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Procedimento 1.30.001.

000216/2023-75, Documento 21, Página 1

PGR-00020975/2023

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL


PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA
SECRETARIA DE PERÍCIA, PESQUISA E ANÁLISE
Centro Nacional de Perícia

LAUDO TÉCNICO Nº 032/2023-ANPMA/CNP


REFERÊNCIA Notícia de Fato nº 1.30.001.000216/2023-75
UNIDADE SOLICITANTE Procuradoria da República – Rio de Janeiro/RJ
AUTORIDADE REQUERENTE SERGIO GARDENGHI SUIAMA
Meio Ambiente. Zona Costeira. Erosão Costeira. Obras
costeiras. Sistema praial. Morfodinâmica. Erosão Costeira.
EMENTA Intervenções em faixa de praia. Placas de concreto com manta
geotêxtil. Praia da Barra da Tijuca. Rio de Janeiro/RJ. Análise

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documental.
TEMÁTICA Meio Ambiente e Patrimônio Cultural

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GUIA SISTEMA PERICIAL SP nº 101/2023 URGENTE
COORDENADAS Parâmetro para georreferenciamento da Informação Técnica.

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GEOGRÁFICAS Lat./Long. dec.: -23.010978º -43.361762º

1 INTRODUÇÃO
Este documento atende1 à solicitação do Dr. Sérgio Gardenghi Suiama,
Procurador da República no Rio de Janeiro/RJ, para análise de desenvolvimento de obra
costeira em faixa de praia. Neste caso, trata-se de Notícia de Fato, a qual evidencia que a
Secretaria de Infraestrutura da Prefeitura do Rio de Janeiro está realizando uma obra de
revitalização do calçadão na orla da Praia da Barra da Tijuca entre os postos 3 e 8, com
remoção de areia para instalação de placas de concreto com mantas de geotêxtil.

Deve-se ressaltar que os projetos, estudos preliminares e informações técnicas


afeitas à obra em análise não foram disponibilizados aos analistas subscritores, o que
compromete uma análise mais abrangente do caso. No entanto, pelas imagens
disponibilizadas e pelas informações prestadas pelas partes representantes, observa-se que a
intervenção é uma obra rígida em faixa de praia (placas de concreto com mantas de geotêxtil),

1 Em conformidade com o Anexo 1 da Portaria nº 83-PGR/MPU, de 16/9/2019 e com a Portaria


nº 40-PGR/MPF, de 24/4/2020, art. 61, IV.

PGR – Anexo III – SAS Quadra 3 Bloco J – CEP 70.070-925 – Brasília-DF


Tel. (61) 3213-2881 – PGR-Pericial@mpf.mp.br
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temática amplamente abarcada em estudos sobre morfodinâmica costeira, desastres naturais,


engenharia costeiras, entre outras áreas.

Neste sentido, o objeto de análise deste Laudo Técnico refere-se, tão somente,
à execução de obra rígida, placas de concreto, cujas dimensões não foram disponibilizadas,
além da execução da manta de geotêxtil junto à faixa de praia, não fazendo referência às obras
previstas a serem realizadas no calçadão da praia.

Para o atendimento da demanda pericial em epígrafe, este laudo se baseou na


análise dos documentos disponibilizados no Sistema Pericial, nas competências, capacitações
e formações dos peritos subscritores e na literatura técnica pertinente.

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2 ANÁLISE
Antes de se iniciar a resposta aos quesitos, vale ponderar que, no tocante às

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obras e intervenções costeiras, o MPF, no âmbito do seu projeto MPFGerco, já se posicionou
em suas manifestações por uma abordagem sistêmica, a qual considere a integralidade dos

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fatores que condicionam a ponderação dos diferentes tipos de impactos, positivos e negativos,
na consecução de uma obra de contenção. A razão para este embasamento vem de um longo
processo de discussão da academia científica (envolvendo desde a engenharia estrutural à
oceânica e costeira), a qual consubstancia um entendimento que qualquer intervenção na linha
de costa deve ser analisada sobre ponto de vista das dinâmicas presentes no ambiente
marinho/costeiro. Outrossim, trata-se de posicionamento de instituições como o Ministério
Público Federal, o Ministério do Meio Ambiente, universidades e a Secretaria do Patrimônio
da União (SPU), confeccionado em um rol de documentos e eventos recentes que envolvem a
temática das ocupações de faixa de praia 2.

Por exemplo, como discutido regularmente no âmbito do Grupo de Integração


do Gerenciamento Costeiro (Gi-Gerco)3, as modificações na linha de costa, tais quais a
2 Podem ser citados as publicações governamentais o Guia de Diretrizes de Prevenção e Proteção à Erosão
Costeira e o Panorama de Erosão Costeira no Brasil. Já dentre os eventos citam-se as Oficinas de Gestão de
Praias que contam com a participação das instituições citadas e os eventos elencados pelo Projeto MPFGerco do
MPF.
3 O Grupo de Integração do Gerenciamento Costeiro - Gi-Gerco criado pela Portaria do Ministério da Marinha
nº 0440, de 20 de dezembro de 1996, no âmbito da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar -CIRM,
tem como objetivo promover a articulação das ações federais incidentes na zona costeira, a partir do Plano de
Ação Federal - PAF-ZC, com vistas a apoiar a implementação do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro –
PNGC. Destaca-se que Ministério Público Federal é membro do Gi-Gerco desde 2013, tendo participado
ativamente de Grupos de Trabalho e de atividades relacionadas ao grupo antes mesmo de ser inserido na
composição do Gi-Gerco.

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intervenção aqui discutida, tem seu impacto negativo pelo fato de desregularem a
morfodinâmica local, o que induz em alterações na estrutura de mais de um ecossistema
costeiro, como estuários, praias, manguezais, entre outros, e que por essa razão requerem
estudos de viabilidade sistêmicos (NORDSTROM, 2010) 4. Inclusive no âmbito do Gi-Gerco
se insere o Guia de Diretrizes de Prevenção e Proteção à Erosão Costeira, o qual tem, por
consenso interinstitucional, que intervenções na dinâmica natural no ambiente costeiro sempre
desencadearão impactos negativos, no entanto, as que podem ter atenuados seus impactos são
aquelas que contam com estudos abrangentes e sistêmicos, os quais garantem a possibilidade
de ações complementares em prol da manutenção e, consequente, recuperação do ambiente
costeiro.

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Em suma, a análise sistêmica considerada pelo MPFGerco é a consideração do
mais amplo leque de fatores que contribuem para a regulação e manutenção dos ambientes
costeiros, marinhos e estuarinos, buscando alcançar uma maior representatividade dos

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estudos/apontamentos afeitos a estas questões, tanto em abrangência quanto em qualidade.

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Com este entendimento, lastreado em literatura técnica pertinente e na
experiência do Parquet, serão respondidos os quesitos a seguir.

2.1 Existem manifestações técnicas ou pareceres dos órgãos municipais de ordenamento


e meio ambiente sobre a regularidade das obras desenvolvidas na praia da Barra da
Tijuca? Existe processo de licenciamento, bem como a especificação do objeto e da
finalidade da obra em questão?
Não foram encontrados manifestações técnicas referentes à obra em questão
em pesquisa no Painel de Obras da Prefeitura do Rio de Janeiro5. Neste caso, os peritos
subscritores identificaram a especificação da obra neste portal como:

i. Área de Planejamento 4.2 – Barra da Tijuca, processo nº 0006/250233/2021,


“Recuperação de Taludes em Manta Geotêxtil – Orla da Barra da Tijuca”; Órgão Contratante,
Secretaria Municipal de Infraestrutura (SMI); Órgão Executor, Secretaria Municipal de
Infraestrutura (SMI); Empresa contratada, Dratec Engenharia LTDA (CNPJ 28.065.845/0001-
84).

4 NORDSTROM, K.F. Recuperação de Praias e Dunas. São Paulo: Oficina de Textos, 2010. 352p.
5Disponível em: <https://app.powerbi.com/view?
r=eyJrIjoiN2I5NDdiMDEtMjU0NS00ZjMyLTliMTMtZDVhZGQ1MTIyNTI2IiwidCI6IjZmZWZlOGVlLTlmY
mItNGRiYy05YTU4LWFkYmQ3NDMwODMyMiJ9 > Acesso em: 18 jan. 2023.

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No entanto, não estão disponibilizados as manifestações ensejadas no presente


quesito. Do mesmo modo, em pesquisa no sítio eletrônico da Prefeitura do Rio de Janeiro, não
foram encontradas as manifestações técnicas relativas ao quadro de informações acima.

Quanto ao licenciamento ambiental, não foram encontrados processos


relacionados à obra de proteção costeira, com as especificidades da obra, em análise no Portal
de Licenciamento6 do Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (Inea), bem como os
relacionados à Prefeitura do Rio de Janeiro, órgãos envolvidos e empresa contratada (partes
interessadas/CNPJ).

2.2 Foi realizado algum estudo ambiental ou análise por parte de órgão público para
avaliar os impactos ambientais da obra em questão?

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Não foram encontradas referências a estudos voltados para a obra especificada
no quesito anterior. Neste contexto, informa-se que quando encontrada a referência nos

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portais de licenciamento ambiental, geralmente, estão dispostos os estudos ambientais afeitos
à obra em análise.

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No caso em questão, uma obra como a que está sendo desenvolvida, em
ambiente costeiro, enseja pela legislação brasileira (Lei nº 7.661 de 1988 e Decreto nº 5.300
de 2004) estudos ambientais que possuam a robusteza de um Estudo de Impacto Ambiental
(EIA) e sejam apresentados à sociedade em forma de um Relatório de Impacto Ambiental
(RIMA).

Sobre o EIA/RIMA, ou estudos que possuam sua robustez e abrangência, vale


ponderar que, as normativas de gerenciamento costeiro (Lei nº 7.661 de 1988 e Decreto nº
5.300 de 2004) destacaram grande importância para a utilização deste instrumento de
licenciamento no âmbito da complexidade costeira/marinha. Estas importantes normativas
ressaltaram o fato de que parte dos fenômenos que ocorrem sobre a linha de costa e no
ambiente marinho, derivam das dinâmicas continentais, tais como o intemperismo, a
drenagem continental, o fluxo gênico entre os ecossistemas de transição, as variáveis
meteorológicas7 que têm efeito direto sobre a costa e a movimentação de massas de ar, e as
consequentes variáveis climatológicas e oceanográficas.

6 Disponível em: <http://www.inea.rj.gov.br/licenambiental/> Acesso em: 18 jan. 2023.


7 Variáveis como pressão, gradientes de temperatura, umidade do ar, gradientes de vento, tais parâmetros afetam
diretamente as massas de ar e sua circulação no ambiente terra-mar.

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Assim, a consideração nos processos de licenciamento ambiental de estudos


ambientais de maior robustez e complexidade como o Estudo de Impacto Ambiental e
respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA)8 demonstra a relevância e
preocupação para com os empreendimentos situados na Zona Costeira e seus efeitos sobre
esse ambiente sistêmico. Ademais, considera-se que a abrangência deste instrumento evita o
surgimento de uma gama de passivos ambientais, que muitas vezes se encontram
subdimensionados ou até mesmos ocultos, quando não se possuem estudos para sua
identificação.

No caso em questão, as próprias manifestações técnicas citadas na Notícia de


Fato em epígrafe, demonstram que existe uma preocupação com a extensão dos impactos da

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obra em análise para outras praias do litoral carioca. Vale lembrar que as manifestações são
assinadas pelo corpo técnico da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal
Fluminense, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, entre outras instituições de relevância

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acadêmica e técnica.

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2.3 Quais são as principais causas da erosão costeira que vêm ocorrendo na praia em
questão? As intervenções antrópicas realizadas, a exemplos das intervenções no
ambiente pós-praia, terrenos de marinha e supressão de vegetação de restingas,
abarcadas pela obra em análise, podem contribuir para aumentar erosão costeira nesta
praia?
Segundo Nordstrom (2010)9, no livro Recuperação de Praias e Dunas, e o
Ministério do Meio Ambiente (2018)10, no livro Panorama da Erosão Costeira no Brasil, a
erosão costeira é um evento constante, o qual é favorecido por condições meteocenográficas e
áreas suscetíveis à remoção de sedimentos. Em síntese, esta suscetibilidade pode ser
aproximada da questão da vulnerabilidade do litoral, em razão de fatores como o uso e
ocupação do solo, o que faz com que áreas mais ocupadas aliadas às variações de parâmetros
hidrodinâmicos, principalmente, possam permitir um maior desenvolvimento da erosão
costeira.

8 Lei nº 7.661 de 16 de maio de 1988, art. 6º. O licenciamento para parcelamento e remembramento do solo,
construção, instalação, funcionamento e ampliação de atividades, com alterações das características naturais da
Zona Costeira, deverá observar, além do disposto nesta Lei, as demais normas específicas federais, estaduais e
municipais, respeitando as diretrizes dos Planos de Gerenciamento Costeiro.
9 NORDSTROM, K.F. Recuperação de Praias e Dunas. São Paulo: Oficina de Textos, 2010. 352p.
10 Ministério do Meio Ambiente (MMA). Panorama de erosão costeira no Brasil. Brasília: MMA, 2018. 759p.

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Em contrapartida, a manutenção de feições ambientais, sobretudo, às


relacionadas à vegetação, permitem que o desenvolvimento da erosão costeira seja atenuado,
pois estas feições possuem a capacidade de reter sedimentos, mesmo em condições de alta
hidrodinâmica. Ao mesmo tempo em que, no momento de baixa hidrodinâmica, em ocasião
propícia para a recuperação da praia, estas feições disponibilizam sedimentos como se
“engordassem” sua morfologia. Esta alternância entre erosão e deposição é considerada
cíclica pela literatura técnica referente à engenharia costeira e oceanografia, conhecida
também como balanço sedimentar.
Por sua vez, as razões para que a erosão predomine sobre os efeitos
deposicionais (que engordam o perfil da praia) são relacionadas ao aumento natural do nível
do mar, a eventos extremos e às intervenções nas feições que regulam os depósitos

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sedimentares locais, tais quais a ocupação do ambiente pós-praia ou obras rígidas na faixa de
praia. Um exemplo prático desta explanação, na praia da Barra da Tijuca, pode ser observado

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nos trabalhos de Coutinho (2007)11 e Carvalho et al. (2020) 12 em que estes autores discorrem

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tanto sobre as causas da variação da linha de costa quanto sobre a correlação entre a
desregulação da ocupação litorânea com o agravamento da erosão costeira.
Reforçam as observações destes autores, a própria definição de desastre
natural, em que se enquadra a erosão costeira13, em que este fenômeno é uma correlação entre
a vulnerabilidade das ocupações e os potenciais de se desenvolver o desastre (ameaças) 14.
Neste caso, a vulnerabilidade das ocupações no ambiente é condicionada, sobretudo, por suas
estruturas de mitigação ou magnificação do desastre. No caso em questão, observa-se que o
uso e ocupação do solo da orla já favorecem a erosão e as ações e estruturas de mitigação são
inexistentes ou construídas sem a regularização técnica e ambiental.

11 COUTINHO, N.M. Erosão e deposição de sedimentos no arco de praia da Barra da Tijuca - Recreio dos
Bandeirantes, Rio de Janeiro – RJ. 2007. 80f. Dissertação (Mestrado em Geologia) – Instituto de Geociências,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: < >. Acesso em: 18 jan. 2023.
12 CARVALHO, B. C., DALBOSCO, A. L. P., & GUERRA, J. V. (2020). Shoreline position change and the
relationship to annual and interannual meteo-oceanographic conditions in Southeastern Brazil. Estuarine, Coastal
and Shelf Science, 235, 106582. Disponível em:
<https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0272771419306201 >. Acesso em: 18 jan. 2023.
13 Desastre natural “Erosão Costeira” reconhecido pela Classificação e Codificação Brasileira de Desastres
(Cobrade).
14 Este é um entendimento simplificado, mas ainda utilizado, pois o conceito atual de risco de desastres já
engloba outras variáveis além da correlação aqui elencada, a visão aqui apresentada é baseada na publicação
recente da Secretaria Nacional de Defesa Civil, o Caderno Técnico de Gestão Integrada de Riscos e Desastre.
Disponível em: <https://www.gov.br/mdr/pt br/assuntos/protecao e defesa-civil/Caderno_GIRD10__.pdf>.
Acesso em: 18 jan. 2023.

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Os autores citados também reconhecem que existe uma necessidade de


reordenamento das ocupações próximas à faixa de praia e uma maior fiscalização procurando
evitar novas intervenções no ambiente praial. Com este mesmo entendimento, o livro
Panorama de Erosão Costeira no Brasil (MMA, 2018) destaca que:
Neste caso o estabelecimento de faixas de recuo non-aedificandi minimizaria em
grande parte os problemas futuros de erosão. Estas faixas não edificantes têm por
finalidade absorver mudanças futuras e devem ser adotadas no licenciamento de
qualquer atividade antrópica.
[...]
Estratégias simples como estas podem minimizar significativamente os prejuízos
econômicos decorrentes do processo da erosão costeira, que para o caso específico
do estado da Paraíba, parece ser mais aparente do que real.

Esta preocupação não se limita somente ao litoral carioca, pois já existe um


consenso técnico entre as instituições brasileiras de ensino superior, que atuam na temática da

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erosão costeira, de que os instrumentos de ordenamento territorial e ambiental devem prezar
pela preservação do ambiente costeiro. De forma mais específica, existem publicações que

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agregaram o conhecimento técnico tanto das instituições de ensino quanto de órgãos

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governamentais para propor diretrizes de como podem ser utilizados/construídos esses
instrumentos. Uma destas publicações é o Guia de Diretrizes de Prevenção e Proteção à
Erosão Costeira15, o qual apesar de voltar-se para obras de proteção costeira, tais quais os
gabiões, também atenta para a observação de instrumentos de ordenamento no litoral
brasileiro.
Em contrapartida ao exposto, as obras de proteção ensejadas para a orla da
Barra da Tijuca demonstraram estar em dessintonia com o que dispõe a literatura técnica e as
normativas pertinentes ao ordenamento costeiro.
No que se refere a estas obras rígidas em faixa de praia, placas de concreto,
seus impactos são amplamente conhecidos, pois ao se ocupar um ambiente pós-praia e a faixa
de praia, contribui-se não só para a supressão das feições ambientais reguladoras do balanço
sedimentar, como também se cria uma condição de vulnerabilidade da estrutura construtiva,
localizada em uma área dinâmica e de solo arenoso (fatores negativos no âmbito de uma
análise de estabilidade geotécnica).
No caso da obra em análise, cuja especificação são placas de concreto, esta por
si só é considerada uma intervenção que pode ser tida pelos empreendedores como uma
solução para a atenuação a curto prazo da hidrodinâmica sobre determinada área, no entanto,
15 Disponível em: <http://www.planejamento.gov.br/assuntos/gestao/patrimonio-da-uniao/destinacao-de-
imoveis/guia-de-diretrizes-de-prevencao-e-protecao-a-erosao-costeira.pdf/view >. Acesso em: 18 jan. 2023.

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a literatura técnica demonstra que são certos os impactos negativos e sistêmicos na morfologia
e no balanço sedimentar costeiro a médio e longo prazo. Em resumo, sabe-se que o efeito de
enrocamentos, paliçadas, muretas, bagwalls, escadarias, e qualquer outra obra rígida no
ambiente praial é o de evitar que ondas em condições de alta hidrodinâmica (ressacas) possam
remover os sedimentos que se encontram na face e no limite do ambiente pós-praia
(NORDSTROM, 2010; CIRM, 2018)16. Entretanto, tais obras podem ser antagônicas, de
modo que o efeito reflexivo destas pode vir a concentrar a energia das ondas na face da praia.
Esse processo compromete a morfologia praial, criando bancos de areia, o que geralmente
ocorre na mudança de praias dissipativas para reflexivas. Ademais, a depender da disposição
destas obras rígidas, estas também podem propiciar a formação de promontórios erosivos e
agravar a erosão nas adjacências do local a que protegem.

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Os impactos citados, a médio e longo prazo, alteram também a hidrodinâmica
local e podem não só contribuir com o processo erosivo instalado, como também

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comprometer efetivamente o usufruto da praia ali existente, ou até mesmo agravar a

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intensidade das ressacas que atingem as dunas e o pós-praia, no caso o próprio talude
protegido e sua estabilidade. Como se não bastassem os custos envolvidos, verifica-se no caso
concreto que a alternativa de contenção por estruturas rígidas vem funcionando apenas como
paliativo ao longo do tempo no litoral brasileiro, não apresentando nenhuma eficiência
comprovada na contenção do agravamento do processo erosivo ali instalado. Verifica-se que a
redução da faixa de praia e o consequente ataque pelas ondas de tempestade têm resultado na
destruição parcial dessas estruturas, cujos escombros são lançados no ambiente praial
acarretando, assim, riscos aos transeuntes e banhistas, bem como dificultando o livre trânsito
e circulação de pessoas.

Tais impactos são acompanhados pelo Parquet em diversas atuações, tanto no


âmbito do acompanhamento das obras costeiras quanto no desenvolvimento de soluções
alternativas para mitigar os danos oriundos de tais obras. Por exemplo, citam-se os casos em
que a utilização de enrocamentos, e estruturas semelhantes, desenvolveram mais impactos do

16COMISSÃO INTERNACIONAL PARA RECURSOS DO MAR (CIRM/MARINH DO BRASIL). Guia de


Diretrizes de Prevenção e Proteção à Erosão Costeira. Brasília: CIRM, 2018. 114p. Disponível em:
<https://antigo.mdr.gov.br/images/stories/ArquivosDefesaCivil/ArquivosPDF/publicacoes/Final_Guia-de-
Diretrizes_09112018-compressed.pdf >. Acesso em: 18 de jan. de 2023.

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que os quais se propuseram a mitigar, do mesmo modo que acabaram por agravar a erosão e
seus efeitos nas áreas e que foram construídos, a saber:

i. Inquérito Civil nº 1.00.000.003238/2009-8817, o qual acompanhou a gestão


da contenção da erosão costeira na praia de Icaraí, em Caucaia/CE, onde foram construídos
enrocamentos e bagwalls, à revelia de estudos ambientais, e atualmente a praia tem agravada
sua erosão costeira e comprometido seu usufruto em razão dos resíduos das obras;

ii. Inquérito Civil nº 1.29.006.000344/2015-80, o qual analisou as intervenções


no Balneário Hermenegildo, Santa Vitória do Palmar/RS, onde obras de enrocamento e
muretas de proteção desenvolvidas por particulares agravaram a erosão em áreas
desprotegidas e levaram a um estado de completa desregulação sedimentar da praia local, o

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que faz com que atualmente a solução seja a remoção das estruturas e das casas mais expostas
para o desenvolvimento de projeto de recuperação do ambiente pós-praia; e

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iii. Inquérito Civil nº 1.28.000.000147/2014-71, que acompanhou os processos
erosivos costeiros na praia de Ponta Negra, Natal/RN, neste caso em um primeiro momento

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utilizou-se da construção de um enrocamento sem os estudos adequados o que fez com que a
erosão fosse agravada nas áreas onde a obra ainda não tinha sido concluída e posteriormente
esta erosão comprometeu o restante do enrocamento e chegou a atingir os calçadões da praia.

Aliás, livros como o Panorama de Erosão Costeira no Brasil (MMA, 2018) 18,
destacam que boa parte do recuo e comprometimento de ambientes pós-praia, nos casos de
erosão costeira no Brasil, advieram da utilização de obras emergenciais carentes de estudos e
medidas complementares após a sua utilização pontual.
No caso da supressão das restingas, no caso da erosão costeira, os sedimentos
disponíveis em uma praia variam ao longo do ano entre o seu perfil exposto e seu perfil
submerso, de acordo com as alternâncias entre tempo bom (engordamento) e tempestade
(erosão). Nesses períodos, a vegetação retém o sedimento em períodos de acresção da praia e
disponibiliza o sedimento em períodos erosivos, favorecendo um novo equilíbrio do ambiente
(HOEFEL, 199719; NORDSTROM, 2010). Geralmente, durante o verão, em condições de
tempo bom (menor intensidade de ondas), a vegetação de restinga costuma expandir seus

17 Com referências nos processos administrativos PR/CE nº 1.15.000.002124/2006-45 e PR/CE nº


1.15.000.001964/2007-71.
18 Ministério do Meio Ambiente (MMA). Panorama de erosão costeira no Brasil. Brasília: MMA, 2018. 759p.
19 HOEFEL, F. G. Morfodinâmica de Praias Arenosas Oceânicas: uma revisão bibliográfica. Itajaí/SC:
UNIVALI, 1997. 83p.

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domínios e reter areia. No inverno, em que as condições de ondas são mais intensas, a
vegetação e o acúmulo de sedimentos no ambiente pós-praia ajuda a amortizar os efeitos das
ondas, protegendo a praia de perder sedimentos.
Assim, quando se ocupa o ambiente praial, seja a faixa de praia, ou o pós-praia
onde se encontra a vegetação de restinga, ocorre que tanto a manutenção explanada quanto a
conformação dos perfis praiais acaba sendo desregulada. Neste caso, uma obra do tipo placas
de concreto com manta de geotêxtil não só é uma obra rígida que favorece a erosão costeira,
como também não propicia a manutenção adequada das ações que mitigam esse fenômeno.

2.4 Existe estudo, mapeamento ou manifestação técnica de órgão/instituição


competente que indica que a área onde se desenvolve a obra apresenta risco geotécnico e

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que é necessária a obra para mitigar este risco?
Em pesquisa nos repositórios da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da

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Universidade Federal Fluminense e na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, instituições
que possuem corpo técnico com expertise na temática objeto da lide, não foram encontrados

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estudos e/ou publicações que indiquem um estado de erosão avançado na praia da Barra da
Tijuca. Do mesmo modo que não foram encontrados estudos que concluam ou discutam pela
necessidade de obras de proteção costeira naquela área.

Ademais, quando consultadas as referências relacionadas ao registro de


desastres naturais no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID) 20, não foram
encontradas referências sobre o desenvolvimento de erosão costeira na área que requeira uma
situação emergencial.

Assim, em resposta ao quesito supracitado, em um primeiro momento, não


foram encontradas referências técnicas que indiquem a necessidade de obras de proteção
costeira, sobretudo da magnitude observada, para a praia da Barra da Tijuca.

Para uma análise mais exaustiva sobre esta questão, sugere-se que sejam
consultados os especialistas na temática de erosão costeira no Estado do Rio de Janeiro. Neste
sentido, recomenda-se a consulta aos Departamentos de Geologia e Oceanografia, tanto da
Universidade Federal quanto da Estadual do Rio de Janeiro.

20 Portal de informações que disponibiliza o monitoramento e histórico de desastres e alertas de desastres no


Brasil. Disponível em: < https://s2id.mi.gov.br/> Acesso em: 19 jan. 2023.

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2.5 Considerando eventos extremos, o desenvolvimento das obras na praia da Barra da


Tijuca aumenta o risco de danos patrimoniais nas áreas adjacentes? Explique.
Tendo em vista que a obra de proteção costeira favorece o comprometimento
do balanço sedimentar e a um menor acúmulo de sedimentos na face da praia, a tendência é
que a erosão costeira seja magnificada, o que, consequentemente, aumenta o risco de danos
patrimoniais nas áreas adjacentes. No caso em questão, a consulta aos especialistas na
temática21 demonstrou esta preocupação, sobretudo, diante do fato que a área não apresenta
registros e monitoramentos que indiquem uma erosão significativa na localidade onde a obra
está sendo executada.

Em síntese, modificada a área a partir da inserção das placas de concreto para

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um cenário de carência de estoques sedimentares, na ocorrência de eventos extremos as
ocupações no pós-praia tornam-se mais vulneráveis a alta hidrodinâmica.

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Além disso, quando se observa o quadro geral de obras costeiras no litoral
brasileiro, observa-se que as próprias obras rígidas podem contribuir para o aumento dos

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danos patrimoniais diretamente. Por exemplo, não é incomum que a disposição de uma obra
rígida em praia, possa facilitar no desenvolvimento da subsidência22, o qual ocorre,
geralmente, em solos arenosos em praia (FIG. 1).

21Disponível em: <https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2023/01/6557198-cientistas-alertam-que-obra-que-


coloca-concreto-na-areia-da-praia-da-barra-e-ineficaz-e-danosa.html >; e
<https://oglobo.globo.com/rio/bairros/barra/noticia/2023/01/especialistas-questionam-obras-contra-ressaca-na-
praia-da-barra-da-tijuca.ghtml >. Acesso em: 19 jan. 2023
22 Em geologia, significa afundamento abrupto ou gradativo da superfície da terra, com pouco ou nenhum
movimento horizontal.

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FIG. 1: Detalhe de efeito de subsidência do terreno situado imediatamente a montante da estrutura de contenção
em gabiões. Notar o iminente risco de colapso da estrutura que deverá sucumbir durante os próximos episódios
de tempestade no local. Além de provocar espalhamento de escombros ao longo da faixa de praia adjacente e
consequentemente, poluição visual do local, o perigo de desabamento da estrutura acarreta também risco à
integridade física dos transeuntes e banhistas locais. Fonte: ICP nº 1.24.000.000431/2022-01.

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FIG. 2: Efeito de subsidência na praia de Icaraí, Caucaia/CE, em obra conhecida como bagwall, mas definida
pelos empreendedores como tubos de geotêxtil. Fonte: ICP nº 1.15.000.002630/2013-63

Ademais, cita-se a questão do efeito promontório. Neste caso, as estruturas


rígidas proporcionam o efeito de promontório favorecendo a reflexão das ondas nas
adjacências e agravando a erosão em áreas mais próximas e desregulando o balanço
sedimentar em uma área maior do que as obras costeiras propõem-se a proteger. No litoral da
Barra da Tijuca, algumas ocupações já começam a demonstrar este efeito promontório, mas
para fins de exemplificação a figura 2 demonstra este efeito avançado no litoral de Itapoá/SC.

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FIG. 3 – Exemplo de intervenções costeiras situadas no Município de Itapoá/SC. Observa-se que as estruturas de
contenção/proteção ocasionaram a perda da faixa de praia na área imediatamente a frente das mesmas. Efeito
denominado promontório, o qual pode agravar os efeitos da erosão nas áreas adjacentes. Fonte: ICP nº
1.33.005.000963/2017-13

Do mesmo modo, não é incomum, que as estruturas danificadas ou os


escombros de uma obra rígida possam permanecer na faixa de praia e comprometerem não só
o uso e usufruto do bem comum do povo que é a praia, mas também por impacto mecânico e
abrasão danificarem as estruturas no pós-praia (FIG. 3 e 4).

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FIG. 4: Estruturas rígidas e obras de proteção costeira construídas em faixa de praia. Estas construções

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favorecem a erosão na face da praia e possuem baixa eficiência na proteção contra alta hidrodinâmica. Fonte:
ICP nº 1.24.000.000431/2022-01.

FIG. 5: Bagwall ou tubos de geotêxtil como caracterizado pelos empreendedores, esta estrutura foi danificada e
ficou na praia de Icaraí, Caucaia/CE. Fonte: ICP nº 1.15.000.002630/2013-63

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2.6 Considerando a presença das edificações, as intervenções realizadas na área, a obra


em questão, e a dinâmica sistêmica da Zona Costeira, podem ser previstos impactos
sinérgicos e cumulativos e o aumento da erosão por conta da permissividade de obras
deste tipo? Justifique.
Sim, haja vista, que os impactos sinérgicos são observados quando dois ou
mais empreendimentos se somam sobre um determinado ambiente – ecossistema, unidade
territorial, zonação – para produzirem efeitos cumulativos e potenciais. Já os impactos
cumulativos são definidos por Oliveira (2008) 23 como o resultado líquido da soma de
diferentes impactos. Ou seja, enquanto os impactos sinérgicos são a potencialização de um
impacto sobre o outro, os cumulativos resultam na soma de dois ou mais impactos em uma
unidade territorial. No presente caso, a obra, somada às demais intervenções na orla da praia

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da Barra da Tijuca, tais quais os quiosques e intervenções como a implantação de nova
guarderia de Windsurf, ambos objeto de atuação do MPF, fazem com que esta correlação entre

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os impactos ocorra com maior probabilidade.

Um bom exemplo sobre os impactos sinérgicos e cumulativos pode ser

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observado no litoral cearense, em que um rol de intervenções para a proteção costeira levaram
a uma necessidade de obras nas áreas adjacentes. Este exemplo, pode ser exaustivamente
acompanhado no Processo Administrativo nº 1.15.000.002630/2013-63.

Ademais, pode-se considerar que a perda e o fornecimento de sedimentos,


também conhecido como “balanço sedimentar”, quando desregulado, pode ser considerado
como um impacto sinérgico. Neste contexto, soma-se o fato que a configuração das praias é
cíclica, sendo modificado ao longo do tempo em toda sua extensão, a qual abrange não só a
parte emersa, mas também a submersa e a área conhecida como pós-praia. Neste sentido, para
ilustrar como estas variações cíclicas podem ser responsáveis por caracterizar diferentes
praias ao longo do litoral brasileiro, a figura 6 demonstra como a correlação entre os efeitos
das variáveis meteoceanográficas, tais como ondas, ventos e correntes, com a
morfologia/estrutura da praia, em uma relação conhecida como “morfodinâmica praial”.

Observe que a desregulação desta morfodinâmica pode levar tanto a deposições


quanto erosões indesejadas, bem como a mudança nos padrões hidrodinâmicos, efeitos que
não se limitam à localidade e podem afetar no uso e usufruto da praia em questão.

23 OLIVEIRA, V. R. S. Impactos cumulativos na avaliação de impactos ambientais: fundamentação,


metodologia, legislação, análise de experiências e formas de abordagem. Dissertação de Mestrado. Universidade
Federal de São Carlos. São Carlos/SP: UFSCar, 2008. 160p.

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FIG. 6: Esquematização discretizada dos perfis e da morfodinâmica praial, onde modificações na área emersa
são diretamente relacionadas a efeitos nas áreas submersas. Tais perfis são dinâmicos e podem variar em curto ou
longo prazo; a depender das intervenções, seu estudo é essencial para mitigar a erosão. Fonte: Modificado do site
da Coastal Research Plymouth University.

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Sobre isto, é válido ponderar que a ocorrência de impactos sinérgicos,


cumulativos e sistêmicos é um dos fatores que enseja não só estudos ambientais que
assegurem medidas mais rigorosas de controle ambiental por parte do empreendedor
(SÁNCHEZ,2013)24.

2.7 A obra desenvolvida encontra respaldo na literatura técnica pertinente às temáticas


de engenharia costeira, oceanografia, geologia, entre outras afeitas as obras de proteção
costeira?
A resposta a este quesito resta prejudicada em razão da carência de documentos
afeitos ao projeto básico/executivo da obra aqui analisada. No entanto, pelas imagens
disponíveis da obra e informações prestadas na Notícia de Fato em epígrafe, observa-se que a

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obra de placas de concreto recobertas de manta geotêxtil está sendo colocada próxima a
restinga do ambiente pós-praia, em uma praia com extensa faixa de areia e perfil

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predominante dissipativo, o que confere certa estabilidade diante de eventos erosivos. Assim,
a obra em análise parece ser uma técnica que vai na contramão do que preleciona a literatura

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técnica pertinente voltada para a proteção de ambientes costeiros, sobretudo, no tocante a sua
necessidade.

Neste aspecto, em que pese a escolha administrativa ou consultoria técnica que


precederam a obra, cabem algumas ponderações:

i. a tecnologia apresentada, ainda assim, é uma obra considerada rígida na faixa


de praia, o que não impede que cause um efeito reflexivo, ou backwash como citam estudos
morfodinâmicos. A depender da hidrodinâmica local e de eventos extremos, esta estrutura
pode originar os efeitos já citados da erosão na face da praia e na modificação na estrutura do
perfil praial;

ii. a depender de sua posição, questiona-se se esta estrutura pode favorecer um


acúmulo de águas da drenagem urbana, somadas a uma condição de alta hidrodinâmica;

iii. a conformação da placa de concreto com a manta geotêxtil não ficou clara
na questão da linha de costa, se estes serão dispostos somente no local que visam proteger ou
se vão se estender por uma maior área, na conformação do litoral. Neste caso, não se sabe se

24SANCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceito e métodos. São Paulo: Oficina de Textos. 2013.
583p.

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estes podem comprometer a hidrodinâmica em suas adjacências, a exemplo do efeito


promontório descrito neste laudo;

iv. a inserção da placa de concreto com as mantas na faixa de praia poderia


afetar o usufruto de um bem de uso e comum do povo, a depender de sua localização e
dimensões;

v. como não parecem existir estudos, sobretudo modelagens numéricas, não se


sabe se o empreendedor se utilizou de critérios que verifiquem a viabilidade técnica da obra;

vi. em cenários de alta hidrodinâmica, caso as ondas venham a atingir o pós-


praia a placa de concreto com manta geotêxtil, como uma base fixa, não facilitaria a remoção
abrupta (lavagem) de sedimentos, já que se torna uma estrutura estranha à coesão e

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estabilidade do pacote sedimentar na praia?

Não menos importante, o que mais contribuiu para que esta equipe pericial

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ponderasse suas observações sobre a tecnologia/obra apresentada, é o fato que,

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aparentemente, não há relatos da implantação dessas estruturas no litoral brasileiro, o que
prejudica uma análise sobre a funcionalidade do método segundo as especificidades do
processo erosivo instalado na área investigada.

Assim, no que se refere à adequabilidade da tecnologia analisada à


problemática em questão (erosão costeira), acredita-se que existe uma necessidade de estudos
de viabilidade, necessidade e ambientais que possam demonstrar que esta solução é viável
economicamente e ambientalmente a médio-longo prazo. Do contrário, pode-se estar se
desenvolvendo mais uma estratégia de “tentativa e erro”25, com tecnologias ainda não testadas
no litoral brasileiro que se tornarão mais um objeto de correção no futuro, por novas obras
emergenciais.

2.8 A obra em análise contribui para a magnificação ou atenuação da energia das


ondas, haja vista que a rigidez de sua estrutura pode não só promover o efeito reflexivo,
bem como prejudicar a infiltração da água?
As obras de proteção costeira, geralmente, propõem-se a atenuar os efeitos da
alta hidrodinâmica no ambiente pós-praia, no entanto, estas promovem a reflexão das ondas
na face da praia, sobretudo as do tipo muretas, muros, gabiões e enrocamentos. No caso da

25 Tentativa e erro é um método de resolução de problemas em que várias tentativas são feitas para chegar a uma
solução.

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placa de concreto com manta de geotêxtil, sua disposição parece ser do tipo de pretende evitar
o ataque de ondas diretamente no ambiente pós-praia.

Neste caso, um efeito comum deste tipo de obra é o efeito reflexivo, ou


backwash, o qual faz com que a energia não dissipada das ondas, volte por reflexão
diretamente na face da praia, o que promove a remoção de sedimentos nesta área. Em
consequência, altera-se não só o perfil praial, mas também a morfodinâmica tanto da área
emersa como submersa, como já demonstrado na figura 6 deste laudo.

Aliás, a forma como parece estar disposta a placa de concreto na base da


divisão entre pós-praia e face da praia, pode facilitar um processo de remoção de sedimentos,
pois a base rígida, em contraste com o pacote sedimentar maleável, pode fazer com que seja

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prejudicada a coesão e estabilidade do estoque sedimentar. Neste caso, fica em questão se a
plataforma rígida, proporcionada pela placa de concreto com a manta geotêxtil, não pode

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favorecer um processo de remoção abrupta (como uma lavagem) dos sedimentos no pós-praia
em condições de alta hidrodinâmica.

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2.9 A obra em análise pode promover o acúmulo de águas na faixa de praia e/ou no
pós-praia, sobretudo, diante do fato de uma estrutura rígida impermeabilizar o local
onde se insere? Este acúmulo de águas pode contribuir para com o comprometimento da
praia, ao propiciar efeitos do tipo valas de drenagem (wash-out)?
Sim, a depender da disposição das estruturas rígidas estas dificultam a
percolação da água até o lençol freático, o que faz com que possam ser criadas áreas de
acúmulo de águas. Nas discussões afeitas aos projetos de revitalização/reurbanização de
calçadões ao longo do litoral brasileiro, o corpo técnico do MPF tem percebido que os
desastres hidrológicos26 têm sido subdimensionados em análises ambientais, sobretudo por
não serem objeto destes projetos.

Exemplos destes casos na atuação do MPF são recentes, como é o caso da obra
de revitalização da orla da Praia Central de Balneário Camboriú, que contou com a
alimentação artificial da faixa de praia. Este exemplo, pode ser observado no Inquérito Civil
nº 1.33.008.000067/2021-19, em que as análises do MPF atentaram para o acúmulo de águas

26 Desastres naturais hidrológicos reconhecidos pela Classificação e Codificação Brasileira de Desastres


(Cobrade) são: inundações, alagamentos e enchentes.

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no pós-praia em razão da impermeabilização sem as devidas previsões de área de drenagem,


incongruências nas análises topográficas e ausência de estudos específicos27.

Na área em questão, o mais provável é a ocorrência de alagamentos, pois a


implantação de uma placa de concreto com manta geotêxtil próxima ao calçadão favorece a
diminuição das áreas de drenagem e recarga das águas subsuperficiais. Neste aspecto, as
inundações e alagamentos costeiros são comuns na ocorrência de ressacas, pois são
condicionadas pela convergência entre maré alta e acúmulo de águas fluviais e pluviais junto
às redes de drenagem urbana ou locais propícios para o acúmulo de águas28.

Quando se observa a ausência de fatores atenuantes de tais desastres, como a


cobertura vegetal e a impermeabilização por estruturas rígidas, os quais facilitam a percolação

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da água para as águas subterrâneas e diminui a velocidade de escoamento subsuperficial das
águas pluviais, o potencial de se desenvolver tais desastres aumenta consideravelmente.

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No tocante as valas de drenagem, a depender da disposição das placas de
concreto e mantas de geotêxtil, estas podem criar canais que concentrem a drenagem de águas

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pluviais. Assim, os locais em que antes das águas pluviais percolavam o material arenoso até
o lençol freático, ficam diminutos e, portanto, criam-se as valas de drenagem.

Esta questão requer também uma análise das áreas de escoamento e das mais
propícias para o acúmulo de águas. Esta avaliação é essencial para verificar as áreas
conhecidas como valas de drenagem, escoadouros, sangradouros, ou “washouts”, locais em
que se concentram o fluxo de escoamento das águas e, geralmente, se observam erosões
indesejadas, que podem impactar os ambientes praiais, dunares e as áreas vegetadas.

2.10 Podem ser citados impactos durante a implantação da obra e após sua conclusão
no meio biótico da praia da Barra da Tijuca? Especifique.
Os peritos subscritores não possuem a formação adequada para desenvolver
uma análise abrangente referente ao meio biótico. Entretanto, pela literatura técnica
especializada, os impactos no meio biótico, usualmente, associados as obras de proteção
costeira do tipo placas de concreto são, o comprometimento do habitat de espécies que se
utilizam do pós-praia, a remoção e o impacto direto nos organismos bentônicos de uma praia
arenosa.
27 Atualmente alagamentos se desenvolvem nesta orla e são observadas grandes acúmulos de água no pós-praia
e na face da praia Central de Camboriú.
28 TUCCI, C. E. M. Inundações urbanas. Porto Alegre: UFRGS/ABRH, 2007. 389p.

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Outrossim, quando se observa os impactos na vegetação que ali pode estar


presente, vale lembrar, novamente, que a cobertura vegetal é essencial na manutenção e
proteção dos ambientes costeiros, e, por conseguinte na mitigação de desastres naturais, sejam
eles hidrológicos ou a erosão costeira. Como a obra se localiza adjacente à restinga, este
impacto direto pode ser considerado como direto.

2.11 Há outras soluções técnicas que se mostram mais adequadas para viabilizar,
técnica-ambiental e financeiramente, a proteção costeira, bem como a sustentabilidade e
preservação dos ecossistemas presentes na praia da Barra da Tijuca?
Como já destacado, a vegetação litorânea atua na manutenção dos estoques

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sedimentares junto a faixa de praia, sendo reconhecida como uma importante feição ambiental
e ecossistêmica do ambiente pós-praia, a qual não só atenua os efeitos de uma alta

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hidrodinâmica no perfil praial, como também fornece sedimentos na recuperação deste perfil
em condições de baixa hidrodinâmica.

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Sobre isto, são vastos os exemplos visuais em que a vegetação se torna um
fator de mitigação diante da erosão costeira, tanto no âmbito do desenvolvimento de uma
ressaca29 quanto na análise da evolução espaço-temporal da linha de costa. Neste último caso,
podem ser citados os estudos do Instituto Emriver (Little River Research and Design), os
quais mostram a importância das feições costeiras, tais quais restingas na proteção e
manutenção da linha de costa3031.
Assim, ao longo dos últimos anos, observa-se um crescimento de soluções
voltadas para considerar a preservação dos estoques sedimentares que se encontram no
ambiente pós-praia.
Por essa razão, alguns projetos que prezam pelo desenvolvimento de análises
de viabilidade técnica, ambiental e financeira, consideram que as medidas mais adequadas são
aquelas que promovem uma maior sustentabilidade e resiliência da praia, o que naturalmente,
tende a uma economia de recursos e ações emergenciais.
Existem outras soluções que podem ser utilizadas com o objetivo de mitigar os
efeitos erosivos. De modo geral, podem ser elencadas intervenções emergenciais e
preventivas, como aquelas voltadas às áreas em que a erosão ainda não é tão acentuada. No
29 Disponível em: <https://www.instagram.com/reel/CfXCWJjA3Ll/ >. Acesso em 19 jan. 2023.
30 Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=cNE56Wua7bA >. Acesso em 19 jan. 2023.
31 Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=osE8N6AAkWk >. Acesso em 19 jan. 2023.

22/29 LT 032-2023 Análise obra de proteção costeira - praia da Barra da Tijuca


Procedimento 1.30.001.000216/2023-75, Documento 21, Página 23

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rol de alternativas voltadas para mitigar a erosão costeira existem diversos tipos de tecnologia,
métodos e estruturas que podem ser apresentados como soluções emergenciais para se evitar
danos. Tipos que vão desde soluções usuais até as caseiras, as quais por vezes não possuem
nenhum fundamento técnico, ou são tecnologias sustentadas por particulares que, sabendo da
carência de normativas nacionais e desconhecimento dos gestores municipais e estaduais,
apresentam soluções paliativas eivadas por erros estruturais e carência de análises sistêmicas.
Por exemplo, existem soluções que podem ser inseridas no ambiente pós-praia,
na faixa de praia, no espelho d’água e, até mesmo, em áreas submersas. Estas soluções
amparam-se no objetivo de atenuar ou modificar a hidrodinâmica local e, em alguns casos,
favorecer a deposição, ou manutenção, dos estoques sedimentares na área a ser protegida.
Soluções como muretas, enrocamentos, gabiões, quebra-mares, paliçadas, escadarias e

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bagwalls são tidas como emergenciais, além de serem de fácil execução em alguns casos, e
voltam-se para atenuar a energia das ondas, em um processo de dissipação, mas que não

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impede o efeito reflexivo (como já foi aqui destacado). Já soluções como molhes, guias

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correntes, espigões (estruturas perpendiculares à linha de costa), quebra-mares no espelho
d’água (estruturas paralelas à linha de costa) possuem um objetivo primordial de favorecer
condições para deposição de sedimentos por propiciar um efeito barreira. Em contrapartida,
existem soluções que buscam modificar componentes da hidrodinâmica local, tais quais as
estruturas submersas colocadas na zona de surfe da praia 32, afetando no trem de ondas ou na
sua forma de arrebentação, para então atenuar os danos na face da praia e no pós-praia.
Deve-se ponderar que o MPF, sobretudo por contribuir para a confecção do
documento “Guia de Diretrizes de Prevenção e Proteção à Erosão Costeira”, pauta-se por
evitar obras rígidas na faixa de praia, optando, quando possível, por recomendar projetos que
considerem o mínimo de estruturas rígidas, mas que considerem estratégias de recuperação do
ambiente praial com engordamentos pontuais e restituição de feições ambientais costeiras.
Neste caso, este posicionamento do MPF é próximo do método “Construindo com a
Natureza” (Building with Nature), considerado por algumas instituições acadêmicas como
uma solução efetiva, economicamente e ambientalmente para a recuperação de praias em
processo erosivo. Em suma, este método pode ser descrito como uma alternativa que evita o
uso recorrente de obras rígidas, ineficientes a médio e longo prazo no trato da erosão, e

32 No Brasil estes projetos possuem os nomes das empresas que os desenvolvem, sendo observados nomes
como Cezarswell (Icaraí/CE).

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propõe uma estabilização morfodinâmica das praias, aproximando o balanço sedimentar do


seu ciclo natural.
De todo modo, qualquer tipo de alternativa a ser escolhida requer um rol de
ações complementares que garantam sua longevidade e a manutenção do seu entorno. Estas
ações demonstram a necessidade de atenção para a manutenção do ambiente pós-praia, assim
como embasam-se em um consolidado posicionamento de atuação do MPF no litoral
brasileiro (como já descrito no primeiro tópico deste laudo), em que o Parquet acompanha
historicamente exemplos de sucesso e insucesso na consecução de projetos de contenção da
erosão costeira. Tal posicionamento também é amparado na literatura acadêmica, como no
caso das experiências de projetos de engordamento desenvolvidos tanto no Brasil, quanto nos
Estados Unidos, os quais demonstraram que as ações complementares supracitadas são uma

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forma de garantia do sucesso de projetos de intervenções costeiras.
Por exemplo, o trabalho de Kaczkowski et al. (2018)33 em duas praias na

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Carolina do Norte, demonstrou que um projeto de alimentação artificial de praias só teve êxito

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quando complementado por uma série de técnicas de recuperação no ambiente pós-praia. Tais
técnicas foram, sobretudo, relacionadas à construção de estruturas de contenção de
sedimentos nos cordões arenosos do pós-praia, como cercas e vegetação, as quais elevaram o
potencial de alimentação natural de sedimentos no ambiente pós-praia. Além disso, também
foram desenvolvidos serviços de manutenção dos ambientes recuperados, em consonância
com políticas de preservação e de fiscalizações locais. Trabalhos semelhantes podem ser
encontrados no livro de Nordstrom, “Recuperação de praias e dunas” (NORDSTROM, 2010),
o qual também destacou capítulo próprio para as medidas não estruturais a serem
desenvolvidas para a efetividade de um projeto de recuperação.
Em um trabalho semelhante, mas de menor escala no Brasil, Portz et al.
(2018)34 demonstrou como as técnicas de aterro hidráulico, com de utilização de cercas (sand
fences) de madeira, de estabilização na formação de restingas e dunas, de monitoramento das

33 KACZKOWSKI, H. L.; KANA. T. W.; TRAYNUM, S. B.; VISSER, R. Beach-fill equilibration and dune
growth at two large-scale nourishment sites. Ocean Dynamics (2018) 68:1191–1206. Disponível em:
<https://link.springer.com/article/10.1007/s10236-018-1176-2 >. Acesso em: 19 jan. 2023.
34 PORTZ, L.; MANZOLLI, R. P.; ALCÁNTARA-CARRIÓ, J. Dune System Restoration in Osório
Municipality (Rio Grande do Sul, Brazil): Good Practices Based on Coastal Management Legislation. In: Beach
Management Tools – Concepts, Methodologies and Case Studies, pp.41-58. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/
321538613_Dune_System_Restoration_in_Osorio_Municipality_Rio_Grande_do_Sul_Brazil_Good_Practices_
Based_on_Coastal_Management_Legislation >
. Acesso em: 19 jan. 2023.

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áreas de escoamento/drenagem (sangradouros) e do controle dos acessos à praia conseguiram


contribuir para uma recuperação do ambiente pós-praia em Osório/RS, onde as dunas e
vegetação de restinga ganharam em dimensão e em extensão ao longo de 5 anos de projeto.
Esse trabalho, quando comparado ao que se discute neste laudo técnico,
demonstra que as técnicas de recuperação dos ambientes pós-praia em áreas urbanas podem
ser efetivas. Neste caso, agrega-se o projeto de contenção da erosão com ações
complementares de baixo custo, as quais requerem mais uma questão de ordenamento,
fiscalização e comunicação, evitando sucessivas intervenções emergenciais de engenharia.
Outrossim, este trabalho demonstra o quão importante é o monitoramento das áreas de
escoamento/drenagem urbana, as quais podem diminuir a longevidade dos projetos de
recuperação de ambientes praiais, em que um evento adverso pode desconfigurar a estrutura

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dos estoques sedimentares locais e alterar até mesmo a morfodinâmica da praia.
Outrossim, estas estratégias na Barra da Tijuca, de preservação do pós-praia já

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lograram êxito, tanto na preservação do pós-praia quanto da restinga.

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No caso em questão, observa-se que a simples disposição da placa de concreto
com manta geotêxtil não considera qualquer tipo de desenvolvimento da recuperação do pós-
praia. Quando analisado tal projeto com suas carências, aliado às estruturas rígidas propostas
na revitalização da orla, existe a possibilidade de se desenvolver um cenário como o de
Osório/RS, no passado, em que as áreas de escoamento, oriundas da drenagem urbana,
contribuíram para comprometer as todo ambiente praial.
Vale destacar que, em consonância com o ensejo do presente quesito,
Nordstrom (op. cit.) é enfático ao considerar que entre as ações de
acompanhamento/manutenção de um projeto de recuperação/proteção costeira estão:
monitorar e aplicar uma gestão adaptativa; desenvolver programas de conscientização e
sensibilização ambiental; não permitir que obras de mitigação da erosão sirvam como um
incentivo para novas ocupações e expansões de áreas particulares; e a manutenção e
fiscalização desses ambientes, tanto por medidas governamentais quanto por privadas e
comunitárias.

2.12 A execução da obra em análise tende a propiciar um maior aumento de obras


complementares e emergenciais de recuperação do ambiente praial, haja vista as
informações apresentadas nos questionamentos anteriores?

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Sim, a experiência do MPF, a qual está exposta em projetos como o MPFGerco


e publicações como o Guia de Diretrizes de Prevenção e Proteção à Erosão Costeira, indica
que obras rígidas na faixa de praia, como a aqui analisada, carentes de estudos ambientais que
as fundamentem e assegurem sua viabilidade, tendem a propiciar um ciclo de ações
complementares para diminuir os seus impactos e passivos ambientais.

Como exemplo, vale destacar a praia de Icaraí, em Caucaia/CE 35, em que o


desenvolvimento de obras de proteção costeira, a revelia de estudos ambientais consistentes e
que considerassem seus impactos sistêmicos, bem como desconsiderando o posicionamento
acadêmico da Universidade Federal do Ceará, levaram a um completo estado de desregulação
da morfodinâmica costeira. Este cenário, onerou não só os entes municipais e estadual, mas

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também se utilizou de recursos extraordinários do Ministério da Integração para comprometer
não o uso da praia de Icaraí e de suas adjacências. Atualmente, o que se observa desse
laboratório de obras costeiras no litoral de Caucaia, e se replica em exemplificações nos

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estudos acadêmicos, é que foram as próprias obras costeiras com a ocupação do pós-praia que

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agravaram a situação naquele caso (FIG. 7 e 8).

Ademais, estas obras acabam por modificar as dinâmicas ali presentes, o que
contribui para perpetuar um ciclo de reparos emergenciais tanto no espelho d’água quanto no
ambiente pós-praia, principalmente nas áreas adjacentes. Dessa forma, observa-se que os
impactos locais, passam a ser expandidos para as adjacências das obras e, assim, a
problemática da erosão costeira ocorre em localidades até então estabilizadas.

Para fundamentar esta última informação, pode-se citar a recente publicação do


Ministério do Desenvolvimento Regional, o Caderno Técnico de Gestão Integrada de Riscos e
Desastres36, em que se apresentam informações em prol da gestão preventiva de desastres com
base na experiência prática da Secretaria Nacional de Defesa Civil. Nesta publicação é
ressaltada a questão dos prejuízos econômicos diante da permissividade da ocupação de áreas
suscetíveis à ocorrência de desastres, no caso aqui discutido o ambiente praial, em que
medidas preventivas de menor custo acabam por evitar que medidas emergenciais, paliativas e
de maior custo tornem-se a única solução diante de um desastre como a erosão costeira.
35 Podem ser citados os Processos Administrativos no PR/CE nº 1.15.000.002124/2006-45 e PR/CE nº
1.15.000.001964/2007-7, referentes ao acompanhamento de obras costeiras em Icaraí.
36 Disponível em:
< https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/protecao-e-defesa-civil/Caderno_GIRD10__.pdf >. Acesso em: 18 jan.
2023.

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FIG. 7: Obras de proteção costeira desenvolvidas em Caucaia. Observe o comprometimento da faixa de praia e a
disposição destas obras. Fonte: Apresentação do Prof. Dr. Davis de Paula (PROPGEO-UECE) no âmbito do
Evento XII Encontro Rede Braspor" 2022 para Discussões Temáticas Relacionadas a Gestão de Zonas Costeiras.

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FIG. 8: Obras de proteção costeira desenvolvidas em Caucaia. Observe o comprometimento da faixa de praia e a

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disposição destas obras. Fonte: Apresentação do Prof. Dr. Davis de Paula (PROPGEO-UECE) no âmbito do
Evento "XII Encontro Rede Braspor" 2022 para Discussões Temáticas Relacionadas a Gestão de Zonas
Costeiras.

Aliás, cumpre destacar que no litoral cearense, o desenvolvimento desregulado


de obras costeiras, como no caso de Caucaia, originou a Ação Civil Pública de Improbidade
Administrativa nº 0011097-53.2009.4.05.8100, onde são objeto de contestação: licenças
ambientais fraudulentas em áreas de preservação, estudos de impacto viciados, tráfico de
influência e outros crimes no litoral de Fortaleza, Caucaia, São Gonçalo do Amarante,
Aquiraz, Fortim, Aracati, Icapuí, área urbana de Crateús e Guaramiranga. Neste caso, a ação
de improbidade administrativa do Ministério Público Federal no Ceará foi contra o diretor do
Laboratório de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (Labomar), acusado de
estimular obras costeiras sob falsas premissas de urgência e eivadas de deficiências em
estudos ambientais, que resultaram em danos ao meio ambiente e a uma necessidade de mais
obras reparativas. Essa ação decorreu do acompanhamento sistemático do MPF sobre os
licenciamentos e estudos de viabilidade técnica sobre algumas obras, sobretudo as costeiras
onde estava presente em todo o processo de licenciamento o Labomar, como responsável pela
realização dos estudos de viabilidade técnica, até os estudos de licenciamento e
monitoramento do empreendimento.

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3 CONCLUSÃO
Diante do exposto, acredita-se que a obra “Recuperação de Taludes em Manta
Geotêxtil – Orla da Barra da Tijuca” não seja a solução mais adequada para a contenção da
erosão na praia da Barra da Tijuca, pois esta obra não encontra respaldo na literatura técnica
pertinente e nas instituições com expertise na temática. Outrossim, não foram encontradas
referências que fundamentem situação emergencial e a premência por obras nesta praia.

Dessa maneira, pela experiência do MPF, bem como pelas recentes publicações
e manifestações técnicas citadas no presente laudo, entende-se que a obra em análise pode
propiciar um efeito antagônico à proteção costeira, comprometendo não só a estabilidade
morfodinâmica da praia da Barra da Tijuca, mas também ensejando uma necessidade de obras

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e ações futuras, no sentido de mitigar seus impactos.

Neste contexto, são essenciais estudos de viabilidade técnica e ambientais que

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possam assegurar que as obras de proteção costeira sejam não só necessárias, mas também
adequadas aos casos para que se propõem solucionar. Do contrário, os projetos de obra

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costeira serão meramente experimentais e serão a causa primordial da magnificação do
desastre natural erosão costeira, como já se observou em diversos exemplos no litoral
brasileiro, aqui citados.

Por fim, sugere-se instrução da Notícia de Fato em epígrafe com os


documentos referentes às obras aqui discutidas, quais sejam, o projeto básico e o executivo, os
estudos ambientais e as manifestações técnicas dos órgãos ambientais e de ordenamento,
afeitos à regularização da obra, todas estas, informações a serem solicitadas para a Prefeitura
do Rio de Janeiro.

É o Laudo.

Brasília, data da assinatura eletrônica37.

[assinatura digital] [assinatura digital]


MARCO ANTIONIO BICHARA NILTON EURIPEDES DE DEUS FILHO
Analista do MPU/Perito em Engenharia Civil Analista do MPU/Perita em Oceanografia
Assessoria Nacional de Perícia em Meio Ambiente Assessoria Nacional de Perícia em Meio Ambiente

37 Medida Provisória nº 2.200-2, de 24/8/2001; Portaria MPF/PGR nº 350, de 28/4/2017, art.18, caput, § 3º, I.

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Assinatura/Certificação do documento PGR-00020975/2023 LAUDO TÉCNICO nº 32-2023

Signatário(a): NILTON EURIPEDES DE DEUS FILHO


Data e Hora: 20/01/2023 16:31:54
Assinado com login e senha

Signatário(a): MARCO ANTONIO BICHARA


Data e Hora: 20/01/2023 16:32:40
Assinado com login e senha

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