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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA


CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE SOLOS E ENGENHARIA RURAL
Disciplina: Irrigação e Drenagem
Professor: Prof. Dr. José Crispiniano FEITOSA FILHO

Umidade do Solo Correspondente à Capacidade de Campo e ao


Ponto de Mucha
(RETENÇÃO DE ÁGUA NO SOLO E DISPONIVEL PARA AS CULTURAS)

I. Fatores que Contribuem na Retenção de Água pelo Solo

A água que é encontrada no solo é retida devido aos fenômenos de Capilaridade e de


Adsorção.

A Capilaridade diz respeito à afinidade existente entre partículas sólidas do solo com a
água. Ela atua na retenção da água no solo quando os poros estão preenchidos de água.
Quando os solos secam, os poros vão se esvaziando e filmes de água recobrem as
partículas sólidas.

O Fenômeno da Adsorção nesse ponto passa a dominar.

1.1.1. Fatores que Influenciam a Retenção de Água do Solo

Muitos fatores afetam a Retenção de água no solo como:

a) Textura do Solo

b) Estrutura do Solo.

c) Contudo de Matéria Orgânica nos solos.

d) Profundidade dos solos

e) Profundidade do Lençol Freático

A Textura determina a área de contato entre as partículas sólidas e a água delimitando


as proporções de poros de diferentes tamanhos. Já sua Estrutura representa o arranjo das
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partículas que por sua vez determina à distribuição de poros. A adição de esterco ou matéria
orgânica ao solo pode melhorar a capacidade de retenção de água no solo.

1.2. Quantificação da Umidade do Solo

A água retida pelo solo pode ser quantificada; sendo o resultado correspondente a
umidade que pode ser expressa à base de peso em g/g ou à base de volume em cm3/cm3.
Em tendo ambas formas unidades adimensional, elas podem ser também expressas em
forma de Porcentagem.

A Umidade do Solo a Base de Peso é dada por:

(1)

A umidade à Base de Volume é dada por:

(2)

A Umidade do Solo é variável com o tempo. Na prática e com o solo seco em estufa a
105 oC sua umidade é considerada como tendo zero de umidade, embora nestas condições,
ainda exista água numa amostra de solo.

A Umidade do Solo a Base de Volume é mais importante na pratica do que a umidade


a base de peso principalmente na quantificação do conteúdo de água no solo.

1.3. Procedimentos para se determina a Umidade do Solo

Uma vez coletada as amostras de solo no campo à profundidade desejada deve-se


evitar perda de água por evaporação. No laboratório tendo-se as massas de solo úmido “um’
em seguida as amostras são colocadas na estufa a 105 oC para obter um peso constante.
Toma-se as massas de solo seco “Ms”. A umidade a base de peso é obtida por:

(3)

No cálculo da Umidade do Solo a Base de Volume deve ser utilizado o seguinte


procedimento:
3

(4)

As umidades dos solos expressas em Base de Peso(U) ou em Base de Volume são


distintas. Surgem daí, a necessidade de se manter as unidades com Valor Adimensional
definidos por:

(5)

em que:

dg = densidade global dada por ms/vt, em (g.cm 3).

Exemplo: Coletou-se uma amostra de solo com um volume de 162 cm 3 cuja massa
úmida foi de 274g e massa seca de 212g. Determinar o valor de u,  e provar que  = U x
dg.

II. À Água no Solo

O solo mineral é constituído de quatro componentes básicos: Mineral, Água, Ar e


Matéria Orgânica do solo.

O objetivo do controle da água no campo é manter a umidade em condições ótimas


para o crescimento das plantas.

A água atua no solo como solvente e juntamente com os sais dissolvidos formam a
solução do solo. A solução do solo serve para suprir os elementos exigidos pelas plantas.

O crescimento das plantas é influenciado tanto pela falta quanto pelo excesso de água
no solo. Assim sendo, é importante o conhecimento da umidade do solo para certificar se a
quantidade de água existente no solo naquele momento atende ou não as necessidades
hídricas exigidas por determinada cultura para produzir economicamente. A produtividade
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econômica de determinada cultura nem sempre é a que se obtém com lâminas excessivas
de água. A exploração com baixa produtividade pela falta ou insuficiência de água às vezes
não justifica a exploração de determinada cultura.

2.1. Umidade Correspondente à Capacidade de Campo

Capacidade de Campo é nome dado ao conteúdo de umidade do solo depois que é


eliminado toda água gravitacional o que na prática ocorre corresponde a umidade do solo
dois dias após uma chuva intensa ou uma irrigação. A capacidade de campo não pode
ser determinada com precisão em razão de não ter um tempo de continuidade na curva de
umidade. A maior parte da água gravitacional é drenada antes de ser consumida pelas
plantas. A tensão da umidade do solo no ponto correspondente a Capacidade de Campo
está compreendida normalmente entre 1/10 e 1/3 da atmosfera.

2.2. Umidade correspondente ao Ponto de Murcha Permanente

O Ponto de Murcha Permanente corresponde a umidade do solo quando as plantas


murcham permanentemente ou seja: Corresponde ao Limite inferior de umidade
aproveitado pelos vegetais. Esse ponto corresponde a um estágio em que a quantidade
de água retirado do solo pelas plantas é inferior aquela utilizada por elas para atender suas
funções vitais. A Tensão no solo cuja umidade provoca a Murcha Permanente encontra-se
normalmente entre 7 e 40 Atmosfera, dependente da velocidade de uso da água pelas
plantas, tipo de cultivo, conteúdo de sais e textura do solo.

A Tensão de umidade do solo no Ponto de Murcha é 15 Atmosferas.

2.4. Umidade Disponível

A umidade disponível no solo consiste no conteúdo de água no solo entre os Pontos


referentes à umidade a Capacidade de Campo e a umidade referente ao Ponto de Murcha.
Representa a quantidade de água armazenada no solo que pode ser utilizada pelas plantas
expressa em porcentagem do volume ou espessura de altura de água.

2.5. Água Facilmente Utilizável pelas Plantas


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O conteúdo de água existente no solo correspondente ou próximo ao Ponto de Murcha


não é utilizável facilmente pelas plantas. Somente a umidade em torno de 75% representa a
umidade do solo que pode ser utilizado pelos vegetais sem haver gasto excessivo de
energia para absorção da água.

2.3. Conceito de Água Armazenada no Solo

Entende-se por Armazenamento de Água (Al) numa determinada camada do solo com
espessura (L), o correspondente a seguinte expressão:

(6)

sendo,  a umidade do solo; e z a coordenada vertical ou a profundidade da camada de


solo considerada.

Se  for dado em cm3/cm3 e z em cm, o resultado Al é dado em cm 3/cm2 que é o


volume de água por unidade de área tendo valor em cm que multiplicado por 10 em mm.

Para resolver a integral acima é preciso conhecer a variação de  ao longo de z no


intervalo 0-L em cm ou m de profundidade. Via de regra se têm poucos dados e a integral é
simplificada utilizando diferenças finitas, cujos resultados ficam:

(7)

Quanto maior for o número de amostragem entre as profundidades de 0 a L melhor


será o valor médio de .

Exemplo:

Em 10.12.2000 mediu-se a umidade em quatro camadas (0-15; 15-30, 15-45 e 45-


60cm) cujos valores foram 0,344; 0,365; 0,412 e 0,447cm 3/cm3, respectivamente. Determinar
a quantidade de água nesse solo.
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O valor 235,2 mm significa que cada m 2 deste solo até a profundidade de 60 cm contem
235,2 L de água. Se após oito dias (18.12.2000) for medido nessas mesmas profundidades
o for obtidos os valores de foram 0,312; 0,340; 0,410 e 0,418 cm 3/cm3 tem-se:

Se não houve chuva durante oito dias a perda média diária será de:

Essa perda de água no solo pode ter ocorrido devido a Evapotranspiração e parte pode
ter sido drenada para horizontes mais profundos além dos 60 centímetros considerados.
Supondo que no dia seguinte após oito dias choveu e os valores de  para as mesmas
camadas passaram para 0,410; 0,412; 0,415 e 0,445. O novo conteúdo de água nessa
camada será de:

O solo em questão recebeu proveniente das chuvas 252,30mm - 235,20mm=17,10mm


de água. Constata-se que nas camadas mais profundas não houve muita variação da
umidade o que significa que esta não atingiu estas camadas.

III. A Solução do Solo

A água do solo serve como solvente e agente condutor de pequenas, porém


significativa quantidade de sais dissolvidos muitos deles essenciais no crescimento das
plantas. A absorção nos sais dissolvidos pela água no solo ocorre devido aos processos de
intercepção radicular, fluxo de massa e difusão e depende do crescimento das raízes que
por sua vez, depende do tempo e conteúdo da umidade do solo.

O fluxo processo de massa de nutrientes depende do movimento conjunto da água


desde regiões mais úmidas do solo até as regiões mais secas. O processo de difusão ocorre
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quando os íons cercam a superfície do solo e são absorvidos causando uma zona de baixa
concentração de íons adjacentes na região do solo ocupado pelas raízes.

A determinação do conteúdo de sais na solução do solo constitui ferramenta


indispensável para o manejo adequado dos cultivos com fertilização intensa ou Fertirrigação.

IV. Medição do Conteúdo de Água no Solo

O conteúdo de água no sol é importante na quantificação da água a ser aplicada na


irrigação e outros problemas hídricos e existem vários métodos utilizados para determinar o
conteúdo de água no solo.

Dentre eles destacam-se o Método Padrão de Estufa, o Método das Pesagens, o


Método de Boyoucos, o Método de Colman & Hendrix e uso Sondas de Neutrons e
Tensiômetros. Todos apresentam vantagens e desvantagens e devem ser utilizados em
condições específicas de uso.

4. 1. O Método Padrão de Estufa (Método Termogravimétrico)

No Método Padrão de Estufa determina diretamente o conteúdo de água numa


amostra de solo. O método consiste em se retirar amostras de solo no campo nas
profundidades em que se deseja determinar sua umidade.

As amostras deverão antes de serem lavadas ao laboratório serem colocadas em


recipientes fechados (lata de alumínio) antes pesadas sem o solo para se ter o peso de cada
recipiente sem o solo. Colocadas as amostras nas latas elas deverão ser vedadas com uma
fita adesiva para evitar evaporação da água do solo úmido durante o trajeto ao laboratório.
Ao chegar no laboratório pesa-se as latas juntamente com o solo úmido e sem têm o peso
(M1). Em seguida abrem-se as latas que são colocadas numa estufa com temperatura de
105-1100C durante 24 horas. Passado esse tempo as amostras são retiradas da estufa e
pesam-se novamente a lata junto com o solo seco para se ter o peso (M 2).

A percentagem de umidade em peso será o peso da água evaporada dividido pelo


peso do solo seco. Sendo (M 3) o peso do recipiente a porcentagem de umidade em peso
será dado pela equação:
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(1)

Obs: A quantificação da Porcentagem de Umidade em Peso, embora simples de se


determinar, é menos utilizada na irrigação do que a umidade expressa em unidade de
volume. Esta pode ser facilmente convertida em altura de lâmina d’água para determinada
profundidade no perfil do solo. A umidade em Unidade de Volume é obtida multiplicando a
percentagem de umidade em Unidade de Peso pela Densidade Aparente do solo ou seja:

(2)

Obs: Da é a densidade aparente do solo em g/cm 3.

Apesar desse método de determinação da umidade ser muito preciso tem como
inconveniente para uso na irrigação o fato de só permitir determinar a umidade do solo 24
horas após a amostragem e requerer balança e estufa na sua determinação.

Exemplo: Uma amostra de solo foi colocada numa lata fechada com tara de 35,25g e peso
total do solo úmido de 336,88g. Após 24 horas de secagem na estufa o solo foi retirado e
pesado novamente obtendo peso de 276,45 g. Determinar qual o valor da porcentagem de
umidade em unidade de peso e em unidade de volume se a densidade aparente deste solo
foi de 1,34g/cm3?

Solução: a) Determinação do peso do solo úmido.

b) Determinação do peso do solo seco.

c) Determinação do peso da água evaporada.

d) Determinação da porcentagem de umidade em unidade de peso.


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e) Determinação da porcentagem de umidade em unidade de volume.

4. 2. Método das Pesagens

O Método das Pesagens é também um Método Direto e consiste em se colocar 100g


de terra seca a 105 0C procedente da área que se deseja irrigar num balão de 500ml.
Completa-se o balão com água e pesa-se para ter o peso padrão (M) que deve ser
guardado haja vista só ser determinado uma vez naquela área. Cada vez que se deseja
saber a umidade do solo daquela área retira-se daquele solo uma amostra do solo úmido e
pesa 100g dessa amostra colocando em seguida no mesmo balão antes pesado. Completa-
se o volume com água e pesa-se para obter o valor M’. A porcentagem de umidade em
unidade de peso é dada por:

(3)

Sendo dg, a densidade global do solo, que quando não for determinada seu valor
real pode ser equivalente a 2,65g/cm 3. Para expressar a porcentagem da umidade daquele
solo em unidade de peso usar a equação:

100 U
% de umidade  (4)
100  U

4.3. Método de Boyoucos ou Método Eletromagnético

Este método é baseado na resistência elétrica oferecida pela água do solo detectada
entre dois elétrodos inseridos em um Bloco de Gêsso. A resistência elétrica que é a
dificuldade em um meio conduzir eletricidade é medida pela passagem de uma corrente
alternada com o instrumento calibrado para leituras diretas de porcentagens d’água no solo.
A Resistência Elétrica de um elemento de volume de solo não depende apenas de sua
umidade porem de sua composição, textura e concentração de sais na solução do solo. Os
blocos de gêsso quando enterrados no solo absorvem umidade ou perdem para o solo até a
solução atingir um equilíbrio. Quanto mais úmido estiverem os blocos, menor será a
Resistência. Quanto mais seco, mais alta será a Resistência. Quando se lê umidade
próxima de 0% significa que a umidade do solo está próxima do Ponto de Murcha
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Permanente. Quanto mais próximo do valor de 100%, mais próximo está a umidade do
ponto correspondente à Capacidade de Campo.

d) Método de Colman & Hendrix

Esse método também é fornecido pela resistência elétrica da umidade em transferir


maior ou menor resistência a passagem da energia dependendo da sua umidade. O
princípio de funcionamento desse método baseia-se em um Elétrodo de Gêsso inserido no
solo que tendem ao entrar em equilíbrio. O potencial da água no solo é igual ao potencial da
solução (de CaSO4 no caso gêsso) dentro do bloco. A cada condição de equilíbrio
corresponde a um valor de (m) ou um valor da umidade () do solo corresponde um valor
de resistência elétrica entre os elétrodos(R). Para um do solo pode-se correlacionar R com 
ou com m.

4.4.Uso da Sondas de Neutrons

A Sonda de Neutron é o instrumento mais utilizado atualmente no campo para


medição da umidade dos solos nos trabalhos de pesquisa de campo. A sonda de moderação
Neutrons que embora necessite de cuidados especiais em razão de materiais radiativos são
de leituras simples e muito preciso quando manuseada corretamente. O esquema de uma
sonda de Neutrons pode ser acompanhado na Figura seguinte.
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O princípio de funcionamento da Sonda de Neutron é o seguinte: quando uma fonte


de neutron rápido (energia em torno de 2MeV) é emitida no solo, ela penetra rapidamente
encontrando vários núcleos atômicos com os quais colidem diretamente. A redução
(transformação) de energia dos neutrons por colisão é máxima quando eles chocam-se com
um núcleo de massa próxima a sua massa. Os núcleos são principalmente os de hidrogênio
da água. Segundo Reichardt (1996), o número de colisões necessárias para tomar um
neutro rápido (2 Me V) em neutrons lentos (0,025 eV) pode ser visto na tabela seguinte:

Tabela 1. Colisões gastas para reduzir a energia de 01 Neutron de 2 MeV para 0,025 eV.
Isótopo No de colisões
1H 18
2D 25
4He 43
7Li 68
12C 115
16º 152
238U 2172
Quando uma fonte de neutrons rápido é introduzida no solo os neutrons moderados
(redução de energia) são capturados ou se desintegram devido a estes três processos o
número de neutro lento, em torno da fonte atinge o equilíbrio e proporcional à concentração
de hidrogênio no solo.

Os neutros lentos se difundem no solo ao acaso formando uma espécie de nuvens


em torno da fonte dos Neutrons.

Se um detector de neutros lentos for colocado nesta nuvem poderá ser feita uma
contagem. A contagem de Neutrons lentos pode ser feita com uso do Trifluoreto de boro
(BF3) e cristais de Li.

As sondas de Nêutrons são calibradas para medir a umidade do solo e os


resultados são plotados em curvas de calibragem para diferentes às densidades global do
solo.

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Prof. Dr. José Crispiniano Feitosa Filho


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Areia, 18 de Agosto de 2023

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