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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Mestrado de Hidráulica e Recursos Hídricos


4ª Edição – 2019/2020

HIDROLOGIA E MODELAÇÃO
HIDROLÓGICA

Água no solo

1
Introdução
• Solo actua como reservatório de regulação da água
que precipita.
– Reduz o caudal que drena superficialmente.
– Atrasa a descida da água que nele penetra.
– Controla a alimentação do aquífero.
• Solo inclui partículas sólidas, água e ar; fases sólida
e líquida são consideradas incompressíveis.
Partícula de solo

Ar
Água 2
2
Classificação de solos
• Diversas classificações: ISSS, USDA, BS, LNEC,
DIN, ASTM.
Designação Argila Silte Areia Seixo Calhau Pedra
International
Society of Soil <2 < 20 < 2000
Science
USA Dep. of
Agriculture <2 < 50 < 2000

British Standards
<2 < 60 < 2000 < 60 000 < 150 000

LNEC E219
<2 < 60 < 2000 < 60 000 < 150 000

DIN <2 < 60 < 2000


ASTM USCS < 75 < 4750
3
Classificação de solos
• Não existe uniformidade em relação aos limites das
classes.
• Solos raramente apresentam uma única classe
textural, geralmente são constituídos por partículas
de várias classes.
• Solo bem graduado – a distribuição granulométrica
compreende uma grande variedade de tamanhos
das partículas.
• USDA é a mais apropriada para utilização em
hidrologia.
4
Classificação da USDA

3
2

5 6
4

8
9
7
11 12
10

5
Classificação da USDA
Zona Designação USDA Designação
1 Clay Argiloso
2 Sandy Clay Argilo-arenoso
3 Silty Clay Argilo-siltoso
4 Sandy Clay Loam Franco-argiloso-arenoso
5 Clay Loam Franco-argiloso
6 Silty Clay Loam Franco-argiloso-siltoso
7 Sandy Loam Franco-arenoso
8 Loam Franco
9 Silt Loam Franco-siltoso
10 Sand Arenoso
11 Loamy Sand Arenoso-franco
12 Silt Siltoso

Franco = limo, limoso 6


Classificação do LNEC

B C

D E

G H
F I

7
Classificação do LNEC
Zona Designação
A Argila
B Argila arenosa
C Argila siltosa
D Areia argilosa
E Silte argiloso
F Areia
G Areia siltosa
H Silte arenoso
I Silte

8
Quantidade de água no solo
Va Ar Ma  0

Vf
Vw Água Mw

Vt Mt

Vs Sólidos Ms

9
Quantidade de água no solo
• A massa de ar é praticamente desprezável devido à
muito pequena massa volúmica em comparação
com a massa volúmica da água e dos sólidos.

10
Definições relacionadas
Vw
• Teor (volúmico) de humidade do solo =
Vf Vt
• Porosidade de um solo n=
Vw Vt
• Grau de saturação S =
Vf

• Verifica-se que  = nS
• Grau de saturação varia entre 0 e 1, teor de
humidade varia entre 0 e n.
• Teor mássico de humidade w = Mw / Ms
11
Definições relacionadas
d  t − d w
n = 1− = w=
s w d

ρd – massa volúmica do solo seco


ρs – massa volúmica dos sólidos do solo
ρt – massa volúmica do solo
ρw – massa volúmica da água

12
Definições relacionadas
• Capacidade de campo θcc – teor de humidade
residual de um solo inicialmente saturado que se
deixou drenar livremente durante 2-3 dias. É a
quantidade de água que um solo consegue reter
contra a acção da gravidade.
• Água permanece retida por efeito da capilaridade e
da adsorção.
• Ponto de emurchecimento permanente θep – teor de
humidade abaixo do qual as plantas já não
conseguem retirar água do solo e murcham, não
conseguindo recuperar mesmo depois de colocadas
numa atmosfera saturada.
13
Água utilizável pelas plantas
• A diferença entre a capacidade de campo e o ponto
de emurchecimento permanente corresponde à
totalidade da água utilizável pelas plantas.
• Valores típicos de sucção das plantas: 0,33 atm para
θcc e 15 atm para θep.
• Perto do ponto de emurchecimento, as plantas já
estão em stress, o rendimento baixa.
• Considera-se que apenas 0,5 (θcc – θep) pode ser
utilizada vantajosamente pelas plantas.

14
Água utilizável pelas plantas
• Profundidade do solo a considerar depende do tipo
de vegetação (raízes):
• 0,5 m – plantas herbáceas anuais;
• 2.5 m – árvores de grande porte.

15
Água utilizável em função da classe
textural
Designação n=s  cc  ep r  cc- ep
Arenoso 0,437 0,091 0,033 0,020 0,058
Arenoso-franco 0,437 0,125 0,055 0,036 0,070
Franco-arenoso 0,453 0,207 0,095 0,041 0,112
Franco-argiloso-arenoso 0,398 0,255 0,148 0,068 0,107
Franco 0,463 0,270 0,117 0,029 0,153
Siltoso 0,490 0,293 0,083 0,015 0,210
Franco-argiloso 0,464 0,318 0,197 0,155 0,121
Franco-siltoso 0,501 0,330 0,133 0,015 0,197
Argilo-arenoso 0,430 0,339 0,239 0,109 0,100
Franco-argiloso-siltoso 0,471 0,366 0,208 0,039 0,158
Argilo-siltoso 0,479 0,387 0,250 0,056 0,137
Argiloso 0,475 0,396 0,272 0,090 0,124

16
Tensão superficial e capilaridade
• Fluidos no solo: água e ar – no interior de cada
fluido, cada molécula é atraída isotropicamente
pelas vizinhas mas na superfície de separação, as
moléculas são atraídas de forma diferente pelas
vizinhas de cada um dos fluidos.
• Superfície interfacial depende das pressões de um
lado e do outro da superfície.
• Diferença de pressões equilibradas por tensões
tangenciais (tensões superficiais, σ), com resultantes
iguais.
17
Tensão superficial e capilaridade

p

Calote esférica de raio R e eixo vertical


18
Tensão superficial e capilaridade
• Em condições de equilíbrio entre as resultantes de σ
e Δp, R = 2σ/Δp, R – raio da calote
• Tensão superficial da água em contacto com o ar =
0,072 N/m à temperatura de 20 ºC, aumenta com a
temperatura.
• Tubo cilíndrico de raio r, pequeno, com
extremidades abertas, mergulhado numa tina com
água
– Perímetro do bordo do calote = 2π r
– Água sobe se material do tubo tiver maior adesão à água
(água molha o tubo) ou desce se material tiver maior
adesão ao ar (água não molha o tubo) 19
Tensão superficial e capilaridade
r 

hc

20
Tensão superficial e capilaridade
• Pressão no eixo do tubo logo abaixo da superfície
interfacial = pa – γw hc
• Como Δp = pa – (pa – γw hc) = γw hc, R cos α = r,
obtém-se 2  cos ()
hc =
w r
• α – ângulo de contacto, hc – altura capilar
• Para o vidro, α = 0 º

21
Ângulos de contacto
Material da parede  (º)

Vidro 0

Sílica 0

Gelo 20

Platina 63

Ouro 68

Parafina 108

22
Tensão superficial e capilaridade

hfc
hfc

a) Diâmetros iguais b) Diâmetros diferentes

hfc – altura da franja capilar

23
Tensão superficial e capilaridade
• Superfície freática – lugar geométrico dos pontos
onde a água num solo saturado se encontra à
pressão atmosférica.
• Água em repouso – superfície freática horizontal.
• Franja capilar – camada de solo saturado acima da
superfície freática por efeito da capilaridade.
• Teor de humidade de saturação de areia inferior ao
da argila, idem para a franja capilar.

24
Teor de humidade acima da
superfície freática
z
areia

argila

hfc
hfc
s areia s argila 
25
Potencial hidráulico
• Água no solo – energia cinética é desprezável,
considera-se apenas a energia potencial.
• Água desloca-se das zonas de maior para as de
menor energia potencial.
• Hg = z - Energia potencial gravítica por unidade de
peso.
• Hp = ψ = p/γ - Energia potencial de pressão por
unidade de peso; pressão positiva abaixo da superfície
freática, negativa acima dela.
26
Potencial hidráulico
• Potencial de pressão acima da superfície freática
depende da textura do solo e disposição das
partículas – potencial matricial.
• Sucção: designação de – p ou de – ψ.
• Potencial hidráulico H = energia potencial total.
• H=z+ψ
• Tomando para referência a cota da superfície
freática e a pressão atmosférica, tem-se em
qualquer ponto do solo saturado, incluindo a franja
capilar, ψ = - z.
27
Pressão de água no solo
Superfície do solo


− a
Superfície freática

+ b

28
Relação entre o teor de humidade e a
sucção

z = -

e sw (Tw )
z max = 10,33 −
w

29
Capacidade de campo e ponto de
emurchecimento permanente
• Capacidade de campo – teor de humidade que
corresponde a uma sucção de 0,33 atm.
• Ponto de emurchecimento permanente - teor de
humidade que corresponde a uma sucção de 15
atm.
• Sucção correspondente ao ponto de
emurchecimento permanente não é atingível por
capilaridade, apenas por adsorção e adesão
molecular.

30
Lei de Darcy
• Lei de Darcy para o escoamento em meio poroso,
saturado, homogéneo e isotrópico

V = −K s grad (H)
• Ks – coeficiente de permeabilidade ou condutividade
hidráulica do solo saturado
• Generalização da lei de Darcy a meios porosos
insaturados: K = K(ψ)

31
Condutividade hidráulica de solos
saturados (cm/h) (Rawls et al. 1993)

0.005
0.01

0.05

0.2 0.1
0.4

1.0 0.6

10 5.0 2.0
20

32
Relação entre a condutividade
hidráulica e a sucção

-1
-2 L

V L
K ( ) =
A t 1 −  2

33
Relação entre a condutividade
hidráulica e a sucção
• Condutividade hidráulica K = v L / (ψ1 – ψ2), sendo v
a velocidade aparente do escoamento; K varia com
a sucção. K ()

Solo argiloso

Solo arenoso

- 34
Curvas de condutividade hidráulica
A
• Haverkamp et al. (1977) K = Ks B
A+ 
• A, B – parâmetros de ajustamento
• Ks pode ser obtido da figura de Rawls ou pela
fórmula de Kozeny-Carmen

K s = 1058 ( s −  cc ) 4

35
Infiltração
• Infiltração – entrada de água no solo a partir da sua
superfície.
• Intensidade de infiltração – caudal que entra por
unidade de área da superfície do solo (LT-1).
• Infiltração acumulada – volume que entrou no solo
durante um certo intervalo de tempo (L).
• Factores que influenciam a infiltração:
– Disponibilidade de água à superfície.
– Características do solo (textura grosseira ou fina).
– Teor de humidade do solo.
36
Infiltração
• Capacidade de infiltração - infiltração que ocorre
quando à superfície do solo se dispõe e se mantém
ao longo do tempo uma fina película de água, à
pressão atmosférica (Ψ = 0).
• Nessa situação, temos intensidade de infiltração à
capacidade do solo e infiltração acumulada à
capacidade do solo.
• Quanto mais seco estiver o solo, maior será a
capacidade de infiltração.

37
Perfis de humidade para infiltração à
capacidade dos solos

38
Frente de humedecimento
• Frente de humedecimento – região do solo onde
num dado instante o teor de humidade começa a
aumentar e a água dessa região começa a deslocar-
se para baixo.
• Velocidade de deslocamento da frente de
humedecimento é muito maior na areia do que na
argila.
• Velocidade de deslocamento da frente de
humedecimento vai diminuindo com o tempo.

39
Curvas de capacidade de infiltração
(f’=f/Ks, adimensional)

40
Modelos de infiltração
Modelo f F tp te

fc  f0 − fc 
F = fct + te = ln +

k p  p − fc 
Horton
f = f c + (f o − f c )e −kt f −f
(
+ 0 c 1 − e −kt
k
) tp =
1  f0 − fc
ln
k  p − f c



 +
f0 − p
kp

2
1  2 
1
tp = S + 4 K s P − S ( 2p − K s ) S 2
2 
− 1
Philip f=
1
St 2 + Ks  te =
F = Ks t +St 2 4K s
4p ( p − K s ) 2
2

1 1
Kostiako  1−  (1 − )P  1− 
f =  t − F= t tp =  te =
1
 
v 1−   1−   p 
  

41
Modelo de Horton
• Parâmetros f0, fc, k
• f0 – intensidade de infiltração inicial à capacidade do
solo.
• fc – intensidade de infiltração ao fim de um tempo
longo = condutividade hidráulica ou permeabilidade
do solo saturado.
• k – factor de escala temporal.

42
Valores de fc = Ks
Grupo de Características do solo fc (mm/h)
solos
A Areias profundas, loesses profundos, solos 8-12
agregados com matéria orgânica
Loesses pouco profundos e solos franco-
B arenosos 4-8

Solos francos-argilosos, franco-arenosos pouco


C profundos, solos com baixo teor em matéria 1-4
orgânica, solos com elevado teor de argila

Solos com grande percentagem de matérias


D expansíveis, argilas plásticas pesadas, alguns 0-1
solos salinos
43
Redistribuição de água no solo
• Água infiltrada em excesso em relação à capacidade
de campo continua a descer no solo.
• Quando pára a infiltração, a camada próxima da
superfície tende rapidamente para a capacidade de
campo.
• A frente de humedecimento continua a descer no
solo.
• Se nível freático estiver muito baixo, a camada
superior do solo fica à capacidade de campo e não
há recarga do aquífero.
44
Redistribuição de água no solo
0

-50

t = 900 s
z (cm)

-100
2700

-150

-200
0,0 0,1 0,2 0,3
 (-)
45
Redistribuição de água no solo

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Medição do teor de humidade
• Medição por secagem (várias amostras) – pesa-se a
amostra, seca-se e volta a pesar-se; a diferença dá o volume
de água na amostra.
• Sonda de neutrões – emite neutrões rápidos que são
retardados quando colidem com os átomos de hidrogénio da
água; sonda mede os neutrões lentos.
• Tensiómetro é um bolbo de porcelana porosa, cheio de
água, ligado a um manómetro. Colocando o bolbo em
contacto com o solo não saturado, a água passa do bolbo
para o solo, reduzindo a pressão medida no manómetro.

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