioria, por afrodescendentes,
recém libertados pelas leis Sexagenária, do Ventre Livre, a carta de manumissão e a Lei Áurea,
de 1888, os quais ocupavam a área do Formigueiro, atrás da Igreja Matriz, a Vila Santa
Engrácia, nas proximidades da praça Barão do Rio Branco, e a área do Elesbão, à esquerda da
Fortaleza de São José.
Os terrenos eram grandes e com aspecto de sítio, visto que havia árvores frutíferas e a
criação de animais, como: galinhas, patos, porcos e gados. Próximo a essas residências também
se concentravam as lojas comerciais, a escola, a Intendência de Macapá, a cadeia pública e os
casarões. A elite que morava nas adjacências também não se incomodava com os rituais
11
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 19 de fevereiro de 2021.
12
Segundo Santos (2004) a Cabanagem foi um movimento de lavradores, camponeses, negros escravizados,
pequenos comerciantes e indígenas que se organizaram a partir de ideias revolucionárias em busca de
transformações gerais na sociedade. O movimento aconteceu na província do Grão-Pará entre os anos de 1835 e
1840.
46
realizados pela população afrodescendente, como o Marabaixo, com exceção do pároco local
que “não os admitia e percebia-os como dotados de uma religiosidade profana, preservada de
seus antepassados com devoção ao Divino Espírito Santo, que, segundo ele, só profanava os
credos católicos” (LUNA, 2017, p. 67). O Marabaixo agregou um grande valor cultural à vila,
estabelecendo amizades e trazendo vida e graça à cidade (LUNA, 2017).
Padre Júlio Maria Lombaerde, habitou o território amapaense desde 1913 até 1923, era
médico, farmacêutico, mestre-escola, e segundo a oralidade “amigo e pai dos pobres e o deus
das criancinhas” (MIRANDA, 1957). Demonstrava uma certa repulsa aos costumes de
afrodescendentes presentes na população macapanese. Pode-se observar nos trechos de seu
depoimento pessoal em uma Revista Mariana em 31 de maio de 1915:
Verônica Luna (2017) trata sobre o desconcerto do padre ao se deparar com uma
cidade de expressão cultural religiosa híbrida em que ao mesmo tempo que era marcada pelos
valores cristãos, também vivenciava os festejos oriundos da cultura africana, como o
Marabaixo. Considerando Padre Júlio como precursor da urbanização macapaense, Luna
(2017) discorre sobre como ele pautou o modo de vida urbano tomando a higienização como
controle da vida urbana e espiritual da população, causando vários conflitos entre ele e os
marabaixeiros. O referido padre foi responsável por criar o estigma de que o ritual do Marabaixo
era um “culto satânico”, trazendo a consequente inferiorização dos costumes dos afro-
macapaenses. Mesmo diante de todas essas repulsas e a continuidade dela advindas de outros
padres, o Marabaixo e o Batuque se mantiveram resistentes.
Ao fazer uma análise dessa história do Amapá e de Macapá antes da formação do
Território Federal, percebe-se que os escravizados foram destinados à região para a construção
da Fortaleza e para o povoamento do local. Essas populações se estabeleceram no centro da
cidade, onde construíram suas casas, constituíram famílias e relações de amizade e vizinhança,
criaram seus animais, plantaram suas roças e viveram suas tradições, ainda que com resistências
e preconceitos, sem imaginar as novas dificuldades e mudanças as quais viriam com a
implantação do Território Federal do Amapá (TFA) durante a primeira metade do século XX,
47
segundo Lobato (2015), o qual foi implementado por conta dos riscos gerados pela Segunda
Guerra Mundial, como estratégia de proteção do território por parte do Presidente Getúlio
Vargas.
eram lugares [...] que morava só uma população negra – não lembro direito,
né – nessa rua dos pretos. E essa rua dos pretos é exatamente por ali onde é a
Casa do Governador – né – onde o Banco do Brasil e hoje é a Casa do, do
Governador e então eram famílias que eram famílias (precongas) – né – que é
o jeito de ser do negro que parece que cê [sic] (brêga) – né – falar alto,
(quentinha). Então a primeira coisa que ele limpa é essa rua – né – essa rua
dos pretos – né – e esses pretos são trazidos que acabam vindo pra cá. E assim
se constitui o Laguinho.13
13
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
49
Essas modificações urbanas foram adotadas por Janary para atender ao padrão de uma
nova categoria social que iria ser acolhida na capital. As casas dos afromacapenses feitas de
taipa e cobertura de palha, com a composição de planta simples, sem sistema de saneamento
apropriado (LUNA, 2017) destoavam do novo padrão estabelecido, de “casas novas de
alvenaria, adequadas ao perfil que se queria dar ao novo núcleo político-social macapaense”
(LOBATO, 2015, p. 114).
O bairro do Laguinho foi criado por consequência dessa modernização, visto que a
poupulação que residia na área central da cidade não tinha condições financeiras de atender às
exigências (LOBATO, 2015). Conta o morador do bairro Laguinho, José Antônio Sousa, que
“a partir daí, com a chegada do Janary, ele manda sair todo mundo dali e o pessoal vai embora
pa periferia [...] as pessoas vieram pra cá, especialmente a comunidade negra, tanto pra cá,
como pra favela14”15. Luna (2017, p. 110) relata que:
14
Atualmente é onde se localiza o bairro Santa Rita. Segundo Luna (2017, p. 115) “esse lugar possuía uma mata
que o separava da Cidade e passou a ser denominado de Favela, pela presença dessa vegetação em seu entorno”.
15
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 19 de fevereiro de 2021.
50
essas pessoas, quando ele tira essas pessoas, elas são – né – indenizadas, eu
não sei se isso é verdade ou não, mas ela [referindo-se a sua tia] conta essa
experiência pela família dela que morava na Cândido Mendes e que obrigada
a sair e vem pro, vem pro Laguinho, né, grande parte, que é o que os estudiosos
chamam de uma higienização. É porque as casas, aquele local que é a frente
da cidade, eles passam a ser ocupados ou por doutores – né – a música diz
isso16 (grifo nosso).
O referido processo de remanejamento das pessoas da área central da cidade, para outra
periférica, acabou sendo naturalizado por alguns moradores. Ainda hoje pode ser percebido em
relatos de vida, como no caso do senhor José Antônio Sousa, advogado, aposentado da marinha
e morador do bairro do Laguinho, “houve aquela modificação e isso é uma, uma, no meu
entender, foi uma modificação natural, porque se você observar, aconteceram na maioria das
cidade [sic]”17.
No final de 1944, após a criação do Departamento de Saúde, foi apresentado um plano
de organização administrativa com o intuito de efetivar medidas sobre as condições sanitárias
do território (SILVA, 2007). É nesse contexto que a família de Durica Almeida chega à capital:
na verdade a minha mãe, ela vem do Carmo do Macacoari, eh, com a sua
família e isso logo quando o primeiro governador chega, né. Elas vêm porque
a minha avó era uma grande parteira e a minha tia que já tinha vindo, uma eh,
é a Maria – né – que chamava, a Maria Lindolva, tinha vindo, Maria Trindade,
tinha vindo antes e aqui disseram pra ela que precisariam de parteiras, então
ela vai, trás a vovó pra ser parteira aqui que tavam precisando na maternidade
– né – pra precisando pra saúde.18
Sua avó sai da comunidade do Carmo do Macacoari, que fica ao leste do Amapá, um
pouco ao norte da cidade de Macapá, e estabelece residência no recém criado bairro do
Laguinho. Esse deslocamento se dá pela necessidade de parteiras em Macapá, ação que
16
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
17
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 19 de fevereiro de 2021.
18
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
51
19
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 14 de março de 2020.
20
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
53
São criados, com partes desmembradas dos Estados do Pará, do Amazonas, de Mato
Grosso, do Paraná e de Santa Catarina, os Territórios Federais do Amapá, do Rio
Branco, do Guaporé, de Ponta Porã e do Iguassú. (Vide Decreto nº 6.550, de 1944)
A partir disso, Janary Nunes chega às terras amapaenses, e como relata José Antônio
Sousa, desce “lá no cais, na Eliézer Levy, onde hoje é o trapiche, ele tava de bermuda, era
branco, ele vinha com uma bota e a roupa [...] tava bem passada, era lindo. Do lado a esposa,
Iracema Carvão Nunes, e de outro o filho mais velho [...] Aí começa o Amapá”21. Porém, os
modos de vida da população não se ajustavam com as condições que o governador gostaria de
estabelecer para receber sua família e os novos funcionários, a população afrodescente fora
remanejada do centro urbano de Macapá (LUNA, 2017). Nessa afirmação abaixo, Rodrigues e
Lapa (2020) denunciam as ações de desapropriação realizadas pelo governo e de que forma elas
foram empreendidas:
Segundo Lobato (2015), foi realizada uma reunião na residência do líder dos
marabaxeiros, pontuando o autor que a mediação do Mestre Julião Ramos22 fora fundamental
para que a população aceitasse essa mudança. Janary Nunes tinha uma estreita relação com os
marabaxeiros, principalmente com Mestre Julião, o considerando como seu aliado, e utilizou-
se dessa proximidade para realizar a transferência. Essa mudança acarretou em um conflito
entre a comunidade negra, em que uns foram para o Laguinho, seguindo o Mestre Julião Ramos,
e outros foram para a Favela, acompanhando a dona Gertrudes Saturmino Loureiro (BENTES,
2020).
21
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 19 de fevereiro de 2021.
22
Julião Thomas Ramos, nascido em 1876 foi considerado um dos nomes de destaque do Marabaixo, era cantador
e tocador. Em seu tempo foi considerado uma liderança comunitária. Faleceu no ano de 1958 (ALVES, 2019).
54
A pesquisa “‘Cada senhora dez dedos, cada dedo é uma memória’: histórias e
memórias de mulheres marabaixeiras” de Sabrina Bentes (2019) , traz um fato interessante, por
meio de entrevistas com marabaixeiras, “Tia Zezé”, filha de dona Gertrudes Loureiro, conta
que a opção pelo bairro Laguinho por parte da maioria se deu pelo fato de já terem roças no
local. Já a escolha pelo bairro Favela, segundo “Tia Zezé”, se deu por conta da escolha de sua
mãe.
Na Figura 12 é possível observar no tecido urbano de Macapá, de 1966, o sentido dessa
mudança, sendo o bairro do Laguinho mais ao norte da cidade e o bairro Favela (atual Santa
Rita) seguindo para o sentido oeste de Macapá. Ambos se localizavam nas zonas mais
periféricas da cidade, mas atualmente fazem parte da área central da capital.
Fonte: Elaborado por QUADROS, Juliana (2021) a partir da Base LASA/CRUZEIRO DO SUL 1966, por
TOSTES e FEIJÃO.
55
podemos perceber a existência de, pelo menos, três grupos: os que eram
favoráveis ao governo de Janary; os que eram contra; e os que preferiam não
explicitar qualquer posicionamento. O primeiro grupo era capitaneado por
Julião Ramos e sua família. O segundo percebia Julião como alguém cooptado
e indigno de crédito. O que todos estes grupos tinham em comum era o desafio
de remodelar suas vivências dentro das condições ambientais encontradas na
Favela e no Laguinho.
O autor ainda ressalta sobre os desafios que essa população iria viver, independente de
sua posição quanto às decisões do governador, favoráveis ou não, de reconstruir suas vidas em
um novo lugar.
Laura Silva, bisneta do Mestre Julião, relata que o bisavô “já conhecia algumas pessoas
que já habitavam lá, ele resolveu ir pra lá e muitas pessoas, eh, decidiram por bem seguir ele,
né, e morar no mesmo espaço”23, e demonstra sua posição do processo ter sido tranquilo e
natural enquanto outros discorrem sobre o quão forçado essa mudança foi, como entrevistado
José Raimundo Sousa fala:
quando os negros vieram [...] pra cá pro Laguinho, né, de livre e espontânea
pressão pro Laguinho [...]. É porque as pessoas dizem que, que os negros
vieram de lá, eh, feliz. Ninguém veio feliz, todo mundo sentiu e, e só
aconteceu porque não tinha outro jeito, ah, ah, o governo impôs que os
negros deveriam desocupar o centro da cidade e eles tiveram que vir pra cá.24
Em seu relato, o entrevistado denuncia o fato de que eles não puderam reverter a
situação imposta pelo governador e esclarece sobre a visão a qual é divulgada sobre essa
transferência, de ter sido um processo muito bem aceito pela população negra e, em sua visão,
o sentimento foi completamente oposto, destacando que ninguém se mudou do bairro Central
para o Laguinho com felicidade.
A tensão entre “as Macapás” que foram surgindo naquela década de 40 ficaram
registradas em alguns meios documentais, além da memória, como nos versos de uma poesia
musicada, denominada de “ladrão25 de Marabaixo”, de autoria de Raimundo Ladislau:
23
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 25 de fevereiro de 2021.
24
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 14 de março de 2020.
25
Segundo o IPHAN (2018, p. 6) “Ladrão” é uma “espécie de poesia oral musicada a partir dos toques das caixas,
instrumentos de percussão produzidos pelos próprios tocadores”.
56
[...]
Destelhei a minha casa
Com a intenção de retelhar
Mas a Santa Engrácia não fica
Como a gente pode ficar?
[...]
A Avenida Getúlio Vargas
Tá ficando que é um primor
Essas casas foram feitas
Pra só morar doutor.
[...]
Eu cheguei na tua casa
Perguntei como passou
Rapaz eu não tenho casa
Tu me dá um armador
(IPHAN, 2009, p. 58 e 59, grifo nosso)
De acordo com a letra do ladrão percebe-se que existia um sentimento de não estar
incluso nas novas melhorias instaladas no centro da cidade, que seriam destinadas aos
“doutores”. Além disso, dão destaque a implantação da Residência do Governador no local
onde ficava a Vila Santa Engrácia. Os terrenos destinados aos remanejados não tinham as
mínimas condições para que pudessem usufruir de cidadania, não contando com sistema de
água encanada, saneamento e energia elétrica. A cantiga demonstra que não houve qualquer
planejamento que tenha previsto a construção de casas, somente sendo feito um serviço de
limpeza e nivelamento do solo do Laguinho, como denuncia a moradora Durica que “o negro
ele abre a porteira do Laguinho – né – se instala, limpa, capina, varre e depois outras pessoas
começam a ocupar”26. Essa história de retirada, assim como outros processos de remanejamento
forçado de populações de áreas centrais realizados nas primeiras décadas do século XX no
Brasil, não contam com nenhum registro oficial. Luna (2017, p. 114) ainda reforça que essa
ação de Janary Nunes “não se deu de forma documentada como já vimos, mas, ao que parece,
ocorreu por meio de negociações que não foram oficialmente registradas, o que deixou dúvidas
quanto à forma desse agenciamento”.
De acordo com Maciel (2014), foram doados terrenos titulados para a população negra
remanejada para o Laguinho, assim como foi permitido a utilização de madeiras das estâncias
do governo. Também Luna (2017) constatou em sua pesquisa que alguns moradores relataram
que foram doadas madeiras para a construção das casas, mas não foi algo que se estendeu a
todos. José Antônio Sousa conta que “muitos sem nenhuma estrutura, ficaram morando aí
26
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
57
debaixo de árvore, que era inclusive pessoas vivas que contam isso, então não teve uma, uma
transferência pacífica, foi muito difícil”27.
Videira (2009), ao tratar da transferência dos afromacapaenses para o bairro do
Laguinho, relata que algumas casas foram construídas com madeiras reaproveitadas de antigas
casas desmanchadas e outras com ajuda de Janary, que disponibilizou o material na estância de
propriedade do governo. Além disso, conta que houve a disponibilização de títulos para evitar
que houvesse uma resistência e revolta por parte da comunidade que começava a se estabelecer
no local:
Ao analisar a imagem aérea da base LASA/Cruzeiro do Sul do ano de 1966 nas Figuras
13 e 14, pode-se notar alguns aspectos apontados pelos relatos e informações anteriormente
citadas. A primeira é a quantidade significativa de quadras com muita vegetação, onde
possivelmente eram remanescentes das roças, destacadas na Figura 12. A segunda é a divisão
de alguns lotes muito similares ao parcelamento atual, em que a comparação está na Figura 13,
fato que pode apontar para um parcelamento e distribuição de lotes para os novos moradores
do recém-criado bairro do Laguinho.
27
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 14 de março de 2020.
58
Fonte: Base LASA/CRUZEIRO DO SUL (1966), por TOSTES e FEIJÃO, modificado pela autora (2022)
59
Figura 14 – Análise comparativa da base aérea LASA (1966) com o mapa urbano (2013)
Fonte: Base LASA/CRUZEIRO DO SUL (1966), por TOSTES e FEIJÃO, modificado pela autora (2022)
Outra estratégia do governador Janary Nunes, apontada por Maciel (2001), foi a
incorporação de parte dessa população no serviço público do estado.
Ainda que essa situação tenha trazido consequências, Videira (2009, p. 95) afirma que
“mesmo assim, erigiu-se ali uma grande nação negra que muito orgulha seus moradores”. Esse
sentimento de comunidade colocado por Videira nesse trecho é algo muito presente na fala de
alguns moradores, como a entrevistada Cristina Almeida exprime em seu discurso:
Que é o pertencimento do que eu carrego comigo até os dias atuais por fazer
parte de uma comunidade negra, então eu fui criada sabendo que onde eu
morava era uma comunidade negra, que ali é que era conhecido como bairro
do Laguinho, que era aquele sentido positivo de viver em comunidade, eu sou
dessa época que eu sei o que é viver em comunidade.28
28
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 24 de fevereiro de 2021.
60
Nota-se que apesar de todas as dificuldades enfrentadas a partir dessa transição, ainda
sim formou-se uma comunidade com as pessoas do bairro do Laguinho, de forma que as antigas
relações se fortificaram, novas amizades se formaram e isso acabou por contribuir para que o
local fosse se consolidando. Desta maneira, destaca-se a inclusão do bairro nos planos
urbanísticos feitos para a cidade de Macapá que previam projetos a serem implantados dentro
do Laguinho.
De acordo com Tostes (2006), desde 1959 o Governo do Território Federal do Amapá
(GTFA) teve a iniciativa de buscar pela elaboração de planos técnicos urbanos, o que resultou
em cinco planos diretores até o ano de 2005. Dentre esses, quatro incluem o município de
Macapá, os quais três serão destacados nesse capítulo. São eles: Plano GRUMBILF (1959),
Plano de Desenvolvimento Urbano da Fundação João Pinheiro – PDU/FJP (1973) e Plano de
Desenvolvimento Urbano H.J. Cole & Associados S.A. – PDU/HJ COLE (1979).
O plano GRUMBILF de 1959 foi a primeira iniciativa, contratado pela Companhia de
Eletricidade do Amapá (CEA) com o objetivo de elaborar estudos para o plano de urbanização
de Macapá, a fim de orientar a expansão da cidade e seu ordenamento. Tostes (2006) salienta
que na época de sua contratação, a população da capital era de cerca de 26 mil habitantes, o que
fez com que o plano previsse um crescimento populacional para 100 mil habitantes, no entanto,
essa marca foi ultrapassada antes dos anos 1980. Essa população se concentrou principalmente
nos bairros Central, Trem e Laguinho, assim como na proximidade de igarapés.
Tostes (2006) destaca que a ideia era que o traçado urbano contasse com avenidas
largas e praças amplas, dado o privilégio da cidade em possuir lagos extensos com vegetação
em seu entorno podendo aproveitá-las para a implantação de parques urbanos. Essa análise com
relação aos parques é resgatada posteriormente com o PDU/HJ Cole. Além disso, o plano
salientou a importância de respeitar a cidade existente, portanto não pretendia fazer
desapropriações e nem demolições custosas, assim como não prescreveu gabaritos e não fez
proibições com relação às habitações em madeira. Também objetivava uma descentralização
do comércio e um incentivo à prática do desporto. O plano, no entanto, foi minimamente
implantado.
Diferente do plano GRUMBILF, Tostes (2006) afirma que o Plano de
Desenvolvimento Urbano da Fundação João Pinheiro (FDU/FJP) foi, dentre os três, o que mais
teve densidade em sua aplicação, visto que o seu processo de contratação e aplicação foi
61
e possuía bastante vegetação em sua margem. Pela Figura 18 abaixo pode-se perceber também
a topografia natural de concha da região. O parque previa o aproveitamento de 7,6 hectares de
área (H.J. COLE + ASSOCIADOS S.A., 1979).
mercadinho sobre às águas (H.J. COLE + ASSOCIADOS S.A., 1979). Na Figura 19 é possível
ver a planta geral do projeto:
sociedade, além de que os municípios acabam por absorver várias atribuições sem possuírem
as condições adequadas para isso.
Estar em contato com alguns Laguinenses nos trouxe algumas percepções sobre o
bairro. A primeira delas é o brilho no olhar, ele está presente quando falam sobre infância, ao
relembrar o sabor das comidas típicas ou das várias celebrações que acontecem no bairro. A
segunda é a decepção com algumas mudanças na paisagem do bairro, seja nas casas que agora
se tornaram um posto de gasolina, as quais pertenciam a pessoas que já faleceram ou que não
residem mais no bairro, ou na praça que se encontra parcialmente abandonada. A terceira é
quanto ao sentimento de comunidade que se estabeleceu entre eles, onde suas histórias e
memórias tomam forma em diversos pontos dentro do bairro.
A entrevistada Durica Almeida cita que essa comunidade se expressa muito na parceria
que existe entre eles, que se assemelha à filosofia africana do Ubuntu, “eu sou porque nós
somos” (CHAGAS, 2017, p. 135). Mesmo havendo muitos conflitos relacionados à essa
transferência, isso não impediu que os moradores estabelecessem uma relação de pertencimento
muito forte com o bairro. Esse brilho no olhar de cada entrevistado ao falar do Laguinho é
perceptível, Durica e Laura citam, respectivamente, como “o bairro mais querido do Amapá”29,
um lugar de encanto e de riquezas em que “a cultura é viva de janeiro a janeiro”30. José Antônio
considera “que o bairro do Laguinho é a maior expressão de liberdade que existe dos povos”31.
Esse pertecimento se manifesta entre eles por meio do “ser laguinense” que consiste
em uma identidade que ultrapassa os limites de residência no bairro do Laguinho, pois essa
característica vem a partir do amor que sentem pelo bairro e pela cultura do local, como
descreve José Antônio:
29
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
30
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 25 de fevereiro de 2021.
31
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 19 de fevereiro de 2021.
32
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 24 de fevereiro de 2021.
67
durante muito tempo a gente também ainda tinha aqui as fazedeiras de tacacá
[...] as mulheres negras que faziam o mingau de... de mucajá. [...] Então nós
tínhamos aqui muitas mulheres que ainda vendiam [...] que faziam essa
comida e... e vendiam nas portas. Nós tínhamos a mãe da Lurdia que é uma
pessoa do IMENA33, que é a Dona Marcica [...] que ela vendia sequilhos,
então ela, toda tarde ela colocava [...] seu tabuleiro, colocava na frente da casa
sua banquinha pra vender34.
A rua era um espaço que o “saber fazer” das mulheres ganhava visibilidade, a
diversidade de alimentos vendidos nas portas das casas promovia a dinâmica do final da tarde
no bairro. No que tange às edificações, os laguinenses destacaram algumas características das
habitações mais antigas, como a tecnologia de madeira que fora empregada nos anos iniciais
do surgimento do bairro, assim como nas memórias de infância dos entrevistados, os quais
afirmaram que os quintais das casas não tinham delimitações de muros, e as crianças cortavam
caminho nos quintais dos vizinhos, passavam de um quintal para o outro.
33
Instituto de Mulheres Negras do Amapá.
34
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
68
essa, era a melhor parte que tinha (RISOS), depois da Igreja era brincar no
caroçal e isso era todo sábado [...] a gente, as meninas ficavam com a irmã
Janina, aí entrava a queimada, brincar desse embala, embala e os meninos iam
pro futebol com o Padre, porque o Padre também jogava futebol35.
Miranda e Tutyia (2020, n.p.) discorrem acerca do conceito plural da arquitetura como
ciência, o que “demanda a ampliação de horizontes e adaptação de métodos advindos das
ciências humanas para que os anseios dos usuários sejam conhecidos e traduzidos, em especial
quando nos reportamos às arquiteturas do passado”. Para as autoras, o desafio encontra-se na
lida constante entre o patrimônio edificado, os lugares onde recaem as memórias e as paisagens,
os quais muitas vezes são fragmentos dispersos e descontextualizados. Tutyia (2020, n.p.)
afirma que a arquitetura ainda mantém um espaço para um pensamento mecanicista, o que
acaba por colocar em segundo plano os símbolos e as imaterialidades intrínsecos “aos processos
de construção, reconstrução e ressignificação dos objetos”.
35
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
69
Tendo em vista esses aspectos, o uso da história oral como método para essa pesquisa
mostrou-se essencial, visto que a partir das entrevistas com os laguinenses, foi possível
compreender quais lugares e manifestações culturais marcaram suas memórias, além de
conhecer os símbolos atribuídos a eles, e este fato apontou para a importância de pontuá-los no
tecido daquele espaço, para isso foi elaborado um mapa denominado “Marcos da Memória”36,
que é um mapa com os lugares atrelados à memória dos moradores do bairro do Laguinho, na
Figura 21.
36
Segundo Tutyia (2013, p. 177) “os ‘marcos da memória’ são os elementos físicos emergidos através da
rememoração de uma época passada, e que têm a função de guia para reconstituir as lembranças de um determinado
espaço. Tais marcos estão relacionados ao viver da pessoa em suas imediações, contudo estes objetos podem ou
não estar materialmente edificado no presente.”
70
1 - A Sede dos Escoteiros Veiga Cabral foi um local onde muitas crianças laguinenses
se formaram com disciplina, aprenderam ofícios e se divertiram jogando futebol e dramatizando
peças teatrais com histórias amazônicas.
2 - O espaço também serviu como sede para a Escola de Samba Piratas Estilizados em
1974 (PIRATAS ESTILIZADOS, s.d.). Já quanto a Associação Universidade de Samba
Boêmios do Laguinho, a primeira do bairro, lá aconteceram festas nas quais os jovens solteiros
se reuniam para se divertir e namorar.
3 - O Banco da Amizade representa o apreço que os laguinenses possuem pelo
convívio. Ele foi fundado por dois antigos moradores do bairro, Sacaca e Renato Américo, na
década de 70, o qual foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Amapá, celebrado no dia
26 de dezembro, na “ressaca do Natal” (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
AMAPÁ, 2016).
4 - O Grupo Escolar General Azevedo Costa é muito presente em suas falas ao se
recordarem da formação escolar, porque além dos estudos, foi onde fizeram os primeiros
contatos sociais e amizades que levam até os dias atuais.
5 - A Igreja de São Benedito também fez esse papel de estabelecer relações entre os
adultos e idosos das décadas de 50 e 60, os quais participavam das celebrações e festividades
de maneira muito ativa, levando consigo seus familiares, de forma que muitos moradores
estabeleceram uma conexão forte com relação ao “santo preto”, São Benedito.
6 - A Praça Chico Noé, antes de ser construída, o local era conhecido como “Campo
do América”, onde muitos meninos jogaram futebol. Atualmente a praça não se encontra em
bom estado de conservação e sua estrutura com piscina para aulas de natação e hidroginástica
está desativada, portanto alguns moradores passaram a não utilizar o local para a prática de
atividades físicas e encontros.
7 - O Centro de Cultura Negra do Amapá (CCNA) se origina a partir do movimento
negro no Amapá que, em 1998, conquista um espaço físico no terreno onde se encontrava a
Praça Lourenço Tavares de Almeida para constituir o Centro de Cultura Negra do Amapá –
CCNA (MACIEL, 2001). Lá acontece também o “Encontro dos Tambores” durante a semana
da Consciência Negra, em novembro, e conta com apresentações de Marabaixo e Batuque.
8 - O “Barracão da tia Biló” é um ponto de encontro das manifestações do Marabaixo.
É um espaço no pátio da casa de Benedita Guilhermina Ramos (tia Biló), única filha viva de
Mestre Julião Ramos, localizado na Rua Eliézer Levy, próximo à Rádio e TV Equatorial
(ALVES, 2019).
72
O Poço do Mato (Figura 22), é considerado o mais antigo dos marcos, o qual é datado
de 1864 (SILVA, 2011), e se localizava na mesma região do poço existente, alguns metros mais
adiante, dentro do lote da CAESA (Companhia de Água e Esgoto do Amapá), o morador do
bairro José Raimundo Sousa relata que ficava “a uns 20 metros desse”37. Foi o primeiro sistema
de abastecimento de água de Macapá e José Raimundo Sousa reflete que:
talvez se o Poço do Mato não existisse, o centro de Macapá talvez não fosse
aqui, nessa região aqui do bairro Central, Laguinho, porque todo mundo sabe
que só se constrói povoado onde tem água de boa qualidade.38
37
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 14 de março de 2020.
38
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 14 de março de 2020.
39
Relato disponível em: <www.necamachado.wordpress.com/2013/07/06/poco-do-mato/>. Acesso em 15 nov.
2021.
73
A Figura 22 é datada de 1908 e faz parte do Álbum do Estado do Pará. Nela é possível
perceber a estrutura singela do poço, que se localiza em uma parte mais baixa da área que, na
época, ainda estava desocupada, circundada pela mata. Duas pessoas registradas pela fotografia
carregam baldes, os quais demonstram a precariedade de distribuição de água para a população,
assim como a maneira que a água era levada para as residências.
74
O Poço do Mato era um lugar de abastecimento de água para a cidade, mas também
era visto como um local místico, com algumas crenças em lendas como a do passarinho, contada
por José Raimundo Sousa:
era que tinha um passarinho branco que os pais diziam pra gente não seguir
aquele passarinho que a gente ia, ia, era aparentemente mansinho, né, aquele
que tu chegava perto dele, mas quando a gente ia tentar pegar, ele voava mais
75
pra frente, aí a gente ia atrás disso, quando a gente pensava tomava por si, a
gente tava em algum lugar que a gente não sabia mais voltar pra casa.40
Algumas dessas lendas eram contadas pelos pais ou responsáveis por crianças com a
finalidade de livrá-los do perigo de afogamento nas águas daquela área, como relata a moradora
Cristina Almeida:
nós tínhamos a lenda do poço do mato, né, que as crianças eram proibidas de
ir pra lá, né, dizia que lá tinha uma, um mistério, né, uma, uma mãe d’água
naquele local e depois de 18 horas as crianças sumiam naquele local, então
ninguém ia, a única vez que nós se aproximamos um pouco das 18 horas um
cano preto que tinha no meio começou a afundar, a gente gritava muito
pedindo socorro uma pra outra, a gente achava que a gente ia sumir ali, nunca
mais eu voltei, e depois eu fui saber que era a hora que enchia, então os canos
sumiam, a gente era pequeninha, né, mas isso eu custei muito a saber.41
Século passado
Amapá Território Federal
Vida nova para o povo
Era preciso sanear a capital
Lá no Laguinho, rufa o tambor,
Água brota desse chão
Se constrói o Poço do Mato
Obra de divina inspiração (PIRÚ, 2007).
Nos versos ele relata a construção do poço atual, que aconteceu já durante o Território
Federal do Amapá. Essa “obra de divina inspiração” representava um progresso com relação às
instalações de saneamento da capital. O compositor então continua relatando o misticismo em
torno das histórias sobre o poço nas estrofes:
40
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 14 de março de 2020.
41
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 24 de fevereiro de 2021.
76
No verso que fala sobre a existência do poço se confundir com o Laguinho demonstra
o quanto a história dos dois lugares está conectada. O compositor também relata a imaginação
das crianças ao criarem as histórias sobre o lugar, mas que por conta do seu desuso e
esquecimento, hoje encontram-se imortais por meio da arte e do memorial escrito pela jornalista
amapaense Neca Machado.
Esse esquecimento da estrutura do poço pode ser observado pela ausência de políticas
públicas voltadas à promoção e preservação do local. A estrutura existente encontrava-se
desprotegida e no dia 30 de agosto de 2021, durante uma ação de recuperação asfáltica na
avenida Padre Manoel da Nóbrega, um dos pilares foi atingido pelo caminhão que realizava os
serviços e fez com que a sustentação cedesse (Figura 25).
42
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 14 de março de 2020
78
Para o projeto será considerado a história do lugar, a memória das pessoas e diversas
referências que podemos encontrar dentro do bairro do Laguinho, na sua arquitetura, na sua
cultura, em seus empreendimentos, adequado às legislações e especificidades locais. Para isso,
se faz necessária a realização dos estudos preliminares a fim de desenvolver uma proposta
projetual.
79
43
Frase retirada do Ladrão de Marabaixo “Aonde tua vai rapaz”, a qual retrata a retirada da população
afromacapaense do centro da cidade.
80
44
Em tradução livre: “estratégia de renovação de bairro”.
81
uma conotação excludente, visto que revitalizar tem o sentido de trazer nova vida,
consequentemente algumas ações tendiam a desconsiderar os usos e grupos que ocupavam tais
áreas antes da intervenção. O autor ainda destaca que o emprego do termo “requalificação
urbana” significou uma mudança, resultando na apresentação de propostas as quais buscam
recuperar e valorizar as origens e as verdadeiras representações sociais, o que traz uma
humanização ao processo e passa a ser uma estratégia de contenção do sistema de exclusão das
cidade contemporâneas.
A Carta de Lisboa (1995), que foi resultado do I Encontro Luso Brasileiro de
Reabilitação Urbana, define que a Requalificação Urbana é um conjunto de operações com o
intuito de restituir uma atividade adequada ao local e ao contexto contemporâneo. No entanto,
para a autora Otília Arantes (2002), essa técnica e seus sinônimos: revitalização, reabilitação,
revalorização, reciclagem, promoção e renascença, são eufemismos que encobrem o seu sentido
original de invasão e reconquista de um espaço por parte de populações mais abastadas. Esse
fato coloca a necessidade do conhecimento das relações simbólicas da população local, para
que não haja sua perda mediante as ações de intervenções nos espaços.
Vargas e Castilho (2006), em contrapartida, identificam que a recuperação dessas áreas
consiste em uma melhoria na imagem da cidade, além de criar um espírito de comunidade e
pertencimento por meio de uma perpetuação da história. Isso, ainda segundo as autoras, atrai
investimentos, moradores, usuários e turistas os quais acabam por dinamizar a economia
urbana.
Essa intervenção, de acordo com Vargas e Castilho (2006), exige uma avaliação de
sua herança histórica e patrimonial, de seu caráter funcional e de sua inserção na estrutura
urbana, mas o principal ponto a ser levado em conta é o motivo da necessidade de intervir. Em
geral, são três situações as quais levam a essa ânsia: recuperação da saúde ou manutenção da
vida; reparação de danos causados por algum acidente; ou para atender às exigências dos
padrões estéticos.
Tendo isso em vista, para que uma requalificação tenha mais resultados positivos do
que negativos, se faz necessário voltar a atenção para a compreensão do contexto no qual o
projeto se insere, tomando conhecimento da história, cultura e dinâmica do local, assim como
também dos signos e valores atribuídos a ele. Sobretudo, definir qual a necessidade de
intervenção, visto que “intervenção e cirurgia são palavras sinônimas” (VARGAS e
CASTILHO, 2006, p. 3), por isso, antes de qualquer ação, precisa-se entender os possíveis
interesses por trás dela.
82
45
Menor divisão administrativa em Portugal.
83
Não querendo abdicar do conceito deste elemento, pela sua importância social,
mas querendo rejeitar a forte presença volumétrica que o mesmo poderia
causar, optou-se por desenhar um elemento central, que surge como uma
reinterpretação desse mesmo “Coreto”, que servirá como referência na
utilização da praça, e organizador de todo o espaço (PICANÇO e VIEITAS,
2018, p. 2).
praça fosse único e de cor escura “e que surja do reordenamento e da reutilização das calçadas
existentes, quer portuguesa em basalto, quer em paralelepípedos” (PICANÇO e VIEITAS,
2018, p. 3).
A quarta reflexão se voltava à reestruturação do tráfego de veículos, os quais ainda
teriam sua circulação permitida, com exceção de estacionamentos permanentes e serviços de
táxi, delimitando a área pedonal e de veículos com linhas contínuas em pedra de calcário branca.
Na Figura 29 pode-se analisar o resultado dessas reflexões (PICANÇO e VIEITAS, 2018).
Nesse projeto alguns pontos são muito importantes para serem levados em
consideração. Primeiramente o fato de que o elemento central não gerou uma poluição visual
no largo, assim como não tira o foco dos bens patrimoniais de seu entorno. Outro ponto
interessante é que o grande deck elevado proporciona ambientes de interação no entorno das
árvores existentes e a alteração da estrutura viária colabora para a presença de pedestres nesse
ambiente. Em contrapartida, a proximidade entre a área de circulação de veículos e pessoas
acabou ficando muito próxima e não foi prevista nenhuma barreira física de separação, somente
a linha delimitatória. Por fim, a escala da intervenção é a grande chave do projeto, visto que ela
está totalmente de acordo com o local em que se insere e com seu entorno existente, além de se
adequar a um uso diário e para eventos.
artigo no site Arch2046, elaborou um projeto que refletiu o espírito de inovação do país, sem
deixar de lado a preservação da herança cultural (ARCH20, s.d.).
A V-Plaza se localiza no bairro Centras, na cidade de Caunas, próxima ao Museu da
Grande Guerra Vytautas e ao centro de negócios multifuncional BLC, que funciona na estrutura
de um coworking.
O antigo estacionamento contava somente com um calçamento e um canteiro com
grama, como é possível notar na Figura 31, retirada do Google Street View antes do início da
execução do projeto. A área não estava degradada, mas sua forma e sua ausência de
equipamentos não propiciavam ambientes de encontro entre pessoas.
46
Para informações sobre o projeto ver: <www.arch2o.com/v-plaza-urban-development-3deluxe-architecture/>.
88
sol, encontrar-se com amigos, mas seu uso não se limita a simples contemplação, visto que o
lago foi pensado para que as crianças pudessem brincar.
O projeto se conecta com um dos prédios de seu entorno por meio de um café
localizado no térreo da edificação, como pode-se observar na parte superior da Figura 34. No
lado esquerdo superior da figura encontra-se uma escada com algumas partes revestidas em
madeira, estrutura que compõe uma espécie de anfiteatro com espaço para um telão temporário.
89
A área livre na parte inferior direita da figura é reservada para a realização de feiras e eventos
abertos ao público.
O projeto previu uma área para a prática de Skate Street (Figura 35), que aproveitou a
subida das pistas para formar canteiros mais altos e espaços propícios para descanso. Além
disso, possui uma boa circulação para caminhadas e uso de bicicletas, patins, patinetes, entre
outros equipamentos esportivos. Nota-se também a presença constante de lixeiras pública e
postes de iluminação.
90
dos transportes, esses recursos podem ser grupos de árvores, bancos, lixeiras e espaços públicos
inseridos no contexto da rua, assim os veículos passam a ter a sensação de estarem invadindo
um espaço público (GARCÍA, OCAMPO, et al., 2015).
No Brasil, o ateliê de arquitetura e urbanismo “Estar urbano” desenvolveu o projeto
“Rua compartilhada”, a definição do projeto “é uma rua projetada para segurança e conforto do
pedestre, onde carros, motos e bicicletas podem transitar em baixa velocidade” (ESTAR
URBANO, s.d.). Ele se divide em três etapas: as primeiras são “PROJETAR”, onde se definem
os elementos e materiais os quais serão adotados a fim de estabeler o tráfego calmo, e
“SENTIR”, em que ocorre uma escuta ativa dos moradores do entorno com a finalidade de
incorporar seus desejos ao projeto. Após executado, entra em ação a etapa “CONECTAR”, a
qual consiste em ações culturais e artísticas na rua compartilhada e a implementação do
equipamento destinado à troca de livros, o “Saber Urbano” (ESTAR URBANO, s.d.).
Oriundos desse projeto, cinco estudos já foram realizados no estado do Ceará, são eles:
Rua Compartilhada Otoní Façanha, Rua Compartilhada Dragão do Mar, Olhar a Cidade Ipu,
Olhar a Cidade e Olhar a Cidade São Benedito (ESTAR URBANO, s.d.). A primeira
experiência executada foi a Rua Otoní Façanha de Sá, que fica próxima ao Hospital São Carlos,
na cidade de Fortaleza. O projeto se estende desde a entrada do Hospital até à Praça Rogério de
Souza Froes, local que antes era ocupado pelo trânsito e estacionamento de veículos, como
pode-se notar na Figura 36 a seguir.
de uma faixa de pedestres. Foram instalados lixeiras públicas, canteiros, placas, bancos, jardins
verticais, bicicletários, além da implantação de árvores. O piso ao longo da via é intertravado e
com o sistema drenante.
Parte do muro recebeu uma pintura artística e cheia de cores que trouxeram uma nova
paisagem para o local. Há também uma diferenciação nas cores do piso, como é possível notar
na Figura 38 abaixo.
Ao analisar a área pelo Google Street View do ano de 2019 (Figura 40), percebe-se
que alguns equipamentos e pintura necessitam de manutenção, mas que o espaço costuma ser
utilizado como descanso e pelos ciclistas para abrigar suas bicicletas.
O espaço funciona quase como um respiro dentro de uma cidade tão movimentada
quanto Fortaleza. Outro estudo interessante de analisar é o do Dragão do Mar, apesar de não ter
94
sido executado ainda, pelo fato de se localizar no entorno de patrimônios culturais da cidade de
Fortaleza.
O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura foi construído a partir de um projeto de
requalificação da antiga área portuária de Fortaleza, inaugurado em 1999. As edificações com
interesse à preservação do entorno foram quase todas restauradas e receberam um novo uso. No
entanto, por conta de diversas problemáticas administrativas, o local desperta variadas opiniões
em seus usários, seja por insegurança, seja por ser considerada uma área elitizada (GODIM,
2011).
O estudo feito pelo Ateliê Estar Urbano na rua Dragão do Mar (rua que fica ao lado do
centro), data do ano de 2016 quando a área ainda era liberada ao acesso de veículos. A proposta
(Figura 41) consiste na implantação de novas árvores e de um lado da via a construção de um
deck abrigando bancos, jardineiras, placas, mesinhas com iluminação indireta, além de um
bicicletário, e do outro lado mais bancos e algumas vegetações rasteiras. A via teria uma pintura
em dois tons de azul e seria limitada ao uso de pedestre e ciclistas, visto que o estudo prevê
uma barreira para veículos maiores.
Para Laert Neves (1989), dentro do programa arquitetônico existem ambientes os quais
se interligam de acordo com suas afinidades funcionais. Essa é uma importante etapa para
definir questões do partido arquitetônico, portanto elaborou-se o diagrama da Figura 42 no qual
se demonstram as relações dos espaços do projeto e os acessos.
A ideia é que todos os espaços possam ser acessados sem a necessidade de passar por
outro, assim como se conectem o máximo possível, para que se expandam as possibilidades de
uso e se torne convidativo e acolhedor para todos.
97
3.5 PRÉ-DIMENSIONAMENTO
3.6.1 Localização
aproximadamente 700m de distância da Igreja São José, a edificação mais antiga de Macapá, e
a 1,4 km da majestosa Fortaleza de São José de Macapá, vide Figura 43. O poço se encontra
depredado como é possível observar na Figura 44 e a área dentro do terreno da CAESA
encontra-se logo à frente do poço e está atualmente sem uso por parte da Companhia, vide
Figura 45.
Fonte: QUADROS, Juliana (2021) com base nas imagens de satélite do Google Earth
Devido à largura da avenida, o espaço destinado às calçadas possui uma boa dimensão,
com 4,40 metros de um lado e 2,80 metros do outro. No entanto, com o poço localizado em
uma das faixas de rolagem torna possível a passagem de somente um veículo por vez nas
proximidades dele. A Figura 47 mostra as dimensões da área de intervenção.
Quanto aos mobiliários urbanos existentes, o trecho conta somente com postes de
iluminação e bancos ao redor do poço, como exposto na Figura 48.
102
A via possui uma declividade até o centro, com um formato de concha que converge
nas proximidades do Poço, como representado no esquema da Figura 49. Essa peculiaridade
traz para o projeto uma atenção maior com a questão da acessibilidade e o aproveitamento dos
desníveis do local.
demonstra a localização do sol nascente e poente na área de intervenção e situa a direção dos
ventos.
altura externa é de 0,60 metros e a interna é de 1,20 metros. Essas informações podem ser
observadas na Figura 51.
A área proveniente do lote da CAESA possui uma árvore Mangueira com a copa de
aproximadamente 7,00 metros de diâmetro. O terreno de 35x15 metros com área de 525m²,
representado na Figura 52, possui um desnível acidentado e outro desnível menos acidentado.
105
Apesar da verticalização no bairro do Laguinho ter avançado a partir dos anos 2000,
observa-se que nos arredores da área predominam edificações baixas, de até 6 pavimentos. Na
Figura 54 pode-se analisar o gabarito das quadras adjacentes.
107
Figura 55 – Skyline da quadra (lado da CAESA, sentido R. Gen. Rondon para R. São
José)
Figura 56 – Skyline da quadra (lado do Poço do Mato, sentido R. Gen. Rondon para R.
São José)
Os acessos ao local se dão no sentido zona sul – zona norte pela Rua General Rondon,
no sentido zona norte – zona sul pelas ruas São José ou Eliézer Levy e no sentido zona leste –
109
zona oeste pela avenida Padre Manoel da Nóbrega. Em seu entorno imediato, existem quatro
esquinas com semáforos e duas faixas de pedestre, como representado na Figura 57.
Há 19 linhas de ônibus que passam nos pontos próximos ao Poço do Mato, as quais
partem das diferentes zonas da cidade, norte, sul e oeste, também da cidade vizinha, Santana,
fazendo com que a área se torne de fácil e amplo acesso. Na Figura 58, foram destacadas as
paradas mais próximas ao poço e o percurso que as diversas linhas fazem.
110
Fonte: QUADROS, Juliana (2021) com base nas informações do aplicativo Moovit.
sombreamento, um fator a ser levado em consideração para o conforto dos pedestres, visto que
Macapá é uma cidade a qual costuma ter altas temperaturas em seus meses de estiagem.
Quanto aos mobiliários urbanos do entorno, é possível notar por meio da Figura 60
que há a presença de alguns bancos próximos ao Centro de Cultura Negra, à Escola Azevedo
Costa e ao Poço do Mato, mas que por sua localização pouco são utilizados, além de não
atenderem às necessidades de alguns entrevistados dessa pesquisa. Quanto às lixeiras públicas,
somente uma foi identificada e os postes de iluminação não são suficientes para iluminar as
vias de forma que fique um local seguro para pedestres à noite.
112
Essa proposta tem como intuito criar uma área de convívio de livre acesso ao público
a partir de um espaço sem uso dentro do lote da CAESA. Os usos propostos serão voltados à
difusão da cultura do bairro e da história do local e do Poço do Mato e ao convívio, com pontos
destinados à diversão, levando em conta a proporções do local. Além disso, serão propostas
melhorias nas calçadas, visto que não possuem acessibilidade e continuidade, assim como trazer
uma estética diferenciada à via, a fim de destacar o patrimônio cultural.
De acordo com a Lei de Uso e Ocupação do Solo de Macapá, a área do Poço do Mato
se insere no Setor Misto 4 – SM4 e possui as diretrizes específicas de incentivo à média
densidade, de estímulo à verticalização baixa (até 5 pavimentos, com altura máxima de 23,00
metros) e de incentivo à implantação de atividades comerciais e de serviços que sejam
compatíveis com o uso residencial e de atividades de comércio e de serviços especializados
(PREFEITURA MUNICIPAL DE MACAPÁ, 2004; PREFEITURA MUNICIPAL DE
113
MACAPÁ, 2017). Portanto, os usos propostos se encaixam dentro das diretrizes municipais,
visto que são compatíveis com o uso residencial e não representam um grande impacto.
Outros parâmetros de ocupação do solo são estabelecidos pelo Plano Diretor, como o
coeficiente máximo de aproveitamento do terreno, que deve ser de 3,1, a taxa de ocupação
máxima é de 80% do lote com pelo menos 20% de área permeável. Quanto aos afastamentos,
deve-se respeitar a dimensão de 3,00 metros na testada frontal e 0,15 vezes a altura máxima da
edificação para os demais lados. A fim de estimar as áreas disponíveis para construção dentro
do lote, foi desenvolvida a tabela 5:
fato de a avenida Padra Manoel da Nóbrega possuir 20,90 metros de logradouro possibilita uma
boa adequação da via ao que se é solicitado.
Um dos principais pontos dessa proposta é que esse local de convívio na área do Poço
do Mato seja acessível para todos, portanto serão respeitadas as diretrizes da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) instituídas na Norma Brasileira (NBR) 9050:2020 -
Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, que determina que
parques, praças e locais turísticos devem ser dotados de rotas acessíveis, com pisos de superfície
regular, firme, estável, antiderrapante e não trepidante para dispositivos com rodas, com
sinalização visual e tátil no piso, com inclinação transversal de até 2% em pisos internos e 3%
para pisos externos, e inclinação longitudinal inferior a 5%, visto que acima desse valor já se
considera como rampa. A NBR 9050:2020 também recomenda que pelo menos 5%, ou no
mínimo uma, do total de mesas destinadas ao lazer ou à alimentação sejam acessíveis à rota
acessível, com espaço de no mínimo 0,80 x 1,20 metros destinado à aproximação frontal e que
permita uma circulação de 180º para uma pessoa em cadeira de rodas. As mesas devem ter
altura entre 0,75 metros e 0,85 metros e abaixo do tampo deve ter um espaço livre de 0,73
metros de altura e 0,50 metros de profundidade (ABNT, 2020).
Com relação às vagas de estacionamento, a Lei de Uso e Ocupação do Solo de Macapá
não determina uma quantidade mínima de vagas de estacionamento para praças e áreas de
convívio, mas a NBR 9050:2020 determina que deve haver vagas reservadas para pessoas
idosas e com deficiência, com uma distância máxima de 50m de acesso ao local. Considerando
que o espaço destinado ao estacionamento de veículos será adjacente ao meio fio, serão
destinadas 3 vagas prioritárias, sendo 1 para pessoa idosa, 1 para pessoa com deficiência (esta
com espaço adicional de 1,20 metros de largura) e 1 para mulher grávida.
Também devem ser adotados os princípios do desenho universal, que consistem em
um uso equitativo para diversas pessoas, uso flexível para diferentes preferências e habilidades,
uso simples e intuitivo que seja de fácil compreensão, informação de fácil percepção e em
diferentes modos (visuais, verbais e táteis), tolerância ao erro para que se minimizem os riscos
de ações acidentais ou não intencionais, baixo esforço físico e dimensão e espaço para
aproximação e uso independente de tamanho do corpo, postura e mobilidade do usuário
115
(ABNT, 2020). Tendo todas estas questões anteriormente abordadas em vista, desenvolve-se o
Partido Arquitetônico.
Para o lote da CAESA, cuja setorização está na Figura 62, a ideia é que a topografia
do terreno seja aproveitada, mas ainda permitindo que todos os ambientes sejam acessíveis a
pessoas com deficiência, crianças e idosos. Por isso, os afastamentos laterais e de fundos foram
utilizados como pista de caminhada, a qual funciona também como rampa para o deck elevado
e áreas de convívio. A árvore mangueira existente direcionou a posição do deck, com o intuito
116
de aproveitar a sombra que esta proporciona, tornando o local agradável para reuniões entre
pessoas. O playground foi posicionado mais ao fundo do lote, a fim de criar uma proteção entre
as crianças e a via, e assim uma outra área de convívio foi pensada para que os responsáveis
pelas crianças pudessem observá-las, assim também foi incluída uma nova árvore a fim de
melhorar o conforto térmico urbano do ambiente. Ao centro do terreno se localizam dois pontos
chaves dessa esfera do projeto: o Memorial do Poço do Mato e do bairro do Laguinho e o
espelho d’água, posicionados para estarem logo em frente ao Poço do Mato.
O Memorial e o espelho d’água trazem uma estética muito importante para o projeto,
como pode-se observar na Figura 63. A água é um importante elemento em relação à história
do Poço do Mato, visto que o objeto em questão fazia parte de um sistema de captação de água
potável, além do lago que existia naquela área antes de ser parcialmente aterrada e ocupada com
casas. Por conta disso, a água é um ponto chave desse projeto, por tudo que ela representa na
memória desse local. Com o intuito de mantê-la em movimento, há uma fonte no ponto mais
alto do espelho d’água e seu fundo vai acompanhando a topografia do lote, promovendo a queda
d’água. Os painéis com motivos folhosos no Memorial se relacionam com a vegetação a qual
havia no entorno do lago. Ambos se conectam a partir do avanço do piso e da cobertura do
Memorial, em que os pilares são posicionados dentro do espelho d’água. Isto proporciona uma
117
contemplação ao sentar-se no piso elevado, colocar os pés na água e observar o Poço do Mato,
que se encontra na mesma direção à frente.
Projeto e apresentação: QUADROS, Juliana (2021); Maquete virtual e render: BARBOSA, Filipe (2021).
Imagem do espelho d’água de inspiração: Pinterest; Imagem do lago: Blog Porta-Retrato Macapá.
barreira para a via por meio de bancos e floreiras na delimitação entre a faixa de veículo e a
área do poço.
Outro elemento que foi pensado, a fim de remeter à história do bairro, foi a troca dos
azulejos quebrados da borda do poço por outros com desenhos do Poço do Mato e do
Marabaixo, expostos na Figura 66.
Projeto e apresentação: QUADROS, Juliana (2021); Maquete virtual e render: BARBOSA, Filipe (2021).
Imagens de inspiração: Pinterest.
Devido à proximidade, as duas áreas se conectam por meio de uma faixa de pedestres
elevada, que tem como intuito gerar mais atenção aos motoristas ao passarem pela área e trazer
o mesmo nível às duas partes. Na Figura 68 é possível perceber como a vista do Memorial se
volta para o Poço do Mato. Nota-se também que a proposta não destoa do seu entorno,
121
Projeto: QUADROS, Juliana (2021); Maquete virtual e render: BARBOSA, Filipe (2021).
permanência (ver Figura 69). Assim como a grande cobertura sobre o poço e a grande
disponibilidade de bancos fazem parte dessa composição de um ambiente cativante.
Fotografias: QUADROS, Juliana (2021); Modelagem e render do projeto: BARBOSA, Filipe (2022);
Montagem: QUADROS, Juliana (2022).
Fotografias: QUADROS, Juliana (2021); Modelagem e render do projeto: BARBOSA, Filipe (2022);
Montagem: QUADROS, Juliana (2022).
principal a de comunicar a forma como o projeto deve ser executado. Assim, se faz o uso
predominante de desenhos técnicos.
Dessa forma, na Figura 72, ampliada no Apêndice A, é possível visualizar a planta de
locação da área do poço em relação à rua e as dimensões de calçada, ciclofaixa, faixas de
tráfego, canteiro e faixas de estacionamento, assim como a locação dos postes de iluminação.
Os detalhamentos de ambas podem ser visualizados nas Figuras 74 e 75, ampliadas no Apêndice
A.
Figura 74 – Planta de cobertura da área do poço
A área do poço tem como uso principal o convívio entre pessoas e a contemplação do
bem cultural, sendo assim, o projeto conta com o uso de bancos e jardineiras com plantas,
pisogramas e o uso de diferentes pisos, como pode ser visualizado no layout da Figura 76.
126
Quanto ao projeto no lote da CAESA, em que se pode visualizar na Figura 77, existem
mais áreas livres para uso em feiras ou para eventos como piqueniques. O memorial tem uma
planta livre, sem divisão internas, permitindo que seu uso para exposições artísticas, culturais
e históricas seja menos limitante. O playground conta com três brinquedos, todos acessíveis a
crianças usuárias de cadeira de rodas.
O projeto possui o uso de formas simples, portanto, seu diferencial se encontra no uso
de várias texturas, cores e relevos, por meio do uso de materiais como o aço corten, o cobre
patinado, estruturas metálicas e madeira laminada, além de elementos naturais como a água, a
vegetação e a pedra (ver Figura 78), essa combinação trouxe à proposta um aspecto
127
contemporâneo e funcionou como guia para a paleta de cores utilizada no projeto, com o
terracota, azul, marrom e preto.
Projeto e pós-produção: QUADROS, Juliana (2021); Maquete virtual e render: BARBOSA, Filipe (2021).
A vegetação é um grande ponto chave do projeto (Figura 79), com uso de plantas como
bromélia-imperial e murta-do-campo nas jardineiras da área do poço, costela-de-adão e
bananeira-ornamental na lateral do memorial, dianela no entorno do espelho d’água, estrelícia
gigante e xanadu ao lado da passarela 1. A mangueira já existente no lote se mantém, com o
intuito de sombrear áreas de convívio e foi proposta a adição da árvore pau-ferro para sombrear
128
a área de convívio do lado esquerdo. Por ser um ambiente de permanência, as plantas auxiliam
a tornar o ambiente agradável e acolhedor.
Projeto: QUADROS, Juliana (2021); Maquete virtual e render: BARBOSA, Filipe (2021).
Também com a intenção de ser uma proposta inclusiva a todas as pessoas, o projeto
tem, além dos acessos adequados às normas de acessibilidade, um playground (Figura 80) com
brinquedos apropriados a crianças que usam cadeira de rodas. Nele há um balanço, um gira-
gira e uma gangorra. O piso é emborrachado e com tons em degradê da cor azul. Próximo ao
129
playground fica uma área de convívio que pode ser utilizada pelos pais ou responsáveis pela
criança.
Projeto: QUADROS, Juliana (2021); Maquete virtual e render: BARBOSA, Filipe (2021).
Projeto: QUADROS, Juliana (2021); Maquete virtual e render: BARBOSA, Filipe (2021).
Essa proposta tem como intuito atender uma demanda interna, que vem a partir da
apreensão de anseios de algumas pessoas do bairro do Laguinho, e se apropria de uma área em
desuso para requalificar um espaço de referência cultural para a cidade de Macapá, o qual faz
parte da memória histórica do bairro. O local se instala como um memorial de um objeto que é
uma peça-chave para a rememoração.
131
CONSIDERAÇÕES FINAIS
bens culturais para o bairro do Laguinho e para a cidade, muito em breve diversas coisas
poderão ser perdidas sem registro algum, ficando somente na memória dos que permanecerem.
133
REFERÊNCIAS
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5.16
345.07
6.06 160.84 23.60 5.00 160.63 9.02
1.00 1.00 2.91
GENERAL
5 RUA POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 60.00
POSTE POSTE
4.40
7.00 5.00 5.00 5.00 3.10 5.00 5.00 4.59 5.00 2.87 5.00 5.00 3.49 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 4.58 5.00 5.00 5.00 4.22 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 15.99 23.60 13.72 5.00 5.00 5.00 7.65 5.00 5.00 1.72 5.00 5.00 5.71 5.00 5.00 7.85 1.00
1.00 5.75 1.00 1.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 7.32
1.00
1.00
3.50 3.00
3.00
3.50
8.70
146.08 8.70 144.80
11.46
9.00
3.50 1.46
14.46
1.46
POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE
7.90 30.00 30.00 30.00 30.00 17.01
1.46
2.80 3.00 3.50
2.95 2.96
20.74
FAIXA DE PEDESTRES
2.80 3.00
6.50
POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE
7.50
ELEVADA
30.00 30.00 30.00 30.00 30.00 30.00 30.00 30.00 30.00 30.00 30.00 9.02
3.00
2.80
1.70
6.06 17.00 1.00 5.00 1.00 11.00
.70
15.00
PLANTA DE LOCAÇÃO - GERAL
SIQUEIRA esc 1:500
RUA
meio fio
calçada em concreto
4.40
1.80
1.80
4.40
158.44
ACESSO PRINCIPAL ACESSO PRINCIPAL
2.80 13.90
23.60
2.80
2.80
2.80
AVENIDA PADRE
MANOEL DA NÓB 158.23
152.33 REGA
9.00
4.40
35.00 1.50 1.88 3.85 1.17 5.79 6.13 5.95 7.22 1.50
1.00
1.00
155.37
2.80
15.00
piso permeável
+0,19 +0,75
.70
.70
+0,35
projeção da copa da árvore
grama piso atérmico piso permeável grama piso permeável +0,16 piso atérmico
+0,19
muro - h=2,93m
.00
COMPANHIA DE ∅6
ÁGUA E ESGOTO
DO AMAPÁ
CAESA COMPANHIA DE
JARDIM 2 +0,11
ÁGUA E ESGOTO
ÁREA DE CONVÍVIO 2 3.54 A=72,83m²
DO AMAPÁ
4.04
1.95
CAESA A=19,24m² borda de pedra
+0,14
5.30
BORGES
5.11
ladrilho 3.3
5
AVENIDA ÁREA DE CONVÍVIO 1
6.18
i=9,10%
i=8,50%
ERNESTINO A=45,75m²
SOBE
SOBE
deck de madeira
ANTENA 00
6.
8.63
DE RÁDIO ∅ +0,53
10.48
+0,49
TIRADENTES
DECK
i=8,08%
i=6,58%
SOBE
SOBE
A=28,27m²
.20
ESPELHO D'ÁGUA
A=49,90m² ∅2.00 piso de borracha
+0,71
PLANTA DE SITUAÇÃO +0,28
JARDIM 1
3.26
esc 1:1000 +0,76
+0,76 A=4,45m²
1.75
COSTA
1.20
4.67
.69 10.40 .69
AVENIDA
RAIMUNDO
1
3.5
13.40 deck elevado de madeira
.80
.20 3.10 .20 3.10 .20 3.10 .20 3.10 .20 4.23
.20
4.8
8
5.60
3.37
1.77
4.40
projeção da copa da árvore
MEMORIAL PLAYGROUND SOBE
+1,14 A=42,60m² A=71,85m²
3.52
1.52 ∅6
.00 i=115%
+0,76 +0,75
DECK ELEVADO
.20
A=24,55m²
6.49
3.02
+1,14
.70
9
5.7
1.77
4.52
1.50
JARDIM 2
i=115%
SOBE
projeção da cobertura
.80
3.00 +0,81
8.08
.20
+1,72
+1,14
1.50
i=3% i=2%
A=6,75m² A=6,75m²
1.77
.12
4.38
1.50 1.50 1.50 4.90 1.30 .69 10.40 .69 1.21 8.31 .70 .80 1.50 .12
.20
35.12
1.77
.18
13.40
B
VISTA 01
PROJ. DA COBERTURA
PLANTA DE COBERTURA - MEMORIAL
ESQUADRIAS PISO REVESTIMENTO FORRO
esc 1:50
13.40
1.52 1.13 1.06 1.44 1.27 1.10 1.72 1.63 1.21 .90 .98 3.71
PORTAS E PAINÉIS FIXOS REP. Especificação Área REP. Especificação Área REP. Especificação Área
1.84
REP. Dimensão Material Abertura 2 folhas de Aço Corten com Forro em placas de metal
R1 81,92m²
P2 Assoalho de madeira plástica cor Itaúba 22cm x 120cm 62,31m² preenchimento de lã de vidro Cortado em grid
Folha de aço F1 101,91m²
2.43 .30 7.94 .30 2.43 1,24m x Cor: Branca
.90
R2
Pilar revestido com revestimento
.20
R2 R2 R2 R2 1,24m x Folha de cobre P4 Ladrilho hidráulico hexagonal - Caramelo 5cm x 5cm 1,76m² R2 6,68m²
E2 Fixa de pedra na cor bege
2,80m patinado
.30
R2
R2
P5 Ladrilho hidráulico hexagonal - Bege 5cm x 5cm 1,84m² Forro em placas de metal
1,24m x Folha de aço
E3 corten cortada à Cortado em grid 101,91m²
Correr F1
3.00
2,80m laser - folhagens P6 Ladrilho hidráulico hexagonal - Verde 5cm x 5cm 1,24m² Meia parede revestida com Cor: Branca
R3 9,88m² E=3mm
ladrilho hidráulico
1.47
.03 .03 .03 .03 .03 .03 .03 P7 Laje em concreto 22,06m²
1.20
1.20
.81 .69 .03 1.24 .03 1.24 .03 1.24 .03 1.24 .03 1.24 .03 1.24 .03 1.24 .03 1.24 .03 .69 .81
.05
.05
.20
COBERTURA EM LONA TENSIONADA
E3 E3
COBERTURA EM LONA TENSIONADA
E3 E3
VISTA 04
VISTA 02
E2 E2
COBERTURA EM LONA TENSIONADA
8.08
E1
2.97
MEMORIAL
A = 42,60m²
P.D. = 2,80m
9.00
A A
4.21
4.21
4.06
7.00
+0,76
P1 R1 F1
6.00
.02
.02
.10
.10
.12 10.12 .10
.02
.02
.02 .02 .02 .02
VISTA 03
B
PROJETO:
esc 1:50
DATA:
29/01/2022
UNIDADE DE MEDIDA:
Metros
ESCALA:
Indicada
01 /06
VISTA 05
D
9.25
PROJ. DA COBERTURA
4 2.6
2.6 4
1.15
1.15
.24 .30 11.79 .30 .24
2.2
2.2
2
.30
.30
4 2.6
2.6 4
2.30 2.30
P2 3 3.4 P2
3.4 POÇO DO MATO 3
2.0
8
2.0
A = 24,27m²
8
ÁREA DE CONVÍVIO DO POÇO
2.30 P.D. = 3,50m A = 143,75m²
2.30
C C
R2.65
-0,41 P.D.= 2,90m
9
1.6
P5 P5
1.6
9
P6 P6
P7 R3 F2
+0,19
P3 P1 R3 F2 P3
VISTA 08
VISTA 06
P3 P5 P5 P3
P6 P3 P3
P5 P5 P6
2.40 P4 P3 P6 11.68 P6 P3 P4 2.40
∅3.00 ∅3.00
P4 P4
2.2
9
P4 P4
2.2
9
.05
.54
.54
REP. Especificação Área REP. Especificação Área REP. Especificação Área
.05
.05
.05 P1 Piso permeárvel Castellato Ekko Plus - Cinza Natural 60x60cm 251,22m²
.05
.6 5
.65
.51 2 folhas de Aço Corten com
.51 .05 R1
preenchimento de lã de vidro
81,92m² Forro em placas de metal
.05 P2 Assoalho de madeira plástica cor Itaúba 22cm x 120cm 62,31m²
F1
Cortado em grid 101,91m²
Cor: Branca
P3 Ladrilho hidráulico hexagonal - Tiffany 5cm x 5cm 9,24m² E=3mm
1.0
.05
0
.05
1.0
Pilar revestido com revestimento
0
.59
.05 .05 .05 .05 Ladrilho hidráulico hexagonal - Bege 5cm x 5cm 1,84m²
.43 P5
.55 .05 .24 .30 .24 .05 .50 .05 .05 .50 .05 .24 .30 .24 .05 .55 .43 Forro de madeira laminada
F1 159,25m²
.64
.64
P6 Ladrilho hidráulico hexagonal - Verde 5cm x 5cm 1,24m² Meia parede revestida com E=2mm
9,88m²
.05 .50 .05
1.0 7
7 1.0
.60 1.50 .89 1.50 .60 7.00 .60 1.50 .89 1.50 .60
D
VISTA 07
esc 1:50
ACESSO PRINCIPAL
.24
2.17
2.66
2.80
2.80
+1,53
RAMPA
.10
.10
+1,06 +1,14
RAMPA DECK ELEVADO
+0,76 +0,76
.77
.08
MEMORIAL PLAYGROUND
.37 .17
.17
CORTE AA
B
esc 1:50
D
A
.30 .27
.24
2.01
3.04
2.80
3.06
2.17
3.23
2.94
+1,41
4.11
2.65
2.37
.10 .38
RAMPA
3.37
2.09
+0,76
MEMORIAL
+0,19
.60
.10
+0,29
ÁREA DE CONVÍVIO DO POÇO
.20
+0,11
1.20
ESPELHO D'ÁGUA
.63
JARDIM 2
-0,41
.30.04
POÇO DO MATO
CORTE BB CORTE CC
A
D
esc 1:50 esc 1:50
C
.53
.30
1.77
ÁREA DE
CONVÍVIO
DO POÇO
+0,19
Universidade Federal do Amapá - UNIFAP
.60
.37
PROJETO:
1.20
Pilar metálico Totem Jardineira em Meia parede revestida com ladrilho hidráulico Cobertura sinuosa com estrutura mista de metal e madeira e fechamento em lona tensionada
em I revestido aço corten
em pedra
Laje revestida com piso permeável Ekko Plus Vedação em aço corten Viga metálica em I
DET 5
VISTA 04 VISTA 05
esc 1:50 esc 1:50
Totem Meia parede revestida com ladrilho hidráulico Jardineira em Cobertura sinuosa com estrutura
revestido aço corten mista de metal e madeira e Cobertura sinuosa com estrutura mista de metal e madeira e fechamento em lona tensionada Meia parede revestida com ladrilho hidráulico Jardineira em Totem Pilar metálico
em pedra fechamento em lona tensionada aço corten revestido em I
em pedra
Pilar metálico
em I
DET 5 DET 5
VISTA 06 VISTA 07
esc 1:50 esc 1:50
Cobertura sinuosa com estrutura Jardineira em Meia parede revestida com ladrilho hidráulico Totem
mista de metal e madeira e aço corten revestido
fechamento em lona tensionada em pedra
.24 .24 .24
Pilar metálico
em I
.24
DET 5
.60
.12
.12
.12
DET 05 - PAGINAÇÃO MEIA PAREDE - POÇO DO MATO Universidade Federal do Amapá - UNIFAP
VISTA 08
esc 1:10
esc 1:50
PROJETO:
29/01/2022
UNIDADE DE MEDIDA:
Metros
ESCALA:
1:50
03 /06
LAYOUT - ÁREA DO POÇO
esc 1:50
Layout
PROJETISTA: PRANCHA:
29/01/2022
UNIDADE DE MEDIDA:
Metros
ESCALA:
1:50
04 /06
3.54
1.95
7 3.3
3.3
1.57
5
2.22
.79
2.16
9.25
4.29
.30
+0,19
4 2.6
2.6 4
.79
1.03
1.4
1.61
+0,29 2
.30
+0,49
+0,09
2. 2
2.2
.30
+0,39
1.23
1. 8
R.
4
2. 4
60
1.29
.30
3
+0,70
.79
4.4
R.90 7
1.3 ∅2.00
DET 1 3.37
4
2.6 D.A D.A
.64
1.9
3.22
4
.30
2
4.71
2.30 2.30
6
6 3.1
.30
R1.20 3.89 2.3
3 3.4
3.4 3
2.0
8
2.0
.79
3
.30
1.7
2.30 2.30
6.08
R2.65
.30
9
1. 6
1. 6
.8 0
8.47
9
.20
1.40
.30
1.80
. 79
2.40 11.68 2.40
1.3
∅3.00 ∅3.00
.30
.40
.79
2.2
9
2.2
9
.05
.05
4.2
.54
.54
esc 1:25
1
esc 1:50
.05
.05
.05
.05
.65
.65
.51 .20 4.01 2.25 2.68 3.03
.51 .05
.05 2.00
.13 .08
1.0
.05
.05
.59
.59
.05 .05 .05 .05
.43
.55 .05 4.45 .05 .55 .43
1.28
.24 .30 .24 .05 .50 .05 .05 .50 .05 .24 .30 .24
.64
.64
.91
1.88 3.85 1.12 5.84 6.13 5.96 7.22
Alcantarea imperialis Bromélia-imperial
R3
1.34
.8
R12
.73
3
.98
3
.85
.73
R1
6
1.8
.16
2.52
R3 Aglaia odorata Murta-do-campo
.00
R7.22
.89
3.66
R6.7 9.19
.83
7
4.59
4.64
.78
8.49
.78
5.21
.76
R2.31
R4
1.57
7
R3.2
.47
6.18
.83
2.16
2.22
.81
7
9.0
.82
R1
.86
1.03
1.61
3.
38
R2.69
R3.8 Strelitzia nicolai Estrelícia gigante
7 4.40
R3.00 1.41
12.00
12.00
.20
1.23
2.39
8
1.8
R7.07
R3
4
2.4
.81
Philodendron xanadu Xanadu
2.42
1.29
3.32
∅2.00
7 4.2
1.3 5
3
3.37
5.2
.80 Musa ornata Bananeira-ornamental
R9
3.78
R1
.71
0.
3.89 6
54
2.3 6
3.1 3
8.8
3
R 13.4
4
.80
7.7
1.21
1.80
R12.23
Caesalpinia leiostachya Pau-ferro
1.3
5.63
8
.69
1.37
1.26
4.87
Assoalho de madeira plástica cor Itaúba 62,31m²
22cm x 120cm
.69
00 251,22m²
3.02
.96
.80
3.00
3.00 6.20 11.78 1.21 9.81
Ladrilho hidráulico hexagonal - Bege 5cm 1,84m²
x 5cm
Ladrilho hidráulico hexagonal - Verde 1,24m²
5cm x 5cm
Piso atérmico Castellato - Canela 60cm x 64,87m²
3.00 29.00 3.00
60cm
D.A
5.95
PLANTA DE PAISAGISMO - LOTE DA CAESA Bloco de pedra tijoleta grês 20cm x 42cm 3,73m²
esc 1:50 +0,16 x 10cm
.92
Grama amendoim 76,52m²
2.4
1 R3
D.A
73
.83
Piso de borracha anti-impacto -
3.
R1
12,17m²
6
1.8
5.79
paginação dama cor 163 173 175
.00
+0,19
Piso de borracha anti-impacto - 18,75m²
paginação dama cor 132 150 164
1
R2.3
.78
Piso de borracha anti-impacto -
19,11m²
.91
3.14
Piso de borracha anti-impacto -
i=9,10%
.98
SOBE
R12
R12
.98 21,90m²
paginação dama cor 70 91 108
.15
3.
8 3
.54
R10
.54 .93
.15
i=8,50%
.27
SOBE
6.70
7.17
7.17
6.70
R6.23
R3
7
2.7
1.94
R3
.81
DET 03 - CORTE D.A - PASSARELA 1
esc 1:25 +0,76
3
5.2
1.38
.15
D.A
+0,76 Universidade Federal do Amapá - UNIFAP
2.48
.57
.15 .06
PROJETO:
Planta de Paisagismo
D.A
DET 03 - PLANTA BAIXA - PASSARELA 1 esc 1:25 DET 04 - PLANTA BAIXA - PASSARELA 2
Juliana Amaral Quadros
29/01/2022
UNIDADE DE MEDIDA:
Metros
ESCALA:
Indicada
05 /06
.70 3.26 3.26 3.26 3.26 3.26 .70
LUMINÁRIAS
Rep. Especificação Qt.
1.83
Plafon de sobrepor recuado direcionável, modelo: Square Out MR16, marca: Stella, temperatura de cor: 3000K 24un.
Espeto mini, modelo: Focco 3w, marca: Stella, temperatura de cor: 3000K 14un.
Poste balizador preto, modelo: Frankfurt, marca: Stella, temperatura de cor: 3000K 18un.
Spot fixo, modelo: Easy Par20, marca: Stella, temperatura de cor: 3000K 27un.
Spot direcionável para trilho, modelo: Par30, marca: Stella, temperatura de cor: 3000K 7un.
1.78
Fita de led, marca: Stella, temperatura de cor: 3000K 5,20m
Spot embutido recuado direcionável com led integrado, modelo: Easy Par30 Evo, temperatura de cor: 3000K 6un.
Poste LED, modelo: Oasis, marca: Accend, temperatura de cor: 2700K 14un.
1.78
1.78
1.83
LUMINOTÉCNICO - ÁREA DO POÇO
esc 1:50
.05
.05
.73 1.31 .73 1.23 .16 1.07 .73
.42
.42
.42
.42
.68
.76
.79
1.10
1.57
1.62
1.15
3.58
3.58
2.31
1.56
1.56
2.45
3.01
3.12
3.23
1.23 1.23 1.23 1.23 1.23 1.23
2.80 .05 4.37
1.66
1.68
1.68
.05
.56
.16
.56
.36
3.58
.90
1.05
1.05
2.00
1.05
3.58
3.58
.34
.75
2.11 2.95 2.95 1.74 .37
1.53
1.05
.93
1.01
1.61 .79
2.00
.93
1.01 .37
.13
36
°
1.05
.93
.71
.71
.71
.30 .30 .30
.03
0.0
1.08
1.00
.93
∅1
.93
1.05
3.02
.75
1.53
2.70
2.70
2.47
.28 .30 .30 .12
1.64 .70 .01 .80 .01 .70 .01 .80 .39
.71
.73 1.00
.58
.90
1.38
.05 3.54 3.54 3.54 3.54 3.54 3.54 3.54 3.54 3.54 .05
Luminotécnico
PROJETISTA: PRANCHA:
29/01/2022
UNIDADE DE MEDIDA:
Metros
ESCALA:
1:50
06 /06
146
95
201
07
235 01
08
180
07
54
86
126
04 06 09
08
06
118
75
508
100
VISTA C
08 08
VISTA A
08
02
191
13
VISTA B
121
VISTA A
03
Escala: 1/50
05 09
196 397 384 39
LAYOUT
Escala: 1/50
02
30
30
02
63 30 30 30 30 52
71
15 15 15
09 05 03 04
249
08 01
210
219
280
280
177
03
40
31
VISTA B VISTA C
Escala: 1/50 Escala: 1/50
LEGENDA