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2. DRENAGEM SUPERFICIAL
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Drenagem como Instrumento de Dessalinização e
Prevenção da Salinização de Solos
A declividade geral da bacia é dada pela fórmula S Os projetos de drenagem superficial são conce-
= H/L. bidos geralmente para tempo de recorrência
superiores a 5 anos. A decisão quanto ao período
Outra fórmula recomendada, por levar em de recorrência de uma determinada chuva deveria
consideração a altitude média da bacia, é a de ser feita em função de um balanço econômico entre
Giandotti, a seguir: os prejuízos anuais previstos, provenientes de
perdas agrícolas e danos a estruturas e os custos
anuais de escavação de drenos e construção de
S = superfície da bacia – Km2 estruturas de maior capacidade.
L = compromento da linha do talvegue – Km
Hm = altitude média da bacia – m
Ho = altitude no final do trecho – m Intensidade máxima de chuva (I)
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Drenagem Superficial
ou curvas, que permitam obter intensidades de Para a conversão das chuvas máximas diárias em
chuvas para diversas durações e freqüências. chuvas com duração entre 6 minutos e 24 horas,
Segundo Torrico, a metodologia a ser adotada é a adota-se a seguinte metodologia.
seguinte:
• Converte-se a chuva de um dia em chuva de 24
• Compilam-se para cada ano os dados das chuvas horas, multiplicando-se a primeira pelo fator 1,10.
máximas diárias dos postos pluviométricos da • Determina-se, através da Figura 1, a isozona na
região do projeto. qual a área do projeto se situa.
• Os projetos que abranjam regiões muito extensas, • Na tabela 1 fixam-se, para a isozona do projeto
com climas diferentes, ou que contenham micro- e para o tempo de recorrência previsto, as
lima, deverão ser subdivididos em sub-regiões. percentagens para 6 minutos e 1 hora.
• Calcula-se, empregando qualquer método • A partir dos percentuais para 1 hora e para 6
estatístico (Hazen, Gumbel, Person, etc.) e, para minutos, obtidos na mesma tabela e da chuva de
cada estação meteorológica, a chuva máxima de 24 horas (100%), calcula-se as alturas de preci-
um dia para o tempo de recorrência desejado. pitação para 6 minutos e para 1 hora.
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Tabela 1-
Valores para converter alturas de chuva de 24 horas
em chuva de 1 hora e chuva de 6 minutos
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Drenagem Superficial
• Delimitam-se, Figura 2, as alturas de chuva para de cada sistema de drenagem. Não é indicado
24 horas, para 1 hora e para 6 minutos de duração. também para que condições da Espanha a fórmula
• Liga-se a seguir os pontos para obter as alturas foi desenvolvida.
de chuva versus duração em horas. Pode-se assim
obter as alturas de chuvas para qualquer tempo de Tendo-se calculado o tempo de concentração (Tc)
duração entre 6 minutos e 24 horas. e tendo-se escolhido o tempo de recorrência
• A partir da altura de chuva e sua duração obtém- desejado (5, 10, 15, 20, 25 anos etc.) que é uma
se a intensidade de precipitação em mm/h. função do risco assumido para a estrutura projetada,
calcula-se com base nos registros de precipitações
Uma outra forma de solucionar o problema é aquele da região a intensidade máxima de chuva em mm/
que consiste em estimar diretamente a intensidade h.
máxima de chuva a partir, segundo Pires (3), de
valores da precipitação máxima diária para o
período de recorrência desejado, o que pode ser Coeficiente de escoamento (c)
feito empregando-se a fórmula:
Este coeficiente depende de vários fatores como
-0,55
I = 2,31p Tc solo, cobertura vegetal, grau de saturação do solo
Onde: e declividade geral da bacia.
I - Intensidade máxima de chuvas (mm/h)
p - Precipitação máxima diária (mm) O ideal é que fosse obtido através de dados
Tc- Tempo de concentração em minutos. experimentais, colhidos na própria bacia ou então
que fosse proveniente de bacias próximas, mas que
Esta fórmula, recomendada por Pizarro para as apresentem condições similares.
condições da Espanha, vem, de acordo com Pires,
dando bons resultados na drenagem de várzeas do É comumente obtido em função de fatores como
Estado de Minas Gerais. O autor, no entanto, não textura predominante da área, declividade geral
apresenta uma análise dos resultados obtidos, da bacia e tipo de cobertura vegetal, utilizando-
considerando as recorrências utilizadas nos se para isso tabelas existentes, como a tabela 2 a
dimensionamentos dos drenos, áreas das bacias seguir:
drenadas e períodos decorridos após a implantação
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Tendo-se obtido os valores de C, I e A, calcula-se dente a uma recorrência igual a 1:2,3 ou aproxima-
a vazão Q empregando-se a fórmula Q = CIA/ damente 1:3 anos.
360. Em função da descarga obtida, dimensiona-
se a obra desejada que pode ser a seção de um Usando esta tabela a seleção da chuva seria feita
dreno, um bueiro ou um outro tipo de estrutura da seguinte maneira:
desejado. N = fn
N = número de anos de registro de chuvas.
Várias outras fórmulas poderão ser usadas para o f = freqüência ou recorrência desejada.
cálculo do escoamento superficial sendo que a es- n = número de ordem, na coluna, de valores anuais
colha desta ou daquela vai depender das informa- decrescentes de chuvas.
ções hidrológicas existentes, da dimensão e forma
fisiográfica da área e do grau de precisão desejado. Exemplo:
DURAÇÃO
(minutos) 5 10 15 30 60 90 120
ORDEM ano prec. ano prec. ano prec. ano prec. ano prec. ano prec. ano prec.
1 1908 21.6 1908 30.5 1908 35.6 1908 43.7 1908 54.6 1908 62.5 1919 75.4
2 1921 19.3 1915 26.4 1915 30.0 1904 49.4 1904 48.8 1915 60.5 1908 66.8
3 1915 18.5 1921 23.6 1904 28.2 1915 34.5 1915 43.2 1904 54.4 1904 59.8
4 1934 18.3 1904 22.4 1921 26.2 1921 31.0 1926 36.8 1921 46.0 1921 53.9
5 1929 16.8 1926 21.3 1926 24.6 1926 30.0 1921 35.6 1926 41.9 1926 46.5
6 1926 15.8 1934 20.3 1934 23.4 1931 28.0 1914 33.8 1914 38.1 1917 41.7
7 1931 13.0 1929 19.8 1929 22.7 1934 26.1 1931 31.8 1931 35.6 1914 39.4
8 1904 11.4 1931 17.3 1931 20.8 1929 25.7 1934 30.5 1917 34.5 1931 38.4
9 1917 9.1 1911 13.2 1911 17.0 1911 24.1 1929 29.0 1934 34.0 1934 37.1
10 1914 7.1 1917 13.0 1917 15.8 1917 21.1 1911 28.2 1929 32.3 1929 35.8
11 1911 5.3 1914 8.9 1914 12.7 1914 20.1 1917 27.7 1911 31.2 1911 34.0
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Drenagem Superficial
Muitas vezes são preparadas tabelas que apresen- curvas estão correlacionadas as alturas de
tam os valores de precipitação de uma dada região, precipitação, em milímetros, com as durações e
em mm/h, em função do período de retorno e do os tempos de recorrência.
tempo de concentração (ver Tabela 4) . Neste caso
basta determinar o tempo de concentração e Também são apresentadas fórmulas empíricas e
assumir qual o período de retorno desejado para tabelas que visam definir precipitações máximas
obter-se intensidade de precipitação diretamente em função da duração e do tempo de recorrência.
em mm/h.
Uma outra fórmula e que é bastante utilizada nos
Para algumas áreas existem curvas como aquela Estados Unidos, é a fórmula Cypress Creek (10).
da Figura 3, que correlacionam a precipitação,
em milímetros, com a duração em horas, para 2.1.2. Fórmula Cypress-Creek
determinadas curvas de recorrência. Neste caso, Q = 0,00028 C A5/6
após estimar-se a duração da chuva, entra-se no Q = descarga (m3/se g.)
gráfico e acha-se a altura da lâmina d’água A = área da bacia (ha)
precipitada para a duração considerada; a seguir, C = coeficiente que engloba características de solo,
calcula-se a precipitação ou intensidade (I) de cobertura vegetal, declividade e condições de
precipitação em mm/h. precipitação.
A obra intitulada "Chuvas Intensas no Brasil" de O valor "C" pode ser obtido diretamente na área a
autoria do Engenheiro Otto Pfafstetter (4) apresenta ser drenada ou nas imediações desta.
grande quantidade de curvas provenientes de
leitura de pluviógrafos de postos de serviços de Para obter-se o valor desejado é preciso que
meteorologia do Ministério da Agricultura. Nas existam bueiros ou pontilhões sob estradas ou
Tabela 4 -
Intensidade de precipitação em mm/h para o posto " x " em função
do tempo de concentração e período de retorno.
TEMPO DE
CONCENTRAÇÃO PERÍODO DE RETORNO (ANOS)
(MIN.)
2 5 10 15 20 25 50 75 100
5 123,6 159,0 182,4 195,4 202,8 221,8 233,4 246,0 255,0
10 102,0 127,8 144,6 154,2 160,2 167,4 182,4 191,4 198,6
15 85,8 110,4 126,6 136,2 141,6 147,6 162,6 171,6 177,6
20 76,2 98,4 112,8 121,8 126,0 131,4 144,6 153,0 158,6
25 67,2 86,4 99,0 106,2 110,4 114,6 126,6 133,8 138,6
30 61,2 78,0 89,4 96,0 99,6 103,8 114,6 120,6 124,8
40 51,6 66,6 76,2 81,6 85,2 88,8 97,8 103,2 106,8
50 45,0 58,2 67,2 72,6 75,0 78,6 87,0 91,8 95,4
60 39,6 52,8 61,2 66,0 69,0 72,6 80,4 85,2 88,8
75 32,4 43,2 50,4 54,6 57,0 60,0 66,6 70,8 73,2
90 27,6 37,2 43,2 46,8 48,6 51,0 57,0 60,0 62,4
105 24,0 31,8 37,2 40,2 42,0 43,8 48,6 51,6 54,0
120 21,6 28,2 33,0 35,4 37,2 39,0 43,2 45,6 47,4
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Drenagem como Instrumento de Dessalinização e
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Fig.3: Curva de altura - duração -frequência de chuvas para o posto meteorológico de piaçabuçu
canais, e que se disponha de plantas topográficas sistema de drenagem superficial do projeto Senador
para delas obter-se as áreas das bacias que Nilo Coelho- Petrolina - Pe, com área de 25.000 ha.
contribuem para cada ponto de deságüe. De posse
desses valores, adicionados do conhecimento, A partir de estimativas de vazões máximas
mesmo que aproximado, do tempo de existência ocorridas em bueiros de estradas que cortam a área,
de cada estrutura e após obter-se informações, na observando marcas de nível d’água deixados, foi
área, sobre o funcionamento de cada estrutura possível obter um valor "C" razoavelmente
considerada, se já houve transbordamento, quantas confiável, que no caso foi igual a 35.
vezes e quando, pode-se então determinar o valor
do coeficiente "C" com razoável segurança. 2.1.3. Fórmula de McMath
Q = 0,0091 C i A4/5 S1/5
O valor "C" é empregado para obter-se a descarga Q = vazão (m3/seg.)
máxima para determinada recorrência. Só pode C = coeficiente de escoamento de McMath
ser extrapolado para áreas que apresentem i = intensidade de chuvas (mm/h)
condições de solo, topografia e clima semelhantes. A = área da bacia (ha)
S = declividade no talvegue principal = metro/metro
O Serviço de Conservação de Solos dos Estados
Unidos apresenta uma série de tabelas e curvas Na tabela 5 são apresentados os coeficientes de
que visam a obtenção do coeficiente desejado. McMath, sendo o valor "C" a soma dos três coefi-
Para fazer uso das curvas precisa-se, no entanto, cientes selecionados para caracterizar a bacia.
de uma série de informações que geralmente não
existem em nossas condições, o que limita entre Esta fórmula foi obtida em função da fórmula
nós o uso da fórmula. racional, sendo que o valor da intensidade de
chuvas é obtido da mesma forma que para a fórmula
Esta fórmula foi utilizada no cálculo de vazões do citada. Possui um fator de redução de área que
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Drenagem Superficial
evita um aumento linear e irreal das vazões em pela CODEVASF para bacias de contribuição
função da áreas de contribuição. maiores que 50 ha.
2.1.4. Cálculo da vazão de escoamento superficial O fluxograma da figura 4 abaixo indica como
pelo método das curvas-número proceder no uso do método, enquanto que as
É um método prático que aparentemente tem tabelas 6,7,8 orientam como obter os dados
resultado na obtenção de valores confiáveis de necessários para os cálculos de que trata o
escoamento superficial. É o método mais utilizado fluxograma.
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Drenagem como Instrumento de Dessalinização e
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Tabela 6
Dados da Bacia
Grupos de solo segundo o potencial de escoamento superficial (*)
GRUPO CARACTERÍSTICAS
(*) segundo Schwab et al. Soil and water conservation engineering - pag 105
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Drenagem Superficial
Tabela 7
Curvas-número (cn) representando escoamento superficial para as condições de solo, cobertura vegetal
e umidade abaixo apresentadas (condições de umidade ii e ia = 0,2 S) (*)
(*) Segundo Shwab et al. Soil and water conservation engeneering - pag. 104
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Drenagem como Instrumento de Dessalinização e
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Tabela 8 -
Fatores de conversão de curvas-número para as condições I e III para Ia = 0,2 S (*)
(*) segundo Schwab et al. Soil and water conservation engineering - pag 106
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Drenagem Superficial
• Vazão do dreno
Q= C A5/6 x 10-3 = 9,8 x 10.0005/6 x 10-3= 21,1m3/s
•A vazão neste caso pode também ser estimada
da seguinte forma:
b) Fórmula Cypress - Creek
Q = 0,01 A5/6
Q = 0,01 (10.000)5/6 = 21,5m3/s
Q = 21,5m3/s
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Neste caso o método racional pode ser usado para Na Figura 5 é apresentado desenho esquemático
áreas maiores que 50 ha, desde que haja segurança de dreno trapezoidal, onde:
quanto ao cálculo estimativo da lâmina de chuvas
do período considerado, mesmo ocorrendo chuvas
convectivas que geralmente cobrem áreas
pequenas.
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climáticas e de solo, as paredes dos drenos se 3 - PIRES, Elias Teixeira. Informações mínimas para
mantém parcialmente desnudas ou desprotegidas drenagem de várzea. Belo Horizonte:
por longos períodos de tempo, o que facilita a EMATER (MG), 1982. 30p.
erosão de seus taludes.
4- PFAFSTETTER, Otto. Chuvas intensas no Brasil;
O plantio de gramíneas ou leguminosas de relação entre precipitação, duração e
pequeno porte em taludes de drenos, com fins de freqüência de chuvas com pluviógrafos. SP:
protegê-los, não tem sido feito até o momento em DNOS, 1975.419 p. il.
nosso país por ser uma prática muito onerosa,
mesmo sendo empregado o processo da hidros- 5- RHODIA S.A. Drenos; princípios básicos e
semeadura. sistemas drenantes. São Paulo: 1978. 64 p.
il.
O problema de proteção de taludes se torna mais
necessário em áreas onde há predominância de 6- SCHWAB, Glenn O. et al. Precipitation. In:
argila expansiva tipo 2:1 (Teor de argila natural SOIL AND WATER CONSERVATION ENGI-
baixo). NEERING. 2ed. New York: John Wiley & Sons,
1966.
Em casos como esses, tudo indica que a melhor
opção é proteger as paredes do dreno, imedia- 7- TABORGA, JAIME JOSÉ TORRICO. Práticas Hi-
tamente após a sua escavação, por meio do plantio drológicas. Rio de Janeiro: TRANSCON,
de vegetação apropriada. 1974. 120p.
Quanto a limpeza de vegetação, é geralmente feita 8- TEIXEIRA, Antônio Libânio. Cálculo estimativo
manualmente através de roçagem. Esta deveria, de hidrograma de cheia. Belo Horizonte:
para drenos de seções maiores, ser sempre feita 1969. 14 p. il.
com o emprego de máquinas apropriadas,
constituídas de ceifadeira hidráulica de braço 9- USDA BUREC. Drainage manual; a water
móvel e ajustável, acoplada a trator de roda, que resources technical publication. Denver:
poderia roçar não só as paredes como também o 1978. 268 p. i l.
fundo do dreno.
10- U.S. DEPARTAMENT OF AGRICULTURE. Soil
No caso de desassoreamento, este também pode conservation service; drainage of agri-
ser feito manualmente, para drenos pequenos, ou cultural land. Washington: 1971 1v. il.
mecanicamente para drenos maiores sempre que (National engineering handbook, section 16).
a operação for julgada necessária.
11-VILLELA, Swami M., MATTO, Arthur. Hidrolo-
gia aplicada. São Paulo McGraw-Hill do
Bibliografia Brasil, 1975. 245p. il.
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