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1. Introdução
O conceito de reciclagem na construção civil está inserido nas questões ambientais e
na definição de sustentabilidade, uma preocupação mundial expressa por vários relatórios e
acordos como por exemplo, o Relatório Brundtland, o Relatório Nosso Futuro Comum, a
Agenda 21 e o Protocolo de Kioto (ABRECON, 2018; ANGULO, 2000; KHATIB, 2005). As
preocupações quanto à contaminação do solo, da água e do ar, à extração desmedida de
recursos naturais aliadas ao aumento do consumo trouxeram à pauta também a questão da
geração de resíduos. No Brasil a legislação vem se adaptando a essas questões e em
particular a geração de resíduos de construção civil ou RCCs (ANGULO, 2005).
O entulho como popularmente é conhecido (ABRECON, 2018), em geral é oriundo de
erros na construção que geram perdas como: fazer argamassa em excesso, quebra de tijolos
no transporte e manejo indevido e erros de execução que exigem demolição e reconstrução.
O primeiro princípio de uma obra é a não geração do entulho ou a sua minimização, porém,
por maior que seja a produtividade e qualidade do serviço executado, é comum haver
alguma quantidade de RCC.
A destinação do RCC costuma ser clandestina e impactar diretamente no meio
ambiente (ANGULO, 2000). Portanto, além de cumprir a legislação que determina o correto
destino do entulho, a empresa que age corretamente, ganha com essa prática em
negociações com órgãos públicos, maior facilidade em financiamentos e a possibilidade de
participar de licitações para obras do Governo, além de melhorar sua imagem perante a
sociedade em geral. Com esse intuito, a reciclagem dos RCC é um instrumento que alia tanto
a prática ambientalmente correta, quanto a economia na aquisição dos insumos de
produção, sem perdas de características técnicas (EVANGELISTA e BRITO, 2007; KHATIB,
2005; SAGOE-CRENTSIL et al., 2001).
A construção sustentável além de gerenciar a utilização de recursos como água e
energia, prima por não desperdiçar material com potencial de reutilização. Usinas de
reciclagem estão espalhadas pelo país, gerando emprego e renda, e economia de recursos
naturais (ABRECON, 2018; ANGULO, 2000). O material obtido deve passar por testes e
respeitar todos os requisitos podendo assim, ser parte da composição de novas argamassas
e concretos ou até, vir a ser comercializado pela empresa.
Além dessa utilização, pode-se afirmar que existe uma vasta gama de subprodutos da
reciclagem: blocos de concreto para vedação, cascalho para pavimentação de ruas,
contrapiso e material para drenagens, contenção de encostas, banco e mesas para praças,
guia e tampas para bueiros, tubo para esgotamento, etc. (ABRECON, 2018). Em geral, o uso
do reciclado barateia a execução da obra e apresenta consistência semelhante ao produto
convencional, ou seja, são muito similares as características de medida, peso e durabilidade
(EVANGELISTA e BRITO, 2007; KHATIB, 2005; DESSY et al., 1998; SAGOE-CRENTSIL et al.,
2001).
2. Objetivos
Dentro do contexto apresentado na introdução, o presente trabalho teve como
principal objetivo avaliar o uso de resíduos de construção civil típicos da região da baixada
santista sendo aplicados na formulação de traços de concreto, tradicionalmente
empregados na construção civil. Para isso, baseado em trabalho similares da literatura
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(ANGULO, 2000; ANGULO, 2005; EVANGELISTA e BRITO, 2007; KHATIB, 2005; DESSY et al.,
1998; SAGOE-CRENTSIL et al., 2001), caracterizou-se a matéria prima (agregados) tradicional
(areia e brita mineradas) e reciclada (RCCs) que foi empregada na confecção dos traços.
Posteriormente, o produto final obtido foi avaliado através de ensaios físicos e químicos de
modo a comparar o desempenho e validar o uso de RCCs na formulação de novas
argamassas.
3. Materiais e Métodos
A Figura 1 apresenta as etapas de beneficiamento de agregados reciclados, bem como os
ensaios para obtenção das suas propriedades físicas e análise de impurezas orgânicas. Para
obtenção dos traços foi utilizado o método de dosagem da ABCP (Associação Brasileira de
Cimento Portland), que atualmente adota uma adaptação do método americano do ACI (ACI
211.1-8, 1985). A partir dos dados obtidos nos ensaios de agregados foram realizados três
traços para concretos com agregados convencionais e seus equivalentes com uso de 100%
de areia e brita reciclada.
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por um britador para se obter como resultado final agregados reciclados de diversas
granulometrias.
𝑚 𝑘𝑔⁄ (1)
𝑑𝑠 = 𝑚 ( 𝑚3 )
𝑠 −𝑚𝑎
Sendo:
ds é a massa específica do agregado seco;
m é a massa ao ar da amostra seca (g);
ms é a massa ao ar da amostra na condição saturada superfície seca (g) e
ma é a massa em água da amostra saturada (g).
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O ensaio foi realizado conforme a NBR NM 53 (2003). Foi separada uma alíquota de
agregado, lavou-se a mesma e levou-se à estufa por 24 horas a temperatura de (105±5) °C.
Após esse período o mesmo foi deixado para esfriar por aproximadamente uma hora. A
massa específica aparente foi calculada utilizando a Equação:
𝑚
𝑑𝑎 = 𝑚−𝑚 (2)
𝑎
Sendo:
da é a densidade aparente do agregado seco;
m é a massa ao ar da amostra seca (g) e
ma é a massa em água da amostra saturada (g).
Sendo:
A é a absorção de água em percentual;
ms é a massa ao ar da amostra na condição saturada superfície seca (g);
m é a massa ao ar da amostra seca (g).
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Este método de dosagem visa calcular a quantidade de matérias necessárias para
confecção de 1m3 de concreto bastando multiplicar ou dividir a quantidade para o preparo
da quantidade necessária para diversas utilizações, conforme desejado.
4. Resultados e Discussão
4.1. Classificação e granulometria
Os resultados dos ensaios granulométricos apresentam as características dos
agregados miúdos e graúdos e seu módulo de finura. Tais resultados são fundamentais para
a definição do traço para cada agregado. A distribuição de tamanho é uma das propriedades
mais importantes nos agregados já que afeta a compacidade do concreto e,
consequentemente, todas as suas propriedades (NEVILLE e BROOKS, 2013).
A Figura 3 mostra os resultados da análise de distribuição de tamanho realizada em
todas as amostras (comum e reciclada) e faz um comparativo entre a curva granulométrica
de ambas. Pelos resultados apresentados, pode-se afirmar que a distribuição de tamanho
das partículas obedece a um padrão de solo arenoso, tendo em vista que a maior
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quantidade de material ficou retida nas peneiras de 1,18 mm, 600 m e 300 m na amostra
de areia comum e nas peneiras de 600 m, 300 m e 150 m na amostra de areia reciclada.
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Figura 4. Curva granulométrica das britas comum e reciclada.
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Agregado Massa unitária (kg/m³)
Miúdo comum 1533,00
Miúdo reciclado 1311,41
Graúdo comum 1680,01
Graúdo reciclado 1392,37
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Figura 5. Distribuição da massa específica dos agregados graúdos.
A média da massa específica do agregado graúdo comum (brita comum) foi de 2,66
g/cm e a da brita reciclada determinada foi de 2,35 g/cm3, o que está de acordo com a
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pesquisa dos seguintes autores: Dessy et al. (1998); Leite e Molin (2002); Khatib (2005) e
Evangelista e Brito (2007), cujos resultados provaram uma clara diminuição deste parâmetro
comparado com agregados naturais finos. Evangelista e Brito (2007), particularmente,
encontraram resultados de massa específica para agregados comuns de 2,54 g/cm 3 que é
8,08% acima do resultado obtido aqui para o reciclado. Tal diferença entre as massas
específicas define a capacidade de retenção de água das partículas e, portanto, sua absorção
de água.
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Figura 7. Resultados do ensaio de presença de orgânicos no agregado miúdo: à esquerda
solução com ácido Tânico (C76H52O46) a 3% e à direita solução de NaOH a 3%.
É possível observar que a solução de NaOH contendo material reciclado (balão de vidro
à direita na Fig. 7) apresentou coloração nitidamente mais clara que a coloração da solução
padrão de ácido Tânico 3% (balão volumétrico à esquerda na Fig. 7). O material reciclado
reagiu o suficiente com a solução de NaOH, não atingindo a coloração da solução padrão.
Neste sentido, este agregado é considerado próprio para o uso com baixa presença de
matéria orgânica.
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Tabela 3. Resultados dos traços obtidos para agregados comum e reciclado.
5. Conclusões
Muitos são os benefícios na expansão do uso dos resíduos de construção civil, porém a
introdução dos agregados reciclados, seja eles para fins de argamassa ou estrutural, deve
estar validada em ensaios e procedimentos de normas técnicas. Através dos ensaios
realizados com o uso de agregados reciclados (RCCs) chegou-se à conclusão que existem
diferenças de características que devem ser consideradas na formulação. A substituição dos
agregados naturais pelos reciclados na confecção de concreto se mostrou viável
tecnicamente, considerando que a resistência a compressão atingidas foram semelhantes e
dependendo do método de dosagem pode atingir valores superiores.
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Porém, avaliando todos os aspectos de sua utilização, pode-se concluir que, num
cenário de sustentabilidade, a reciclagem dos resíduos de construção será a médio prazo,
uma importante ferramenta do desenvolvimento do país. Para isso, o estudo reforça que,
para um cenário futuro, há a necessidade de aperfeiçoamento em normas específicas para
confecção de concretos com uso de resíduos reciclados.
6. Agradecimentos
Os autores agradecem ao técnico Diego de Araújo da Costa, Auxiliar de Ensino no
Centro Tecnológico da UNAERP-Guarujá, pela a ajuda prestada durantes os ensaios. Os
alunos autores dedicam especial agradecimentos ao professor e orientador Prof. Me. Márcio
de Moraes Tavares, pelo ensino da Metodologia Científica e por suas orientações e
recomendações. Aos colegas de classe, em especial, Arthur Aragoni, Carlos Ramos Junior,
Paulo Borges De Camargo, Raman Alves e Wallison Cassadas Costa, por todo incentivo e
companheirismo.
7. Referências
ANGULO, S.C. Caracterização de agregados de resíduos de construção de demolição
reciclados e a influência de suas características no comportamento de concretos. 2005. 236
f. Tese (Doutorado em Eng. Civil) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, SP, 2005.
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2015.
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__________________.ABNT NBR NM 53/2003 - Agregado graúdo - Determinação de massa
específica, massa específica aparente e absorção de água. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.
__________________. ABNT. NBR 7217/1987 - Agregados - Determinação da composição –
Especificação. Rio de Janeiro: ABNT, 1987.
__________________. ABNT. NBR 9939/2011 - Agregado graúdo – Determinação do teor de
umidade total – Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2011.
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