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MAPEANDO LABIRINTOS:

ACERVOS, MUSEUS
E INSTITUIÇÕES DE
GUARDA E PESQUISA
ARQUEOLÓGICAS*

ARTIGO
PAULO OTÁVIO LAIA**

Goiânia, v. 18, n.1, p. 254-274, jul./jun. 2020.


Resumo: observando a trajetória dos diversos instrumentos legais aplicados ao processo de pre-
servação do patrimônio arqueológico brasileiro, o artigo direciona-se à compreensão das relações
entre esse conjunto de normas e os desdobramentos de suas aplicações sobre museus e instituições de

DOI 10.18224/hab.v18n1.7111
guarda e pesquisa. Como elemento diagnóstico dessa discussão, apresentam-se análises acerca da
identificação e mapeamento dos espaços emitentes de endosso institucional aos projetos de arqueolo-
gia executados no estado de Minas Gerais, no âmbito do licenciamento ambiental, entre os anos de
2003 e 2019, verificados por meio das portarias de permissão e autorização emitidas pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Palavras-Chave: Patrimônio Arqueológico. Políticas Públicas Patrimoniais. Coleções. Licencia-


mento Ambiental. Minas Gerais.

A s discussões expostas neste artigo se articulam por meio da revisão e atualização dos resul-
tados obtidos através do desenvolvimento da pesquisa “Percorrendo Labirintos: diretrizes
e impactos do endosso institucional nos processos de musealização do patrimônio arque-
ológico”, apresentada no ano de 2017 como parte dos requisitos obrigatórios de conclusão
do curso de Graduação em Museologia da Universidade Federal de Ouro Preto.
O trabalho percorre as diretrizes legais de proteção do patrimônio arqueológico no
Brasil, seus processos constitutivos, as dinâmicas do pensamento preservacionista que as im-

* Recebido em: 06.02.2020 - Aprovado em: 26.04.2020


** Museólogo, articulador da Rede de Museus e Acervos Arqueológicos (Gestão 2020-2021) e Pesqui-
sador do Laboratório de Pesquisas e Extensão em Arqueologia, Patrimônio e Processos Museológicos
Comunitários – LAPACOM/DEMUL/EDTM – Universidade Federal de Ouro Preto. E-mail: paulo.
254 otavio.laia@gmail.com
pulsionaram e como tais prerrogativas incidem sobre as relações entre o fazer arqueológico,
suas dinâmicas de poder e sua conexão social. Com destaque ao fato do patrimônio arqueo-
lógico ser categorizado constitucionalmente como bem da união, aplicando-se a ele, portan-
to, uma série de normativas que ditam os procedimentos de sua formação, tutela e gestão.
Discute-se também o cenário regulamentar de tais mecanismos preservacionis-
tas, que no país configuram perspectivas protetivas diversas, revelando a seu modo, o
pensamento preservacionista do tempo em que foram elaboradas. Respondendo a condi-
ções específicas, sejam elas patrimoniais e/ou ambientais, observa-se que essas instruções
normativas, portarias e ordens de serviço, foram construídas a partir de lacunas expostas
em normas anteriores, na tentativa contínua de organizar as tensões relativas à arqueologia
brasileira (LAIA, 2017, p. 168).
De acordo com o marco legal vigente (Lei nº 3.924/1961), a guarda do material
encontrado em atividades prospectivas, interventivas e de escavação, está sob responsabi-
lidade de instituições aptas a zelar por seu acondicionamento, conservação, investigação
e difusão. Como é de conhecimento dos agentes envolvidos neste processo, a indicação
de um espaço capaz de realizar tais procedimentos se dá através da prática de emissão do
endosso institucional.
Objetivando debater parte das funções desempenhadas pelos museus e insti-
Goiânia, v. 18, n.1, p. 254-274, jan./jun. 2020.

tuições de guarda e pesquisa nestas dinâmicas, apresenta-se ainda uma análise quanto ao
número de endossos expedidos por instituições localizadas no estado de Minas Gerais,
entre os anos de 2003 e 2019. O levantamento de dados para este estudo, serviu-se das
portarias de autorização para realização de pesquisas arqueológicas, publicadas no Diário
Oficial da União pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
A investigação observou somente projetos de arqueologia executados no âmbito do licen-
ciamento ambiental, escolha justificada por apresentar uma relação direta com a ascensão
do número de endossos concedidos e, consequentemente, com as tensões geradas a partir
dessa dinâmica.
Maria Cristina Oliveira Bruno (2014) aponta que as idiossincrasias entre as
instituições, os agentes, os acervos arqueológicos e a prática do endosso institucional
revelam-se através de complexos percursos. E diante a tal condição, lança-nos o seguinte
questionamento: por onde nos levam esses caminhos labirínticos?
Distante da empreitada audaciosa na busca pela resposta à pergunta realizada
por esta pesquisadora, que com destaque dedicou grande parte de sua atuação acadêmica
e profissional ao desenvolvimento de formulações e propostas direcionadas ao tema da
Musealização da Arqueologia, incluso a formação de gerações de pesquisadores inclinados
na mesma tarefa (LAIA, 2017), parte deste trabalho percorre timidamente alguns destes
labirintos, reunindo considerações que colaborem no processo de fortalecimento das ins-
tituições de preservação do patrimônio arqueológico brasileiro.

ESTABELECENDO COORDENADAS

A Preservação do Patrimônio Arqueológico no Brasil

O panorama de preservação do patrimônio cultural brasileiro tem sido fonte


para inúmeras discussões. Sua constituição, organização e valorização, remontam uma 255
trajetória que revela as oscilações dos distintos pensamentos preservacionista no âmbito
nacional, apontadas por Manuel Ferreira Lima Filho (2009) como uma relação conceitu-
almente pendular entre a denominada política de ‘pedra e cal’ e a política de valorização
do patrimônio imaterial. Neste contexto, a primeira está ancorada na monumentalidade
como metáfora de um pensamento de Estado (MALHANO, 2002), e a segunda, poste-
riormente executada, é vista como uma ação ‘redentora’ do patrimônio cultural brasileiro.
O conceito de patrimônio como uma categoria de pensamento (GOLÇALVES,
2009), ou seja, como um elemento para se pensar a vida sociocultural de qualquer co-
letividade humana, é abordado aqui a partir de uma formulação moderna e ocidental,
que transita historicamente entre a ideia de propriedade, a concepção de bem comum/
coletivo1 e a extensão do termo patrimônio nacional2, referenciando o projeto político de
construção de uma identidade comum a um povo que compartilha o mesmo território
geopolítico (ABREU, 2009).
Atualmente, a Constituição Federal (1988) que rege o ordenamento civil, públi-
co e jurídico brasileiro, norteando dentre outras obrigações, os dispositivos de preservação
dos elementos culturais de nosso país, estabelece em seu Art. n. 216 a definição do que
constitui o patrimônio cultural brasileiro, compreendido como:
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(...) os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores


de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasi-
leira, nos quais se incluem: as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações cien-
tíficas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais; os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 1988, p.126, grifo nosso).

Contudo, esta perspectiva abrangente, que incorpora o conceito contemporâneo


de cultura e suas determinações patrimoniais, apresenta um histórico permeado por em-
bates, conquistas e resiliências, marcando sua trajetória no contexto das discussões sobre
as normativas a despeito do patrimônio arqueológico brasileiro.
Remontando parte desta trajetória, observa-se que no Brasil, além do reconheci-
mento dos bens de natureza arqueológica como patrimônio cultural, a legislação vigente con-
fere sua titularidade a União, estabelecendo assim a indissociável relação entre este patrimônio
e o Poder Público, responsável direto pelo ordenamento de seus mecanismos de preservação.
O marco legal do patrimônio arqueológico, a Lei nº 3.924/1961, é determinante
nesta relação, na medida em que antecede os preceitos constitucionais de preservação deste
patrimônio e determina os encargos de sua gestão. Como descreve Inês Virgínia Prado Soa-
res (2007) além de bens públicos, “os bens arqueológicos são de interesse público, sendo sua
tutela supraindividual3 e intermediada por uma pessoa jurídica de direito público” (SO-
ARES, 2007, p. 57). De acordo com a referida lei, a autarquia federal responsável por essa
intermediação é Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional4, atual IPHAN.
Neste sentido, além de titular os bens de natureza arqueológica a legislação tam-
bém reserva sua definição e manipulação a especialistas com formação técnica, consi-
derando patrimônio arqueológico somente as evidências selecionadas por arqueólogas e
arqueólogos. Segundo Camila Azevedo de Moraes Wichers (2013-2014), esta sentença
se estabelece como um constrangimento, na medida em que obstrui a participação social 256
do processo de seleção e classificação patrimonial. Assim, “as coleções e narrativas arque-
ológicas representam um desafio específico na a relação entre Arqueologia e Sociedade”,
principalmente quando se trata de um cenário em que, na maior parte das vezes, “o patri-
mônio arqueológico é atrelado a empreendimentos que acarretam impactos negativos nas
sociedades envolvidas” (MORAES WICHERS, 2013-2014, p. 19).
A Lei 3.924/1961 se configura, portanto, como a norma matriz de um sistema
protetivo do patrimônio arqueológico no país, visto que “traz um conteúdo específico, es-
tabelece os conceitos próprios da matéria e atribui ao IPHAN a competência para exercício
de seu poder de polícia administrativa” na proteção desta categoria de bem cultural (SOA-
RES, 2007, p. 68). Estes elementos a caracterizam como uma das principais ferramentas
públicas de gestão e proteção do patrimônio arqueológico brasileiro, destacando-se como
uma medida cautelar determinante frente aos impactos diversos que atingem este bem.
A Constituição Federal de 1988 apresenta também determinados avanços que a
destacam pela incorporação de uma série de ampliações conceituais. Sob esta perspectiva,
temos o exemplo da caracterização dos procedimentos socioambientais como um fenôme-
no que integra, na própria concepção de meio ambiente, a ideia de patrimônio cultural e
de direitos culturais.
Diante desta premissa, Soares (2007) nos aponta duas vertentes protetivas no
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que tange ao patrimônio arqueológico: a) sua tutela como bem cultural instrumental, ou
seja, por seu valor em si mesmo, já que este se configura como um bem essencial para a
efetividade do direito ao patrimônio cultural e dos demais direitos culturais fundamen-
tais; b) sua tutela como bem ambiental, seja através do reconhecimento de base material,
ou por sua importância para o equilíbrio do suporte físico do meio ambiente como ma-
crobem (SOARES, 2007).
A ampliação de reconhecimento do patrimônio arqueológico nas esferas de valor
ambiental, o incorpora a outros sistemas jurídicos de ordenamento legal em que técnicas,
procedimentos e normas específicas da arqueologia, se somam aos demais princípios esta-
belecidos pela Política Nacional de Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81).
Dentre as especificidades desta normativa ambiental, destaca-se, por exemplo, a
própria ampliação da concepção jurídica de meio ambiente, que passa a observar de forma
integrada os aspectos ecológicos e socioculturais; e a obrigatoriedade de realização dos estu-
dos de impacto ambiental, quando da instalação de atividades ativas ou potencialmente po-
luidoras ao meio ambiente. Estes pontos, especificamente, serão norteadores das discussões
propostas por este artigo, na medida em que se apresentam as circunstâncias de inserção do
patrimônio arqueológico na cadeia operatória dos processos de licenciamento ambiental.

O Patrimônio Arqueológico nas Dinâmicas do Licenciamento Ambiental

Em virtude do cumprimento legal das prerrogativas expostas acima e conside-


rando o aumento exponencial dos projetos de infraestrutura experimentados pelo Brasil
nos últimos anos, a obrigatoriedade de realização dos estudos de impacto ambiental via-
bilizou positivamente a abertura de inúmeras possibilidades de observação, conhecimento
e reconhecimento de diversos territórios. Estas condicionantes geraram também a pers-
pectiva de novas inserções laborais, aumentando o campo de trabalho para a atuação de
profissionais especializados. 257
Assim, a previsão legal de um processo administrativo que submetesse as atividades potencialmente
danosas ao meio ambiente, com análise técnica, jurídica e social de sua viabilidade, bem como a
previsão de participações da sociedade, se materializou na nomenclatura do licenciamento ambien-
tal (SOARES, 2007, p. 151).

Embora o termo ‘licenciamento ambiental’ tenha figurado primeiramente


na Resolução CONAMA nº 01/1986, sua definição direta só seria observada onze
anos mais tarde, em outra normativa do mesmo conselho, a Resolução CONAMA nº
237/1997. A descrição apresentada no texto legal o define como um procedimento ad-
ministrativo pelo qual o órgão ambiental verifica a localização, instalação, ampliação
e a operação de empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais,
que potencial ou efetivamente sejam responsáveis pela degradação do meio ambiente
(art. 01º, inc. I).
A partir desta definição, o processo licenciatório é considerado o mais impor-
tante mecanismo de controle das atividades e empreendimentos impactantes no país. Para
Inês Soares (2007), sua viabilização possibilita à Administração Pública controlar e/ou
restringir tais efeitos danosos, num processo que exige a produção transversal de dados,
pesquisas e informações. Além da necessidade, mesmo que pouco observada, do envolvi-
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mento e participação da sociedade, indo desde a escolha do empreendimento ou serviço,


até os desdobramentos posteriores de sua instalação e operação.
No que tange as especificidades do patrimônio arqueológico e a exigência de
sua observação na caracterização dos meios socioeconômicos, verifica-se que a construção
dos mecanismos de proteção ambiental se dera em consonância às diretrizes de proteção
patrimonial deste bem. Sendo assim, mesmo diante dos incontáveis desafios estabelecidos
por esta dialogicidade, constata-se que “a postura do Poder Público, dos empreendedores
e da sociedade no tratamento do patrimônio arqueológico, foi modificada com a obriga-
toriedade do estudo de impacto ambiental e da contemplação neste, dos estudos arqueo-
lógicos” (SOARES, 2007, p. 151),
Com tal característica, mesmo que os processos tramitem sob a avaliação dos
órgãos ambientais competentes, nos casos onde se verifica a existência de ocorrências ar-
queológicas, torna-se imprescindível a participação da autarquia federal responsável pela
proteção dos bens arqueológicos no país, o IPHAN. Logo, as determinações para a aná-
lise dos processos de licenciamento ambiental permitem a este órgão realizar interven-
ções diretas no tratamento das ações impactantes, possuindo poder de solicitar a revisão
do procedimento licenciatório frente ao órgão ambiental, mesmo que a insuficiência dos
dados e investigações apresentadas considerem apenas os bens de natureza arqueológica
(SOARES, 2007). Culminando ademais, na possibilidade de cancelamento ou mesmo
suspensão das atividades efetivas ou potencialmente poluidoras.
Frente aos encargos assumidos pelo IPHAN, o horizonte de gestão do patrimô-
nio arqueológico foi insuflado por uma série de diretrizes infralegais, algumas já decaídas,
outras ainda em vigor. São elas: as Portarias IPHAN nº 07/1988 e nº 230/2002, a Porta-
ria Interministerial nº 60/2015, a Instrução Normativa IPHAN nº 01/2015, as Portarias
IPHAN nº 195/2016, 196/2016, 197/2016 e 199/2016, a Ordem de Serviço nº 02/2016, e
mais recentemente a portaria nº 375/2018, que institui a Política de Patrimônio Cultural
Material do IPHAN. 258
Contudo, quando este órgão publica entre 1988 e 2002 as primeiras portarias
a respeito dos procedimentos de verificação de riscos, mitigação e compensação dos im-
pactos ao patrimônio arqueológico, a realidade dos grandes empreendimentos executados
no país era muito distinta da atual. A partir dos anos 2000, principalmente com a imple-
mentação dos programas governamentais de aceleração e expansão das obras nacionais de
infraestrutura, as pesquisas arqueológicas de natureza preventiva se desenvolveram de tal
modo que, já no final de sua primeira década, correspondiam a 98% dos estudos arque-
ológicos realizados no Brasil (ZANETTINI, 2009 apud MORAES WICHERS, 2010).
Esse fato nos possibilita afirmar, com determinada segurança, que nenhum acervo patri-
monial ascendeu quantitativamente de forma tão expressiva nos últimos anos, quanto o
arqueológico (LAIA, 2017).
Por este prisma, além de evidenciar novos contextos, paisagens e territórios, o au-
mento das pesquisas arqueológicas pressupôs também a lida com novos desafios relaciona-
dos às dinâmicas de seleção, documentação, pesquisa e comunicação de uma quantidade
imensa de vestígios, representantes dos mais diversos contextos formativos da paisagem
cultural brasileira. Como consequência direta, foi necessária uma ampliação nas discussões
acerca dos mecanismos de gestão dos acervos, sítios e instituições arqueológicas no país.
Não por acaso, pesquisadores, profissionais e instituições começaram a se reunir
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para debater as demandas do patrimônio arqueológico face as dinâmicas do processo de


licenciamento ambiental. Coletivos como a Rede de Museus e Acervos Arqueológicos
(2008) e o Grupo de Trabalho Acervos Arqueológicos (2015) da Sociedade de Arqueolo-
gia Brasileira, promoveram nos últimos anos importantes encontros5 para discutir pro-
cedimentos, protocolos, institucionalidades, boas práticas, anseios profissionais e políticas
de gestão, demonstrando que a preservação patrimonial não se faz somente com a aplica-
ção de prerrogativas legais.

As regras ligadas à preservação arqueológica se inserem num quadro muito mais amplo de políticas
públicas que devem ser fundamentadas nas reivindicações da coletividade, da sociedade. É ela
quem deve acionar o aparelho estatal para que este venha a proteger os elementos que julga serem
de seu interesse (SILVA, 2007, p. 71).

Deste modo, compreendendo a relevância dos instrumentos normativos e dos


agentes que os praticam nas relações de preservação do patrimônio arqueológico, se ob-
servará adiante de forma orientada, como os museus e as instituições de guarda e pesquisa
atuam nesta cadeia operatória.

IDENTIFICANDO TRAJETÓRIAS

Os Museus e as Instituições de Guarda e Pesquisa

A cadeia de produção da arqueologia brasileira (ZANETTINI; MORAES WI-


CHERS, 2014), é formada por agentes que atuam em distintas esferas: órgãos de gestão
e fiscalização; instituições de ensino formal e desenvolvimento científico em patrimônio;
profissionais da área (sejam eles arqueólogas e arqueólogos autônomos ou inseridos em
empresas privadas); órgãos de fomento; empreendedores responsáveis pela implantação 259
das obras de impacto e, consequentemente, financiadores das pesquisas arqueológicas de
caráter preventivo; entidades de guarda e pesquisa dos acervos arqueológicos; e por fim,
a sociedade, na medida em que grupos, coletivos, movimentos e comunidades se cons-
tituem enquanto agentes sociais e, conjuntamente as demais entidades, são responsáveis
pela preservação do patrimônio arqueológico (LAIA, 2017).
Como elemento fortalecedor dessa pluralidade de relações, destacam-se as insti-
tuições de guarda e pesquisa. Compreendidas como museus, centros culturais, memoriais,
unidades universitárias, laboratórios e centros de investigação, estas instituições figuram
entre todas as esferas da administração pública e privada.
Retomando parte das discussões acerca dos instrumentos legais de preservação
do patrimônio arqueológico, a extinta Portaria IPHAN 230/2002, indicava que a respon-
sabilidade de guarda dos vestígios arqueológicos encontrados deveria ser garantida pelo
empreendedor, formalizada a partir da modernização, ampliação e fortalecimento das
‘unidades museológicas’ já existentes nas áreas, regiões ou municípios onde fossem realiza-
das as pesquisas arqueológicas, sugerindo ainda a construção de novas unidades especifi-
cas se fosse o caso.
Importante destacar que a utilização do termo unidades museológicas demons-
tra, mesmo que de forma indicativa, o reconhecimento da potencialidade destes espaços
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na complexa dinâmica de gestão dos vestígios arqueológicos, indo da salvaguarda à comu-


nicação (BRUNO, 2006).
Com a publicação da Instrução Normativa IPHAN nº 01/2015, que regulamen-
ta a atuação do órgão a partir da Portaria Interministerial nº 60/2015 e revoga a Portaria
nº 230/02, o termo ‘unidades museológicas’ é extinto, abrindo espaço para aplicação de
‘instituições de guarda e pesquisa’. Se por um lado essa alteração representa certa abran-
gência, na medida em que viabiliza o destino final do material arqueológico a diversas
instituições que se responsabilizem tanto por sua guarda, quanto pela produção de co-
nhecimentos a partir dele; por outro se observa certa limitação quanto aos processos de
socialização do patrimônio arqueológico, tendo em vista que as instituições museológicas,
especializadas ou não em arqueologia, possuem especificidades potenciais ao desenvolvi-
mento das operações de salvaguarda e comunicação, que aplicadas a estes bens, podem
ampliar sua função social.
A princípio, a modificação destes termos pode ser considerada uma simples al-
teração de nomenclatura, já que o objetivo final da proposta é garantir a preservação dos
bens arqueológicos em locais apropriados (LAIA, 2017). Entretanto, o direcionamento de
um olhar mais profundo sobre a questão, indica que a alteração também representa um
marcador político fixado pelo órgão gestor deste patrimônio, buscando definir precisa-
mente as fronteiras de sua atuação institucional.
Se o IPHAN considerasse somente as unidades museológicas do país como as
instituições mais indicadas à recepção do patrimônio arqueológico, especialmente aqueles
provenientes das pesquisas realizadas no âmbito dos processos de licenciamento ambiental,
ele estaria ajuizando também a inserção deste patrimônio no sistema organizacional que re-
gulamenta o setor museológico, ou seja, os processos que constituem os bens arqueológicos
estariam igualmente submetidos a apreciação do Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM6.
De acordo com seu formato de trabalho, o patrimônio arqueológico pode se
configurar como um instrumento potencialmente vetor de valores sociais e identitários. 260
Sendo assim, os processos de reapropriação cultural por ele suscitados podem se estabele-
cer como ferramentas de articulação dos territórios, dos discursos sociais e das memórias
aos quais estes possam ser ou estar vinculados.

Na medida em que essa reapropriação dos artefatos pelos cidadãos envolve uma relação de poder,
a mediação do artefato arqueológico adquire importância crucial. Assim, discussões relativas ao o
quê conservar, em qual instituição, com quais condições de acessibilidade e, ainda mais, quanto
à propriedade científica do material, dizem respeito a todo um conjunto de questões ligadas aos
artefatos (FUNARI, 2003, p. 35).

A questão suscitada aqui não diz respeito somente da aplicação de novas tutelas
administrativas sobre a jurisdição do patrimônio arqueológico brasileiro, mas também
do distanciamento das possibilidades de mediação através da atuação da Museologia e de
outras ciências do patrimônio (MOARES WICHERS, 2010).

As Tensões Relativas ao Endosso Institucional

Para o desenvolvimento das discussões propostas, necessário se faz o destaque a


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prática de emissão do endosso institucional como um dos aspectos de maior tensão nas re-
lações estabelecidas entre os processos de licenciamento ambiental e os museus e intuições
de guarda e pesquisa. O endosso institucional pode ser considerado um documento que
promove o compartilhamento das obrigações do IPHAN quanto a gestão do patrimônio
arqueológico, uma vez que essa responsabilidade é transferida para instituições aptas a
realizar sua preservação. “Isto significa dizer que, em princípio, é dever do Estado a pre-
servação dos bens da União; mas, esta competência pode ser delegada a uma instituição,
de acordo com permissão/autorização emitida pelo IPHAN” (COSTA; COMERLATO,
2013-2014, p. 119).
Como aponta Carlos Costa e Fabiana Comerlato (2013-2014), de acordo com
o Código Civil (Lei Federal nº 10.406/2002) e com os arranjos jurídicos do direito bra-
sileiro, o endosso corresponde a uma atividade solidária e unilateral, onde um indivíduo
ou entidade transfere a responsabilidade sobre algo a um terceiro. No que tange as rela-
ções de guarda dos acervos arqueológicos, o termo endosso é acrescido da condicionante
institucional, referindo-se à declaração que corresponde ao comprometimento de uma
instituição na guarda do material resultante das pesquisas arqueológicas (COSTA; CO-
MERLATO, 2013-2014).
O que se observa nos amplos mapeamentos realizados por Camila Wichers
(2010), é que muitas destas instituições atuam, na maioria das vezes, distantes dos pro-
cessos de licenciamento ambiental. Além de atravessarem problemas históricos, como a
necessidade de corpo técnico especializado e de espaços adequados ao acondicionamento
do crescente número de vestígios.
Por mais que o endosso institucional represente também um meio de recepção
de recursos, na medida em que se estipulam contrapartidas financeiras e/ou materiais para
emissão da declaração de apoio, é importante ressaltar que o pagamento por endosso ain-
da se faz projeto a projeto. A operação desde instrumento na lógica do mercado pode re-
sultar, a longo prazo, na formação de espaços detentores de um grande volume de material 261
arqueológico, mas sem os investimentos continuados que garantam seu processamento. E
aparentemente essa realidade não está muito distante.
Portanto, a emissão de endosso institucional deveria ser observada, fundamen-
talmente, como um mecanismo responsável por assegurar às instituições endossantes de-
terminadas garantias de exercício a curto, médio e longo prazo. Os museus e demais
instituições de guarda e pesquisa devem estar conscientes dos riscos de participação neste
processo, da mesma forma que devem considerar a opção de não participarem dele.

SINALIZANDO FRONTEIRAS

Considerações a partir de Marcadores Regionais

Como exposto no início deste trabalho, o desenvolvimento das discussões apre-


sentadas parte da atualização dos dados obtidos através da pesquisa ‘Percorrendo Labirin-
tos: diretrizes e impactos do endosso institucional nos processos de musealização do pa-
trimônio arqueológico’. A investigação em questão analisou dados referentes a emissão de
endossos por museus e instituições de guarda e pesquisa localizadas no estado de Minas
Gerais, entre os anos de 2003 e 2016. Através deste recorte, foram consideradas somente
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as portarias emitidas para projetos de natureza preventiva, visto que parte dos critérios de
investigação considerava uma observação mais direcionada às dinâmicas do licenciamen-
to ambiental.
Poucos anos depois, para publicação deste artigo7, os dados anteriormente obti-
dos foram revisados e um novo levantamento foi realizado, seguindo os mesmos critérios
da pesquisa citada, mas ampliando a escala de temporalidade. Esse ajuste é um exame
sintético de parte da trajetória das discussões acerca da gestão dos acervos arqueológi-
cos, observados a partir de um marcador regional, o estado de Minas Gerais8. Contudo,
mesmo contida e localizada, a pesquisa atravessou cenários que historicamente são pauta
nestas discussões e sua atualização permitiu reconhecer determinados avanços na esfera
desse debate.
O levantamento de dados para realização da análise se deu por meio do acesso
as portarias de autorização para pesquisas arqueológicas publicadas no Diário Oficial da
União9, entre os anos de 1991 a 2019, compiladas pelo IPHAN em arquivos de formato
Excel® e disponibilizadas no sítio eletrônico da instituição. A partir do conjunto bruto
destes dados foram realizadas algumas triagens direcionadas ao escopo do trabalho.
O primeiro filtro aplicado ao conjunto destas informações define o recorte
temporal entre as portarias, analisando somente as emitidas entre os anos de 2003 e
201910, período inicial que se justifica pela publicação da Portaria IPHAN nº 23011,
em dezembro de 2002. Em seguida as portarias foram organizadas por meio de um
recorte espacial, observando apenas os registros realizados através da superintendência
do IPHAN em Minas Gerais e no Centro Nacional de Arqueologia – CNA12. Para
este último, os dados foram organizados a partir das portarias que contam com o apoio
institucional primário de um local de guarda localizado no estado de Minas Gerais.
Em sequência, tendo como referência a metodologia executada por Moraes
Wichers (2010)13, consideraram-se somente as portarias para projetos com tipologia de
permissão e autorização14, excluindo as portarias de prorrogação e/ou renovação, visto 262
que poderiam conduzir a uma alteração na obtenção dos dados, na medida em que uma
mesma pesquisa pode ser contabilizada mais de uma vez. Entende-se ainda, que:

(...) o fato de uma instituição fornecer apoio institucional a uma pesquisa não significa que a coleção
gerada por esse estudo tenha que ser salvaguardada obrigatoriamente nessa instituição. Nesse ponto,
a destinação final do acervo pode ser alterada no decorrer da pesquisa, ou após a mesma, mediante
autorização do IPHAN. Da mesma forma, sabe-se que nem toda pesquisa realizada resulta na
detecção de um patrimônio arqueológico positivo e na geração de uma coleção a ser musealizada
(MORAES WICHERS, 2013-2014, p. 28).

Portanto, os dados apresentados a seguir e os resultados das análises inferidas a


partir deles, podem ser compreendidos como indicadores e sua apresentação se estabelece
como um elemento ilustrador de processos, como uma possibilidade de mapeamento de
determinados labirintos.
De acordo com as informações dispostas no gráfico a seguir (Figura 01), entre os
anos de 2003 e 2019 foram emitidas 1.715 portarias de autorização e permissão para ava-
liação, prospecção e execução de pesquisas arqueológicas, que tiveram apoio institucional
de museus e espaços de guarda e pesquisa localizados no estado de Minas Gerais.
Goiânia, v. 18, n.1, p. 254-274, jan./jun. 2020.

Figura 1: Quantitativo das Portarias de Pesquisas Arqueológicas concedidas


pelo IPHAN-MG e pelo Centro Nacional de Arqueologia entre os anos de 2003 e 2019.
Fonte: autor (2020).

Observa-se que nos primeiros anos após de aplicação da Portaria IPHAN nº


230/2002, os números oscilam entre dezenas de projetos. A curva de ascensão começa a
se expressar a partir de 2006, realizando uma trajetória de crescimento contínuo. A partir
de 2010 o aumento na proporção de portarias é evidente, atingindo seu ápice no ano de
2013 com 244 concessões para realização de pesquisas arqueológicas.
No recorte temporal analisado, 28 instituições do estado de Minas Gerais apoia-
ram projetos de arqueologia. Contudo, como observado na tabela a seguir (Tabela 01), os 263
endossos institucionais apresentam uma distribuição variável, concentrando as emissões
realizadas ao longo deste período em alguns espaços específicos.

Tabela 1: Museus e Instituições de Guarda e Pesquisa do Estado de Minas Gerais


Emitentes de Endosso para Projetos de Arqueologia entre os Anos de 2003 e 2019.

NÚMERO TOTAL
INSTITUIÇÕES ENDOSSANTES EM MINAS GERAIS ENTRE 2003 -
Nº DE ENDOSSOS
2019
EMITIDOS

01 Centro de Arqueologia Annete Laming Emperaire – Prefeitura Municipal de Lagoa Santa 223

02 Centro de Referência de Porto Coris – CEMIG 1

03 Fundação Rodrigo Melo Franco de Andrade 1

04 Governo do Estado MG – Estação Ecológica de Corumbá - Núcleo Museológico 2

05 Instituto de Ciências Humanas – Universidade Federal de Ouro Preto - Campus Mariana 1

06 Instituto de Pesquisas em Arqueologia 17

07 Instituto Histórico e Cultural de Arceburgo 1


Goiânia, v. 18, n.1, p. 254-274, jan./jun. 2020.

08 Laboratório de Arqueologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas - UFMG 13

Laboratório de Arq. e Estudo da Paisagem - Uni. Fed. dos Vales do Jequitinhonha e


09 270
Mucuri

10 Memorial Santa Clara 5

11 Museu Antropológico de Ituiutaba 10

12 Museu Arqueológico do Carste do Alto São Francisco - MAC 89

13 Museu da Cidade de Patos de Minas - Casa de Olegário Maciel 5

14 Museu de Arqueologia e Etnologia Americana – UFJF 16

Museu de Ciências Naturais - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC/


15 1003
MG

16 Museu de História Natural e Jardim Botânico – UFMG 35

17 Museu do Diamante - Unidade Museológica II 1

18 Museu Histórico, Arqueológico e Cultural 1

Pref. Municipal de Araxá - Fundação Cult. Calmon Barreto - Museu Hist. de Araxá D.
19 2
Beja
Prefeitura Municipal de Nova Ponte – Museu Arqueológico de Nova Ponte de Minas
20 2
Gerais
Pref. Municipal de Patrocínio – Fund. Casa de Cultura de Patrocínio Dr. Odair de Olivei-
21 1
ra

22 Pref. Municipal de Perdizes - Museu de Arqueologia e História Prof.ª Dr.ª Márcia A. Alves 6

23 Rede Ferroviária Federal - Museu do Trem 1

24 Superintendência do IPHAN – MG 3

264
25 UNIMONTES - Coordenação de Extensão Cultural Museu Regional do Norte de Minas 1

26 Universidade Federal de Minas Gerais - Instituto de Geociências 1

27 Universidade Federal de Ouro Preto - Museu de Ciências e Técnica da Escola de Minas 2

28 Universidade Federal de Uberlândia - Museu do Índio 2

TOTAL: 1.715

Fonte: autor (2020).

Entre 2003 e 2019, observa-se que cerca de 70% das instituições emitiram um
número inferior ou igual a 10 endossos (20 instituições). Estes locais representam 2,85% -
49 endossos - do número total de portarias analisadas. Em contrapartida, três instituições
mineiras concentraram mais de 87% dos endossos institucionais concedidos a pesquisas
arqueológicas, atendendo ao conjunto de 1.496 portarias. São elas: Museu de Ciências
Naturais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC-MG - (58,48%);
Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem da Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri (15,74%); e o Centro de Arqueologia Annette Laming Emperaire
Goiânia, v. 18, n.1, p. 254-274, jan./jun. 2020.

da Prefeitura Municipal de Lagoa Santa (13,00%).


A análise das 28 instituições mapeadas se dá aqui a partir de dois eixos centrais:
sobre a tipologia institucional (museus de arqueologia; museus de tipologia diferenciada;
laboratórios, institutos e centros de pesquisa; fundações, centros culturais, entre outros), e
sobre a tutela administrativa (pública municipal, estadual ou federal, e privada) (MORA-
ES WICHERS, 2010).
Segundo os dados, temos um total de quinze instituições que se caracterizam
como museus, dentre as quais oito delas sublinham o termo arqueologia em suas deno-
minações. Em seguida, apresentam-se 07 locais que figuram representando instituições
culturais como fundações, memoriais e centros de cultura, e por fim, somam-se 06 ins-
tituições aos laboratórios, institutos e centros de pesquisa especializados. Neste sentido,
a tipologia institucional predominante entre os espaços de guarda e pesquisa de acervos
arqueológicos no estado de Minas Gerais é caracterizada por um grande número de mu-
seus, sendo estes especializados ou não em arqueologia.
Quando analisamos a distribuição dos endossos institucionais de acordo com a
tutela administrativa dos museus e espaços de guarda e pesquisa, observamos que a maio-
ria significativa é composta por instituições de caráter público, sendo 42,85% municipal,
14,28% estadual e 39,28% de gestão pública federal, devido aos laboratórios especializa-
dos se concentrarem no interior das universidades. Temos também a ocorrência de uma
instituição de natureza privada, o Museu de Ciências Naturais da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, mas que paradoxalmente é a instituição responsável pela maio-
ria das emissões de endosso, marcando seu apoio de forma insular em quase 60% das
portarias para pesquisa arqueológica no estado. Essa observação é paradoxal, pois revela
de forma objetiva o que Camila Wichers (2010) denomina ‘privatização’ do patrimônio
arqueológico, referindo-se ao fato de que sendo este um bem da união, devem ser observa-
das as condições que fazem com que a maioria dos endossos emitidos em um determinado
estado, estejam associados a uma instituição privada. 265
Como comentado, sabemos que nem todas as investigações arqueológicas ge-
ram acervos, mas a demonstração destes números chama-nos a atenção para a ascensão
histórica da quantidade de pesquisas arqueológicas realizadas no âmbito do licenciamento
ambiental, bem como das dinâmicas necessariamente estabelecidas entre os museus e ins-
tituições de guarda e pesquisa com os demais agentes motores deste processo.
Também é importante ressaltar que ao evidenciar a concentração de endossos emi-
tidos por determinas instituições, a pesquisa não busca demonstrar essa concentração como
um aspecto negativo aos possíveis acervos gerados. As instituições citadas se caracterizam
por sua tradição e seriedade no trato ao patrimônio arqueológico. O que se traz ao debate é
a consideração de como essa concentração pode ser utilizada como ferramenta nos processos
técnico-científicos aplicados à gestão pública dos bens de natureza arqueológica no Brasil.

PERCUSOS COLETIVOS

Cartografias Integradas

A grande quantidade de emissões de endosso institucional abre espaço para dis-


cussões que vão além do caráter reflexivo. Em 2013 a Procuradora da República do estado
Goiânia, v. 18, n.1, p. 254-274, jan./jun. 2020.

de Minas Gerais, Dra. Zani Cajueiro, então coordenadora do Grupo de Trabalho de Pa-
trimônio Cultural da 04ª Câmara de Coordenação e Revisão sobre o Meio Ambiente e o
Patrimônio Cultural, solicitou a realização de uma vistoria em três instituições localizadas
nos municípios mineiros de Belo Horizonte e Lagoa Santa. O objetivo principal da vis-
toria era avaliar a situação de conservação e guarda dos materiais arqueológicos oriundos
principalmente de processos licenciatórios.
A vistoria realizada pela arqueóloga Sandra Nami Amenomori, analista do Mi-
nistério Público Federal para perícia em Arqueologia, apontou diversas considerações em
relação ao tratamento dos acervos arqueológicos encontrados nas instituições analisadas
(NAMI, 2013). Dos três locais visitados, o Centro de Arqueologia Annette Laming Em-
peraire, o Museu de Ciências Naturais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Ge-
rais e o Museu de História Natural da Universidade Federal de Minas Gerais, dois figu-
ram entre as instituições que mais emitiram endosso no estado, como apresentado acima.
O diagnóstico contemplou principalmente as reservas técnicas e as condições
de acondicionamento dos materiais. Contudo, também se verificaram os acervos inse-
ridos em circuitos expositivos ou em laboratórios de análise. Não se descreverá aqui as
especificidades relatadas em cada caso, mas sim algumas das questões comuns a todas as
instituições vistoriadas.
Segundo a responsável pelo parecer, o principal ponto de alarme à época do diag-
nóstico foi a ausência de controle do IPHAN e das instituições em relação as reservas técnicas,

(...) tanto da emissão de endossos quanto do armazenamento do material arqueológico sob sua
guarda, observada pela discrepância entre as informações encaminhadas pelo Instituto e aquelas
encaminhadas pelas instituições, nas quais os números de endossos apresentados pelas instituições
não refletem aqueles apresentados pelo IPHAN (NAMI, 2013, p. 08).

266
Outra questão é a dificuldade de vinculação entre os registros realizados pela
equipe de arqueologia e os sistemas de catalogação do material que ingressa na instituição,
gerando duplicatas nos processos de inventários, disparidades de documentação e uma
perda considerável de informações sobre o contexto da coleção gerada.
O parecer descreve ainda que, naquele momento, era evidente a falta de parâ-
metros das instituições na negociação das contrapartidas obrigatórias. Nami aponta que
muitas vezes a falta de negociação direta entre a própria instituição e o empreendedor,
responsável pela execução das contrapartidas, faz com que estas se deem de forma pouco
conectada ao planejamento estrutural, quando existente, das prioridades institucionais
dos museus e demais espaços de guarda e pesquisa.
Os resultados do diagnóstico iniciado no estado de Minas Gerais acen-
deram um alerta para situação dos acervos arqueológicos a nível nacional. Sob a
coordenação da mesma promotora, o Ministério Público Federal iniciou em 2015 o
projeto MPF-Arq, cuja principal finalidade foi a avaliação, em âmbito nacional, da
situação das reservas técnicas que apresentassem material arqueológico oriundos de
empreendimentos de licenciamento ambiental. Segundo a redatora do projeto, seu
objetivo era “produzir um material que viabilizasse ao Procurador ‘da ponta’, com
atribuição para atuação na área, recomendar, firmar Termos de Ajuste de Conduta
Goiânia, v. 18, n.1, p. 254-274, jan./jun. 2020.

ou mesmo propor Ações Civil Públicas, visando a proteção do patrimônio cultural”


(MPF-Arq, 2015, p. 04).
Entre 2015 e 2016 foram realizadas visitas técnicas aos principais museus e insti-
tuições de guarda e pesquisa de treze estados brasileiros15. Contudo, apesar de cada visita
gerar um relatório diagnóstico por instituição, não se tem ainda uma análise geral que
atravesse os dados produzidos por este mapeamento, especificamente.
É relevante destacar que a dimensão pública do debate acerca das relações, tensões
e idiossincrasias concernentes à gestão e musealização dos acervos arqueológicos ganha força
com os movimentos realizados pelo Ministério Público Federal, contudo, este tema apre-
senta uma trajetória de discussões técnico-científicas abordada por diversos olhares ao longo
do tempo (BRUNO, 1992, 1995, 1996, 2005, 2013-2014; CÂNDIDO, 2004, 2005; MO-
RAES WICHERS, 2010, 2011; SALADINO, 2010; TAMANINI, 1994; dentre outros).
Nos últimos anos, estas cartografias coletivas, dinamizadas por grupos como a
REMAAE e o GT Acervos da SAB, possibilitaram debates maduros que resultaram na
elaboração de documentos auxiliares e fortalecedores da militância em prol da gestão dos
acervos arqueológicos16.
Exemplo desta dinâmica é a consulta pública aberta pelo IPHAN para revisão
da portaria nº 196/2016, que dispõe sobre a Conservação de Bens Arqueológicos Móveis,
cria o Cadastro Nacional de Instituições de Guarda e Pesquisa (CNIGP), o Termo de Re-
cebimento de Coleções Arqueológicas e a Ficha de Cadastro de Bem Arqueológico Móvel.
Segundo a própria autarquia, após fiscalizar 27% das instituições cadastradas CNIGP,
além das diversas discussões estabelecidas pela sociedade sobre o conteúdo da portaria,
ficou evidente a necessidade de abertura da consulta pública, visando o aprimoramento
dos instrumentos de gestão e a participação social (IPHAN, 2017).

267
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A preservação do patrimônio arqueológico brasileiro encontra-se em um pro-


cesso contínuo de construção teórico-conceitual e de estratégias administrativo-jurídicas
que assegurem a manutenção das ações de salvaguarda e socialização destes bens, com-
preendidos como parte do processo de conhecimento e reconhecimento das dinâmicas de
organização da humanidade (LAIA, 2017).
Frente a tantos debates, procedimentos legais e administrativos, trilhas contro-
versas, descaminhos e transferências de responsabilidade, percebe-se que quanto mais se
percorrem estes labirintos, mais diversos se estabelecem os percursos transcorridos pelo
patrimônio arqueológico no país. Diante dos horizontes apresentados e retomando o
questionamento da pesquisadora Cristina Bruno, ainda não é possível precisar as melhores
‘saídas’ para alguns destes entroncamentos, mas seguimos mapeando e registrando seus
territórios simbólicos, marcadores regionais e fronteiras institucionais.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a generosidade e confiança das Professoras Dra. Marcia Arcuri Suñer,


Goiânia, v. 18, n.1, p. 254-274, jan./jun. 2020.

da Universidade Federal de Ouro Preto e da Dra. Camila Azevedo de Moraes Wichers,


da Universidade Federal de Goiás, quanto à orientação do trabalho de pesquisa aqui con-
densado no formato deste artigo.

MAPPING LABYRINTHS: COLLECTIONS, MUSEUMS AND ARCHEOLOGICAL


INSTITUTIONS OF GUARD AND RESEARCH

Abstract: observing the trajectory of the various legal instruments applied to the process of preser-
vation of the Brazilian archaeological heritage, the article aims to understand the relationships
between this set of norms and the consequences of their applications on museums and institutions
of guard and research. As a diagnostic element of this discussion, analyzes are presented about the
identification and mapping of the spaces that issue institutional endorsement to the archeology pro-
jects carried out in the state of Minas Gerais - Brasil, within the scope of environmental licensing,
between the years 2003 and 2019, verified through the permission and authorization ordinances
issued by the Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Keywords: Archaeological Heritage. Heritage Public Policies. Management Archaeology. Environ-


mental Licensing. Minas Gerais.

Notas

1 Desencadeado, como aponta Abreu (2009), a partir da Revolução Francesa de 1789.


2 Esta categoria política que se inicia no séc. XIX e atravessa o séc. XX, atualmente se estende a uma
perspectiva universalista denominada Patrimônio da Humanidade (ABREU, 2009, p. 36).
3 A principal característica dos bens jurídicos supraindividuais é a titularidade de caráter não pessoal,
que afeta um determinado grupo de pessoas ou toda a coletividade, porém, sem perder a referência
individual. Por isso, diferem-se dos bens jurídicos de natureza coletiva, já que estes são indivisíveis em 268
relação aos titulares. SALOMÃO, B. A tutela penal do direito econômico: bem jurídico supraindividual.
JusBrasil – Artigos, 2015. Disponível em: https://bzlws.jusbrasil.com.br/artigos/184270693/a-tutela-
penal-do-direito-economico-bem-juridico-supraindividual. Acesso em: 10 jan. 2017.
4 Como órgão público de competência federal, o IPHAN foi organizado em diferentes contextos da
gestão pública ao longo de sua trajetória, como: Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacio-
nal (1937); Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (1946); Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (1970); Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
e Fundação Nacional Pró-Memória (1979); Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural (1990);
Finalmente mantendo-se na atual configuração política como Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (1994). ABREU, A. A. et al. (orgs.). Dicionário Histórico-Bibliográfico Brasileiro.
Rio de Janeiro: Editora FGV; CPDOC, 2000.
5 Para verificar os resultados destes encontros, ver: Carta de Recomendações - Ouro Preto 2017;
Carta de Prioridades – Rio de Janeiro 2018; Carta de Encaminhamentos – Belo Horizonte 2019.
Disponível em: https://acervosarqueologicos.wordpress.com/documentos-importantes/. Acesso em:
28 maio 2020.
6 O Instituto Brasileiro de Museus foi criado em janeiro de 2009, com a assinatura da Lei nº 11.906,
atualmente regulamentada pelo Decreto nº 8.124, de 17 de outubro de 2013.
7 Importante ressaltar que parte dos resultados da pesquisa apresentada em 2017, relacionados princi-
Goiânia, v. 18, n.1, p. 254-274, jan./jun. 2020.

palmente a defesa dos processos de musealização como um dos caminhos mais indicados ao trabalho
com o patrimônio arqueológico, encontram-se no artigo ‘Percursos e Fronteiras: os labirintos entre
a proteção legal e a salvaguarda institucional das coleções arqueológicas no Brasil’, publicado pela
Revista de Arqueologia Pública da Universidade Estadual de Campinas. Contudo, as reflexões ex-
postas no artigo proposto à Revista Habitus, tornam públicas um conjunto discussões estabelecidas
pela mesma pesquisa, mas ainda não publicadas pelo autor.
8 Para uma análise substancial dos museus e instituições de guarda de material arqueológico no esta-
do de Minas Gerais, ver o trabalho de Ana Carolina Motta Rocha Montalvão, intitulado “Ciência
do Patrimônio: a gestão do Patrimônio Arqueológico no âmbito do Licenciamento Ambiental em
Minas Gerais”, desenvolvido para obtenção do título de Mestre em Artes, na linha de pesquisa em
Preservação do Patrimônio, pela Escola de Belas Artes da UFMG.
9 De acordo com o processo administrativo a que se submetem, as autorizações para execução de pesquisas
arqueológicas são concedidas pelo IPHAN, que publica no Diário Oficial da União, em formato de
portarias, as permissões para o desenvolvimento e/ou as renovações para as intervenções em arqueologia.
Este procedimento é destinado a todas as tipologias de pesquisa arqueológica, sejam elas de caráter
preventivo ou acadêmico. Entretanto, como as discussões apresentadas versam sobre o contexto de
desenvolvimento das obras de impacto a partir da inferência dos processos de licenciamento ambiental,
as análises realizadas neste trabalho consideram somente as pesquisas de caráter preventivo.
10 Como exposto, os dados originários da pesquisa compreenderam os anos de 2003 a 2016, contudo
este recorte temporal foi ampliado para esta publicação.
11 Primeiro instrumento normativo a exigir a apresentação de uma carta de endosso institucional para
o desenvolvimento de pesquisas arqueológicas.
12 Os processos tratados diretamente pelo CNA ocorrem quando um empreendimento atinge dois ou
mais estados da federação, por exemplo, uma rodovia ou uma linha de transmissão elétrica, quando o
licenciamento ambiental é conduzido pelo Ibama e também quando do desenvolvimento de pesquisas
de arqueologia subaquática. (Instrução Normativa IPHAN Nº 001/2015, art. 04º, § 1º).
13 A leitura que se aplica a este cenário é uma adaptação da metodologia utilizada por Moraes Wichers 269
(2010) em sua tese de doutoramento em Museologia, onde a autora apresenta uma análise das pesquisas
(acadêmicas e preventivas) e das categorias de instituições de endosso no contexto brasileiro, entre os
anos de 2003 e 2009. Para o desenvolvimento deste trabalho, foram considerados somente os processos
executados no âmbito do licenciamento ambiental, com instituições localizadas no estado de Minas
Gerais e com um recorte temporal que se estende até o ano de 2019.
14 Os pedidos de permissão são realizados por pessoa natural ou jurídica privada que tenham interesse
em promover atividades de pesquisa e/ou escavações arqueológicas, já as instituições científicas es-
pecializadas da União, dos Estados e dos Municípios, deverão requerer autorização para escavações
e pesquisas. Portaria IPHAN nº 07/1988, art. 01 e 02.
15 As instituições vistoriadas pelo projeto MPF-Arq localizam-se nos respectivos estados da federação:
Amapá, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo.
16 Para acesso aos documentos produzidos por esses coletivos, consultar o site www.acervosarqueolo-
gicos.wordpress.com.

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ABERTA consulta pública para revisão de portaria sobre conservação de bens arqueo-
Goiânia, v. 18, n.1, p. 254-274, jan./jun. 2020.

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Procedimentos para Solicitação de Remessa de Material Arqueológico para Análise
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