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Capítulo
18
Estimativa de vazões máximas com
base na chuva
B
acias hidrográficas pequenas, como as existentes em áreas urbanas, raramente
têm dados observados de vazão e nível de água. Assim, a estimativa de vazões
extremas nestas bacias não pode ser feita usando os métodos estatísticos
tradicionais, como os apresentados no capítulo 14. Para contornar este
problema, costuma-se utilizar métodos de estimativa de vazões máximas a partir das
características locais das chuvas intensas.
Chuvas de projeto
Os métodos de estimativa de vazões máximas a partir das chuvas podem ser aplicados
com eventos de chuva observados, mas é mais freqüente a sua aplicação com eventos
idealizados, denominados chuvas de projeto.
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Chuvas de projeto são normalmente obtidas a partir das curvas IDF de pluviógrafos
ou a partir de dados de pluviômetros desagregados para durações menores do que um
dia.
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Na ausência de curvas IDF para locais próximos à bacia em análise, pode-se recorrer à
análise estatística de dados de chuva de pluviômetros, coletados em intervalo de tempo
diário. A partir destes dados é possível obter estimativas de chuvas intensas de 1 dia de
duração com tempos de retorno de 2, 5, 10, 50, ... anos usando técnicas semelhantes às
aplicadas para estimativa de vazões máximas apresentadas no capítulo 14. As chuvas
intensas de 1 dia de duração são, posteriormente, desagregadas para durações inferiores
a 1 dia usando relações de altura pluviométrica entre durações consideradas típicas para
uma região. Estas relações são obtidas a partir de dados de pluviógrafos. A tabela a
seguir apresenta valores de relações entre durações que podem ser utilizados caso não
existam dados de curva IDF.
Tabela 18. 2: Relações de altura de chuva entre durações sugeridas pela CETESB para o Brasil, segundo Tucci (1993).
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A chuva máxima para um dado tempo de retorno e tempo de duração pode ser
estimada usando dados de chuva máxima de 1 dia de duração e a tabela anterior. Por
exemplo, supondo que a chuva máxima anual com tempo de retorno de 10 anos e 1
dia de duração em um determinado local, obtida a partir dos dados de um pluviômetro,
seja 120 mm. Para estimar a chuva máxima com 30 minutos de duração neste local
podemos usar as relações da seguinte forma:
Por outro lado, na geração de chuvas de projeto mais longas, tipicamente utilizadas em
cálculos de vazões baseadas no método do hidrograma unitário, normalmente
considera-se que a intensidade da chuva varia ao longo do evento de projeto. Existem
vários métodos para criar uma distribuição temporal para chuvas de projeto, e nenhum
deles tem uma fundamentação mais profunda. Um método freqüentemente utilizado é
conhecido como método dos blocos alternados (Chow et al., 1988).
O método dos blocos alternados para definir a distribuição temporal das chuvas de
projeto está baseado no uso de uma curva IDF para diferentes durações de chuva,
menores do que a duração total da chuva de projeto. Por exemplo, considere que a
chuva de projeto deve ter uma duração total de 120 minutos, e que será dividida em 6
intervalos de 20 minutos. Se considerarmos o tempo de retorno de 10 anos e a curva
IDF do 8º. Distrito de Meteorologia, em Porto Alegre, cuja equação é dada no capítulo
3, temos a seguinte relação entre duração e intensidade: 20 minutos – 102,2 mm.hora-
1; 40 minutos – 67,4 mm.hora-1; 60 minutos – 51 mm.hora-1; 80 minutos – 41,4
mm.hora-1; 100 minutos – 35,0 mm.hora-1; 120 minutos – 30,4 mm.hora-1.
A altura total de chuva para cada duração é obtida multiplicando a intensidade pela
duração, e a altura incremental para cada intervalo de 20 minutos é dada pela subtração
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entre a altura total para uma dada duração total menos o total da duração anterior,
como pode ser observado na tabela que segue.
Tabela 18. 3: Exemplo de elaboração de chuva de projeto a partir da curva IDF (primeira parte).
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Tabela 18. 5: Blocos de chuva de 20 minutos de duração reorganizados pelo método dos blocos alternados.
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Figura 18. 3: Fator de redução da chuva de projeto de acordo com a área da bacia e a duração da chuva – as linhas pretas foram
obtidas em 1958 para algumas regiões dos EUA com base em dados de pluviógrafos e as linhas cinza foram obtidas a partir de dados
de radar.
Em bacias pequenas, com chuvas de curta duração, pode ser adotado o hidrograma
unitário. Já em bacias maiores, com chuvas mais demoradas, ou em casos em que se
deseja, além da vazão máxima, o volume das cheias, é necessário utilizar modelos
baseados no hidrograma unitário.
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Tabela 18. 6: Métodos de cálculo de vazão máxima, pelo Departamento de Esgotos Pluviais de PORTO ALEGRE.
A (ha) MÉTODO
A ≤ 200 Racional
Os limites de área que definem qual método utilizar não são gerais, de modo que cada
órgão governamental define seus limites de acordo com a aplicação. As duas
metodologias (Racional e do Hidrograma Unitário) estão em detalhes a seguir.
C ⋅i ⋅ A
Q= (18.1)
3,6
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Tabela 18. 7: Valores de C (coeficiente de escoamento do método racional) para diferentes superfícies.
Tabela 18. 8: Valores de C (coeficiente de escoamento do método racional) de acordo com a ocupação da bacia.
Zonas C
Centro da cidade densamente construído 0,70 a 0,95
Partes adjacentes ao centro com menor densidade 0,60 a 0,70
Áreas residenciais com poucas superfícies livres 0,50 a 0,60
Áreas residenciais com muitas superfícies livres 0,25 a 0,50
Subúrbios com alguma edificação 0,10 a 0,25
Matas parques e campos de esportes 0,05 a 0,20
A intensidade da chuva é obtida a partir da curva IDF (veja capítulo 3) mais adequada
ao local da bacia. Para obter a intensidade i é preciso definir a duração da chuva e o
tempo de retorno.
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Os passos para obter a vazão máxima com base no hidrograma unitário são detalhados
a seguir:
5. Com base em na curva IDF define-se a chuva de projeto, com duração igual
ao tempo de concentração da bacia, e organizada em blocos alternados, ou
metodologia semelhante.
Estes passos podem ser repetidos para outros tempos de retorno e para outras
condições de ocupação da bacia. A utilização deste método é comum quando se deseja
saber quais serão as vazões máximas em uma bacia num cenário futuro, em que
aumentou a área urbanizada da bacia.
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Exercícios
1) Defina a chuva de projeto de 3 horas de duração e tempo de retorno 5 anos
com base na curva IDF do Aeroporto de Porto Alegre (capítulo 3). Use o
método dos blocos alternados.
2) Estime a vazão máxima de projeto para um galeria de drenagem sob uma rua
numa área comercial de Porto Alegre, densamente construída, cuja bacia tem
área de 35 hectares, comprimento de talvegue de 2 km e diferença de altitude
ao longo do talvegue de 17 m.
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