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________________Notas de Aula ERU-451 professor Marcelo Romarco – UFV-DER

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA


DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL
ERU-451 “EXTENSÃO RURAL”

Marcelo Leles Romarco de Oliveira1

“A história da agricultura é uma história da produção de novidade” (Van Der Ploeg, et al).

T exto de debate 02: Ciência e Agricultura: algumas reflexões sobre os desafios à produção
do conhecimento e à transferência de tecnologia na extensão rural

Já nas primeiras décadas do século XXI, observa-se que a produção de alimentos sustentáveis, a
preservação dos recursos naturais, a exigência dos mercados, a demanda por energia, principalmente,
fóssil, degradação de solos, poluição dos recursos hídricos e do ar, extinção de espécies, entre outros,
representam para a agricultura uma série de desafios, acerca dos quais a Ciência contemporânea
precisa se debruçar, sobretudo em relação aos caminhos que deverá seguir para auxiliar na mitigação
desses problemas.

Neste contexto, os serviços de Extensão Rural, historicamente foram fundamentais no processo de


transferência de tecnologias e na sua aplicação no mundo rural. Assim, entendemos que tais serviços
precisam ser cada vez mais eficientes na forma e na condução dos trabalhos junto aos/as agricultores/as
e/ou produtores/as rurais. Sobretudo, no que diz respeito à transferência de tecnologia e suas relações
nos contextos sociais e ambientais. Portanto, a intenção desta nota de aula é apresentar aos estudantes
da disciplina ERU 451 um breve histórico do papel da Ciências Agrárias e a transformação desta na
produção de conhecimento junto ao universo rural.

Ao falarmos de ciência, tecnologia ou impacto destas no cotidiano das sociedades implica em refletirmos
sobre [um quadro de referência mais amplo, entendendo-se a Ciência como ‘modo de conhecer’ e a
Tecnologia como ‘modo de fazer’, vê-se que todas as sociedades, em toda a sua diversidade, têm
seu sistema de ciência e tecnologia que serviu de base, em cada uma delas, para um desenvolvimento
característicos e distinto de todas as outras. As tecnologias ou sistemas tecnológicos fazem a ponte
entre os recursos de natureza e as necessidades humanas.

Essa transformação, surge a partir da revolução científica ocorrida nos séculos XVII e XVIII, época tida
como marco para as transformações do conhecimento e do saber pela Europa. Numa época em que
reinava as ideias medievais de que humanidade deveria ser obediente aos dogmas da igreja, o que
levaria, portanto, a humanidade a sua realização espiritual. Procurando romper esse paradigma

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Doutor em Ciências Sociais com ênfase em Desenvolvimento e Sociedade e Agricultura (CPDA-UFRRJ). Professor do
Departamento de Economia Rural e do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural da Universidade Federal de
Viçosa.

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pensadores como Francis Bacon; Rene Descartes; Kant e Newton, John Locke, Augusto Conte, entre
outros, vão apresentar através da positividade, elementos para entender a condução das ações
humanas na natureza, ou seja, “A ciência como substituta da revelação e da fé” (COELHO, 2014, p30),
o que romperia com o absolutismo e que o progresso da humanidade viria, principalmente, pela razão.
Como apontaria Boa Ventura Santos (2000), a ciência criou-se com uma perspectiva contrária ao senso
comum que ela acreditava que seria superficial. O que permitiu que a humanidade se tornasse um sujeito
epistêmico e se distanciando do sujeito empírico.

No caso das Ciências Agrárias, Coelho (2014) aponta que as transformações ocorridas na agricultura e
pecuária estiveram associadas, principalmente ao “espaço da vida”, tendo como marco, o século XIX
com as questões químicas desenvolvidas pelo chamado pai da agroquímica (Justus Von Liebig);
bacteriológicas desenvolvidas Louis Pasteur, entre outros pesquisadores.

Essas transformações promovidas pela Ciências Agrárias tinham por objetivo superar as limitações da
natureza associadas com as atividades agrícolas. Tais entraves foram sobrepujados pelo avanço
tecnológico e o progresso técnico, onde diversos setores da produção agrícola foram transformados em
setores específicos da atividade industrial, ou seja, a industrialização não só da produção agrícola como
a industrialização da produção de alimentos. A miscigenação entre componentes agrícolas com não
agrícolas. Essa realidade vai ser um dos grandes motores do desenvolvimento capitalista na agricultura
(GOODMAN, et al, 2008).

Desta forma, podemos entender que esse desenvolvimento da Ciência Moderna trouxe aquilo que Max
Weber (2011) denominou como desencantamento do mundo. No qual o conhecimento científico passa
a representar o conhecimento verdadeiro e o conhecimento popular representaria o não científico. Neste
caso, um embate entre aquilo que era vivenciado-empírico com aquilo comprovado pelos métodos
científicos. Essa realidade vai apontar que o conhecimento científico e técnico vai ser tratado como uma
forma superior de saber ao compararmos com saber comum ou popular.

Mais uma vez recorrendo a Coelho (2014), observamos que no caso das Ciências Agrárias a autora nos
mostra que essa opção em fazer ciências, valorizando o conhecimento científico, bem como optando
por determinadas forma de fazer agricultura, enquanto outras foram tratadas como conhecimento
desvalorizado, vai levar a autora ao seguinte questionamento: “A explicação cientifica é, antes de
qualquer coisa, uma construção socialmente referendada, embora isso não signifique que tudo que é
referendado dessa forma seja uma verdade absoluta” (COELHO, 2014 p38). Essa observação nos
permite chamar a atenção para a importância tanto do cientista quanto do extensionista em conhecer,
respeitar e dialogar com o conhecimento tradicional. Ou seja, não existiria conhecimento superior o que
existe são conhecimentos diferentes.

Na Figura 01, a seguir, procuro apresentar um modelo simplificado de alguns elementos que auxiliam a
entender o desdobramento dessa transformação da Ciência, principalmente com foco para as Ciências
Agrárias.

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Figura 01. Elementos para pensar o desdobramento da ciência com foco nas Ciências Agrárias

Fonte: Elaborado a partir de diversos autores por Prof. Marcelo Romarco -UFV, 2022.

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Ciências Agrárias no Brasil

Ao falar do surgimento da Ciências Agrária no Brasil, poderíamos tecer aqui argumentos que formariam
uma tese ou um livro. No entanto, nesses breves comentários dessa nota, o objetivo é trazer rápidos
elementos que nos ajudarão a contextualizar brevemente, o papel dessa ciência e sua contribuição para
os serviços de Extensão Rural brasileiro.

Nesse sentido, conforme Coelho (2014), ao falarmos das Ciências Agrárias percebemos que ao longo
da sua trajetória tal ciência delineou, principalmente, dois caminhos, ou seja, a ciência experiência e a
ciência experimento. No caso da primeira2 foi a primeira configuração científica do saber agrícola. Foi
predominante no Brasil até década de 1930, buscava a construção e o compartilhamento dos
procedimentos e tinha como propósito: “Aproxima-se da vida cotidiana de quem trabalho no campo, da
forma comum da produção agrícola ou pecuária (...). Tomava-se como unidade de análise um produto
e, em campos naturais de experiência, fazia-se todo tipo de observações, manejos e análises” (Idem, p.
40-41).

Já a Ciência Experimento, tem como provável início no Brasil o final da década de 1930, na ocasião
estas pesquisas vão iniciar na Esav (atual UFV). Nesta época, professores da instituição retornam de
suas especializações realizadas nos EUA, trazendo novos procedimentos de pesquisa, como o uso da
estatística, da genética, o uso de laboratórios, casas de vegetação, entre outros. A partir desse momento,
as Ciências Agrárias no Brasil se desenvolvem. Nesse sentido, Coelho (2014, p. 53) aponta que “Depois
do final da década de 1950, esses procedimentos passam a ser o padrão básico da forma de se fazer
pesquisa e abrangeu todos os objetos/temas relativos à agricultura, desde a produção vegetal e animal
até as análises econômicas e sociais”.

Para divulgação e transferência desses avanços experimentados pelas Ciências era necessário a
constituição de um serviço que fosse responsável por tal difusão do conhecimento produzido nesses
espaços. No final da década de 1940, vão surgir iniciativas de construção de um serviço de Ater que
ficasse responsável pela disseminação dessas novidades produzidas nos centros de pesquisas e
incorporadas pelas empresas do capital agrícola. Portanto, é neste contexto que surgem os serviços de
Extensão Rural (na próxima nota de aula, trataremos mais afundo desse tema).

A partir desses breves elemento, é possível constatar nas pesquisas historiográficas o papel da Ciências
Agrárias no desenvolvimento da agricultura brasileira e nos mostrar que esse processo de racionalização
do conhecimento e do avanço tecnológico no universo rural brasileiro seguiu padrões que não levaram
em conta a pluralidade e a diversidade do rural brasileiro. Esse contexto é tratado em diversos trabalhos
como um processo de modernização da agricultura conservador, no qual a produção do conhecimento
veio dentro de um contexto que propunha a utilização de máquinas e insumos modernos, aumentando
a produção por unidade de área e produto a ser colhido. Esse modelo foi caracterizado pelo processo
de expansão das fronteiras agrícolas e com poucas mudanças no padrão de distribuição da posse da

2Segundo Coelho (2014), os percussores desses trabalhos no Brasil, tanto na pecuária quanto na agricultura foram Dafert
pesquisador que no final do século XIX realizou no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) alguns trabalhos. Bem como,
os experimentos realizados por Peter Rolfs e Diogo Melo na década 1920 e 1930 na Esav (atual UFV).

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terra e com um padrão tecnológico fixo. As críticas vão no sentido, de tal transformação não levar em
conta o universo plural que compunha o rural brasileiro. Sem levar em conta os aspectos sociais,
econômicos e culturais desse espaço.

Para difundir esse modelo privilegiou-se principalmente a grande propriedade e aqueles que já eram
favorecidos pelo modelo de modernização de agricultura em curso. Esse modelo, amplamente encapado
pelos serviços de Extensão Rural da época ficou conhecido como modelo de Rogers ou paradigma
Rogeriano3, que tinha por objetivo incorporar as inovações junto a esses/as agricultores/as chamados
de progressistas. Essa foi a tônica que orientou a maioria dos trabalhos da chamada “Assistência
Técnica” no campo foi, fundamentalmente, a persuasão dos/as produtores/as, ou agricultores/as, para
o consumo de tecnologias ditas modernas.

Esse modelo se consagrou como a dependência entre o/a produtor/a, indústria e inovação tecnológica.
Uma consolidação do capitalismo no campo. Mudando toda uma forma de se produzir e de se relacionar
com os recursos naturais. A insistência na adoção de tecnologias de produção modernas, muitas vezes
fora do contexto socioeconômico, culturais e ecológico nesse modelo adotado pela Revolução Verde,
acarretou êxitos moderados ou ainda fracassos sociais, econômicos e ecológicos. Portanto, é possível
apontar que o papel da Ciências Agrárias no Brasil, no século XX, teve como mote geral essas
características.

Mudança de Paradigma: A transferência de conhecimento e a extensão rural numa postura


dialógica

Ao romper a barreira do século XXI a humanidade se depara com grandes desafios, associados
principalmente a forma como a humanidade se relaciona com seus recursos naturais, estamos em um
momento chave da humanidade, no qual desafios, como mudanças climáticas, surgimentos de novas
endemias e pandemias (vide a Covid 19), desaparecimento de espécies, exaustão dos solos,
degradação dos recursos hídricos e de uma sociedade extremamente dependente de combustível fóssil
tanto para se locomover quanto para produzir alimentos, têm nos colocados em xeque, sobre quais
caminhos a humanidade deve seguir.

Portanto, neste contexto, uma discussão que vem sendo colocada na pauta é a necessidade das
Ciências, Agrárias, em buscar caminhos e soluções produtivas, que mitiguem os impactos na produção
de alimentos, ou seja, como podemos fazer para reduzir a pegada ecológica na produção de alimentos?
Neste caso se faz necessário a busca por uma agricultura sustentável, menos dependente de produtos
derivados de petróleo e mais inclusiva será fundamental para enfrentarmos esses desafios.

Esse novo paradigma nos faz refletir para a necessidade de se produzir uma Ciência e Tecnologia
pautada numa postura mais crítica, democrática, participativa e construtiva quanto às decisões sobre

3 Everett Roger´s foi um Sociólogo norte americano responsável por criar a Teoria da Difusão das Inovações, que foi o
pilar do difusionismo nos serviços de Ater, principalmente, na América Latina. Sobre esse pesquisador em notas futuras
dedicaremos atenção aos seus métodos e os impactos nos serviços de Ater brasileiro.

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qual sistema de produção deve ser implantado em determinada realidade ou condição social,
valorizando o conhecimento local e os saberes das comunidades. Essa nova postura busca uma síntese
entre os interesses e saberes dos/as produtores/as, ou agricultores/as, e o conhecimento científico-
técnico e tecnológico do profissional.

Na perspectiva de Boaventura Santos (2000), nos chama atenção que a transformação do


desenvolvimento tecnológico em sabedoria de vida é um dos arcabouços emancipatório, construído para
ser apropriado privilegiadamente pelos grupos sociais oprimidos, marginalizados ou excluídos. Nesse
sentido, as Tecnologias Sociais, surgem como uma possibilidade de fazer essa ponte entre os saberes
locais e os saberes científico.
Para Morin (2001), o papel daqueles que transferem tecnologia para o campo (pesquisadores,
extensionistas e mediadores), está no sentido de compreender as comunidades em que trabalham,
procurando transmitir esse conhecimento de forma dialógica, respeitando, valorizando e compreendendo
o conhecimento local, a cultura e os habitus da comunidade.

Parafraseando Milton Santos (2006), no processo de construção e transferência do conhecimento é


preciso considerar as dinâmicas e especificidades de cada lugar, valorizando o conhecimento local e a
dimensão existencial da sociedade num dado espaço como as comunidades rurais.

Nesse olhar mais emancipatório da Ciência no qual se procurar valorizar os conhecimentos locais e a
busca pela melhoria na qualidade de vida, sobretudo, de grupos menos favorecidos, surge uma corrente
de pensadores que apostam nas Tecnologias Sociais, como suporte para essas transformações,
possibilitando, que todo o conhecimento produzido entre a academia e o conhecimento acumulado junto
aos grupos sociais, sejam utilizados para melhoria de vida dessas pessoas.

Assim, nos últimos anos, algumas correntes veem discutido a necessidade do conhecimento científico
recuperar, reconhecer e valorizar tradições e formas de conhecimento que são muitas vezes abandonas
e destruídas pelo poder de outras formas de conhecimento oriundas das tradições científicas e técnicas.
Ou seja, propondo uma conexão entre as universidades e os institutos de pesquisa com as demandas
reais das comunidades, da necessidade de um olhar mais inclusivo e emancipatório sobre os principais
problemas da maioria das pessoas. A Figura 02, a seguir, traz um breve esquema de alguns elementos
que nos ajuda a compreender o papel das Ciências no rural brasileiro.

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Figura 02. Elementos para refletir a Ciências no rural brasileiro

Fonte: Elaborado a partir de diversos autores por Prof. Marcelo Romarco -UFV, 2022.

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Tecnologias Sociais como possibilidade de alternativas

As tecnologias sociais, um tipo de conhecimento produzido e gerado a partir do conhecimento popular


que pode ser potencializado pelo saber técnico científico, tem ganhado espaço nas últimas décadas,
como possibilidades de contribuir, não só na valorização do conhecimento de comunidades bem como
a popularização desse conhecimento produzido através das Tecnologias Sociais (TS).

Sobre o surgimento das Tecnologias Sociais, Lassance e Pedreira (2004) apontam que a Índia do final
do século XIX seria o berço de suas primeiras concepções e experiência. O pensamento dos
reformadores daquela sociedade estava voltado para a reabilitação e o desenvolvimento das tecnologias
tradicionais, praticadas em suas aldeias, como estratégia de luta contra o domínio britânico. Nesse
sentido, as TS envolvem procedimentos e métodos próprios, no qual procura articular uma ampla rede
de atores sociais, que valorizam o conhecimento local e ou a combinação deste com o científico,
possibilitando a aplicação, disseminação e interação com a comunidade e que representem efetivas
soluções de transformação social.

Para Barros (2007), as Tecnologias Sociais unem os saberes acadêmicos e popular e normalmente ela
surge a partir de experiências desenvolvidas na própria comunidade, utilizando os saberes locais como
ponto de partida. Esse gancho apontado pela autora é fundamental para que os extensionistas possam
explorar esses saberes das comunidades e transformarem em elementos que possa contribuir para o
bem viver da comunidade.

Ainda é importante refletir que os conceitos científicos surgem primeiro no cotidiano no senso comum e
são apropriados pelo meio científico, tornando-se científico ao romperem com esse cotidiano
(FRANCELIN, 2004).
Nessa perspectiva Thiollent (2011) aponta para a necessidade de ter no horizonte que os/as
agricultores/as também, possuem conhecimentos e habilidades em matéria de geração de técnicas e
métodos simples adaptados as suas condições sociais e econômicas. Desta forma o/a extensionista
precisa procurar, portanto, valorizar e respeitar os conhecimentos, princípios e valores da cultura destes
agricultores/as. O autor aponta que os/as agricultores/as: “possuem também, potencialidades de
aprendizagem, habilidades e sabem que podem contribuir para a adaptação de técnicas existentes”
(Idem, p. 100).

Essas tecnologias normalmente são de baixo custo de implementação e alto potencial transformador,
essas tecnologias oferecem soluções relativamente simples para problemas cotidianos da população.
Ainda segundo a autora, é importante que no processo de multiplicação das experiências, ela seja
recriada, ajustada, que sejam agregados novos elementos pelas pessoas da comunidade, ou seja, que
seja apropriado pelas pessoas e reconstruído por elas. É a esse movimento que chamamos de
reaplicação. Essas reflexões sobre as tecnologias sociais estimulou a criação da Rede de Tecnologia
Social (RTS), que tem por objetivo contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável por meio
da difusão e reaplicação, em escala, de tecnologias sociais. Além disso, a RTS tem importância
estratégica para o desenvolvimento de tecnologias sociais e a integração de diferentes agentes da
sociedade para a construção de uma nova estrutura social. (BARROS, 2007).
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As reflexões sobre as experiências inovadoras com Tecnologias Sociais podem ser valorizadas para o
fortalecimento da democracia e da cidadania, na melhoria na qualidade de vida das comunidades e no
desenvolvimento de estratégias sustentáveis. Desta forma, o desenvolvimento coletivo e participativo no
âmbito das Tecnologias Sociais se aproxima de algo que se denominou inovação social. Este conceito
de inovação social tem como objetivo a disponibilização de um conhecimento, bem ou serviço para a
sociedade, com o objetivo de agregar valor aos processos, serviços e produtos visando à satisfação das
necessidades sociais.

Nessa perspectiva Vasconcellos (2000) nos brinda com a reflexão que a construção do conhecimento
deve possibilitar a humanização do sujeito. Isso pode ocorrer através de ações que procure interagir a
comunidade, os/as agricultores/as e os/as técnicos/as, construindo caminhos de forma coletiva. O que
certamente permitirá o compartilhamento do conhecimento produzido coletivamente. Nesse prisma, o
conhecimento abdica seu caráter exclusivamente transmissivo e incorpora o “saber fazer” coletivo como
valor pedagógico de saber pensar, questionar, intervir e fundamentalmente reconhecer outros
conhecimentos.

Assim sendo, a conexão entre os saberes acadêmico, técnico-científico e popular se dá desde o


momento da identificação das demandas até o próprio desenvolvimento e utilização das tecnologias
sociais. E, essa dimensão é importante porque traz à tona o reconhecimento da importância do saber
popular e tradicional para a definição e construção de soluções realmente sustentáveis. Dessa forma, a
prática acadêmica e técnica tem o compromisso de colocar o conhecimento a serviço das diversas
parcelas da população e, através disso, comprometer a comunidade científica com uma concepção de
ciência enquanto processo de relação.

Nos sites a seguir tem alguns exemplos de Tecnologias Sociais:

https://www.youtube.com/watch?v=Dpgg-cBDGyw

https://www.youtube.com/watch?v=SrX_v3if6qU

https://www.youtube.com/watch?v=w0tnvBgUqfg

Considerações reflexivas

Podemos perceber, ao longo dessas observações, que a ciência acabou privilegiando uma visão
tecnicista que legitima apenas conhecimentos produzidos em laboratórios de pesquisa e credita o saber
exclusivamente a imagem do pesquisador ou do cientista. Validando apenas aquilo que seria discutido
nos centros de pesquisa.

Mais a ciência popular o conhecimento fruto da observação e do senso comum, como por exemplo, do
agricultor que se espelha nas fases da lua ou das marés para realizar uma determinada atividade como
de plantio ou da realização da colheita ou da pesca, são importantes nesse eixo de reflexão. Esse

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conhecimento já faz parte da sua cultura e está associado as suas tradições. E conhecer essa realidade
podem ser uma importante estratégia na atuação dos trabalhos dos/as técnicos/as de Extensão Rural.

Atividade a ser desenvolvida

Faça uma síntese dos principais elementos que vocês acreditam importantes nessa relação das ciências
com a Extensão Rural.

Referências

BARROS, Larissa. Tecnologias Sociais. Revista Minas Faz Ciência – Belo Horizonte, FAPEMIG,
Edição nº 30. outubro de 2007.
COELHO, France Maria Gontijo. A arte das orientações técnicas no campo. Viçosa, Suprema. 2014.
FRANCELIN, Marivalde Moacir. Ciência, senso comum e revoluções científicas: ressonâncias e paradoxos.
In: Ciência da Informação, n. 3, v. 33, 2004.

GOODMAN, David; SORJ, Bernardo; WILKINSON, John. Da lavoura às biotecnologias agricultura e


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LASSANCE, Antônio. E.; PEDREIRA, Juçara Santiago. Tecnologias sociais e políticas públicas. In:
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PLOEG, J. D. Van der. et al. On Regimes, Novelties, Niches and Co-Production. In: PLOEG, J. D. Van
der; WISKERKE, J. S. C. (Eds.) Seeds Of transition: essays on novelty production, niches and regimes
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São Paulo: Cortez, 2000.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção (Coleção Milton Santos;
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THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo, Cortez, 18a. 2011.

VASCONSELLOS, Celso. Construção do conhecimento. São Paulo. Editora Liberdad, 2000.


WEBER, Max. Ciência e Política: duas Vocações. 18ª edição. São Paulo: Cultrix, 2011.

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