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GEOTECNIA APLICADA

Ronei Tiago Stein


Drenagem superficial
e profunda
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer a importância da drenagem de solos.


 Indicar medidas de drenagem superficial e profunda.
 Determinar os tipos de drenagem utilizados em obras geotécnicas.

Introdução
Sistemas de drenagem são obras de engenharia que buscam escoar a
água (normalmente da chuva) para locais adequados, a fim de evitar
danos à população de modo geral ou de infraestrutura. Porém, para
projetar os sistemas de drenagem, devem ser levados em conta alguns
fatores, como: tráfego de veículos, valor das propriedades sujeitas a danos
por inundações, tráfego de pedestres, escolha entre as soluções em
canal aberto ou em tubulações subterrâneas, profundidade das galerias
para drenar propriedades lindeiras, espaço disponível no subsolo da via
pública, existência de água pública para receber o despejo das galerias
de águas pluviais, entre outros.
Neste capítulo, você vai ver a importância do sistema de drenagem
em solos, bem como a diferença entre sistema de drenagem superficial
e profunda e seus respectivos dispositivos. Por fim, vai conhecer quais
são os principais tipos de drenagem utilizados em obras geotécnicas.

1 Importância da drenagem de solos


Para fins de engenharia, solo é definido como um agregado não cimentado de
grãos minerais e matéria orgânica decomposta (partículas sólidas), com líquido
e gás preenchendo os espaços vazios existentes entre as partículas sólidas
(DAS, 2013). De acordo com Fiori e Carmignani (2009), uma massa de solo
2 Drenagem superficial e profunda

pode ser considerada como um conjunto de partículas sólidas, apresentando


vazios de formas e tamanhos variados que, por sua vez, podem ser preenchidos
com água, ar ou ambos. Logo, o solo pode ser equacionado da seguinte forma:

Solo = sólido + líquido + gases

O teor de umidade (ou umidade natural) é definido como a razão do peso


de água (Pa) pelo peso de material sólido (Ps), sendo expresso em porcentagem.
Dessa forma, o teor de umidade do solo pode ser definido como a razão entre
o peso da água e o peso total.

Os índices físicos do solo expressam relações matemáticas entre pesos e volumes


dos componentes de uma massa de solo, ou seja, entre as frações de sólidos, líquidos
e gases.

Fiori e Carmignani (2009, p. 20) mencionam que o valor da umidade natural


do solo varia em função da localização da amostra, ou seja:

Se próxima ou na superfície do terreno, se em profundidade, se nas pro-


ximidades de lagos, rios ou fontes, se coletada logo após uma chuva, etc.
Amostras de solo coletadas abaixo do nível permanente do lençol freático não
deverão apresentar variações no seu conteúdo em água pelo fato de estarem
saturadas. Por outro lado, amostras coletadas acima do nível permanente do
lençol freático apresentarão uma variação natural de umidade por causa,
principalmente, de fatores de ordem climática, como temperatura, intensidade
e duração das chuvas, entre outros. O conteúdo máximo de água em um solo
depende do índice de vazios.

É importante mencionar que a resistência do solo está relacionada, dentre


outros fatores, ao grau de saturação do solo. Em solos não saturados, a água
preenche parcialmente os vazios, e as tensões provocadas pelo fluido nos
poros são negativas. A condição de não saturação do solo ocorre na camada
Drenagem superficial e profunda 3

acima do lençol freático. Porém, quando o solo está saturado, sua resistência
diminui, aumentando sua viscosidade, podendo provocar a queda de taludes
ou até grandes deslizamentos (Figura 1).

Figura 1. Os deslizamentos são mais comuns em dias de muita chuva, pois os


solos se tornam mais saturados, o que diminui sua resistência devido ao aumento
da viscosidade.
Fonte: Três... (2019, documento on-line).

Segundo Ferraz, Santos e Paim (2017), a drenagem consiste em uma garantia


de que a obra resistirá à força das águas durante um determinado período de
tempo. Para isso, um sistema eficiente de drenagem (seja superficial ou profundo)
é a garantia de um comportamento satisfatório de uma estrutura de contenção.
Em caso de ausência ou deficiência de um sistema de drenagem, podem ocorrer
problemas de infiltrações nos taludes, motivando saturação e, consequentemente,
erosão, que podem promover escorregamentos (MANUAL...,1991).
Logo, percebe-se a importância da drenagem de solos em obras de geo-
tecnia em uma rede que consiste em técnicas de engenharia com a função
principal de escoar a água do ciclo hidrológico natural. Com as atividades
antrópicas, o desmatamento se tornou inevitável, o que acaba contribuindo para
o aumento do escoamento superficial. Além disso, com a impermeabilização
do solo (devido a concretagem e pavimentação), a água não infiltra no solo,
aumentando ainda mais o escoamento superficial. Logo, a drenagem tem um
papel fundamental, que é conduzir a água até locais seguros (normalmente
rios, oceanos), visando evitar prejuízos nas obras civis.
4 Drenagem superficial e profunda

O ciclo hidrológico consiste no “[...] processo natural de evaporação, condensação, preci-


pitação, detenção e escoamento superficial, infiltração, percolação da água no solo e nos
aquíferos, escoamentos fluviais e interações entre esses componentes” (RIGHETTO, 1998, p. 4).

Para planejar um sistema de drenagem, é necessário tomar alguns cuidados,


como:

 delimitar a região afetada, sabendo exatamente a origem da água, o seu


caminho natural, entre outros fatores;
 saber a origem da água, ou seja, é necessário que o engenheiro saiba
a média anual de chuvas, a vazão da água, a sua força, entre outros;
 realizar ensaios no local, a fim de saber a profundidade do lençol fre-
ático, o tipo de solo encontrado na área, entre outros;
 analisar a topografia do local/área.

O tipo de solo interfere muito no sistema de drenagem. Por exemplo, solos mais argilosos
tendem a reter mais umidade, devido a sua maior porosidade, o que dificulta tanto a infil-
tração de água nesse tipo de solo quanto a sua secagem, que é mais lenta. São diferentes
de solos arenosos, nos quais, por apresentarem maior porosidade, a água infiltra com
maior facilidade e sua secagem é mais rapidamente. Em contrapartida, solos mais arenosos
são mais suscetíveis a sofrer erosão, pois quanto maior a porosidade, mais frágeis são.

O sistema de drenagem pode ser definido, portanto, como o “[...] conjunto


de elementos interligados em um sistema, destinado a captar as águas pluviais
precipitadas sobre uma região, conduzindo-as, de forma segura, a um destino
final” (MIGUEZ; VERÓL; REZENDE, 2015, p. 186). Dessa forma, de acordo
com Ramos, Barros e Palos (1999), é fundamental que o sistema cumpra alguns
objetivos, como os que você confere a seguir.

 Reduzir a exposição da população e das propriedades ao risco de inun-


dações, bem como reduzir o nível de danos causados.
Drenagem superficial e profunda 5

 Articular-se com o projeto de desenvolvimento urbano e a ocupação


do solo, de forma a assegurar medidas corretivas compatíveis com as
metas e os objetivos definidos para a região.
 Minimizar alterações hidrossedimentológicas, reduzindo não só alte-
rações hidrológicas que revertem em aumento do risco de inundações,
mas, também, problemas de erosão e sedimentação, que revertem em
desequilíbrios morfológicos.
 Preservar as várzeas não urbanizadas, sempre que possível, em uma
condição que minimize as interferências com o escoamento das vazões
de cheias, com a sua capacidade de armazenamento e com os ecossis-
temas aquáticos e terrestres de especial importância.
 Promover a utilização das várzeas, quando necessário, para atividades
de lazer e contemplação, em harmonia com a manutenção das funções
ecossistêmicas fluviais e compondo paisagens multifuncionais.
 Proteger a qualidade ambiental e o bem-estar social.

2 Medidas de drenagem superficial e profunda


O sistema de drenagem é composto por dois subsistemas que trabalham em conjunto
para alcançar os objetivos expostos anteriormente: a microdrenagem (também
denominada de drenagem superficial) e a macrodrenagem (drenagem profunda). De
acordo com Ferraz, Santos e Paim (2017), a drenagem (superficial ou profunda), é
considerada uma alternativa dentre muitos métodos utilizados para a estabilização
de taludes, bem como para uma possível diminuição da inclinação do talude.

Drenagem superficial
De maneira bem simples, a drenagem superficial busca captar a água da chuva (ou
de outras fontes) e, em seguida, escoá-la de forma superficial. Ou seja, a drenagem
superficial tem como objetivo interceptar e captar, conduzindo ao desague seguro
as águas provenientes de suas áreas adjacentes e aquelas que se precipitam sobre
o corpo da estrada/edificação, buscando promover a segurança e estabilidade.
Para um sistema de drenagem superficial eficiente, Brasil (2006) descreve
que seo utiliza uma série de dispositivos com objetivos específicos, como os
que você vê detalhados a seguir.

 Bueiros (ou bocas de lobo): buscam permitir a passagem livre das


águas que atravessam o leito da estrada. Wilken (1978) descreve que a
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capacidade de escoamento de uma boca de lobo (Figura 2) depende da


altura de água no trecho da sarjeta imediatamente a montante da boca
de lobo. Se estiver localizada em um trecho de declividade uniforme,
a altura de água na sarjeta dependerá das suas características de es-
coamento, como o conduto livre. Tais características incluem a seção
transversal, a declividade e a rugosidade da sarjeta e das superfícies
do pavimento sobre as quais a água escoa. De modo geral, os bueiros
estão compostos por duas partes principais: boca e corpo.

Figura 2. Bueiro e seus componentes.


Fonte: (a) Higitec (2017, documento on-line); (b) Mr.1/Shutterstock.com.

 Corpo: situado sob os cortes e aterros, é construído sobre uma base, geralmente de con-
creto, denominada berço, cujo objetivo é garantir estabilidade e alinhamento ao corpo.
 Boca: constitui os dispositivos de admissão e lançamento, a montante e a jusante,
sendo composta de soleira, muro de testa e alas.
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 Valetas de proteção de corte: seu objetivo é receber/captar as águas que


escorrem pela área ou pelo terreno (Figura 3a) para que não atinjam o
talude de corte, o que pode causar erosão ou até mesmo deslizamentos
(em casos mais extremos).
 Valetas de proteção de aterro: tem função muito similar à das valetas
de proteção de corte, buscando captar as águas que escorrem pela área/
terreno, impedindo que a água pluvial atinja o pé do talude de aterro.
Além dessa função, as valetas de proteção normalmente recebem águas
pluviais de outros dispositivos de drenagem superficial, como é o caso
das águas das sarjetas e valetas de corte (Figura 3b).

Figura 3. Vista para uma valeta de proteção de corte (a) e vista para uma valeta de
proteção de aterro (b).
Fonte: Adaptada de Molle ([201-?], documento on-line).
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As valetas podem ser abertas ou fechadas, porém, normalmente, opta-se pelos canais
abertos, pois, segundo Ramos, Barros e Palos (1999), apresentam como vantagens:
 facilidade de manutenção e limpeza;
 maior economia de investimento;
 possibilidade de integração paisagística com valorização das áreas ribeirinhas;
 maior facilidade para ampliações futuras caso seja necessário.

 Sarjetas de corte: têm como objetivo “[...] captar as águas que se


precipitam sobre a plataforma e taludes de corte e conduzi-las, lon-
gitudinalmente à rodovia, até o ponto de transição entre o corte e o
aterro”. Assim, permitem “[...] a saída lateral para o terreno natural ou
para a valeta de aterro ou, então, até a caixa coletora de um bueiro de
greide” (BRASIL, 2006, documento on-line). A Figura 4a apresenta
um exemplo de sarjeta de corte.
 Sarjetas de aterro: são utilizadas para “[...] captar as águas precipitadas
sobre a plataforma, de modo a impedir que provoquem erosões na borda
do acostamento e/ou no talude do aterro, conduzindo-as ao local de
deságue seguro” (BRASIL, 2006, documento on-line).
 Sarjeta de canteiro central: sua função é “[...] captar as águas prove-
nientes das pistas e do próprio canteiro central e conduzi-las longitudi-
nalmente até serem captadas por caixas coletoras de bueiros de greide”
(BRASIL, 2006, documento on-line). Esse dispositivo de drenagem é
muito comum entre rodovias duplas, separadas por um canteiro central
(Figura 4b).
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 Descidas d’água: também conhecidas como escadas hidráulicas, seu


objetivo é “[...] conduzir as águas captadas por outros dispositivos de
drenagem, pelos taludes de corte e aterro” (BRASIL, 2006, docu-
mento on-line). A Figura 4c apresenta um exemplo desse dispositivo
de drenagem.
 Saídas d’água: são dispositivos “[...] destinados a conduzir as águas
coletadas pelas sarjetas de aterro, lançando-as nas descidas d’água.
Logo, consistem em dispositivos de transição entre as sarjetas de aterro
e as descidas d’água” (BRASIL, 2006, documento on-line).
 Caixas coletoras: conforme DNIT (BRASIL, 2006, documento on-line),
este dispositivo tem como objetivos:

[...] coletar as águas provenientes das sarjetas e que se destinam aos bueiros de
greide; coletar as águas provenientes de áreas situadas a montante de bueiros
de transposição de talvegues, permitindo sua construção abaixo do terreno
natural; coletar as águas provenientes das descidas d'água de cortes, condu-
zindo-as ao dispositivo de deságue seguro; permitir a inspeção dos condutos
que por elas passam, com o objetivo de verificação de sua funcionalidade e
eficiência; possibilitar mudanças de dimensão de bueiros, de sua declividade
e direção, ou ainda quando a um mesmo local concorre mais de um bueiro.

 Bueiros de greide: são dispositivos “[...] destinados a conduzir para


locais de deságue seguro as águas captadas pelas caixas coletoras”
(BRASIL, 2006, documento on-line).
 Corta-rios: são canais de desvio abertos com a finalidade de evitar
que um curso d’água existente (como um rio por exemplo) interfira
na diretriz da rodovia, obrigando a construção de sucessivas obras
de transposição de talvegues. Também são utilizados para afastar as
águas que, ao serpentear em torno da diretriz da estrada, coloquem
em risco a estabilidade dos aterros ou para melhorar a diretrizes
de rodovias.
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Figura 4. Exemplo de elementos da drenagem superficial: (a) sarjetas de corte;


(b) sarjetas de canteiro central; (c) descidas d’água.
Fonte: (a) Madhourse/Shutterstock.com; (b) Alf Ribeiro/Shutterstock.com; (c) Escada...
(2013, documento on-line).
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Drenagem profunda
Segundo Das (2013), a drenagem profunda (também denominada subterrânea)
tem como objetivo amenizar a presença de águas de infiltração e percolação
nos solos que causam inconvenientes e problemas para os mais variados
tipos de obras de engenharia civil. Dessa forma, a drenagem profunda tem
por objetivo captar e conduzir as águas subterrâneas para locais seguros e
que não causem danos às obras/edificações de engenharia. Quando falamos
de água subterrâneas, estamos falando principalmente da água presente em
solos, nas rochas (nas fendas) e no lençol freático.
Os principais elementos que possuem a função de drenar essas águas do
subsolo são:

 Drenos profundos: têm como objetivo “[...] interceptar o fluxo da água


subterrânea através do rebaixamento do lençol freático, impedindo-o de
atingir o subleito” (BRASIL, 2006, documento on-line). Normalmente
esses drenos são instalados horizontalmente (e, por isso, podem ser
denominados também drenos longitudinais profundos). Conforme
descrevem Rodrigues, Suzuki e Tavares (2016), a altura desses drenos
depende da profundidade do lençol freático, podendo chegar a 1,50 m ou,
no máximo, a 2,00 m. Recomenda-se a instalação de drenos profundos
nos cortes com presença de lençol d’água até a profundidade de 1,5 m
abaixo do greide.

Existem diferentes materiais que são empregados nos drenos profundos, como os
que você confere a seguir.
 Materiais filtrantes: areia, terra, agregados britados, dentre outros.
 Materiais drenantes: britas (grossa, média, e fina), cascalhos, etc.
 Materiais condutores: tubos de concreto, cerâmicos ou plásticos.
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 Drenos espinha de peixe (sub-superficiais): destinados à “[...] drena-


gem de grandes áreas, pavimentadas ou não, normalmente usados em
série, em sentido oblíquo em relação ao eixo longitudinal da rodovia ou
área a drenar” (BRASIL, 2006, documento on-line) (Figura 5).

Figura 5. Exemplos de dreno do tipo espinha de peixe.


Fonte: EthelJay/Shutterstock.com.

 Drenos sub-horizontais: são aplicados para “[...] prevenção e correção


de escorregamentos nos quais a causa determinante da instabilidade
é a elevação do lençol freático ou do nível piezométrico de lençóis
confinados” (BRASIL, 2006, documento on-line).
 Galerias de drenagem: têm como objetivo transportar a água da
chuva (pluvial), a água de dejetos líquidos e sólidos de todo o sistema
de drenagem urbana (normalmente das ruas e avenidas), desde a cap-
tação até o local de despejo, que normalmente são recursos hídricos
(Figura 6). Essas galerias subterrâneas normalmente apresentam seção
circular, retangular ou oval.
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Figura 6. Saída de uma galeria de drenagem.


Fonte: Rootstock/Shutterstock.com.

 Poços de alívio (ou trincheiras): tem como objetivo drenar as águas


que fluem através do maciço e aliviar as supressões impostas pela
carga hidráulica do reservatório (OLIVEIRA, 2008). Ou seja, o poço
de alívio consiste em furos de drenagem abertos na área/terreno (com
diâmetros entre 75 e 150 mm), com o objetivo de reduzir as subpressões
desenvolvidas pela percolação de água na fundação.

3 Tipologias de drenagem em obras geotécnicas


Durante muitos anos, a drenagem foi abordada como algo acessório pelos
governantes. Dessa forma, o crescimento das áreas urbanizadas se processou
de forma acelerada e somente em algumas cidades a drenagem foi considerada
fator preponderante no planejamento da sua expansão. Porém, cada vez mais,
a drenagem vem sendo um assunto de destaque nos projetos civis, visto sua
importância para garantir a segurança da população e da infraestrutura de
modo geral (CANHOLI, 2005).
Dessa forma, é essencial investir em medidas de infiltração e drenagem
das águas pluviais. De acordo com Suzuki, Azevedo e Kabback Junior (2013),
as medidas de infiltração possuem como principais vantagens:
14 Drenagem superficial e profunda

 aumento da recarga do lençol freático;


 diminuição das vazões máximas de jusante;
 estímulo do uso de paisagens verdes;
 busca da preservação da vegetação natural.

Existem medidas muito simples que buscam promover a infiltração e a


drenagem em obras e que incluem desde a adoção de calçamentos permeáveis,
ou de módulos vazados, para passeios públicos e estacionamentos, até pequenas
obras ou dispositivos criados e localizados com o objetivo de propiciar maior
infiltração no solo. Entre esses dispositivos, Miguez, Veról e Rezende (2015)
citam os que você confere a seguir.

 Planos de infiltração: áreas planas, normalmente gramadas ou vege-


tadas de alguma forma, que recebem a água de uma área imperme-
ável, fazendo essa água (ou parte dela, dependendo da precipitação)
infiltrar-se no terreno enquanto são percorridas. Ao final desses planos
de infiltração, normalmente são colocadas valas de infiltração, ou
drenos, para coletar o excesso. Eventualmente, dependendo do volume
precipitado, esses planos podem ficar submersos durante algum tempo.
 Valas de infiltração: dispositivos de drenagem longilíneos, muitas
vezes utilizados ao longo de estradas ou conjuntos habitacionais e que
podem aparecer no fim de planos de infiltração. Essas valas concentram
o fluxo das áreas adjacentes e criam condições para infiltração ao longo
do seu comprimento. Devem ter volume suficiente para que não ocorra
transbordamento, enquanto não ocorre toda a infiltração, funcionando
como um reservatório de detenção, à medida que a vazão que escoa
para a vala seja maior do que a sua capacidade de infiltração.
 Bacias de percolação: dispositivos de percolação utilizados dentro de
lotes, também com o objetivo de diminuir o escoamento superficial e
aumentar a recarga. As bacias são construídas para receber a água que
vem do telhado e criar condições de escoamento através do solo. Isso
ocorre pela remoção de camada superior do solo, substituindo-a por
cascalho, o que cria espaço para armazenamento. Para que esse disposi-
tivo funcione, o nível do lençol freático precisa ser relativamente baixo;
caso contrário, talvez não haja área suficiente para armazenamento.

Muitas obras de engenharia necessitam realizar cortes em taludes e, dessa


forma, para evitar a sua erosão, é importante investir em obras de contenção
(Figura 7). Não basta apenas plantar vegetação sobre locais íngremes, porque
Drenagem superficial e profunda 15

demora para crescer e enraizar e, com as chuvas, o solo acaba sendo levado
(processo denominado lixiviação). Assim, é importante investir em barreiras
de contenção, comumente construídas com pedras, concreto ou madeira. É
importante, também, construir canais para escoar a água da chuva e evitar a
erosão. Após a sua construção, as barreiras devem ser cobertas com vegetação,
como, por exemplo, gramíneas, para impedir que o solo seja lixiviado pela
água das chuvas.

Figura 7. Obras de engenharia utilizadas para conter a erosão em encostas.


Fonte: ThamKC/Shutterstock.com.
16 Drenagem superficial e profunda

Miguez Veról e Rezende (2015) descrevem que o reflorestamento de áreas


degradadas, como das encostas e margens de rios que foram ocupadas irre-
gularmente, é uma importante medida extensiva para restabelecimento do
balanço hidrológico natural de uma bacia urbanizada. O reflorestamento
previne a erosão, preservando a camada superficial do solo, e favorece a
infiltração; assim, o volume de escoamento superficial é reduzido, o que
permite o correto funcionamento das estruturas de drenagem, uma vez que
uma menor quantidade de água e sedimentos chega ao sistema.
Outro dispositivo que busca facilitar e agilizar a drenagem da água do solo
são os geodrenos, que, segundo Almeida e Marques (2010), até pouco tempo
atrás, eram preenchidos com areia, material que permitia a drenagem das
águas subterrâneas. Porém, os revestimentos de areia (também denominados
drenos de areia) estão caindo em desuso e sendo substituídos tipicamente
pelos geodrenos pré-fabricados. Os geodrenos são tipicamente compostos de
um núcleo drenante envolto por um filtro geotêxtil. O núcleo é tipicamente de
plástico e possui ranhuras ou canais que permitem a drenagem livre da água.
O filtro geotêxtil, por sua vez, permite a passagem de água para o núcleo,
retendo as partículas de solo (Figura 8).

Figura 8. Composição típica do geodreno.


Fonte: Maxdren ([2019], documento on-line).

A função dos geodrenos é facilitar e acelerar a drenagem de água do solo,


diminuindo a distância de viagem da água dentro do solo. Na grande maioria
dos casos, os geodrenos são dispostos verticalmente na área onde há necessi-
dade de se realizar a drenagem de água. Almeida e Marques (2010) destacam
que a utilização de drenos verticais promove a aceleração dos recalques ao
diminuir o caminho de drenagem dentro da massa de solo compressível para
cerca da metade da distância horizontal entre drenos.
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Na grande maioria dos casos, os geodrenos são cravados no solo com auxílio de
máquina e são utilizados em obras com extensas áreas de sobrecargas sobre solos
moles, ou seja, que apresentam baixa resistência. Como exemplos de obras que
fazem uso dos geodrenos, temos as rodovias, as ferrovias, os aeroportos, dentre
outros, quando construídas sobre solos moles. Por ocuparem uma extensa área de
solo, é comum que esses tipos de obras possuam cargas distribuídas de aterros que
sobrecarregam os solos moles, gerando um excesso de poropressão no interior do
solo. Esse excesso de poropressão é dissipado com o tempo e causa recalques na
construção, podendo provocar diversas patologias. Uma alternativa para evitar
a criação de patologias por esses tipos de recalques é acelerar a dissipação da
poropressão com a aplicação de geodrenos. Assim, os recalques são controlados e
grande parte ocorre antes da finalização da obra e sua ocupação, garantindo mais
segurança e menor desenvolvimento de patologias devido a recalques.
Outra solução para conter a água subterrânea são as membranas geotêxteis.
Segundo Queiroz (2016), a principal função das membranas geotêxteis é filtrar
e drenar; logo, esse material é utilizado em obras que necessitam de elemento
filtrante e/ou drenante eficiente. A Figura 9 apresenta alguns exemplos de
como os geotêxteis são utilizados.

Figura 9. Aplicações dos geotêxteis como filtro em obras de drenagem subterrânea


de estradas — trincheiras laterais.
Fonte: Queiroz (2016, p. 388).
18 Drenagem superficial e profunda

Percebe-se a importância de investir em obras de drenagem, pois esses


sistemas garantem segurança, qualidade, maior vida útil das edificações/
construções e, principalmente, a segurança da população. Muitos governantes
ainda fazem uso da expressão “cano enterrado não gera voto”, porém, essa
mentalidade precisa mudar urgentemente (TUCCI, 2005). Com a retirada da
vegetação nativa e a impermeabilização do solo através de rodovias e calçadas,
a infiltração de água diminui, aumentando o escoamento superficial. Essa água
escoa para regiões mais baixas, provocando sérios problemas de inundações
e resultando em prejuízos econômicos e sociais.
Logo, é função dos engenheiros encontrar soluções que busquem conci-
liar tanto o desenvolvimento econômico e social quanto a sustentabilidade
ambiental do sistema. É fundamental analisar os índices pluviométricos, o
tipo de solo, as características geomorfológicas, a topografia, o relevo, dentre
outros, antes de projetar um sistema de drenagem.

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20 Drenagem superficial e profunda

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