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TEXTURA DO SOLO

INTRODUÇÃO
A textura do solo é uma das principais características do solo. Da textura dependem
propriedades físicas (estrutura, consistência, retenção e movimento de água no solo, superfície
específica, etc...) e químicas (CTC e características derivadas).

A textura do solo é a proporção relativa em que os diferentes lotes granulométricos (areia


grossa, areia fina, limo e argila) se encontram na terra fina (fracção mineral ≤2mm). A classe
textural (ou classe de textura) do solo é determinada com o triângulo textural (ou triângulo de
textura) (Vide apontamentos aulas teóricas). Note que este triângulo está conforme as definições
da USDA (United States Department of Agriculture), adoptado na maioria dos países. Existem
muitos outros sistemas que, não raramente, usam os mesmos nomes para classes de textura
diferentes.

No nome da classe textural poderão ser ainda incluídos termos que indicam a presença de
elementos grosseiros (partículas minerais >2mm), matéria orgânica e calcário (que são
componentes que comumente são retirados do solo antes de efectuar a análise mecânica).

PRINCIPÍOS DO MÉTODO
A análise mecânica do solo é feita utilizando essencialmente os métodos de crivação e
sedimentação, após dispersão das partículas primárias (ou elementares) do solo. As partículas
de diâmetro maior que 50 µm (areia) separam-se por crivação. As partículas de diâmetro menor
que 50 µm (limo e argila) separam-se por sedimentação.

Para conseguir a dispersão completa das partículas primárias da amostra, é necessário fazer um
pré-tratamento. O pré-tratamento consiste em destruir os agregados e remover agentes
cimentantes (matéria orgânica, ferro e calcário) e induzir a dispersão. Para tal utiliza-se:
• água oxigenada - remover matéria orgânica;
• ácido clorídrico - dissolver CaCO3 ;
• citrato de sódio + ditionita de sódio - dissolver óxidos de ferro;
• Calgon: hexametafosfato e carbonato de sódio - induzir à dispersão.

Dependendo do objectivo do trabalho pode-se ou não fazer um pré-tratamento completo. Isto


pode ser considerado necessário em estudos básicos. No entanto, pode ser argumentado que
para fins agrícolas isto não seria relevante ou mesmo fundamentalmente errado.

A argila determinada numa suspensão com apenas água destilada (i.e. sem nenhum pré-

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tratamento, nem dispersante), é chamada "argila natural" ou "argila dispersa em água". Um


parâmetro derivado da argila natural é a índice de agregação (IA) calculada como:
IA = 100. [1 - (argila natural)/(argila total)]

Esta índice é comumente usada para indicar a estabilidade estrutural.

Após a dispersão separam-se as partículas de areia por crivação (crivos de malha variável):

areia muito grossa 2000 -1000 µm


areia grossa 1000 - 500 µm
areia média 500 - 250 µm
areia fina 250 - 100 µm
areia muito fina 100 - 50 µm

Tendo ficado com a fração ≤50 µm (limo e argila) procede-se à sua separação e determinação
usando um método de sedimentação.
Podemos distinguir 2 métodos diferentes de sedimentação: o da pipeta e o do hidrómetro. Para
ambos os métodos colocamos o material dentro duma proveta de 1000 ml (chamada coluna de
sedimentação), perfazemos o volume com água e agitamos a coluna para obter uma suspensão
homogénea de água, limo e argila. Depois deixamos a coluna para descansar. A partir deste
momento, as partículas começam a movimentar-se no sentido descendente (devido à força da
gravidade), com uma velocidade “ditada” pela Lei de Stokes:

v = g.D2.(ρs-ρl)/18.η

em que:
v - velocidade de partículas no líquido (m.s-1)
g - aceleração da gravidade (+ 9.8 m.s-2)
D - diâmetro das partículas, consideradas esféricas (m)
ρs- densidade das partículas (+ 2650 kg.m-3)
ρl- densidade do líquido, f(temperatura), (+ 103 kg.m-3)
η - viscosidade do líquido, f(temperatura) (± 10-3 kg.m-1.s-1)

Os valores exactos de ρl e η, em dependência da temperatura, podem ser encontrados na Tabela


IV-1 dos apontamentos das aulas teóricas de Ciência do Solo.

Por exemplo, uma partícula com diâmetro de 50 µm, que se encontrava na superfície do líquido
logo após a homogeneização da suspensão, apresenta uma velocidade no sentido descendente de
aproximadamente 9.8 * (50.10-6)2 * (2650 – 1000) / (18 * 10-3) = 2.25 10-3 m.s-1 i.e. 0.225 cm.s-
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. Então, para descer 10 cm, esta partícula levará 10/0.225 = 44.4 segundos. Isto significa que,
segundo a lei de Stokes, depois de 44.4 segundos não haverá mais partículas com diâmetro igual
ou maior a 50 µm dentro dos 10 cm superficiais da coluna. Ao mesmo tempo, um pouco acima
do limite de 10 cm, a concentração de partículas inferiores a 50 µm é exactamente igual à
concentração inicial.

No método da pipeta faz-se duas colheitas de amostras pequenas a profundidades e tempos


diferentes. A primeira colheita consiste duma suspensão com limo e argila e a segunda de
apenas argila.

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Textura do solo

Mais simples que o método da pipeta, embora mais sujeito a erros, é o método do hidrómetro
(também chamado densímetro). O hidrómetro é um instrumento que mede a densidade de um
líquido ou duma suspensão (i.e. mixtura de partículas sólidas "suspensas" num líquido).

A densidade da suspensão de água com partículas de solo está relacionada com a concentração
de partículas pela equação:

C = ρs. (δ – ρl )
ρs - ρl

em que,

C - concentração de partículas em suspensão (g/l)


ρs - densidade das partículas sólidas (≈2650 g/l)
ρl - densidade da água (dependendo da temperatura ≈1000 g/l)
δ - densidade da suspensão lida no hidrómetro (g/l)

Os densímetros utilizados nestas aulas práticas foram calibrados de tal maneira que, a
uma temperatura de 20oC, depois de 40 s a concentração na suspensão corresponde
aproximadamente com a fração argila + limo; enquanto depois de 2 h esta concentração
corresponde aproximadamente com a fração argila. As escalas de alguns densímetros já foram
convertidas para concentrações a 20oC.

Assim, faremos a 1ª leitura, correspondendo com limo e argila, ao fim de 40 s e a 2ª


leitura (argila) ao fim de 2 h. Se a escala estiver em unidades de densidade aplicamos a equação
acima para converter os resultados para concentrações. Aos valores de concentração assim
obtidos, deve-se adicionar 0.36 g/l por cada °C acima de 20°C (ou subtrair, 0.36 g/l por cada °C
abaixo de 20oC).

METODOLOGIA
Nesta aula usaremos para fins comparativos, tanto o método do hidrómetro como a pipeta.
Porém, o último somente para a determinação de argila+limo.

As amostras de solo na sua bancada já foram sujeitas ao seguinte pré-tratamento pelo assistente:
- secagem ao ar e esmagamento dos agregados;
- separação da terra fina seca ao ar, com crivo de malha 2 mm;
- destruição da matéria orgânica com H2O2
- mixtura com solução de calgon para facilitar a dispersão.
- dispersão das partículas de terra fina com o agitador;

1. Informe-se sobre a massa total de terra fina seca ao ar utilizada.


2. Pegue um pouquinho de material de solo não tratado para determinar a classe textural ao
tacto;
3. Separe a fração areia das frações de limo e argila, usando o crivo de 53 µ.

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4. Coloque a fração areia numa cápsula de porcelana e deixa secar durante 24 h a 105oC.
5. Deite a suspensão com as frações limo e argila na coluna de sedimentação de 1000 ml.
Perfaça o volume com água destilada.

6a. Método de pipeta


- Tape a coluna de sedimentação e agite.
- Deixe em repouso durante o tempo indicado no quadro negro
- faça a pipetagem na profundidade indicada.
- Coloque o material pipetado numa cápsula de porcelana com massa conhecida;
- deixe secar durante 24 h.
- Determine a massa da cápsula + argila + limo

6b. Método do densímetro


- Tome nota da temperatura;
- tape a coluna de sedimentação e agite;
- deixe em repouso durante 40 segundos;
- faça a 1ª leitura com o hidrómetro (argila+limo);
- tape a coluna de sedimentação e agite;
- deixe em repouso durante 40 segundos
- faça a 2ª leitura com o hidrómetro (argila+limo);
- tape e agite a coluna novamente;
- coloque a coluna em local afastado de qualquer perturbação;
- deixe repousar durante 2 horas.
- faça a 3ª leitura com o hidrómetro (argila); registe a temperatura da água.

7. Pese a fração areia depois de seca e faça a separação das diferentes frações de areia
através do jogo de crivos à sua disposição. Como dispomos de poucos crivos, apenas
fará a separação entre areia muito grossa (2000 - 1000 µm), grossa (1000-500 µm) e
areia média+fina (500 - 50µm). Coloque as 3 frações em porcelanas previamente
pesadas e pese.

8. Transforme as leituras do hidrómetro e quantidades pesadas para teores de frações


granulométricos (levando em conta as concentrações e as temperaturas da suspensão).

9. Faça uma avaliação dos resultados. Compare os valores obtidos com os diferentes
métodos e comente eventuais discrepâncias.

QUESTOES
1. Demonstre a validade da equação apresentada,

C = ρs.(1-( ρs - δ ))
ρs - ρl

2. A lei de Stokes pode ser resumida com a equação


v = K.D2

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em que K é um parâmetro que depende apenas da densidade real e da temperatura do


líquido. Faça um gráfico de K em função da temperatura para a sua amostra.

3. a. Calcule o tempo de espera para fazer uma colheita de pipeta de argila+limo a


uma profundidade de 10 cm; e uma colheita de argila a 4 cm a 25oC?
b. Admitindo que, usando o método de pipeta com volume de pipetagem de 10 ml,
após secagem, obtinha valores, de sedimento colhido na pipeta, de 0,375 g
(argila + limo) e de 0,188 g (argila) e que a massa de areia era de 10g, qual a
classe textural do solo segundo USDA?

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Textura do solo

AMOSTRA: _________________

CLASSE TEXTURAL SEGUNDO USDA (ao tacto) _________________

CÁLCULOS
valor unidade

1. Massa total da amostra ________ _______

2. Determinação do teor de areia na amostra


- massa da cápsula de porcelana No ....... .......
- massa do cápsula + areia da amostra ....... .......
- massa de areia da amostra _______ _______
- percentagem de areia _______ _______

3. Determinação do teor de limo+argila na amostra (hidrómetro)


- temperatura ....... .......
- primeira leitura do hidrómetro a 40 seg ....... .......
- segunda leitura do hidrómetro a 40 seg ....... .......
- média das leituras _______ _______
- concentração de limo+argila (20o C) _______ _______
- massa de argila+limo total _______ _______
- percentagem de limo+argila da amostra _______ _______

4. Determinação do teor de limo+argila na amostra (pipeta)


- massa da cápsula de porcelana no... ....... .......
- massa do cápsula + argila+limo ....... .......
- massa de argila+limo na pipeta _______ _______
- massa de argila+limo total _______ _______
- percentagem de argila+limo da amostra _______ _______

6. Determinação do teor de argila na amostra (hidrómetro)


- temperatura ....... .......
- leitura do hidrómetro ao fim de 2h ....... .......
- concentração de argila (20o C) ------- -------
- massa de argila (≤2µm) da amostra ------- -------
- percentagem de argila na amostra ------- -------

7. Determinação do teor de limo na amostra


- massa de limo na amostra (50 - 2µm) ------- -------
- percentagem de limo na amostra ------- -------
8. CLASSE TEXTURAL SEGUNDO USDA _________________

9. Determinação das diferentes frações de areia


- massa da cápsula de porcelana no... ....... .......
- massa do cápsula + areia m. grossa ....... .......
- massa de areia m. grossa (2000-1000µm) ------- -------
- percentagem de areia m. grossa ------- -------
- massa da cápsula de porcelana no... ....... .......
- massa do cápsula + areia grossa ....... .......

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Textura do solo

- massa de areia grossa (1000-500µm) ------- -------


- percentagem de areia m. grossa ------- -------
- massa da cápsula de porcelana no... ....... .......
- massa do cápsula + areia média+fina ....... .......
- massa de areia média+fina (500-50µm) ------- -------
- percentagem de areia média+fina ------- -------

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