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QUALIDADE DE PROJETO NA ERA DIGITAL INTEGRADA

DESIGN QUALITY IN A DIGITAL AND INTEGRATED AGE

III Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente Construído


VI Encontro de Tecnologia de Informação e Comunicação na Construção

Campinas, São Paulo, Brasil, 24 a 26 de julho de 2013

ANÁLISE DO CICLO DE VIDA ENERGÉTICO (ACVE) DE


HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL (HIS) DE PAREDES DE
CONCRETO 1

Gilson Marafiga Pedroso


Universidade de Brasília, UnB
gilsonpedroso@brturbo.com.br
Rosa Maria Sposto
Universidade de Brasília, UnB
rmsposto@unb.br

RESUMO
Tendo em vista a necessidade de suprir a demanda de habitações de interesse social (HIS)
no Brasil, frequentemente têm-se adotado sistemas construtivos que proporcionam rapidez e
certo grau de industrialização, baseados em referências oficiais como o SINAT (Sistema
Nacional de Avaliação Técnica de Produtos Inovadores). Os conceitos de sustentabilidade
ambiental têm sido muito discutidos frente a esta tipologia de obras, no que se refere, entre
outros aspectos, ao consumo de matéria-prima e energia nos processos de fabricação,
montagem, uso e manutenção e desconstrução destas habitações. Desta forma, a análise
do ciclo de vida energético (ACVE) pode ser importante instrumento balizador de decisão
sobre qual sistema construtivo é mais sustentável, do ponto de vista de consumo de energia,
no seu ciclo de vida, do berço ao túmulo. Este trabalho faz parte de tese de doutorado de
um dos autores sobre ACVE de HIS de cinco sistemas construtivos tidos como inovadores;
neste trabalho apresentamos apenas um sistema construtivo, cuja inovação é o elemento
de vedação com função estrutural constituído por painéis de concreto maciços moldados
no local. Tomou-se como base um projeto típico de HIS para a região centro-oeste do Brasil.
As fases consideradas no estudo são: extração de matéria prima, fabricação e montagem.
Como resultado obteve-se a energia incorporada total, proveniente da indústria e do
transporte.
Palavras-chave: Ciclo de Vida. Habitações. Sustentabilidade.

ABSTRACT
In view of the need to meet the demand for social house (HIS) in Brazil often have been
adopted building systems that provide speed and degree of industrialization, based on
official references as SINAT (National Technical Evaluation Innovative Products). The concepts
of environmental sustainability have been much discussed in front of this type of construction,
regarding, among other things, the consumption of raw materials and energy in
manufacturing, assembly, use and maintenance and deconstruction of these habitations.
This manner, the analysis of the energy life cycle (ACVE) can be an important tool decision
on constructive system which is more sustainable of point of view of energy consumption in its

1 PEDROSO, G. M.; SPOSTO, R. M. ANÁLISE DO CICLO DE VIDA ENERGÉTICO (ACVE) DE HABITAÇÕES DE


INTERESSE SOCIAL (HIS) DE PAREDES DE CONCRETO. In: III SIMPÓSIO BRASILEIRO DE QUALIDADE DO
PROJETO NO AMBIENTE CONSTRUÍDO, VI ENCONTRO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO, 24-26 JULHO, 2013, Campinas. Anais... Porto Alegre: ANTAC, 2013.

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life cycle, from cradle to grave. This work is part of the doctoral thesis of one of the authors on
the HIS ACVE than five regarded as innovative building systems, in this work we present just a
building system, whose innovation is the sealing element with structural function consists of
massive concrete panels molded in site. Was taken as the basis of a typical project for HIS
central-western Brazil. The phases considered in the study are: raw material extraction,
manufacturing and assembly. As a result we obtained the overall embodied energy, from
industry and transport.
Keywords: Life Cycle. Habitations. Sustainability.

1 INTRODUÇÃO
O incremento da economia no Brasil na primeira década do século 21 tem
trazido estabilidade econômica à população, ocasionando o levante das
classes C e D, que esteve nos tempos anteriores sem opção de
planejamento de vida em face de falta de oportunidades e ganho reduzido.
Tal incremento econômico nas referidas classes evidenciou a necessidade
de produção de moradias para estas faixas de renda, denominadas de
interesse social, face ao interesse e obrigação do estado em auxiliar os
cidadãos a adquirir a casa própria, já que a mesma é uma referência
importante para o modo de viver, ou seja, a habitação digna faz parte do
rol de exigências mínimas para qualquer ser humano.
O destaque na ação governamental nos últimos anos foi o Programa Minha
Casa, Minha Vida (PMCMV). No âmbito deste programa, para as famílias
com renda mensal de até R$ 1.600,00, estabeleceu-se inicialmente a meta
de contratação de 400 mil unidades habitacionais e atualmente, com a
continuidade do Programa a meta consiste na produção de 860.000
unidades habitacionais até o ano de 2014, para as operações contratadas
com recursos especificamente do Fundo de Arrendamento Residencial - FAR.
(Caixa Econômica Federal, 2012).
Um dos sistemas construtivos que vem sendo utilizados em HIS do PMCMV é o
de paredes de concreto moldadas no local, mostrando-se capaz de
proporcionar grandes empreendimentos com prazo curto de execução. O
sistema está regido pelo SINAT/DATec n° 10, emitido em março de 2012,
válido até fevereiro de 2014. O texto também considera como base a ABNT
NBR 16.055:2012 – Parede de concreto moldada no local para a construção
de edificações – Requisitos e procedimentos. Nesta norma é estabelecido
que parede de concreto é o elemento estrutural autoportante, moldado no
local, com comprimento maior que dez vezes sua espessura e capaz de
suportar carga no mesmo plano da parede.
A escolha do sistema construtivo em foco tem motivação no seu largo uso
em escala em empreendimentos em várias partes do Brasil, inclusive no DF
(Distrito Federal), palco da pesquisa. Este trabalho trata de HIS térreas com
uso de paredes de concreto moldadas no local.
Apesar de sabermos da importância de estudos sobre o ciclo de vida
energético (ACVE) das habitações, envolvendo a fase de pré-uso (extração,
fabricação de materiais e transporte), fase de uso (operação e
manutenção) e pós-uso (desconstrução e reciclagem), no Brasil ainda se

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tem poucos dados acerca do tema. Além disso, considerando-se que as HIS
não consomem muita energia operacional na fase de uso, diferentemente
de outros países, supõe-se que a fase de fabricação de materiais seja
significativa em relação ao total da energia consumida.
Desta forma, o objeto do estudo é a ACVE de paredes de concreto
moldadas no local, considerando-se a Energia Incorporada (EI) da indústria e
do transporte (EII e EIT) dos seus materiais e componentes constituintes na
fase de pré-uso do ciclo de vida, incluindo a extração dos materiais,
fabricação e montagem. As fases de uso, manutenção e desconstrução não
foram contempladas no trabalho.
Foi selecionado para o estudo um projeto padrão de 51,48 m2 de área, que
se insere nos moldes da CAIXA (Caixa Econômica Federal) do DF (Distrito
Federal), braço oficial do governo brasileiro para financiamento de casa
própria.

2 OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo apresentar um estudo inicial de ACVE em
HIS de paredes de concreto moldado no local. As fases consideradas no
estudo são: extração, fabricação e montagem (fase de pré-uso). Como
resultados tem-se a Energia Incorporada total (EIT), proveniente da indústria e
do transporte (EII e EIT).

3 METODOLOGIA
Foi selecionado um projeto padrão, semelhante ao adotado pela CAIXA,
onde se levantou o consumo de energia em MJ/m², na fase de extração,
fabricação e montagem, referentes à indústria e transporte, com foco nas
paredes de concreto moldadas in loco.
A pesquisa foi realizada a partir de estudo da bibliografia, desenvolvimento
dos pressupostos para a análise de ACVE e formulação dos resultados
encontrados. Para embasar o estudo, foi realizada uma revisão teórica sobre
o tema, para posteriormente desenvolver o mecanismo de aferição de
dados, através de planilhas de quantitativos de serviços e
consequentemente dos insumos envolvidos.
Adotou-se como unidade funcional a função de desempenho térmico e
vida útil para atendimento à ABNT 15575 (2013). Desta forma, as paredes
consideradas no estudo tem espessura de 15,5cm (e não 10 cm, conforme
dados formais do sistema) e satisfazem a transmitância U (3,7 W/(m².K)) e a
capacidade térmica para a região bioclimática de Brasília (zona 4),
devendo ter cor branca na pintura externa; quanto a vida útil, estabeleceu-
se o valor de 40 anos.
Com relação aos valores de EI adotados para os materiais, a base de
consulta de grande parte foi através de pesquisa em dados coletados por
Lobo (2010), Tavares (2006) e Carminatti Jr (2012), assim como em literatura
internacional, nos materiais sem referência no Brasil.

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Após compilação dos dados através das planilhas referidas, o valor de EIT é
espresso na unidade de energia (MJ ou Gj) por unidade de área (m²).

4 REVISÃO TEÓRICA

4.1 Sustentabilidade na indústria da construção civil


Nos últimos anos temos tido uma organização maior em todo o mundo, no
sentido de buscar o estudo da redução de consumo de recursos naturais,
com consequente emissão de gases nocivos ao meio ambiente ou estudos
focados no uso racional destes recursos, com foco na melhoria das
condições de uso e preservação do planeta.
Carminatti Jr (2012), afirma que os temas relacionados à sustentabilidade
vêm sendo amplamente discutidos e, com relação à indústria da construção
civil, configura-se como um setor que consome grande quantidade de
recursos naturais para a edificação de novas construções. Assim, os
conceitos de construção sustentável tendem a ser aplicados no setor com
certa prioridade, pois, no momento atual existem diversos programas de
incentivo a construção civil aumentando a representatividade dos impactos
ambientais causados por esse no meio ambiente.
Agopyan & John (2011), citam que não se pode discutir a sustentabilidade
da construção civil, sem interferir em toda a cadeia produtiva que é
complexa, pois envolve setores industriais tão díspares como: a extração de
matérias minerais e a eletrônica avançada; enormes conglomerados
industriais, como a indústria cimenteira, que interagem e até competem em
alguns mercados com milhares de pequenas empresas familiares; órgãos
públicos nas três escalas de governo; clientes de famílias de baixa renda em
autoconstrução a empresas que constroem verdadeiras cidades.

4.2 Avaliação de ciclo de vida – ACV


Para avaliar um produto de qualquer cadeia produtiva, torna-se necessário
estudar o ciclo de atividades necessárias desde a extração da matéria-
prima, passando pelas operações de fabricação do produto, sua
montagem, fase de uso e manutenção, até a desconstrução e descarte. Em
todas as fases citadas, o consumo de energia incluindo o transporte pode
nortear custos e impactos de maior ou menor dimensão, dado as
circunstâncias de localização, tecnologia de fabricação e outros, afetando
de alguma forma as condições do meio ambiente no qual os produtos
gerados estão inseridos.
Segundo a norma NBR ISO 14040/2009, Análise do ciclo de vida é definida
como a compilação e avaliação de entradas e saídas (de matérias primas e
recursos energéticos) e impactos ambientais potenciais de um produto
através do seu ciclo de vida.
Uma ACV, de acordo com a NBR ISO 14040/2009, tem uma estrutura básica
que passa por quatro fases: Objetivo e escopo, Análise do inventário,

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Avaliação de impacto, Interpretação. Lobo (2010), afirma que


fragmentando as fases, a ACV possibilita que elas se retroalimentem, além
de facilitar a compreensão de todo o ciclo de vida do objeto de estudo,
favorecendo o controle do processo.
Tavares (2006), afirma que as aplicações da ACV são amplas e significativas,
dependentes da interpretação de seus resultados e da amplitude dos dados
levantados. O mesmo autor cita que poderiam ser citados que uma ACV
pode dar origem à: análise da origem de um problema relacionado a um
produto ou serviço específico, o levantamento detalhado dos limites do
processo de um produto, incluindo insumos, transporte e descarte, a
orientação de design de novos produtos, a determinação da energia
embutida de um produto, a identificação das oportunidades de melhoria
dos aspectos ambientais globais do produto, a comparação de
características ambientais e econômicas das variantes para um
determinado produto, a orientação à tomada de decisões e prioridades
para desenvolvimento de produtos e, ou, políticas ambientais e avaliação
de desempenho ambiental.

4.3 Avaliação de ciclo de vida energético – ACVE


Um estudo de ACV tem como característica a demanda de organização de
dados e informações. Na aplicação desta metologia na indústria da
construção civil, pelas peculiaridades apresentadas nas suas fases,
observam-se muitas dificuldades de coleta de informações e interpretações
diversas a fim de direcionar para uma avaliação correta.
Neste contexto, as ACVEs surgem com opção eficaz para reduzir a
quantidade de tempo e recursos necessários e ainda obter resultados
expressivos na condução de análise ambiental, conforme afirma Tavares
(2006). O mesmo autor retrata que uma das formas de simplificar a obtenção
dos impactos ambientais a partir da ACV é através do uso de análises
energéticas com a determinação da energia requerida para a produção de
um bem ou serviço.
Carminatti Jr (2012) afirma que a ACVE é baseada na ACV, priorizando o
inventário de dados de consumo energéticos diretos e indiretos para a
produção de determinado produto ou serviço, não substituindo o método
da ACV completo.
Neste tipo de análise, a coleta de informações nas edificações é realizada
adotando unidades energéticas, que tenham relação com as atividades do
setor, que conforme Tavares (2006), são apresentadas em KWh/m², MWh/m²,
GJ/m², MJ/m².
Considerando as etapas de coleta de informações, é importante dividir em
partes, do “berço ao túmulo”, com suas terminologias de consumo
energético ao longo do ciclo de vida, retratado por Tavares (2006). O nome
deste conjunto de requisitos foi definido segundo terminologia da ISO 14040
(1997), nominando de Energia Total, a soma da energia embutida inicial

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equivalente aos consumos diretos e indiretos para as etapas desde a


prospecção de matéria prima até a entrega da obra, energia de
manutenção como sendo a dispendida durante a vida útil da edificação e
energia de desconstrução aquela que é consumida no descarte e
reciclagem. A figura 1 ilustra o ciclo de vida energético de uma edificação.

Figura 1: ciclo de vida energético de uma edificação

Fonte: Retirado de Tavares (2006)

Entre algumas pesquisas de ACVEs no Brasil, podem ser citadas as


desenvolvidas por Satler e Grigoletti (2001), Tavares (2006), Carminatti Jr.
(2012) e ACVE em HIS, Paulsen e Sposto (2013).

4.4 Sistema construtivo em paredes de concreto moldadas no local


As paredes são moldadas no local, através de fôrmas, tendo embutidas as
instalações sem pressão (elétrica, telefonia, cabeamentos) e gás GLP e sob
pressão (água fria, quente, esgoto sanitário e pluvial). Uma característica
deste sistema tem sido o alto custo das fôrmas, fato que até então tem
limitado o uso para obra de grande escala de repetição, de no mínimo 800
unidades. A tecnologia teve forte influência de cultura construtiva de outros
países da américa latina como EUA, Colômbia e México, assim como países
da Europa, por exemplo, a França (MISURELLI e MASSUDA, 2009).
As paredes moldadas no local são constituídas de concreto armado com
espessura de 10 cm e altura igual ao pé direito de cada unidade
habitacional. As paredes são de concreto comum, com adição de fibras de
polipropileno na proporção de 300 g/m³. A resistência característica à
compressão especificada é de no mínimo fck 25 MPa, com massa específica
igual a 2300 kg/m³. O abatimento (slump) especificado para o concreto das
paredes é de 20 + ou – 3 cm. A resistência mínima especificada para
desforma das paredes após 24 horas da concretagem é de 3 MPa
(SINAT/DATec n° 010, 2012).
Neste trabalho especificou-se para espessura das paredes, o valor de 15,5
cm, visando o atendimento aos critérios de desempenho térmico segundo a
ABNT NBR 15575 (2013) para a transmitância térmica U e a Capacidade
Térmica CT (U≤3,7 W/(m²K) e CT≥130) para a zona climática 4.

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Figuras 2 e 3: Vista da implantação das fôrmas de uma habitação e das armaduras


compostas com as instalações embutidas e espaçadores.

Fonte: www.sh.com.br Fonte: SINAT/DATec n° 010, 2012

Figuras 4 e 5: Retratam respectivamente, execução de armadura da parede e


detalhe de armadura em cantos de vãos de esquadrias.

Fonte: SINAT/DATec n° 010, 2012 Fonte: www.sh.com.br

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Figuras 6 e 7: Implantações de conjuntos de habitações

Fonte: www.sh.com.br HESKETH, 2009

5 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DA ACVE NO MODELO DE PAREDE

5.1 Descrição do projeto adotado


Para este trabalho, adotou-se um projeto já utilizado no DF, com 51,48 m², e
execução de paredes em forma de painéis de concreto moldado no local,
com foco de cálculo de EI, conforme já descrito anteriormente.

Figura 8: Planta baixa da habitação

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Figuras 9 e 10: Cortes da habitação estudo de caso

Figura 9: Corte AA Figura 10: Corte BB

5.2 Cálculo da Energia Incorporada EI das paredes


Foi levantada a EI em MJ/m² das paredes, desde a extração, fabricação e
montagem, com base em dados secundários coletados de Lobo (2010),
Tavares (2006); Carminatti Jr (2012) e Paulsen; Sposto (2013). Após
compilação dos dados através do quadro 2, o valor de EIT é espresso na
unidade de energia (MJ ou Gj) por unidade de área (m²).
Não foram consideradas pintura e esquadrias, por serem itens comuns iguais
a outros sistemas construtivos.
Segundo a NBR ISO 14040:2009, para se realizar uma ACV há necessidade de
se definir inicialmente o objetivo e o escopo. Para o escopo, foi estabelecido
que a habitação é térrea, baseada em um projeto padrão utilizado na
região em estudo e a unidade funcional é o MJ/m² ou GJ/m² de parede de
espesssura de 15,5cm construída, atendendo, assim, o critério de
desempenho térmico (em relação a U e a CT); a vida útil foi especificada
para 40 anos (valor estimado de acordo com a ABNT NBR 15575 (2013).
Padronizou-se a EI de transporte em 1,62 MJ/ton/Km, conforme adotado por
Tavares (2006) e Carminatti Jr. (2012). No Quadro 2 são listados os materiais
adotados nas paredes. Não foi levada em consideração a mão de obra.
No cálculo da EI para as fôrmas de alumínio extrudado, não foi considerado
o número de repetições, mas considerando-se que estas formas podem ser
reutilizadas em até 1000 vezes, certamente a repetição deve diminuir o valor
da EITotal do sistema.

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Quadro 2: Planilha de composição dos materiais que compõem as paredes de uma


habitação de 51,48 m², com suas respectivas EI, nas etapas de extração,
fabricação e montagem 2.

Quantidades para

EI TRANSP. MJ/TON
Massa específica

Massa total (ton)


percorrida (Km)
uma habitação

TRANSP. TOTAL
EI MJ total do

EIT MJ TOTAL
EIT MJ/TON
DESCRIÇÃO DOS

CIDADE DE
EI MJ/UND

(ton/Und)
Distância
Unidade

material

ORIGEM

EM 1 KM
MATERIAIS QUE
COMPOÊM AS
PAREDES

Fôrmas em
paInéis de
alumínio SÃO
extrudado
kg 4.549,50 17,3 (Tav ares, 2006) 78.706,35 PAULO, 950 0,002 9,10 1,62 14.003,36 92.709,71
estruturados
para uma SP
habitação sem
repetição

Concreto
usinado fck 20 2760,0 (Tav ares,
m³ 20,84 57.518,40 BRASÍ LI A, 50 2,400 50,02 1,62 4.051,30 61.569,70
MPa para 2006)
paredes DF

Tela soldada Q Belo


61 - Malha 15 x
kg 858,00 30,0 (Tav ares, 2006) 25.740,00 Horizonte 700 0,001 0,86 1,62 972,97 26.712,97
15 cm - diâmetro
3.4 mm , MG

SÃO
Fibra de
kg 8,58 83,8 (Tav ares, 2006) 719,00 PAULO, 950 0,001 0,01 1,62 13,20 732,21
polipropileno
SP

Espaçadores SÃO
80,0 (Tav ares,
para tela kg 5,00 400,00 PAULO, 950 0,001 0,01 1,62 7,70 407,70
2006)
soldada em PVC SP

EI MJ TOTAL 182.132,28

EI GJ TOTAL 182,13

EI GJ/M² 3,54

Nas figuras 11 e 12 são apresentados valores de EI dos materiais constituintes


das paredes.

2Foi considerado para o concreto o valor de 1,20 MJ/kg (retirado de TAVARES (2006)), que
multiplicado pelo valor do peso por m³ do concreto, resultou no valor de 2.760,00 MJ/m³. A resistência
característica do concreto foi considerado de 20 MPa (informação coletada em obra), onde
compreende-se ser da competência do calculista da estrutura determinar a mesma, em função da
normalização vigente. Obviamente, resistências diversas do concreto, vão determinar valores
diferentes de EI do concreto, pela diferença de composição da mistura.

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Figuras 11 e 12: EI dos materiais constituintes das paredes e percentual do


transporte e materiais na etapa de pré-uso

Fonte: Elaborada pelos autores Fonte: Elaborada pelos autores

Nesta análise, demonstrada nas figuras 11 e 12, evidencia-se o


comportamento do item concreto nas paredes, o qual representa grande
parte da EI. Da mesma forma, o item transporte não representa grande
contribuição na EIT.

6 CONCLUSÕES
A aplicação dos conceitos da ACV de forma simplificada através da ACVE é
uma das maneiras de medir a energia incorporada (EI) que as edificações
totalizam durante todas as fases de vida. É um importante indicativo para a
indústria da construção civil, sob o ponto de vista da sustentabilidade do
meio ambiente e gestão correta do uso dos recursos naturais, já que serve
de ferramenta para comparar vários sistemas construtivos e optar pela
melhor especificação.
Nesta análise, levaram-se em conta somente as paredes, elemento inovador
do sistema construtivo adotado, que desempenha o papel de vedação e
estrutura ao mesmo tempo.
Observando os valores obtidos das figuras 11 e 12, tem-se um destaque para
a EI do item fôrmas, responsável por 51 % do consumo, ficando o item
concreto com 34 %. Considerando que o cálculo da EI de fôrmas foi para
apenas uma utilização, pode-se concluir que sendo as fôrmas reutilizáveis em
até 1000 repetições (segundo informações de fabricantes), teoricamente
haverá redução do valor da EI total do sistema.
É evidente que na escolha dos materiais adotados nas paredes, fatores
como a capacidade tecnológica da indústria local (com o uso de diferentes
equipamentos de produção) e a distância de transporte, entre outras
características, podem proporcionar maior ou menor impacto nos valores de
EI. Desta forma, os valores obtidos neste trabalho são motivo de reflexão e
não podem ser tomados como referência final, pois retratam apenas uma
situação.

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Comparando com outros dados da literatura nacional, o valor obtido de


3,54 GJ/m² para as paredes já demonstra um consumo relativamente baixo
de energia na fase de pré-uso, face ao trabalho publicado por Paulsen e
Sposto (2013) que obtiveram um valor de 7,2 GJ/m² para o mesmo projeto,
na mesma região, mas com sistema construtivo de blocos cerâmicos
estruturais com espessura de 14 cm e revestimento de 2,5 cm em ambas as
faces, considerando-se as outras partes da construção, como revestimentos.
Carminatti Jr (2012) analisou projeto de HIS similar encontrando valores na
faixa de até 6,6 GJ/m², também para toda a construção. Ambos analisaram
a fase de pré-uso, entretanto, quantificaram todas as etapas da obra,
diferente deste trabalho que contempla somente as paredes.
Ao analisar a planilha de insumos das paredes, nota-se que se pode otimizar
ainda mais o tipo de material de confecção das fôrmas, buscando materiais
com menor consumo de energia do que o alumínio extrudado. O resultado
também deve ser analisado sob a ótica da quantidade de repetições das
fôrmas, que deve dividir este valor pela quantidade produzida, mesmo
considerando o gasto de energia na manutenção das mesmas.
O trabalho não deve ser visto como final, mas sim como um estudo
preliminar sobre a EI de paredes de concreto moldadas com forma de
alumínio.

REFERÊNCIAS
Shfôrmas, Banco de Dados. Disponível em: http:// www.shformas.com.br/lumiform.
Acessado em 26/03/2013, as 21hs e 07 min.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575-1: Edifícios


Habitacionais – Desempenho – Parte 1: Requisitos Gerais. Projeto de revisão – julho
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______. NBR 16055:2012 – Parede de concreto moldada no local para a construção


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______. NBR ISO 14040:2009 – Gestão ambiental – Avaliação do ciclo de vida –


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DIRETRIZ SINAT DATec n° 010 – “Sistema Construtivo Bairro Novo em paredes de


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HESKETH M. Parede de Concreto. In 9º Congresso de Materiais, Tecnologia e Meio


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LOBO, F. H. R. Inventário de emissões equivalente de dióxido de carbono e energia


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TAVARES, S. F., Metodologia de análise do ciclo de vida energético de edificações


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