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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ARQUITETURA E URBANISMO


CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

BIANCA ELISA GABARDO

CENTRO COMUNITÁRIO DE ESPORTES COMO AGENTE


TRANSFORMADOR URBANO E SOCIAL

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA
2018
BIANCA ELISA GABARDO

CENTRO COMUNITÁRIO DE ESPORTES COMO AGENTE


TRANSFORMADOR URBANO E SOCIAL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial à
obtenção do título de Bacharel em
Arquitetura e Urbanismo do Departamento
Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo
(DEAAU), da Universidade Tecnológica
Federal do Paraná.
Orientador(a): Prof. Ma. Thais Saboia
Martins.

CURITIBA
2018
Ministério da Educação
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

PR
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
Campus Curitiba - Sede Ecoville
Departamento Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo
Curso de Arquitetura e Urbanismo

TERMO DE APROVAÇÃO

Centro comunitário de esportes como agente transformador urbano e social

Por

BIANCA ELISA GABARDO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi apresentado em 20 de novembro de 2018


como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e
Urbanismo.
A candidata foi arguida pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo
assinados. Após deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho aprovado.

Prof. Rodolfo Sastre


UNIVERSIDADE POSITIVO

Prof. Rafaela Fortunato


UTFPR

Prof. Gilson Werneck


UTFPR

Prof. Thais Martins (orientadora)


UTFPR
AGRADECIMENTOS

Inicialmente gostaria de agradecer aos meus pais, que sempre priorizaram


minha educação e, acreditando em mim, ofereceram carinho e amparo capazes de
me proporcionar a chance de estudar e me formar em uma universidade federal.
Agradeço aos meus colegas de curso que, em meio a tantas angústias, sempre
me fizeram rir nessa caminhada para nos tornarmos arquitetos e urbanistas.
Agradeço à minha professora orientadora que, sempre atenciosa, foi capaz de
me acalmar e me ajudar no andamento do trabalho.
Ao meu namorado que em muitos momentos teve que participar desse processo
e sempre entendeu minhas ausências para concluir esse objetivo.
À toda a minha família, e, em especial minha avó, que sempre olhou com carinho
e me incentivou com cada palavra.
Aos meus amigos de fora da universidade, que cresceram e amadureceram todo
esse tempo comigo, sempre conseguindo fazer tudo ser mais leve.
Agradeço ainda à todos aqueles que me ajudaram com as pesquisas, o pessoal
da biblioteca do IPPUC e o escritório Gandolfi Arquitetos, por transmitirem
informações e conhecimentos.
Enfim, a todos os que estão sempre presentes e que de alguma forma, com um
pequeno gesto ou palavra, contribuíram para a realização desta etapa, muito
obrigada.
“Todo ser humano tem o direito
fundamental de acesso à
educação física e ao esporte
que são essenciais para o
pleno desenvolvimento da sua
personalidade.”

(UNESCO, 1978)
RESUMO

GABARDO, Bianca Elisa. Centro Comunitário de Esportes como agente


transformador urbano e social. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso –
Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Tecnológica Federal do
Paraná. Curitiba, 2018.

O presente trabalho busca apresentar conhecimentos e justificativas para a posterior


elaboração de um projeto arquitetônico de um novo Centro Comunitário de Esportes,
na cidade de Curitiba. Inicialmente foram entendidos conceitos sobre esporte e
estudos similares de projetos no Brasil e no exterior. Procurou-se, então, analisar a
cidade a fim de verificar a carência de equipamentos esportivos de qualidade em um
bairro com alto índice de criminalidade, grande população jovem e de baixo poder
aquisitivo. Dessa forma, correlacionando os equipamentos esportivos de relevância,
definiu-se um terreno na Vila Nossa Senhora da Luz, no bairro Cidade Industrial de
Curitiba. Finalmente foi possível estabelecer diretrizes, partidos e conceitos a serem
alcançados na próxima etapa de implantação e desenvolvimento do projeto.

Palavras-chave: Esporte. Atividade Física. Centro Esportivo Comunitário. Curitiba.


ABSTRACT

GABARDO, Bianca Elisa. Community Sports Center as an urban and social


transformation agent. 2018. Undergraduate Thesis – Bachelor’s degree in
Architecture and Urbanism, Federal Technological University of Paraná. Curitiba,
2018.

This undergraduate thesis aims to present knowledge and justifications for the
preparation of an architectural project of a new Community Sports Center, in the city
of Curitiba. At first, concepts about sports and similar studies of projects in Brazil and
abroad were understood. Then, it aimed to analyze the city in order to check the lack
of quality sports equipments in a neighborhood with a high crime rate, large young
population and low purchasing power. In regard to relevant sports equipments, a land
was defined in the Vila Nossa Senhora da Luz, in the neighborhood of Cidade Industrial
de Curitiba. Finally it was possible to make guidelines and concepts to be achieved in
the next stage of project implementation and development.

Keywords: Sport. Physical Activity. Community Sport Center. Curitiba.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Reconstrução da cidade de Olímpia antiga. ............................................. 18


Figura 2 – Tríade Vitruviana. ..................................................................................... 21
Figura 3 – 12 critérios de qualidade com respeito à paisagem do pedestre. ............ 23
Figura 4 – Parque Biblioteca Espanha, Giancarlo Mazzanti. .................................... 25
Figura 5 – Parque Explora, Alejandro Echeverri + Valencia arquitetos. .................... 25
Figura 6 – Esquema Geral das avenidas que compunham o Plano Agache. ........... 27
Figura 7 – Explicação do sistema Trinário................................................................. 28
Figura 8 – Projeto Original, Praça Oswaldo Cruz, 1974. ........................................... 30
Figura 9 – Praça Oswaldo Cruz, 1986. ..................................................................... 31
Figura 10 – Planta Geral da Praça Oswaldo Cruz..................................................... 32
Figura 11 – Acesso CEL Dirceu Graeser, 2018. ....................................................... 32
Figura 12 – Planta baixa Pavimento Térreo, CEL Dirceu Graeser. ........................... 33
Figura 13 – Planta baixa Pavimento Subsolo, CEL Dirceu Graeser.......................... 34
Figura 14 – Corte transversal, Ginásio Poliesportivo, CEL Dirceu Graeser. ............. 34
Figura 15 – Ginásio Poliesportivo, CEL Dirceu Graeser. .......................................... 35
Figura 16 – Pilar, Ginásio Poliesportivo, CEL Dirceu Graeser. ................................. 35
Figura 17 – Interior da área de piscina, CEL Dirceu Graeser. ................................... 36
Figura 18 – Visão geral do Centro Esportivo Municipal Ciutadella. ........................... 37
Figura 19 – Planta baixa Pavimento Térreo, CEM Ciutadella. .................................. 38
Figura 20 – Fachada principal, CEM Ciutadella. ....................................................... 38
Figura 21 - Planta baixa Pavimento Subsolo, CEM Ciutadella. ................................. 39
Figura 22 – Corte Setorial, CEM Ciutadella............................................................... 40
Figura 23 – Área interna de piscinas, CEM Ciutadella. ............................................. 40
Figura 24 – Área Interna do ginásio poliesportivo, CEM Ciutadella. ......................... 41
Figura 25 – CEM Ciutadella ao entardecer. .............................................................. 41
Figura 26 – Área Interna de piscinas com ruínas, CEM Ciutadella. .......................... 42
Figura 27 – Proposta urbanística "Uma Visão Para Mãe Luiza", Arena do Morro. .... 42
Figura 28 – Vista aérea, Arena do Morro. ................................................................. 43
Figura 29 – Planta baixa Pavimento Térreo, Arena do Morro. .................................. 44
Figura 30 – Planta baixa Pavimento Superior, Arena do Morro. ............................... 44
Figura 31 – Rampa de acesso ao terraço, Arena do Morro. ..................................... 45
Figura 32 – Estrutura, Arena do Morro. ..................................................................... 45
Figura 33 – Corte transversal, Arena do Morro. ........................................................ 46
Figura 34 – Bloco de vedação, Arena do Morro. ....................................................... 46
Figura 35 – Interior Arena do Morro. ......................................................................... 47
Figura 36 – Vista da rua, Arena do Morro. ................................................................ 47
Figura 37 – Mapa de Renda Média mensal dos responsáveis pelo domicílio ........... 52
Figura 38 - Mapa de Densidade Demográfica. Dados de 2010. ............................... 53
Figura 39 – Unidades esportivas relevantes. 2018. .................................................. 55
Figura 40 – Localização Bairro Cidade Industrial de Curitiba (CIC) .......................... 56
Figura 41 – Pirâmide Etária de Curitiba (dados de 2010). ........................................ 57
Figura 42 – Pirâmide Etária do bairro Cidade Industrial (dados de 2010). ................ 57
Figura 43 – Vila Nossa Senhora da Luz, 1967. ......................................................... 59
Figura 44 – Projeto Vila Nossa Senhora da Luz. ....................................................... 60
Figura 45 – Vista aérea da Vila Nossa Senhora da Luz e seu entorno imediato....... 61
Figura 46 – Vila Nossa Senhora da Luz e vilas vizinhas. .......................................... 62
Figura 47 – Campo de areia em praça secundária. .................................................. 63
Figura 48 – Academia ao Ar Livre em praça Enoch A. Ramos. ................................ 63
Figura 49 – Implantação Vila Nossa Senhora da Luz e seu eixo central. ................. 65
Figura 50 – Vista aérea com indicação de fotos........................................................ 66
Figura 51 – Foto Vista A do terreno. ......................................................................... 66
Figura 52 - Foto Vista B do terreno. ......................................................................... 67
Figura 53 – Foto Vista C do terreno. ......................................................................... 67
Figura 54 – Foto Vista D do terreno. ......................................................................... 68
Figura 55 – Área do terreno. ..................................................................................... 69
Figura 56 – Inserção do terreno no Zoneamento de Curitiba. ................................... 70
Figura 57 – Mapa Síntese de Aspectos Naturais ...................................................... 73
Figura 58 – Topografia do terreno ............................................................................. 74
Figura 59 – Mapa Síntese de Aspectos Antrópicos................................................... 76
Figura 60 – Programa de necessidades e pré-dimensionamento do projeto ............ 78
Figura 61 – Diagrama representativo do coeficiente máximo do terreno .................. 79
Figura 62 – Diagrama representativo de taxa de ocupação máxima do terreno. ...... 80
Figura 63 – Organograma e Fluxograma. ................................................................. 81
Figura 64 – Esquema de diretrizes e conceitos adotados. ........................................ 83
Figura 65 – Partidos adotados para projeto, em planta. ............................................ 84
Figura 66 – Partidos adotados para o projeto, em corte. .......................................... 86
Figura 67 – Inserção do Centro Comunitário de Esportes. ....................................... 87
Figura 68 – Detalhe de vedação - Volume do Ginásio Poliesportivo. ........................ 90
Figura 69 – Detalhe de vedação – Volume da Natação. ........................................... 90
Figura 70 – Visão noturna do Centro Comunitário de Esportes. ............................... 91
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Proporção de áreas por setor, Praça Oswaldo Cruz. .............................. 50
Gráfico 2 – Proporção de áreas por setor, CEM Ciutadella. ..................................... 50
Gráfico 3 – Proporção de áreas por setor, Arena do Morro. ..................................... 50
Gráfico 4 – Proporção do pré-dimensionamento de áreas do projeto ....................... 77
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Síntese de características observadas nos estudos de caso. ................. 48
Tabela 2 – Comparação de áreas dos estudos de caso. .......................................... 49
Tabela 3 – Quadro de Parâmetros de uso e ocupação do Solo. ............................... 71
Tabela 4 – Dimensionamento Final do projeto. ......................................................... 88
Tabela 5 – Quadro de Áreas. .................................................................................... 89
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15

1.1 Problema ......................................................................................................... 16

1.2 Hipótese .......................................................................................................... 16

1.3 Justificativas .................................................................................................... 16

1.4 Objetivo Geral.................................................................................................. 17

1.5 Objetivos Específicos ...................................................................................... 17

2 CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA ........................................................................... 18

2.1 O esporte ......................................................................................................... 18


2.1.1 Histórico .................................................................................................... 18
2.1.2 Benefícios do esporte ............................................................................... 19
2.1.3 Conceitos Relacionados ........................................................................... 20

2.2 Arquitetura e esporte ....................................................................................... 20

2.3 A vida urbana e os equipamentos urbanos comunitários ................................ 21


2.3.1 O caso de Medellín ................................................................................... 24

2.4 Curitiba: alguns traços de sua história ............................................................. 26

3 ESTUDOS DE CASO ......................................................................................... 30

3.1 Praça Oswaldo Cruz - Centro de Esporte e Lazer Dirceu Graeser ................. 30

3.2 Centro Esportivo Municipal Ciutadella ............................................................. 36

3.3 Arena do Morro................................................................................................ 42

3.4 Análise comparativa dos Estudos de Caso ..................................................... 48

4 INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE ................................................................. 51

4.1 Curitiba: panorama atual ................................................................................. 51

4.2 Cidade Industrial de Curitiba ........................................................................... 56

4.3 Vila Nossa Senhora da Luz ............................................................................. 58


4.3.1 Áreas esportivas existentes ...................................................................... 62
4.4 Definição do terreno ........................................................................................ 64
4.4.1 Apresentação ............................................................................................ 68

5 DIRETRIZES GERAIS DO PROJETO ............................................................... 72

5.1 Caracterização do terreno ............................................................................... 72

5.2 Programa de necessidades e pré-dimensionamento ...................................... 77

5.3 Partidos e conceitos ........................................................................................ 82

6 PROPOSTA........................................................................................................ 87

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 92

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 93

APÊNDICE A – PRANCHAS DO PROJETO............................................................ 97


15

1 INTRODUÇÃO

Com o crescimento do número de habitantes nos centros urbanos, a saúde e a


prevenção de doenças torna-se elemento fundamental a ser incentivado. No Brasil, o
esporte expressa a identidade polissêmica, multicultural e miscigenada do país
(DACOSTA, 2005), sendo importante na cultura da população. No entanto, a maioria
da população é sedentária, não praticando atividades físicas regularmente.
Em meio a essa realidade, a criação de um Centro Comunitário de Esportes,
com estrutura adequada às diversas modalidades, deve proporcionar maior interesse
e consequentemente melhorar os índices de prática esportiva, especialmente para a
população de menor poder aquisitivo.
Com o propósito de estabelecer um entendimento lógico, a presente monografia
inicia no capítulo 2, por meio da conceituação temática, apresentando a origem do
esporte, seus benefícios e sua classificação, através da pesquisa exploratória e
bibliográfica. Em seguida avança para referências teóricas, de forma descritiva,
acerca do entendimento sobre arquitetura esportiva e equipamentos urbanos
comunitários, estudando o caso específico de Medellín, como exemplo de sucesso
em urbanização. Posteriormente é realizado um histórico do processo de urbanização
em Curitiba, sinalizando as consequências do processo de planejamento, divisão e
criação das regionais na cidade de Curitiba.
No capítulo 3, o entendimento dos conceitos torna possível a pesquisa analítica
dos estudos de caso escolhidos, buscando estabelecer características importantes e
comuns aos centros comunitários de esportes no Brasil, com os casos da Praça
Oswaldo Cruz em Curitiba e da Arena do Morro em Natal, e no mundo, com o caso
de Centro Esportivo Municipal Ciutadella, em Barcelona, na Espanha. Desse modo,
compreende-se o funcionamento do equipamento esportivo, de suas dimensões, usos
e seus fluxos auxiliando nas Diretrizes Projetuais.
No capítulo 4 é realizada a interpretação da realidade, iniciando com uma análise
da cidade de Curitiba na busca por um local para a implantação do projeto e, após
encontrar a Vila Nossa Senhora da Luz localizada na porção sul do bairro Cidade
Industrial de Curitiba, estuda sua história e suas características. Dessa maneira, ao
final do capítulo é estabelecido o terreno para a implantação do equipamento.
16

Finalmente, fundamentadas em toda a monografia, no capítulo 5 são


estabelecidas as Diretrizes Projetuais, visando orientar a proposta e colaborar para o
desenvolvimento do projeto de um novo Centro Comunitário de Esportes.

1.1 Problema

Com o contínuo crescimento da área urbana em Curitiba, o acesso à prática


regular de atividades físicas e esportivas não está presente em toda a cidade. Dessa
forma, regiões periféricas da cidade, possuindo grande população jovem, ainda não
dispõem de edificações que incentivem tal prática e solucionem toda a demanda local.

1.2 Hipótese

Um novo projeto de Centro Comunitário de Esportes, com infraestrutura


adequada e podendo abrigar a prática mesmo em dias de chuva, atenderá as
necessidades de uma comunidade e oferecerá o esporte como saúde tanto quanto
como agente educador, possibilitando a diminuição de índices de criminalidade e
tráfico de drogas.

1.3 Justificativas

No Brasil, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (IBGE, 2015)


afirmam que menos da metade da população pratica alguma atividade física
regularmente. Quando demonstrada a relação de praticantes com seu grau de
instrução e rendimento médio observam-se índices consideravelmente mais baixos
àqueles com menor instrução e menor renda, chegando a uma diferença de 35 pontos
percentuais na região Sul do país (IBGE, 2015). Quando perguntados sobre os
motivos para não praticarem esportes, mais de um terço apontou falta de interesse,
com destaque ao público mais jovem.
O esporte é capaz de formar cidadãos, promover ensinamentos e valores
(TUBINO, 1999) e dessa forma assegura educação, tendo o potencial de diminuir
índices de insegurança em uma comunidade.
No aspecto da saúde, constata-se o crescimento de índices de sobrepeso e
obesidade atingindo cerca de 56,9% da população do país e uma semelhante
tendência de crescimento em Curitiba (SISVAN, 2012). Consequentemente, aliados
ao sobrepeso e ao sedentarismo, encontram-se as ocorrências de diversas doenças
17

que podem ser minimizadas ou até mesmo solucionadas com a atividade física
adequada.
Para auxiliar em ambas as áreas, educação e saúde, o esporte deve ser
promovido pelo poder público, pois esse está inserido em saúde e lazer, direitos
fundamentais ao cidadão brasileiro segundo a Constituição Brasileira de 1988.
Deste modo, faz-se necessário maior incentivo à prática esportiva por meio de
espaços adequados, atraindo a curiosidade e a vontade da população, principalmente
em áreas de adensamento populacional em que a população não tem condições e
acesso à atividade física, buscando a democratização do esporte e transformando o
ambiente urbano e social.

1.4 Objetivo Geral

O objetivo geral é propor um novo espaço para a prática e o ensino de esportes,


buscando torná-lo um local de lazer, educação e segurança, atingindo públicos de
diversas faixas etárias, porém, priorizando o público jovem, na cidade de Curitiba.

1.5 Objetivos Específicos

 Entender a origem do esporte como formador social do cidadão;

 Esclarecer o que é arquitetura esportiva;

 Compreender o conceito de equipamentos urbanos comunitários e como esses


devem ser projetados;

 Estudar o processo de urbanização de Curitiba para melhor escolher a região de


implantação do equipamento;

 Elaborar um programa de necessidades adequado à pretensão do projeto;

 Criar um espaço atrativo à atividade física, à sociabilidade e à prática esportiva.


18

2 CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA

2.1 O esporte

2.1.1 Histórico

Desde os primórdios da humanidade encontram-se registros de atividades


físicas como rituais e formas de sobrevivência ao homem. Segundo Godoy (1996), já
em tempos antigos, eventos de disputas esportivas, como os Jogos Públicos e,
posteriormente, os Jogos Olímpicos, proporcionavam períodos de paz entre as
civilizações, interrompendo guerras e harmonizando povos.
Na Grécia Antiga, há registros do esporte como culto ao corpo e com o fim
educativo, além de serem importantes meios da formação físico-intelectual (GODOY,
1996). Têm-se, ainda, nesse período, construções com a única finalidade de abrigar
práticas esportivas, como o ginásio, o estádio, o hipódromo e a palestra 1, presentes
em diversas cidades gregas antigas, bem como em Olímpia (Figura 1).

Figura 1 – Reconstrução da cidade de Olímpia antiga.


Fonte: Wikimedia Commons, modificado pela Autora.

1As palestras eram edificações destinadas à prática de modalidades de ataque e defesa, possuindo
dimensões menores que os ginásios (GODOY, 1996).
19

Porém, por muito tempo, em todo o mundo, o esporte teve seu aspecto
educacional esquecido e foi compreendido apenas pelo seu aspecto de alto
rendimento, fazendo surgir correntes contrárias ao seu treinamento. Inspirado por tais
correntes, o ganhador do Nobel da Paz, Philip Noél-Baker, recordou, em 1964, a
existência de outras expressões desportivas. Reiniciava, assim, a ideia do esporte ao
homem comum e na vida escolar (TUBINO, 1999).
Após algum tempo, em 1978, a Carta Internacional de Educação Física e
Esporte, publicada pela Unesco, estabeleceu a atividade esportiva como um direito
de todos. Referência em todo o mundo, provocou grandes mudanças no papel do
Estado, possibilitando até mesmo a inclusão do esporte como direito fundamental na
Constituição Brasileira de 1988.
Atualmente, o esporte tem papel fundamental na vida do brasileiro, visto que é
uma manifestação cultural, social, comunitária e, ainda, econômica. Expressa a
identidade polissêmica, multicultural e miscigenada do país, refletindo de forma quase
completa o povo brasileiro (DACOSTA, 2005).

2.1.2 Benefícios do esporte

Apesar do país ter grande interesse pelo esporte, menos da metade da


população pratica alguma atividade física regularmente (IBGE, 2015), deixando de
usufruir de suas vantagens.
A vida saudável, definida pela OMS como “um estado de amplo bem-estar físico,
mental e social, e não somente a ausência de doenças e enfermidades”, tem ligação
direta com a qualidade de vida, abrangendo parâmetros de saúde, lazer, educação e
todo o universo ligado ao ser humano e seu meio (ALMEIDA et. Al, 2012).
Para atingir tais parâmetros, a atividade física é bastante eficaz. Na saúde tem
inúmeros benefícios, podendo aumentar a autoestima e a capacidade mental, diminuir
perigos de doenças cardíacas e reduzir possibilidade de diabetes. Ainda, segundo
Wagner Gasparini, ajuda a tardar o envelhecimento, pois fortalece os músculos e a
manutenção óssea.
Como fenômeno social e político, aliado à educação, o esporte pode ser
motivador do conjunto de transformações culturais de uma sociedade, ensinando
diversos valores e socializando o cidadão (BRUEL, M. R. 1989). Pode, ainda, ser
percebido como lazer, pois libera hormônios capazes de proporcionar bom humor.
20

2.1.3 Conceitos Relacionados

Conceituadas por diversos autores, as concepções acerca dos objetivos do


esporte, aqui entendidas segundo M. J. G. Tubino (1999), separam-se em: esporte
performance, esporte educação e esporte participação.
O primeiro deles têm o alto rendimento como principal característica, sendo o
esporte que conduz espetáculos e quebra recordes. Obedece regras rígidas e objetiva
o melhor desempenho através de muito treinamento, desprendendo-se, por vezes, de
princípios morais. Exemplos de esporte performance são as grandes competições
mundiais, como os jogos olímpicos.
Já o esporte educação, oposto ao esporte de rendimento, é entendido como um
processo educacional capaz de formar jovens cidadãos, promover ensinamentos e
valores, além do bem-estar. Tal conceito não se atém em regras institucionais,
prevalecendo ensinamentos para a vida em sociedade. Geralmente tem como público
alvo crianças e jovens, em escolas ou centros esportivos.
Por último, o esporte participação, sendo a prática esportiva como forma de lazer
que procura atingir democraticamente todos os agentes da comunidade, promovendo
o bem-estar e principalmente a interação, o envolvimento e as relações interpessoais.
Ao analisar os três conceitos de esporte, para essa monografia, destacam-se o
esporte educação e o esporte participação, pois esses relacionam-se com o caráter
comunitário e de mudanças sociais pretendido ao projeto a ser proposto.

2.2 Arquitetura e esporte

A arquitetura esportiva não pode ser entendida tal qual instalação esportiva,
segundo Camila Forcellini (2014). O conceito de arquitetura perpassa por diversas
áreas do conhecimento e estende-se por toda a história da humanidade.
De forma mais sintética, Carlos Lemos (apud Forcellini, 2014) apresenta a
arquitetura como forma de responder às ausências criando novos ambientes propícios
a sua atividade e envolvendo intenções plásticas. Desse modo, Lemos recorda
Vitrúvio, retomando dois dos três princípios básicos de seu tratado de arquitetura
(Figura 2), Utilitas e Venustas2.

2 "De Architectura" ou, em português, “Tratado de Arquitetura”, é datado do século I a.C. Teorizado por
Vitrúvio, define a arquitetura com a tríade básica composta por Venustas (estética e beleza), Firmitas
(firmeza e qualidade) e Utilitas (utilitário e funcional).
21

Figura 2 – Tríade Vitruviana.


Fonte: Autora, 2018.

Considerando tais referências, conclui-se que, por exemplo, uma quadra sozinha
em meio ao quarteirão ou a uma praça atende ao aspecto funcional, porém,
desconsidera seu aspecto estético e, portanto, não pode ser considerada arquitetura
esportiva, mas sim uma instalação esportiva (FORCELLINI, 2014).
Logo, encontra-se como concepção de arquitetura esportiva aquela que atende
aos aspectos funcionais, aspectos de qualidade e apresentam procura por uma
estética atraente e motivadora da prática esportiva. Dessa maneira, o profissional
arquiteto tem grande relevância, cuidando de aspectos técnicos tanto quanto
estéticos.
Ainda, como já evidenciado anteriormente, o esporte pode ter caráter
educacional e participativo e, da mesma forma, a arquitetura esportiva pode promover
tais formas de esporte, possibilitando aspectos importantes à vida da criança, do
jovem ou adulto.
Logo, uma boa arquitetura esportiva pode mover barreiras sociais e, ainda,
transformar o espaço urbano, tendo seu aspecto de equipamento comunitário
aguçado.

2.3 A vida urbana e os equipamentos urbanos comunitários

Nos últimos anos a população saiu das áreas rurais e passou a residir nas
cidades. No Brasil, cerca de 84% da população vive atualmente em situação urbana,
segundo IBGE. Em busca de atender as demandas desse crescimento, os
equipamentos urbanos comunitários desempenham importante papel, funcionando
como suporte aos serviços básicos.
22

A NBR 9284 (1986) define equipamentos urbanos como todos aqueles de


utilidade pública, privados ou públicos, destinados à prestação de serviços
fundamentais ao funcionamento da cidade, classificando-os em: circulação e
transporte, cultura e religião, esporte e lazer, infraestrutura, sistema de comunicação,
sistema de energia, sistema de iluminação pública, sistema de saneamento,
segurança pública e proteção, abastecimento, administração pública, assistência
social, educação e saúde. A Lei Federal 6766 (1979) apresenta equipamentos
urbanos comunitários como aqueles públicos, de educação, cultura, saúde, lazer e
similares.
Em tempos de grande preocupação por segurança, o medo é fator comum na
vida cotidiana das grandes cidades. Tal insegurança é a causa da baixa ocupação
dos espaços públicos e coletivos, enfraquecendo as relações interpessoais. Henry
Lefebvre (apud OLIVEIRA, 2011) defende a vida urbana como encontros de
diferenças e apropriação do espaço que se vive. Portanto, equipamentos urbanos
comunitários, sendo polos de confluência da comunidade, têm sua importância
reconhecida e devem ter seu planejamento bem compreendido.
Segundo Jan Gehl, em seu livro “Cidade para as pessoas”, diversos princípios
atuam como motivadores do uso do espaço urbano. Considerando equipamentos
urbanos comunitários como extensões das ruas, estes devem ser compreendidos de
maneira semelhante.
A distribuição das funções da cidade, o espaço convidativo ao pedestre, a
existência de lugares de permanência, a garantia da escala humana e da visão
desobstruída são alguns dos fundamentos presentes na lista de 12 aspectos de
qualidade para a paisagem do pedestre, Figura 3 (GEHL, 2013). Vários desses
refletem-se na arquitetura e principalmente nos equipamentos públicos, visto que
esses devem servir de exemplos às outras edificações.
23

Figura 3 – 12 critérios de qualidade com respeito à paisagem do pedestre.


Fonte: GEHL, 2013.

Nesse contexto de cidades e espaços públicos surge o termo Catalisador


Urbano, significando locais que promovem a dinâmica e a revitalização de seu entorno
com espaços de encontros e experiências abertas ao uso público e compartilhado
(SOUZA, 2013). Dessa maneira, praças e equipamentos urbanos comunitários como
escolas, teatros e inclusive espaços esportivos são considerados instrumentos
catalisadores. Várias cidades do mundo utilizaram do espaço público para a promoção
e democratização do acesso à cidade, sendo Medellín, na Colômbia, uma delas.
24

2.3.1 O caso de Medellín

Medellín, segunda cidade em importância comercial da Colômbia, apenas atrás


da capital Bogotá, deixou de ser referência em violência para tornar-se referência em
urbanidade, processos de inclusão e apropriação do espaço público (ECHEVERRI,
2016).
Sua história de segregação se inicia por volta de 1950, quando ocorreu um
processo de intensa luta armada, causando a migração da população dessas áreas
para os morros da cidade de Medellín que, sem infraestrutura, gerou o crescimento
da exclusão social (OLIVEIRA, 2011). Ainda, nos anos de 1980 e 1990, o narcotráfico
tomava conta da cidade, evidenciando ainda mais tal aspecto.
O início da estratégia de Urbanismo Social foi o programa do Governo Nacional
da Consejería Presidencial de Medellín que, com a ajuda do governo alemão, originou
um programa de melhoramento integral de bairros, por volta de 1995. Em 2003, o
acadêmico Sergio Fajardo ganhou as eleições e iniciou a transformação mais
importante na cidade (ECHEVERRI, 2016).
Tanto o governo de Fajardo (2004-2007) quanto o de seu sucessor, Alonso
Salazar (2008-2011), tiveram como base Projetos Urbanos Integrais e sólida
intervenção no sistema educacional. Dessa forma, a definição dos locais de
intervenção foi fundamentada no IDH (Índice de Desenvolvimento Urbano),
escolhendo como prioridade os bairros com menor índice, para que houvesse
transparência e justa distribuição (OLIVEIRA, 2011). A escolha evidencia o aspecto
de vulnerabilidade social como fator importante nas ações urbanísticas.
Vários setores da urbanização foram reorganizados, como o saneamento, a
pavimentação e iluminação das ruas, além do transporte urbano. Concomitantemente
houve a geração e revitalização de equipamentos urbanos, como praças, centros de
saúde e espaços esportivos (OLIVEIRA, 2011). As Figuras 4 e 5 são exemplos de
equipamentos implantados em meio à população de baixa renda como
potencializadores do espaço público como interação, gerando orgulho à comunidade.
25

Figura 4 – Parque Biblioteca Espanha, projetado pelo arquiteto Giancarlo Mazzanti.


Fonte: Archdaily, 2008.

Figura 5 – Parque Explora, projetado por Alejandro Echeverri + Valencia arquitetos.


Fonte: Alejandro Echeverri + Valencia arquitetos, 2008.

Para tornarem-se visíveis todos os programas do governo, a arquitetura e o


urbanismo foram as ferramentas fundamentais. Dessa forma, Medellín se transformou
em um laboratório vivo e dinâmico de inovação, principalmente nos bairros do norte
da cidade, onde estavam os problemas de desigualdade mais fortes (ECHEVERRI,
2016).
Portanto, buscando atuar como transformador e integrador urbano por meio do
equipamento comunitário, deve-se entender a história da cidade em questão. Dessa
maneira, o próximo capítulo estuda a história da cidade de Curitiba, aonde pretende-
se implantar o novo Centro Comunitário de Esportes.
26

2.4 Curitiba: alguns traços de sua história

Em 29 de março de 1693, ao ser criada a Câmara Municipal, é fundada a Vila


Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, posteriormente, em 1721, chamada de Curitiba
(PREFEITURA MNICIPAL DE CURITIBA, 2018).
O município contou com pequenas ações de natureza urbanística, entretanto, o
primeiro planejamento urbano aconteceu apenas em 1943, com o Plano de
Urbanização de Curitiba, conhecido como Plano Agache, formulado pelo francês
Alfred Agache (IPPUC, 2004).
O Plano Agache propunha um conjunto de avenidas perimetrais, radiais e
diametrais para a configuração de uma cidade radiocêntrica, organizada conforme
Figura 6.
Ainda, compreendia a criação dos Centros Funcionais e do Código de Obras e
Zoneamento, a distribuição dos espaços livres e a previsão de extensão da cidade.
27

Figura 6 – Esquema Geral das avenidas que compunham o Plano Agache.


Fonte: DUDEQUE, 2010.

Suas principais contribuições para a paisagem hoje configurada em Curitiba


foram o Sistema Viário Radiocêntrico e os Centros Funcionais abrangendo o Centro
Cívico, o Centro Comercial e Industrial, os Centros Residenciais e os Centros
Educativos.
Em relação à atividade esportiva, o plano propôs a criação de um estádio como
Centro Esportivo Principal (CURITIBA, 1943). No entanto, o estádio tinha a intenção
de concentração popular e contato com as massas proeminente ao seu aspecto
esportivo, característica comum à política mundial das décadas de 30 e 40
(DUDEQUE, 2010).
28

O Plano Agache foi parcialmente implantado e após vinte anos, por volta de
1960, a cidade exibiu vestígios de rápido crescimento que, sem ter sido previsto,
configurou-se de modo desordenado fazendo-se necessário um novo planejamento
urbano (IPPUC, 2004). A administração municipal de Curitiba define então, em 1965,
um concurso com o propósito de escolher o novo plano urbanístico para a cidade.
Jorge Wilheim Arquitetos Associados juntamente com a Sociedade SERETE de
Estudos e Projetos elaboraram a proposta vencedora, que, após passar por
modificações pelo IPPUC, se tornaria o novo Plano de Urbanismo de Curitiba.
O Plano Wilheim-SERETE demarca o crescimento da cidade de forma
linearizada, definindo setores estruturais que se estendem nos sentidos Norte, Sul,
Leste e Oeste (IPPUC, 2004). Tais setores passaram a ter semelhanças em funções
urbanas com a área central, criando uma estrutura polarizadora nos bairros periféricos
e aliviando o centro principal (SERETE, WILHEIM,1965).
Os setores estruturais contam com três eixos viários: a via central, possuindo
transporte público coletivo em canaletas exclusivas, com vias de tráfego lento de
transporte individual e duas vias paralelas à via central, com tráfego rápido, uma para
cada sentido (SERETE, WILHEIM, 1965), conforme Figura 7.

Figura 7 – Explicação do sistema Trinário.


Fonte: www.ippuc.org.br.

Outras estratégias do plano baseiam-se na presença de serviços públicos e


equipamentos comunitários, estimulando o policentrismo e o adensamento ao longo
dos eixos estruturais. Dessa forma, evidencia-se que o modelo monofuncional
modernista não era viável para a cidade, revelando a distribuição de diferentes
funções como fundamental à vida urbana (BARBOSA, 2005).
29

Já na década de 1970, implanta-se, em Curitiba, o sistema de transporte público


BRT3. Até 1971, a cidade estava afastada dos centros nacionais de urbanismo, no
entanto, meia década depois já havia sido reconhecida por seu sucesso em
planejamento urbano e por introduzir novas soluções urbanas (DUDEQUE, 2010).
Na década de 1980 surgem novos pensamentos acerca da cidadania e de
espaços de convivência, intensificando o desenvolvimento social e objetivando atingir
a parcela da população com menor poder aquisitivo (IPPUC, 2004).
É por volta do início da década de 1990 que a prefeitura subdivide-se em
administrações regionais apresentadas como novos centros referenciais dos bairros,
contendo atendimentos a respeito de serviços públicos, áreas esportivas e espaços
culturais, localizados, em sua maioria, junto à terminais de transporte coletivo
(BARBOSA, 2005). Apenas em 1999, com a construção das Ruas da Cidadania4 que
faltavam, tal processo de regionalização administrativa se concretiza (WALTER,
2004).
Nas Ruas da Cidadania o esporte foi incentivado, uma vez que a SMELJ5 obteve
espaços para atividades físicas, com quadra poliesportiva.
Todo esse movimento de descentralização provocou mudanças. Os principais
eixos estruturais tornaram-se bem servidos de infraestrutura e serviços, porém, em
sua maioria, ocupados por edifícios de alto padrão e população de alto poder
aquisitivo, obrigando a população de baixa renda a migrar para as periferias da cidade
e permanecer, assim, com carência de infraestrutura. Dessa forma, Curitiba deve
atender demandas das regiões mais periféricas, buscando a democratização do
acesso à cidade.

3 BRT – Bus Rapid Transit ou Transporte Rápido por Ônibus é um tipo de sistema de transporte coletivo,
implantado de forma pioneira em Curitiba, em que os ônibus possuem via exclusiva, proporcionando
maior eficiência.
4 Ruas da Cidadania são centros de bairros da cidade de Curitiba, com objetivo principal de promover

o acesso da comunidade proveniente da periferia da cidade aos serviços urbanos, procurando


estabelecer condições de igualdade e de atendimento a suas necessidades (BARBOSA, 2005).
5 SMELJ - Secretaria Municipal do Esporte, Lazer e Juventude.
30

3 ESTUDOS DE CASO

Com o objetivo de obter embasamentos necessárias para dimensionar e


desenvolver o projeto proposto foram selecionados e estudados alguns projetos de
diferentes características e com diferentes qualidades, ajudando assim a
compreender diferentes soluções à vários aspectos referentes ao projeto a ser
concebido.
Dessa maneira, foram escolhidos: Praça Oswaldo Cruz (Centro de Esporte e
Lazer Dirceu Graeser), sendo um projeto local, como referência de funcionamento de
equipamentos esportivos públicos na cidade de Curitiba; Centro Esportivo Municipal
Ciutadella, um projeto internacional, como referência de boa arquitetura esportiva;
Arena do Morro, um projeto em território brasileiro, com semelhança em seu contexto
urbano, além de ser referência como boa arquitetura esportiva e multifuncional.

3.1 Praça Oswaldo Cruz - Centro de Esporte e Lazer Dirceu Graeser

Inaugurada em 1974, a Praça Oswaldo Cruz localiza-se no bairro Centro, em


Curitiba, entre as Ruas Lamenha Lins e Brigadeiro Franco e as Avenidas Visconde de
Guarapuava e Sete de Setembro.
O projeto original, de autoria do arquiteto Roberto Luiz Gandolfi, possuía
playground, pista de salto, piscina aberta, ginásio coberto, salto em altura e pista de
atletismo, conforme projeto em Figura 8 (XAVIER, 1986).

Figura 8 – Projeto Original, Praça Oswaldo Cruz, 1974.


Fonte: XAVIER, 1986.
31

Denominada Centro de Esporte e Lazer (CEL) Dirceu Graeser, os


equipamentos esportivos sempre tiveram grande uso da população, como mostra a
Figura 9, da década de 1980.

Figura 9 – Praça Oswaldo Cruz, 1986.


Fonte: www.i.pinning.com.

Após 5 anos de obras, o centro foi reinaugurado em março de 2018, tornando-


se o maior espaço esportivo público do município, com capacidade para atender
aproximadamente três mil pessoas por mês (Prefeitura de Curitiba, 2018).
O projeto da reforma foi desenvolvido pelo escritório Gandolfi Arquitetos e
executado pelo IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba).
Assim, foram executadas a nova cobertura da piscina com instalações de vestiários,
além da reforma no ginásio poliesportivo, com reparos na cobertura e troca do piso de
madeira na quadra.
Dessa forma, a Praça Oswaldo Cruz se apresenta, hoje, como desenho
apresentado na Figura 10, possuindo cerca de 15.800m², com pista de caminhada e
de atletismo, playgrounds, quadra descoberta, academia ao ar livre, posto policial,
ginásio poliesportivo e piscina coberta com instalações de vestiários, salas multiuso e
áreas de apoio.
32

Figura 10 – Planta Geral da Praça Oswaldo Cruz


Fonte: Arquivo disponibilizado por Galdolfi Arquitetos, modificado pela Autora.

Seu acesso principal acontece pela Rua Brigadeiro Franco (Figura 11), frente
a frente com o Shopping Curitiba.

Figura 11 – Acesso CEL Dirceu Graeser, 2018.


Fonte: Autora, 2018.
33

O CEL Dirceu Graeser foi escolhido como estudo de caso por se tratar de uma
referência municipal de funcionamento de equipamento esportivo, com escala próxima
ao projeto a ser concebido, e pela qualidade arquitetônica de seus espaços internos.
Dessa forma, o estudo será feito principalmente nos ambientes cobertos, como o
ginásio poliesportivo e a piscina.
O acesso às edificações ocorre pelo eixo principal de entrada da praça (Figura
12), ao nível do pavimento térreo, acessando hall, vestiários e a piscina, além da
arquibancada e salas multiuso que costumam abrigar aulas de ginástica, dança e
musculação.

Figura 12 – Planta baixa Pavimento Térreo, CEL Dirceu Graeser.


Fonte: Arquivo disponibilizado por Galdolfi Arquitetos, modificado pela Autora.

A construção da piscina apresenta apenas o pavimento térreo, porém, o ginásio


poliesportivo apresenta subsolo (Figura 13) que abriga salas multiusos e de apoio,
vestiários e a quadra, rebaixada em torno de 2 metros do nível da praça, garantindo,
assim, continuidade visual ao conjunto (XAVIER, 1986).
34

Figura 13 – Planta baixa Pavimento Subsolo, Ginásio Poliesportivo, CEL Dirceu Graeser.
Fonte: Arquivo disponibilizado por Galdolfi Arquitetos, modificado pela Autora.

O ginásio poliesportivo corresponde ao ponto focal de maior interesse do


conjunto, por possuir uma estrutura em treliça espacial de 45 x 50 metros (Figuras 14
e 15), apoiada em apenas quatro pilares de concreto armado, apresentados na Figura
16.

Figura 14 – Corte transversal, Ginásio Poliesportivo, CEL Dirceu Graeser.


Fonte: XAVIER, 1986, modificado pela Autora.
35

Figura 15 – Ginásio Poliesportivo, CEL Dirceu Graeser.


Fonte: Autora, 2018.

Figura 16 – Pilar, Ginásio Poliesportivo, CEL Dirceu Graeser.


Fonte: Autora, 2018.

Assim, sua estética é voltada à estrutura aparente que impressiona o usuário,


sem vedações laterais, provocando amplitude e total conexão do interior com o
exterior.
Diferentemente, a piscina, alvo principal da última revitalização, apresenta um
volume de fechamento bastante sólido, isolando-se em seu interior, como mostra a
Figura 17.
36

Figura 17 – Interior da área de piscina, CEL Dirceu Graeser.


Fonte: Autora, 2018.

O funcionamento do Centro de Esportes e Lazer acontece de segunda a sexta,


das 8h às 21h, com aulas de natação, pólo aquático, ginástica, vôlei, basquete, futsal,
handebol e musculação. A população pode, ainda, reservar o ginásio para a prática
de esportes ao final de semana.
Os equipamentos como pistas de caminhada e atletismo, academia ao ar livre,
quadra descoberta e playgrounds ficam à disposição todos os dias até as 21horas,
com segurança do posto policial.
Dessa maneira, o CEL Dirceu Graeser é um exemplo de como a cidade oferece
o esporte à população, além de ser uma referência local de projeto de equipamento
esportivo.

3.2 Centro Esportivo Municipal Ciutadella

Localizado no distrito de Ciutat Vella, um dos mais povoados da cidade de


Barcelona, o Centro Esportivo Municipal (CEM) Ciutadella é um equipamento urbano
integrado e utilizado como fechamento do Parque da Ciutadella (Figura 18).
37

Figura 18 – Visão geral do Centro Esportivo Municipal Ciutadella.


Fonte: BATLLE I ROIG ARQUITECTES,2018.

Na revisão do plano diretor decidiu-se propor uma área significativa à criação de


um equipamento esportivo que melhorasse a prática esportiva pela população
(ARCHDAILY, 2014). Dessa forma, o CEM Ciutadella foi projetado em 2005 e
inaugurado em 2009, com autoria do escritório Batlle I Roig Arquitetos, formado por
uma equipe multidisciplinar de engenheiros, arquitetos e urbanistas.
Com terreno de aproximadamente 4.300m² e área construída de cerca de
2.300m², o edifício foi escolhido como estudo de caso por sua dimensão e programa
semelhantes ao projeto a ser proposto, sua planta funcional, sua intenção plástica
voltada ao cuidado com a escala do pedestre e seus aspectos de qualidade espacial,
como o tratamento para o conforto acústico.
Seu acesso principal acontece pelo pavimento térreo (Figura 19), onde pode-se
acessar o hall de entrada, sanitários e arquibancadas com vista ao ginásio
poliesportivo.
38

Figura 19 – Planta baixa Pavimento Térreo, CEM Ciutadella.


Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2014, modificado pela Autora.

Situado cerca de 50cm acima do nível da rua, o térreo apresenta fechamento em


vidro, buscando a conexão visual entre o exterior e o interior do edifício. O pavimento
superior, por sua vez, alterna a transparência com um fechamento em brise de
madeira, deslocado da fachada, de forma a proteger os ambientes do aquecimento
excessivo e buscando, visto de fora, misturar-se com as árvores e o seu entorno
(Figura 20).

Figura 20 – Fachada principal, CEM Ciutadella.


Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2014.

O ginásio poliesportivo e as piscinas encontram-se no subsolo, cerca de 3,5m


enterrados em relação ao nível da rua. Acompanhando tais espaços existem dois
39

vestiários (um masculino e um feminino) com áreas de sanitários, banho e troca de


roupas, além de áreas técnicas, depósitos, suporte médico e salas administrativas
(Figura 21).

Figura 21 - Planta baixa Pavimento Subsolo, CEM Ciutadella.


Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2014, modificado pela Autora.

O pavimento subsolo do projeto surge com a intenção de não ultrapassar em


altura edifícios do entorno. A organização dos espaços aproveita a diferença de pé
direito entre a piscina e a quadra poliesportiva, de forma a posicionar um pavimento
acima das piscinas a fim de igualar o pé direito maior, do ginásio. Assim, as salas
multiuso encontram-se de acordo com o corte setorial apresentado na Figura 22, em
que pode-se observar também as dimensões do pé direito livre das piscinas, dos
vestiários e da circulação horizontal de entrada.
40

Figura 22 – Corte Setorial, CEM Ciutadella.


Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2014, modificado pela Autora.

Construído em estrutura metálica, o CEM Ciutadella possui pilares em perfil I,


revestidos e de dimensões próximas a 30x30cm. Transversalmente existem três
grandes vãos de aproximadamente 19m, 6m e 12m, enquanto que longitudinalmente
acontece menores vãos, de 4m, repetidos de forma a criar a malha para o projeto.
A qualidade do projeto é observada, por exemplo, com as Figuras 23 e 24, onde
observa-se o forro rebaixado e o cuidado com o conforto acústico em todos os
ambientes internos, além do aproveitamento da luz natural por meio da utilização de
grandes vidros.

Figura 23 – Área interna de piscinas, CEM Ciutadella.


Fonte: BATLLE I ROIG ARQUITECTES, 2018.
41

Figura 24 – Área Interna do ginásio poliesportivo, CEM Ciutadella.


Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2014.

Além de proporcionar a visão interna do edifício e desfrutar da luz natural


durante o dia, a transparência dos vidros valoriza a edificação no período noturno,
com sua iluminação amarelada revelando-se de forma expressiva, conforme
observado na Figura 25.

Figura 25 – CEM Ciutadella ao entardecer.


Fonte: BATLLE I ROIG ARQUITECTES, 2018.

Uma particularidade interessante do projeto são as ruínas das muralhas da


cidadela antiga, construída por Filipe V em 1714, encontradas no terreno e
incorporadas ao projeto, como visto na Figura 26 (Batlle i Roig Arquitectes, 2018). A
possibilidade de sua visibilidade e visitação demonstra o respeito da arquitetura ao
valor arqueológico, além de o protegê-lo da degradação.
42

Figura 26 – Área Interna de piscinas com ruínas, CEM Ciutadella.


Fonte: BATLLE I ROIG ARQUITECTES, 2018.

Assim, pela análise, conclui-se que o projeto do Centro Esportivo Municipal


Ciutadella é um exemplo de boa arquitetura e auxiliará o projeto a ser feito tanto em
aspectos técnicos quanto plásticos.

3.3 Arena do Morro

Localizado na comunidade Mãe Luiza, na cidade de Natal, no Rio Grande do


Norte, o ginásio Arena do Morro é parte de um projeto urbanístico intitulado "Uma
Visão Para Mãe Luiza", do escritório suíço Herzog & de Meuron em parceria com o
Centro Sócio Pastoral Nossa Senhora da Conceição (ARCHDAILY, 2014).
A proposta inclui um eixo renovado de edifícios e intervenções, criando uma
sequência de atividades públicas, perpendicular à rua principal de Mãe Luiza,
chegando de encontro ao mar, como apresentado na Figura 27.

Figura 27 – Proposta urbanística "Uma Visão Para Mãe Luiza", Arena do Morro.
Fonte: ARCOWEB.
43

O projeto foi escolhido como estudo de caso por estar implantado em uma
comunidade carente (Figura 28) e possuir escala semelhante ao projeto a ser
proposto, além de apresentar grande qualidade estética, funcional e de conforto
ambiental.

Figura 28 – Vista aérea, Arena do Morro.


Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2014.

O ginásio contém uma quadra poliesportiva envolvida por arquibancadas para


aproximadamente 420 pessoas, além de salas multiuso, vestiários e banheiros em
seu pavimento térreo (Figura 29). É possível acessá-lo da rua e, ainda, diretamente
da escola, no terreno vizinho.
44

Figura 29 – Planta baixa Pavimento Térreo, Arena do Morro.


Fonte: AREA, 2014, modificado pela Autora.

Seu pavimento superior compõem-se de um terraço com vista para o mar e áreas
técnicas (Figura 30). Para alcançá-lo existe uma rampa que circunda um dos volumes
do edifício, criando um pequeno promenade architecturale6, visto na Figura 31.

Figura 30 – Planta baixa Pavimento Superior, Arena do Morro.


Fonte: AREA, 2014, modificado pela Autora.

6Promenade architecturale ou passeio arquitetural é um conceito de Le Corbusier, em que a arquitetura


deve ser compreendida em movimento e, portanto, caminhos devem ser criados, de forma a pontuar a
experiência arquitetônica com surpresas constantes (MACIEL, 2002).
45

Figura 31 – Rampa de acesso ao terraço, Arena do Morro.


Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2014.

O ponto de partida para o projeto foi uma estrutura existente do antigo ginásio
que, estendida ao longo de toda área do terreno, trouxe uma nova escala para a
comunidade, tornando-se um símbolo local (ARCHDAILY, 2014).
Sua estrutura metálica é simples, mostrada na Figura 32, possuindo pórticos que
vencem vãos de até 30 metros, distanciados 5 metros entre si, alcançando um pé
direito livre de 9 metros ao centro (Figura 33).

Figura 32 – Estrutura, Arena do Morro.


Fonte: HERZOG & DE MEURON.
46

Figura 33 – Corte transversal, Arena do Morro.


Fonte: AREA, 2014, modificado pela Autora.

Os dois limites da cobertura de duas águas convidam as pessoas a entrarem,


pois abrem-se para o bairro. Uma parede única estabelece o perímetro interno,
seguindo as arquibancadas em volta da quadra e as curvas dos volumes circulares
que abrigam os espaços mais privados.
As formas circulares são independentes da cobertura, evidenciam o caráter
comunitário de todo o espaço e são formadas de blocos de concretos manufaturados
particularmente desenvolvidos para o projeto. Cada bloco possui lâminas verticais
arredondadas, dispostas diagonalmente e pode ser girado em diferentes orientações,
criando vários níveis de privacidade (Figura 34). Dessa forma, as paredes permitem
que a brisa fresca do mar adentre o edifício e expulse o ar quente, ao mesmo tempo
que filtra a luz natural e provoca um jogo de luz e sombra em todo o edifício
(ARCHDAILY, 2014).

Figura 34 – Bloco de vedação, Arena do Morro.


Fonte: HERZOG & DE MEURON.
47

A cobertura é formada por telhas onduladas de alumínio com isolamento,


sobrepostas umas às outras, permitindo aberturas para iluminação e ventilação
natural, ao mesmo tempo que abrigam da chuva. O piso é de material local, o granilite,
e configura uma continuidade com o restante do edifício, observado na Figura 35.

Figura 35 – Interior Arena do Morro.


Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2014.

Ao aproximarmos do edifício, a sua escala visual se dissolve por meio da sua


materialidade e de seus detalhes arquitetônicos, como pode-se observar na Figura
36.

Figura 36 – Vista da rua, Arena do Morro.


Fonte: ARCHDAILY BRASIL, 2014.

Desse modo, conclui-se, pela análise, que a Arena do Morro transforma o seu
ambiente natural e urbano em um destino público, integrando toda uma comunidade
em uma arquitetura esportiva de qualidade, que pode ainda receber atividades
culturais e de lazer. Portanto, o estudo ajudará na conceituação, concepção e
detalhamento do projeto.
48

3.4 Análise comparativa dos Estudos de Caso

A partir dos estudos de caso realizados foi possível entender diversas soluções
aplicadas que ajudarão no processo de criação do projeto a ser proposto. A Tabela 1,
logo abaixo, apresenta uma síntese das principais características compreendidas em
cada estudo:

Tabela 1 – Síntese de características observadas nos estudos de caso.


Fonte: Autora, 2018.

A fim de auxiliar posteriormente na criação e no dimensionamento do programa,


obteve-se a comparação das áreas dos três estudos de caso, na Tabela 2, e, por meio
dessa, foram gerados os gráficos 1, 2 e 3, para melhor visualização dos dados.
A partir do exposto percebe-se que, mesmo com diferenças no programa, há
diversas similaridades entre os dimensionamentos dos projetos, como a proporção de
área de ginásio poliesportivo e piscina, chegando bem próximas nos estudos que as
possuem. Observa-se também como a proporção de circulação (vertical e horizontal)
varia de 14% à 25% do projeto, pois essas podem possuir diferentes características,
e apresentar áreas de saguão de entrada, espera e interação. Com isso, a análise do
49

local, presente no próximo capítulo, faz-se necessária para a posterior elaboração do


programa de necessidades.

Tabela 2 – Comparação de áreas dos estudos de caso.


Fonte: Autora, 2018.
50

Gráfico 1 – Proporção de áreas por setor, Praça Oswaldo Cruz.


Fonte: Autora, 2018.

Gráfico 2 – Proporção de áreas por setor, CEM Ciutadella.


Fonte: Autora, 2018.

Gráfico 3 – Proporção de áreas por setor, Arena do Morro.


Fonte: Autora, 2018.
51

4 INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE

4.1 Curitiba: panorama atual

Segundo dados do IBGE do ano de 2010, Curitiba possuía 1.751.907 habitantes,


apresentando densidade demográfica de 40,30 habitantes por hectare, sendo
caracterizada como um município totalmente urbano. Apesar de ser conhecida por
inovações urbanísticas na década de 70, como citado anteriormente, ainda apresenta
grandes desigualdades sociais.
Para a escolha da área a atuar nessa monografia foram analisados diversos
fatores como a renda média da população (Figura 37), a densidade demográfica
(Figura 38) e índices de violência e homicídios. Os fatores foram comparados com
locais de existência de unidades esportivas relevantes (Figura 39) em toda a cidade.
A Figura 37 mostra um mapa de renda média de Curitiba em que é possível
observar diversos aspectos relevantes. O primeiro deles é a maior concentração de
renda nos bairros centrais e ao norte da cidade.
As Regionais Matriz e Santa Felicidade possuem um bom rendimento médio e
quase toda a sua população com mais de 3,1 salários mínimos. A Regional Boa Vista,
apesar de apresentar áreas periféricas com baixo rendimento, ainda mantém parte de
sua população com bom poder aquisitivo. A Regional Portão é bastante heterogênea,
ao norte assemelha-se às características da matriz, enquanto à oeste apresenta
partes com rendimento médio inferior à um salário mínimo.
Bastante expressivas no mapa, as Regionais Cidade Industrial de Curitiba (CIC)
e Tatuquara, por serem quase que totalmente preenchidas por população de renda
inferior à um salário mínimo, provocam interesse de estudo. De maneira geral,
constata-se como a população de menor renda continua ocupando os pontos mais
distantes do centro.
A respeito da densidade demográfica, com a Figura 38 é possível observar como
a Regional Matriz apresenta grande densidade, por ser a região central e mais antiga
de Curitiba. Ainda, as Regionais Portão e Cajuru apresentam áreas bastante densas.
A Regional Bairro Novo, periférica e ao sul, apresenta o bairro Sítio Cercado como
principal área relevante de população. As Regionais CIC e Tatuquara, significativas
no mapa de renda, também apresentam áreas com alta densidade.
52

Figura 37 – Mapa de Renda Média mensal dos responsáveis pelo domicílio. Dados de 2010.
Fonte: “A cidade que queremos” – Diagnóstico das Regionais, modificado pela autora.
53

Figura 38 - Mapa de Densidade Demográfica. Dados de 2010.


Fonte: “A cidade que queremos” – Diagnóstico das Regionais, modificado pela autora.
54

Com base na análise de segurança pública de 2010, elaborada pelo IPPUC,


maior número de homicídios acontece em bairros com concentração de ocupações
irregulares e SEHIS (Setores Especiais de Habitação de Interesse Social).
Coincidência preocupante, bairros com tal presença acentuada, como CIC,
Tatuquara e Sítio Cercado são considerados bastante inseguros. Baixa renda e
grande população menor de 14 anos são características comuns à esses, atentando
a importância do acompanhamento nessas áreas.
Sobrepondo os mapas de renda e densidade, nota-se diversas áreas de baixo
poder aquisitivo e alta densidade, como os bairros Sítio Cercado, Cajuru, Tatuquara e
CIC. Acrescentando o terceiro mapa com os equipamentos esportivos relevantes
(Figura 39), temos um panorama de lugares de população significativa, carente e não
atendida com relação ao acesso ao esporte educação.
Conclui-se, com esses dados, a escolha do bairro CIC como área de estudo da
presente monografia, visto que é um bairro de grande extensão territorial, possuindo
predominantemente população de baixa renda e apenas duas unidades esportivas de
relevância, ambas localizadas em sua porção norte.
55

Figura 39 – Unidades esportivas relevantes. 2018.


Fonte: IPPUC, 2018, modificado pela Autora.
56

4.2 Cidade Industrial de Curitiba

O local onde hoje está localizado o bairro Cidade Industrial de Curitiba era
denominado Prado de São Sebastião e no início do século XX sua ocupação era
marcada por chácaras e lotes agrícolas (IPPUC, 2015).
Na década de 1960, antes mesmo da existência do que hoje chamamos de CIC,
foi implantada a Vila Nossa Senhora da Luz, primeiro adensamento populacional da
região. Em 1973, por meio do Decreto nº30, resultado de convênio entre a URBS e o
Governo do Estado do Paraná, foi determinado os limites para a Cidade Industrial de
Curitiba (IPPUC,2015), inaugurada em março de 1975, segundo o Boletim Casa
Romário Martins intitulado “Cohab Curitiba: 41 anos de planejamento e realizações”.
Hoje, o bairro CIC (Figura 40) é o maior bairro de Curitiba. Com área de 4.431
hectares, representa cerca de 10% do território da cidade (IPPUC,2015) e é
subdividido, de maneira informal, em mais de 80 vilas.

Figura 40 – Localização Bairro Cidade Industrial de Curitiba (CIC)


Fonte: Autora, 2018.
57

Com densidade demográfica de 39 habitantes por hectare, sua população


representa cerca de 9% da população do município (IBGE, 2010).
A idade média dos habitantes é de vinte e seis anos, enquanto no município é
de quase trinta anos. Analisando, também, as pirâmides etárias (Figuras 41 e 42),
observa-se a proporção da população com idade entre 0 e 39 anos sendo maior no
CIC, enquanto em Curitiba é maior a proporção da população com mais de 40 anos.
Dessa maneira, a Cidade Industrial caracteriza-se por ser um bairro de habitantes
jovens, crianças e adolescentes.

Figura 41 – Pirâmide Etária de Curitiba (dados de 2010).


Fonte: IPPUC.

Figura 42 – Pirâmide Etária do bairro Cidade Industrial (dados de 2010).


Fonte: IPPUC.
58

Tendo em vista a caracterização da faixa etária como predominantemente jovem,


a avaliação dos índices de educação devem ser observados.
O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) foi criado em 2007 e
resume, variando de zero a dez, a performance das escolas brasileiras com relação
ao fluxo escolar e ao desempenho dos alunos (INEP, 2018). As escolas presentes no
bairro CIC apresentam valores de IDEB entre 4,8 e 6,1, e, portanto, ainda não
atendem a meta nacional 6, estipulada pelo Plano de Desenvolvimento da Educação,
para 2022.
Como visto anteriormente, a Cidade Industrial apresenta altos índices de
insegurança, com cerca de 80% a mais em números de homicídios e ocorrências
registradas, se comparado à Curitiba (IPPUC, 2015). Tais casos estão relacionados à
ocorrência do tráfico e uso de drogas, além das rixas entre grupos rivais.
Tendo visto, o bairro CIC, mais especificamente sua porção sul, foi a região
escolhida para a implantação do equipamento esportivo, sendo esse um equipamento
que atenda principalmente a população mais jovem, de maneira a transformar o futuro
do bairro.

4.3 Vila Nossa Senhora da Luz

A Vila Nossa Senhora da Luz (Figura 43) foi o conjunto habitacional pioneiro da
Companhia de Habitação Popular de Curitiba (COHAB-CT). Inaugurada em 11 de
novembro de 1966, a cerimônia contou com a presença do presidente Mar. Humberto
de Alencar Castelo Branco (Boletim Casa Romário Martins, 2006).
O título “COHAB – Curitiba: 41 anos de planejamento e realizações” relata a
importância da Vila, entendida como marco brasileiro na questão habitacional popular.
O projeto do conjunto ocupava mais de 70 hectares, à 15 quilômetros de distância do
centro de Curitiba, promovendo em torno de 2150 habitações e significando, na época,
uma quantia de aproximadamente dez mil moradores.
Com autoria dos renomados arquitetos Alfred Willer e Roberto Gandolfi,
juntamente com Cyro Correa Lyra e Lubomir Ficinski, o projeto, por ter sua
implantação em local tão isolado, contava com diversos equipamentos urbanos,
dentre eles escolas, igreja, centro de saúde e praças (MARTINS, 2016).
O projeto das residências previa dois padrões, um com 22m² e outro com 50m²
e possui como marca registrada a estrutura em alvenaria de tijolos e o sótão em
madeira. Acessível aos moradores, o baixo custo das casas e a prestação mais baixa
59

do Brasil, na época, só foram possíveis por meio da escolha por técnicas e materiais
econômicos (MARTINS, 2016).

Figura 43 – Vila Nossa Senhora da Luz, 1967.


Fonte: Boletim Casa Romário Martins, 2006.

Também projetado pelos arquitetos, a escola, até hoje existente, em


funcionamento e bem preservada, é um espaço de grande qualidade arquitetônica. O
diferencial é a utilização de claraboias que deixam a iluminação natural entrar nos
espaços de convivência e nas salas de aula, além das janelas que também funcionam
como portas, com a possibilidade de abrir para aumentar a ventilação e proporcionar
o acesso ao ar livre (PREFEITURA DE CURITIBA, 2014).
A Figura 44 mostra a implantação do projeto e demarca o eixo central destinado
aos equipamentos comunitários, incluindo a escola, e as 12 praças secundárias.
60

Figura 44 – Projeto Vila Nossa Senhora da Luz.


Fonte: Boletim Casa Romário Martins, 2006, modificado pela Autora.

Atualmente, a Vila Nossa Senhora da Luz se encontra incorporada à malha


urbana da cidade e situa-se próxima ao Terminal de Transporte CIC e à Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), conforme Figura 45.
61

Figura 45 – Vista aérea da Vila Nossa Senhora da Luz e seu entorno imediato.
Fonte: GOOGLE MAPS, modificado pela Autora.

A Vila Nossa Senhora da Luz e as vilas vizinhas são caracterizadas através do


conceito de Unidade de Vizinhança (UV). Elaborado por Clarence Arthur Perry, em
1929, a UV é uma área residencial que possui certa autossuficiência em relação às
necessidades diárias de consumo de bens e serviços, dispondo também de espaços
públicos e áreas institucionais, com escala de deslocamento para o pedestre
(BARCELLOS, 2001).
Tal conceito foi muito questionado e é considerado, por diversos autores, como
ultrapassado. Desse modo, com o crescimento da demanda social e o ressurgimento
do debate pelo lugar público, as soluções de distribuição e localização de
equipamentos públicos coletivos devem ser bem planejados de forma a atingir não
somente o público da unidade de vizinhança, mas também a população dos arredores
(BARCELLOS, 2001).
62

Portanto, o objetivo é atingir a população da Vila Nossa Senhora da Luz, tanto


quanto os habitantes das vilas vizinhas, como Oswaldo Cruz I, Oswaldo Cruz II,
Venezia A, Resistência, Nossa Senhora Aparecida, Ilha do Sol e o Conjunto
Residencial Parque Verde, localizados de acordo com a Figura 46, criando um ponto
de convergência das comunidades.

Figura 46 – Vila Nossa Senhora da Luz e vilas vizinhas.


Fonte: GOOGLE MAPS, modificado pela Autora.

A Vila N. Sra. Da Luz foi escolhida como ponto central de implantação do


equipamento esportivo por diversos motivos. Dentre esses, sua importância histórica,
seu processo de planejamento revolucionário para a época e sua posição próxima ao
terminal de transporte CIC e à UTFPR, a qual possui o curso de Bacharelado em
Educação Física, indicando um potencial de interação e aprendizado entre alunos e
sociedade.

4.3.1 Áreas esportivas existentes

Toda a região, por seguir o conceito de unidade de vizinhança, apresenta grande


quantidade de praças, e muitas dessas apresentam equipamentos de esportes,
conforme Figuras 47 e 48.
63

Figura 47 – Campo de areia em praça secundária.


Fonte: Autora, 2018.

Figura 48 – Academia ao Ar Livre em praça Enoch A. Ramos.


Fonte: Autora, 2018.

Entretanto, os equipamentos esportivos existentes são academias ao ar livre e


quadras de areia, sem cobertura, sem iluminação adequada e sem a busca plástica.
Portanto, dispondo do conceito de arquitetura esportiva já apresentado, de
Camila Forcellini (2014), pode-se classificar tais equipamentos como instalações
esportivas, e não arquitetura esportiva de qualidade, cuja ambiência é atrativa à
prática.
Logo, com objetivo de atingir a arquitetura esportiva, será projetado um
equipamento esportivo de qualidade, com espaços seguros, adequados e de uso
64

integral, atendendo às necessidade de encontros da população infantil, jovem e adulta


da região.

4.4 Definição do terreno

Com base no exposto anteriormente, a Vila N. Sra. Da Luz possui um eixo de


equipamentos comunitários em sua área central. Tal eixo possui igreja, farol do saber,
Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), duas escolas municipais e a
praça Enoch Araujo Ramos (Figura 49).
65

Figura 49 – Implantação Vila Nossa Senhora da Luz e seu eixo central.


Fonte: Autora, 2018.

Próximo à praça, há duas construções abandonadas, apresentadas na Figura


50, cujas existência e história dessas se mostraram perdidas no tempo, por não serem
reconhecidas pela população e pela bibliografia. Com fechamentos e muros para o
66

passeio, tais edificações causam o estreitamento da calçada e consequentemente são


geradoras de insegurança e de desaparecimento da escala do pedestre (Figuras 51,
52, 53 e 54).

Figura 50 – Vista aérea com indicação de fotos.


Fonte: GOOGLE MAPS, modificado pela Autora.

Figura 51 – Foto Vista A do terreno.


Fonte: Autora, 2018.
67

Figura 52 - Foto Vista B do terreno.


Fonte: Autora, 2018.

Figura 53 – Foto Vista C do terreno.


Fonte: GOOGLE STREET VIEW, 2017.
68

Figura 54 – Foto Vista D do terreno.


Fonte: GOOGLE STREET VIEW, 2017.

Dessa forma, com os problemas percebidos somados à importância e caráter de


encontro e ocupação do espaço público que o equipamento a ser proposto deve
desempenhar, esse foi o terreno escolhido.

4.4.1 Apresentação

O terreno encontra-se entre a Escola Municipal Albert Schweitzer e a Praça


Araújo Ramos. Possuindo aproximadamente 8.010m², tem testada de 101 metros
para a Rua Orlando Luís Lamarca, à leste, e de 92 metros para a Rua Davi Xavier da
Silva, à oeste (Figura 55).
69

Figura 55 – Área do terreno.


Fonte: Autora, 2018.

Está situado no Setor Especial de Habitação de Interesse Social (SEHIS),


conforme Figura 56. De acordo com o Quadro XL da Lei nº 9800/2000 é permitida, na
zona SEHIS, a instalação de equipamentos Comunitários 1 caracterizados, pelo
Decreto nº 183/2000, como atividades de atendimento direto, funcional ou especial ao
uso residencial como ambulatório, assistência social, berçário, creche, biblioteca,
ensino maternal, pré-escolar e escola especial.
70

Figura 56 – Inserção do terreno no Zoneamento de Curitiba.


Fonte: IPPUC, 2015, modificado pela Autora.

O Centro Comunitário de Esportes, classificado como lazer e cultura, é definido


como Comunitário 2 (Decreto nº183/2000) e, portanto, não se encaixa no uso
permitido do terreno.
Entretanto, vários outros equipamentos similares de esporte, em Curitiba,
localizam-se em SEHIS, como o Clube da Gente CIC (Rua Hilda Cadilhe de Oliveira,
próximo ao Parque Caiuá) e o Centro de Esporte e Lazer Bairro Novo (Rua Ourizona,
Sítio Cercado, próximo à Rua Tijucas do Sul).
71

Deste modo, a implantação do Centro Comunitário de Esportes na Vila Nossa


Senhora da Luz não seria proibida, visto que seu caráter público e comunitário
beneficiará toda uma região.
Assim, para os fins dessa monografia será utilizado parâmetros obtidos a partir
do Quadro XL (Parâmetros de uso e ocupação do solo – SEHIS) para uso Comunitário
1, apresentados na Tabela 3.

ALTURA RECUO MÍN. TAXA AFAST. DAS


COEFIC. TAXA
MÁX. AL. PREDIAL PERMEAB. DIVISAS
APROV. OCUPAÇÃO
(PAV.) (m) MÍN. (%) (m)
MÁX. (%)
0,6 30% 2 5m 25% 2,50m

Tabela 3 – Quadro de Parâmetros de uso e ocupação do Solo.


Fonte: Lei nº 9800/2000, modificado pela Autora.

A partir do apresentado, no próximo capítulo será realizado o estudo sobre o


terreno e suas condicionantes, além do programa a ser desenvolvido. A partir disso
alguns conceitos e diretrizes serão pensados para o projeto de um novo Centro
Comunitário de Esportes.
72

5 DIRETRIZES GERAIS DO PROJETO

5.1 Caracterização do terreno

Ao ser analisado o entorno do terreno foi desenvolvido dois mapas sínteses para
a compreensão das informações, sendo um de aspectos naturais e outro de aspectos
antrópicos.
Com relação ao primeiro deles, apresentado na Figura 57, foi possível observar
duas árvores araucárias dentro do terreno, além de maior presença de vegetação nas
praças secundárias, revelando o aspecto de “refúgio natural” a que essas se destinam.
Nota-se a predominância dos ventos leste e noroeste no período de inverno, ao passo
que, no verão, há ventos sudeste e leste e na primavera acontecem ventos leste,
sudeste e sudoeste. O sol, bem como em toda a cidade de Curitiba, tem sua trajetória
alongada no verão e no inverno se torna mais ausente. Ainda por esse mapa é
possível observar a diferença de nível existente no terreno, cerca de 4 à 5 metros,
conforme perfis do terreno, apresentados na Figura 58.
73

Figura 57 – Mapa Síntese de Aspectos Naturais


Fonte: Autora, 2018.
74

Figura 58 – Topografia do terreno


Fonte: Autora, 2018.
75

A respeito do segundo mapa, de aspectos antrópicos (Figura 59), percebe-se a


regularidade no gabarito das edificações em grande parte do entorno, com 1 ou 2
pavimentos. Várias das edificações de 1 pavimento apresentam, até hoje, a tipologia
entregue pela Cohab na década de 60. Algumas das construções com 2 pavimentos
são acréscimos dessa tipologia, apresentando segundo pavimento construído
posteriormente. Há, ainda, casos isolados de gabaritos com 3 pavimentos.
A área é predominantemente de uso residencial, possuindo várias construções
de uso misto com 2 pavimentos e pouquíssimos terrenos com uso exclusivamente
comercial. Ao centro, onde localiza-se o terreno proposto, existe uma grande quadra
que possui um aglomerado de edificações de uso institucional, como igrejas, escolas
e atendimento de saúde.
Observa-se a correlação de algumas vias principais com médio fluxo de veículos
às paradas de ônibus, por quais passam linhas de alimentadores, interbairros e de
municípios metropolitanos. O fluxo de pessoas também se correlaciona à presença
do transporte público, além de ser maior nas praças e em frente aos usos
institucionais.
76

Figura 59 – Mapa Síntese de Aspectos Antrópicos


Fonte: Autora, 2018.
77

5.2 Programa de necessidades e pré-dimensionamento

A partir de toda a monografia e, principalmente, levando em consideração os


estudos de caso, foi possível entender e elaborar um programa de necessidades
(Figura 60) para o projeto, apresentado com proporções semelhantes ao Gráfico 4.
Assim, separados em 4 setores, definiu-se um total de 2.796m² de área
construída, além de cerca de 3.550m² para área externa de praça, possuindo
equipamentos como playground e pista de skate.

Gráfico 4 – Proporção do pré-dimensionamento de áreas do projeto


Fonte: Autora, 2018.
78

Figura 60 – Programa de necessidades e pré-dimensionamento do projeto


Fonte: Autora, 2018.
79

O dimensionamento obtido deverá atender entre 1.500 e 2.200 jovens


semanalmente, com atividades regulares duas vezes por semana. Estimando o
número de habitantes da Vila Nossa Senhora da Luz e das Vilas vizinhas em 20.000
pessoas, a faixa etária de 10 à 19 anos corresponde aproximadamente a 17,8% da
população. Portanto, o projeto atenderá ao menos 40% da população jovem, podendo
atingir até 60% dessa.
A expectativa é de possuir diariamente em torno de 10 funcionários, sendo esses
professores, administrativos ou de serviços gerais. Ainda, simultaneamente, estima-
se cerca de 70 usuários usufruindo da infraestrutura esportiva. Tais hipóteses
demonstram a importância do equipamento para a comunidade local.
Haja visto a tabela 3, apresentada no capítulo anterior, o terreno poderá ter cerca
de 4.800 m² de área construída para não ultrapassar o coeficiente de aproveitamento
de 0,6 de um total de 8.010m², como representado na Figura 61. Ainda, para obedecer
a taxa de ocupação máxima de 30%, a edificação deverá ocupar apenas 2.400m² do
lote, representado na Figura 62. Portanto, para alcançar a metragem pré-
dimensionada, o projeto se elevará com um segundo pavimento, de menor área.

Figura 61 – Diagrama representativo do coeficiente máximo do terreno


Fonte: Autora, 2018.
80

Figura 62 – Diagrama representativo de taxa de ocupação máxima do terreno.


Fonte: Autora, 2018.

Assim, com o estudo do terreno, os estudos de caso e o pré-dimensionamento


foi obtido o organograma e fluxograma da Figura 63, demonstrando a estrutura de
organização e dependência dos ambientes do projeto.
81

Figura 63 – Organograma e Fluxograma.


Fonte: Autora, 2018.
82

5.3 Partidos e conceitos

Considerando todos os aspectos estudados foram criadas diretrizes e


conceitos para o projeto, demonstrados na Figura 64, logo abaixo. Aplicando tais
conceitos ao terreno obteve-se alguns partidos representados em planta na Figura 65.
83

Figura 64 – Esquema de diretrizes e conceitos adotados.


Fonte: Autora, 2018.
84

Figura 65 – Partidos adotados para projeto, em planta.


Fonte: Autora, 2018.
85

Presentes na Figura 65, algumas escolhas nortearam o início do processo. A


criação da ligação entre as praças secundárias e equipamentos existentes por um
eixo resultante do entorno levou a edificação a ser implantada na porção norte do
terreno. Dessa forma, foram escolhidos também os acessos, que se concentrarão
junto ao eixo criado, além do acesso de estacionamento, sendo o mesmo da escola.
Para não ultrapassar o gabarito comum da vizinhança, o ginásio poliesportivo foi
semienterrado na parte de nível mais baixo do terreno, como pode ser visto no corte
esquemático, da Figura 66. Dessa maneira, o alto pé direito do ginásio se disfarça e
assume semelhante dimensão dos outros usos.
Outra decisão é com relação a algumas áreas de apoio que devem ser
implantadas no subsolo, deixando os usos esportivos como principais, inclusive na
plástica e visão externa do Centro Comunitário de Esportes.
86

Figura 66 – Partidos adotados para o projeto, em corte.


Fonte: Autora, 2018.
87

6 PROPOSTA

Com base nesta pesquisa foi desenvolvido o projeto arquitetônico do Centro


Comunitário de Esportes no bairro Cidade Industrial de Curitiba. Para tanto, o início
do projeto levou como premissas algumas considerações obtidas pelo entorno
imediato, bem como as necessidades do local de implantação.
O resultado obtido insere-se com delicadeza e respeito bem ao centro da histórica
Vila Nossa Senhora da Luz, como observado na Figura 67.

Figura 67 – Inserção do Centro Comunitário de Esportes.


Fonte: Autora, 2018.

O projeto foi finalizado com um total de 3.098 m², divididos nos setores conforme
a Tabela 4 e respeitando leis e diretrizes urbanísticas, conforme o quadro de áreas
(Tabela 5).
88

Tabela 4 – Dimensionamento Final do projeto.


Fonte: Autora, 2018.
89

Tabela 5 – Quadro de Áreas.


Fonte: Autora, 2018.

Servindo como ponto de encontro da comunidade, o projeto tem estrutura


metálica, com vigas tipo vagão e pilares em perfil I revestidos e levemente inclinados.
Ao se encontrarem, tais elementos complementam-se e geram efeito de leveza na
edificação.
A vedação de todo o complexo é composta por vidro, possibilitando a iluminação
natural e a interação do ambiente interior com o exterior, combinado com
policarbonato translúcido.
O policarbonato foi utilizado de várias formas, como veneziana no volume do
ginásio (Figura 68), permitindo ventilação permanente e em placas com camada dupla
de ar e tripla de policarbonato, em três cores diferentes (Figura 69), promovendo ritmo
para o bloco da natação.
90

Figura 68 – Detalhe de vedação - Volume do Ginásio Poliesportivo.


Fonte: Autora, 2018.

Figura 69 – Detalhe de vedação – Volume da Natação.


Fonte: Autora, 2018.
91

A materialidade do projeto permite, assim, a passagem de luz, valorizando a


edificação de forma expressiva à noite, quando o Centro Comunitário se acende como
uma lanterna, iluminando o coração da Vila Nossa Senhora da Luz, conforme Figura
70.

Figura 70 – Visão noturna do Centro Comunitário de Esportes.


Fonte: Autora, 2018.
92

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a monografia foi possível entender a importância do esporte,


funcionando como agente de educação e saúde. Verificando o que chamamos de
arquitetura esportiva, encontrou-se dificuldade na literatura acerca de conceitos e
diretrizes.
Apesar disso, com o conceito encontrado, foi percebido como a arquitetura
esportiva existente ainda é precária e não atinge toda a população de Curitiba. Dessa
forma, confirmou-se a problemática prevista e a hipótese de que uma edificação
adequada influencia na procura da atividade física.
Ao estudar o caso de Medellín, observou-se critérios para a implantação de
novos equipamentos e a partir disso, foi possível, na interpretação da realidade, a
escolha do terreno na Vila Nossa Senhora da Luz, no bairro Cidade Industrial de
Curitiba, com grande população jovem, de baixo poder aquisitivo e altos índices de
criminalidade.
Os estudos de caso apresentados foram fundamentais no entendimento da
organização, das dimensões e dos fluxos de um Centro Comunitário de Esportes,
além de apresentarem aspectos plásticos, construtivos e partidos, que analisados,
promoveram o ensinamento de uma boa arquitetura.
Dessa maneira, foi possível a criação de um projeto contemporâneo como ponto
de encontro às comunidades Vila N. Sra. da Luz e suas vizinhas, promovendo
educação, saúde e sociabilidade aos jovens da região.
93

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APÊNDICE A – PRANCHAS DO PROJETO

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