Você está na página 1de 24

APRESENTAÇÃO ROTEIRO GTD-04

(SEMESTRE DE 2023.2)

NOÇÕES BÁSICAS DE HIDROLOGIA APLICADA À


HIDRELETRICIDADE

Introdução
• Hidrologia é a ciência que trata do estuda da água na natureza. É parte da
Geografia física e abrange, em especial, propriedades, fenômenos e distribuição
da água na atmosfera, na superfície da terra e no subsolo.
• No escopo da disciplina GTD, nosso interesse é sobre a distribuição superficial
da água e seu escoamento nos cursos de água visando um fim específico: a
geração de energia elétrica.
• Os conceitos modernos da utilização dos recursos hídricos indicam que nenhum
curso d’ água deve ser considerado como tendo uma única e específica
finalidade, de forma que seu uso múltiplo deve ser sempre observado.
• O aproveitamento das águas, simultaneamente para a geração de energia
elétrica, navegação, saneamento básico urbano e irrigação agrária, deve ser
considerado sem que, separadamente ou em conjunto, tenham consequências
danosas ao meio ambiente 1
Introdução (continuação)

• O elemento fundamental da Hidrologia é o “ciclo hidrológico”, ou a apresentação em fases distintas e


interdependentes da água, de sua queda nas precipitações e seu retorno à atmosfera em forma de vapor,
compreendendo cinco parcelas distintas:
• parcela que escorre sobre a superfície da terra, indo aos lagos, arroios, rios e mares. É o fluxo escorrente ou
superficial;
• a que se evapora após a chuva e retorna à atmosfera;
• a recolhida pela vegetação, tendo parte que se evapora e parte que escorre pelos galhos e troncos indo ao solo;
• a que é recolhida pelas depressões ou conchas naturais e artificiais da superfície terrestre, tendo parte que se
evapora e parte que se infiltra; e
• a que se infiltra em direção aos lençois freáticos para constituir a descarga básica dos cursos d’água. Todo esse
ciclo é representado na Figura 1, a seguir

Figura 1- Representação do ciclo


hidrológico

2
Introdução (continuação)

• A hidrologia aplicada à geração de energia elétrica objetiva fornecer dados e


métodos para os estudos energéticos de segurança operativa e também para
outros fins. Assim, os estudos das cheias máximas servirão para o
dimensionamento dos extravasores, obras de desvio e operação com risco
controlado do reservatório;
• Os estudos de vazão mínima são importantes para a fixação do número de
grupos geradores, tipo de turbina hidráulica e operação da central hidrelétrica sob
o ponto de vista técnico, econômico e ambiental;
• Todos os estudos dependem do horizonte que se quer estabelecer (curto, médio,
ou longo prazo), estando o risco diretamente ligado a ele;
• Deve-se ter sempre em mente que quaisquer que sejam os métodos utilizados
sempre serão considerados os conjuntos de dados obtidos no passado.
• Os estudos serão desenvolvidos sempre considerando o que ocorreu no período
tomado como base e que este se repetirá em períodos iguais no futuro;
• Como os estudos envolvem tratamentos estatísticos, o período considerado
deverá conter sempre um número grande de dados.
3
I.7.10.1 Pluviometria

• Para os estudos do aproveitamento hídrico destinados à geração de energia, o


ciclo hidrológico deve ser analisado regionalmente em função do tempo, isto é,
necessitamos conhecer a massa de água que cai na região em estudo em função
do tempo, bem como as características da região sob todos os aspectos;

• Essa massa é normalmente medida em altura de precipitação e expressa


em milímetro de coluna de água. Mede-se, assim, a altura da lâmina de água
que cobriria o solo se toda a água caída permanecesse sobre o mesmo, sem
escorrer, infiltrar ou evaporar;

• A lei da precipitação em um ponto determinado é uma função do tempo t,


isto é, hc = f (t), na qual hc é a altura de chuva verificada naquele ponto em um
intervalo de tempo genérico t. A altura hc resulta, pois, crescente com o aumento
do intervalo de tempo de observação;

• Fazendo i = dhc/dt, i representa, em cada instante, a intensidade da chuva


no ponto considerado.

• O tempo t é expresso, em geral, em hora; de modo que a intensidade da


chuva resulte em mm/h. A relação hc/t = im é a medida da intensidade média
da chuva durante o intervalo t. Com efeito, im também é expressa em mm/h.
4
I.7.10.1 Pluviometria (continuação)
• Para medir as precipitações são usados os pluviômetros e os pluviógrafos,
esquematizados na Figura 2, abaixo:

5
Figura 2 - Pluviômetros e pluviógrafo
I.7.10.1 Pluviometria (continuação)

• Os pluviômetros recolhem a chuva, cuja altura é medida com o auxílio de uma


proveta graduada. Uma chuva de volume V e altura hc nos dará, em relação à área
de recepção do aparelho:

V  .D 2
hc  , sendo A 
A 4
 Sendo Di o diâmetro interno da proveta, o volume V de chuva determina uma
altura x [mm] na proveta, calculada por:
πD 2
A=
4

V V 4V 4. A.hc D 2
x     2 .hc
Ai  .Di  .Di  .Di
2 2 2
Di
4

• Fixados Di e D, temos x = f(hc), de forma que, a partir de hc (altura da chuva),


calibramos a proveta de modo que, quando a utilizamos, para cada x obtemos a
altura hc de chuva.
6
I.7.10.1 Pluviometria (continuação)
• Os pluviômetros e pluviógrafos devem ser instalados em campo aberto, a
distâncias não menores que 25 m de quaisquer obstáculos que possam aparar a
chuva, ficar cerca de 1,0 a 1,5 m de altura do solo e devem estar perfeitamente
no prumo;
• Como a chuva é um fenômeno natural, que só pode ser estudado por processos
estatísticos, é necessário que se disponha de dados em grande abundância;
• Uma vez que as intensidades das chuvas são fenômenos locais, as observações de um dos
postos são válidas apenas em regiões restritas, pelo que é necessário dispor de redes de
postos pluviométricos quando o estudo abranger áreas maiores;

• A soma das alturas de precipitações observadas em uma estação durante um ano


representa o total anual para aquela estação;
• Observando-se as alturas totais anuais de chuva verifica-se que elas variam muito de ano
para ano, porém não se trata de um fenômeno evolutivo. Verifica-se, de fato, que elas
oscilam em torno de um valor médio, que é praticamente constante se considerarmos
intervalos de alguns decênios ou intervalos ainda mais longos;
• Nessas condições, definem-se:
• Média mensal: soma das precipitações dos meses correspondentes de cada ano dividida pelo
número de anos;
• Media anual: soma das precipitações dos doze meses de cada ano dividida pelo número de anos.

7
I.7.10.1 Pluviometria (continuação)
• Pode-se, falar em uma altura média anual de precipitação e ver como esta varia de um local para outro.
Variações consideráveis ocorrem, pois são inúmeros os fatores que influenciam as alturas de
precipitações, tais como: latitude, altitude, orografia ( estudo do relevo – montanhas), direção e frequência
dos ventos, posição e distância do mar, entre outros, sendo que, cada um desses fatores pode ser
dominante em cada região. Na Tabela 1 são apresentados os valores médios mensais de precipitação
verificadas em Porto Velho no período de 1961 a 1990. Na Figura 3 são apresentadas as precipitações em
várias cidades, verificadas em 2002.
Tabela 1 – Precipitações médias mensais verificadas em Porto Velho no período de 1961 a 1990
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

346,8 295,7 312,7 205,9 118 38,8 22,6 21,6 86,5 185,3 207,3 332,5

Fonte: Normais climatológicas (1961-1990) – Ministério da Agricultura e Reforma Agrária – Secretaria Nacional de Irrigação,
Departamento Nacional de Meteorologia, 1992

600,00

500,00
Precipitação (mm)

400,00

300,00
200,00

100,00

0,00
Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Porto Velho Ariquemes Ouro Preto Ji-Paraná

Figura 3 - Precipitação nensal verificada em 2002 em algumas cidades de Rondônia 8


Fonte: SEDAM (2003) e CEPLAC/SUPOC/NUPEX-OP (2005)
I.7.10.1 Pluviometria (continuação)
• Os índices das precipitações e seus totais variam de local para local. Portanto, desejando-se conhecer a
chuva em regiões extensas, é necessário efetuar a elaboração dos dados pluviométricos registrados em
todos os pluviômetros da região considerada. Denominamos isoietas as linhas que unem pontos de igual
precipitação ou altura de chuva;

• Podemos, sobre cartas topográficas, traçar isoietas para valores de precipitações máximas, médias e
mínimas, e mesmo totais, considerando períodos diários, semanais, mensais ou anuais. A Figura 4 mostra
uma carta com isoietas contendo os totais anuais para alguns Estados do Brasil.

• No Brasil, as precipitações totais


anuais em pontos localizados variam de
300 mm no Nordeste árido até 8.000
mm na região Amazônica.

Figura 4 - Carta de isoietas totais e anuais


9
Conceitos de bacia hidrográfica, ou imbrífera
• Para a finalidade específicas de geração de energia elétrica, estamos interessados em determinar o
volume de água que, em virtude das precipitações, se torna disponível nos cursos de águas para seu
aproveitamento na geração de energia elétrica;

• Com efeito, designamos como bacia hidrográfica, ou imbrífera, de um curso de água, a área da
superfície do solo capaz de coletar a água das precipitações meteorológicas e conduzi-las a esse rio,
diretamente ou por meio de seus afluentes;

• A bacia hidrográfica, portanto, é definida pelos divisores de água que a circundam. Sua determinação é
feita, em geral, pelas cartas topográficas com curvas de nível nas quais se procuram marcar os espigões;

• Para determinação das bacias imbríferas deve-se considerar sempre áreas à montante do local onde se
analisa o aproveitamento. Sua superfície é também denominada área de drenagem;

• Existem vários fatores ligados à bacia hidrográfica que condicionam o fluxo d’água à seção desejada,
quais sejam:
• área da bacia hidrográfica;
• topologia da bacia: declividade, depressões;
• superfície do solo e condições geológicas: vegetação, cultivos, rochas, camadas geologia (rochas, camadas
geológicas);
• obras de controle e uso d’água a montante: irrigação, retificação do curso d’água, barragens.

• Em uma visão mais simples, a bacia hidrográfica de um rio é formada por toda área de terra que conduz
as precipitações ao mesmo rio e a seus afluentes;

• Pode-se definir bacia hidrográfica para qualquer rio, sendo a mesma tanto menor quanto menos água e
afluentes tiver o rio considerado
10
Vazão em um curso d’água

• Uma característica de um curso d’água, importante para seu aproveitamento adequado,


é o volume de água que passa em uma seção reta do mesmo na unidade de tempo: a
vazão, usualmente medida em m3/s;
• A vazão (Q), em conjunto com a queda d’água disponível em uma seção do rio,
determinará a potência elétrica possível de ser obtida nesse ponto. O aproveitamento
poderá ser melhor utilizado quanto mais se dispor de informações sobre esta vazão;
• Um processo usual para se obter um registro contínuo das vazões em uma determinada
seção de um rio é através do estabelecimento da relação entre os valores da vazão e o
nível d’água e medir, no mesmo instante e na mesma seção, a vazão do curso d’água;
• É possível medir a vazão em pequenos rios utilizando-se um vertedor ou uma calha
medidora aferida em laboratório. Também é utilizado o método dos flutuadores. Em
grandes cursos de água a medição de vazões é realizada com o emprego dos molinetes;
• Obtido o registro das vazões, é possível construir uma curva do nível de água em função
da vazão, ou curva chave, relacionando os níveis d’água no momento da medição com as
respectivas vazões;
• Uma vez obtida a curva chave, pode-se dotar o posto de medição de apenas um medidor
de nível, obtendo-se a vazão através da referida curva;
• Os postos de medição existentes em diversos locais das bacias hidrográficas recebem o
nome de postos fluviométricos.
11
I.7.10.2 - Fluviometria

• A fluviometria trata da determinação da vazão de um curso de água em várias de suas seções durante
um longo tempo;

• Neste sentido, os valores das vazões médias diárias ou mensais podem ser apresentados sob forma de
diagramas tais como as curvas chave, os fluviogramas, as curvas de permanência, as curvas de massa e
outras que colocam em evidência, em cada caso, aspectos distintos do regime do curso de água e
facilitam a compreensão das características da bacia hidrográfica e a solução de problemas específicos,
tais como estudos da regularização das vazões dos rios para os mais variados fins, particularmente para a
hidroeletricidade;

• Denominamos curva-chave, ou de descarga de um rio em uma determinada seção, a curva que contém
como ordenadas as alturas do nível de água e, como abscissas, as respectivas vazões. Ver Figura 5
abaixo:
• A obtenção da curva-chave inicia-se com a medida das
alturas da água para uma determinada seção do rio, a partir
de uma referência prefixada, por exemplo, com auxilio de
uma régua graduada, de um limnímetro ou um limnígrafo
( instrumento para medir o nível dos lagos). Para cada uma
dessas alturas é medida a vazão por um dos processos
normalizados. Essas medições devem ser feitas em épocas
oportunas de modo a permitir o traçado da curva com auxílio
de um grande número de pontos. Uma vez traçada a curva
por pontos podemos, com auxilio de um método apropriado,
Figura 5 - Curva-chave equacioná-Ia.

12
I.7.10.2 - Fluviometria
LINÍGRAFO VERTICAL: Limnígrafo analógico Vertical sistema bóia e contra peso
é destinado ao registro gráfico continuo da medição de níveis d`água para
qualquer amplitude de variação do nível amplamente utilizado em rios,
canais, açudes e reservatórios sendo utilizado como marégrafo.

13
Fluviograma

• Denominamos fluviograma o gráfico que representa as vazões, em uma seção transversal


do rio, em função do tempo. A obtenção desse gráfico parte de leituras diárias feitas em
régua instalada na seção em que se deseja obter o fluviograma para a qual se determinou a
curva chave. Essas leituras devem ser realizadas diariamente, de preferência nos seguintes
horários: 07h30; 13h30 e 17h30;
• A média aritmética das três alturas é a média
diária que permite o traçado de gráficos
semanais, como os da Figura 6, mostrada ao
lado;
• A combinação adequada da curva chave e do
gráfico das alturas permite o traçado do
fluviograma, mostrado na Figura 7, abaixo.
Figura 6 - Registro de alturas médias diárias
do nível de água

Figura 7 - Fluviograma de vazões médias diárias 14


I.7.10.3 – Regularização das vazões

• As vazões naturais dos cursos de água tem uma natureza extremamente variável. As grandes
variações, no entanto, ocorrem em intervalos de tempo maiores, sendo que em um ano podem-se registrar
tanto vazões muito pequenas como muito grandes e, se observarmos períodos de um número razoável de
anos, veremos uma variação ainda maior, com registros de vazões mínimas e também de vazões
enormes, que podem apresentar características catastróficas.
• Nessas condições, será muito difícil projetar um aproveitamento hidráulico pois, se escolhermos turbinas
para vazões iguais às mínimas, grandes quantidades de energia não seriam aproveitadas. Por outro lado,
turbinas dimensionadas para vazões maiores ficariam sem produzir sua capacidade durante longos
períodos.
• Como é, em geral, possível substituir as sucessões de vazões naturais, altamente variáveis, por uma
sucessão de vazões mais regulares, e portanto mais úteis, efetua-se a regularização, ou regulação das
vazões;
• A fim de se efetuar a regularização das vazões de um rio e necessário que se disponha de um
reservatório para acumular a água nos períodos das chuvas e restituí-la, juntamente com as vazões
naturais que chegam ao reservatório, na época das secas;
• Dependendo do volume de água armazenável, ou seja, da capacidade do reservatório, podemos
conseguir uma regulação total, anual ou plurianual, pela qual podemos substituir a sucessão de vazões
naturais anuais ou plurianuais por uma única vazão, constante durante todo o período abrangido;
• Essa regulação, para fins de aproveitamentos hidrelétricos, é a mais conveniente, pois permite um
dimensionamento das turbinas para um melhor aproveitamento da energia hidráulica, que será toda
aproveitada, de forma regular, com um mínimo de potência instalada. Contudo, esse tipo de regulação é
raramente possível, pois requer grandes reservatórios, com inundação de extensas áreas.
15
I.7.10.3 – Regularização das vazões (continuação)

• Com o emprego de reservatórios menores é ainda possível conseguir uma Regulação total.
Nesse caso, não teremos uma única vazão regularizada, porém uma sucessão delas, de
durações variáveis;

• Um aproveitamento integral exige o dimensionamento das máquinas para a maior vazão


regularizada e um fracionamento maior das unidades, pois durante certas épocas as vazões
disponíveis serão bem menores. A central hidrelétrica terá que operar de acordo com um
cronograma plurianual previamente estabelecido;

• Somente um apurado estudo de viabilidade econômica é que poderá indicar qual a potência
a ser instalada, visando primordialmente a obtenção do menor preço por kWh gerado;

• Pode-se, por outro lado, admitir a perda periódica de vazões acima de um máximo
derivável. Esse tipo de regularização é denominado parcial. Em geral, é feito admitindo-se
como certos as perdas de vazões e déficits nas vazões deriváveis em épocas de seca. A
regulação parcial está associada a reservatórios de pequena capacidade;

• Quando as condições locais não permitirem a ocupação de grandes áreas, os volumes


acumuláveis serão pequenos e muitas vezes deveremos contentar-nos com uma
regularização semanal, tirando proveito do fato de aos sábados e domingos o consumo de
energia ser normalmente inferior ao dos demais dias da semana.
16
I.7.10.4 - Regularização das potências – Diagrama de carga

• Para fins de produção de energia elétrica, as centrais hidrelétricas devem


adequar-se as exigências das demandas de potência elétrica dos sistemas em
que serão integradas. Como sabemos, essas demandas variam continuamente,
pois a cada momento cargas elétricas são ligadas e desligadas;
• Se registrarmos em gráficos os valores das demandas totais de potência ativa
em cada instante durante um determinado período de tempo, obteremos um
gráfico P = f(t) denominado diagrama de carga, que pode ser feito para um dia,
uma semana, um mês, um ano, ou para muitos anos;
• De um modo geral, poderemos dizer que um diagrama é válido no momento em
que as medições são feitas, pois as demandas tendem a crescer. Eles variam de
dia para dia da semana. Diagramas mensais variam de acordo com as estações
do ano e dependem da atividade transformadora (certas industrias só operam em
determinadas épocas do ano);
• O diagrama de carga básico é o diário, levantado para um período de 24h. A
variação das potências obedece a um padrão bastante uniforme e típico nos
dias úteis, podendo ser diferente aos sábados, domingos e feriados. As
condições meteorológicas também podem alterar seu padrão, assim como as
estações do ano em virtude da variação do intervalo de tempo em que se utiliza
iluminação. 17
I.7.10.4 - Regularização das potências – Diagrama de carga (Continuação)
A Figura 10 mostra um típico diagrama de carga diário de um sistema elétrico

Figura 10 - Diagrama diária de carga típica

• Distinguimos uma potência máxima Pmáx, comumente chamada ponta


de carga, de uma potência média Pm, correspondente ao valor médio das
potências no período de 24 horas. t


1
Pm  Pdt
t
0
Pm
• Designamos como fator de carga a relação: fc  18
Pmáx
I.7.10.4 - Regularização das potências – Diagrama de carga (Continuação)

• O fator de carga indica o grau de utilização da energia elétrica. Em sistemas altamente industrializados,
com grande número de indústrias de ciclo contínuo, seu valor pode atingir de 0,75 a 0,85 enquanto
sistemas em zonas predominantemente urbanas residenciais e agrícolas seu valor dificilmente atinge 0,5;

• A empresa concessionária deve, evidentemente, atender à demanda da ponta de carga, para o que são
necessárias instalações com potência de geração suficiente;

• Os fatores de carga semanais são influenciados pela presença dos sábados e domingos em que a
demanda diminui consideravelmente, decrescendo, portanto, o valor da demanda media. Isso traz como
consequência uma redução no fator de carga. O fator de carga semanal é menor que o de carga diário;

• Quando as capacidades dos reservatórios são muito pequenas, uma regulação semanal é então feita.
Escolhe-se uma semana de vazões médias e as vazões deriváveis são determinadas tendo-se em vista
que aos sábados e domingos pode haver economia de água, que ficará armazenada para ser turbinada
durante os dias úteis da semana como reforço às vazões naturais;

• Os fatores de carga mensais são aproximadamente semelhantes aos semanais, desde que se refiram ao
mês em que os semanais foram computados. Podem apresentar substanciais diferenças dependendo da
estação do ano e estão sujeitos às influências das variações das atividades econômicas sazonais: numa
zona canavieira (produção de açúcar ou álcool), a demanda média cresce na época das safras (meses de
junho a dezembro na Região Sudeste do Brasil).

• Uma central hidrelétrica deve-se situar no contexto do sistema. Tratando-se de uma central única, ela
deverá, evidentemente, atender a toda a demanda, seja nas horas de pouca carga, seja nas horas de ponta
de carga. Deve possuir, pois, uma potência instalada maior ou igual a Pmax.
19
I.7.10.4 - Regularização das potências – Diagrama de carga (Continuação)

• Admitamos, por exemplo, que a central possua uma vazão regularizada Q que garanta
uma potência firme igual a Pm. Evidentemente, esta será insuficiente para atender à
demanda de valores maiores que Pm se esta for a potência instalada;

• Mas, nas horas de demandas menores, essa vazão não seria integralmente utilizada. É
pois necessário utilizar turbinas com uma potência total maior sem que a utilização do
reservatório seja modificada, pois isso alteraria a regulação do rio;

• O problema ficará resolvido com a instalação de turbinas para uma vazão total:

Q
Qmáx [m 3 / s]
fc
que serão capazes de fornecer a potência Pmáx necessária ao atendimento de toda
demanda, sem falta ou sobra de água;

• Quando a central hidrelétrica faz parte integrante de um grande sistema, e possui um


número razoável de centrais, tanto hidrelétricas como termelétricas, ela pode ser destinada
a desempenhar papéis específicos dentro do conjunto;

• Se voltarmos ao diagrama de carga diário, verificaremos que cabem no mesmo centrais


com regimes de funcionamento diverso, pois podemos separar no diagrama algumas faixas
operativas, como mostra a Figura 11. Na base do diagrama encontramos uma zona (A) de
potência constante Pmin. 20
I.7.10.4 - Regularização das potências – Diagrama de carga (Continuação)

• Como indicado na Fig. 11, podemos


ter centrais para operar com potência
constante. Prestam-se para o serviço de
centrais de base, (A):
a) centrais a fio de água dimensionadas
para Qmin;
b) centrais com reservatórios de
regulação total;
c) centrais térmicas com turbinas a
vapor;
d) centrais termonucleares.

Figura 11 - Zonas de um diagrama de carga

• A segunda zona (B) é aquela de fatores de carga relativamente elevados e poderá ser atendida por
centrais hidrelétricas com regulação parcial;
• A terceira zona (C) é a de fator de carga muito baixo, exigindo potências instaladas relativamente
grandes, porém com um consumo de água relativamente pequeno;
• As zonas (B) e (C) podem ser atendidas também pelas mesmas centrais. O fator de carga é razoável e a
demanda média da vazão pode ser atendida por reservatórios de regulação parcial;
• A zona (D) é a de ponta da carga e a mais desfavorável por sua curta duração. Pode ser atendida por
centrais dos seguintes tipos:
a) centrais térmicas a motor Diesel;
b) centrais térmicas com turbinas a gás;
c) centrais hidrelétricas de recalque, ou reversíveis. 21
I.7.10.4 - Regularização das potências – Diagrama de carga (Continuação)

• A tendência nos sistemas térmicos e mistos (hidrotérmicos) é estender a zona de base do diagrama de
carga a valores maiores de Pmin, como mostra a Fig. 12, gerando-se nas horas de baixa demanda um
excesso de energia que será aproveitado para recalcar água para armazenamento em reservatórios
elevados, que será então turbinada nas horas de ponta de carga. Instalação desse tipo são denominadas
centrais reversíveis, pois as próprias turbinas são operadas como bombas, acionadas pelos geradores, e
estes operados como motores.
• A regulação das potências de cada
central é estabelecida pelo despacho de
carga do sistema que, no entanto, terá de
obedecer ao plano de operação de cada
reservatório, obtido do diagrama das vazões
regularizadas, pois caso contrário, poderá
haver uma subutilização do mesmo ou sua
depleção antecipada;
• Deve-se, no entanto, obedecer a um
plano geral que engloba todos os
reservatórios que devem formar um todo;
• Eventuais excessos de disponibilidades
em uma central podem ser usados para
economia de água em outra, na qual poderá
Figura 12 - Utilização das centrais hidrelétricas reversíveis ocorrer déficit. Principalmente se as centrais
se encontram em regiões de regimes
EXEMPLO: Admitindo-se que a vazão regularizada em pluviométricos diferentes.
uma central hidrelétrica seja de 64 m3/s e o fator de carga
do sistema alimentado igual a 56%, qual deve ser a
vazão das turbinas a serem instaladas? Q 64
SOLUÇÃO: Qmáx    114,3 [ m 3 / s ] 22
fc 0,56
I.7.10.5 - Energia disponível de um aproveitamento hidrelétrico regularizado

• A produção de energia elétrica da central hidrelétrica dependerá, entre outros fatores, da


vazão de água efetivamente usada para produzir energia mecânica que acionará o
gerador elétrico. Essa vazão recebe o nome de vazão turbinável;
• O valor da vazão turbinável e suas características ao longo do tempo estão relacionadas
com o tipo de aproveitamento ( a fio d’água, ou com reservatório), sua regularização (se
existente) e com a utilização da água;
• No aproveitamento, totalmente voltado à produção de energia elétrica, toda a vazão
regularizada poderá ser turbinada;
• Já em um aproveitamento que contemple a irrigação, navegabilidade e geração de
energia elétrica, a vazão turbinável poderá ser apenas parte da vazão regularizada total;

• Um dos parâmetros importantes nos estudos da viabilidade econômica dos


aproveitamentos hidrelétricos é a energia disponível em kWh por ano, além de permitir
uma avaliação de seu custo de produção para as diversas alternativas;

• Podemos definir a energia produzida pela expressão: E  k . Q . H . t [kWh ]


Na qual Q é a vazão regularizada escolhida; H é a altura média da queda no período de
tempo considerado; t é o número de horas no intervalo de tempo considerado; e k é uma
constante, função do sistema de unidades;

23
BIBLIOGRAFIA
• REIS, Lineu Belico dos. Geração de energia elétrica. São Paulo: Tec-Art,
1998.

• SOUZA, Zulcy de; FUCHS, Rubens Dario; SANTOS, Afonso Henriques


Moreira. Centrais hidro e termelétricas. São Paulo: Edgard Blücher,
1983.

24

Você também pode gostar