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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS


CURSO DE BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

JULIANA AMARAL QUADROS

MEMÓRIA E PATRIMÔNIO: uma proposta de intervenção urbano-arquitetônica no


bairro “Laguinho”, Macapá (AP)

MACAPÁ – AP
2022
JULIANA AMARAL QUADROS

MEMÓRIA E PATRIMÔNIO: uma proposta de intervenção urbano-arquitetônica no


bairro “Laguinho”, Macapá (AP)

Trabalho de Conclusão de Curso II apresentado ao Curso de


Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Amapá como requisito final para obtenção do título de
graduação em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Prof ª Msc. Dinah Reiko Tutyia.

MACAPÁ – AP
2022
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca Central da Universidade Federal do Amapá
Elaborada por Jamile da Conceição da Silva – CRB-2/1010

Quadros, Juliana Amaral.


Q1m Memória e patrimônio: uma proposta de intervenção urbano-arquitetônica no bairro
“Laguinho”, Macapá (AP) / Juliana Amaral Quadros. – 2022.
1 recurso eletrônico. 147 f .

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Bacharelado em Arquitetura e


Urbanismo) – Campus Marco Zero, Universidade Federal do Amapá, Coordenação
do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Macapá, 2022.
Orientador: Professora Mestra Dinah Reiko Tutyia

Modo de acesso: World Wide Web.


Formato de arquivo: Portable Document Format (PDF)

Inclui referências e apêndices.

1. Arquitetura e urbanismo. 2. Planejamento urbano – Macapá (AP). 3. Espaços


públicos. 4. Patrimônio cultural – Proteção. I. Tutyia, Dinah Reiko, orientadora. II.
Título.

Classificação Decimal de Dewey, 22 edição, 712


QUADROS, Juliana Amaral. Memória e patrimônio: uma proposta de
intervenção urbano-arquitetônica no bairro “Laguinho”, Macapá (AP). Orientadora:
Dinah Reiko Tutyia. 2022. 147 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) – Campus Marco Zero, Universidade
Federal do Amapá, Coordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Macapá,
2022.
FOLHA DE APROVAÇÃO

JULIANA AMARAL QUADROS

MEMÓRIA E PATRIMÔNIO: uma proposta de intervenção urbano-arquitetônica no


bairro “Laguinho”, Macapá (AP)

Trabalho de Conclusão de Curso II apresentado ao Curso de


Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Amapá como requisito final para obtenção do título de
graduação em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Prof ª Msc. Dinah Reiko Tutyia.

Macapá, 14 de fevereiro de 2022

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________
Profª. Ma. Dinah Reiko Tutyia (Orientadora)
Universidade Federal do Amapá – UNIFAP

___________________________________________________
Profª Drª. Fátima Maria Andrade Pelaes
Universidade Federal do Amapá – UNIFAP

____________________________________________________
Profª Ma. Laura Caroline de Carvalho da Costa
Instituto Federal do Pará – IFPA
AGRADECIMENTOS

A Deus, por todo amor, proteção e bençãos. Por ser o meu sustento.
Aos cientistas, que não cessam seus estudos e nos proporcionaram a entrega de vacinas contra
COVID-19 em tempo recorde.
Aos meus amados avós, Teresinha (in memoriam), Candeias e Misael, que foram os pilares dos
caminhos que hoje posso trilhar. Ao meu querido avô, Marcos (in memoriam), o qual não
cheguei a conhecer, mas que conseguiu me passar todo seu amor por meio da minha família.
Aos meus pais, Ildete e Marcos, que nunca mediram esforços para que eu alcançasse todos os
meus sonhos e que sempre lutaram para que eu tivesse a melhor educação possível.
Ao meu irmão, Vinícius, que ainda na minha infância me ensinou a forma mais fácil de entender
a fórmula da área do triângulo retângulo, tornando a geometria e a vida em coisas mais simples.
Ao meu namorado, Filipe, que escutou todos os meus lamentos e comemorações, me auxiliou
de infinitas formas na execução desse trabalho, com destaque na produção gráfica.
À minha orientadora, Profª Ma. Dinah Reiko Tutyia, por me direcionar sempre no caminho
certo, com paciência e dedicação.
Aos meus familiares, por toda confiança que sempre depositaram em mim, em especial ao meu
primo João Paulo que foi de grande ajuda nessa pesquisa.
Aos meus amigos de Arquitetura e Urbanismo, especialmente Carolina, Elder, Letícia Dias,
Letícia Abrantes, Marcus, Silvia, Tainá, Thaís Letícia, Yasmin e Ygor por compartilharem
comigo os momentos de dificuldade, estresse, angústia e alegria.
Aos meus amigos, os quais, cada um à sua maneira, tornaram esse processo mais fácil e feliz.
Aos professores do curso de Arquitetura e Urbanismo da UNIFAP, que me ensinaram tanto em
suas aulas quanto nas conversas trocadas pelos corredores da universidade.
Ao Prof Dr. Marcos Vinícius de Freitas Reis que me indicou vários caminhos para dar partida
nessa pesquisa e me conectou aos entrevistados desse trabalho.
Ao Prof Dr. José Alberto Tostes por ceder a imagem aérea de Macapá de 1966.
Aos moradores do bairro Laguinho, em especial a Cristina, Daniel, Durica, José Antônio, José
Raimundo e Laura, que me permitiram conhecer suas histórias, suas vidas e suas memórias.
Aos servidores da CAESA pela disponibilização de material para a pesquisa.
Às marabaxeiras, por me inspirarem e motivarem com o movimento das suas danças.
Às lavadeiras, puxadeiras, benzedeiras, cantadeiras, costureiras, curandeiras, parteiras que
fazem parte da construção da nossa cidade.
À cada um que de alguma forma contribuiu com a minha formação: de vida e de graduação.
Ao São Benedito, padroeiro da minha família, que não cessou de interceder pelo meu TCC.
“E comecei a entender que a beleza da jornada não é
chegar, mas viver toda a experiência que existe no
caminho.” (LUCÃO. Viver não pode ser só isso: volume
1, 2020)
RESUMO

QUADROS, Juliana Amaral. Memória e Patrimônio: uma proposta de intervenção


urbano-arquitetônica no bairro “Laguinho”, Macapá (AP). Trabalho de Conclusão de
Curso. Macapá, AP: Universidade Federal do Amapá, 2022.

Este trabalho investiga os lugares atrelados às memórias dos moradores do bairro do Laguinho,
na cidade de Macapá, capital do estado do Amapá. O referido bairro tem uma importante
significância cultural e histórica para a história da cidade. O método para apreensão dos dados
dessa pesquisa se deu por revisão bibliográfica e documental e a partir de entrevistas realizadas
com moradores e antigos moradores do Laguinho. Também foram realizadas pesquisas em
projetos de referência para auxiliar na composição de uma proposta de intervenção urbano-
arquitetônica no bem cultural “Poço do Mato”, o qual foi escolhido por conta de sua relevância
para a história do bairro e pela viabilidade de intervir em seu entorno.

Palavras-chave: Poço do Mato; Bairro do Laguinho; Requalificação urbana.


ABSTRACT

This work investigates the places linked to the memories of the residents of the Laguinho
neighborhood, in the city of Macapá, capital of the state of Amapá. This neighborhood has an
important cultural and historical significance for the city's history. The method for capturing
the data in this research was based on a bibliographical and documental review and based on
interviews carried out with residents and former residents of Laguinho. Research was also
carried out in reference projects to assist in the composition of a proposal for urban-architectural
intervention in the cultural property “Poço do Mato”, which was chosen because of its relevance
to the history of the neighborhood and the feasibility of intervening in its surroundings.

Key-words: Poço do Mato; Laguinho Neighborhood; Urban requalification.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa De Bens De Interesse Ao Tombamento E Área De Entorno De Interesse À


Proteção Federal ............................................................................................................... 30
Figura 2 – Três Residências Do Bairro Laguinho: (Da Esquerda Para A Direita) Elemento Da
Arquitetura Erudita, Uso De Arcos E Platibanda E Linhas Retas E Inclinadas ............... 32
Figura 3 – Lago Do Poço Do Mato: Comparação Das Vistas Aéreas De 1993 E 2003........... 33
Figura 4 – Poço Do Mato ......................................................................................................... 34
Figura 5 – Tratado De Tordesilhas ........................................................................................... 37
Figura 6 - À Esquerda: Distância Entre O Forte Cumaú E A Fortaleza De São José De
Macapá; À Direita: Planta Do Forte Cumaú .................................................................... 38
Figura 7 – Rios Oiapoque E Araguari ...................................................................................... 39
Figura 8 – Planta Iconográfica De 1759 ................................................................................... 40
Figura 9 – Fortificações Construídas Na Amazônia Até O Século Xviii ................................. 41
Figura 10 – Planta Da Vila De S. José De Macapá .................................................................. 43
Figura 11 – Vista Aérea De Macapá, 19-- ................................................................................ 49
Figura 12 – Transferência Da População Negra Para Os Bairros Laguinho E Favela ............. 54
Figura 13 – Destaque Para As Roças No Bairro Do Laguinho ................................................ 58
Figura 14 – Análise Comparativa Da Base Aérea Lasa (1966) Com O Mapa Urbano (2013) 59
Figura 15 – Parque Beira Rio, Pdu/Hj Cole (1979) .................................................................. 62
Figura 16 – Parque Do Marco Zero, Pdu/Hj Cole (1979) ........................................................ 62
Figura 17 – Mapa Do Pdu/Hj Cole Para A Cidade De Macapá (1979) ................................... 63
Figura 18 – Área De Implantação Do Parque Do Laguinho, Pdu/Hj Cole (1979) ................... 64
Figura 19 – Planta Geral Do Parque Do Laguinho, Pdu/Hj Cole (1979) ................................. 65
Figura 20 – Crianças Jogando Futebol Em Um Campo Onde Atualmente Se Encontra O
Sebrae, Na Década De 60 ................................................................................................. 68
Figura 21 – Marcos Da Memória Do Bairro Do Laguinho ...................................................... 70
Figura 22 – Primeiro Poço Público Para Captação De Água Em Macapá-Ap ......................... 73
Figura 23 – Poço Do Mato Ainda Existente, 2020 ................................................................... 73
Figura 24 – Novos Poços De Abastecimento De Água Em Macapá........................................ 74
Figura 25 – Poço Do Mato Após Ser Atingido Por Um Caminhão, 2021 ............................... 76
Figura 26 – Área Dentro Do Lote Da Caesa A Ser Utilizada No Projeto ................................ 78
Figura 27 – Largo E Igreja Nossa Senhora Dos Anjos ............................................................ 83
Figura 28 – Planta Que Mostra A Alteração Da Malha Viária Do Largo ................................ 84
Figura 29 – Elemento Central E Pavimentação Do Largo ....................................................... 85
Figura 30 – Estudo De Iluminação Pública Do Largo.............................................................. 86
Figura 31 – Área De Implantação Do Projeto V-Plaza ............................................................ 87
Figura 32 – Requalificação Do V-Plaza ................................................................................... 88
Figura 33 – Cidade De Caunas, Lituânia, Cortada Por Dois Rios ........................................... 88
Figura 34 – Vista Superior Da V-Plaza .................................................................................... 89
Figura 35 – Pista De Skate Street Na V-Plaza .......................................................................... 90
Figura 36 – Rua Otoní Façanha De Sá Antes Da Implantação Da Rua Compartilhada........... 91
Figura 37 – Projeto Da Rua Compartilhada Otoní Façanha De Sá .......................................... 92
Figura 38 – Cores Na Rua Compartilhada Otoní Façanha De Sá ............................................ 92
Figura 39 – Iluminação E Vegetação Na Rua Compartilhada Otoní Façanha De Sá .............. 93
Figura 40 – Rua Compartilhada Otoní Façanha De Sá Em 2019 ............................................. 93
Figura 41 – Estudo De Rua Compartilhada Dragão Do Mar ................................................... 94
Figura 42 – Diagrama De Relações Do Programa ................................................................... 96
Figura 43 – Localização Da Área Do Poço Do Mato E Da Caesa ........................................... 99
Figura 44 – Poço Do Mato Em Setembro De 2021 ................................................................ 100
Figura 45 – Área De Intervenção Dentro Da Caesa ............................................................... 100
Figura 46 – Área De Intervenção Do Projeto ......................................................................... 101
Figura 47 – Dimensões Da Área De Intervenção ................................................................... 101
Figura 48 – Mobiliários Urbanos Da Área De Intervenção.................................................... 102
Figura 49 – Esquema Topográfico Da Área De Intervenção Do Projeto ............................... 102
Figura 50 – Esquema Ventilação E Insolação ........................................................................ 103
Figura 51 – Levantamento Esquemático Do Poço Do Mato .................................................. 104
Figura 52 – Terreno Proveniente Do Lote Da Caesa ............................................................. 105
Figura 53 – Mapa De Uso E Ocupação Do Solo .................................................................... 106
Figura 54 – Mapa De Altura Das Edificações ........................................................................ 107
Figura 55 – Skyline Da Quadra (Lado Da Caesa, Sentido R. Gen. Rondon Para R. São José)
........................................................................................................................................ 108
Figura 56 – Skyline Da Quadra (Lado Do Poço Do Mato, Sentido R. Gen. Rondon Para R.
São José) ......................................................................................................................... 108
Figura 57 – Mapa Do Sistema Viário ..................................................................................... 109
Figura 58 – Linhas De Transporte Público Que Passam Próximo Ao Poço Do Mato ........... 110
Figura 59 – Mapa De Arborização Urbana ............................................................................ 111
Figura 60 – Mapa De Mobiliário Urbano ............................................................................... 112
Figura 61 – Proposta De Setorização Do Sistema Viário Da Avenida Padre Manoel Da
Nóbrega .......................................................................................................................... 115
Figura 62 – Partido Arquitetônico: Setorização Do Lote Da Caesa ....................................... 116
Figura 63 – Partido Arquitetônico: Maquete Virtual Perspectiva Do Memorial E Do Espelho
D'água, Destaque Para As Influências Projetuais ........................................................... 117
Figura 64 – Partido Arquitetônico: Setorização Do Poço Do Mato ....................................... 118
Figura 65 – Partido Arquitetônico: Pisograma ....................................................................... 119
Figura 66 – Partido Arquitetônico: Azulejos Do Poço Do Mato ........................................... 119
Figura 67 – Partido Arquitetônico: Maquete Virtual Perspectiva Do Poço Do Mato, Destaque
Para As Influências Projetuais ........................................................................................ 120
Figura 68 – Partido Arquitetônico: Maquete Virtual Perspectiva Da Proposta Completa ..... 121
Figura 69 – Estudos De Partido Arquitetônico ....................................................................... 122
Figura 70 – Skyline Com O Projeto: Lote Da Caesa .............................................................. 123
Figura 71 – Skyline Com O Projeto: Área Do Poço............................................................... 123
Figura 72 – Planta De Locação Da Área Do Poço ................................................................. 124
Figura 73 – Planta De Locação Do Lote Da Caesa ................................................................ 124
Figura 74 – Planta De Cobertura Da Área Do Poço ............................................................... 125
Figura 75 – Planta De Cobertura Do Memorial ..................................................................... 125
Figura 76 – Layout Da Área Do Poço .................................................................................... 126
Figura 77 – Layout Do Lote Da Caesa ................................................................................... 126
Figura 78 – Requalificação Urbano-Arquitetônica Do Poço Do Mato: Perspectiva De Maquete
Virtual ............................................................................................................................. 127
Figura 79 – Vegetação Na Área De Convívio Do Lote Da Caesa E Na Área Do Poço Do Mato
........................................................................................................................................ 128
Figura 80 – Área Do Playground E Área De Convívio ......................................................... 129
Figura 81 – Parte Interna Do Memorial Do Poço Mato E Do Laguinho ............................... 130
LISTA DE TABELAS

tabela 1 – Valores Culturais...................................................................................................... 27


Tabela 2 - Densidade Demográfica Dos Municípios do Amapá em 1940 ............................... 47
Tabela 3 – Setorização do Programa ........................................................................................ 96
Tabela 4 – Pré-Dimensionamento do Projeto ........................................................................... 97
Tabela 5 – Taxas de Ocupação do Solo no Setor Misto 4 ...................................................... 113
LISTA DE SIGLAS

CAESA Companhia de Água e Esgoto do Amapá


CCNA Centro de Cultura Negra do Amapá
CEA Companhia de Eletricidade do Amapá
FUMCULT Fundação Municipal de Cultura
GTFA Governo do Território Federal do Amapá
ICOMOS Conselho Internacional de Monumentos e Sítios
IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
PDU/FJP Plano de Desenvolvimento Urbano da Fundação João Pinheiro
PDU/HJ COLE Plano de Desenvolvimento Urbano H.J. Cole & Associados
PMM Prefeitura Municipal de Macapá
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SEC/AP Sistema Estadual de Cultura do Estado do Amapá
SECULT Secretaria Estadual de Cultura
SPHAN Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
SR-AP Superintendência Regional do Amapá
TCD Transferência do Direito de Construir
TFA Território Federal Amapaense
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UNIFAP Universidade Federal do Amapá
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 16
CAPÍTULO 1 – MEMÓRIA, PAISAGEM, ORALIDADE E PATRIMÔNIO
CULTURAL ............................................................................................................................ 18
1.1 MEMÓRIA COLETIVA ................................................................................................. 19
1.2 PAISAGEM E A PRESERVAÇÃO DE REFERÊNCIAS TRADICIONAIS
CULTURAIS........................................................................................................................... 24
1.3 A GESTÃO DOS BENS CULTURAIS DE MACAPÁ, DO LAGUINHO E DO POÇO
DO MATO ............................................................................................................................... 28
1.3.1 Os bens culturais imóveis do bairro do Laguinho .................................................... 31
1.3.2 O Poço do Mato........................................................................................................ 32
CAPÍTULO 2 – “AONDE TU VAI RAPAZ, NESSE CAMINHO SOZINHO?” ............ 35
2.1 O BAIRRO DO LAGUINHO: UM BREVE HISTÓRICO .......................................... 36
2.1.1 Da colonização do Brasil ao Século XIX: Breve trajetória ...................................... 36
2.1.2 Da criação do Território Federal do Amapá............................................................. 47
2.1.3 Da formação do bairro do Laguinho ........................................................................ 51
2.1.4 O bairro do Laguinho dentro dos planos urbanísticos de Macapá ........................... 60
2.2 SER UM “LAGUINENSE”: PERCURSO PELOS MARCOS DE MEMÓRIAS ...... 66
2.3 POÇO DO MATO ............................................................................................................ 72
CAPÍTULO 3 – “EU VOU FAZER A MINHA MORADA LÁ NOS CAMPOS DO
LAGUINHO” .......................................................................................................................... 79
3.1 DEFINIÇÃO DO TEMA ................................................................................................. 80
3.1.1 Requalificação urbana .............................................................................................. 80
3.1.2 Referências projetuais .............................................................................................. 82
3.1.2.1 Requalificação do Largo da Igreja, Fajã de Baixo em Ponta Delgada – Portugal 82
3.1.2.2 Requalificação Urbana V-Plaza, Caunas – Lituânia ............................................. 86
3.1.2.3 Projeto Rua Compartilhada no Ceará – Brasil ...................................................... 90
3.2 CARACTERIZAÇÃO DOS USUÁRIOS....................................................................... 95
3.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES .............................................................................. 95
3.4 RELAÇÕES DO PROGRAMA ...................................................................................... 96
3.5 PRÉ-DIMENSIONAMENTO ......................................................................................... 97
3.6 ESTUDOS PRELIMINARES ......................................................................................... 98
3.6.1 Localização............................................................................................................... 98
3.6.2 Estudos de análise do terreno ................................................................................. 100
3.6.3 Relações com o entorno ......................................................................................... 105
3.6.4 Legislação urbana da área ...................................................................................... 112
3.6.5 Normas de acessibilidade ....................................................................................... 114
3.7 ADOÇÃO DO PARTIDO .............................................................................................. 115
3.8 PROJETO DE ARQUITETURA DA REQUALIFICAÇÃO URBANO-
ARQUITETÔNICA DO POÇO DO MATO ..................................................................... 123
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 131
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 133
APÊNDICE A – PRANCHAS DO PROJETO ARQUITETÔNICO .............................. 139
APÊNDICE B – DETALHAMENTO DE INTERIORES ................................................ 146
16

INTRODUÇÃO

O bairro do Laguinho é conhecido por suas manifestações culturais e celebrações,


envolvendo o Marabaixo1, o samba, o Batuque, entre outros. Em Macapá, é um local referência
com relação à cultura negra amapaense, visto que foi nesse espaço que a população afro-
macapaense foi remanejada após sua retirada do centro da cidade durante o governo de Janary
Gentil Nunes na década de 1940.
No entanto, apesar de receber esse reconhecimento pelos amapaenses, fato que pode
ser observado por meio de consulta aos blogs memorialistas como “O Amapá é lindo!”, de
Hélida Pennafort, “Blog de Rocha”, de Elton Tavares, “Porta-retrato Macapá/Amapá”, de João
Lázaro Silva e o blog de Alcilene Cavalcante, são poucos os estudos acadêmicos sobre a
arquitetura e os lugares onde recaem as memórias do bairro.
Tendo isso em vista, este trabalho traz como pergunta problema: quais são os bens
culturais presentes na memória dos moradores e antigos moradores do espaço? Assim, a
relevância dessa pesquisa se dá na identificação de edificações históricas no bairro Laguinho, pouco
conhecida pelas gerações mais recentes e pela população da cidade em geral e em levantar
discussões sobre o apagamento da história das populações afrodescendentes de Macapá. Trabalhou-
se na hipótese de que a identidade dessa população laguinense é interligada com esses locais onde
recaem as memórias. Desta forma destaca-se um ponto importante a ser discutido referente a
preservação, uma vez que se os lugares apontados pelos usuários não forem preservados, terminarão
por serem esquecidos com o passar do tempo.
Dessa forma, o trabalho tem como objetivo apresentar os lugares atrelados às
memórias dos moradores identificados por meio da pesquisa bibliográfica e documental sobre
as reminiscências dos moradores do bairro do Laguinho, terminado por eleger o Poço do Mato
como local para intervenção por conta de sua relevância para a história do bairro e pela
viabilidade da proposta de intervenção em seu entorno. Como método utilizou-se o método de
pesquisa da história oral a fim de melhor compreender qual é a relação morador-bairro,
explicitando a perspectiva do usuário. Para isso, foram realizadas entrevistas com alguns
moradores do bairro, em que se questionou acerca dos sentimentos em relação ao Laguinho e
aos lugares onde recaem suas memórias. As narrativas são cruzadas com a revisão bibliográfica
documental já produzida sobre o bairro. Esse conjunto de dados foram resultantes dos objetivos

1
“O Marabaixo é uma forma de expressão elaborada pelas comunidades negras do estado do Amapá, manifestada
especialmente por meio da dança e das cantigas denominadas ladrão” (IPHAN, 2018, p. 6).
17

específicos: a coleta de narrativas; a revisão documental bibliográfica; o levantamento


arquitetônico da área de intervenção.
O conteúdo deste trabalho está estruturado da seguinte maneira: o Capítulo 1 trata-se
da discussão entre memória, paisagem, oralidade e patrimônio cultural, conceitos os quais
foram utilizados no desenvolvimento da pesquisa. O Capítulo 2 aborda a história da formação
da cidade e do bairro, a fim de entender a relação entre as pessoas e o Laguinho. O Capítulo 3
tem como objetivo compreender questões sobre o tema da requalificação urbana, também por
meio das referências de projetos voltados à essa temática no entorno de edificações de interesse
à preservação e apresentar os estudos com relação à proposta de intervenção no Poço do Mato
e entorno.
CULTURAL
CAPÍTULO 1 –
MEMÓRIA, PAISAGEM, ORALIDADE
E
PATRIMÔNIO
18

Legenda: Casas do Laguinho. Autoria da arte: Tainá Seabra, 2021


19

1.1 MEMÓRIA COLETIVA

Discorrer sobre memória é um exercício complexo, no qual se insere sua conceituação,


uma vez que este termo é abarcado por diversas áreas do conhecimento. A pesquisa das
vivências e das referências culturais arquitetônicas do bairro do Laguinho, colocou a
investigação com as narrativas de vida, nas memórias que povoam o imaginário dos usuários
daquele espaço.
Desta forma, considerou-se que a memória é uma capacidade humana responsável por
preservar e reter experiências vividas e informações. Ela está cotidianamente presente em
nossas vidas em diversos campos, como durante a execução de uma prova em que se deve
recordar os aprendizados sobre certo tema ou por meio de uma lembrança que surge na mente
ao passar em frente à escola que se estudou.
Para Olga Von Simson (2003), a classificação se dá de duas maneiras: individual e
coletiva. Quando retida individualmente, a partir de vivências próprias ou sob a perspectiva
singular de experiências coletivas, denomina-se “memória individual”. A memória coletiva,
segundo a autora, é formada por fatos e aspectos classificados como importantes por grupos
dominantes.
Maurice Halbwachs (1990), o precursor da categoria de “memória coletiva”,
entretanto, discorre que até mesmo momentos vividos de forma solitária podem evocar uma
coletividade, visto que carregamos para dentro daquele momento as lembranças de outras
pessoas, como, por exemplo, ao caminhar os percursos de uma cidade e ter a atenção tomada
pela recordação de alguém ao observar um restaurante, uma praça, uma igreja. Acrescenta-se a
este entendimento o que Von Simson (2003) considera sobre a memória coletiva, a qual está
associada à história oficial de uma sociedade, por meio dos fatos e características classificadas
como mais relevantes e que pode se expressar nos “lugares onde recaem as memórias”. No
entanto, a autora constata que a memória está sempre acompanhada do esquecimento, ou seja,
lembrar de algo consiste no apagamento de outra coisa. No caso da memória coletiva, quando
algo recebe certa relevância, marginaliza outras memórias também importantes.
É nesse sentido que Von Simson (2003) insere uma contrapartida: as memórias
subterrâneas ou marginais. Em geral, essas memórias não estão gravadas em monumentos,
textos, fotografias ou artes, somente recebendo seu devido destaque por meio de conflitos
sociais responsáveis por evocá-las ou por meio de pesquisadores que decidem investigar as
histórias não contadas oficialmente. Elas podem ser encontradas no âmago de famílias ou
20

grupos e registradas por meio de relatos, músicas, rodas de conversa com a contribuição de cada
integrante para a construção dessa lembrança.
Desvendar essas memórias de famílias as quais por muito tempo residiram na mesma
cidade ou na proximidade dos mesmos amigos, para Halbwachs (1990), é compreender que
estes se constituem como uma sociedade complexa, na relação cidade-família ou amigos-
família. Então as lembranças nascem compreendidas em dois planos de pensamentos comuns
aos membros dos dois grupos e, para reconhecer uma lembrança proveniente dessa relação, é
preciso fazer parte simultaneamente dos dois grupos. Quanto a esse vínculo estreito entre as
pessoas, as relações e o lugar, o autor assinala que o espaço não se comporta como um quadro
negro no qual escrevemos e depois apagamos, pois, diferente do quadro, o lugar possui signos
e a marca do grupo, “então, todas as ações do grupo podem se traduzir em termos espaciais, e
o lugar ocupado por ele é somente a reunião de todos os termos” (HALBWACHS, 1990, p.
133).
Halbwachs (1990) ainda coloca que cada aspecto de detalhe do espaço possui sentidos
que só são compreendidos pelos membros do grupo, “porque todas as partes do espaço que ele
ocupou correspondem a outro tanto de aspectos diferentes da estrutura e da vida de sua
sociedade, ao menos, naquilo que havia nela de mais estável” (HALBWACHS, 1990, p. 133).

Se, entre as casas, as ruas, e os grupos de seus habitantes, não houvesse apenas
uma relação inteiramente acidental, e de efêmera, os homens poderiam
destruir suas casas, seu quarteirão, sua cidade, reconstruir sobre o mesmo
lugar uma outra, segundo um plano diferente; mas se as pedras se deixam
transportar, não é tão fácil modificar as relações que são estabelecidas entre
as pedras e os homens. Quando um grupo humano vive muito tempo em lugar
adaptado a seus hábitos, não somente os seus movimentos, mas também seus
pensamentos se regulam pela sucessão das imagens que lhe representam os
objetos exteriores. Eliminai agora, eliminai parcialmente ou modificai em sua
direção, sua orientação, sua forma, seu aspecto, essas casas, essas ruas, essas
passagens, ou mudai somente o lugar que ocupam um em relação ao outro. As
pedras e os materiais não vos resistirão. Mas os grupos resistirão, e, deles, é
com a própria resistência, senão das pedras, pelo menos de seus antigos
arranjos na qual vos esbarreis (HALBWACHS, 1990, p. 136 e 137).

Nesses trechos, Halbwachs (1990) expõe que o locus da relação do grupo não se
resume a uma simples dimensão física, um mero palco para suas vivências e encontros. Se essa
relação de vizinhança, no entanto, fosse acidental e efêmera, seria facilmente possível
reconstruir um plano diferente na localidade. Só que a relação existente entre o homem e a
matéria não é tão facilmente modificada, principalmente se este espaço já está adaptado aos
seus hábitos.
21

Utilizando os conceitos e considerações sobre a memória coletiva ao contexto do


bairro do Laguinho, pode-se considerar que as mudanças de espaço as quais seus moradores
enfrentaram foi um processo muito além da mudança de endereço, que perpassa pela
transformação do lugar onde estabeleceram suas vivências e lembranças, em que atribuíram
seus signos, algo que tornam a enfrentar no atual processo de transformação urbana, o qual tem
alterado constantemente a paisagem do bairro.
A transformação do espaço da cidade é fruto da atuação dinâmica social a qual é
indissociável aquele meio. O processo de “estratificação” das camadas do tempo na paisagem
urbana é responsável por apagar os artefatos produzidos pelas sociedades, dentre esses
encontram-se as diversas formas de arquitetura, que por sua vez é permeada pela imaterialidade
dos usuários do espaço. Analisar tais objetos no contexto atual, como é o caso deste trabalho,
se faz necessário ancorar em outras áreas do conhecimento, como a antropologia, que se dedica,
de modo genérico, ao estudo do homem com ele mesmo e com a gama de materialidade por ele
produzida.
De acordo com Laplatine (2000) esse encontro do homem e do espaço tornou-se objeto
de estudo da antropologia social e cultural (ou etnologia), que tem como objetivo estudar a
questão dos riscos de despersonalização das sociedades frente às mudanças sociais advindas do
processo de industrialização. Então, o autor elege como urgência a preservação de patrimônios
culturais locais ameaçados.
O arquiteto e urbanista Leonardo Castriota (1999) também nos alerta para a destruição
sistemática do plano de referências por parte da sociedade industrial moderna, visto que nela
há um constante processo de renovação de usos e costumes, imagens e valores que faz até
mesmo do novo algo antiquado em pouco espaço de tempo.
Então, François Laplatine (2000, p. 20) ressalta que “não há, de fato, antropologia sem
troca, isto é, sem itinerário no decorrer do qual as partes envolvidas chegam a se convencer
reciprocamente da necessidade de não deixar se perder formas de pensamento e atividade
únicas”. Por isso, é importante destacar nesse processo a aproximação entre o objeto de estudo
e o pesquisador.
Castriota (1999) destaca que antes de intervir em qualquer parte da cidade, é necessário
compreender os mecanismos criadores de significado do local, além de ser vital perceber como
os moradores do entorno e usuários usufruem e valorizam aquele espaço que faz parte de seu
dia a dia.
22

O instrumento de coleta e apreensão das relações estabelecidas entre os moradores do


Laguinho com o bairro e a arquitetura fora a etnografia de rua2, no entanto, desde março de
2020 o Brasil e o mundo se encontram em situação de quarentena da pandemia de Covid-19
causada pelo vírus Sars-CoV-2. Imersos em uma quarentena, a qual recomenda cuidados de
higiene das mãos, uso de máscaras e distanciamento social, exige uma adaptação dos
pesquisadores na realização do trabalho de campo.
Esta aproximação do objeto de estudo foi dificultosa nesta pesquisa durante esse
período pandêmico por três motivos principais: a dinâmica do local está modificada devido às
recomendações de segurança, então é raro encontrar aglomerações ou mesmo pessoas
utilizando ambientes voltados ao lazer, assim como as escolas encontravam-se fechadas e
alguns locais de trabalho adotaram o sistema de trabalho remoto; o segundo motivo é a redução
de idas ao campo pela segurança do próprio pesquisador, o que dificulta uma conexão mais
ampla e contínua com o local estudado; o terceiro é o impedimento de interações sociais durante
essa visita a fim de resguardar a saúde das duas partes, entrevistador e entrevistado.
Tendo em vista a referida situação, optou-se pela troca dos procedimentos de coleta e
análise de dados, onde a aproximação do objeto-pesquisador se deu, então, de outra forma, a
partir da coleta de oralidades. O conhecimento do campo passa a acontecer por intermédio de
um contato com o morador local, por meio de entrevistas virtuais, buscando captar essas
nuances da relação existente entre a sociedade e o objeto de estudo.
Nessa pesquisa o uso da história oral como método teve três direcionamentos
principais: o de compreender a história do bairro do Laguinho a partir da perspectiva dos
entrevistados, o de levantar os lugares presentes nas suas memórias e o de apreender as
necessidades que esses usuários possuíam as quais ainda não eram atendidas com a
infraestrutura atual do referido bairro.
A rede de contatos se estabeleceu por intermédio do professor doutor Marcos Vinícius
de Freitas Reis, do programa de pós-graduação em História, da Universidade Federal do Amapá
(UNIFAP), o qual já realiza pesquisas as quais se interligam com o bairro do Laguinho.
Dessa forma, foram realizadas entrevistas com os moradores do referido bairro: Daniel
Cordeiro Alves, José Antônio da Silva Sousa, José Raimundo da Silva Sousa e Maria das Dores

2
A etnografia de rua, proposta por Eckert e Rocha (2003) nos convida a um passeio descompromissado pela
cidade, como o do flâneur, o personagem baudelairiano, que caminha sem traçar um destino fixo, mas com uma
trajetória que concebe a cidade e tudo que a compõe. As autoras destacam que esse processo de conhecimento da
cidade não é somente apropriar-se dos saberes e fazeres dos habitantes, mas compreender o lugar do meu próprio
ser em relação ao outro dentro do ambiente urbano. Desta forma, a etnografia “consiste em descrever práticas e
saberes de sujeitos e grupos sociais a partir de técnicas como observação e conversações, desenvolvidas no
contexto de uma pesquisa” (ECKERT e ROCHA, 2003, p. 104).
23

do Rosário Almeida, e com antigas moradoras do Laguinho: Laura Silva e Maria Cristina do
Rosário Almeida. Todas as entrevistas foram realizadas individualmente por meio da
plataforma de videoconferência Google Meets, com exceção do diálogo com José Raimundo
da Silva Sousa, o qual foi presencial, por ter ocorrido ainda antes do início da quarentena.
As entrevistas possuíam um caráter semiestruturado, em que se questionava quanto à
formação do bairro, sua importância para a história dos afrodescendentes do Amapá, a
existência ou não de subáreas dentro do bairro, as edificações que estão presentes em seu
imaginário, as práticas culturais do bairro e as necessidades ainda não atendidas. Nesse passeio
pela memória dos entrevistados, muitos relatos foram utilizados para construir parte desse
histórico do bairro, identificar os lugares onde recaem as memórias e elaborar uma proposta de
intervenção urbano-arquitetônica em um dos locais muito citado por eles: o Poço do Mato.
A história oral é entendida como uma metodologia, onde a relação de entrevistador-
entrevistado, segundo Amado e Ferreira (2006), gera um documento com uma característica
singular, visto que só existe por conta desse encontro, um resultado do diálogo do sujeito e do
objeto, além de proporcionar um caminho alternativo de interpretação para a pesquisa.
O uso da história oral no Brasil data dos anos 70, mas foi no início dos anos 90 que
passou por uma significativa expansão. A exploração dos conteúdos gerados pelo uso desse
método ainda representa um desafio aos pesquisadores brasileiros, que têm em vista um
aprofundamento entre a teoria e o método (AMADO e FERREIRA, 2006). Mas é por meio dela
que “o objeto de estudo do historiador é recuperado e recriado por intermédio da memória dos
informantes; a instância da memória passa, necessariamente, a nortear as reflexões históricas,
acarretando desdobramentos teóricos e metodológicos importantes” (AMADO e FERREIRA,
2006, p. xv). Amado e Ferreira (2006) ainda destacam que a história oral está no campo de uma
ponte entre prática e teoria, sendo sua capacidade somente a de suscitar questões, sem
solucioná-las.
Estar em contato com o outro para ouvir suas lembranças coletivas, segundo Fernandes
(2005) requer do pesquisador a manifestação de interesse e simpatia pela narrativa e pela
opinião do entrevistado, deve ouvir mais do que falar, assim como é importante que tenha
conhecimento da comunidade pesquisada, compreendendo termos, hábitos e costumes dela.
Quanto às perguntas, é importante que separe as temáticas a serem abordadas sem que isso
engesse a condução da entrevista ou que deixe de abordar algo.
Desta forma, tendo em vista situação pandêmica, a pesquisa adaptou-se para o método
da história oral que possibilitou o contato com o “nativo”, realizado por meio de entrevistas de
videochamadas, gravadas. Outro recurso de aproximação deriva dos blogs memorialistas de
24

Macapá. Escrito por jornalistas, radialistas, sociólogos, saudosos macapaenses os quais viveram
a época do Território Federal do Amapá, e que relatam em seus posts a “Macapá de outrora”.
Este acervo documental traz a história dos pioneiros, também recordam seus tempos de escola,
suas lendas da infância e os lugares onde costumavam brincar e encontrar amigos. Tais
blogueiros destacam na malha urbana os edifícios e casas que já não existem mais, contudo
auxiliam na contextualização dessas memórias.
Dentre os sujeitos produtores desse material, destacamos os blogs: “O Amapá é
lindo!”, de Hélida Pennafort; “Blog de Rocha”, de Elton Tavares; “Porta-retrato
Macapá/Amapá”, de João Lázaro Silva; e o blog de Alcilene Cavalcante.

1.2 PAISAGEM E A PRESERVAÇÃO DE REFERÊNCIAS TRADICIONAIS CULTURAIS

Tendo como base essa compreensão da memória coletiva e do uso da história oral
como aproximação do objeto de estudo, cabe adentrar no entendimento do local, não como um
objeto isolado, mas como parte de uma paisagem e como locus de relações interpessoais. A
paisagem é um objeto de estudo compartilhado em diferentes disciplinas acadêmicas, isso
acarreta a abertura de um vasto campo de reflexão teórica sobre esse assunto visto que
determinar uma concepção para esse objeto implica na metodologia e na orientação dos
resultados de identificação e preservação dessa paisagem (RIBEIRO, 2007).
Uma vez que este conceito é “polissêmico e subjetivo”, Ribeiro (2007) traz uma
análise da evolução dessas abordagens a partir da geografia, uma ciência da paisagem, a qual
analisa suas formas materiais e como a cultura humana a tem transformado. Em suma, com a
ascensão do pensamento positivista, a paisagem é setorizada em dois conceitos: natural, sem
interferência humana, e cultural, que já sofreu influência do homem. A partir dessa visão, a
paisagem passa a ser estudada pelo método científico da época. Diante da ruptura com o
positivismo, no final da década de 60, o campo da geografia se aproxima do humanismo e passa
a ligá-la ao sistema de valores humanos, nascendo o conceito topofilia.
Esse conceito foi introduzido pelo geógrafo Yi-Fu Tuan, em 1974, em seu livro
“Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente”, que o define como
“o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico. Difuso como conceito, vívido e
concreto como experiência pessoal” (TUAN, 1980, p. 5). Compreender essa relação, é entender
a necessidade de preservar espaços da cidade que proporcionaram experiências pessoais e
coletivas.
25

Com efeito, Rafael Ribeiro (2007) identifica que a paisagem ultrapassa aquilo que é
visível, torna-se um documento a ser interpretado a partir de um nível moral, intelectual e
estético conquistado pela humanidade em algum momento de sua história, em que cada grupo
compreende segundo seu próprio conjunto de símbolos. Portanto o conceito se instala em uma
interação complexa entre a matriz e o marco. A matriz contribui para a continuidade de usos e
significações, já o marco sinaliza em seu espaço os sinais e símbolos da atividade de cada grupo.
Desta forma, a necessidade de preservar e colecionar esses locais como patrimônio
cultural, diz Gonçalves (2009), é importante para a vida social e mental de qualquer coletividade
humana. Mas é necessário entender que esse processo de patrimonialização é diferente em
diversas sociedades e é essencial que não haja uma imposição do nosso olhar a elas. Ainda
reitera Gonçalves (2009) que a nova concepção antropológica de cultura dá ênfase às relações
sociais ou às relações simbólicas e não a objetos e técnicas. A intangibilidade talvez esteja
associada ao caráter desmaterializado da moderna concepção da antropologia sobre a cultura.
No que tange o processo de preservação do acervo cultural brasileiro, em um histórico
feito por Antonio Andrade (1997), destaca que no Brasil a política de desenvolvimento do
século XX foi responsável por desencadear uma preocupação com a permanência das
referências tradicionais materiais e suscitaram várias iniciativas de instituir no país uma política
de proteção dos bens culturais.
Foi em 1933 que houve a primeira lei aprovada neste quesito, a qual erigia a cidade de
Ouro Preto, no estado de Minas Gerais, à categoria de “monumento nacional”. Três anos após,
uma iniciativa de Gustavo Capanema, o então Ministro da Educação e Saúde, cria
provisoriamente o “Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN”, que logo
tornou-se “Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN” sob a direção de
Rodrigo Mello Franco de Andrade (ANDRADE, 1997). Durante o Golpe do Estado Novo, em
1937, foi promulgado o Decreto-lei nº 25 que organiza a “proteção do patrimônio histórico e
artístico nacional” e permanece até os dias atuais como uma das principais legislações que
regem as práticas do IPHAN, o qual define os procedimentos adotados nas práticas de
tombamento e estabelece seus efeitos (ANDRADE, 1997).
A princípio as iniciativas de preservação se davam em monumentos isolados, todavia
as contribuições internacionais afloraram indagações que alargaram os horizontes para os ares
dos conjuntos urbanos. Castriota (1999) afirma que a ênfase muda, visto que não mais interessa
puramente o valor de uma edificação ou conjunto, mas em compreender como eles se
relacionam com a cidade. Essa ampliação ocasionou um aumento de demandas, o que ensejou
a criação de órgãos estaduais e municipais de preservação (ANDRADE, 1997).
26

Essa ampliação de conceitos, também se reflete na preservação da paisagem, quando


em 1992, de acordo com Ribeiro (2007), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura – UNESCO adota a categoria de paisagem cultural, tornando a paisagem o
bem a ser preservado e não somente uma ambiência.
Por conta disso as formas de tratamento de um bem patrimonial também se alteram e
para melhor compreender as diferentes maneiras de atuação, Leonardo Castriota (2009) define
três modelos de intervenção, são eles: preservação, conservação e a reabilitação/revitalização.
A “preservação” concebe o patrimônio como uma coleção de objetos, com caráter
excepcional, intrínseco à cultura erudita e de valor histórico e/ou estético. Nesse modelo, os
objetos são edificações, estruturas e artefatos individuais e o marco legal que o rege é o
tombamento. Em geral, o ator principal é o Estado, que age principalmente em reação a casos
excepcionais com o auxílio de arquitetos e historiadores (CASTRIOTA, 2009).
A “conservação” já possui uma concepção de patrimônio mais ampla, acolhendo o
patrimônio ambiental urbano de valor cultural/ambiental. Aqui, os objetos também sofrem uma
ampliação, sendo eles grupos de edificações históricas, paisagens urbanas e os espaços
públicos. Como forma de registro, são classificados como “áreas de conservação” (zoning). O
ator principal continua sendo o Estado, mas com a diferença de que essas áreas são parte
integrada do Planejamento Urbano da cidade, o que também soma ao grupo de arquitetos e
historiadores os planejadores urbanos (CASTRIOTA, 2009).
A “reabilitação/revitalização” tem a mesma concepção de patrimônio e objeto que o
modelo de “conservação”. A diferença está na inclusão de um novo marco legal a partir dos
novos instrumentos urbanísticos, como a transferência do direito de construir (TCD)3 e
operações urbanas4, além da presença marcante da sociedade com um papel decisivo em
conjunto com parcerias da iniciativa privada, adicionando os gestores ao grupo de atores
(CASTRIOTA, 2009).

3
Definido no Estatuto da Cidade, lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, pelo artigo 35, que discorre:
“Art. 35. Lei municipal, baseada no plano diretor, poderá autorizar o proprietário de imóvel urbano, privado ou
público, a exercer em outro local, ou alienar, mediante escritura pública, o direito de construir previsto no plano
diretor ou em legislação urbanística dele decorrente, quando o referido imóvel for considerado necessário para fins
de:
I – implantação de equipamentos urbanos e comunitários;
II – preservação, quando o imóvel for considerado de interesse histórico, ambiental, paisagístico, social ou cultural;
III – servir a programas de regularização fundiária, urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda
e habitação de interesse social.”
4
Definido no Estatuto da Cidade, lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, pelo artigo 32, parágrafo 1, que discorre:
“Considera-se operação urbana consorciada o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público
municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o
objetivo de alcançar em uma área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização
ambiental.”
27

No modelo da reabilitação, de acordo com Castriota (2009), o Estado não mais


desempenha um papel negativo que apenas impõe regras contra a descaracterização do objeto,
e sim adquire o papel de articular planos e projetos para essas áreas a serem reabilitadas em
conjunto com outros atores para traçar os cenários de desenvolvimento futuro o que nos leva a
refletir sobre os valores atribuídos pela sociedade ao intervir. Tendo isto em vista, Ulpiano
Meneses (2009) reflete sobre o fato de que o discurso e o cuidado com os bens culturais não
estão ligados a um significado obedientemente embutido nele e sim nas atribuições colocadas
por comunidades e grupos sociais que imprimem no bem suas ideias, seus significados, suas
crenças, seus afetos, seus valores.
Agrega-se a esta discussão a Carta de Burra5, escrita no Conselho Internacional de
Monumentos e Sítios (ICOMOS) em 1980, em seu artigo 5º determina que “na conservação de
qualquer bem deve ser levado em consideração o conjunto de indicadores de sua significação
cultural” (ICOMOS, 1980, p. 2), sendo esta significação de valor estético, histórico, científico
ou social para gerações passadas, presentes ou futuras.
Tratando da significação patrimonial, Meneses (2009) define cinco componentes
principais do valor cultural, são eles: valores cognitivos, formais, afetivos, pragmáticos e éticos,
os quais não existem isoladamente, mas que “agrupam-se de forma variada, produzindo
combinações, recombinações, superposições, hierarquias diversas, transformações, conflitos”
(Idem, p. 35). A definição desses valores podem ser analisadas na tabela 1:

Tabela 1 – Valores culturais


Valor Definição
Condição de conhecimento ou de constituir oportunidade relevante de
conhecimento, em que, por meio do patrimônio, pode-se apreender questões
Cognitivo em relação ao seu conceito, as técnicas utilizadas, o contexto histórico,
social, político, econômico, cultural ao qual esteve inserido. O bem é, então,
“um valor de fruição basicamente intelectual” (MENESES, 2009, p. 35).
Possui, predominantemente, um caráter formal, ligado à estética em seu
Formal
sentido original grego, o qual significa percepção.
Consta de vinculações subjetivas, relacionado à memória, com carga
Afetivo simbólica e com vínculos subjetivos, tais como os sentimentos de
pertencimento e identidade.
O uso do bem é tido como uma qualidade, em que as condições de uso
Pragmático
disponíveis no bem qualificam a prática.
São associados às “interações sociais em que eles são apropriados e postos a
Ético funcionar, tendo como referência o lugar do outro” (MENESES, 2009, p.
37).
Fonte: Meneses (2009) adaptado por Juliana Quadros (2021).

5
Segundo o IPHAN, as Cartas Patrimoniais “apresentam as recomendações referentes à proteção e preservação
do Patrimônio Cultural, elaborados em encontros em diferentes épocas e partes do mundo”.
28

A identificação desses valores em um bem cultural não somente justifica a necessidade


de preservá-lo, uma vez que pode direcionar um novo uso o qual potencialize e resgate a história
do local. Como, por exemplo, o valor cognitivo predominante pode direcionar o uso para expor
o testemunho de uma época, ou o valor afetivo que reivindica dos agentes responsáveis pela
intervenção o conhecimento das relações existentes.
Intervir em um bem presente na memória coletiva de uma sociedade requer a
compreensão das diversas nuances que rodeiam essa relação. É preciso conhecer as memórias
existentes, os vínculos, os usos a fim de determinar os procedimentos que mais se adequem ao
intuito final, que é o de organizar e criar espaços que proporcionem uma melhor experiência de
uso do lugar. Isto posto, se faz necessário também elucidar como esses bens são administrados
pelas esferas estadual e municipal. Desta forma, este trabalho tem como intuito a reabilitação
da área do Poço do Mato, lugar que possui elos com a sociedade de Macapá, em especial com
os moradores do bairro do Laguinho, os quais justificam a preservação desse espaço.

1.3 A GESTÃO DOS BENS CULTURAIS DE MACAPÁ, DO LAGUINHO E DO POÇO DO


MATO

Em seu livro Tristes Trópicos (1970), Claude Lévi-Strauss ao observar as cidades nas
américas, fala que elas “jamais incitam a um passeio fora do tempo, nem conhecem essa vida
sem idade que caracteriza as mais belas cidades que chegaram a ser objeto de contemplação e
de reflexão, e não só instrumentos da função urbana” (LEVI-STRAUSS, 1970, p. 81-82 apud
CASTRIOTA, 1999, p. 134). Essa observação pode ser usada para refletir a capital do Amapá,
pois, de acordo com Cantuária (2020), as transformações urbanas de Macapá não possuem um
planejamento que considere as características históricas e culturais, ocasionando em uma cidade
com “poucas” marcas materiais culturais de sua história. Isso se dá pelo fato de que a
modernização do lugar propõe a destruição da cidade antiga em um movimento que “nega a
existência de uma história anterior” (CANTUÁRIA, 2020, p. 147).
No entanto, essa deficiência de planejamento não se dá por conta da inexistência de
uma legislação regulamentadora, visto que, de acordo com o Decreto Estadual nº 4026 de 06
de novembro de 2009 que revoga os decretos anteriores dos anos de 1992, 1995 e 2007, desde
a década de 90 já existiam determinações quanto a procedimentos da gestão de bens e sua
incorporação ao acervo patrimonial estadual e desde 2017 essa responsabilidade de gerir o
patrimônio cultural amapaense está sob domínio do Sistema Estadual de Cultura do Estado do
29

Amapá – SEC/AP, coordenado pela Secretaria Estadual de Cultura – SECULT. Essa gerência
não parece ser suficiente, visto que Cantuária (2020, p. 148) afirma que “a falta de instrumentos
e de Órgão Municipais e Estaduais de gestão das políticas patrimoniais tem permitido essa
constante destruição do patrimônio arquitetônico da cidade”.
No ano de 2009, a Superintendência Regional do IPHAN (SR-AP/IPHAN) no Amapá
tomou a iniciativa de criar o Inventário de Conhecimento dos Bens Imóveis da Cidade de
Macapá/AP com o objetivo de fomentar políticas de preservação dos bens patrimoniais
estaduais e municipais. A primeira etapa do inventário levantou os bens que possuíam interesse
histórico, artístico e cultural com “potencial de refletir o patrimônio, a história e a cultura da
comunidade amapaense e das pessoas que contribuíram para a de Macapá” (IPHAN, 2009b,
n.p), sendo estes bens as edificações remanescentes do período colonial e republicano e os “bens
de tipologia moderna de reconhecido valor cultural e histórico da sociedade macapaense”
(IPHAN, 2009b, n.p). A área de estudo compreendeu parte do bairro Central e seu entorno,
considerando locais com a maior concentração de edificações de valor cultural da cidade.
O Dossiê (2009a) gerado por essa iniciativa destacou que as construções inventariadas
convivem com uma tendência a alteração por conta de intervenções inadequadas e pela ausência
de regulamentação e legislação específica que direcione ações de salvaguarda patrimonial.
Dessa maneira, recomendou o tombamento de dois edifícios a nível estadual e de vinte e dois
bens a nível federal, incluindo o traçado urbano colonial, construídos durante a época da
colonização e do Território Federal do Amapá, visto que “a importância destes bens refere-se
não só a sua importância histórica, uma vez que representam um projeto nacional de integração
e defesa das áreas de fronteira do país, mas porque representam parte da história coletiva e
individual da sociedade macapaense” (IPHAN, 2009a, p. 134).
A poligonal fornecida pela SR-AP/IPHAN, entretanto, não abrangia nenhuma parte
dos bairros Laguinho e Santa Rita (antigo Favela), apesar de possuírem bens de valor histórico
e cultural da comunidade amapaense que muito contribuiu para a construção da cidade de
Macapá e de se enquadrarem no recorte histórico da instalação do Território Federal do Amapá,
na década de 40.
Na Figura 1 é possível identificar que a localização dos bens de interesse ao
tombamento federal e estadual estão presentes nos bairros Central e Trem, compreendendo os
seguintes itens à nível federal: Traçado urbano colonial, Prédio da Igreja de São José, Largo
dos Inocentes, Praça Veiga Cabral, Praça Barão do Rio Branco, Prédio da Escola Barão do Rio
Branco, Prédio da antiga escola Industrial (hoje, Escola Antônio Cordeiro Pontes), Prédio do
antigo Cinema Territorial, Conjunto arquitetônico da Rua São José, Prédio da antiga
30

Intendência Municipal (hoje, Museu Joaquim Caetano), Prédio da Residência Governamental,


Prédio do antigo Fórum (Ordem dos Advogados do Brasil), Praça Nossa Senhora da Conceição,
Igreja Nossa Senhora da Conceição, Prédio da antiga escola doméstica (hoje, Escola Santina
Rioli), Conjunto Operário, edificações de nº 377 e nº 391, Conjunto Arquitetônico da Avenida
Mendonça Furtado, Conjunto Arquitetônico da Avenida Procópio Rola, Prédio do Mercado
Municipal, Prédio da Rádio Difusora, Prédio do Colégio Amapaense e Estádio Municipal
Glicério Marques; e à nível estadual: Prédio do antigo Correios e Telégrafos (hoje, Correios) e
Prédio do antigo Cinema Paroquial (hoje restaurante particular) (IPHAN, 2009a).

Figura 1 – Mapa de bens de interesse ao tombamento e área de entorno de interesse à


proteção federal

Fonte: Dossiê Macapá – Inventário de Conhecimento dos Bens Imóveis da Cidade de Macapá/AP
31

Quanto à legislação no âmbito municipal, o Plano Diretor de Macapá (2004, p. 32)


classifica como bens que integram o patrimônio cultural e paisagístico os que possuem “valor
histórico ou cultural, os sítios arqueológicos, os quilombos, os espaços históricos ou de
manifestações culturais e as paisagens urbanas relevantes de Macapá”, dentre eles, o Poço do
Mato e o Centro de Cultura Negra, ambos localizados no bairro do Laguinho. Há também a Lei
nº 1.831/2010 que trata do Estatuto da Proteção do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural,
a qual passou cinco anos para ser aprovada pela Câmara de Vereadores mas a demora na
regulamentação acarretou para que somente em 2013 houvesse um instrumento de proteção dos
bens de valor histórico e cultural da cidade de Macapá. Atualmente, é a Fundação Municipal
de Cultura – FUMCULT que tem como uma de suas atribuições o zelo pela conservação do
patrimônio histórico e cultural.
Ainda que não tenha sido incluído na poligonal adotada pela Superintendência
Regional do IPHAN (SR-AP/IPHAN), o bairro do Laguinho possui importantes exemplares
para a história da cidade e de seus habitantes. Essa questão será abordada no decorrer deste
trabalho.

1.3.1 Os bens culturais imóveis do bairro do Laguinho

A imagem que ilustra o início desse capítulo traz em seu conteúdo algumas residências
do bairro do Laguinho, que foram apreendidas no estágio inical dessa pesquisa, na elaboração
do diário de campo.
Os imóveis chamaram a atençao por possuírem elementos de uma arquitetura do
passado, além de fazerem parte da história do referido bairro, visto que as populações
remanejadas tiveram que reconstruir suas moradias nesse novo lugar.
Assim, encontramos por meio dessas casas uma parte da história da arquitetura da
cidade, em que pode-se destacar alguns empréstimos de alguns estilos artísticos, como as linhas
curvas do Art Nouveau, o uso de platibandas e a predominância das linhas retas e inclinadas da
arquitetura moderna, também os elementos decorativos da arquitetura erudita, o uso da
tecnologia de construção em madeira.
32

Figura 2 – Três residências do bairro Laguinho: (da esquerda para a direita) elemento
da arquitetura erudita, uso de arcos e platibanda e linhas retas e inclinadas

Fonte: Google Street View (2015) e QUADROS, Juliana (2021).

Para melhor compreender esses aspectos, é necessário um estudo mais aprofundado


com relação às imaterialidades envolvidas nessas arquiteturas. Nesse trabalho será tomado
como foco o Poço do Mato, o qual faz parte da gama de edificações as quais recaem as
memórias da população laguinense.

1.3.2 O Poço do Mato

O Poço do Mato, além da classificação como patrimônio cultural no Plano Diretor de


Macapá, possui uma declaração de interesse cultural pela Lei nº 587/93 - Prefeitura Municipal
de Macapá de 23 de novembro de 1993, por ser um bem de expressão cultural, histórica e
artística. A Lei, no entanto, só propôs a indicação para o monumento, desconsiderando a
paisagem que faz parte da área. Essa ausência de proteção da paisagem possibilitou que um
lago que existe nas proximidades do poço fosse ocupado por residências, modificando a
paisagem existente, que possivelmente ocorreu na década de 90, de acordo com a Figura 3, das
imagens históricas do software Google Earth.
33

Figura 3 – Lago do Poço do Mato: comparação das vistas aéreas de 1993 e 2003

Fonte: QUADROS, Juliana (2021) com base nas imagens do Google Earth (1993 e 2003)

Além disto, a Lei deu a deliberação de construir um obelisco6 para desenvolvimento


de atividades culturais e de lazer.
A construção desse obelisco, no entanto, nunca foi executada e somente foi colocado
um pergolado em madeira, o qual passava por manutenções por parte da população residente
no entorno, conforme observado na Figura 4. Os espaços de desenvolvimento de atividades
culturais e de lazer também não foram elaborados. Questiona-se, portanto, a compatibilidade
desse obelisco com a história e cultura do bairro, assim como sua adequação em um projeto a
ser proposto quase três décadas após a promulgação da lei, além de explorar as possibilidades
de criação de espaços para convívio da população local com o objetivo de salvaguardar esse
patrimônio que compõe a história da cidade.

6
O obelisco foi uma estrutura criada pelos egípcios e se popularizou em vários países da Europa, como Roma e
França, assim como se espalhou pelo Brasil, tendo como exemplo o Obelisco Comemorativo da Inauguração da
Avenida Central, no Rio de Janeiro no início do século XX, e alguns exemplares presentes nos projetos do arquiteto
Oscar Niemeyer. A estrutura possui, em geral, uma base quadrangular e que vai se afunilando até se tornar uma
pirâmide no ápice (SCHLEE, 2009).
34

Figura 4 – Poço do Mato

Fonte: Portal Seles Nafes

A fim de compreender as melhores contigências projetuais para área, essa pesquisa


perpassa pelo conhecimento da história da região do Poço do Mato e as modificações de sua
paisagem, a qual se entrelaça com a cronologia da criação do bairro do Laguinho e se esbarra
na narrativa da construção da cidade de Macapá.
35

CAPÍTULO 2 – “AONDE TU VAI RAPAZ, NESSE CAMINHO SOZINHO?”7

7
Frase retirada do Ladrão de Marabaixo “Aonde tua vai rapaz”, a qual retrata a retirada da população
afromacapaense do centro da cidade.
36

2.1 O BAIRRO DO LAGUINHO: UM BREVE HISTÓRICO

A sequência de palavras e frases presentes no início deste capítulo é resultado das


apreensões das entrevistas com moradores e antigos moradores do referido bairro e são trechos
que ajudam a compreender parte da relação que há entre as pessoas e o local.
Para entender a formação do bairro do Laguinho, que tem como característica
sociocultural e histórica ter sido construído pela comunidade negra macapaense, e a relação
entre os moradores locais com o Poço do Mato é preciso regressar no tempo e discorrer
brevemente sobre a história de Macapá, a fim de compreender a chegada dos escravizados
negros vindos do continente africano por meio do tráfico, tendo em vista a predominância dessa
população na construção do referido bairro. Além do breve percurso sobre a história, destacou-
se como significativo pontuar alguns costumes e modo de vida encontrados em fontes orais
assim como em relatórios governamentais da época.
Também se faz necessário abranger as questões de modernização da cidade de Macapá
após a criação do Território Federal do Amapá (TFA) e sua trajetória como vila, cidade e a
consolidação como capital, concomitantemente com as ações do governador Janary Gentil
Nunes, as quais resultaram na criação do bairro do Laguinho e nas transformações urbanas na
área do Poço do Mato.

2.1.1 Da colonização do Brasil ao Século XIX: Breve trajetória

À esquerda do Tratado de Tordesilhas (Figura 5), lado pertencente à Espanha,


localizava-se o atual estado do Amapá. Em 1544 o Rei Carlos V concedeu esse território a
Franscisco Orellana, o qual nunca chegou a tomar posse das terras, denominadas como
“Adelantado de Nueva Andaluzia” (CHELALA, 2008).
37

Figura 5 – Tratado de Tordesilhas

Fonte: Reprodução de Luis Teixeira (1574) modificado pela autora, 2021.

No entanto, nessa região, de acordo com Costa e Sarney (2004), já residiam indígenas
tucujus, tapuiaçus e a dos marigus, os quais pertencem aos três grupos: aruaques, caraíbas e
tupis-guaranis. Os autores ainda explanam que estas etnias viviam da pesca e da caça e faziam
o consumo de raízes e frutos, residiam em habitações coletivas e produziam cestas e cerâmicas
primitivas. A chegada dos europeus e a colonização toma desses povos originários a posse do
território amapaense.
Ainda que o local fosse de domínio espanhol, a ocupação francesa ao norte do país
tinha muito interesse na área e realizava investidas na região, dentre estas, em 1605 efetivou
uma invasão que perdurou por 30 anos, culminando com a expulsão dos mesmos pelos
portugueses (CHELALA, 2008). Com isso, havia a necessidade de militarização e defesa das
terras, ocasionando a primeira ocupação portuguesa, referenciada em 1623, com o Forte
Cumaú, construído por Bento Maciel Parente, o qual foi demolido posteriormente por Feliciano
Coelho para expulsar a ocupação dos ingleses, os quais também cobiçavam esta porção do
território (ARAUJO, 1998).
38

Ainda no século XVII, no ano de 1688, uma nova fortificação foi erguida com o nome
de Santo Antônio de Macapá, sobre as ruínas do Forte Cumaú (ARAUJO, 1998). No século
seguinte, Araujo (1998, p. 147) afirma que “constrói-se um novo reduto a cerca de duas léguas
e meia de distância do forte de Santo Antônio”. Na Figura 6 pode-se compreender a distância
entre o Forte Cumaú e a Fortaleza de São José de Macapá, que foi erguida nas proximidades
desse novo reduto, e à direita está a planta do Forte Cumaú, contida no livro As Fortificações
da Amazônia de Arthur Vianna, o qual faz parte do “Annaes da bibliotheca e archivo publico
do Pará 1905”.

Figura 6 - À esquerda: distância entre o Forte Cumaú e a Fortaleza de São José de


Macapá; à direita: planta do Forte Cumaú

Fonte: Reprodução de Mapa Rodoviário do Amapá – DNIT (2002), modificado pela autora, 2021. Reprodução
do livro “As fortificações da Amazônia” de Arthur Vianna in Annaes da bibliotheca e archivo publico do Pará
1905.

No século XIX, em 1835 uma nova investida é realizada na região do Amapá pelos
franceses, tentando expandir a área das Guianas até o Rio Araguari. O conflito só foi resolvido
em 1900, por meio da decisão diplomática do “Laudo Suíço” o qual estabeleceu o Rio Oiapoque
como divisa entre os dois territórios. (CHELALA, 2008). Na Figura 7 podemos observar no
mapa a área do contestado que foi alvo de investida por parte dos franceses que, após a decisão
do laudo, tornou a ser considerada parte do estado do Amapá.
39

Figura 7 – Rios Oiapoque e Araguari

Fonte: Reprodução de Carte Génerale de la Guyane modificado pela autora (2021).

A coroa portuguesa tinha uma visão estratégica acerca da importância da defesa e


ocupação das colônias, no entanto, a região do Amapá era pouco povoada pois, além de ser
distante dos grandes centros da Colônia, havia uma dificuldade de acesso ao território. É
importante destacar que o local possuía uma ampla importância geopolítica por conta da foz do
Rio Amazonas e pela região fronteiriça (CHELALA, 2008).
Quando o governador do Grão-Pará, Francisco Xavier de Mendonça Furtado, chega
ao poder em um contexto de transformação, há uma determinação para realizar novas reformas.
Pombal envia, então, engenheiros à Amazônia, em 1757, tendo na figura de Rodrigues da Costa
o encarregado das direções de obras de Macapá (ARAUJO, 1998).
Segundo Araújo (1998) a vila de São José de Macapá foi implantada em 4 de fevereiro
de 1758, por ocasião da visita do governador Mendonça Furtado, em que realizou os atos rituais
da fundação da vila. O modelo português de cidade-fortificação conta com instalação urbana
de uma fortificação como primeiro ponto e a partir dela surgem as cidades. Essa política urbana
contava com a presença de um engenheiro militar ou de um “arruador”. Já com as mudanças
em ação, o engenheiro Thomas Rodrigues da Costa elaborou uma planta iconográfica das casas
que foram erigidas à vila para os novos povoadores e soldados (Figura 8).
Na planta da Figura 8 também pode-se observar, como afirma Reis Filho (2000) sobre
os núcleos urbanos coloniais, que a vila de Macapá apresenta um aspecto uniforme em suas
ruas, com lotes em tamanhos padrões e as residências construídas sobre o alinhamento das vias,
sem afastamentos laterais. As plantas também possuem um mesmo arquétipo, o que revela uma
preocupação com o aspecto formal com a finalidade de garantir uma semelhança com a estética
portuguesa.
40

Ainda na Figura 8 é possível visualizar o local significativo culturalmente para a


população, onde hoje é conhecido por dois nomes: Largo dos Inocentes e Formigueiro. Segundo
Luna (2017, p. 104 e 105) até a metade do século XX havia nesse local famílias
afrodescententes:

Atrás da igreja morava parte dos afrodescendentes em casas de taipas e


cobertas de palhas. O lugar ficou conhecido como o formigueiro, quiçá pela
grande quantidade de reinos de formigas, cuja ausência seria impossível, pois
não se pode olvidar que na parede final da igreja teria havido um cemitério,
que foi transferido para uma parte mais baixa, porém não tão distante da igreja
e que permanece até os dias atuais. Cabe conjecturar também que essa
denominação pode estar associada à aglomeração de casas das famílias afro-
macapaenses.

A referida narrativa também é contada nos dias atuais por moradores do bairro do
laguinho, dentre estes, Cristina Almeida, também confirma a origem de sua família ser atrás da
Matriz, afirmando que seu pai “era oriundo do Formigueiro, né, do centro da cidade”8.

Figura 8 – Planta Iconográfica de 1759

Fonte: Thomas Rodrigues da Costa (1759), reprodução de Renata Malcher de Araújo (1998) e digitalizado em
ilustração digital por Juliana Quadros (2021).

8
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 24 de fevereiro de 2021.
41

De acordo com Luna (2017), algumas transformações foram implementadas nesta


porção do território, tendo em vista a política pombalina nas colônias portuguesas. Assim, em
1770, marquês de Pombal transferiu famílias de Marrocos, na África, para a vila de Mazagão,
que fica a 70 km de Macapá. A Fortaleza de São José começou a ser erguida em 1764 e foi
inaugurada em 1782, com um projeto de Henrique Antônio Galluzi (ARAUJO, 1998;
CHELALA, 2008). Assinala Couto (2003, p. 69) que “na região do Cabo do Norte foi erigida
a Fortaleza de São José de Macapá, na margem esquerda do rio Amazonas, destinada a
assegurar a defesa face à possíveis ataques franceses”.
Durante a gestão pombalina foram erguidas muitas fortificações na região amazônica,
especialmente nos seus principais pontos de acesso (ARAUJO, 1998). O mapa da Figura 9
abaixo demonstra a cobertura que essas fortificações abrangiam:

Figura 9 – Fortificações construídas na Amazônia até o século XVIII

Fonte: ARAUJO, 1998, p. 116.

A construção da Fortaleza mobilizou o trabalho de indígenas e afrodescendentes


escravizados, os quais foram estabelecendo suas moradias no entorno daquela edificação
(LUNA, 2017). Segundo Couto (2003), a estratégia para o aumento populacional dessas regiões
era a aquisição de pessoas escravizadas.
A cidade foi, então, se formando tendo como corpo populacional, indígenas,
portugueses e africanos que se estabeleceram no entorno de duas praças. Macapá contou com a
constituição de dois espaços-praças se diferenciando de outras vilas e cidades consolidadas e
“fundadas” por portugueses ao longo do período pombalino. Na Figura 9 é possivel visualizar
42

o referido projeto com as praças São João9 (atual praça Veiga Cabral) e São Sebastião2 (atual
praça Barão do Rio Branco). A praça S. João, vulgarmente chamada de “Praça debaixo”, era
circundada pela Igreja Matriz de São José e a Casa da Câmara. O pelourinho ocupou a praça S.
Sebastião, conhecida como Praça de Cima (BAENA, 1873). Luna (2017, p. 33) afirma que “o
projeto de edificações urbanas da vila de Macapá contou com o corpo físico de negros e nativos
(índios), na forma de trabalho cativo e compulsório”.
Próximo à “Praça de Cima” havia a Vila de Santa Engrácia, um local considerado
nobre em que viviam muitos afroamacapaenses, assim como no Formigueiro, estes lugares
foram destacados na Figura 10. Essa informação é confirmada por Luna, que afirma:

O espaço urbano de Macapá, no início das primeiras décadas do século XX,


era povoado por afrodescendentes [...]. Ocupavam as terras altas da cidade,
com suas residências na parte de trás da Igreja Matriz, local denominado de
formigueiro, e na Vila Santa Engrácia, pertencente ao Coronel José Serafim
Gomes, na Praça São João, hoje Barão do Rio Branco, área entendida como
nobre. Também ocuparam outro lugar, bem ao lado esquerdo da Fortaleza de
São José [...] (LUNA, 2017, p. 66).

9
De acordo com (BAENA, 1873), a praça que ficava em frente à Igreja Matriz de São José era nomeada São João.
No entanto, a imagem apresentada logo em seguida, em sua legenda, nomeia a praça Veiga Cabral como “São
Sebastião” e a atual praça Barão do Rio Branco como “São João”. Os versos do ladrão de Marabaixo “Aonde tu
vai rapaz” de Raimundo Ladislau denominam também a praça Barão do Rio Branco como “São João” na estrofe:
“Largo de São João / Já não tem nome de santo / Hoje é reconhecido / Por Barão do Rio Branco”.
43

Figura 10 – Planta da Vila de S. José de Macapá

Fonte: Reprodução de Gaspar João de Gronsfeld, Planta da Vila de S. José de Macapá tirada por ordem do Ilmo
e Exmo Sbr Manoel Bernardo de Mello e Castro Gov.or e Capp.am General do Estado do Para & em o Anno de
1761 pello Capitão Eng.ro Gaspar João de Gronsfeld (ARAÚJO, 2012) e digitalizado em ilustração digital por
Juliana Quadros (2021).

Em junho de 1773, o governador do Grão-Pará João Pereira Caldas faz uma visita à
vila de Macapá e envia um mapa ao Conselho Ultramarino constando como habitantes um total
de 986 pessoas livres e 321 escravizados, abrigados em um total de 245 fogos10. Já no relatório
do Sargento Mor João Vasco Manuel de Braum, publicado no ano de 1789 referindo-se à
expedição realizada pelo rio Amazonas em companhia do governador da província do Grão-
Pará, Martinho de Souza e Albuquerque (ROCHA, 2009), a população da vila era de 2000
pessoas brancas e 750 escravizados e alguns índios assalariados (ARAUJO, 1998).
Certos registros, embora não tratem da estruturação física da cidade, mas foram
significativos para o conhecimento do modo de vida da população macapaense em 1828. O
Tenente Coronel de Artilheria reformado, Antonio Ladisláu Monteiro Baena, no “Relatório”
presente no livro Pinsionia, organizado por Cândido Mendes Almeida, destacou que “o trabalho
dos moradores abrange artigos de negocio [sic], gêneros [sic] de lavoura, e uso de artes fabris:

10
Segundo o dicionário (PRIBERAM, [s.d.]), fogos significa “cada uma das unidades de um conjunto
habitacional”.
44

tudo em pouca quantidade” (BAENA, 1873). Também fez registros sobre a alimentação da
época, a qual se baseava na pesca e caça de animais e o cultivo de frutas, legumes, raízes e
grãos:

Os que não são fazendeiros, nem exercem officio [sic] mecânico algum, ou
algum outro emprego, occupão-se [sic] em caçar e pescar quando precisão
para aplacar [sic] a fome, e em fazer huma [sic] breve horta, na qual plantão
[sic] jurumú, taqueira, melancia, melão, pepino, machicho [sic], batatas, carás,
ariás, repolho, couve, mostarda, alface, jambú, beldroega, bringelas [sic], e
tomates.
[...]
Também plantão em curtos roçados feijão, milho, mandioca, algodão, arroz e
tabaco, o qual tudo chega para o consumo da villa [sic] (ALMEIDA, 1873, p.
34).

Se tratando das mulheres, Antônio Baena (1873, p. 34) cita funções atreladas a
manufaturas têxtil como atividades derivadas do extrativismo vegetal e animal, no trecho:
“tecer panno de algodão grosso e fino, fazer medíocres atoalhados, fabricar azeite de andiroba,
e criar galinhas, patos, perús, porcos, cabras e ovelhas”. Registra também as atividades no
Igarapé das Mulheres, que se localiza no atual bairro Perpétuo Socorro, comumente utilizado
para a higiene dessas mulheres:

O pântano [sic], e o lago existem desde antes da erecção [sic] da Villa [sic]: e
não ha [sic] tradição oral de que os periodos sazonaticos [sic] fossem
attribuidos [sic] à este pantano [sic], e à este lago, nem tambem [sic] à outro
lago que jaz da parte do Norte junto à Villa [sic], do qual corre para o
Amazonas hum [sic] igarapé denominado das Mulheres, por que he [sic]
onde ellas [sic] vão gozar do banho em razão de ser a isso accomodado [sic]
(ALMEIDA, 1873, p. 34).

O referido documento do século XIX aponta para espaços da cidade de Macapá que
ainda hoje encontram-se presentes e são envoltos de memórias da população, como o Igarapé
das Mulheres. Naquele período, a população de Macapá reivindicava uma autonomia territorial
que fosse independente da política e do mercado da Província do Pará, no entanto, o Império
não lhe deu o apoio político necessário, fazendo com que os moradores se revoltassem com o
desprezo pelo qual a vila passava, visto que isso fora muito prejudicial para um local com
potencialidade comercial e de navegação por conta foz do Rio Amazonas. O referido fato
contribuiu para que muitos edifícios públicos se deteriorassem, pela insuficiência de recursos
destinados à sua conservação, e hoje apenas a Igreja São José e a Fortaleza de São José
permanecem na paisagem macapaense oriundos dos anos do período pombalino (LUNA, 2017).
Essa perda constante de edificações as quais marcam momentos da história da cidade
se perpetua até os dias atuais e Cantuária, Silva e Pelaes (2010, p. 474) denunciam que
45

no Amapá, mais especificamente em Macapá, a demora na criação de


dispositivos de controle e gestão do patrimônio local e a falta de interesse dos
poderes constituídos em conhecer, inventariar, proteger e preservar o
patrimônio arquitetônico e cultural do Amapá, fez com que grande parte desta
riqueza fosse perdida e uma parcela significativa dos bens que restaram
correm riscos iminentes de desaparecerem.

Macapá alcançou o status de cidade no ano de 1856, por estratégia meramente política
de silenciar os moradores, que há muito ansiavam pelo crescimento da vila por meio do
comércio após a Lei de Livre Comércio, oficializada em 1853, ação que não teve avanços
devido ao relatório do Conselheiro J. M. de Oliveira Figueiredo no ano de 1854 ter classificado
Macapá como um lugar doentio e insalubre, com ar e água envenenados (LUNA, 2017).
Esse anseio pelo crescimento do estado e da cidade é um sentimento que ainda perdura
dentre os moradores de Macapá, como relata o morador José Antônio Sousa: “eu tenho, assim,
uma esperança muito grande no Amapá, [...] que a nossa salvação está no mar e vem pelo mar
e no caso é o rio, esse rio nosso que a gente precisa explorar muito, o rio onde tem muitas
riquezas”11.
Essa terra ainda pouco habitada sofreu influência da Cabanagem12, a qual resultou em
um forte movimento migratório para o Amapá. Os cabanos eram formados por famílias
afrodescendentes, indígenas, mestiças e brancas pobres, que, ao chegarem nessas terras,
adotaram o estilo de vida ribeirinha. Além disso, a grande seca no Nordeste contribuiu, no
período de 1874 a 1879, resultando em um grande fluxo de pessoas vindo para essa região
fronteiriça (LUNA, 2017).
Segundo Luna (2017), em Macapá o cenário para a criação do Território Federal do
Amapá era o seguinte: seu centro urbano constituído, em sua maioria, por afrodescendentes,
recém libertados pelas leis Sexagenária, do Ventre Livre, a carta de manumissão e a Lei Áurea,
de 1888, os quais ocupavam a área do Formigueiro, atrás da Igreja Matriz, a Vila Santa
Engrácia, nas proximidades da praça Barão do Rio Branco, e a área do Elesbão, à esquerda da
Fortaleza de São José.
Os terrenos eram grandes e com aspecto de sítio, visto que havia árvores frutíferas e a
criação de animais, como: galinhas, patos, porcos e gados. Próximo a essas residências também
se concentravam as lojas comerciais, a escola, a Intendência de Macapá, a cadeia pública e os
casarões. A elite que morava nas adjacências também não se incomodava com os rituais

11
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 19 de fevereiro de 2021.
12
Segundo Santos (2004) a Cabanagem foi um movimento de lavradores, camponeses, negros escravizados,
pequenos comerciantes e indígenas que se organizaram a partir de ideias revolucionárias em busca de
transformações gerais na sociedade. O movimento aconteceu na província do Grão-Pará entre os anos de 1835 e
1840.
46

realizados pela população afrodescendente, como o Marabaixo, com exceção do pároco local
que “não os admitia e percebia-os como dotados de uma religiosidade profana, preservada de
seus antepassados com devoção ao Divino Espírito Santo, que, segundo ele, só profanava os
credos católicos” (LUNA, 2017, p. 67). O Marabaixo agregou um grande valor cultural à vila,
estabelecendo amizades e trazendo vida e graça à cidade (LUNA, 2017).
Padre Júlio Maria Lombaerde, habitou o território amapaense desde 1913 até 1923, era
médico, farmacêutico, mestre-escola, e segundo a oralidade “amigo e pai dos pobres e o deus
das criancinhas” (MIRANDA, 1957). Demonstrava uma certa repulsa aos costumes de
afrodescendentes presentes na população macapanese. Pode-se observar nos trechos de seu
depoimento pessoal em uma Revista Mariana em 31 de maio de 1915:

ajuntem a estas artificiosas ciladas ocultas os esforços, dignos de melhor


causa, de uns sectários do espiritismo, como também o indecoroso atrativo de
muitas festas, mais dignas dos selvagens africanos que de um povo civilizado,
e fàcilmente [sic] compreenderão a decadência religiosa destas um pouco
rústicas e ignorantes, mas boas e sinceras populações do interior. [...] Era o
verdadeiro FETICHISMO africano, duplicado pelos pagãos, em que se
ocultavam, debaixo da auréola de VÊNUS ou BACO, as orgias mais cruas e
ignominiosas (MIRANDA, 1957, p. 212 e 213, grifo nosso).

Verônica Luna (2017) trata sobre o desconcerto do padre ao se deparar com uma
cidade de expressão cultural religiosa híbrida em que ao mesmo tempo que era marcada pelos
valores cristãos, também vivenciava os festejos oriundos da cultura africana, como o
Marabaixo. Considerando Padre Júlio como precursor da urbanização macapaense, Luna
(2017) discorre sobre como ele pautou o modo de vida urbano tomando a higienização como
controle da vida urbana e espiritual da população, causando vários conflitos entre ele e os
marabaixeiros. O referido padre foi responsável por criar o estigma de que o ritual do Marabaixo
era um “culto satânico”, trazendo a consequente inferiorização dos costumes dos afro-
macapaenses. Mesmo diante de todas essas repulsas e a continuidade dela advindas de outros
padres, o Marabaixo e o Batuque se mantiveram resistentes.
Ao fazer uma análise dessa história do Amapá e de Macapá antes da formação do
Território Federal, percebe-se que os escravizados foram destinados à região para a construção
da Fortaleza e para o povoamento do local. Essas populações se estabeleceram no centro da
cidade, onde construíram suas casas, constituíram famílias e relações de amizade e vizinhança,
criaram seus animais, plantaram suas roças e viveram suas tradições, ainda que com resistências
e preconceitos, sem imaginar as novas dificuldades e mudanças as quais viriam com a
implantação do Território Federal do Amapá (TFA) durante a primeira metade do século XX,
47

segundo Lobato (2015), o qual foi implementado por conta dos riscos gerados pela Segunda
Guerra Mundial, como estratégia de proteção do território por parte do Presidente Getúlio
Vargas.

2.1.2 Da criação do Território Federal do Amapá

O Território Federal do Amapá (TFA) representou para o Amapá um período de


intensas mudanças, dentre elas o remanejamento das populações majoritariamente negras do
centro da cidade para o bairro do Laguinho, ainda sem infraestrutura adequada para recebê-los.
A razão deste remanejamento, segundo Silva (2007), se deu por conta da estratégia de incentivo
ao povoamento da capital Macapá, que se constituía a partir da construção de novos prédios
para o funcionamento de escolas, hospitais e órgãos públicos, assim como para a construção de
novas residências para abrigar as pessoas que viriam residir na cidade. Essas novas instalações
foram marcadas pelo uso predominante da alvenaria, colocando abaixo às edificações já
existentes de madeira.
O primeiro governador do território foi Janary Gentil Nunes, no período de 1944 a
1956, o qual exerceu certo poder político até o ano de 1964. A capital do TFA era o município
de Amapá, mas Janary Nunes, ainda em seu primeiro ano de mandato, elevou Macapá ao status
de capital territorial (LOBATO, 2015). O município possuía a mais alta densidade em
comparação aos outros, Amapá e Mazagão, de acordo com a tabela 2 com base nas informações
do IBGE no ano de 1942:

Tabela 2 - Densidade demográfica dos municípios do Amapá em 1940


Município Área (km²) População (1940) Densidade
Amapá 69 066 6 496 0,09
Macapá 27 912 16 595 0,60
Mazagão 22 947 8 217 0,36
Fonte: Revista Brasileira de Geografia v.4 n.4 out./dez. 1942

Janary Nunes chegou ao Amapá com a missão de estabelecer as bases da política


varguista denominada de “triângulo de Vargas”, que estava pautada em saneamento, educação
e povoamento (AMAPÁ, 1944).
Segundo Silva (2007) em seu estudo “A (Onto)Gênese da nação nas margens do
território nacional: o projeto janarista territorial para o Amapá (1944-1956)”, relata que o
governador, em depoimento ao Jornal Correio da Noite expôs:
48

Este é o problema mais difícil da minha tarefa_ o de povoá-lo. Para povoar


racionalmente é preciso construir habitações, sanear os pontos escolhidos para
a localização de núcleos, erguer hospitais e enfermarias nas vilas mais
populosas [...]; levantar escolas, abrir estradas, plantar e tudo isso só se faz
com homem (SILVA, 2007, p. 84).

Esse discurso de “povoamento”, característico das práticas varguistas nas


consolidações dos Territórios Federais, estava pautada na construção de diversos prédios e
infraestruturas como sistemas de distribuição de energia, de água e de recolhimento de esgoto.
Em maio de 1944, o governador do território já havia iniciado várias construções na capital,
como a Residência Governamental, o Grupo Escolar de Macapá, 35 casas destinadas a
funcionários, reformas em diversas outras residências e no Prédio da Prefeitura Municipal
(NOTÍCIAS…, 1944).
A Residência Governamental foi construída no local onde morava uma comunidade
negra, a Vila Santa Engrácia, já citada anteriormente. Durica Almeida, professora e moradora
do bairro do Laguinho, afirma que esses

eram lugares [...] que morava só uma população negra – não lembro direito,
né – nessa rua dos pretos. E essa rua dos pretos é exatamente por ali onde é a
Casa do Governador – né – onde o Banco do Brasil e hoje é a Casa do, do
Governador e então eram famílias que eram famílias (precongas) – né – que é
o jeito de ser do negro que parece que cê [sic] (brêga) – né – falar alto,
(quentinha). Então a primeira coisa que ele limpa é essa rua – né – essa rua
dos pretos – né – e esses pretos são trazidos que acabam vindo pra cá. E assim
se constitui o Laguinho.13

Em sua fala, Durica Almeida relembra a localização das moradias da população


afromacapaense, no entorno da atual praça do Barão, onde hoje se localizam a Residência do
Governador e o Banco do Brasil. Também destaca brevemente algumas características comuns
a essa comunidade da época e utiliza-se da expressão “limpa” para se referir a atitude de Janary
Nunes quanto à retirada dos negros do centro da cidade de Macapá.
Na Figura 11 pode-se observar uma vista aérea da cidade de Macapá após as
intervenções de Janary Nunes e a localização da Residência do Governador e do Fórum de
Macapá.

13
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
49

Figura 11 – Vista aérea de Macapá, 19--

Fonte: Biblioteca IBGE – ID 40456, modificado pela autora (2021)

Essas modificações urbanas foram adotadas por Janary para atender ao padrão de uma
nova categoria social que iria ser acolhida na capital. As casas dos afromacapenses feitas de
taipa e cobertura de palha, com a composição de planta simples, sem sistema de saneamento
apropriado (LUNA, 2017) destoavam do novo padrão estabelecido, de “casas novas de
alvenaria, adequadas ao perfil que se queria dar ao novo núcleo político-social macapaense”
(LOBATO, 2015, p. 114).
O bairro do Laguinho foi criado por consequência dessa modernização, visto que a
poupulação que residia na área central da cidade não tinha condições financeiras de atender às
exigências (LOBATO, 2015). Conta o morador do bairro Laguinho, José Antônio Sousa, que
“a partir daí, com a chegada do Janary, ele manda sair todo mundo dali e o pessoal vai embora
pa periferia [...] as pessoas vieram pra cá, especialmente a comunidade negra, tanto pra cá,
como pra favela14”15. Luna (2017, p. 110) relata que:

Toda a descrição da Cidade no relatório governamental apontava para um


único objetivo: imprimir uma situação de miséria e ignorância que deveria ser
revertida. Nenhum registro foi feito sobre o modo de viver da sociedade local,
nem mesmo dos mais abastados, muito menos da comunidade afro-
macapaense: suas festas e as caminhadas de ida ao “poço do mato” por
mulheres, jovens e crianças para buscar água para beber, ou mesmo de ida ao
“igarapé das mulheres”, rio onde elas lavavam suas roupas e as de seus
patrões. Lugar onde elas criavam espaço de sociabilidade, de troca de
conversa, dos ditos fuxicos, lamentos e risos. Rio no qual as crianças

14
Atualmente é onde se localiza o bairro Santa Rita. Segundo Luna (2017, p. 115) “esse lugar possuía uma mata
que o separava da Cidade e passou a ser denominado de Favela, pela presença dessa vegetação em seu entorno”.
15
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 19 de fevereiro de 2021.
50

brincavam, tomavam banho, enquanto suas mães ou irmãs lavavam roupas.


Para o governador, essas práticas também ensejavam mudança de hábitos.

O governo territorial tinha um discurso higienista também nos diversos setores da


cidade, passando pela reestruturação da malha urbana e a substituição de antigas construções
(LEÃO, 2020). Explícito em algumas ações do governador Janary, como por exemplo, ao
remanejar os afrodescentes do centro para o Laguinho a fim de modernizar a Macapá e
“reguardar o direito das classes dominantes” (CARDOSO, 2004, p. 10). Essa questão
atravessou gerações de moradores, sendo percebida na atualidade, Durica Almeida afirma que

essas pessoas, quando ele tira essas pessoas, elas são – né – indenizadas, eu
não sei se isso é verdade ou não, mas ela [referindo-se a sua tia] conta essa
experiência pela família dela que morava na Cândido Mendes e que obrigada
a sair e vem pro, vem pro Laguinho, né, grande parte, que é o que os estudiosos
chamam de uma higienização. É porque as casas, aquele local que é a frente
da cidade, eles passam a ser ocupados ou por doutores – né – a música diz
isso16 (grifo nosso).

O referido processo de remanejamento das pessoas da área central da cidade, para outra
periférica, acabou sendo naturalizado por alguns moradores. Ainda hoje pode ser percebido em
relatos de vida, como no caso do senhor José Antônio Sousa, advogado, aposentado da marinha
e morador do bairro do Laguinho, “houve aquela modificação e isso é uma, uma, no meu
entender, foi uma modificação natural, porque se você observar, aconteceram na maioria das
cidade [sic]”17.
No final de 1944, após a criação do Departamento de Saúde, foi apresentado um plano
de organização administrativa com o intuito de efetivar medidas sobre as condições sanitárias
do território (SILVA, 2007). É nesse contexto que a família de Durica Almeida chega à capital:

na verdade a minha mãe, ela vem do Carmo do Macacoari, eh, com a sua
família e isso logo quando o primeiro governador chega, né. Elas vêm porque
a minha avó era uma grande parteira e a minha tia que já tinha vindo, uma eh,
é a Maria – né – que chamava, a Maria Lindolva, tinha vindo, Maria Trindade,
tinha vindo antes e aqui disseram pra ela que precisariam de parteiras, então
ela vai, trás a vovó pra ser parteira aqui que tavam precisando na maternidade
– né – pra precisando pra saúde.18

Sua avó sai da comunidade do Carmo do Macacoari, que fica ao leste do Amapá, um
pouco ao norte da cidade de Macapá, e estabelece residência no recém criado bairro do
Laguinho. Esse deslocamento se dá pela necessidade de parteiras em Macapá, ação que

16
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
17
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 19 de fevereiro de 2021.
18
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
51

compunha as diversas modificações realizadas pelo governador quanto a saneamento, saúde,


educação doméstica e escolar, na tentativa da população amapaense adquirir novos hábitos com
o objetivo principal de formar homens cidadãos e trabalhadores para auxiliar no
desenvolvimento econômico da região. Também incentivou amor à pátria com o fortalecimento
de solenidades patrióticas, como o 7 de setembro (SILVA, 2007). “O governo janarista
pretendeu criar o ‘amapaense brasileiro’ integrado ao país através da fusão de duas identidades:
a local e a nacional, e fundamentalmente através da inclusão do Amapá no cenário econômico
brasileiros como região produtiva” (SILVA, 2007, p. 168 e 169).
Essas ações ensejadas pelo governador do Território Federal do Amapá resultaram no
surgimento do bairro do Laguinho, o que auxilia no entendimento de suas características e seus
conflitos, visto que essa remoção acarretou na constituição da comunidade laguinense.

2.1.3 Da formação do bairro do Laguinho

Discorrer sobre a história de um bairro em Macapá exigiu percorrer as narrativas de


vida dos moradores desse local - falas que muitas vezes não são consideradas para a reflexão
do espaço urbano das cidades - e conectá-las com os vestígios de documentação “tradicional”,
como fotografias, projetos urbanos, relatórios de governo e trabalhos já produzidos que
abordaram a localidade.
No entanto, apesar de reunir diversos tipos de fontes, essa pesquisa não tem como
intuito apontar uma “verdade histórica”, assim como as produções na pesquisa histórica não
visam assinalar para um único caminho ou produzir uma única história, mas para histórias.
Segundo Ginzburg (2004) a historia é constantemente reescrita, não se alcança a totalidade do
vivido, mas possíveis verdades e perspectivas de um fato. desta maneira, a revisão bibliográfica
e os relatos orais construiram uma perspectiva da história do bairro do laguinho, que necessita
de aprofundamento futuro.
Paulo Tarso Barros (2013, p. 57), em seu livro “História de um Sino”, inicia o conto
“Umas e outras de Seu Paulino” com a seguinte contextualização histórica da cidade de
Macapá:

Antigamente, antes do governo territorial do coronel Janary Gentil Nunes, a


cidade de Macapá era pequena e os negros viviam no bairro Central, onde
plantavam, criavam animais e se divertiam dançando Marabaixo. Janary,
quando instala a doutorada na área nobre, próximo da residência oficial –
gente oriunda de outras plagas para compor a elite administrativa, mandou
construir casas na periferia e para lá, com muito jeito, transferiu os antigos
52

remanescentes de escravos, que já enfrentavam a desconfiança dos padres


italianos e do missionário belga padre Júlio Maria Lombaerde.

Segundo Luna (2017), os primeiros laguinenses viviam no centro da cidade, onde


pescavam peixes e camarões, consumiam açaí, faziam caça, iam ao Igarapé das Mulheres e ao
Poço do Mato para lavar as conversas, não contavam com a possibilidade de serem
remanejados, deixando para trás suas moradias e as amizades estabelecidas.
De igual maneira, as entrevistas realizadas nesta pesquisa apontam para a paisagem
formulada por Luna, visto que José Raimundo Sousa e Durica Almeida ao serem perguntados
sobre a constituição do bairro ralataram, respectivamente: “Era, era roça, que as pessoas
antigamente faziam roça pra plantar mandioca e depois abandonaram e passaram pra outra”19;
“Ele já era um local aonde a população negra já conhecia, já fazia as suas roças, né. Porque aqui
era um campo, vamos dizer que fosse um cerrado. Então tinha um lugar já chamado Tatu aonde
essas pessoas faziam a sua farinha – né – faziam as suas roças”20.
Essa informação das roças é confirmada pelo Relatório das Atividades do Governo do
Território Federal do Amapá em 1944, na sessão de produção, que descreve o campo agrícola
de Macapá nas proximidades do Poço do Mato, com “uma área de 1.800 metros quadrados,
com 40 canteiros de 1,20 x 25 metros, para plantas hortículas, e uma outra, de 10.400 metros
quadrados, para macaxeira e mandioca” (NUNES, 1946, p. 31).
No entanto, com a transformação da cidade a partir da constituição do território do
Amapá, as práticas sociais foram deslocadas, assim como sua população para que se abrisse um
novo espaço, ancorado no discurso de desenvolvimentista, integrador do período varguista. É
importante destacar que as narrativas que envolvem Macapá se centram em “dois processos de
colonização”, distintos em suas temporalidades, o pombalino e o janarista, cada qual com suas
características de alteração espacial, mas ambos objetivavam demarcar a fisionomia de um
“governo” com a renovação dos núcleos “originários” da cidade.
A memória da construção do Território do Amapá, por estar mais próxima de nosso
tempo, ainda pode ser apreendida em entrevistas, seja daqueles que presenciaram “a chegada
de Janary”, ou seja pelas narrativas passadas entre gerações de família. A consolidação do bairro
do Laguinho, a partir dos dados coletados, se deu mediante a destruição de um modo de morar
pré-existente ao Território Federal, a antiga Macapá, das primeiras décadas do século XX, teve
que ceder seu espaço para que o projeto civilizatório varguista deflagrasse sua instalação e
modernização.

19
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 14 de março de 2020.
20
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
53

O Decreto-lei 5.812 de 1943 determina a criação dos Territórios Federais:

São criados, com partes desmembradas dos Estados do Pará, do Amazonas, de Mato
Grosso, do Paraná e de Santa Catarina, os Territórios Federais do Amapá, do Rio
Branco, do Guaporé, de Ponta Porã e do Iguassú. (Vide Decreto nº 6.550, de 1944)

§ 1º O Território do Amapá terá os seguintes limites:

- a Noroeste e Norte, pela linha de limites com as Guianas Holandesas e Francesa


- a Nordeste e Leste, com o Oceâno Atlântico;
- a Sueste e Sul, o canal do Norte e o braço norte do rio Amazonas até à foz do rio
Jarí;
- a Sudoeste e Oeste, o rio Jarí, da sua foz até às cabeceiras na Serra do Tumucumaque;
(BRASIL, 1943).

A partir disso, Janary Nunes chega às terras amapaenses, e como relata José Antônio
Sousa, desce “lá no cais, na Eliézer Levy, onde hoje é o trapiche, ele tava de bermuda, era
branco, ele vinha com uma bota e a roupa [...] tava bem passada, era lindo. Do lado a esposa,
Iracema Carvão Nunes, e de outro o filho mais velho [...] Aí começa o Amapá”21. Porém, os
modos de vida da população não se ajustavam com as condições que o governador gostaria de
estabelecer para receber sua família e os novos funcionários, a população afrodescente fora
remanejada do centro urbano de Macapá (LUNA, 2017). Nessa afirmação abaixo, Rodrigues e
Lapa (2020) denunciam as ações de desapropriação realizadas pelo governo e de que forma elas
foram empreendidas:

Uma das primeiras ações de expropriação envolvendo a habitação popular


aconteceu na “Macapá Antiga”. Na “Macapá Moderna”, anunciada pelo
governo, não havia lugar no centro da cidade para moradia de famílias pobres,
alterando-se gradativamente a composição social neste espaço de intervenção.
O governador exigiu padronização das residências que deveriam ser
construídas em alvenaria (RODRIGUES e LAPA, 2020, p. 327).

Segundo Lobato (2015), foi realizada uma reunião na residência do líder dos
marabaxeiros, pontuando o autor que a mediação do Mestre Julião Ramos22 fora fundamental
para que a população aceitasse essa mudança. Janary Nunes tinha uma estreita relação com os
marabaxeiros, principalmente com Mestre Julião, o considerando como seu aliado, e utilizou-
se dessa proximidade para realizar a transferência. Essa mudança acarretou em um conflito
entre a comunidade negra, em que uns foram para o Laguinho, seguindo o Mestre Julião Ramos,
e outros foram para a Favela, acompanhando a dona Gertrudes Saturmino Loureiro (BENTES,
2020).

21
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 19 de fevereiro de 2021.
22
Julião Thomas Ramos, nascido em 1876 foi considerado um dos nomes de destaque do Marabaixo, era cantador
e tocador. Em seu tempo foi considerado uma liderança comunitária. Faleceu no ano de 1958 (ALVES, 2019).
54

A pesquisa “‘Cada senhora dez dedos, cada dedo é uma memória’: histórias e
memórias de mulheres marabaixeiras” de Sabrina Bentes (2019) , traz um fato interessante, por
meio de entrevistas com marabaixeiras, “Tia Zezé”, filha de dona Gertrudes Loureiro, conta
que a opção pelo bairro Laguinho por parte da maioria se deu pelo fato de já terem roças no
local. Já a escolha pelo bairro Favela, segundo “Tia Zezé”, se deu por conta da escolha de sua
mãe.
Na Figura 12 é possível observar no tecido urbano de Macapá, de 1966, o sentido dessa
mudança, sendo o bairro do Laguinho mais ao norte da cidade e o bairro Favela (atual Santa
Rita) seguindo para o sentido oeste de Macapá. Ambos se localizavam nas zonas mais
periféricas da cidade, mas atualmente fazem parte da área central da capital.

Figura 12 – Transferência da população negra para os bairros Laguinho e Favela

Fonte: Elaborado por QUADROS, Juliana (2021) a partir da Base LASA/CRUZEIRO DO SUL 1966, por
TOSTES e FEIJÃO.
55

Apesar da transferência ter acontecido, as opiniões sobre o processo foram


conflitantes. De acordo com Sidney Lobato (2015, p. 118):

podemos perceber a existência de, pelo menos, três grupos: os que eram
favoráveis ao governo de Janary; os que eram contra; e os que preferiam não
explicitar qualquer posicionamento. O primeiro grupo era capitaneado por
Julião Ramos e sua família. O segundo percebia Julião como alguém cooptado
e indigno de crédito. O que todos estes grupos tinham em comum era o desafio
de remodelar suas vivências dentro das condições ambientais encontradas na
Favela e no Laguinho.

O autor ainda ressalta sobre os desafios que essa população iria viver, independente de
sua posição quanto às decisões do governador, favoráveis ou não, de reconstruir suas vidas em
um novo lugar.
Laura Silva, bisneta do Mestre Julião, relata que o bisavô “já conhecia algumas pessoas
que já habitavam lá, ele resolveu ir pra lá e muitas pessoas, eh, decidiram por bem seguir ele,
né, e morar no mesmo espaço”23, e demonstra sua posição do processo ter sido tranquilo e
natural enquanto outros discorrem sobre o quão forçado essa mudança foi, como entrevistado
José Raimundo Sousa fala:

quando os negros vieram [...] pra cá pro Laguinho, né, de livre e espontânea
pressão pro Laguinho [...]. É porque as pessoas dizem que, que os negros
vieram de lá, eh, feliz. Ninguém veio feliz, todo mundo sentiu e, e só
aconteceu porque não tinha outro jeito, ah, ah, o governo impôs que os
negros deveriam desocupar o centro da cidade e eles tiveram que vir pra cá.24

Em seu relato, o entrevistado denuncia o fato de que eles não puderam reverter a
situação imposta pelo governador e esclarece sobre a visão a qual é divulgada sobre essa
transferência, de ter sido um processo muito bem aceito pela população negra e, em sua visão,
o sentimento foi completamente oposto, destacando que ninguém se mudou do bairro Central
para o Laguinho com felicidade.
A tensão entre “as Macapás” que foram surgindo naquela década de 40 ficaram
registradas em alguns meios documentais, além da memória, como nos versos de uma poesia
musicada, denominada de “ladrão25 de Marabaixo”, de autoria de Raimundo Ladislau:

Aonde tu vai rapaz


Por esses campos sozinho
Eu vou fazer a minha morada
Lá nos campos do Laguinho (refrão)

23
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 25 de fevereiro de 2021.
24
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 14 de março de 2020.
25
Segundo o IPHAN (2018, p. 6) “Ladrão” é uma “espécie de poesia oral musicada a partir dos toques das caixas,
instrumentos de percussão produzidos pelos próprios tocadores”.
56

[...]
Destelhei a minha casa
Com a intenção de retelhar
Mas a Santa Engrácia não fica
Como a gente pode ficar?
[...]
A Avenida Getúlio Vargas
Tá ficando que é um primor
Essas casas foram feitas
Pra só morar doutor.
[...]
Eu cheguei na tua casa
Perguntei como passou
Rapaz eu não tenho casa
Tu me dá um armador
(IPHAN, 2009, p. 58 e 59, grifo nosso)

De acordo com a letra do ladrão percebe-se que existia um sentimento de não estar
incluso nas novas melhorias instaladas no centro da cidade, que seriam destinadas aos
“doutores”. Além disso, dão destaque a implantação da Residência do Governador no local
onde ficava a Vila Santa Engrácia. Os terrenos destinados aos remanejados não tinham as
mínimas condições para que pudessem usufruir de cidadania, não contando com sistema de
água encanada, saneamento e energia elétrica. A cantiga demonstra que não houve qualquer
planejamento que tenha previsto a construção de casas, somente sendo feito um serviço de
limpeza e nivelamento do solo do Laguinho, como denuncia a moradora Durica que “o negro
ele abre a porteira do Laguinho – né – se instala, limpa, capina, varre e depois outras pessoas
começam a ocupar”26. Essa história de retirada, assim como outros processos de remanejamento
forçado de populações de áreas centrais realizados nas primeiras décadas do século XX no
Brasil, não contam com nenhum registro oficial. Luna (2017, p. 114) ainda reforça que essa
ação de Janary Nunes “não se deu de forma documentada como já vimos, mas, ao que parece,
ocorreu por meio de negociações que não foram oficialmente registradas, o que deixou dúvidas
quanto à forma desse agenciamento”.
De acordo com Maciel (2014), foram doados terrenos titulados para a população negra
remanejada para o Laguinho, assim como foi permitido a utilização de madeiras das estâncias
do governo. Também Luna (2017) constatou em sua pesquisa que alguns moradores relataram
que foram doadas madeiras para a construção das casas, mas não foi algo que se estendeu a
todos. José Antônio Sousa conta que “muitos sem nenhuma estrutura, ficaram morando aí

26
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
57

debaixo de árvore, que era inclusive pessoas vivas que contam isso, então não teve uma, uma
transferência pacífica, foi muito difícil”27.
Videira (2009), ao tratar da transferência dos afromacapaenses para o bairro do
Laguinho, relata que algumas casas foram construídas com madeiras reaproveitadas de antigas
casas desmanchadas e outras com ajuda de Janary, que disponibilizou o material na estância de
propriedade do governo. Além disso, conta que houve a disponibilização de títulos para evitar
que houvesse uma resistência e revolta por parte da comunidade que começava a se estabelecer
no local:

O governador cedeu terreno com título de apuramento – escritura reconhecida


pela Prefeitura – como se fosse um benfazejo para a comunidade, mas na
realidade tratava-se de uma atitude estratégica do governante para evitar a
revolta da comunidade (VIDEIRA, 2009, p. 94 e 95).

Ao analisar a imagem aérea da base LASA/Cruzeiro do Sul do ano de 1966 nas Figuras
13 e 14, pode-se notar alguns aspectos apontados pelos relatos e informações anteriormente
citadas. A primeira é a quantidade significativa de quadras com muita vegetação, onde
possivelmente eram remanescentes das roças, destacadas na Figura 12. A segunda é a divisão
de alguns lotes muito similares ao parcelamento atual, em que a comparação está na Figura 13,
fato que pode apontar para um parcelamento e distribuição de lotes para os novos moradores
do recém-criado bairro do Laguinho.

27
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 14 de março de 2020.
58

Figura 13 – Destaque para as roças no bairro do Laguinho

Fonte: Base LASA/CRUZEIRO DO SUL (1966), por TOSTES e FEIJÃO, modificado pela autora (2022)
59

Figura 14 – Análise comparativa da base aérea LASA (1966) com o mapa urbano (2013)

Fonte: Base LASA/CRUZEIRO DO SUL (1966), por TOSTES e FEIJÃO, modificado pela autora (2022)

Outra estratégia do governador Janary Nunes, apontada por Maciel (2001), foi a
incorporação de parte dessa população no serviço público do estado.
Ainda que essa situação tenha trazido consequências, Videira (2009, p. 95) afirma que
“mesmo assim, erigiu-se ali uma grande nação negra que muito orgulha seus moradores”. Esse
sentimento de comunidade colocado por Videira nesse trecho é algo muito presente na fala de
alguns moradores, como a entrevistada Cristina Almeida exprime em seu discurso:

Que é o pertencimento do que eu carrego comigo até os dias atuais por fazer
parte de uma comunidade negra, então eu fui criada sabendo que onde eu
morava era uma comunidade negra, que ali é que era conhecido como bairro
do Laguinho, que era aquele sentido positivo de viver em comunidade, eu sou
dessa época que eu sei o que é viver em comunidade.28

28
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 24 de fevereiro de 2021.
60

Nota-se que apesar de todas as dificuldades enfrentadas a partir dessa transição, ainda
sim formou-se uma comunidade com as pessoas do bairro do Laguinho, de forma que as antigas
relações se fortificaram, novas amizades se formaram e isso acabou por contribuir para que o
local fosse se consolidando. Desta maneira, destaca-se a inclusão do bairro nos planos
urbanísticos feitos para a cidade de Macapá que previam projetos a serem implantados dentro
do Laguinho.

2.1.4 O bairro do Laguinho dentro dos planos urbanísticos de Macapá

De acordo com Tostes (2006), desde 1959 o Governo do Território Federal do Amapá
(GTFA) teve a iniciativa de buscar pela elaboração de planos técnicos urbanos, o que resultou
em cinco planos diretores até o ano de 2005. Dentre esses, quatro incluem o município de
Macapá, os quais três serão destacados nesse capítulo. São eles: Plano GRUMBILF (1959),
Plano de Desenvolvimento Urbano da Fundação João Pinheiro – PDU/FJP (1973) e Plano de
Desenvolvimento Urbano H.J. Cole & Associados S.A. – PDU/HJ COLE (1979).
O plano GRUMBILF de 1959 foi a primeira iniciativa, contratado pela Companhia de
Eletricidade do Amapá (CEA) com o objetivo de elaborar estudos para o plano de urbanização
de Macapá, a fim de orientar a expansão da cidade e seu ordenamento. Tostes (2006) salienta
que na época de sua contratação, a população da capital era de cerca de 26 mil habitantes, o que
fez com que o plano previsse um crescimento populacional para 100 mil habitantes, no entanto,
essa marca foi ultrapassada antes dos anos 1980. Essa população se concentrou principalmente
nos bairros Central, Trem e Laguinho, assim como na proximidade de igarapés.
Tostes (2006) destaca que a ideia era que o traçado urbano contasse com avenidas
largas e praças amplas, dado o privilégio da cidade em possuir lagos extensos com vegetação
em seu entorno podendo aproveitá-las para a implantação de parques urbanos. Essa análise com
relação aos parques é resgatada posteriormente com o PDU/HJ Cole. Além disso, o plano
salientou a importância de respeitar a cidade existente, portanto não pretendia fazer
desapropriações e nem demolições custosas, assim como não prescreveu gabaritos e não fez
proibições com relação às habitações em madeira. Também objetivava uma descentralização
do comércio e um incentivo à prática do desporto. O plano, no entanto, foi minimamente
implantado.
Diferente do plano GRUMBILF, Tostes (2006) afirma que o Plano de
Desenvolvimento Urbano da Fundação João Pinheiro (FDU/FJP) foi, dentre os três, o que mais
teve densidade em sua aplicação, visto que o seu processo de contratação e aplicação foi
61

gerenciado pelo Governo do Território Federal do Amapá (GTFA) e o Ministério do Interior,


incentivado pelo Governo Federal. O PDU/FJP foi elaborado no ano de 1973, por meio do
programa de planejamento urbano para os territórios federais.
Tinha como objetivo principal orientar o desenvolvimento urbano, através de estímulo
à política de ocupação urbana e zoneamento com base na predominância do uso do solo, da
garantia de reserva de áreas para expansão urbana e de diretrizes para a administração
municipal. Um dos princípios fundamentais desse plano era o de integrar os núcleos da
microrregião, principalmente por meio do sistema viário (TOSTES, 2006).
Os estudos da Fundação João Pinheiro, afirma Tostes (2006), previam uma ocupação
das áreas periféricas, antes mesmo da hipótese do amplo crescimento populacional ocorrido
pela criação da área de livre comércio no início da década de 1990 poder ser levada em conta.
Dentre os três, o Plano de Desenvolvimento Urbano H.J. Cole & Associados S.A. é o
que possui maior relevância para esta pesquisa. Isso porque ele elaborou diversos projetos para
a cidade de Macapá, sendo um deles no bairro do Laguinho. Ele foi desenvolvido nos anos de
1976 a 1979 e é considerado por Tostes (2006) um trabalho amplo com relação às
potencialidades do território amapaense, principalmente quanto à prática do turismo, visto que
é promissora a proximidade entre o Amapá e a Guiana Francesa.
Tendo isso em vista, o projeto previa a implantação de parques em três locais: na
Fortaleza de São José de Macapá, no complexo Marco Zero e no bairro do Laguinho, nas
proximidades da área do Poço do Mato. O parque Beira Rio previa um porto e uma área própria
para a comercialização de diversos produtos para consumo (Figura 15). Já o Parque do Marco
Zero (Figura 16) foi pensado como uma área nobre, “tendo um iate clube, quadras de tênis,
campos de futebol, um observatório astronômico, relógio de sol e um museu de arte” (VIÉGAS,
2019).
62

Figura 15 – Parque Beira Rio, PDU/HJ Cole (1979)

Fonte: Plano H.J. Cole, via Blog Realidades Urbanas.

Figura 16 – Parque do Marco Zero, PDU/HJ Cole (1979)

Fonte: Plano H.J. Cole, via Blog Realidades Urbanas.

Na Figura 17, pode-se observar a abrangência do plano para a cidade de Macapá e a


localização dos projetos citados anteriormente.
63

Figura 17 – Mapa do PDU/HJ Cole para a cidade de Macapá (1979)

Fonte: PDU/HJ Cole (1979), modificado por QUADROS, Juliana (2021).

Com relação ao “Parque do Laguinho”, o projeto aproveitou o lago existente na área


do Poço do Mato, de regime fluvial e uma profundidade de aproximadamente 3,00 metros. No
PDU/HJ Cole, essa área ficou classificada no zoneamento como “Zona Especial”, com usos
especiais ligados à proteção ambiental e ao lazer. O entorno do lago ainda era pouco povoado
64

e possuía bastante vegetação em sua margem. Pela Figura 18 abaixo pode-se perceber também
a topografia natural de concha da região. O parque previa o aproveitamento de 7,6 hectares de
área (H.J. COLE + ASSOCIADOS S.A., 1979).

Figura 18 – Área de implantação do Parque do Laguinho, PDU/HJ Cole (1979)

Fonte: PDU/HJ Cole (1979).

A principal diretriz do estudo era valorizar a função paisagística e recreativa do local,


de forma que o formato de concha do relevo fosse aproveitado, com um layout evitava aterros
e cortes do terreno. Além disso, o parque seria voltado ao fluxo de pedestres aproveitando
grandes áreas verdes para fazer sombra. A área foi dividida em três setores, são eles: Setor A,
contendo estacionamento para 56 carros, restaurante de comidas típicas, anfiteatro natural com
palco sobre as águas, playground “Cidade Infantil” com formato de uma cidade em miniatura
e um prédio administrativo; Setor B, com a “Vila” Comercial aproveitando as residências de
madeira já existentes no entorno para serem aproveitadas com novos usos, rinque de patinação
e skate, Mini-Zoo em um braço do lago que serviria como habitat para animais da região, Museu
Ecológico com aquários e biblioteca para pesquisas escolares, píer sobre o lago com barquinhos
de aluguel, “montarias” e pedalinhos para passeios no lago, prainha com quiosques para
piqueniques e estacionamento para 60 carros; e o Setor C com área de exposições, cine drive-
in, estacionamento para 50 carros e o “Boite Regatão”, um local destinado à festas dentro de
um barco típico da região amapaense, o Regatão, que em tempos antigos funcionava como um
65

mercadinho sobre às águas (H.J. COLE + ASSOCIADOS S.A., 1979). Na Figura 19 é possível
ver a planta geral do projeto:

Figura 19 – Planta Geral do Parque do Laguinho, PDU/HJ Cole (1979)

Fonte: PDU/HJ Cole (1979).

O projeto abrangia uma grande multiplicidade de usos, trazendo possibilidade de lazer


a todas as idades e gostos. Previa espaços para diversão em família e entre amigos, biblioteca e
museu para conhecimento das especificidades locais, a promoção do mercado local, ambiente
para a relização de eventos, apreciação da natureza, entre outras diversas possibilidades.
No entanto, nenhum desses três projetos foi executado, ainda que trouxessem muitos
benefícios à população. Somente nos anos 2000 que a área no entorno da Fortaleza de São José
pode contar com um projeto paisagístico de Rosa Kliass e a área do Marco Zero conta somente
com um monumento desde a década de 80 e o estádio Zerão, inaugurado alguns anos após.
Quanto ao Parque do Laguinho, nada foi feito e cerca de duas décadas após o PDU/HJ Cole a
área passou a ser aterrada e ocupada com residências, dado ao inchaço populacional de Macapá
nesse período.
Para Tostes (2006), um dos principais entraves para a execução desses planos
encontra-se na falta de continuidade das políticas públicas nas mais diversas áreas e, somado a
isso, os planos contavam com uma visão muito técnica, sem uma participação efetiva da
66

sociedade, além de que os municípios acabam por absorver várias atribuições sem possuírem
as condições adequadas para isso.

2.2 SER UM “LAGUINENSE”: PERCURSO PELOS MARCOS DE MEMÓRIAS

Estar em contato com alguns Laguinenses nos trouxe algumas percepções sobre o
bairro. A primeira delas é o brilho no olhar, ele está presente quando falam sobre infância, ao
relembrar o sabor das comidas típicas ou das várias celebrações que acontecem no bairro. A
segunda é a decepção com algumas mudanças na paisagem do bairro, seja nas casas que agora
se tornaram um posto de gasolina, as quais pertenciam a pessoas que já faleceram ou que não
residem mais no bairro, ou na praça que se encontra parcialmente abandonada. A terceira é
quanto ao sentimento de comunidade que se estabeleceu entre eles, onde suas histórias e
memórias tomam forma em diversos pontos dentro do bairro.
A entrevistada Durica Almeida cita que essa comunidade se expressa muito na parceria
que existe entre eles, que se assemelha à filosofia africana do Ubuntu, “eu sou porque nós
somos” (CHAGAS, 2017, p. 135). Mesmo havendo muitos conflitos relacionados à essa
transferência, isso não impediu que os moradores estabelecessem uma relação de pertencimento
muito forte com o bairro. Esse brilho no olhar de cada entrevistado ao falar do Laguinho é
perceptível, Durica e Laura citam, respectivamente, como “o bairro mais querido do Amapá”29,
um lugar de encanto e de riquezas em que “a cultura é viva de janeiro a janeiro”30. José Antônio
considera “que o bairro do Laguinho é a maior expressão de liberdade que existe dos povos”31.
Esse pertecimento se manifesta entre eles por meio do “ser laguinense” que consiste
em uma identidade que ultrapassa os limites de residência no bairro do Laguinho, pois essa
característica vem a partir do amor que sentem pelo bairro e pela cultura do local, como
descreve José Antônio:

O que é ser laguinense? Isso aí é um outro conceito porque laguinense pode


ser qualquer pessoa, qualquer pessoa, de qualquer bairro. Tem laguinense que
mora em Santana, tem laguinense que mora em São Paulo, porque ele veio
aqui, nem que for uma, duas vezes, mas ele aprende esse convívio diário
através das anedotas, tem muita, é muita mentira aí nessa história, né, mas das
brincadeiras, da, da, do bate-papo, como fala hoje, das resenhas, e é a pessoa
acaba voltando, um dia voltando32.

29
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
30
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 25 de fevereiro de 2021.
31
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 19 de fevereiro de 2021.
32
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 24 de fevereiro de 2021.
67

Essa fala demonstra que, para o entrevistado, a compreensão dessa identidade é


multipla e abrangente. A identidade é construída a partir da “história, geografia, biologia,
instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos
aparatos de poder e revelações de cunho religioso”, tudo isso é processado pelos indivíduos e
reorganizado “em função de tendências sociais e projetos culturais enraizados em sua estrutura
social, bem como sua visão de espaço/tempo” (CASTELLS, 1999, p. 23). Castells distingue
três formas de construção de identidades, são elas: identidade legitimadora, identidade de
resistência e identidade de projeto. A identidade de resistência pode corresponder-se a história
do povo negro macapaense, visto que ela é criada a partir de atores em posições/condições que
podem ser desvalorizadas ou estigmatizadas sob a lógica da dominação e por conta disso dá
origem a novas formas de resistência coletiva frente às opressões que, sem isso, não seria
suportável.
Esse sentimento encontra-se vinculado às vivências e às práticas culturais do bairro.
Os relatos dos “Laguinenses” nos colocaram em contato com espaços de sociabilidade que
emergiram de suas memórias afetivas, como por exemplo, o lago do Poço do Mato que alguns
tinham o hábito de pescar, tomar banho e aprendiam a nadar; as ruas e praças do Laguinho eram
lugares nos quais as mulheres vendiam mingau de mucajá, tacacá e sequilhos, e como relata
Durica Almeida:

durante muito tempo a gente também ainda tinha aqui as fazedeiras de tacacá
[...] as mulheres negras que faziam o mingau de... de mucajá. [...] Então nós
tínhamos aqui muitas mulheres que ainda vendiam [...] que faziam essa
comida e... e vendiam nas portas. Nós tínhamos a mãe da Lurdia que é uma
pessoa do IMENA33, que é a Dona Marcica [...] que ela vendia sequilhos,
então ela, toda tarde ela colocava [...] seu tabuleiro, colocava na frente da casa
sua banquinha pra vender34.

A rua era um espaço que o “saber fazer” das mulheres ganhava visibilidade, a
diversidade de alimentos vendidos nas portas das casas promovia a dinâmica do final da tarde
no bairro. No que tange às edificações, os laguinenses destacaram algumas características das
habitações mais antigas, como a tecnologia de madeira que fora empregada nos anos iniciais
do surgimento do bairro, assim como nas memórias de infância dos entrevistados, os quais
afirmaram que os quintais das casas não tinham delimitações de muros, e as crianças cortavam
caminho nos quintais dos vizinhos, passavam de um quintal para o outro.

33
Instituto de Mulheres Negras do Amapá.
34
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
68

As áreas livres, os descampados também foram pontuados na rememoração de


juventude dos moradores, pois era onde os meninos jogavam futebol (Figura 20) e as meninas
brincavam de queimada. Durica relembra que

essa, era a melhor parte que tinha (RISOS), depois da Igreja era brincar no
caroçal e isso era todo sábado [...] a gente, as meninas ficavam com a irmã
Janina, aí entrava a queimada, brincar desse embala, embala e os meninos iam
pro futebol com o Padre, porque o Padre também jogava futebol35.

Na Figura 20 abaixo, em que os meninos jogam futebol em um campo improvisado


dentro de um terreno descampado, pode-se notar ao fundo que havia uma grande predominância
de residências de madeira ainda na década de 60, quando a cidade de Macapá já registrava
várias edificações em alvenaria.

Figura 20 – Crianças jogando futebol em um campo onde atualmente se encontra o


SEBRAE, na década de 60

Fonte: Livro “Macapá querida”, 2010, p. 44

Miranda e Tutyia (2020, n.p.) discorrem acerca do conceito plural da arquitetura como
ciência, o que “demanda a ampliação de horizontes e adaptação de métodos advindos das
ciências humanas para que os anseios dos usuários sejam conhecidos e traduzidos, em especial
quando nos reportamos às arquiteturas do passado”. Para as autoras, o desafio encontra-se na
lida constante entre o patrimônio edificado, os lugares onde recaem as memórias e as paisagens,
os quais muitas vezes são fragmentos dispersos e descontextualizados. Tutyia (2020, n.p.)
afirma que a arquitetura ainda mantém um espaço para um pensamento mecanicista, o que
acaba por colocar em segundo plano os símbolos e as imaterialidades intrínsecos “aos processos
de construção, reconstrução e ressignificação dos objetos”.

35
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 08 de dezembro de 2020.
69

Tendo em vista esses aspectos, o uso da história oral como método para essa pesquisa
mostrou-se essencial, visto que a partir das entrevistas com os laguinenses, foi possível
compreender quais lugares e manifestações culturais marcaram suas memórias, além de
conhecer os símbolos atribuídos a eles, e este fato apontou para a importância de pontuá-los no
tecido daquele espaço, para isso foi elaborado um mapa denominado “Marcos da Memória”36,
que é um mapa com os lugares atrelados à memória dos moradores do bairro do Laguinho, na
Figura 21.

36
Segundo Tutyia (2013, p. 177) “os ‘marcos da memória’ são os elementos físicos emergidos através da
rememoração de uma época passada, e que têm a função de guia para reconstituir as lembranças de um determinado
espaço. Tais marcos estão relacionados ao viver da pessoa em suas imediações, contudo estes objetos podem ou
não estar materialmente edificado no presente.”
70

Figura 21 – Marcos da memória do bairro do Laguinho

Fonte: QUADROS, Juliana (2021)


71

1 - A Sede dos Escoteiros Veiga Cabral foi um local onde muitas crianças laguinenses
se formaram com disciplina, aprenderam ofícios e se divertiram jogando futebol e dramatizando
peças teatrais com histórias amazônicas.
2 - O espaço também serviu como sede para a Escola de Samba Piratas Estilizados em
1974 (PIRATAS ESTILIZADOS, s.d.). Já quanto a Associação Universidade de Samba
Boêmios do Laguinho, a primeira do bairro, lá aconteceram festas nas quais os jovens solteiros
se reuniam para se divertir e namorar.
3 - O Banco da Amizade representa o apreço que os laguinenses possuem pelo
convívio. Ele foi fundado por dois antigos moradores do bairro, Sacaca e Renato Américo, na
década de 70, o qual foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Amapá, celebrado no dia
26 de dezembro, na “ressaca do Natal” (ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
AMAPÁ, 2016).
4 - O Grupo Escolar General Azevedo Costa é muito presente em suas falas ao se
recordarem da formação escolar, porque além dos estudos, foi onde fizeram os primeiros
contatos sociais e amizades que levam até os dias atuais.
5 - A Igreja de São Benedito também fez esse papel de estabelecer relações entre os
adultos e idosos das décadas de 50 e 60, os quais participavam das celebrações e festividades
de maneira muito ativa, levando consigo seus familiares, de forma que muitos moradores
estabeleceram uma conexão forte com relação ao “santo preto”, São Benedito.
6 - A Praça Chico Noé, antes de ser construída, o local era conhecido como “Campo
do América”, onde muitos meninos jogaram futebol. Atualmente a praça não se encontra em
bom estado de conservação e sua estrutura com piscina para aulas de natação e hidroginástica
está desativada, portanto alguns moradores passaram a não utilizar o local para a prática de
atividades físicas e encontros.
7 - O Centro de Cultura Negra do Amapá (CCNA) se origina a partir do movimento
negro no Amapá que, em 1998, conquista um espaço físico no terreno onde se encontrava a
Praça Lourenço Tavares de Almeida para constituir o Centro de Cultura Negra do Amapá –
CCNA (MACIEL, 2001). Lá acontece também o “Encontro dos Tambores” durante a semana
da Consciência Negra, em novembro, e conta com apresentações de Marabaixo e Batuque.
8 - O “Barracão da tia Biló” é um ponto de encontro das manifestações do Marabaixo.
É um espaço no pátio da casa de Benedita Guilhermina Ramos (tia Biló), única filha viva de
Mestre Julião Ramos, localizado na Rua Eliézer Levy, próximo à Rádio e TV Equatorial
(ALVES, 2019).
72

9 - O Poço do Mato é um objeto arquitetônico que esteve presente na fala dos


entrevistados, é um local cheio de memórias, histórias e lendas que marcaram a infância de
alguns moradores. O nome se refere tanto ao poço edificado, cujo original se situava a alguns
metros de distância do poço que ainda existe atualmente, quanto à região no entorno do poço,
a qual antes não era aterrada e possuía um lago. O poço fez parte do primeiro sistema de
abastecimento de água da capital.
Conhecer essas memórias e os símbolos atribuídos aos lugares, estar em contato com
o sentimento laguinense e compreender as necessidades dos moradores possibilitou que
tivéssemos critérios para eleger o local da intervenção: o Poço do Mato.

2.3 POÇO DO MATO

O Poço do Mato (Figura 22), é considerado o mais antigo dos marcos, o qual é datado
de 1864 (SILVA, 2011), e se localizava na mesma região do poço existente, alguns metros mais
adiante, dentro do lote da CAESA (Companhia de Água e Esgoto do Amapá), o morador do
bairro José Raimundo Sousa relata que ficava “a uns 20 metros desse”37. Foi o primeiro sistema
de abastecimento de água de Macapá e José Raimundo Sousa reflete que:

talvez se o Poço do Mato não existisse, o centro de Macapá talvez não fosse
aqui, nessa região aqui do bairro Central, Laguinho, porque todo mundo sabe
que só se constrói povoado onde tem água de boa qualidade.38

Além de sua importância de abastecimento da população, o local é palco para pequenas


celebrações entre os moradores e possui muitas histórias e lendas que marcaram a infância de
alguns entrevistados. O poço que existe atualmente (Figura 23) foi criado na década de 40,
durante a gestão de Janary Nunes, e fazia parte de um sistema de captação de água potável por
meio da construção de vários poços, Neca Machado afirma em seu blog39 que ele foi elaborado
pelo empreiteiro e escultor português Antonio Pereira da Costa (MACHADO, 2013). Como
esse foi o único poço remanescente, foi adotado o mesmo nome dado ao primeiro, portanto ele
é conhecido como “Poço do Mato”.

37
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 14 de março de 2020.
38
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 14 de março de 2020.
39
Relato disponível em: <www.necamachado.wordpress.com/2013/07/06/poco-do-mato/>. Acesso em 15 nov.
2021.
73

Figura 22 – Primeiro poço público para captação de água em Macapá-AP

Fonte: Álbum do Estado do Pará, 1908, p. 98.

Figura 23 – Poço do Mato ainda existente, 2020

Fonte: Acervo pessoal de Marcos Quadros, 2020.

A Figura 22 é datada de 1908 e faz parte do Álbum do Estado do Pará. Nela é possível
perceber a estrutura singela do poço, que se localiza em uma parte mais baixa da área que, na
época, ainda estava desocupada, circundada pela mata. Duas pessoas registradas pela fotografia
carregam baldes, os quais demonstram a precariedade de distribuição de água para a população,
assim como a maneira que a água era levada para as residências.
74

Na Figura 23, registrada no ano de 2020, pode-se perceber a diferença de tamanho


desse poço em relação ao outro, comparando-os a partir da escala humana. A estrutura também
contava com um pergolado em madeira e bancos ao redor. Suas paredes são revestidas com
azulejos. A placa em frente continha a Figura 22.
A Figura 24, da década de 50, mostra os poços construídos durante a gestão de Janary
Nunes, provável período em que foi construído o poço existente. Ao fundo, no canto superior
esquerdo, pode-se perceber a caixa d’água, a qual ainda está presente nas dependências da
Companhia de Água e Esgoto do Amapá (CAESA) até os dias atuais.

Figura 24 – Novos poços de abastecimento de água em Macapá

Fonte: João Lázaro, blog Porta-Retrato Macapá/Amapá.

O Poço do Mato era um lugar de abastecimento de água para a cidade, mas também
era visto como um local místico, com algumas crenças em lendas como a do passarinho, contada
por José Raimundo Sousa:
era que tinha um passarinho branco que os pais diziam pra gente não seguir
aquele passarinho que a gente ia, ia, era aparentemente mansinho, né, aquele
que tu chegava perto dele, mas quando a gente ia tentar pegar, ele voava mais
75

pra frente, aí a gente ia atrás disso, quando a gente pensava tomava por si, a
gente tava em algum lugar que a gente não sabia mais voltar pra casa.40

Algumas dessas lendas eram contadas pelos pais ou responsáveis por crianças com a
finalidade de livrá-los do perigo de afogamento nas águas daquela área, como relata a moradora
Cristina Almeida:

nós tínhamos a lenda do poço do mato, né, que as crianças eram proibidas de
ir pra lá, né, dizia que lá tinha uma, um mistério, né, uma, uma mãe d’água
naquele local e depois de 18 horas as crianças sumiam naquele local, então
ninguém ia, a única vez que nós se aproximamos um pouco das 18 horas um
cano preto que tinha no meio começou a afundar, a gente gritava muito
pedindo socorro uma pra outra, a gente achava que a gente ia sumir ali, nunca
mais eu voltei, e depois eu fui saber que era a hora que enchia, então os canos
sumiam, a gente era pequeninha, né, mas isso eu custei muito a saber.41

Outro fato marcante o qual demonstra a importância do local na memória macapaense


foi a homenagem feita pela Escola de Samba Mocidade Independente Império da Zona Norte
no ano de 2007, com o samba enredo “Poço do Mato: Águas Laguinhenses que Banharam Meu
Corpo e Saciaram Minha Sede!”. Nessa composição, o autor Carlos Pirú conta parte da história
do poço, nos trechos:

Século passado
Amapá Território Federal
Vida nova para o povo
Era preciso sanear a capital
Lá no Laguinho, rufa o tambor,
Água brota desse chão
Se constrói o Poço do Mato
Obra de divina inspiração (PIRÚ, 2007).

Nos versos ele relata a construção do poço atual, que aconteceu já durante o Território
Federal do Amapá. Essa “obra de divina inspiração” representava um progresso com relação às
instalações de saneamento da capital. O compositor então continua relatando o misticismo em
torno das histórias sobre o poço nas estrofes:

Ah, Poço do Mato, a tua existência


Se confunde com o Laguinho
Era lá que os meninos, passarinhavam
E despertavam a imaginação
Misticismo, contos e estórias
Agora é só recordação
Com arte, perseverança e fé
Te tornaram imortal
Na música e poesia

40
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 14 de março de 2020.
41
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 24 de fevereiro de 2021.
76

E num singular memorial (PIRÚ, 2007).

No verso que fala sobre a existência do poço se confundir com o Laguinho demonstra
o quanto a história dos dois lugares está conectada. O compositor também relata a imaginação
das crianças ao criarem as histórias sobre o lugar, mas que por conta do seu desuso e
esquecimento, hoje encontram-se imortais por meio da arte e do memorial escrito pela jornalista
amapaense Neca Machado.
Esse esquecimento da estrutura do poço pode ser observado pela ausência de políticas
públicas voltadas à promoção e preservação do local. A estrutura existente encontrava-se
desprotegida e no dia 30 de agosto de 2021, durante uma ação de recuperação asfáltica na
avenida Padre Manoel da Nóbrega, um dos pilares foi atingido pelo caminhão que realizava os
serviços e fez com que a sustentação cedesse (Figura 25).

Figura 25 – Poço do Mato após ser atingido por um caminhão, 2021

Fonte: Acervo pessoal de Marcus Valente (2021).

Compreende-se que pouco a pouco a materialidade do Poço do Mato está se esvaindo,


visto que suas manutenções são realizadas, em grande maioria, pelos próprios moradores, o que
não necessariamente traz a segura garantia de que se manterá nas gerações posteriores, além de
que, por conta da limitação de recursos, essas manutenções nem sempre são suficientes para
preservá-lo.
77

Outro ponto observado pelas entrevistas diz respeito às necessidades de serviço,


comércio, lazer e infraestrutura que os moradores sentem falta dentro do bairro. A entrevistada
Cristina Almeida diz que sente a necessidade de um espaço voltado ao turismo onde possa
também se incentivar o empreendedorismo afro, já Daniel Alves chama atenção para a ausência
de acessibilidade nas ruas do bairro, fato também apontado por Durica Almeida a qual ainda
destaca que o bairro tem uma presença muito forte de pessoas idosas, com baixa mobilidade, e
que sentem falta de espaços de sociabilidade adequados para a sua presença. Ao falar sobre o
Poço do Mato, José Antônio Sousa salienta para um aspecto muito importante de que se as
pessoas não o conhecem, não o valorizam. Ele relata que por vezes já ouviu perguntarem o
porquê de terem construído um poço no meio da rua e esclarece: “não, não fizeram o poço no
meio da rua, a rua que passou no poço”42.
Portanto, os seguintes fatores foram levados em conta na escolha do Poço do Mato
como local de intervenção dentro do bairro do Laguinho. O primeiro é quanto a sua relevância
cultural para o bairro, expressa nos relatos e na arte. O segundo é com relação à negligência do
poder público com as manutenções do poço e aos incentivos de propagação da sua história. O
terceiro é pela necessidade de um espaço de sociabilidade, visto que o único local atualmente é
a praça Chico Noé, que se encontra no final do bairro.
A fim de atender todas essas observações anteriormente citadas, será feita uma
requalificação do Poço do Mato com a criação de um espaço de convívio em sua proximidade,
a partir de uma apropriação de parte do lote do Companhia de Água e Esgoto do Amapá que se
encontra sem uso, localizada logo em frente ao poço. Como é possível notar na Figura 26,
atualmente a área possui uma árvore mangueira e a presença de uma vegetação desordenada,
há também um muro o qual será modificado a fim de gerar uma passagem mais livre entre a
área de convívio e o monumento do Poço do Mato.

42
Entrevista concedida a Juliana Quadros em 14 de março de 2020
78

Figura 26 – Área dentro do lote da CAESA a ser utilizada no projeto

Fonte: QUADROS, Juliana (2021)

Para o projeto será considerado a história do lugar, a memória das pessoas e diversas
referências que podemos encontrar dentro do bairro do Laguinho, na sua arquitetura, na sua
cultura, em seus empreendimentos, adequado às legislações e especificidades locais. Para isso,
se faz necessária a realização dos estudos preliminares a fim de desenvolver uma proposta
projetual.
79

CAPÍTULO 3 – “EU VOU FAZER A MINHA MORADA LÁ NOS CAMPOS DO


LAGUINHO”43

43
Frase retirada do Ladrão de Marabaixo “Aonde tua vai rapaz”, a qual retrata a retirada da população
afromacapaense do centro da cidade.
80

3.1 DEFINIÇÃO DO TEMA

O Poço do Mato é um importante patrimônio cultural material para a cidade de Macapá


e para o bairro do Laguinho. No entanto, seu abandono por parte do poder público e o
desconhecimento de sua história por parte da população local são agravantes para um possível
esquecimento e apagamento desse elemento.
De acordo com o que foi apreendido por meio do contato com alguns moradores do
bairro, há uma necessidade de um ambiente de convívio de qualidade, o qual seja acessível a
idosos e pessoas com deficiência, com espaços destinados à recreação infantil e à prática de
caminhadas. Também é importante destacar a ausência de um local para a promoção do
empreendedorismo afro dentro do bairro.
Levando em consideração essas duas questões, chega-se ao tema desse projeto: uma
área de convívio no entorno do Poço do Mato que promova o lazer, a cultura, o
empreendedorismo local e o bem-estar de seus usuários. A ideia é que a permanência no espaço
seja longa e presente na rotina semanal de seus utilizadores mais próximos. Para isso, além de
áreas de lazer, serão previstos lugares para descanso e contemplação, propícios para a leitura
de livros ou para conversas entre amigos.
As reflexões do projeto de intervenção estão pautadas em ações de requalificação, para
isso houve a necessidade de discorrer sobre a temática.

3.1.1 Requalificação urbana

Requalificar é um procedimento muito presente nas ações de planejamento urbano,


geralmente atribuído a intervenções em praças e centros históricos com o intuito de promover
e resgatar espaços de sociabilidade. O período pós-guerra, nas décadas de 40 a 70, antecedeu o
surgimento dessa concepção, visto que as cidades passaram por um intenso momento de
reconstrução econômica e social. Portanto, nas últimas décadas do século XX, essas áreas já
passavam por um processo de envelhecimento, que ocasionou o surgimento de políticas de
renovação, como o programa “Neighbourhood Renewal Strategy”44 na Inglaterra (MOURA,
GUERRA, et al., 2006).
De acordo com Sotratti (2015), essas ações foram inicialmente empregadas no Brasil
com o uso do termo “revitalização urbana”, o qual gerou uma discussão sobre o fato de sugerir

44
Em tradução livre: “estratégia de renovação de bairro”.
81

uma conotação excludente, visto que revitalizar tem o sentido de trazer nova vida,
consequentemente algumas ações tendiam a desconsiderar os usos e grupos que ocupavam tais
áreas antes da intervenção. O autor ainda destaca que o emprego do termo “requalificação
urbana” significou uma mudança, resultando na apresentação de propostas as quais buscam
recuperar e valorizar as origens e as verdadeiras representações sociais, o que traz uma
humanização ao processo e passa a ser uma estratégia de contenção do sistema de exclusão das
cidade contemporâneas.
A Carta de Lisboa (1995), que foi resultado do I Encontro Luso Brasileiro de
Reabilitação Urbana, define que a Requalificação Urbana é um conjunto de operações com o
intuito de restituir uma atividade adequada ao local e ao contexto contemporâneo. No entanto,
para a autora Otília Arantes (2002), essa técnica e seus sinônimos: revitalização, reabilitação,
revalorização, reciclagem, promoção e renascença, são eufemismos que encobrem o seu sentido
original de invasão e reconquista de um espaço por parte de populações mais abastadas. Esse
fato coloca a necessidade do conhecimento das relações simbólicas da população local, para
que não haja sua perda mediante as ações de intervenções nos espaços.
Vargas e Castilho (2006), em contrapartida, identificam que a recuperação dessas áreas
consiste em uma melhoria na imagem da cidade, além de criar um espírito de comunidade e
pertencimento por meio de uma perpetuação da história. Isso, ainda segundo as autoras, atrai
investimentos, moradores, usuários e turistas os quais acabam por dinamizar a economia
urbana.
Essa intervenção, de acordo com Vargas e Castilho (2006), exige uma avaliação de
sua herança histórica e patrimonial, de seu caráter funcional e de sua inserção na estrutura
urbana, mas o principal ponto a ser levado em conta é o motivo da necessidade de intervir. Em
geral, são três situações as quais levam a essa ânsia: recuperação da saúde ou manutenção da
vida; reparação de danos causados por algum acidente; ou para atender às exigências dos
padrões estéticos.
Tendo isso em vista, para que uma requalificação tenha mais resultados positivos do
que negativos, se faz necessário voltar a atenção para a compreensão do contexto no qual o
projeto se insere, tomando conhecimento da história, cultura e dinâmica do local, assim como
também dos signos e valores atribuídos a ele. Sobretudo, definir qual a necessidade de
intervenção, visto que “intervenção e cirurgia são palavras sinônimas” (VARGAS e
CASTILHO, 2006, p. 3), por isso, antes de qualquer ação, precisa-se entender os possíveis
interesses por trás dela.
82

3.1.2 Referências projetuais

Com o intuito de melhor compreender a aplicação desses conceitos estudados em um


projeto, algumas intervenções foram selecionadas como aparato para essa pesquisa. Buscou-se
por propostas com um porte pequeno ou médio que trouxessem um ambiente de sociabilidade,
com soluções pensadas para o local que se inserem.
A primera referência de requalificação é do projeto implantado em um largo próximo
a uma Igreja em Portugal de importante significação cultural para os moradores de seu entorno.
O projeto traz soluções simples mas que proporcionam um local mais adequado para a
socialização entre as pessoas. O segundo projeto analisado, de urbanização da V-Plaza na
Lituânia, traz modificações em proporções mais significativas e ousadas, mas que levam em
consideração a conexão local com a água. A a terceira análise é sobre o projeto Rua
Compartilhada, no estado do Ceará, no Brasil, que possui duas propostas executadas e mais
quatro estudos. O projeto traz uma proposta de pequenas intervenções com o intuito de criar
alguns espaços de respiro entre as ruas movimentadas.

3.1.2.1 Requalificação do Largo da Igreja, Fajã de Baixo em Ponta Delgada – Portugal

Situada na freguesia45 de Fajã de Baixo, na cidade portuguesa de Ponta Delgada,


localizada na Ilha de São Miguel, a Igreja Nossa Senhora dos Anjos possui um largo que é a
ligação entre a Igreja, a Casa Padre Manuel P. Pimentel, a Junta de Freguesia e o Centro I.C.
Ananás. A Figura 27 é um panorâma que mostra essa área. O largo é pavimentado com blocos
de concreto e possui uma calçada no centro a qual rodeia duas árvores. A Igreja possui uma
arquitetura que data do final do século XVIII, com uma fachada no estilo barroco tardio e ela
foi declarada como um imóvel de interesse público pelo Governo Regional dos Açores
(ALMANAQUE AÇORIANO, [s.d.]).

45
Menor divisão administrativa em Portugal.
83

Figura 27 – Largo e Igreja Nossa Senhora dos Anjos

Fonte: Vieitas Arquitetura e Design

A requalificação do Largo fez parte de um projeto de Orçamento Participativo e teve


o projeto assinado pelos arquitetos Alexandre Picanço e Paulo Vieitas, no ano de 2018. A área
delimitada é de 918.50m². De acordo com os autores, o projeto de arranjo urbanístico teve o
objetivo de devolver a esse espaço urbano “a dignidade e uso, perdidos, quer no sentido do
ordenamento de tráfego, bem como do uso pelo público em geral” (PICANÇO e VIEITAS,
2018, p. 2), visto que, por o espaço ser condicionado pelo tráfego de automóveis, não permitia,
na opinião dos autores, o usufruto dos potenciais que a praça ofertava, pois os pedestres
possuíam menor prioridade nesse lugar. Além disso, o local não possuía estrutura adequada
para atividades festivas (PICANÇO e VIEITAS, 2018).
Na elaboração da proposta, os arquitetos apontaram cinco reflexões e soluções. A
primeira consta sobre a relação de uso da cidade pelas pessoas, onde destacaram que o entorno
de zonas pedonáveis adquiriam uma atmosfera social e ambiental mais agradáveis e
confortáveis, tornando o ambiente propício para relações sociais, além de que “é também nestes
espaços públicos, que a valorização arquitetónica e cultural, se valoriza a si mesma, pela relação
próxima com as pessoas” (PICANÇO e VIEITAS, 2018, p. 2). A fim de inverter essa situação,
o projeto conta com a limitação do tráfego de veículos no espaço da praça, como é possível ver
na Figura 28.
84

Figura 28 – Planta que mostra a alteração da malha viária do largo

Fonte: Vieitas Arquitetura e Design

A segunda constatação era com relação ao “Coreto” como um elemento urbano de


convívio social utilizado em várias freguesias da região, que os levou ponderar que, apesar de
funcionar como esse espaço de encontro, constituía, em uma praça de pequeno porte, um
elemento de ruído visual, que poderia acabar por desvalorizar os edifícios do entorno.

Não querendo abdicar do conceito deste elemento, pela sua importância social,
mas querendo rejeitar a forte presença volumétrica que o mesmo poderia
causar, optou-se por desenhar um elemento central, que surge como uma
reinterpretação desse mesmo “Coreto”, que servirá como referência na
utilização da praça, e organizador de todo o espaço (PICANÇO e VIEITAS,
2018, p. 2).

Essa reinterpretação do coreto consistiu em um elemento sobre-elevado o qual


apresenta dois usos principais: como banco e como palco (PICANÇO e VIEITAS, 2018). O
elemento central possui uma forma irregular e se constitui em grande parte de madeira, sendo
somente a área que funciona como palco com o mesmo piso da praça. Os bancos não são
desmembrados do elemento, são somente delimitados pelo encosto, o que permite uma
liberdade para o usuário no espaço.
A terceira reflexão proposta foi em relação à pavimentação da praça, a qual em tempos
passados, como observado pelos arquitetos em fotografias antigas da cidade, possuía um caráter
humilde e simples, adequado ao perfil social da época. Portanto, decidiram que o pavimento da
85

praça fosse único e de cor escura “e que surja do reordenamento e da reutilização das calçadas
existentes, quer portuguesa em basalto, quer em paralelepípedos” (PICANÇO e VIEITAS,
2018, p. 3).
A quarta reflexão se voltava à reestruturação do tráfego de veículos, os quais ainda
teriam sua circulação permitida, com exceção de estacionamentos permanentes e serviços de
táxi, delimitando a área pedonal e de veículos com linhas contínuas em pedra de calcário branca.
Na Figura 29 pode-se analisar o resultado dessas reflexões (PICANÇO e VIEITAS, 2018).

Figura 29 – Elemento central e pavimentação do largo

Fonte: Archdaily, foto de Paulo Prata

A quinta reflexão é relacionada à iluminação noturna, representada no estudo da Figura


30, que possui um foco para as árvores e para os edifícios (PICANÇO e VIEITAS, 2018).
Quanto às árvores, pode-se parceber que, na foto acima, tirada após a implatação do projeto,
estas tiveram sua copa podada, apesar de não constar no memorial disponibilizado nenhuma
informação quanto a isso, portanto se desconhece a natureza dessa ação.
86

Figura 30 – Estudo de iluminação pública do largo

Fonte: Vieitas Arquitetura e Design

Nesse projeto alguns pontos são muito importantes para serem levados em
consideração. Primeiramente o fato de que o elemento central não gerou uma poluição visual
no largo, assim como não tira o foco dos bens patrimoniais de seu entorno. Outro ponto
interessante é que o grande deck elevado proporciona ambientes de interação no entorno das
árvores existentes e a alteração da estrutura viária colabora para a presença de pedestres nesse
ambiente. Em contrapartida, a proximidade entre a área de circulação de veículos e pessoas
acabou ficando muito próxima e não foi prevista nenhuma barreira física de separação, somente
a linha delimitatória. Por fim, a escala da intervenção é a grande chave do projeto, visto que ela
está totalmente de acordo com o local em que se insere e com seu entorno existente, além de se
adequar a um uso diário e para eventos.

3.1.2.2 Requalificação Urbana V-Plaza, Caunas – Lituânia

A área livre entre edifícios históricos e contemporâneos da segunda maior cidade da


Lituânia, era utilizada como estacionamento para veículos. Com a finalidade de redesenhar o
espaço para criar um ambiente de transformação social, o escritório 3deluxe, de acordo com o
87

artigo no site Arch2046, elaborou um projeto que refletiu o espírito de inovação do país, sem
deixar de lado a preservação da herança cultural (ARCH20, s.d.).
A V-Plaza se localiza no bairro Centras, na cidade de Caunas, próxima ao Museu da
Grande Guerra Vytautas e ao centro de negócios multifuncional BLC, que funciona na estrutura
de um coworking.
O antigo estacionamento contava somente com um calçamento e um canteiro com
grama, como é possível notar na Figura 31, retirada do Google Street View antes do início da
execução do projeto. A área não estava degradada, mas sua forma e sua ausência de
equipamentos não propiciavam ambientes de encontro entre pessoas.

Figura 31 – Área de implantação do projeto V-Plaza

Fonte: Google Street View, 2020

O novo estacionamento passou a ser subterrâneo e as áreas de desníveis foram


aproveitadas para criar diferentes níveis de assentos. Além disso, as formas sinuosas geradas
com vegetações, decks de madeira e água compõem o desenvolvimento desse design inovador
que buscou-se trazer (Figura 32) (ARCH20, s.d.). A criação desse lago artificial é um ponto
muito interessante no projeto, visto que a cidade de Caunas é cortada em três partes por dois
rios: Neman e Neris (mapa da cidade na Figura 33). Sua implantação reforça uma relação que
existe entre os moradores e a água. Além disso, sua localização aproveita a diferença de níveis
para manter a água em constante movimento. A área promove bons espaços para aproveitar o

46
Para informações sobre o projeto ver: <www.arch2o.com/v-plaza-urban-development-3deluxe-architecture/>.
88

sol, encontrar-se com amigos, mas seu uso não se limita a simples contemplação, visto que o
lago foi pensado para que as crianças pudessem brincar.

Figura 32 – Requalificação do V-Plaza

Fonte: Arch20, foto de Norbert Tukaj

Figura 33 – Cidade de Caunas, Lituânia, cortada por dois rios

Fonte: Google Maps, 2021

O projeto se conecta com um dos prédios de seu entorno por meio de um café
localizado no térreo da edificação, como pode-se observar na parte superior da Figura 34. No
lado esquerdo superior da figura encontra-se uma escada com algumas partes revestidas em
madeira, estrutura que compõe uma espécie de anfiteatro com espaço para um telão temporário.
89

A área livre na parte inferior direita da figura é reservada para a realização de feiras e eventos
abertos ao público.

Figura 34 – Vista superior da V-Plaza

Fonte: Arch20, foto de Norbert Tukaj

O projeto previu uma área para a prática de Skate Street (Figura 35), que aproveitou a
subida das pistas para formar canteiros mais altos e espaços propícios para descanso. Além
disso, possui uma boa circulação para caminhadas e uso de bicicletas, patins, patinetes, entre
outros equipamentos esportivos. Nota-se também a presença constante de lixeiras pública e
postes de iluminação.
90

Figura 35 – Pista de Skate Street na V-Plaza

Fonte: Arch20, foto de Norbert Tukaj

A implantação do projeto certamente transformou a paisagem e o uso desse espaço, o


qual tornou-se convidativo para o convívio de pessoas, principalmente pelas várias
possibilidades de uso do local: esportivo, alimentício e de sociabilidade. No entanto, as baixas
temperaturas de Caunas propiciam um uso agradável de espaços sem sombreamento, o que
justifica a pouca arborização do local, ponto completamente oposto da cidade de Macapá, que
possui o clima equatorial úmido. É interessante destacar que as sinuosidades formam ótimos
ambientes de reunião além de comporem a estética desejada para a proposta, tornando o local
agradável para encontros entre pessoas.

3.1.2.3 Projeto Rua Compartilhada no Ceará – Brasil

O conceito de “rua compartilhada” consiste em transformar o espaço da rua para que


favoreça um modo ativo por parte dos usuários, tanto motoristas quanto pedestres e ciclistas.
Para aumentar a segurança de quem está transitando, a área de transeuntes, veículos e biclicletas
não são claramente sinalizadas, fazendo com que todos utilizem a rua de forma mais atenta e
cautelosa. A ideia é que sejam utilizados reguladores de trânsito a fim de reduzir a velocidade
91

dos transportes, esses recursos podem ser grupos de árvores, bancos, lixeiras e espaços públicos
inseridos no contexto da rua, assim os veículos passam a ter a sensação de estarem invadindo
um espaço público (GARCÍA, OCAMPO, et al., 2015).
No Brasil, o ateliê de arquitetura e urbanismo “Estar urbano” desenvolveu o projeto
“Rua compartilhada”, a definição do projeto “é uma rua projetada para segurança e conforto do
pedestre, onde carros, motos e bicicletas podem transitar em baixa velocidade” (ESTAR
URBANO, s.d.). Ele se divide em três etapas: as primeiras são “PROJETAR”, onde se definem
os elementos e materiais os quais serão adotados a fim de estabeler o tráfego calmo, e
“SENTIR”, em que ocorre uma escuta ativa dos moradores do entorno com a finalidade de
incorporar seus desejos ao projeto. Após executado, entra em ação a etapa “CONECTAR”, a
qual consiste em ações culturais e artísticas na rua compartilhada e a implementação do
equipamento destinado à troca de livros, o “Saber Urbano” (ESTAR URBANO, s.d.).
Oriundos desse projeto, cinco estudos já foram realizados no estado do Ceará, são eles:
Rua Compartilhada Otoní Façanha, Rua Compartilhada Dragão do Mar, Olhar a Cidade Ipu,
Olhar a Cidade e Olhar a Cidade São Benedito (ESTAR URBANO, s.d.). A primeira
experiência executada foi a Rua Otoní Façanha de Sá, que fica próxima ao Hospital São Carlos,
na cidade de Fortaleza. O projeto se estende desde a entrada do Hospital até à Praça Rogério de
Souza Froes, local que antes era ocupado pelo trânsito e estacionamento de veículos, como
pode-se notar na Figura 36 a seguir.

Figura 36 – Rua Otoní Façanha de Sá antes da implantação da Rua Compartilhada

Fonte: Estar Urbano

Apesar do conceito apontar para uma convivência harmônica entre os diversos


usuários da rua, nesse projeto o trânsito de veículos automotores foi limitado às ambulâncias,
portanto, o espaço voltou-se ao uso de pedestres e ciclistas (PREFEITURA DE FORTALEZA,
2015). Na planta da Figura 37 é possível identificar que a rua foi nivelada com o passeio a partir
92

de uma faixa de pedestres. Foram instalados lixeiras públicas, canteiros, placas, bancos, jardins
verticais, bicicletários, além da implantação de árvores. O piso ao longo da via é intertravado e
com o sistema drenante.

Figura 37 – Projeto da Rua Compartilhada Otoní Façanha de Sá

Fonte: Estar Urbano

Parte do muro recebeu uma pintura artística e cheia de cores que trouxeram uma nova
paisagem para o local. Há também uma diferenciação nas cores do piso, como é possível notar
na Figura 38 abaixo.

Figura 38 – Cores na Rua Compartilhada Otoní Façanha de Sá

Fonte: Estar Urbano

A iluminação foi distribuída em diversos locais, como balizadores ao longo da rua,


arandelas espalhadas pelo muro, como pode-se perceber na Figura 39, além dos postes já
93

existentes. Alguns bancos foram posicionados no entorno de árvores, a fim de se aproveitar o


sombreamento das copas.

Figura 39 – Iluminação e vegetação na Rua Compartilhada Otoní Façanha de Sá

Fonte: Estar Urbano

Ao analisar a área pelo Google Street View do ano de 2019 (Figura 40), percebe-se
que alguns equipamentos e pintura necessitam de manutenção, mas que o espaço costuma ser
utilizado como descanso e pelos ciclistas para abrigar suas bicicletas.

Figura 40 – Rua Compartilhada Otoní Façanha de Sá em 2019

Fonte: Google Street View, 2019

O espaço funciona quase como um respiro dentro de uma cidade tão movimentada
quanto Fortaleza. Outro estudo interessante de analisar é o do Dragão do Mar, apesar de não ter
94

sido executado ainda, pelo fato de se localizar no entorno de patrimônios culturais da cidade de
Fortaleza.
O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura foi construído a partir de um projeto de
requalificação da antiga área portuária de Fortaleza, inaugurado em 1999. As edificações com
interesse à preservação do entorno foram quase todas restauradas e receberam um novo uso. No
entanto, por conta de diversas problemáticas administrativas, o local desperta variadas opiniões
em seus usários, seja por insegurança, seja por ser considerada uma área elitizada (GODIM,
2011).
O estudo feito pelo Ateliê Estar Urbano na rua Dragão do Mar (rua que fica ao lado do
centro), data do ano de 2016 quando a área ainda era liberada ao acesso de veículos. A proposta
(Figura 41) consiste na implantação de novas árvores e de um lado da via a construção de um
deck abrigando bancos, jardineiras, placas, mesinhas com iluminação indireta, além de um
bicicletário, e do outro lado mais bancos e algumas vegetações rasteiras. A via teria uma pintura
em dois tons de azul e seria limitada ao uso de pedestre e ciclistas, visto que o estudo prevê
uma barreira para veículos maiores.

Figura 41 – Estudo de Rua Compartilhada Dragão do Mar

Fonte: Estar Urbano

As intervenções propostas pelo projeto Rua Compartilhada podem ser classificadas


como ações de Acupuntura Urbana: de rápida execução, de caráter reversível e,
preferencialmente, de baixo custo. De acordo com Moreira (2020), essas intervenções são como
as agulhas da prática milenar chinesa de acupuntura, visto que são pontuais e capazes de gerar
95

mudanças significativas. Por outro lado, o projeto foge do conceito de compartilhamento do


espaço entre os diferentes usuários, visto que nessas duas propostas analisadas o uso de veículos
foi limitado ou proibido.
Observando essas três referências abordadas nesse item, alguns elementos se repetem
nos projetos, como o uso da madeira nos bancos e nos decks, a diferenciação de pisos e o uso
de níveis distintos para delimitar espaços. A vegetação também auxilia na composição de um
ambiente acolhedor, assim como a diversidade de usos atrai a presença das pessoas.
A partir desses estudos, entende-se que um local projetado para descanso e lazer em
áreas de interesse à preservação devem ser convidativos ao público, por meio da diversidade de
usos. Em virtude disso, é importante que o profissional arquiteto compreenda as dinâmicas do
lugar, observando os aspectos de acessibilidade, conforto e valorização da memória do local.
O projeto de intervenção no Poço do Mato deve considerar a história do bairro em que
se insere e as necessidades da população que habita em seu entorno, com o intuito de aproximar
as pessoas a esse importante elemento da história da cidade de Macapá e do bairro do Laguinho.

3.2 CARACTERIZAÇÃO DOS USUÁRIOS

O local destina-se principalmente aos moradores do entorno do Poço do Mato, visto


que a intenção é de que esse espaço seja utilizado em seu dia a dia. Mas também, pelas suas
características culturais e por estar presente na memória da população macapaense, destina-se
a eventuais visitantes, residentes na cidade ou não, com o intuito de tomar conhecimento da
história do Poço do Mato e de sua importância para a história da cidade, além de usufruir dos
demais usos do local. Um ponto principal do projeto é de que seja acessível a todos.

3.3 PROGRAMA DE NECESSIDADES

Analisando a caracterização da clientela e das diretrizes colocadas na descrição do


tema do projeto, definem-se os seguintes itens do programa de necessidades:
a – Poço e bancos
b – Memorial do bairro do Laguinho e do Poço do Mato
c – Área de convívio
d – Playground
e – Pista de caminhada
96

A fim de tornar o programa mais compreensivo e ordenado, dispõe-se os itens de


acordo com os setores de funções afins, portanto tem-se os setores: convívio e contemplação,
comercial, cultural, lazer e prática esportiva e serviço, os quais estão detalhados na tabela 3:

Tabela 3 – Setorização do programa


Setor Nome do ambiente Função
Observação do bem, leitura de livros,
Poço e bancos
conversa entre amigos
Convívio e contemplação
Leitura de livros, conversa entre
Área de convívio
amigos, descanso, piqueniques
Memorial do bairro
Conhecimento da história do local,
Cultural do Laguinho e do
divulgação de artes e objetos
Poço do Mato
Playground Espaço destinado ao lazer infantil
Lazer e prática esportiva
Pista de caminhada Pista para a prática de caminhada
Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

3.4 RELAÇÕES DO PROGRAMA

Para Laert Neves (1989), dentro do programa arquitetônico existem ambientes os quais
se interligam de acordo com suas afinidades funcionais. Essa é uma importante etapa para
definir questões do partido arquitetônico, portanto elaborou-se o diagrama da Figura 42 no qual
se demonstram as relações dos espaços do projeto e os acessos.

Figura 42 – Diagrama de relações do programa

Fonte: QUADROS, Juliana (2021)

A ideia é que todos os espaços possam ser acessados sem a necessidade de passar por
outro, assim como se conectem o máximo possível, para que se expandam as possibilidades de
uso e se torne convidativo e acolhedor para todos.
97

3.5 PRÉ-DIMENSIONAMENTO

No projeto arquitetônico, Neves (1989) destaca que o uso de referências dimensionais


de espaço são componentes do raciocínio de elaboração. O pré-dimensionamento é uma
estimativa das áreas do projeto, etapa cujo enfoque é bidimensional a qual pode sofrer
alterações conforme a inserção de novas variáveis, porém não é interessante que se altere mais
que 10% do que foi estudado previamente. Portanto, deve ser feito de forma que satisfaça a
todas as exigências do programa, das atividades e do tema (NEVES, 1989).
O pré-dimensionamento (tabela 4) desse projeto foi elaborado de forma que atendesse
a proporções adequadas ao terreno em que se insere, mas sem deixar de lado a acessibilidade
dos ambientes, a fim de que atenda a maior diversidade de públicos possíveis.

Tabela 4 – Pré-dimensionamento do projeto


Nome do Área útil
Setor Croqui do ambiente Mobiliário
ambiente (m²)
12 bancos
Poço e (1x0,40m) e
128,70
bancos poço edificado
(d=5,56m)
Convívio e Deck baixo
contemplação (d=6m) e deck
Área de elevado (d=6m)
50,90
convívio com banco
entre eles
(4,22x0,40)
Área total do setor 177,60
1 balcão em L
Memorial (1x1,10x0,40m)
do bairro e e espaço para
Cultural 40,00
do Poço do exposição de 14
Mato fotos ou textos
(1,40x0,60)
Área total do setor 40,00
Piso
antiderrapante e
Pista de
placas com a 90,90
caminhada
metragem
caminhada
Gangorra
Lazer e
acessível
prática
(1,80x3,61m),
esportiva
carrossel gira-
Playground gira acessível 126,24
(d=2,50m) e
balanço
acessível
(2x3m)
Área total do setor 217,14
98

Área útil total 434,74


30% de circulação e paredes 130,42
Área total do projeto 565,16
Área total do projeto no lote da CAESA (área útil + área de circulação) 397,85
Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

Considerando que a taxa de ocupação máxima de construção no lote de CAESA é de


420,00m², as provisões obtidas pelo pré-dimensionamento não ultrapassaram esse limite.
Acrescido a isso, pretende-se fazer o uso de pisos permeáveis nas áreas descobertas, como nos
caminhos, playground e pista de caminhada a fim de colaborar com a permeabilidade do solo
para evitar problemas com inundações decorrentes de intempéries.

3.6 ESTUDOS PRELIMINARES

Este tópico tem como objetivo apresentar os estudos preliminares do projeto de


Requalificação do Poço do Mato. Esta fase é considerada parte do estágio inicial do processo
projetual que, de acordo com o autor Elvan Silva (2006, p. 80), “se analisa o problema, para a
determinação da viabilidade de um programa e do partido a ser adotado” e se leva em
consideração diversas condicionantes, como as características do terreno e o contexto em que
está inserido.
A escolha do local de intervenção se deu a partir dos estudos realizados acerca das
memórias dos Laguinenses e por meio das entrevistas feitas em que se recolheu anseios quanto
às necessidades de espaços dentro do bairro. Também se levou em conta o período de pandemia,
escolhendo a proposta em uma área que apresenta maior viabilidade e segurança para realizar
os levantamentos necessários para o desenvolvimento do trabalho.
O Poço do Mato é uma região muito presente na memória dos moradores do bairro do
Laguinho e, por estar em um espaço público de livre acesso, atendeu aos requisitos de segurança
para a realização da pesquisa. Portanto, após analisar seu entorno, notamos que havia uma área
sem uso dentro do terreno da Companhia de Água e Esgoto do Amapá – CAESA, a qual poderia
funcionar como uma área de convívio em frente ao poço.

3.6.1 Localização

A área de intervenção se localiza no bairro do Laguinho, na cidade de Macapá, capital


do Amapá. O poço fica na avenida Mateus Azevedo Coutinho, também conhecida como
avenida Padre Manoel da Nóbrega, entre as ruas General Rondon e São José. Está a
99

aproximadamente 700m de distância da Igreja São José, a edificação mais antiga de Macapá, e
a 1,4 km da majestosa Fortaleza de São José de Macapá, vide Figura 43. O poço se encontra
depredado como é possível observar na Figura 44 e a área dentro do terreno da CAESA
encontra-se logo à frente do poço e está atualmente sem uso por parte da Companhia, vide
Figura 45.

Figura 43 – Localização da área do Poço do Mato e da CAESA

Fonte: QUADROS, Juliana (2021)


100

Figura 44 – Poço do Mato em setembro de 2021

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

Figura 45 – Área de intervenção dentro da CAESA

Fonte: QUADROS, Juliana (2021)

3.6.2 Estudos de análise do terreno

A área de intervenção, como pode ser observado na Figura 46 tem aproximadamente


7.596,70m² e compreende a extensão da avenida Padre Manoel da Nóbrega, entre as ruas
General Rondon e São José, ou seja, ao longo do quarteirão onde está localizado o Poço.
Também integra uma parte do lote da CAESA, com as dimensões 35 metros de comprimento
por 15 metros de largura. O poço edificado possui 5,56m de diâmetro e o conjunto todo, com
bancos e floreiras, possui aproximadamente 8,80m de diâmetro.
101

Figura 46 – Área de intervenção do projeto

Fonte: QUADROS, Juliana (2021) com base nas imagens de satélite do Google Earth

Devido à largura da avenida, o espaço destinado às calçadas possui uma boa dimensão,
com 4,40 metros de um lado e 2,80 metros do outro. No entanto, com o poço localizado em
uma das faixas de rolagem torna possível a passagem de somente um veículo por vez nas
proximidades dele. A Figura 47 mostra as dimensões da área de intervenção.

Figura 47 – Dimensões da área de intervenção

Fonte: QUADROS, Juliana (2021)

Quanto aos mobiliários urbanos existentes, o trecho conta somente com postes de
iluminação e bancos ao redor do poço, como exposto na Figura 48.
102

Figura 48 – Mobiliários urbanos da área de intervenção

Fonte: QUADROS, Juliana (2021)

A via possui uma declividade até o centro, com um formato de concha que converge
nas proximidades do Poço, como representado no esquema da Figura 49. Essa peculiaridade
traz para o projeto uma atenção maior com a questão da acessibilidade e o aproveitamento dos
desníveis do local.

Figura 49 – Esquema topográfico da área de intervenção do projeto

Fonte: SEMOB, adaptado por QUADROS, Juliana (2021)

De acordo com Tavares (2014), os ventos predominantes na cidade de Macapá são no


sentido nordeste e, de forma geral, possui um vento fraco a moderado, considerando-se um
local ventilado. Seu clima é classificado como equatorial úmido e tem duas estações muito
diferentes: no período de dezembro a julho é considerado muito chuvoso e no período de agosto
a novembro é menos chuvoso, principalmente nos meses de outubro e novembro, os quais são
mais secos e possuem altas temperaturas (TAVARES, 2014). O esquema da Figura 50
103

demonstra a localização do sol nascente e poente na área de intervenção e situa a direção dos
ventos.

Figura 50 – Esquema ventilação e insolação

Fonte: QUADROS, Juliana (2021)

Quanto ao levantamento da área de intervenção, destaca-se que o poço é revestido com


cerâmica nas cores branca e verde e possui o diâmetro de 5,56 metros pela parte externa e,
atualmente, é rodeado por bancos e floreiras de concreto os quais encontram-se quebrados após
o acidente ocorrido em agosto de 2021. Todo o conjunto possui 8,46 metros de diâmetro e sua
104

altura externa é de 0,60 metros e a interna é de 1,20 metros. Essas informações podem ser
observadas na Figura 51.

Figura 51 – Levantamento esquemático do Poço do Mato

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

A área proveniente do lote da CAESA possui uma árvore Mangueira com a copa de
aproximadamente 7,00 metros de diâmetro. O terreno de 35x15 metros com área de 525m²,
representado na Figura 52, possui um desnível acidentado e outro desnível menos acidentado.
105

Figura 52 – Terreno proveniente do lote da CAESA

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

3.6.3 Relações com o entorno

O entorno contém diversos usos, sendo o uso residencial predominante, seguido do


uso comercial e misto. Há também uma forte presença de edificações institucionais e a
disponibilidade de clínicas de saúde. As escolas Azevedo Costa (ensino público) e Centro de
Ensino Podium (ensino particular) encontram-se bem próximas ao poço. Quanto a áreas de
convívio, não há nenhuma nesse entorno imediato além do Banco da Amizade, na rua General
Rondon. Apesar de o Centro de Cultura Negra do Amapá possuir esse potencial de ser um
espaço de sociabilidade, seu acesso não é livre em todos os momentos do dia, tendo seu uso
voltado a festividades e ao funcionamento de associações. Na Figura 53 pode-se observar os
demais usos nas quadras adjacentes.
106

Figura 53 – Mapa de uso e ocupação do solo

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

Apesar da verticalização no bairro do Laguinho ter avançado a partir dos anos 2000,
observa-se que nos arredores da área predominam edificações baixas, de até 6 pavimentos. Na
Figura 54 pode-se analisar o gabarito das quadras adjacentes.
107

Figura 54 – Mapa de altura das edificações

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

A partir da skyline do trecho da intervenção voltado ao lote da CAESA (Figura 55)


nota-se a declividade da área em relação ao início da avenida na esquina com a rua General
Rondon, em um formato de concha. Também pode-se perceber a presença de algumas árvores
nas calçadas e outras no interior dos lotes particulares. As edificações desse lado são
predominantemente térreas.
108

Figura 55 – Skyline da quadra (lado da CAESA, sentido R. Gen. Rondon para R. São
José)

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

No lado da quadra voltado para a vista do Poço do Mato é possível identificar na


skyline da Figura 56 alguns imóveis com dois pavimentos, mas que não representam
significativa altura no entorno do poço, visto que essa área da rua possui um nível menor em
relação ao início da rua.

Figura 56 – Skyline da quadra (lado do Poço do Mato, sentido R. Gen. Rondon para R.
São José)

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

Os acessos ao local se dão no sentido zona sul – zona norte pela Rua General Rondon,
no sentido zona norte – zona sul pelas ruas São José ou Eliézer Levy e no sentido zona leste –
109

zona oeste pela avenida Padre Manoel da Nóbrega. Em seu entorno imediato, existem quatro
esquinas com semáforos e duas faixas de pedestre, como representado na Figura 57.

Figura 57 – Mapa do sistema viário

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

Há 19 linhas de ônibus que passam nos pontos próximos ao Poço do Mato, as quais
partem das diferentes zonas da cidade, norte, sul e oeste, também da cidade vizinha, Santana,
fazendo com que a área se torne de fácil e amplo acesso. Na Figura 58, foram destacadas as
paradas mais próximas ao poço e o percurso que as diversas linhas fazem.
110

Figura 58 – Linhas de transporte público que passam próximo ao Poço do Mato

Fonte: QUADROS, Juliana (2021) com base nas informações do aplicativo Moovit.

Com relação à arborização das quadras adjacentes ao Poço do Mato, percebe-se na


Figura 59 que algumas vias, como a Rua General Rondon e a avenida Enerstino Borges,
possuem uma boa cobertura de vegetação arbórea, mas nota-se alguns trechos com carência de
111

sombreamento, um fator a ser levado em consideração para o conforto dos pedestres, visto que
Macapá é uma cidade a qual costuma ter altas temperaturas em seus meses de estiagem.

Figura 59 – Mapa de arborização urbana

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

Quanto aos mobiliários urbanos do entorno, é possível notar por meio da Figura 60
que há a presença de alguns bancos próximos ao Centro de Cultura Negra, à Escola Azevedo
Costa e ao Poço do Mato, mas que por sua localização pouco são utilizados, além de não
atenderem às necessidades de alguns entrevistados dessa pesquisa. Quanto às lixeiras públicas,
somente uma foi identificada e os postes de iluminação não são suficientes para iluminar as
vias de forma que fique um local seguro para pedestres à noite.
112

Figura 60 – Mapa de mobiliário urbano

Fonte: QUADROS, Juliana (2021)

3.6.4 Legislação urbana da área

Essa proposta tem como intuito criar uma área de convívio de livre acesso ao público
a partir de um espaço sem uso dentro do lote da CAESA. Os usos propostos serão voltados à
difusão da cultura do bairro e da história do local e do Poço do Mato e ao convívio, com pontos
destinados à diversão, levando em conta a proporções do local. Além disso, serão propostas
melhorias nas calçadas, visto que não possuem acessibilidade e continuidade, assim como trazer
uma estética diferenciada à via, a fim de destacar o patrimônio cultural.
De acordo com a Lei de Uso e Ocupação do Solo de Macapá, a área do Poço do Mato
se insere no Setor Misto 4 – SM4 e possui as diretrizes específicas de incentivo à média
densidade, de estímulo à verticalização baixa (até 5 pavimentos, com altura máxima de 23,00
metros) e de incentivo à implantação de atividades comerciais e de serviços que sejam
compatíveis com o uso residencial e de atividades de comércio e de serviços especializados
(PREFEITURA MUNICIPAL DE MACAPÁ, 2004; PREFEITURA MUNICIPAL DE
113

MACAPÁ, 2017). Portanto, os usos propostos se encaixam dentro das diretrizes municipais,
visto que são compatíveis com o uso residencial e não representam um grande impacto.
Outros parâmetros de ocupação do solo são estabelecidos pelo Plano Diretor, como o
coeficiente máximo de aproveitamento do terreno, que deve ser de 3,1, a taxa de ocupação
máxima é de 80% do lote com pelo menos 20% de área permeável. Quanto aos afastamentos,
deve-se respeitar a dimensão de 3,00 metros na testada frontal e 0,15 vezes a altura máxima da
edificação para os demais lados. A fim de estimar as áreas disponíveis para construção dentro
do lote, foi desenvolvida a tabela 5:

Tabela 5 – Taxas de ocupação do solo no Setor Misto 4


Parâmetros de ocupação do solo Valores Área do terreno Total
Coeficiente de aproveitamento do terreno 3,1 1.627,50m²
Taxa de ocupação 80% 525m² 420,00m²
Taxa de permeabilidade 20% 105,00m²
Fonte: QUADROS, Juliana (2021)

Quanto a adequação das calçadas respeitando os critérios estabelecidos pelo Código


de Obras e Instalações de Macapá tem-se as seguintes dimensões para calçadas com dimensão
superior a 2,00 metros de largura: 0,70 metros de faixa de serviço, 1,20 metros de faixa livre e
0,10 metros de faixa de acesso. Considerando as larguras existentes de 4,40 metros e 2,80
metros de calçada existente no trecho da intervenção, adequam-se as seguintes medidas para a
largura de 4,40 metros: 1,10 metros de faixa de serviço, 1,20 metros de faixa livre e 2,10 metros
de faixa de acesso; e para a largura de 2,80 metros: 1,00 metro de faixa de serviço, 1,20 metros
de faixa livre e 0,40 metros de faixa de acesso. A sinalização tátil deverá estar disposta por toda
a extensão da calçada, no eixo da faixa livre. Com relação ao acesso de veículos aos lotes, as
rampas devem ser feitas nas faixas de serviço e acesso, visto que a faixa livre só poderá ter a
inclinação transversal máxima de 3%.
Com relação aos parâmetros para o sistema viário em vias arteriais coletoras, como se
classifica a avenida Padre Manoel da Nóbrega, o anexo IV da Lei de Parcelamento do Solo
Urbano alteração de 2017 define que os logradouros devem ter 15,00 metros, com duas faixas
de tráfego de 3,50 metros, canteiro central de dimensão variável e passeios com 2,00 metros. O
114

fato de a avenida Padra Manoel da Nóbrega possuir 20,90 metros de logradouro possibilita uma
boa adequação da via ao que se é solicitado.

3.6.5 Normas de acessibilidade

Um dos principais pontos dessa proposta é que esse local de convívio na área do Poço
do Mato seja acessível para todos, portanto serão respeitadas as diretrizes da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) instituídas na Norma Brasileira (NBR) 9050:2020 -
Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, que determina que
parques, praças e locais turísticos devem ser dotados de rotas acessíveis, com pisos de superfície
regular, firme, estável, antiderrapante e não trepidante para dispositivos com rodas, com
sinalização visual e tátil no piso, com inclinação transversal de até 2% em pisos internos e 3%
para pisos externos, e inclinação longitudinal inferior a 5%, visto que acima desse valor já se
considera como rampa. A NBR 9050:2020 também recomenda que pelo menos 5%, ou no
mínimo uma, do total de mesas destinadas ao lazer ou à alimentação sejam acessíveis à rota
acessível, com espaço de no mínimo 0,80 x 1,20 metros destinado à aproximação frontal e que
permita uma circulação de 180º para uma pessoa em cadeira de rodas. As mesas devem ter
altura entre 0,75 metros e 0,85 metros e abaixo do tampo deve ter um espaço livre de 0,73
metros de altura e 0,50 metros de profundidade (ABNT, 2020).
Com relação às vagas de estacionamento, a Lei de Uso e Ocupação do Solo de Macapá
não determina uma quantidade mínima de vagas de estacionamento para praças e áreas de
convívio, mas a NBR 9050:2020 determina que deve haver vagas reservadas para pessoas
idosas e com deficiência, com uma distância máxima de 50m de acesso ao local. Considerando
que o espaço destinado ao estacionamento de veículos será adjacente ao meio fio, serão
destinadas 3 vagas prioritárias, sendo 1 para pessoa idosa, 1 para pessoa com deficiência (esta
com espaço adicional de 1,20 metros de largura) e 1 para mulher grávida.
Também devem ser adotados os princípios do desenho universal, que consistem em
um uso equitativo para diversas pessoas, uso flexível para diferentes preferências e habilidades,
uso simples e intuitivo que seja de fácil compreensão, informação de fácil percepção e em
diferentes modos (visuais, verbais e táteis), tolerância ao erro para que se minimizem os riscos
de ações acidentais ou não intencionais, baixo esforço físico e dimensão e espaço para
aproximação e uso independente de tamanho do corpo, postura e mobilidade do usuário
115

(ABNT, 2020). Tendo todas estas questões anteriormente abordadas em vista, desenvolve-se o
Partido Arquitetônico.

3.7 ADOÇÃO DO PARTIDO

A adoção do partido é, segundo Neves (1989), o trabalho de processar as informações


básicas que foram obtidas nas etapas anteriores a fim de imaginar uma ideia preliminar para o
projeto expressa por meio do desenho.
As ideias nesse projeto se dividem em três esferas principais: a via, o Poço e a área de
vivência no lote da CAESA. A via tem como premissa a adequação prevista em Lei Municipal,
seguindo um ordenamento de forma que os acessos sejam acessíveis a todos, no qual se propõe
a divisão com calçadas de 4,40 e 2,80 metros, faixa de estacionamento de 3,00 metros, duas
faixas de tráfego de 3,50 metros, ciclofaixa bidimensional de 3,00 metros e canteiro central de
0,70 metros, conforme especificado na Figura 61. O desvio de faixa no entorno do poço
permanece, a fim de criar nos motoristas de veículos automotivos o sentido de alerta e atenção
ao trânsito, tornando o ambiente mais seguro para os pedestres.

Figura 61 – Proposta de setorização do sistema viário da avenida Padre Manoel da


Nóbrega

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

Para o lote da CAESA, cuja setorização está na Figura 62, a ideia é que a topografia
do terreno seja aproveitada, mas ainda permitindo que todos os ambientes sejam acessíveis a
pessoas com deficiência, crianças e idosos. Por isso, os afastamentos laterais e de fundos foram
utilizados como pista de caminhada, a qual funciona também como rampa para o deck elevado
e áreas de convívio. A árvore mangueira existente direcionou a posição do deck, com o intuito
116

de aproveitar a sombra que esta proporciona, tornando o local agradável para reuniões entre
pessoas. O playground foi posicionado mais ao fundo do lote, a fim de criar uma proteção entre
as crianças e a via, e assim uma outra área de convívio foi pensada para que os responsáveis
pelas crianças pudessem observá-las, assim também foi incluída uma nova árvore a fim de
melhorar o conforto térmico urbano do ambiente. Ao centro do terreno se localizam dois pontos
chaves dessa esfera do projeto: o Memorial do Poço do Mato e do bairro do Laguinho e o
espelho d’água, posicionados para estarem logo em frente ao Poço do Mato.

Figura 62 – Partido Arquitetônico: Setorização do lote da CAESA

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

O Memorial e o espelho d’água trazem uma estética muito importante para o projeto,
como pode-se observar na Figura 63. A água é um importante elemento em relação à história
do Poço do Mato, visto que o objeto em questão fazia parte de um sistema de captação de água
potável, além do lago que existia naquela área antes de ser parcialmente aterrada e ocupada com
casas. Por conta disso, a água é um ponto chave desse projeto, por tudo que ela representa na
memória desse local. Com o intuito de mantê-la em movimento, há uma fonte no ponto mais
alto do espelho d’água e seu fundo vai acompanhando a topografia do lote, promovendo a queda
d’água. Os painéis com motivos folhosos no Memorial se relacionam com a vegetação a qual
havia no entorno do lago. Ambos se conectam a partir do avanço do piso e da cobertura do
Memorial, em que os pilares são posicionados dentro do espelho d’água. Isto proporciona uma
117

contemplação ao sentar-se no piso elevado, colocar os pés na água e observar o Poço do Mato,
que se encontra na mesma direção à frente.

Figura 63 – Partido Arquitetônico: Maquete virtual perspectiva do Memorial e do


espelho d'água, destaque para as influências projetuais

Projeto e apresentação: QUADROS, Juliana (2021); Maquete virtual e render: BARBOSA, Filipe (2021).
Imagem do espelho d’água de inspiração: Pinterest; Imagem do lago: Blog Porta-Retrato Macapá.

A estrutura do Poço do Mato foi demolida após o incidente ocasionado por


manutenções na infraestrutura de seu entorno. Portanto, pensou-se em um novo projeto para a
área, visto que, após as entrevistas com os moradores, chegou-se à conclusão de que a conexão
das pessoas com o poço não se relacionava com a estrutura do pergolado e dos bancos de
concreto que havia ao seu redor.
Como é possível observar na setorização da Figura 64, manteve-se a ideia dos bancos
com floreiras contornando o poço, criando um ambiente contemplativo de forma a incentivar o
convívio entre pessoas, o design, no entanto, possui mais leveza e fluidez. A fim de trazer mais
imponência ao monumento, o espaço destinado à essa área foi aumentado, ocupando mais
espaço da via, mas sem impedir o acesso dos veículos às residências. Também foi pensada uma
118

barreira para a via por meio de bancos e floreiras na delimitação entre a faixa de veículo e a
área do poço.

Figura 64 – Partido Arquitetônico: Setorização do Poço do Mato

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

Em ambos os lados da área do Poço propõe-se a inserção de um pisograma com


desenho que remeta à detalhes da história do bairro do Laguinho, conforme descrito na Figura
65. O semicírculo remete à planta da Igreja de São Benedito, localizada no bairro do Laguinho.
O zigue-zague é presente em diversas artes de culturas do continente africano e é incorporado
na identidade visual de alguns empreendimentos relacionados com à cultura do referido bairro.
As quatro faixas mais internas do semicírculo foram inspiradas a partir de padrões encontrados
em edificações e elementos arquitetônicos do bairro. A ideia é que os pisogramas sejam pontos
119

centrais do convívio estabelecido nos bancos, direcionando a posição de um cantor e tocador


ou de um declamador de poesias ou artistas em geral.

Figura 65 – Partido Arquitetônico: Pisograma

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

Outro elemento que foi pensado, a fim de remeter à história do bairro, foi a troca dos
azulejos quebrados da borda do poço por outros com desenhos do Poço do Mato e do
Marabaixo, expostos na Figura 66.

Figura 66 – Partido Arquitetônico: Azulejos do Poço do Mato

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).

Devido à forte insolação presente na cidade de Macapá, considerou-se necessária a


inclusão de uma cobertura a qual gerasse sombra à toda área do Poço do Mato. Antes do
incidente, essa função foi pensada a partir do pergolado, mas este não gerava tanto
120

sombreamento devido ao afastamento das peças de madeira e ao fato de que a vegetação


colocada não cresceu até alcançar as peças da cobertura.
Nessa nova proposta de cobertura o formato é levemente curvado, remetendo ao
movimento das águas, e é sustentada por quatro pilares. Com o intuito de tornar a história do
Poço do Mato mais acessível a todos, previu-se a inserção de dois totens, os quais irão conter
um breve resumo de sua história. Na maquete virtual da Figura 67 destacou-se os elementos
que serviram como inspiração para esse projeto.

Figura 67 – Partido Arquitetônico: Maquete virtual perspectiva do Poço do Mato,


destaque para as influências projetuais

Projeto e apresentação: QUADROS, Juliana (2021); Maquete virtual e render: BARBOSA, Filipe (2021).
Imagens de inspiração: Pinterest.

Devido à proximidade, as duas áreas se conectam por meio de uma faixa de pedestres
elevada, que tem como intuito gerar mais atenção aos motoristas ao passarem pela área e trazer
o mesmo nível às duas partes. Na Figura 68 é possível perceber como a vista do Memorial se
volta para o Poço do Mato. Nota-se também que a proposta não destoa do seu entorno,
121

mantendo uma continuidade na altura da edificação. As diversas áreas livres do projeto


funcionam como um respiro entre os muros fechados das residências e da CAESA.

Figura 68 – Partido Arquitetônico: Maquete virtual perspectiva da proposta completa

Projeto: QUADROS, Juliana (2021); Maquete virtual e render: BARBOSA, Filipe (2021).

O fluxo de visita ao local é livre, de acordo com as vontades do visitante. No entanto,


o monumento do Poço do Mato logo ao meio da rua causa o primeiro impacto a quem
desconhece, logo pode se estabelecer como o primeiro ponto da visita. Após a contemplação
do local e breve conhecimento por meio do totem informativo, a paisagem à sua frente se revela.
A rampa que conduz ao Memorial parece ser o primeiro convite a conhecer o espaço, no qual
o indivíduo saberá mais detalhes sobre a história do Poço do Mato e do bairro do Laguinho. Na
saída, logo poderá ser conduzido à área de convívio à frente do playground, no qual poderá
permanecer, ou caso deseje um ambiente mais reservado, poderá se direcionar à segunda área
de convívio, com o deck elevado. Aos que já tiverem conhecimento do local, criarão seu próprio
fluxo para desfrutar do ambiente, o qual poderá fazer parte do seu dia a dia, para realizar
caminhadas, ou para usufruir de um local calmo para conversar com seus vizinhos e familiares
ou para molhar os pés no espelho d’água. O Memorial fica abaixo de duas copas de árvores e
com sua cobertura prolongada gera bons ambientes sombreados e convidativos para a
122

permanência (ver Figura 69). Assim como a grande cobertura sobre o poço e a grande
disponibilidade de bancos fazem parte dessa composição de um ambiente cativante.

Figura 69 – Estudos de Partido Arquitetônico

Fonte: QUADROS, Juliana (2021).


123

Implantado na paisagem, pode-se observar nas Figuras 70 e 71 como o projeto se


relaciona com o contexto e que, apesar de se destoar quanto aos materiais utilizados, com uso
do aço corten e do cobre patinado, não causa um grande atrito com as residências e edificações
de seu entorno.

Figura 70 – Skyline com o projeto: Lote da CAESA

Fotografias: QUADROS, Juliana (2021); Modelagem e render do projeto: BARBOSA, Filipe (2022);
Montagem: QUADROS, Juliana (2022).

Figura 71 – Skyline com o projeto: Área do Poço

Fotografias: QUADROS, Juliana (2021); Modelagem e render do projeto: BARBOSA, Filipe (2022);
Montagem: QUADROS, Juliana (2022).

A partir dos estudos para a elaboração da proposta, aprofunda-se na etapa projetual a


fim de detalhar e especificar as decisões tomadas na etapa de partido.

3.8 PROJETO DE ARQUITETURA DA REQUALIFICAÇÃO URBANO-


ARQUITETÔNICA DO POÇO DO MATO

Após a aprovação do Partido Arquitetônico, será detalhado nesse subitem o projeto


arquitetônico da requalificação urbano-arquitetônica do Poço do Mato. Esses detalhamentos,
segundo Silva (2006), servem como instrumento para a execução da obra, tendo como função
124

principal a de comunicar a forma como o projeto deve ser executado. Assim, se faz o uso
predominante de desenhos técnicos.
Dessa forma, na Figura 72, ampliada no Apêndice A, é possível visualizar a planta de
locação da área do poço em relação à rua e as dimensões de calçada, ciclofaixa, faixas de
tráfego, canteiro e faixas de estacionamento, assim como a locação dos postes de iluminação.

Figura 72 – Planta de locação da área do poço

Fonte: QUADROS, Juliana (2022).

A planta de locação, ilustrada na Figura 73 e ampliada no Apêndice A, detalha as


dimensões das áreas do projeto e os seus níveis de acordo com a topografia existente no terreno.
Também é possível observar a adequação da proposta às normas de acessibilidade.

Figura 73 – Planta de locação do lote da CAESA

Fonte: QUADROS, Juliana (2022).

As coberturas do projeto são em lona tensionada, sendo a cobertura da área do poço


com um formato sinuoso, que traz movimento ao projeto, e estruturada com madeira laminada
colada e pilares e vigas em estrutura metálica. Quanto à estrutura do memorial, esta é em metal.
125

Os detalhamentos de ambas podem ser visualizados nas Figuras 74 e 75, ampliadas no Apêndice
A.
Figura 74 – Planta de cobertura da área do poço

Fonte: QUADROS, Juliana (2022).

Figura 75 – Planta de cobertura do memorial

Fonte: QUADROS, Juliana (2022).

A área do poço tem como uso principal o convívio entre pessoas e a contemplação do
bem cultural, sendo assim, o projeto conta com o uso de bancos e jardineiras com plantas,
pisogramas e o uso de diferentes pisos, como pode ser visualizado no layout da Figura 76.
126

Figura 76 – Layout da área do poço

Fonte: QUADROS, Juliana (2022).

Quanto ao projeto no lote da CAESA, em que se pode visualizar na Figura 77, existem
mais áreas livres para uso em feiras ou para eventos como piqueniques. O memorial tem uma
planta livre, sem divisão internas, permitindo que seu uso para exposições artísticas, culturais
e históricas seja menos limitante. O playground conta com três brinquedos, todos acessíveis a
crianças usuárias de cadeira de rodas.

Figura 77 – Layout do lote da CAESA

Fonte: QUADROS, Juliana (2022).

O projeto possui o uso de formas simples, portanto, seu diferencial se encontra no uso
de várias texturas, cores e relevos, por meio do uso de materiais como o aço corten, o cobre
patinado, estruturas metálicas e madeira laminada, além de elementos naturais como a água, a
vegetação e a pedra (ver Figura 78), essa combinação trouxe à proposta um aspecto
127

contemporâneo e funcionou como guia para a paleta de cores utilizada no projeto, com o
terracota, azul, marrom e preto.

Figura 78 – Requalificação urbano-arquitetônica do Poço do Mato: perspectiva de


maquete virtual

Projeto e pós-produção: QUADROS, Juliana (2021); Maquete virtual e render: BARBOSA, Filipe (2021).

A vegetação é um grande ponto chave do projeto (Figura 79), com uso de plantas como
bromélia-imperial e murta-do-campo nas jardineiras da área do poço, costela-de-adão e
bananeira-ornamental na lateral do memorial, dianela no entorno do espelho d’água, estrelícia
gigante e xanadu ao lado da passarela 1. A mangueira já existente no lote se mantém, com o
intuito de sombrear áreas de convívio e foi proposta a adição da árvore pau-ferro para sombrear
128

a área de convívio do lado esquerdo. Por ser um ambiente de permanência, as plantas auxiliam
a tornar o ambiente agradável e acolhedor.

Figura 79 – Vegetação na área de convívio do lote da CAESA e na área do Poço do Mato

Projeto: QUADROS, Juliana (2021); Maquete virtual e render: BARBOSA, Filipe (2021).

Também com a intenção de ser uma proposta inclusiva a todas as pessoas, o projeto
tem, além dos acessos adequados às normas de acessibilidade, um playground (Figura 80) com
brinquedos apropriados a crianças que usam cadeira de rodas. Nele há um balanço, um gira-
gira e uma gangorra. O piso é emborrachado e com tons em degradê da cor azul. Próximo ao
129

playground fica uma área de convívio que pode ser utilizada pelos pais ou responsáveis pela
criança.

Figura 80 – Área do playground e área de convívio

Projeto: QUADROS, Juliana (2021); Maquete virtual e render: BARBOSA, Filipe (2021).

Quanto à parte interna do memorial, exposta na Figura 81, é dedicada à exposição de


materiais sobre a história do Poço do Mato e do bairro do Laguinho, se propõe o uso de painéis
para exposição de fotografias e textos, sendo dois deles com letras dos ladrões de Marabaixo
com caixinhas de som tocando os respectivos ladrões, um expositor com fotografias de
130

personalidades importantes nessas trajetórias e tecidos florais suspensos representando a roupa


das marabaxeiras, que repousam sobre as caixas de Marabaixo.

Figura 81 – Parte interna do Memorial do Poço Mato e do Laguinho

Projeto: QUADROS, Juliana (2021); Maquete virtual e render: BARBOSA, Filipe (2021).

Essa proposta tem como intuito atender uma demanda interna, que vem a partir da
apreensão de anseios de algumas pessoas do bairro do Laguinho, e se apropria de uma área em
desuso para requalificar um espaço de referência cultural para a cidade de Macapá, o qual faz
parte da memória histórica do bairro. O local se instala como um memorial de um objeto que é
uma peça-chave para a rememoração.
131

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O bairro do Laguinho tem uma importante significância histórica para a cidade de


Macapá, visto que se constitui como um dos primeiros sinais de expansão urbana da capital
com sua formação a partir do remanejamento das populações residentes no centro da cidade
após a chegada do governador Janary Gentil Nunes em 1943. Possui uma significância cultural
por meio das manifestações do Marabaixo, do Batuque, do Samba e religiosas, e das suas
edificações as quais foram palco para a formação de diversas memórias dos laguinenses.
Em contrapartida, há um esquecimento do referido bairro com relação ao seu
Patrimônio Material por parte dos órgãos de Patrimônio Cultural no estado do Amapá e de
Macapá, os quais, ainda que tenham feito algum registro oficial, não realizaram ações concretas
de valorização dos bens culturais.
Tendo isso em vista, esta pesquisa teve como intuito apreender relatos de moradores
do bairro com a intenção de compreender as relações existentes entre os indivíduos e os bens
culturais. Este contato se deu a partir de entrevistas, com uso do método da história oral, as
quais foram realizadas de forma virtual, por conta da pandemia da doença Covid-19.
A partir dessas apreensões, elegeu-se um objeto para a realização de uma
requalificação do bem. O bem cultural selecionado foi o Poço do Mato, dada sua relevância
histórica e cultural para a cidade e para o bairro, além da sua viabilidade de intervenção.
O Poço do Mato recentemente teve boa parte de sua estrutura danificada em
decorrência de um incidente durante uma manutenção na rua em que ele se localiza.
A proposta de intervenção desse projeto se distribui então em três esferas: a
intervenção na via, a requalificação do Poço do Mato com a criação de um ambiente de convívio
em seu entorno e a implantação de um Memorial com um espaço de lazer a partir de uma parte
do lote da Companhia de Água e Esgoto do Amapá (CAESA) o qual se encontrava em desuso.
Entende-se que o papel do arquiteto nessa proposta se baseia na apreensão das
necessidades dos usuários quanto a esse espaço, aliando à sua história e relevância para a
cidade, com o intuito de que a união desses fatores se expresse em um ambiente construído e
em um paisagismo os quais tragam uma qualidade de vida para o local, a fim de valorizar o
Patrimônio em questão. A ideia é que o local seja de conhecimento, valorização e rememoração.
O crescimento da cidade de Macapá e, com isso, o aumento de seu comércio, tem feito
com que o bairro do Laguinho seja cada vez mais ocupado por empreendimentos, resultando
em um novo remanejamento de seus antigos moradores e seus descendentes para outras áreas
mais recentes da cidade. Para onde estão indo os laguinenses? Sem demarcar esses importantes
132

bens culturais para o bairro do Laguinho e para a cidade, muito em breve diversas coisas
poderão ser perdidas sem registro algum, ficando somente na memória dos que permanecerem.
133

REFERÊNCIAS

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139

APÊNDICE A – PRANCHAS DO PROJETO ARQUITETÔNICO


LUZIA

5.16
345.07
6.06 160.84 23.60 5.00 160.63 9.02
1.00 1.00 2.91

GENERAL
5 RUA POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 30.00 POSTE 60.00
POSTE POSTE

4.40
7.00 5.00 5.00 5.00 3.10 5.00 5.00 4.59 5.00 2.87 5.00 5.00 3.49 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 4.58 5.00 5.00 5.00 4.22 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 15.99 23.60 13.72 5.00 5.00 5.00 7.65 5.00 5.00 1.72 5.00 5.00 5.71 5.00 5.00 7.85 1.00
1.00 5.75 1.00 1.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 5.00 7.32
1.00
1.00

3.50 3.00

3.00

3.50
8.70
146.08 8.70 144.80

11.46

9.00

3.50 1.46
14.46

1.46
POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE
7.90 30.00 30.00 30.00 30.00 17.01

1.46
2.80 3.00 3.50
2.95 2.96
20.74
FAIXA DE PEDESTRES

2.80 3.00

6.50
POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE POSTE

7.50
ELEVADA
30.00 30.00 30.00 30.00 30.00 30.00 30.00 30.00 30.00 30.00 30.00 9.02

3.00
2.80
1.70
6.06 17.00 1.00 5.00 1.00 11.00

.70

15.00
PLANTA DE LOCAÇÃO - GERAL
SIQUEIRA esc 1:500

RUA

RUA PADRE MANOEL DA NÓBREGA


5.73 2.95 22.43 2.96 .93

meio fio
calçada em concreto

4.40

1.80

1.80
4.40

158.44
ACESSO PRINCIPAL ACESSO PRINCIPAL
2.80 13.90

23.60

2.80

2.80
2.80
AVENIDA PADRE
MANOEL DA NÓB 158.23
152.33 REGA

9.00
4.40
35.00 1.50 1.88 3.85 1.17 5.79 6.13 5.95 7.22 1.50

1.00

1.00
155.37
2.80

15.00
piso permeável
+0,19 +0,75

.70

.70
+0,35
projeção da copa da árvore
grama piso atérmico piso permeável grama piso permeável +0,16 piso atérmico
+0,19

muro - h=2,93m
.00
COMPANHIA DE ∅6
ÁGUA E ESGOTO
DO AMAPÁ
CAESA COMPANHIA DE
JARDIM 2 +0,11
ÁGUA E ESGOTO
ÁREA DE CONVÍVIO 2 3.54 A=72,83m²
DO AMAPÁ

4.04
1.95
CAESA A=19,24m² borda de pedra

+0,14

5.30
BORGES

5.11
ladrilho 3.3
5
AVENIDA ÁREA DE CONVÍVIO 1

6.18
i=9,10%
i=8,50%
ERNESTINO A=45,75m²

SOBE
SOBE
deck de madeira
ANTENA 00
6.

8.63
DE RÁDIO ∅ +0,53

JARDIM 2 +0,09 +0,19 +0,29 +0,39


+0,09 1.4
2

10.48
+0,49
TIRADENTES

DECK

i=8,08%
i=6,58%
SOBE

SOBE
A=28,27m²

.20
ESPELHO D'ÁGUA
A=49,90m² ∅2.00 piso de borracha
+0,71
PLANTA DE SITUAÇÃO +0,28
JARDIM 1

3.26
esc 1:1000 +0,76
+0,76 A=4,45m²

1.75
COSTA

1.20
4.67
.69 10.40 .69
AVENIDA
RAIMUNDO

1
3.5
13.40 deck elevado de madeira

.80
.20 3.10 .20 3.10 .20 3.10 .20 3.10 .20 4.23
.20

4.8
8

5.60

3.37
1.77

4.40
projeção da copa da árvore
MEMORIAL PLAYGROUND SOBE
+1,14 A=42,60m² A=71,85m²
3.52

1.52 ∅6
.00 i=115%
+0,76 +0,75
DECK ELEVADO
.20

A=24,55m²

6.49
3.02
+1,14

.70
9
5.7
1.77

4.52

1.50

JARDIM 2

i=115%
SOBE
projeção da cobertura

.80
3.00 +0,81
8.08
.20

+1,72

COBERTURA EM LONA TENSIONADA SOBE


PATAMAR PATAMAR
1.50

+1,14

1.50
i=3% i=2%
A=6,75m² A=6,75m²
1.77

.12
4.38

1.50 1.50 1.50 4.90 1.30 .69 10.40 .69 1.21 8.31 .70 .80 1.50 .12
.20

4.50 6.20 11.78 12.52 .12

35.12
1.77

PLANTA DE LOCAÇÃO - LOTE DA CAESA


esc 1:50
.20

.18

.20 1.30 10.40 1.30 .20

13.40

B
VISTA 01

PROJ. DA COBERTURA
PLANTA DE COBERTURA - MEMORIAL
ESQUADRIAS PISO REVESTIMENTO FORRO
esc 1:50
13.40

1.52 1.13 1.06 1.44 1.27 1.10 1.72 1.63 1.21 .90 .98 3.71
PORTAS E PAINÉIS FIXOS REP. Especificação Área REP. Especificação Área REP. Especificação Área
1.84

P1 Piso permeárvel Castellato Ekko Plus - Cinza Natural 60x60cm 251,22m²


2.30

REP. Dimensão Material Abertura 2 folhas de Aço Corten com Forro em placas de metal
R1 81,92m²
P2 Assoalho de madeira plástica cor Itaúba 22cm x 120cm 62,31m² preenchimento de lã de vidro Cortado em grid
Folha de aço F1 101,91m²
2.43 .30 7.94 .30 2.43 1,24m x Cor: Branca
.90

E1 corten cortada à Correr


2,80m laser - folhagens P3 Ladrilho hidráulico hexagonal - Tiffany 5cm x 5cm 9,24m² E=3mm
R2

R2
Pilar revestido com revestimento
.20

R2 R2 R2 R2 1,24m x Folha de cobre P4 Ladrilho hidráulico hexagonal - Caramelo 5cm x 5cm 1,76m² R2 6,68m²
E2 Fixa de pedra na cor bege
2,80m patinado
.30

R2

R2
P5 Ladrilho hidráulico hexagonal - Bege 5cm x 5cm 1,84m² Forro em placas de metal
1,24m x Folha de aço
E3 corten cortada à Cortado em grid 101,91m²
Correr F1
3.00

2,80m laser - folhagens P6 Ladrilho hidráulico hexagonal - Verde 5cm x 5cm 1,24m² Meia parede revestida com Cor: Branca
R3 9,88m² E=3mm
ladrilho hidráulico
1.47

.03 .03 .03 .03 .03 .03 .03 P7 Laje em concreto 22,06m²
1.20

1.20
.81 .69 .03 1.24 .03 1.24 .03 1.24 .03 1.24 .03 1.24 .03 1.24 .03 1.24 .03 1.24 .03 .69 .81
.05

.05
.20
COBERTURA EM LONA TENSIONADA

E3 E3
COBERTURA EM LONA TENSIONADA

COBERTURA EM LONA TENSIONADA

E3 E3
VISTA 04

VISTA 02
E2 E2
COBERTURA EM LONA TENSIONADA

COBERTURA EM LONA TENSIONADA

COBERTURA EM LONA TENSIONADA

COBERTURA EM LONA TENSIONADA

COBERTURA EM LONA TENSIONADA

COBERTURA EM LONA TENSIONADA

COBERTURA EM LONA TENSIONADA

COBERTURA EM LONA TENSIONADA

COBERTURA EM LONA TENSIONADA

8.08

E1

2.97

MEMORIAL
A = 42,60m²
P.D. = 2,80m
9.00

A A
4.21

4.21
4.06
7.00

+0,76
P1 R1 F1
6.00

.02

.02
.10

.10
.12 10.12 .10
.02

.02
.02 .02 .02 .02

VISTA 03
B

PLANTA BAIXA - MEMORIAL


esc 1:50
.30

Universidade Federal do Amapá - UNIFAP


.50

PROJETO:

TCC 2 - Requalificação Urbana do Poço do Mato


TÍTULO:
2.64 .30 11.79 .30 2.64
Planta de Situação, Locação, Cobertura e Planta Baixa - Memorial
17.68
PROJETISTA: PRANCHA:

PLANTA DE COBERTURA - ÁREA DO POÇO Juliana Amaral Quadros

esc 1:50
DATA:

29/01/2022
UNIDADE DE MEDIDA:

Metros
ESCALA:

Indicada
01 /06
VISTA 05

D
9.25
PROJ. DA COBERTURA
4 2.6
2.6 4

1.15

1.15
.24 .30 11.79 .30 .24

2.2
2.2

2
.30

.30
4 2.6
2.6 4

2.30 2.30

P2 3 3.4 P2
3.4 POÇO DO MATO 3

2.0
8
2.0

A = 24,27m²

8
ÁREA DE CONVÍVIO DO POÇO
2.30 P.D. = 3,50m A = 143,75m²
2.30
C C
R2.65
-0,41 P.D.= 2,90m
9

1.6
P5 P5
1.6

9
P6 P6
P7 R3 F2
+0,19
P3 P1 R3 F2 P3
VISTA 08

VISTA 06
P3 P5 P5 P3

P6 P3 P3
P5 P5 P6
2.40 P4 P3 P6 11.68 P6 P3 P4 2.40
∅3.00 ∅3.00
P4 P4
2.2

9
P4 P4

2.2
9

PISO REVESTIMENTO FORRO


.05

.05
.54

.54
REP. Especificação Área REP. Especificação Área REP. Especificação Área
.05

.05
.05 P1 Piso permeárvel Castellato Ekko Plus - Cinza Natural 60x60cm 251,22m²
.05
.6 5

.65
.51 2 folhas de Aço Corten com
.51 .05 R1
preenchimento de lã de vidro
81,92m² Forro em placas de metal
.05 P2 Assoalho de madeira plástica cor Itaúba 22cm x 120cm 62,31m²
F1
Cortado em grid 101,91m²
Cor: Branca
P3 Ladrilho hidráulico hexagonal - Tiffany 5cm x 5cm 9,24m² E=3mm
1.0

.05

0
.05

1.0
Pilar revestido com revestimento
0

P4 Ladrilho hidráulico hexagonal - Caramelo 5cm x 5cm 1,76m² R2 6,68m²


de pedra na cor bege
.59

.59
.05 .05 .05 .05 Ladrilho hidráulico hexagonal - Bege 5cm x 5cm 1,84m²
.43 P5
.55 .05 .24 .30 .24 .05 .50 .05 .05 .50 .05 .24 .30 .24 .05 .55 .43 Forro de madeira laminada
F1 159,25m²
.64

.64
P6 Ladrilho hidráulico hexagonal - Verde 5cm x 5cm 1,24m² Meia parede revestida com E=2mm
9,88m²
.05 .50 .05

.05 .50 .05

.05 .50 .05

.05 .50 .05

.05 .50 .05

.05 .50 .05


R3
ladrilho hidráulico
P7 Laje em concreto 22,06m²

1.0 7
7 1.0
.60 1.50 .89 1.50 .60 7.00 .60 1.50 .89 1.50 .60

PLANTA BAIXA - ÁREA DO POÇO

D
VISTA 07

esc 1:50
ACESSO PRINCIPAL

.24

2.17
2.66

2.80

2.80
+1,53
RAMPA
.10

.10
+1,06 +1,14
RAMPA DECK ELEVADO
+0,76 +0,76

.77
.08

MEMORIAL PLAYGROUND
.37 .17

.17
CORTE AA

B
esc 1:50

D
A

.30 .27
.24

2.01
3.04

2.80

3.06
2.17

3.23
2.94
+1,41
4.11

2.65

2.37
.10 .38

RAMPA

3.37

2.09
+0,76
MEMORIAL
+0,19

.60
.10

+0,29
ÁREA DE CONVÍVIO DO POÇO

.20
+0,11

1.20
ESPELHO D'ÁGUA
.63

JARDIM 2
-0,41
.30.04

POÇO DO MATO

CORTE BB CORTE CC
A

D
esc 1:50 esc 1:50
C
.53
.30
1.77

ÁREA DE
CONVÍVIO
DO POÇO
+0,19
Universidade Federal do Amapá - UNIFAP
.60
.37

PROJETO:
1.20

TCC 2 - Requalificação Urbana do Poço do Mato


-0,41
TÍTULO:
POÇO DO MATO Planta Baixa - Poço do Mato e Cortes AA, BB, CC e DD
PROJETISTA: PRANCHA:

Juliana Amaral Quadros


CORTE DD
02 /06
C

DATA: UNIDADE DE MEDIDA: ESCALA:

esc 1:50 29/01/2022 Metros 1:50


Laje revestida com piso permeável Ekko Plus Porta de correr em aço corten Laje revestida com piso permeável Ekko Plus Laje revestida com piso permeável Ekko Plus
Painel fixo em aço corten cortado à laser cortado à laser Painel fixo em folha de cobre patinado Viga metálica em I Vedação em aço corten Viga metálica em I Viga metálica em I Vedação em aço corten

VISTA 01 VISTA 02 VISTA 03


esc 1:50 esc 1:50 esc 1:50

Pilar metálico Totem Jardineira em Meia parede revestida com ladrilho hidráulico Cobertura sinuosa com estrutura mista de metal e madeira e fechamento em lona tensionada
em I revestido aço corten
em pedra
Laje revestida com piso permeável Ekko Plus Vedação em aço corten Viga metálica em I

DET 5

VISTA 04 VISTA 05
esc 1:50 esc 1:50

Totem Meia parede revestida com ladrilho hidráulico Jardineira em Cobertura sinuosa com estrutura
revestido aço corten mista de metal e madeira e Cobertura sinuosa com estrutura mista de metal e madeira e fechamento em lona tensionada Meia parede revestida com ladrilho hidráulico Jardineira em Totem Pilar metálico
em pedra fechamento em lona tensionada aço corten revestido em I
em pedra
Pilar metálico
em I

DET 5 DET 5

VISTA 06 VISTA 07
esc 1:50 esc 1:50

Cobertura sinuosa com estrutura Jardineira em Meia parede revestida com ladrilho hidráulico Totem
mista de metal e madeira e aço corten revestido
fechamento em lona tensionada em pedra
.24 .24 .24
Pilar metálico
em I
.24

DET 5
.60
.12
.12
.12

DET 05 - PAGINAÇÃO MEIA PAREDE - POÇO DO MATO Universidade Federal do Amapá - UNIFAP
VISTA 08
esc 1:10
esc 1:50
PROJETO:

TCC 2 - Requalificação Urbana do Poço do Mato


TÍTULO:

Vistas 01, 02, 03, 04, 05, 06, 07, 08 e Detalhe 05


PROJETISTA: PRANCHA:

Juliana Amaral Quadros


DATA:

29/01/2022
UNIDADE DE MEDIDA:

Metros
ESCALA:

1:50
03 /06
LAYOUT - ÁREA DO POÇO
esc 1:50

LAYOUT - LOTE DA CAESA Universidade Federal do Amapá - UNIFAP


esc 1:50 PROJETO:

TCC 2 - Requalificação Urbana do Poço do Mato


TÍTULO:

Layout
PROJETISTA: PRANCHA:

Juliana Amaral Quadros


DATA:

29/01/2022
UNIDADE DE MEDIDA:

Metros
ESCALA:

1:50
04 /06
3.54
1.95

7 3.3
3.3

1.57
5

2.22
.79

2.16
9.25
4.29

.30
+0,19
4 2.6
2.6 4
.79

1.03
1.4

1.61
+0,29 2

.30
+0,49
+0,09

2. 2
2.2

.30
+0,39

1.23
1. 8
R.

4
2. 4
60

1.29
.30
3
+0,70

.79
4.4
R.90 7
1.3 ∅2.00
DET 1 3.37

4
2.6 D.A D.A
.64

1.9
3.22
4

.30
2

4.71
2.30 2.30
6
6 3.1

.30
R1.20 3.89 2.3
3 3.4
3.4 3

2.0
8
2.0

.79
3

.30
1.7
2.30 2.30

6.08
R2.65

.30
9

1. 6
1. 6

.8 0
8.47

9
.20

1.40
.30

1.80
. 79
2.40 11.68 2.40

1.3
∅3.00 ∅3.00

.30

.40
.79
2.2

9
2.2
9

DET 01 - PLANTA BAIXA - PISOGRAMA

.05
.05

DET 02 - PLANTA BAIXA - ESPELHO D'ÁGUA

4.2
.54

.54
esc 1:25

1
esc 1:50
.05

.05
.05
.05
.65

.65
.51 .20 4.01 2.25 2.68 3.03
.51 .05
.05 2.00

.13 .08
1.0

.05

.05

.10 .10 .10 .10 .10 .12 .08


1.0
0

.59

.59
.05 .05 .05 .05
.43
.55 .05 4.45 .05 .55 .43
1.28
.24 .30 .24 .05 .50 .05 .05 .50 .05 .24 .30 .24
.64

.64

.10 .12 .20


.05 .50 .05

.05 .50 .05

.05 .50 .05

.05 .50 .05

.05 .50 .05

.05 .50 .05


1.0 7
7 1.0 .20 2.52 1.62 2.31 2.57 2.22 .74
.60 1.50 .89 1.50 .60 7.00 .60 1.50 .89 1.50 .60

PLANTA DE PAISAGISMO - ÁREA DO POÇO ACESSO PRINCIPAL


esc 1:50 DET 02 - CORTE D.A - ESPELHO D'ÁGUA
esc 1:25
DET 3 DET 4
DET 2
1.50 32.00 1.50
ACESSO PRINCIPAL ACESSO PRINCIPAL

FOTO REPRESENT. NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR


.70

.91
1.88 3.85 1.12 5.84 6.13 5.96 7.22
Alcantarea imperialis Bromélia-imperial

R3
1.34

.8
R12

.73

3
.98

3
.85

.73

R1

6
1.8
.16

2.52
R3 Aglaia odorata Murta-do-campo
.00

R7.22
.89
3.66

R6.7 9.19
.83

7
4.59
4.64

.78
8.49
.78

Monstera deliciosa Costela-de-adão

5.21
.76

R2.31
R4

1.57
7
R3.2
.47

6.18
.83

2.16

2.22
.81

Dianella tasmanica Dianela

7
9.0
.82

R1
.86

1.03

1.61

3.
38

R2.69
R3.8 Strelitzia nicolai Estrelícia gigante
7 4.40

R3.00 1.41
12.00

12.00
.20
1.23
2.39
8
1.8

R7.07
R3
4
2.4

.81
Philodendron xanadu Xanadu
2.42

1.29
3.32
∅2.00

7 4.2
1.3 5

3
3.37

5.2
.80 Musa ornata Bananeira-ornamental

R9
3.78

R1

.71
0.
3.89 6

54
2.3 6
3.1 3
8.8
3
R 13.4

8.47 Mangifera indica Mangueira


R7
.38
2.73

4
.80

7.7
1.21

1.80

R12.23
Caesalpinia leiostachya Pau-ferro
1.3

5.63
8
.69

1.37
1.26

REPRESENTAÇÃO ESPECIFICAÇÃO ÁREA


.69

4.87
Assoalho de madeira plástica cor Itaúba 62,31m²
22cm x 120cm
.69

R3. Piso permeárvel Castellato Ekko Plus -


1.25

00 251,22m²
3.02

1.60 Cinza Natural 60cm x 60cm


.69

Ladrilho hidráulico hexagonal - Tiffany 9,24m²


2.79 4.29 2.24 5cm x 5cm
1.04

.96

.80

.38 .55 Ladrilho hidráulico hexagonal - Caramelo 1,76m²


5cm x 5cm
3.00

3.00
3.00 6.20 11.78 1.21 9.81
Ladrilho hidráulico hexagonal - Bege 5cm 1,84m²
x 5cm
Ladrilho hidráulico hexagonal - Verde 1,24m²
5cm x 5cm
Piso atérmico Castellato - Canela 60cm x 64,87m²
3.00 29.00 3.00
60cm

Pedra hijau - Azul 20cm x 20cm 53,53m²

D.A
5.95

PLANTA DE PAISAGISMO - LOTE DA CAESA Bloco de pedra tijoleta grês 20cm x 42cm 3,73m²
esc 1:50 +0,16 x 10cm
.92
Grama amendoim 76,52m²
2.4
1 R3
D.A

73
.83
Piso de borracha anti-impacto -

3.
R1
12,17m²

6
1.8
5.79
paginação dama cor 163 173 175
.00
+0,19
Piso de borracha anti-impacto - 18,75m²
paginação dama cor 132 150 164
1
R2.3

.78
Piso de borracha anti-impacto -
19,11m²
.91

1.44 paginação dama cor 99 121 134


.03 .18 .03

3.14
Piso de borracha anti-impacto -

i=9,10%
.98

SOBE
R12
R12
.98 21,90m²
paginação dama cor 70 91 108
.15

Blocos de concreto 21,35m²


.70

3.
8 3
.54

R10
.54 .93
.15
i=8,50%

.27
SOBE

6.70
7.17

7.17
6.70

R6.23
R3
7
2.7
1.94

R3
.81
DET 03 - CORTE D.A - PASSARELA 1
esc 1:25 +0,76

3
5.2
1.38
.15

D.A
+0,76 Universidade Federal do Amapá - UNIFAP

2.48
.57
.15 .06

PROJETO:

TCC 2 - Requalificação Urbana do Poço do Mato


TÍTULO:

Planta de Paisagismo
D.A

DET 04 - CORTE D.A - PASSARELA 2 PROJETISTA: PRANCHA:

DET 03 - PLANTA BAIXA - PASSARELA 1 esc 1:25 DET 04 - PLANTA BAIXA - PASSARELA 2
Juliana Amaral Quadros

esc 1:50 esc 1:50


DATA:

29/01/2022
UNIDADE DE MEDIDA:

Metros
ESCALA:

Indicada
05 /06
.70 3.26 3.26 3.26 3.26 3.26 .70

LUMINÁRIAS
Rep. Especificação Qt.

1.83
Plafon de sobrepor recuado direcionável, modelo: Square Out MR16, marca: Stella, temperatura de cor: 3000K 24un.

Espeto mini, modelo: Focco 3w, marca: Stella, temperatura de cor: 3000K 14un.

Poste balizador preto, modelo: Frankfurt, marca: Stella, temperatura de cor: 3000K 18un.

Spot fixo, modelo: Easy Par20, marca: Stella, temperatura de cor: 3000K 27un.

Pendente, modelo: Shine, marca: Klaxon, temperatura de cor: 3000K 10un.

Spot direcionável para trilho, modelo: Par30, marca: Stella, temperatura de cor: 3000K 7un.

Trilho de iluminação, marca: Stella, tamanho: 1,00m 2un.

1.78
Fita de led, marca: Stella, temperatura de cor: 3000K 5,20m

Spot embutido recuado direcionável com led integrado, modelo: Easy Par30 Evo, temperatura de cor: 3000K 6un.

Poste LED, modelo: Oasis, marca: Accend, temperatura de cor: 2700K 14un.

1.78
1.78
1.83
LUMINOTÉCNICO - ÁREA DO POÇO
esc 1:50
.05

.05
.73 1.31 .73 1.23 .16 1.07 .73

.43 .85 .63 .63 .85 .43

.42

.42

.42

.42
.68
.76

.79

1.10

1.57
1.62

1.15
3.58

3.58
2.31
1.56

1.56

2.45
3.01

3.12

3.23
1.23 1.23 1.23 1.23 1.23 1.23
2.80 .05 4.37

1.66
1.68

1.68
.05
.56

.16
.56

.36

.80 2.95 2.95 2.95 2.95 .80


3.58

3.58
.90
1.05
1.05

2.00
1.05
3.58

3.58
.34

.75
2.11 2.95 2.95 1.74 .37
1.53
1.05
.93

1.01
1.61 .79

2.00
.93
1.01 .37
.13
36
°
1.05
.93

.71

.71

.71
.30 .30 .30

.03

0.0
1.08
1.00

.93
∅1
.93

1.05
3.02

.75
1.53
2.70

2.70
2.47
.28 .30 .30 .12
1.64 .70 .01 .80 .01 .70 .01 .80 .39
.71

.73 1.00
.58
.90
1.38

3.02 .41 2.00 2.00 2.00 2.00 1.80


Em baixo
Em cima e em baixo Em cima e em baixo
Em cima e em baixo
.13

.05 3.54 3.54 3.54 3.54 3.54 3.54 3.54 3.54 3.54 .05

LUMINOTÉCNICO - LOTE DA CAESA Universidade Federal do Amapá - UNIFAP


esc 1:50 PROJETO:

TCC 2 - Requalificação Urbana do Poço do Mato


TÍTULO:

Luminotécnico
PROJETISTA: PRANCHA:

Juliana Amaral Quadros


DATA:

29/01/2022
UNIDADE DE MEDIDA:

Metros
ESCALA:

1:50
06 /06
146

APÊNDICE B – DETALHAMENTO DE INTERIORES


144
143
205

95
201
07
235 01
08

180
07

54
86
126
04 06 09
08
06

118
75
508

100
VISTA C
08 08

VISTA A
08
02
191

13
VISTA B

121
VISTA A
03
Escala: 1/50
05 09
196 397 384 39

LAYOUT
Escala: 1/50

02
30
30

02

63 30 30 30 30 52
71

15 15 15
09 05 03 04
249

08 01
210
219

280

280
177

03
40
31

VISTA B VISTA C
Escala: 1/50 Escala: 1/50

LEGENDA

01 ADESIVO SOBRE O MEMORIAL 06 BOMBA DE ÁGUA ANTIGA DO POÇO DO MATO

02 TRILHO DE ILUMINAÇÃO 07 LUMINÁRIAS PENDENTES


03 PAINEL COM INFORMAÇÕES DO POÇO DO MATO E DO LAGUINHO 08 EXPOSIÇÃO MARABAIXO COM CAIXA E TECIDO FLORAL
CONTEÚDO: PROJETO DO MEMORIAL DO
04 MURAL DAS PERSONALIDADES DO BAIRRO 09 PAINEL COM HISTÓRIA E LADRÕES DE MARABAIXO,
COM CAIXAS DE SOM LAYOUT E VISTAS POÇO DO MATO E DO LAGUINHO 01
JAN.
05 ADESIVO COM TEXTO SOBRE O POÇO DO MATO
Escala 1:50 TCC 2 - JULIANA QUADROS 2022 01

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