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FACULDADE PROMINAS

GLAUBER NÓBREGA DA SILVA

APRIMORANDO A EFICIÊNCIA DE ATERROS SANITÁRIOS: MONITORAMENTO


GEOTÉCNICO COM DRONES E A INFLUÊNCIA DA ASPERSÃO DE LIXIVIADOS
NA COMPACTAÇÃO DE RESÍDUOS

VERA CRUZ - RN

2023
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FACULDADE PROMINAS

GLAUBER NÓBREGA DA SILVA

APRIMORANDO A EFICIÊNCIA DE ATERROS SANITÁRIOS: MONITORAMENTO


GEOTÉCNICO COM DRONES E A INFLUÊNCIA DA ASPERSÃO DE LIXIVIADOS
NA COMPACTAÇÃO DE RESÍDUOS

Artigo Científico apresentado à Faculdade


Prominas como parte das exigências para a
obtenção do título de Especialista em Engenharia
Geotécnica

VERA CRUZ - RN

2023

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APRIMORANDO A EFICIÊNCIA DE ATERROS SANITÁRIOS: MONITORAMENTO
GEOTÉCNICO COM DRONES E A INFLUÊNCIA DA ASPERSÃO DE LIXIVIADOS
NA COMPACTAÇÃO DE RESÍDUOS

Glauber Nóbrega da Silva

RESUMO
O presente artigo apresenta os resultados de uma pesquisa realizada pela CTR Potiguar sobre a
influência da aspersão de lixiviados na compactação de um aterro sanitário em Vera Cruz, RN. O
objetivo da pesquisa foi avaliar os fatores que afetam a compactação dos resíduos e sua influência na
estabilidade e vida útil do aterro. Para esse fim, foi realizado o monitoramento geotécnico com o uso
de drones, que permitiram identificar os movimentos do aterro e a qualidade dos processos de recalque.
O estudo conclui que a aspersão controlada de chorume traz vários benefícios, como o aumento da
eficiência operacional e da segurança dos aterros sanitários. A pesquisa também destacou o uso de
drones para o monitoramento geotécnico, que proporciona uma visão mais precisa e detalhada do
aterro, permitindo uma melhor compreensão dos processos e comportamentos geotécnicos dos
resíduos.

Palavras-chave: aspersão de lixiviados. compactação de resíduos. aterro sanitário.


avaliação geotécnica. drones.

Introdução

A Política Nacional de Resíduos Sólidos, PNRS, foi criada pela Lei Federal nº
12.305/2010 para orientar a gestão e o tratamento dos resíduos sólidos no Brasil. A
Política estabeleceu princípios, objetivos e instrumentos para a gestão integrada e o
gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos, incentivando a
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a reutilização, a
reciclagem e o aproveitamento energético dos resíduos sólidos.

A PNRS também definiu que os resíduos sólidos que não podem mais ser
reaproveitados são chamados de rejeitos e devem ser destinados de forma
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ambientalmente adequada em aterros sanitários, estruturas planejadas para receber
os resíduos sólidos urbanos que não têm potencial de reciclagem ou reaproveitamento
imediato, minimizando os impactos ambientais e sanitários causados pelo seu
descarte inadequado.

Este texto é um resumo do trabalho de pesquisa realizada pela Central de


Tratamento de Resíduos – CTR Potiguar sobre a qualidade da compactação dos
rejeitos ali destinados a partir da aspersão de lixiviados no aterro sanitário de Vera
Cruz, RN. O objetivo foi compreender os métodos indiretos de mensuração da
compactação e o efeito do lixiviado aspergido sobre os resíduos. Os resultados
mostraram a importância do processo para o desempenho do sistema de tratamento
no empreendimento.

Desenvolvimento

A CTR Potiguar é uma empresa privada que opera um aterro sanitário regional
na zona rural de Vera Cruz, RN. O aterro recebe e trata até 1.200 toneladas de
resíduos por dia, provenientes principalmente da região metropolitana de Natal/RN. A
viabilidade do projeto ocorreu em 2017, logo após um estudo técnico e econômico que
considerou os critérios das normas ABNT NBR 8419/1992 e NBR 15.849/2010 para a
localização e o projeto do aterro.

A empresa obteve sua licença de operação em 2021, após cumprir as etapas


de licenciamento e os parâmetros ambientais exigidos pelo Instituto de
Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente - IDEMA, órgão ambiental do Estado
do RN. O aterro está localizado em uma área com clima semiárido, com altas
temperaturas e baixa pluviosidade.

A Central segue um manual interno que estabelece as normas e os critérios


para a operação do aterro sanitário, levando em conta a falta de referências práticas
no Brasil. Segundo BOSCOV (2008), os aterros sanitários surgiram no país na
segunda metade dos anos 1970, baseados nos avanços tecnológicos dos Estados
Unidos. A ausência de informações e de trabalhos específicos sobre o tema dificulta
a disseminação de boas práticas e a melhoria da eficiência e da sustentabilidade dos
aterros sanitários, fazendo com que os operadores aprendam o ofício na prática.

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Compactação dos resíduos, estabilidade e durabilidade do aterro sanitário

A disposição e a compactação dos rejeitos nos aterros sanitários devem


seguir normas ambientais e operacionais para otimizar o uso do espaço. A
compactação é feita com um trator de esteiras e pode ocorrer de baixo para cima ou
de cima para baixo, dependendo da situação da célula. A compactação traz benefícios
como a redução do volume, a melhoria das propriedades físicas e a prevenção de
incêndios, pois elimina o ar e o oxigênio que favorecem a degradação aeróbia e a
combustão dos materiais. A compactação também reduz a condutividade hidráulica e
o tempo de retenção hídrica, além de eliminar odores (NAVES et al, 2019), o que
propicia melhores condições para o tratamento biológico dos rejeitos.

O volume e a massa dos RSU diminuem desde a sua origem até o seu
destino, nos aterros sanitários. A diminuição ocorre por causa da desidratação, da
compressão mecânica e da degradação aeróbia e anaeróbia dos resíduos. A fase
anaeróbia produz lixiviados e dióxido de carbono, enquanto a fase metanogênica pode
durar de meses a anos, com uma perda de até 70% do volume total dos resíduos
(BOSCOV, 2008).

Os rejeitos orgânicos são degradados por microrganismos e comprimidos pelo


peso das camadas superiores, causando a diminuição do volume e da altura dos
resíduos sólidos urbanos. Esse fenômeno é chamado de recalque e pode ser
generalizado ou pontual, afetando a estabilidade e a permeabilidade do aterro
sanitário. Para minimizar os recalques, é preciso otimizar a densidade dos RSU e
aplicar métodos de pré-adensamento antes da instalação dos tubos de drenagem e
extração. (ABNT, 1996)

Recalques, rachaduras e instabilidades no maciço

O recalque dos resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários é um


fenômeno que envolve a perda de massa dos materiais orgânicos e a mudança das
tensões no solo. Esse fenômeno pode causar problemas ambientais graves, como os
deslizamentos que ocorreram em Guarulhos em 2017 e em Curitiba em 2022,
afetando a qualidade da água e provocando mortes.

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A gestão ambiental dos resíduos sólidos depende dos processos de
rebaixamento e degradação dos materiais no aterro, que podem afetar a segurança e
a eficiência da obra. DENARDIN (2013) afirma que esses processos são essenciais
para a integridade das camadas de cobertura e para o uso adequado dos aterros
sanitários, conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a Política Nacional do
Meio Ambiente (Lei Federal nº 6.938/1981).

Figura 1. Detalhe de diminuição de volume de resíduos após 10 dias de


disposição em célula da CTR Potiguar.

Fonte: Vera Cruz Ambiental (2021).

Para melhor compreender o fenômeno, a CTR Potiguar empregou câmeras


fixas e drones para capturar imagens do maciço de rejeitos entre março de 2021 e

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maio de 2023. As imagens foram processadas com a técnica de timelapse e
permitiram observar uma redução de mais de 20% na altura do maciço e o surgimento
de aberturas na superfície que podem comprometer a estabilidade e a segurança dos
aterros, bem como influenciar nos processos biológicos dos resíduos.

Uso de drones para obter um modelo 3D de precisão do aterro

A tecnologia dos drones trouxe inovação e eficiência para a avaliação de


aterros sanitários e outras obras de engenharia. Com imagens de alta resolução e
baixo custo (VILAR, 2019), os drones podem ser usados para monitorar o terreno, a
infraestrutura e a operação dos aterros, além de auxiliar no licenciamento ambiental.
Um exemplo é a CTR Potiguar, que passou a usar um drone próprio e softwares livres
para realizar levantamentos topográficos da área de interesse.

A partir do emprego e análise topográfica com drones, a CTR passou a criar


modelos tridimensionais de suas células para tratamento de resíduos. Para as
análises, foi preciso escolher uma escala e uma área adequadas, que influenciaram
na precisão e no tempo de processamento dos modelos. Os modelos tridimensionais
sequenciais permitiram acompanhar cada fase do empreendimento e avaliar
situações e comportamentos geotécnicos dos resíduos.

Figura 2. Fases da elaboração do modelo 3d da célula 01 do aterro sanitário

Fonte: Vera Cruz Ambiental (2022).

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A análise geotécnica pode beneficiar-se do uso de modelos virtuais que
reproduzem características físicas e a textura dos aterros em um determinado
momento, podendo ser armazenados e transmitidos por meio de redes de
computadores. Os modelos virtuais permitem uma melhor compreensão das
propriedades dos aterros, de seu processo construtivo e de possíveis causas de seu
comportamento ao longo do tempo.

Movimentações e rachaduras

Os aterros sanitários estão sujeitos a diferentes tipos de movimentos


geotécnicos, sendo os principais os recalques e os escorregamentos. Os recalques
são causados pela decomposição da matéria orgânica e pela reorganização das
partículas sob seu próprio peso, enquanto os escorregamentos são provocados por
fatores como umidade, pressão interna e sobrecarga. Esses movimentos podem
comprometer a estabilidade e a segurança dos aterros sanitários. Por isso, é
fundamental monitorá-los periodicamente ao longo da vida útil das células.

Figura 3. Presença de fraturas paralelas e homogêneas ao longo de talude


denunciado movimentos verticais e diagonais visíveis em testemunho 3d

Fonte: Vera Cruz Ambiental (2023).

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Para BOSCOV (2008), a deformação superficial de taludes deve ser
monitorada de maneira contínua e sistemática, por meio da comparação entre as
cotas iniciais e as atuais dos pontos de medição. A deformação superficial de taludes
que pode ser monitorada pela metodologia matricial que usa modelos digitais de
terreno - MDT para comparar as cotas dos pontos de medição. A metodologia,
empregada na CTR, mostrou-se eficaz para detectar movimentos horizontais
causados pela sobrecarga hidráulica e pela expansão dos resíduos e do material de
cobertura.

O maciço de rejeitos apresentou fraturas lineares e paralelas na superfície,


indicando uma deformação plástica e um comportamento homogêneo. Isso significa
que os resíduos foram compactados e tratados corretamente, seguindo as normas
técnicas. O adensamento do solo é o processo de redução dos vazios do solo
causados pelas cargas aplicadas, conforme MAZZA (2019).

A aspersão controlada de chorume sobre os resíduos

Para aumentar a densidade dos RSU, convém aplicar água periodicamente


nos maciços, pois ela aumenta o peso e favorece a compactação. A sua aplicação
pode ser de modo natural, proveniente da chuva, ou por aspersão artificial, mas deve
ser controlada para evitar o excesso ou a falta de umidade. A aspersão controlada de
água sobre os maciços pode contribuir para a compactação e para a diminuição de
espaços vazios, elevando a densidade por metro cúbico.

Outra alternativa é o uso de líquidos lixiviados, provenientes da drenagem


interna dos aterros sanitários, em vez de água. Os lixiviados podem acelerar a
decomposição de alguns resíduos e aumentar o recalque, conforme afirmado por
DENARDIN (2013). A produção de lixiviados está intrinsicamente relacionada ao
regime pluvial da região onde o empreendimento está instalado de acordo com os
modelos apresentados por PEREIRA (2021).

A CTR Potiguar realizou experimentos de aspersão de lixiviados em uma


célula de aterro sanitário, buscando acelerar a decomposição dos resíduos orgânicos
e otimizar o uso do espaço. Os resultados mostraram um aumento da compactação
do maciço, da densidade por metro cúbico e da produção de biogás. A empresa
mapeou a evolução das células do aterro e os parâmetros de compactação.

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Figura 4. Evolução das células do aterro e demais parâmetros de compactação

Fonte: Vera Cruz Ambiental (2023).


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Os testes com aspersão de lixiviados em uma célula de aterro sanitário
demonstraram o impacto positivo do procedimento nos recalques e compactação do
maciço de resíduos. Esses efeitos foram atribuídos à aceleração da decomposição
dos resíduos orgânicos e ao peso provocado pelo próprio lixiviado sobre o maciço. O
efeito secundário foi o aumento da produção de biogás.

Conclusões

Ao avaliar um aterro sanitário, deve-se considerar os processos químicos,


físicos e biológicos que ocorrem nele. Porém, como os aterros são recentes, há muito
a se estudar sobre esses processos. A maioria das pesquisas existentes foca em
elementos simples e mensuráveis, ignorando aspectos práticos e relevantes para
esse tipo de empreendimento. Nesta monografia, defende-se que isso se deve ao
sigilo operacional dos profissionais desse ramo de negócio.

A compactação de resíduos envolve fatores operacionais, biológicos e físicos,


que podem ser otimizados para melhor aproveitar a área do aterro, tanto
economicamente quanto em termos de segurança e de proteção ambiental. Deve-se
lembrar que a operação de um aterro dura décadas, e que erros nos estágios iniciais
terão consequências nesse período.

Os recalques, frequentes e bem distribuídos, devem ser priorizados pelos


engenheiros e gestores de aterros sanitários, que precisam estimulá-los e facilitá-los
o quanto antes. Isso é importante para evitar a perda de sistemas de drenagens, que
protegem o aterro sanitário, e para aumentar a segurança geotécnica, civil e social do
empreendimento. Assim, previnem-se possíveis impactos ambientais e catástrofes
sobre o meio ambiente e a sociedade no seu entorno.

Os drones são uma ferramenta valiosa para criar modelos tridimensionais do


aterro sanitário e registrar seu estado em diferentes momentos. Essa tecnologia pode
ser aprimorada com a realidade virtual e o metaverso, que permitiriam recuperar e
combinar dados para analisar cada fase do empreendimento, possíveis falhas e
simulações geotécnicas.

As rachaduras e outros sinais de movimentação indicam a qualidade do


tratamento dos resíduos e dos processos de tratamento ocorridos no interior do aterro

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sanitário. Esses indicadores simples devem ser estudados para beneficiar os
proprietários, os técnicos e a sociedade, que terão equipamentos mais seguros e
eficientes.

As chuvas e a aspersão dos lixiviados influenciam no adensamento dos


resíduos, reduzindo seu volume. Esse processo é importante, eficiente e barato para
compactar os resíduos e merece ser explorado pelos operadores de aterros sanitários
nacionais, que lidam com grandes quantidades de resíduos sólidos urbanos.

Referências
• ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6.122-1996: Projeto
e execução de fundações. Rio de Janeiro, 1996.
• ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 8.419-1992 –
Apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos
urbanos. Rio de Janeiro, 1992.
• ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15.849-2010:
Resíduos sólidos urbanos – Aterros sanitários de pequeno porte –
Diretrizes para localização, projeto, implantação, operação e
encerramento. Rio de Janeiro, 2010.
• BRASIL, República Federativa do. Lei Federal nº 12.305/2010 - Política
Nacional de Resíduos Sólidos. Brasília, 2010.
• BOSCOV, Maria Eugênia Gimenez; Geotecnia Ambiental. São Paulo:
Oficina do Texto, 2008.
• CORREA, Christiane; JUCÁ, José Fernando; MOTTA, Eduarda. Análise da
influência do plástico mole na resistência ao cisalhamento de resíduos
sólidos urbanos. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 20, n. 3, p.
369-376, 2015.
• DENARDIN, Gabriela Pippi. Estudo dos recalques do aterro sanitário da
central de resíduos do Recreio – Minas do Leão/RS. Dissertação de
mestrado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Universidade
Federal de Santa Maria, 2013.
• MAZZA, Breno Luigi de Souza. Avaliação da formação de fissuras em
camadas impermeabilizantes de aterros sanitários executadas com

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materiais alternativos. Monografia de Projeto Final - Universidade de
Brasília. Faculdade de Tecnologia, 2019.
• NAVES, Leandro Coelho et al. Influência da compactação do solo sobre a
produção e o potencial poluidor de lixiviados de resíduos sólidos
urbanos. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental, v. 24, n. 5, p. 873-880,
2019.
• PEREIRA, Kesia Yuli da Silva. Estimativa da quantidade de lixiviado no
interior do Aterro Sanitário de Itabirito-MG. Trabalho Final de Curso.
Universidade Federal de Ouro Preto, 2021.
• VILAR, Bárbara. Estudo de caso - aplicação de drones na engenharia. In:
12º Congresso Brasileiro de Inovação e Gestão de Desenvolvimento do
Produto. Brasília, UNB, 2019.

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