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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Mestrado em Hidráulica e Recursos Hídricos

Infra-estruturas Hidráulicas
Capítulo 4
Hidráulica de Pontes

Por Jaime Palalane


24 e 25 de Novembro de 2022
Relevância

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Conteúdos
• Critérios de dimensionamento hidrológico
• Períodos de retorno
• Caudal de ponta - Métodos de cálculo
• Hidráulica do escoamento
• Andamento da superfície livre
• Máxima velocidade de escoamento
• Protecção contra erosão em pilares e encontros
• Tipos de erosão
• Cálculo da altura máxima da força de erosão
• Medidas de protecção
• Modelação com o HEC-RAS
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Critérios de dimensionamento
hidrológico

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Problemas
• Conhecimento do caudal afluente a secção da ponte
• Avalicação dos caudais de dimensionamento
• Escoamento influenciado por:
• Factores climáticos: precipitação, evaporação e transpiração
• Factores fisiográficos: características da bacia e características dos cursos de
água

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Caudal de ponta
O que é o caudal de ponta de cheia?
• Caudal instantâneo máximo de uma dada situação de cheia
• Caudal instantâneo máximo para um dada probabilidade de ocorrência
(período de retorno T) Qmax

Porquê calcular o caudal de ponta de cheia?


• Assegurar que o risco de galgamento de infra-estruturas ou de inundação
de áreas ribeirinhas é admissível.
Menor risco → menor probabilidade de ocorrência / maior período de
retorno → custo mais elevado
• Análise mais fácil a partir do período de retorno.
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Períodos de retorno a adoptar
• Dimensionamento baseado na análise de riscos
• Requer disponibilidade de um enorme volume de dados e a adopção
de leis empíricas sobre danos

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Períodos de retorno a adoptar
• Estabelecimento de períodos de retorno tendo em conta:
• segurança da obra – danos a terceiros
• bem estar dos utilizadores da via – danos na própria via
• qualidade de vida – custos socias e ambientais
1
𝑇 𝑥 =
1 − 𝐹(𝑥)
• F(x) – probabilidade de não excedência

• Risco hidrológico – a probabilidade de x não ser ultrapassado em n anos


sucessicos
𝑛
1
𝑅 = 𝐹1 𝑥 ∙ 𝐹2 𝑥 ∙ … 𝐹𝑛 𝑥 = 𝐹𝑛 𝑥 = 1 −
𝑇
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Períodos de retorno a adoptar

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Períodos de retorno – Guidelines da ANE

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Métodos de cálculo do caudal de ponta da cheia
• Fórmulas empíricas
• Fórmulas cinemáticas
• Análise estatística
• Hidrograma unitário
• Simulação hidrológica

• Os primeiros três métodos apenas fornecem valores do caudal de


ponta, não o hidrograma da cheia.

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Métodos de dimensionamento

Fonte: ANE (2018)

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Procedimentos comuns
• Identificar a secção em que será construída a ponte

• Recolha das características mais relevantes para os cálculos


hidrológicos

• Uso do solo e cobertura vegetal

• Tipo de solo existente

• Declividade dos terrenos e do principal curso de água

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Análise estatística

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Análise estatística
Vantagens
• Análise comparativamente mais simples e pouco dispendiosa quando há
disponibilidade de dados;

• Dados de entrada na mesma unidade que os dados de saída pretendidos


(caudais);

• Resultados expressos em termos de frequência ou probabilidade de


excedência (recíproco do período de retorno)

• Facilmente relacionados à filosofia do dimensionamento e análise


económica
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Análise estatística
Estimativa de escoamento
• Frequente não haver séries de medições de caudal na secção do rio
que nos interessa, necessário fazer estimativas

• Caso haja dados numa outra secção do rio: pode admitir-se que o
coeficiente de escoamento é o mesmo para as duas secções

• Válida quando as secções tem as mesmas características fisiográficas


e de precipitação

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Análise estatística
• Regressão (log-log) de Q vs. A quando existem 2+ estações
• Estimativa de escoamentos para T=100 anos (Neill 1986, Watt et al
1989 citados em Guide to Bridge Hydraulics)
Área de drenagem (km²) Expoente da relaçao
Q1/Q2 = (A1/A2)^b
10 - 100 0.8

100 – 1 000 0.65

1 000 – 10 000 0.5

10 000 – 100 000 0.35

100 000 – 1 000 000 0.2


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Fórmulas Cinemáticas

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Duração da precipitação
• Duração considerada deve ser igual ao tempo de concentração.

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Precipitação
• Altura da precipitação: espessura média na vertical, de uma lâmina
de água distribuída sobre a projecção horizontal da superfície
• 1 mm = 1 l/m2 = 10000 l/ha = 10 m3/ha = 1000 m3/km2

• Conhecimento das precipitações intensas de curta duração


• Curvas IDF (intensidade, duração e frequência)
• I = a tb

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Curvas IDF
Anexo 11 do RSPDADAR
I = a tb

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Extrapolação da precipitação de projecto
Para o tempo de concentração definido:

Determinar as intensidades de precipitação correspondentes aos períodos de


retorno de 2 à 50 ano

Traçar um gráfico de intensidades de precipitação em função dos períodos de


retorno: I(T)

Extrapolar a curva ou recta obtida para um período de retorno T = 100 anos ou


de 200 anos

Ler o valor de intensidade de precipitação correspondente ao período de retorno


de 100 anos I(T = 100 anos) ou de 200 anos I(T = 200 anos)

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Extrapolação da precipitação de projecto

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Extrapolação da precipitação de projecto

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Fórmulas cinemáticas – Precipitação útil
Putil = Ptotal – Perdas

Perdas
Intercepção
Retenção
Infiltração

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Fórmulas cinemáticas – Tempo de concentração
Cálculo do tempo de concentração
Área da bacia
Comprimento do curso de água principal
Altura média da bacia
Declive médio do curso de água principal
Diferença de cotas do leito do curso de água principal

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Fórmulas cinemáticas – Tempo de concentração
Métodos
Fórmula Racional
Fórmula de Giandotti
Soil Conservation Service

Estimar com as várias fórmulas e comparar os resultados

Considerar os limites de aplicação de cada fórmula

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Alturas de escoamento

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Selecção do local da ponte
Largura e rugosidade da planície de inundação
Distribuição e direção do escoamento
Desenvolvimento do leito: recto ou sinuoso
Regime de transporte de sedimentos do rio: agradação, degradação ou
equilibrio
Influência hidráulica do local proposto no ambiente e na vida aquática,
pântanos, sedimentação e estabilidade do curso de água.

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Selecção do local da ponte
Largura e rugosidade da planície de inundação
Distribuição e direção do escoamento
Desenvolvimento do leito: recto ou sinuoso
Regime de transporte de sedimentos do rio: agradação, degradação ou
equilibrio
Influência hidráulica do local proposto no ambiente e na vida aquática,
pântanos, sedimentação e estabilidade do curso de água.

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Directrizes para a localização da ponte
Localização: as pontes devem estar localizadas e centradas na porção do canal
principal de toda a planície de inundação.
Pode significar uma ponte de excentricidade no local em relação a toda a seção
transversal do rio, mas permite uma melhor acomodação dos caudais reduzidos;

Aberturas da ponte: projetar abertura da via navegável da ponte para fornecer uma
área de escoamento suficiente limitar as velocidade de escoamento a da descarga
do projeto;

Orientação dos elementos estruturais: os pilares e vigas transversais para se


adequarem às linhas de corrente no nível de inundação do projeto.

Minimização da erosão: localize e oriente os pilares e fundações da ponte para


minimizar o potencial de erosão excessiva.

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Alturas de escomento

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Andamento da superfície livre

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Andamento da superfície livre

Caupers, C. (2007). Hidráulica II - Manual da Disciplina. Maputo, UEM-


Faculdade de Engenharia. 45
Andamento da superfície livre

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Superfície livre – Pontes sem pilares

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Superfície livre – Pontes sem pilares

48
Superfície livre – Pontes com pilares

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Andamento da superfície livre

Vide (2002)

Yarnell (1934), citado em Vide (2002)

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Forças induzidas pela acção do escoamento

Forças de arrastamento (FD)


FD = CD·ρ·V²·h·a/2

Forças de sustentação (FS)


FL = CL·ρ·V²·h·a/2

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Folgas
Pontes de pequena e média dimensão (ANE, 2018)

Pontes de grande dimensão: a folga livre mínima deve ser de 1500 mm, a
menos que seja justificadamente ajustada às condições locais, o que deve ser
declarado pelo projetista por escrito.
A folga deve ser aumentada para rios, que transportam grandes quantidades
de objetos flutuantes ou para fins de navegação.
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Estabilidade do leito e protecção
de pilares e encontros contra a
erosão
Considerações
Erosão das fundações das pontes resultantes da instabilidade do
escoamento, degradação do leito do rio, erosão generalizada por
contracção do escoamento e erosão localizada junto aos pilares
e/ou encontros são a principal causa do colapso de pontes.
EUA: 60%

Erosão = Remoção de sedimento excede a entrada de sedimento


na área de controle.

Grandes cheias:
Erosão durante a fase ascendente
Deposição durante a fase descendente
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Considerações
Locais críticos
Pilares
Encontros: construção e funcionamento

Altura máxima da fossa de erosão

Erosão com transporte sólido generalizado (live-bed scour) –


leito móvel
Sedimentos transportados por arrastamento para jusante compensados pelos
provenientes de montante

Erosão sem transporte sólido generalizado (clear-water scour)


Ausência / insuficiente fornecimento de material sólido de montante

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Considerações
Erosão com transporte sólido generalizado
(live-bed scour)
Escoamentos elevados durante cheias
Alcança o seu máximo num período de tempo relativamente
reduzido

Erosão sem transporte sólido generalizado


(clear-water scour)
Escoamentos reduzidos
Material grosseiro no leito dos cursos de água
Cursos de água com pequenos gradientes e escoamento de
caudais reduzidos
Depósitos locais de materiais de maior dimensão que o
transportado
Leitos armados ou protegidos por vegetação
Alcança o seu máximo ao longo de um período de tempo mais
extenso

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Evolução no tempo da erosão com e sem
transporte sólido generalizado junto ao pilar

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Factores que influenciam na profundidade da
fossa de erosão
Escoamento no curso de água
Caudal escoado
Velocidade de escoamento
Altura de escoamento
Orientação do pilar relativamente ao escoamento
Características do material do leito e taludes
Coesão
Granulometria
Características da ponte
Tamanho do pilar
Forma do pilar
Elevação da plataforma
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Verificação da estabilidade do leito
Degradação do rio a longo-termo;
+
Erosão generalizada na secção da ponte em resultado da passagem de um
escoamento elevado:
Erosão por contração do escoamento
Escoamento em curvas
+
Erosão localizada em torno de pilares, encontros e outros elementos molhados
ou rodeados pela corrente;
+
Migração lateral do leito do rio (implica o incremento da erosão localizada);
=
Erosão potencial total 59
Verificação da estabilidade do leito

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Verificação da estabilidade do leito
Cálculo da altura crítica e definição do tipo de regime

Andamento da superfície livre (contracção e sobrelevação)

Verificação das condições de inicio de movimento (estabilidade do leito)

Verificação da estabilidade junto aos pilares

Verificação da estabilidade junto aos encontros

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Factores que influenciam na variação do nível do
leito a longo termo
Barragens e albufeiras

Mudanças no uso da terra (urbanização, desflorestação, etc.)

Regularização de leitos

Corte de meandros

Extracção de inertes

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Verificação das condições de início de movimento

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Degradação e agradação a longo termo
• Se a estimativa indicar que o leito do rio irá se degradar, use a elevação após
a degradação como a elevação de base para a erosão por contração e local.
• A erosão total deve incluir a degradação estimada a longo prazo.

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Erosão por contracção (estreitamento) com
transporte sólido generalizado

65
Erosão por contracção (estreitamento) com
transporte sólido generalizado

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Exercício

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Erosão localizada por contração (estreitamento)
sem transporte sólido generalizado

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Erosão localizada em pilares

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Erosão localizada em pilares

70
Erosão localizada em pilares

71
Erosão localizada em pilares

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Exemplo

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Erosão localizada em encontros

74
Erosão localizada em encontros
Froehlich (TRB 1989)

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Proteção contra a erosão
Soluções possíveis
Tapetes de enrocamento

Gabiões

Mástique asfáltico

Ensacados de areia

Ensacados de argamassa

Estacas-pranchas

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Tapetes de enrocamento
Determinação do diâmetro dos blocos D50
Lauchlan (1999)
Austroads (1994)
Parker et al.

Curva granulométrica dos blocos da camada superior

Espessura do tapete de enrocamento

Extensão da zona a proteger

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Tapetes de enrocamento

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Tapetes de enrocamento

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Bibliografia de referência
Ramos, C. (2010). Drenagem em Infra-estruturas de transportes e
hidráulica de pontes. Lisboa, LNEC.
FHA (2012). Evaluating Scour at Bridges. Hydraulic Engineering
Circular No. 18 (HEC 18). Fifth Edition.
ANE (2018). Hydrology and Drainage Design Manual.
Hipólito, J. e Carmo Vaz, A (2011). Hidrologia e Recursos Hídricos.
Lisboa, IST Press.
Caupers, C. (2007). Hidráulica II - Manual da Disciplina. Maputo,
UEM-Faculdade de Engenharia.

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Exercícios para a aula
Prob. 1: Determinação da altura de escoamento
O caudal de cheia para o período de retorno de 100 anos a ser adoptado no
dimensionamento de uma ponte sobre o rio Umbeluzi, a jusante da
Barragem dos Pequenos Libombos é de 4160 m3/s. O leito tem cinco sub-
secções com características distintas e uma inclinação de 0,233%. Na tabela
anexa, são apresentados os valores de área inundada e perímetro molhado
para diferentes valores de altura de escoamento. Determine:
a) A altura de escoamento correspondente ao caudal de
dimensionamento;
b) O regime de escoamento (lento ou rápido);
c) A altura da rasante sabendo que a ponte deverá ter uma folga que
possibilite a passagem de um caudal 30% superior ao caudal de
dimensionamento.
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Prob. 1: Determinação da altura de escoamento
Perfil do Rio Umbelúzi
25
24
23
22
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18
17
16
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14
13
12
11
10
9
8
7
6
5
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220 230 240 250 260 270 280 290 300 310 320 330 340 350 360 370

Zrio (m) Máx cheia 14 Fev 1918 Cheia máx normal (1956-1965) Rasante Ponte Ferroviária

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Prob. 2: Andamento da superfície livre
Para os dados do problema anterior, determine o andamento da superfície livre
considerando um valor médio de Ks = 33 m1/3/s, largura do canal a montante do
pilar de 316 m. O pilar tem a cabeça com ângulo recto (KN = 0.92).
O sistema estrutural escolhido para a ponte foi o de uma ponte atirantada, como
forma de redução da obstrução do escoamento no leito de estiagem assim como
no leito de cheia, reduzindo problemas de infraescavação e erosão na ponte. O
tabuleiro da ponte será suportado por um encontro de 6,8m, dois manstros com
1,0m de largura e elementos de compressão de 1,0m de largura, e quatro pilares
com 0,5m de largura no viaduto de acesso.

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Fig. 17.24 do ven te Chow

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Prob. 3: Altura da fossa de erosão
Para os dados dos problemas anteriores, determine:
a) A velocidade crítica para o início de movimento (verificar a sua
ocorrência para o caudal médio e de dimensionamento).
b) Erosão por contracção horizontal
c) Erosão localizada junto aos pilares
d) Erosão junto ao encontro
e) Altura do total da fossa de erosão junto aos pilares e encontro
considerando a degradação ínfima no tempo

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