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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

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Roteiro para Projeto de
Pequenos Açudes
Vicente P. P. B. Vieira
Antonio Gouveia Neto
Antonio Nunes de Miranda
Vanda Tereza C. Malveira

Roteiro para Projeto


de Pequenos Açudes

Universidade Federal do Ceará


Centro de Tecnologia

Fortaleza – Ceará
1996
Copyright © 1996, de Antonio Nunes de Miranda
Reservado todos os direitos.
Fica expressamente proibido reproduzir esta obra, total
ou parcialmentre, através de quaisquer meios,
sem autorização do autor.

Impresso no Brasil
Printed in Brazil

Ficha Catalográfica
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Prefácio
Esta é a quarta edição do Roteiro para Produção de Pequenos Açudes, desta feita
cuidadosamente atualizada e ampliada através da oporuna e valiosa contribuiação do
Prof. Antônio Nunes de Miranda e da Engª. Vanda tereza Costa Malveira, nossa aluna
do Curso de Mestrado em Recursos Hídricos.
Sem perda de suas características básicas – simplicidade e orientação prática – o Roteiro
sofreu as seguintes modificações: atualização dos dados hidrológicos, detalhamento dos
estudos geotécnicos e aprimoramento de diversos ítens do projeto.
Os autores do livro original, Prof. Antônio Gouveia Neto e eu, nos sentimos
honrados com essas colaborações, e esperamos que este opúsculo continue sendo
útil aos estudantes e profissionais de Engenharia que lidam com a nobre missão de
construir açudes pelos sertões do Nordeste.

Fortaleza, junho/96

Vicente P. P. B. Vieira

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Sumário
1. ESTUDOS Topográficos 13
1.1 Contorno da Bacia Hidrográfica 13
1.2 Bacia Hidráulica 13
1.3 Local da Barragem e Obras Complementares 13
1.4 Desenhos 13
2. ESTUDOS HIDROLÓGICOS 15
2.1 Fixação da Capacidade do Reservatório 15
2.2 Cálculo da Cheia Máxima 17
3. ESTUDOS GEOTÉCNICOS 20
3.1 Local da Barragem e da Tomada d’Água 21
3.2 Local do Vertedouro 21
3.3 Ocorrência dos Materiais de Construção 24
4. PROJETO DO VERTEDOURO 33
4.1 Seção do Vertedouro 33
4.2 Localização do Vertedouro 35
5. PROJETO DO MACIÇO 38
5.1 Folga 38
5.2 Cota do Coroamento 38
5.3 Largura do Coroamento 39
5.4 Inclinação dos Taludes 39
5.5 Sistema de Drenagem Interna 40
5.6 Proteção do Talude de Montante 45
5.7 Proteção do Talude de Jusante 47
6. PROJETO DA TOMADA D’ÁGUA 48
6.1 Galeria 51
6.2 Sifão 58
7. QUANTITATIVOS E ORÇAMENTO 65
8. ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS 66
9. AVALIAÇÃO OOS IMPACTOS AMBIENTAIS 67
10. BIBLIOGRAFIA 69

APÊNDICES
Apêndice A - Dados de Chuva 71
Apêndice B - Tipos de Muros Vertedouros 115
Apêndice C - Medidores de Vazão 125
Apêndice D - Planilha de Serviços 133
Apêndice E - Especificações Técnicas 139

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Lista de Figuras
Figura 1.1 ­- Mapa - Índice SUDENE
Figura 2.1 - Descarga Máxima Secular
Figura 3.1 - Planta de Locação das Sondagens no Local da Barragem
Figura 3.2 - Perfil Longitudinal do Subsolo no Local da Barragem
Figura 3.3 - Planta de Locação das Sondagens no Local do Vertedouro
Figura 3.4 - Estimativa do Volume de Material
Figura 3.5 - Detalhamento da Jazida
Figura 3.6 - Fluxograma para Classificação dos Solos
Figura 3.7 - Planta de Localização das Ocorrências
Figura 4.1- Cálculo de Sangradouro
Figura 4.2 - Vertedouro Isolado
Figura 4.3 - Vertedouro junto ao Maciço
Figura 4.4 - Vertedouro em Muro de Gravidade
Figura 4.5 - Vertedouro em Canal Escavado
Figura 4.6 - Cordão de Fixação
Figura 5.1 - Seção da Barragem
Figura 5.2 - Superfície Freática
Figura 5.3 - Correção na Saída
Figura 5.4 - Correção na Entrada
Figura 5.5 - Altura Mínima do Enrocamento de Pé
Figura 5.6 - Detalhe do Enrocamento de Pé
Figura 5.7 - Detalhamento do Rip-Rap
Figura 6.1- Galeria
Figura 6.2 - Sifão
Figura 6.3 - Perfil Longitudinal da Barragem
Figura 6.4 - Seção da Galeria
Figura 6.5 - Seção do Exemplo
Figura 6.6 - Detalhe do Sifão
Figura 6.7 - Diagrama de Rouse

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

QUADROS
Quadro 2.1- Rendimento Pluvial da Bacia Hidrográfica
Quadro 2.2 - Coeficientes Hidrométricos
Quadro 5.1 - Largura do Coroamento
Quadro 5.2 - Inclinação
Quadro 5.3 - Altura Mínima do Enrocamento de Pé
Quadro 5.4 - Espessura Do Rip-Rap

TABELAS
Tabela 3.1 - Classificação dos Solos pelo USC
Tabela 3.2 - Propriedades dos Solos - Aspectos Qualitativos
Tabela 3.3 - Propriedades dos Solos - Aspectos Quantitativos
Tabela 6.1 - Coeficiente de Perda de Carga Localizada
Tabela 6.2 - Coeficiente de Perda de Carga por Atrito
Tabela 6.3 - Viscosidade da Água

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Como Projetar um Pequeno Açude


A elaboração do projeto de uma pequena barragem de terra envolve o desen-
volvimento dos seguintes trabalhos:

1 - Estudos Topográficos
2 - Estudos Hidrológicos
3 - Estudos Geotécnicos
4 - Projeto do Vertedouro
5 - Projeto do Maciço
6 - Projeto da Tomada d’ Água
7 - Quantitativos e Orçamento
8 - Especificações Técnicas
9 - Avaliação dos Impactos Ambientais

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

1. Estudos Topográficos
Os estudos topográficos têm por objetivo o levantamento do contorno
da bacia hidrográfica e o levantamento plani-altimétrico dos locais da barra-
gem, vertedouro, tomada d’água e da bacia hidráulica, conforme descritos a
seguir:

1.1- Contorno da Bacia Hidrográfica


A linha de contorno da bacia hidrográfica pode ser obtida das CARTAS
DA SUDENE, cuja escala é de 1:100.000, com curvas de nível de 40 em 40
metros. A carta correspondente à bacia em estudo pode ser selecionada com
auxílio do Mapa-Índice da Figura 1.1.

1.2 - Bacia Hidráulica


O levantamento plani-altimétrico de toda a área da bacia hidráulica é
feito através de topografia clássica, ou de restituição aerofotogramétrica. O
levantamento topográfico é feito pela locação e nivelamento de uma linha de
base no fundo do vale, estaqueada de 50 em 50 metros, e de seções transver-
sais, niveladas a cada 50 metros, estendidas até atingida a cota máxima a ser
alcançada pelas águas do reservatório.

1.3 - Local da Barragem e Obras Complementares


O levantamento do local da barragem e das obras complementares é ini-
ciado pela locação e nivelamento do provável eixo da barragem, estaqueado
de 20 em 20 metros. Este eixo deve ser prolongado, de modo a ultrapassar a
área onde será implantado o vertedouro. A cada 20 metros serão levantadas
seções transversais que deverão cobrir com folga, toda a área de implantação
da barragem e os locais da tomada d’água.

1.4 - Desenhos
Os estudos topográficos serão apresentados em forma de:

Planta da bacia hidrográfica, desenhada na escala 1:100.000;


• Planta da bacia hidráulica, desenhada com curvas de nível de 5 em 5
metros, na escala 1:5.000 ou 1:2.000;

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

• Diagrama cota/área/volume indicando as áreas cobertas pela água


e respectivos volumes acumulados, em função da cota da superfície livre do
reservatório. Estes dados também serão apresentados em forma de Tabela.
• Planta do local da barragem e obras complementares, na escala 1:2.000
ou maior, com curvas de nível de metro em metro.
• Perfil longitudinal ao longo do eixo da barragem na escala 1:200 (verti-
cal) e 1:2.000 (horizontal) ou maiores.

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

2. Estudos Hidrológicos
Estes estudos permitirão o dimensionamento da capacidade do reservatório
em função do volume anual afluente, bem como permitirá a determinação da
vazão de projeto para dimensionamento do vertedouro. Será adotado o procedi-
mento desenvolvido pelo Engenheiro Francisco Gonçalves Aguiar.

2.1 - Fixação da Capacidade do Reservatório


A capacidade do reservatório será fixada conforme se indica a seguir:

(a) Caracterização do tipo de bacia hidrográfica a partir da análise dos


seguintes dados:
• cobertura vegetal e relevo (Cartas da Sudene);
• tipo de solo (Mapas Pedológicos);
• características geológicas (Mapas Geológicos);
• litologia e complementação da cobertura vegetal e relevo (Fotogra-
fias Aéreas)
(b) Determinação da precipitação média anual na bacia hidrográfica pela:
média aritmética as precipitações anuais dos postos existentes dentro
da bacia ou nas proximidades da mesma, ou pelo Método de Thiessen,
que conduz a resultados mais precisos.
(c) Determinação do rendimento pluvial da bacia, utilizando as fórmulas
abaixo:

(I) para precipitações compreendidas entre 500 e 1.000 mm/ano

R(%) = H² - 400H + 230.000 (vide quadrado 2.1)


onde: 55.000
H = precipitação anual em mm

(II) para precipitações superiores a 1.000 mm/ano


R(%) = 2,853 - 1l,295H + 35,191 H2 - 1l,874H3 (vide Quadro 2.1)
onde:
H = precipitação média anual da bacia em m

As médias pluviométricas dos postos com mais de 15 anos de observação


estão indicadas no Apêndice A.

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Quadro 2.1 - Rendimento Pluvial da Bacia Hidrográfica


H R(%)
(m) 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09
0,5 5,09 5,2 5,32 5,43 5,56 5,68 5,81 5,94 6,08 6,22
0,6 6,36 6,51 6,66 6,82 6,97 7,14 7,3 7,47 7,64 7,82
0,7 8,00 8,18 8,37 8,56 8,76 8,95 9,16 9,36 9,57 9,78
0,8 10,00 10,22 10,44 10,67 10,9 11,14 11,37 11,62 11,86 12,11
0,9 12,36 12,62 12,88 13,14 13,41 13,68 13,96 14,23 14,52 14,8
1,0 14,88 15,11 15,34 15,58 15,81 16,05 16,28 16,51 16,74 16,97
1,1 17,21 17,44 17,66 17,89 18,12 18,34 18,57 18,79 19,02 19,24
1,2 19,46 19,67 19,89 20,1 20,32 20,53 20,74 20,95 21,15 21,35
1,3 21,56 21,75 21,95 22,14 22,34 22,53 22,71 22,9 23,08 23,56
Nota: O dado de chuva de entrada no Quadro, é composto do valor da primeira coluna adicionado da
primeira linha, conforme exemplificado para uma altura de chuva de 650mm, a qual corresponde um
rendimento de 7,14%.

(d) Cálculo do volume médio afluente anual através da fórmula:

Va = R(%)HUA
100
onde:

R (%) = rendimento em percentagem (vide Quadro 2.1)


H = precipitação média anual (m)
U = coeficiente de correção (Quadro 2.2)
A = área da bacia hidrográfica (m2)

(e) Cálculo do volume de acumulação do reservatório:

O diagrama cota/volume e o valor do volume médio afluente anual constituem


os parâmetros básicos para definição da capacidade do reservatório. Quando o vo-
lume capaz de ser armazenado na bacia hidráulica for inferior ao dobro do volume
médio afluente anual, a capa¬cidade de acumulação será a máxima armazenável.
Quando a topografia do local a ser barrado permitir, é prática a adoção de um volu-
me de acumulação igual a duas vezes o volume médio afluente anual. Do diagrama
cota/ área/ volume será obtida a cotada soleira do vertedouro (s), correspondente ao
volume de acumulação definido.

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Quadro 2.2 - Coeficientes Hidrométricos


Coeficientes Hidrométricos: U, K, C
Características da Bacia Tipo U H C
Pequena, íngrema e rochosa 1 1,3 0,1 0,85
Bem acidentada sem depressões evaporativas 2 1,2 0,15 0,95
Média 3 1 0,2 1
Ligeiramente acidentada 4 0,8 0,3 1,05
Ligeiramente acidentada com depressões 5 0,7 0,4 1,15
evaporativas
Quase plana, terreno argiloso 6 0,65 0,65 1,3
Quase plana, terreno variável ou ordinário 7 0,6 1 1,45
Pá. 16
Quase plana, terreno arenoso 8 0,5 2,5 1,6

2.2 - Cálculo da Cheia Máxima


A vazão máxima de projeto do vertedouro é calculada pela fórmula indicada a
seguir, que fornece a vazão máxima com 100 anos de período de retomo ou cheia
máxima secular.
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onde:

S = área da bacia hidrográfica (km2)


L = linha de fundo, isto é, o comprimento do riacho desde a seção exutória
em estudo, até as nascentes (km)
K,C = coeficientes que dependem do tipo de bacia (Vide Quadro 2.2)

A Figura 2.1 é uma representação nomográfica da fórmula supra.


Considerando três casos quaisquer que sejam:
bacia tipo 2
K = 0,15; C = 0,95
bacia tipo 3
K = 0,20; C = 1,00
bacia tipo 4
K = 0,30; C = 1,05

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Assumindo como exemplo:


bacia tipo 2 - L = 40km; S = 150km2
bacia tipo 3 - L = 15km; S = 30km2
bacia tipo 4 - L = 2km; S = 2km2

E seguindo-se as indicações em pontilliado, resulta:


Qs2 = 225m3/s;
Qs3 = 73m3/s;
Qs4 = 13,5m3/s.

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DESRCARGA MÁXIMA SECULAR

Figura 2.1 – Descarga Máxima Secular

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

3. Estudos Geotécnicos
A estrutura geológica – extensão, arranjo, espessura e propriedades das
rochas subjacentes e manto de cobertura – constitui informação básica no
projeto e construção de uma barragem.
Estas informações podem ser obtidas a partir de mapas geológicos, que
identificam a rocha individualmente, bem como a estrutura geológica do lo-
cal da barragem, futuro reservatório e áreas adjacentes.
Nos mapas geológicos as rochas são identificadas através de suas caracte-
rísticas litológicas e por sua era geológica. Cada unidade de rocha mapeada
é denominada de formação, isto é, um corpo de rocha com características
relativamente uniformes, que se estende sobre uma grande área, e que pode
ser claramente diferenciado de uma outra formação. A extensão destas forma-
ções são indicadas nos mapas geológicos através de letras-símbolos, cores e
símbolos padrões.
As interpretações devem ser feitas por especialista em barragens e em geolo-
gia, através de estudos em mapas geológicos básicos, junto com os demais dados,
geológicos da área, quando se prepara um mapa específico com a interpretação da
geologia sob o ponto de vista de engenharia de barragens.
O conhecimento dos mecanismos de formação dos solos de alteração’ e
dos depósitos sedimentares é de inestimável valor no projeto e construção de
barragens pelas seguintes razões:
• possibilita o conhecimento de cada caso particular a partir da caracteri-
zação da formação como um todo;
• é um guia preliminar para o planejamento das explorações de subsu-
perfície;
• classifica de modo expedito a fundação e condições de escavação;
• proporciona informações preliminares das propriedades dos depósitos de
solos e o grau de variação em superfície e em profundidade.
Por exemplo, dado que um depósito é de origem eólica, diz que os cons-
tituintes do solo têm granulometria uniforme, que o tamanho médio das
partículas decresce com o incremento da distância da formação de origem, e
que as partículas têm uma forma angular e constituídas de minerais arran-
jados em baixo estado de compactação. Já os depósitos fluviais, apresentam
granulometria e composição mineralógica variada com diferentes graus de
compactação. Os solos de alteração possuem características peculiares cada
tipo de rocha de origem.
Estas informações têm grande valor num planejamento preliminar, mas
não substituem os detalhes que se obtêm das investigações de campo, que
consistem nas investigações geotécnicas. A investigação geotécnica de uma

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

pequena barragem consiste basicamente na caracterização do subsolo no local


da barragem, no vertedouro e na tomada d’água, bem como na localização e
caracterização das ocorrências de materiais que serão utilizados na construção
do maciço.

3.1 - Local da Barragem e Tomada d’ Água


A prospecção do subsolo em uma determinada área visa basicamente obter
as seguintes informações:

(a) a profundidade, a espessura, a classificação e compacidade ou consis-


tência das camadas de solo;
(b) a profundidade da superfície da rocha, bem como o estado do maciço
rochoso quanto a alterações e fraturamento até profundidades que interes-
sem ao bom funcionamento da obra a ser projetada;
(c) profundidade e comportamento do lençol freático;
(d) comportamento in situ dos solos e rochas no que diz respeito à resis-
tência, ao cisalhamento, compressibilidade e permeabilidade. Estas pros-
pecções são executadas de acordo com os seguintes passos:

• Plano de Investigação
Preparar um plano de investigação através de sondagens à pá e picareta,
nas ombreiras, e sondagens à percussão, até atingir o impe¬netrável no fundo
do vale. Um exemplo de uma programação desta campanha de sondagens é
apresentado na Figura 3.1.

• Apresentação dos Resultados


Os resultados devem ser apresentados em planta baixa com a localização
de todas as sondagens realizadas (semelhante ao croquis da Figura 3.1) na
escala 1:2.000 ou maior, e em perfil longitudinal do subsolo com escala ver-
tical dez vezes a escala horizontal, e esta 1:2.000 ou maior. Um tipo de perfil
longitudinal do subsolo, considerando o exemplo anterior, é apresentado na
Figura 3.2.

3.2 - Local do Vertedouro


No local do vertedouro serão realizadas sondagens à percussão até se atin-
gir o impenetrável sendo prosseguidas por sondagens rotativas, visando de-
finir principalmente a profundidade de ocorrências de rocha que apresente
condições de resistir à erosão e ao arraste, pelo fluxo turbulento à jusante do
vertedouro.

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Figura 3.1 – Planta de locação das sondagens no local da barragem


Figura 3.2 – Perfil longitudinal do subsolo no local da barragem

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Na ausência de rocha que atenda a estas condições, as sondagens orientarão


o projeto das fundações das obras hidráulicas que irão ordenar o fluxo da água.
A definição do nível a partir do qual a rocha apresenta condições de resistir
à erosão situa-se numa ampla faixa entre o limite atingido pelas sondagens à
percussão e a profundidade em que a rocha apresenta-se sã e sem fraturas.
De um modo geral, para barragens de altura menores que 15m, a erosão
surge com facilidade em rochas totalmente alteradas e incon¬sistentes (de-
sagregável facilmente à mão), prossegue ao encontrar rochas muito alteradas
e pouco consistentes (desagregável à mão) e é interrompida ao atingir rocha
medianamente consistente (não de¬sagregável à mão).

• Plano de Investigação
Indicar em planta a locação das sondagens à percussão e rotativas confor-
me exemplo apresentado na Figura 3.3.

• Apresentação dos Resultados


Os resultados devem ser apresentados em planta baixa com a locação de
todas as sondagens realizadas (semelhante ao exemplo da Figura 3.1) na es-
cala 1:2.000 ou maior, em perfil longitudinal do subsolo com escala vertical
dez vezes a escala horizontal, e esta 2.000 ou maior. Se o vertedouro não for
isolado, isto é, se existir uma alternativa para ser localizado numa das ombrei-
ras da barragem, estes resultados serão apresentados junto aos resultados da
barragem e da tomada d’água.

3.3 - Ocorrência dos Materiais de Construção


O estudo das ocorrências de materiais terrosos e granulares, para constru-
ção do maciço e obras auxiliares, será iniciado por um simples reconhecimen-
to de toda a área em volta do barramento de modo a localizar possíveis jazi-
das, examinando a qualidade e estimando o volume dos materiais disponíveis.
Estas primeiras informações, juntamente com os demais condicionantes de
projeto, orientarão o projetista na escolha da seção típica da barragem.

• Estimativa do Volume de Material


O volume do material necessário para a construção da barragem pode ser
estimado conforme ilustração da Figura 3.4.

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Figura 3.3 – Planta de localção das sondagens no local do vertedouro

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Figura 3.4 - Estimativa do volume de material

onde:

V= volume aproximado do material da barragem (m3)


A = área da seção máxima da barragem (m2)
L = extensão da barragem pelo coroamento (m)
b = largura do coroamento (m)
A = (b+2Hb)xHb
onde:
Hb = altura máxima da barragem (m)

O volume de material a ser pesquisado deve ser o dobro do volume apro-


ximado da barragem.
• Reconhecimento
Constitui-se de uma inspeção em toda a área ao redor da barragem visando
a identificar os possíveis locais de exploração de materiais, feita com auxílio
de pessoal residente na região, que fornece as informações do tipo - sítios pre-
feridos para plantações, locais de vegetação mais densa, etc. - necessárias para
localização das jazidas mais próximas, de acesso viável para a exploração que
se pretende, e em quantidades suficientes para a construção do maciço.
Os locais prioritários nesta busca são as formações areno-argilosas exis-
tentes na área a ser inundada pelo futuro reservatório, isto é, dentro da bacia
hidráulica.

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Observações do perfil de cortes das estradas, ocorrências de pedreiras, pro-


fundidade média do lençol e espessura do aluvião do leito do rio a partir do
nível dos poços d’água abertos no período de estiagem, devem ser anotadas.
• Escolha dos Locais
Após o diagnóstico da área, realizado na fase de reconhecimento, são ca-
dastradas todas as ocorrências com dados de volume disponível, distância
em relação ao eixo do barramento e descrição sumária de suas características
táctil-visuais. A partir destas informações é feita a seleção dos locais mais
favoráveis à exploração, os quais serão estudados de
maneira detalhada.
• Estudo das Jazidas
Para o detalhamento das jazidas de materiais areno-argilosos, serão exe-
cutadas sondagens à pá e picareta, ou a trado quando for mais conveniente,
nos vértices de uma malha quadrada, com lados de 100m, de picadas abertas
à foice, que devem cobrir toda a área da jazida, de modo a definir a espessura
da camada de solo aproveitável.
Os volumes disponíveis de materiais arenosos e pétreos para a construção
de filtros e enrocamentos, e para a produção de agregados para concreto, po-
dem ser estimados através de observações em seus locais de ocorrência.
• Escolha dos Poços Representativos
Após a inspeção de todos os poços, são selecionados aqueles representa-
tivos de materiais apropriados para a construção do maciço, considerados os
aspectos qualitativos.
O resultado desta triagem é apresentado numa planta com a locação dos
mesmos, o que permite a definição da área de ocorrência do material (Figura
3.5). Como a espessura da camada de solo já foi determinada, tem-se assim o
volume de material disponível por jazida estudada.
• Coleta de Amostras
Dos poços selecionados na fase anterior, colhem-se amostras pararealização
de ensaios de granulometria e, dos limites de liquidez e plasticidade para bem
caracterizar o solo e pérmitir sua classificação. Serão ainda realizados ensaios
de compactação para definir a umidade ótima e massa específica seca máxima,
que irão orientar, por ocasião da construção da barragem, a compactação. Se-
rão colhidas também amos¬tras representativas dos materiais arenosos para
realização de ensaios de granulometria e determinação de índices de vazios,
mínimos e máximos, que irão ser usados como parâmetros de referência du-
rante a construção, na determinação da densidade relativa. Tambem serão
co¬letadas amostras do material pétreo, para realização de ensaios de abrasão
Los Angeles, com o objetivo de verificar sua resistência ao desgaste.

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Figura 3.5 – Detalhamento da jazida

• Classificação dos Solos


A classificação dos solos tem em vista grupá-los em classes de proprieda-
des geotécnicas aproximadamente iguais, de modo que, sim¬plesmente pela
classificação, seja possível prever o seu comportamento. De todas as classi-
ficações existentes, o Sistema Unificado de Classifi¬cação dos Solos (USC -
Unified Soil Classification), cujos critérios de classificação tomam corno base
a granulometria dos solos granulares e a plasticidade dos solos finos, é o mais
útil ao engenheiro que se dedica ao projeto e à construção de barragens. O
procedimento de enquadramento dos solos na use pode ser feito através da
Tabela 3.1, com O auxílio do fluxograma da Figura 3.6. Uma estimativa em
termos quantitativos e qualitativos das propriedades dos solos pode ser obtida
a partir das Tabelas 3.2 e 3.3 apresentadas a seguir.

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Figura 3.6 - Fluxograma para classificação dos solos
Tabela 3.1 - Classificação unificada de solos
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

- Apresentação dos Resultados


O resultado dos estudos das áreas de empréstimos é apresentado numa
planta geral de localização de todas as ocorrências, com o balanço dos mate-
riais disponíveis, distância média de transporte e tipo de material predomi-
nante em cada jazida. As pedreiras e os areais são locados com indicação da
quantidade disponível e distância relativa ao eixo do barramento,Um exem-
plo destes resultados é apresentado na Figura 3.7.

Figura 3.7 - Planta de localização das ocorrências

Tabela 3.2 - Propriedades dos Solos - Aspectos Qualitativos


Propriedades Médias dos Solos
Resistência ao Resistência ao
Tipo de Solo Permeabilidade Trabalhabilidade
“Piping” Cisalhamento
GW Permeável Alta Muito alta Muito boa
GP Permeável a muito permeável Alta a média Alta Muito boa
GM Semi- permeável Alta a média Alta Muito boa
GC impermeável Alta a média Alta Muito boa
SW Permeável Alta Muito alta Muito boa
SP Permeável a semi- permeável Baixa a muito baixa Alta Boa a regular
SM Semi-permeável a impermeável Média a baixa Alta Boa a regular
SC Impermeável Alta Alta a média Boa a regular
ML Impermeável Baixa a muito baixa Média e baixa Regular a muito má
CL Impermeável Alta Média Boa a regular
OL Impermeável Média Baixa Regular a má
MH Muito impermeável Média a alta Baixa Má a muito má

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Tabela 3.3 – Propriedades dos Solos – Aspectos Quantitativos
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes
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4. Projeto do Vertedouro
O projeto do vertedouro engloba o dimensionamento de sua seção e a
escolha do local onde o mesmo será posicionado.

4.1 - Seção do Vertedouro


A partir do valor da descarga máxima secular obtida nos estudos hidroló-
gicos será feito o dimensionamento do vertedouro, do ponto de vista hidráu-
lico, através da fórmula:
Pág. 33

onde:

Pág.
L =38 largura do vertedouro (m)
Qs = descarga máxima secular (m³/s)
H = lâmina máxima (m)
Cd = coeficiente de descarga

O coeficiente de descarga depende das características da soleira do verte-


douro. Para muros vertedouros, é indicado o valor 2,18, para vertedouro em
canal ou muro vertedouro em regime afogado, o valor de Cd é 1,77 e, para
verte douro em canal natural escavado, o valor de Cd é 1,45.
A Figura 4.1 é uma representação nomográfica da fórmula acima, cuja
aplicação é ilustrada nos exemplos seguintes, considerando um valor inter-
mediário para Cd (1,77), arbitrando-se a largura do vertedouro e obtendo-se
a lâmina, ou vice-versa.

Exemplos:
1. Qs = 150m3/s. Fazendo-se L = 60m, resulta H = 1,27 ou aproximada-
mente H = 1,30m

2. Qs = 4Qm3/s. Fazendo-se H = O,70m, resulta L = 39 ou aproximada-


mente L = 40m.

35
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Figura 4.1 – Cálculo de Sangradouro

36
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4.2 - Localização do Vertedouro


A topografia é o principal fator físico na determinação da posição do ver-
tedouro em relação ao barramento. Existindo uma sela topográfica próxima
a uma das ombreiras, o canal deverá ser aí implantado, se as condições da
fundação o permitirem (vide Fig. 4.2). Na inexistência de uma sela, para lo-
calização do vertedouro isolado do maciço de terra, este poderá ser projetado
numa das ombreiras da barragem (vide Figura 4.3).

Figura 4.2 - Vertedouro isolado

Figura 4.3 - Vertedouro junto ao maciço

37
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A escolha da estrutura vertente depende da profundidade da rocha de fun-


dação, conforme ilustram as situações abaixo:
(a) Quando a rocha está a uma profundidade inferior à cota da soleira
toma-se necessário um muro de alvenaria ou concreto, conforme exemplo
abaixo.

Figura 4.4 - Vertedouro em muro de gravidade

Vários tipos de muros de alvenaria são apresentados no Apêndice B.


(b) Quando a rocha está a uma profundidade acima da cota da soleira, o verte
douro se constituirá de um canal escavado na rocha (vide Figura 4.5).

Figura 4.5 - Vertedouro em canal escavado

38
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(c) A situação ideal ocorre com a rocha quase no nível da cota da soleira,
pois a definição da soleira poderá ser feita por um pequeno muro de alve-
naria, conforme figura a seguir.

Figura 4.6 - Cordão de fixação

39
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5. Projeto do Maciço
Com a definição do volume de acumulação do reservatório a partir dos
dados do volume afluente anual, procede-se o dimensionamento do maciço de
uma barragem de terra, conforme roteiro apresentado a seguir:

5.1- Folga
A folga da barragem é a diferença de cota entre o coroamento e o nível
máximo das águas.

(a) cálculo da altura da onda (h) formada pela ação do vento sobre o espe-
lho d’ água do lago:
h = 0,75 + 0,34 Fl/2 - 0,26 F1/4 (m), para F < 18km
h = 0,34 Fl/2 (m), para F > 18km

onde:
Pág. 33
F = distância máxima (em km) em linha reta entre qualquer extremi-
dade do lago e um ponto qualquer sobre o barramento (fetch).

(b) cálculo da velocidade da onda (v) através da fórmula:


v = 1,5 + 2h (m/s)

(c) cálculo
Pág. 38da folga (f)

ou, substituindo os valores de h e v,


f = 1,02 + 0,0232 F - 0,0362 F3/4 + 0,482 F1/2 – 0,354 F1/4, para F < 18km
f = 0,1147 + 0,3640 Fl/2 + 0,0236 F, para F > 18km

5.2 - Cota do Coroamento


A cota do coroamento (c) é obtida por:
c=H+f+s

onde:
H = lâmina máxima de sangria (m)
f = folga (m)
s = cota da soleira

40
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

5.3 - Largura do Coroamento


A largura do coroarnento é calculada pela fórmula de Preece:

pág. 39 Quadro 5.1


Largura do Coroamento
Altura (Hb) Largura (b)

onde: 3,00 2,81


4,00 3,10
bpág.
= largura
40 do coroamento (m) 5,00 3,36
6,00 3,59
Hb = altura da barragem (m)
7,00 3,81
8,00 4,01
sendo: 9,00 4,20
Pág. 41
Hb = (c) - (t) 10,00 4,38
11,00 4,55
onde: 12,00 4,71
13,00 4,87
(c) = cota do coroamento (m)
(t) = cota do talvegue (m) 14,00 5,02
15,00 5,16
É prática adotar-se valores arredondados

5.4 - Inclinação dos Taludes


Os taludes das barragens homogêneas podem ser definidos a partir do
Quadro 5.2.

41
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Quadro 5.2 - Inclinação dos taludes


Sujeito a Classificação dos
Caso Montante Jusante
Esvaziamento Rápido Solos
GW, GP, SW, SP Permeável, não adequado
GC, GM, SC, SM 2,5 : 1 2:1
A NÃO
CL, ML 3:1 2,5 : 1
CH, MH 3,5 : 1 2,5 : 1
GW, GP, SW, SP Permeável, não adequado
GC, GM, SC, SM 3:1 2:1
B SIM
CL, ML 3,5 : 1 2,5 : 1
CH, MH 4:1 2,5 : 1

5.5 - Sistema de Drenagem Interna


Os dispositivos de drenagem interna são projetados com a finalidade de
evitar a saturação do talude do jusante e possível erosão. Para o tipo de barra-
gem objeto do escopo deste livro, o dispositivo mínimo a se adotar é o enro-
camento de pé, cuja metodologia de dimensionamento é a seguinte:
(a) Traçar a superfície freática do maciço seguindo o seguinte roteiro:
(I) Desenhar a seção máxima da barragem (Figura 5.1).

pág. 39

Figura 5. 1 - Seção da Barragem

(II) Determinar
pág. a40equação da parábola básica de Kozeny.

Pág. 41

42
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

pág. 40
O cálculo de yo é feito tomando-se como base o ponto inicial da parábola,
Do, cujas ordenadas de acordo com a Figura 5.1 são x igual a d e y igual a
h. Considerando que o aterro compactado é um meio anisotrópico, e uma
relação média entre as permeabilidades horizontal e vertical igual a nove, é
necessário fazer a transformação de uma das ordenadas.
Pág. 41 a transformação no eixo horizontal, tem-se:
Fazendo-se

onde:
xt = abcissa transformada
x = abcissa real
kx = permeabilidade na direção horizontal
ky = permeabilidade na direção vertical
assim:

logo:

(III) Traçar a parábola básica na seção máxima.


Do cálculo de yo, a partir da equação anterior, pode reescrever-se a equação
da parábola básica com y em função de x, na forma:

E, assim, determinar as coordenadas necessárias para o traçado da superfí-


cie freática. Para se obter diretamente as coordenadas da superfície freática da
seção real, é necessário a conversão dos valores de xt, que serão transformados
para seus valores reais, o que pode ser obtido com o preenchimento dos espa-
ços da tabela.

43
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onde as duas últimas linhas representam as ordenadas reais da parábola


básica de Kozeny.
(IV) Desenhar a superfície freática.
A representação gráfica do passo anterior necessita de correções na entra-
da e na saída da linha freática encontrada, para se obter uma representação
gráfica definitiva da superfície freática, o que deve ser feito de acordo com os
critérios de A. Casagrande.
A Figura 5.2 mostra como é feita a correção da saída da linha freática.

Figura 5.2 - Superfície Freática

Figura 5.3 - Correção na saída, conforme A. Casagrande

A relação é determinada a partir do ângulo que o maciço forma com


a horizontal, na região de descarga, para o meio de maior permeabilidade.

44
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Para o exemplo da Figura 5.2 onde tem-se uma declividade do encontro


do maciço com o dreno de pé de 1:1, _ é igual a 135°. Entrando-se com este
valor no diagrama da Figura 5.3, obtém-se o valor para a relação que
para o exemplo é de 0,16.
Conhecendo-se a + a = AB da Figura 5.2 determina-se a=BC. O ponto
C da Figura 5.2 é o ponto de surgência da superfície freática real, de acordo
com Arthur Casagrande.
A correção do traçado da entrada da linha freática no maciço é apresentada
na Figura 5.4

Figura 5.4 - Correção na entrada

(b) Cálculo da descarga através do maciço:

onde:
Qb= descarga através do maciço (m3/s)
Kx = permeabilidade na direção horizontal (m/s)
Ky = permeabilidade na direção vertical (m/s)
yo = ordenada do ponto focal da parábola básica que define
a superfície freática.

(c) Definição da altura do enrocamento de pé.


O dimensionamento conforme os itens precedentes permite, de forma ite-
rativa, a definição da altura do enrocamento de pé, repetindo-se os itens (a)
e (b) para um (d) novo sistema de coordenadas (x,y) localizado numa posição
arbitrária onde se inicia o enrocamento de pé. A altura ideal será aquela em
que o ponto C da Figura 5.2 caia dentro do enrocamento. O Quadro a seguir
apresenta alturas do enrocamento de pé para barragens de 8 a 15 metros de
altura, onde se adotou uma margem de segurança de tal forma que, a saída

45
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da superfície freática se dá no limite superior do desenvolvimento da face de


montante do enrocamento (Figura 5.5).

Figura 5.5 - Altura mínima do enrocamento de pé

Quadro 5.3 - Altura mínima do enrocamento de pé

46
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(d) Detalhamento do enrocamento de pé.


Na Figura 5.6 a seguir é apresentado um detalhe do enrocamento de pé
normalmente usado em pequenas barragens.

Figura 5.6 - Detalhe do enrocamento de pé

5.6 - Proteção do Talude de Montante


A proteção do talude de montante, contra o efeito erosivo das ondas do
lago, é feita com um empedramento da superfície do talude (rip-rap), com
dimensões compatíveis com os esforços atuantes. O roteiro para dimensiona-
mento do rip-rap é apresentado a seguir:
(a) Dimensionamento do rip-rap
A espessura do rip-rap é função da velocidade da onda, e conseqüente-
mente do fetch, que é o maior comprimento em linha reta, a partir da barra-
gem sobre a superfície do reservatório.
O Tennessee Valley Authority (TVA) recomenda o dimensio¬namento
do rip-rap, através da fórmula:

onde:
e = espessura do rip-rap (m)
C = coeficiente, função da inclinação do talude e da densidade da rocha.
vo = velocidade das ondas (m/s) (vide cálculo da folga)

Os blocos empregados na construção do rip-rap devem ter no mínimo


50% de pedras com peso igual a:
P = 0,52 e3

47
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onde:
P = peso do bloco (t)
= densidade da rocha
e = espessura do rip-rap (m)
O Quadro 5.4 fornece valores para espessura de composição do rip-rap
para os taludes e densidades mais comuns, em função do fetch.
5.4 - Espessura do rip-rap

(b) Detalhamento do rip-rap


O rip-rap deve ser assentado sobre uma transição de areia e pedregu-
lho, sendo este último material com 85% dos grãos com tamanho maior que
2,54cm, que fará a transição entre os blocos de rocha e o solo compactado do
maciço. A espessura mínima da camada de transição é de 0,30m, podendo
adotar-se uma espessura de até metade da espessura do rip-rap. Um exemplo
de representação do rip-rap é apresentado na Figura 5.7.

Figura 5.7 - Detalhamento do rip-rap

48
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5.7 - Proteção do Talude de Jusante


O talude de jusante deverá ser protegido contra a ação erosiva das águas
de chuva sobre o mesmo. Esta proteção poderá ser idêntica à de montante
(rip-rap), que neste caso poderá ser feita com pedregulhos ou seixos rolados,
quando disponível nas proximidades da obra’ e, em camadas mínimas de
30cm. Outro tipo de proteção adotada é o plantio de gramínea ou salsa.

49
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6. Projeto da Tomada d’Água


Tomadas d’água são as aberturas através das quais se retira água acumula-
da na barragem para os fins previstos em seu projeto. Normalmente, a tomada
d’água é constituída de uma tubulação que atravessa o maciço no sentido
montante jusante e recebe a denominação de galeria (ver Figura 6.1)

Figura 6.1 - Galeria

No caso de pequeno açude, a tomada d’água pode ser projetada em sifão,


com a tubulação disposta sobre o maciço da barragem conforme indicada na
Figura 6.2.

Figura 6.2 - Sifão

De acordo com as normas da Divisão Técnica da antiga IFOCS (Inspetoria


Federal de Obras Contra as Secas), consagrada pelo uso, estima-se a vazão a
transitar pela tomada d’água do pequeno açude pela fórmula:
Q=0,8A

50
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onde:
Q = vazão (litros/segundo)
A = área a irrigar em hectares. Se 0,8A < 30 litros/s, tomar para vazão
de cálculo, o valor de 30 litros/s. A área a irrigar é estimada em função
das características do açude, pela expressão:

(2)

onde:
Va = capacidade do açude na cota de sangria (m3)
Vp = volume morto ou reserva intangível = volume do porão (m3)
2,4 = altura média de evaporação anual nos espelhos d’água dos açudes
no Nordeste (m)
8.000 = dose bruta média de irrigação, função da cultura (m3/semestre)

O volume morto ou volume do porão, era estabelecido pelas normas da


antiga IFOCS como um volume mínimo mantido por razões de higiene ou
para a salva guarda da vida dos peixes. Este volume é definido pela cota do
reservatório (cota do porão - p) a partir da qual é suspensa a liberação de água
pela tomada d’água.

Segundo as antigas instruções da IFOCS deve-se observar as seguintes


condições:
p-f = 4m h<10m (3)
p - t = 5m 10m <h < 12m (4)
p - t = 6m h > 12m (5)

51
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Figura 6.3 - Perfil longitudinal da barragem

onde:
p = cota do porão
t = cota do talvegue
s = cota da soleira do sangradouro
c = cota do coroamento
h = profundidade máxima do açude
Hb = altura máxima da barragem
R = revanche
h= s–t (6)
Hb = c – t (7)
Hp = p – t (8)

Para minimizar despesas, as antigas normas da IFOCS fixavam critérios para


se escolher a tomada d’água de um pequeno açude: se galeria ou sifão.

h < 10m hp = 4 m sifão (9)


h<l1m hp = 5 m sifão (10)
h < 12 m hp = 6 m sifão (11)
h > 12 m hp = 6 m galeria (12)

52
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6.1 - Galeria
Galeria é a tubulação de diâmetro interno D que atravessa o maciço da bar-
ragem para conduzir água, de montante para jusante.

Figura 6.4 - Seção da galeria

Conforme se sabe da hidráulica, os encanamentos podem ser classificados


como longos ou curtos segundo se possa, ou não, respectivamente, desprezar as
perdas de carga acidentais. Uma perda de carga acidental pode ser expressa por:

(13)

onde:
∆ha = perda de carga (m)
v = velocidade média na tubulação (m/ s)
g = aceleração da gravidade (9 ,81m/ s2)
K = coeficiente que se obtém na tabela abaixo, transcrita do Manual
de Hidráulica de J. M. de Azevedo Neto.

53
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Tabela 6.1- Coeficiente de Perda de Carga Localizada


Peça K
Ampliação gradual 0,30
Bocais 2,75
Comporta aberta 2,50
Controlador de vazão 2,50
Cotovelo de 90° 0,90
Cotovelo de 45° 0,75
Crivo 0,40
Curva de 90° 0,20
Curva de 45° 0,10
Curva de 22°30’ 0,10
Entrada normal em canalização 0,50
Entrada de borda 1,00
Junção 0,40
Medidor Venturi 2,50 (*)
Redução adual 0,15 ( ** )
Registro de ângulo, aberto 5,00
Registro de gaveta, aberto 0,20
Registro de globo, aberto 10,00
Saída de canalização 1,00
Tê, passagem direta 0,60
Tê, saída de lado 1,30
Tê, saída bilateral 1,80
Válvula de pé 1,75
Válvula de retenção 2,50

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

De acordo com a expressão de Darcy-Weisbach:

(14)

onde:
∆hf = perda de carga (m)
f = coeficiente de atrito
L= comprimento da tubulação (m)
D= diâmetro interno da tubulação (m)
V= velocidade média (m/s)
g= aceleração da gravidade (9,81m/s²)

Encontra-se a relação entre (13) e (14)

Se < 0,05 podemos desprezar ∆ha


Dimensionar a galeria de um pequeno açude é calcular o seu diâmetro e


a perda de carga entre as seções extremas, em função da descarga, da veloci-
dade e da rugosidade do material de que é feito o tubo.

Marcha de cálculo para o dimensionamento da galeria.

1°) Estimar Q pela fórmula (1), associada à fórmula (2).


2°) Estabelecer o comprimento aproximado L’ da galeria pela fórmula:

L’ = 4 (Hb - hp) + b + 5 (15)

onde:

Hb = c - t (16)
hp = P - t (17)
b = largura do coroamento (m)

55
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Observe-se que a fórmula (15), acima, diz respeito a taludes de montante


e de jusante, ambos com inclinação 2:1 (H:V).
3°) À vista do material de que é feita a tubulação, fixar o valor de K,
usando a tabela transcrita adiante do Manual de Hidráulica de J. M. de
Azevedo Neto.
Tabela 6.2 - Coeficiente de Perda de Carga por Atrito
Material K(m)
Tubos Novos Tubos Usados
Aço galvanizado 1,5 x 10-4 a 2,0 x 10-4 4,6 x 10-3
Aço r.ebatido 10-3 a 3,0 x 10-3 6,0 x 10-3
Aço revestido 4,0 x 10-4 5,0 x 10-4 a 1,2 x 10-3
Aço soldado 4,0 x 10-5 a 6,0 x 10-5 2,4 x 10-3
Ch1Jmbo Liso Liso
Cimento amianto 1,3 x 10 -5
-
Cobre, Latão Liso Liso
Concreto bem acabado 3,0 x 10-4 a 10-3 -
Concreto ordinário 10-3 a 2,0 x 10-3 -
Ferro forjado 4,0 x 10 a 6,0 x 10
-5 -5
2,0 x 10-3

Ferro fundido 2,5 x 10 a 5,0 x 10


-4 -4
3,0 x 10-3 a 5;0 x 10-3
Ferro fundido com 1,2 x 10-4 2,1 x 10-3
revestimento asfáltico
Madeira em aduelas 2,0 x 10-4 a 10-3 -
Manilha cerâmica 6,0 x 10 -4
3,0 x 10-3

Vidro Liso Liso


Plástico Liso Liso

56
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

4°) Arbitrar um valor para a velocidade média (geralmente faz-se v = lm/s).

5°) Calcular o diâmetro:

(18)

6°) Calcular o número de Reynolds:

(19)

Tabela 6.3 - Viscosidade da Água


Viscosidade Cinemática - μ - para Água
T°C x10-6 (m2/s)
0 1,792
2 1,673
4 1,657
6 1,473
8 1,386
10 1,308
12 1,237
14 1,172
16 1,112
18 1,057
20 1,007
22 0,960
24 0,917
26 0,876
28 0,839
30 0,804
32 0,772
34 0,741
36 0,713
38 0686

57
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

7°) Calcular

8°) Do ábaco de Rouse, ou do diagrama de Moody, retirar o valor de f.


(vide Figura 6.7)

9°) Calcular:

10°) Calcular:

11° ) Se podemos desprezar

12°) Fixar a cota da boca de montante de acordo com a expressão:


Cbm = P - 4,5 D (20)

13°) Fixar a cota da boca de jusante de acordo com a expressão:


Cbj = Cbm - (∆ha + ∆hf + 0,5) (21)

14°)Escolher a seção onde será localizada a galeria e medir o valor efetivo
do comprimento da galeria, L. Passa-se, então, a se realizar a verificação.

Verificação - Marcha de Cálculo

1°) calcular: (22)

2° calcular:

3°) Calculado e retirar, do ábaco de Rouse, o valor de f.

4°) calcular: (23)

5°) Se Ql > Q dá-se o cálculo por concluído.


6°) Se Q - Ql > 0,05 Q adotar a bitola comercial do tubo imediatamente
superior e refazer os cálculos.

58
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Exemplo

Figura 6.5 - Seção do exemplo

Hb = 51-35 = 16m
Hp = 41 - 35 = 6m
L’ = 4 (16 - 6) + 6 + 5 = 40 + 6 + 5 = 51m
Q = 301/s; V = lm/s; K=0,003m (ferro fundido)

Do ábaco: f = 0,044

Cálculo de ∆ha

Crivo:

Registro de gaveta:

Saída da canalização:

59
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Assim:

Assim, as perdas acidentais devem ser levadas em consideração. Ademais:

Cbm = p – 4,5 D = 41 – 4,5 x 0,2 = 41 – 0,9 = 40,10


Cbj = 40,1 – (0,68 + 0,50) = 40,1 – 1,18 = 38,92

Verificação
Escolhida a seção, verificou-se que:
L = 51,5m

= 0,0455x106 = 4,55x104

Do ábaco f = 0,045

Como Q1 > Q, D – 8”

6.2 - Sifão
Sifão é uma tubulação disposta sobre o maciço da barragem conforme
indica a Figura 6.6.
Para o cálculo do sifão é necessário, de antemão, conhecer três con-dições
que devem ser cumpridas para que se dê o escoamento.
1ª Condição - A boca de jusante (ou boca de saída) do sifão deve estar
numa cota mais baixa do que a cota do espellio das águas – Ce do açude.

60
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Demonstração:
Aplica-se o teorema de Bemoulli às seções extremas da boca de montante
e da boca de saída:

(24)

(25)

Mas Z1 - Z3 = Cbm - Cbj (26)

P1 = (Ce - Cbm) (pressão relativa na boca de montante)


V1 = 0 (velocidade na entrada do sifão)
V3 = velocidade na boca de saída
P3 = pressão relativa na boca de saída do sifão
∆h13 = perdas de carga (devido ao atrito e singularidades), entre a
entrada e a saída
g = aceleração da gravidade = 9,81m/s2
y = peso específico da água = 10.000 N/m3

Assim:

(27)


(28)

Mas, evidente que:


(29)

(5) então se escreverá:



(30)


Mas, fazendo-se:
c – Cbj = H0 (31)
e c – Ce=H1 (32)

61
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

tem-se:

(33)


(34)

(35)

Para que haja escoamento é necessário que V3 > 0, ou que:

H0 > H1 + ∆h13, isto é


c - Cbj > c - Ce + ∆h13
Ce > Cbj + ∆h13 e, com maior razão
Cbj > Ce (36)
como queríamos demonstrar.

Vale acrescentar que se não se verificasse a condição (36), estaria criado


trabalho sem consumo de energia ou, como se diz na Física, estaria criado o
motu-perpetuo, o que é impossível.

2ª Condição - A diferença de cotas entre o coroamento e o espelho das


águas - para ocorrer o escoamento - não deve ser, teoricamente, superior a
10,33 metros (na prática, 6 metros).

Demonstração:
Aplicando-se o teorema de Bernoulli entre a seção de entrada e o colo do
sifão em 2, pode-se escrever:

(37)

onde Ce – é a cota do espelho d’água, no mínimo igual à cota do porão.

(38)

Como v2 = v3

(39)

62
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

(40)

ou, tendo em vista (32) , chegar-se-á a:

(41)
ou

(42)

Como é essencialmente positivo:

< 10,33 ou tendo a vista (32), com maior razão:



H1 < 10,33 e
c - Ce < 10,33 (43)
como queríamos demonstrar.

3ª Condição: A diferença de cotas entre a do coroamento e a da boca de


jusante ( = boca de saída) deve ser menor do que 10,33 m.

Demonstração:
Aplica-se o teorema de Bemoulli entre o colo do sifão e a seção 3 (Figura 6.6).

(44)

ou

(45)

(46)

De onde
c - Cbj < 10,33 (47)

Como queríamos demonstrar.

63
Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Marcha de cálculo do dimensionamento do sifão.


1°) Fixar a cota do porão, p (cota da reserva intangível).
2°) Estipular (c – p)
3°) Determinar a descarga necessária. Se Q < 10litros/ segundo tomar este
valor de (101/s) para descarga de cálculo.
4º) Admitir v = 1m/s
5°) Calcular
Fórmula
6°) Calcular

7º) Escolher K em função do material a usar no sifão.


8°) Calcular

9°) Com R e tirar f do ábaco de Rouse.

10°) Estipular o comprimento aproximado do sifão por:


L’ = 4 (c – p ) + b + 9, visto como a inclinação dos taludes de montante e
de jusante, são supostos iguais a 2 :1.
11°) Calcular

12º) Se ∆hf + ∆ha < 2 metros o diâmetro achado é aceitável;


Se ∆hf + ∆ha > 2 metros, tomar o diâmetro comercial imedia-tamente
superior e refazer os cálculos.
13°) Determinar: Cbm = p – 4,5D
14°) Determinar: Cbj = Cbm - (∆ha + ∆hf + 0,5)

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

15°) Desenhar o sifão na seção escolhida e determinar o seu comprimento efetivo.


16°)Com D e ∆h = 2 metros, verificar se a vazão está garantida pela mes-
ma marcha de cálculo indicado no item 6.1 deste trabalho.

Figura 6.6 - Detalhe do sifão

Exemplo
c = 51; (c – p) = 6; p = 45

Supor que:
Q = 30/1s

D=8”

Vide exemplo anterior, que, no caso, dá:


f = 0,044 e, como:
L = 4 ‘(51- 45) + 6 + 9-= 39

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

∆ha + ∆hf = 0,44 + 0,14 = 0,58 <2m


Logo, D=8”
Cbm = 45 - 0,9 = 44,10
Cbj = 44,10 - 0,44 - 0,14 - 0,5 = 43,02 = 43

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

7. Quantitativos e Orçamento
Após o detalhamento do projeto da barragem e estruturas auxiliares, faz-
se necessário o levantamento de todos os serviços a executar, para a implan-
tação das obras.
Neste levantamento devem ser adotados alguns fatores de correção no que
diz respeito a maciços e escavações, tais como:

- redução de 10 a 30% (geralmente 15%) do volume de terra, da medição


na escavação na jazida até o aterro compactado;
- expansão de 20 a 40% (geralmente 25%) da rocha de origem, até a co-
locação em rockfill e rip-rap.
A estimativa dos custos dos serviços deve ser feita de acordo com as con-
dições locais, levando-se em conta a aquisição dos materiais e mão-de-obra,
incluídos os encargos trabalhistas, previdenciários e tributos.

Uma planilha de quantitativos é apresentada no APÊNDICE D.

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

8. Especificações Técnicas
A construção de uma barragem de terra compreende as escavações e o pre-
paro das fundações, a execução do maciço de terra compactado, dos filtros e
enrocamentos, das obras de proteção, do sangradouro e da tomada d’água.
As especificações técnicas descrevem de um modo geral, os trabalhos ne-
cessários à execução das obras civis, visando orientar construtores e proprie-
tários durante a construção, definindo as qualidades e características exigidas
para cada serviço, com instruções, recomendações e técnicas requeridas em
cada caso.
No APÊNDICE E encontra-se as especificações técnicas gerais dos princi-
pais serviços a serem executados em uma barragem de terra.

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

9. Avaliação dos Impactos Ambientais


Nos últimos anos tem se acentuado em todo o planeta a preocupação com
uma política que concilie o incremento da demanda das populações e a limi-
tação dos recursos naturais.
O homem e a natureza integrados constituem os sistemas ecológicos. De
um modo geral, observa-se que, à proporção que o homem amplia a rede de
infra-estrutura que promove o seu bem estar, a natureza é agredida e os ecos-
sistemas afetados.
As políticas ambientais tratam dos efeitos que estas estruturas diversas
causam ao seu ambiente adjacente.
A necessidade de armazenar água para usos diversos tem levado o homem
a construir reservatórios de dimensões variadas e, conse-qüentemente, modi-
ficado o ambiente e ecos sistemas onde são localizados. Como as demandas
são crescentes, constitui-se desafio o desenvolvimento de novos métodos de
projeto e construção, que minimize o impacto ambiental sem prejuízo da ex-
ploração das potencialidades disponíveis, ou seja, maximizando os benefícios
das estruturas.
A implantação destas obras é condicionada à elaboração de estudo de im-
pacto ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental -RIMA e, o
projetista e o proprietário devem estar atentos ao que dispõe a legislação per-
tinente.
Em 23 de janeiro de 1986 o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CO-
NAMA), órgão superior e normativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente
(SISNAMA), subordinado à Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA),
com base no Artigo 18 do Decreto n° 88.351, de 1° de junho de 1983, o qual
regulamenta as leis n° 6.938, de 31 de agosto de 1981, e n° 6.902, de 27 de
abril de 1981, promulgou a sua Resolução n° 001 (Diário Oficial de 17 de
fevereiro de 1986), que inclui em seu Artigo 2°, inciso VII, a submissão à
aprovação do RIMA por órgão estadual competente as seguintes estruturas:
obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barra-
gens para fins hidroelétricos, acima de 10 MW, de saneamento ou de irriga-
ção, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de
cursos d’água, abertura de barras e embocaduras, diques.

A Resolução n° 004 do CONAMA, de 18 de setembro de 1985, publica-


da no Diário Oficial de 20 de janeiro de 1986, estabelece:

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

Art. 3° - São Reservas Ecológicas:


............................................................................................................

b) - as florestas e demais formas de vegetação natural situadas:

............................................................................................................

II - ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artifi-


ciais, desde o seu nível mais alto medido horizontalmente em faixa marginal
cuja largura mínima será:
- de 30 (trinta) metros para os que estejam situados em áreas urbanas;
- de 100 (cem) metros para os que estejam em áreas rurais, exceto, os cor-
pos d’água com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será
de 50 (cinqüenta) metros;
- de 100 (cem) metros para as represas hidrelétricas;

............................................................................................................

O projetista de barragens deve estar atento, portanto, ao atendimento à


legislação, quando da definição do cronograma de atividades, bem como, as
condicionantes que possam interferir direta ou indiretamente no meio am-
biente. Citando-se como exemplo, o plano de desmatamento das áreas afe-
tadas pela obra deverá ser apresentado com alternativas de recuperação da
cobertura vegetal primitiva nos locais que não serão inundados.

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Roteiro para Projeto de Pequenos Açudes

10. Bibliografia
1. AGUlAR, F.G. “Estudo Hidrométrico do Nordeste”. Boletim IFOCS.
Jan/mar, Fortaleza, 1939.
2. CADIER, E. et al. Manual do Pequeno Açude. SUDENE, Recife,
1992.
3. CAPUTO, H.P. Mecânica dos Solos e suas Aplicações. Livros Técnicos
e Científicos Editora S.A., Rio de Janeiro, 1962.
4. CARVALHO, L.H. Curso de Barragens de Terra. DNOCS, Fortaleza,
1983.
5. LENCASTRE, A. C. Manual de Hidráulica Geral. Editora Edgard Blu-
cher, São Paulo, 1972.
6. MIRANDA, A. N. “Barragens no Semi-Árido”. Boletim Técnico, Uni-
versidade Federal do Ceará, 1983.
7. MIRANDA, A. N. Investigação Geotécnica de Pequenas Barragens.
NUTEC/UFC,1979.
8. NEVES, E.T. Curso de Hidráulica. Editora Globo S.A., São Paulo,
1960.
9. PIMENTA, C. F. Curso de Hidráulica Geral. Editora Guanabara Dois,
Rio de Janeiro, 1981.
10. SHERARD, J. L. et al. Earth and Earth - Rock Dams. John Wlley
and Sons. Inc., 1963.
11. TERZAGHI, K., PECK, R. B. Mecânica dos Solos na Prática da En-
genharia. A o
Livro Técnico S.A. Rio de Janeiro, 1962.
12. U. S. Bureau of Rec1amation. Design of Small Dams. Denver, Colo-
rado, 1987.
13. VIElRA, V.P.P.B., GOUVEIA NETO, A. Roteiro para Projeto de
Pequenos Açudes. DNOCS, Fortaleza, 1983.

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tabela

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