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GEOTECNIA
Introdução
A presença de água nos vazios dos solos provoca a redução da re-
sistência no maciço terroso. Quando ocorre fluxo de água, ou seja,
quando há movimento hídrico no interior dos solos, essa redução se
torna mais intensa, podendo até causar a nulidade da resistência ao
cisalhamento dos solos, como ocorre no fenômeno conhecido como
areia movediça. Essa movimentação interna da água ainda pode carrear
as partículas de solo, ocasionando o fenômeno denominado piping.
Ademais, quando isso ocorre na superfície, pode acarretar a erosão
superficial das camadas do solo.
Neste capítulo, você vai entender a importância do estudo da per-
colação e fluxo de água nos solos, identificando diferentes rupturas
hidráulicas e os fenômenos de areia movediça e piping.
que podem ocorrer em solos. O primeiro deles refere-se à perda de peso que
as pressões de fluxo exercem de maneia ascendente ao solo, causando um
“levantamento” das partículas, chamado de areia movediça. O segundo é
chamado de piping, ou retroerosão tubular, que provoca uma erosão interna
em que as partículas de solo são carreadas por forças de percolação no interior
do maciço, assemelhando-se ao processo de erosão superficial que ocorre
mediante à ação das chuvas.
Segundo Trillo (1999), a palavra erosão provém do latim erodere, que
significa “roer”. No âmbito da geotecnia, a erosão dos solos é definida como
o processo de desagregação e posterior transporte das partículas de solo.
A intensidade com que a erosão pode acontecer depende de diversos fatores,
como a geologia, o clima e a ação antrópica.
Em termos de velocidade, a erosão superficial pode ser classificada como
natural — quando ocorre devido ao constante processo de formação dos solos
— ou acelerada — quando a ação humana provoca a aceleração do processo
erosivo mediante desmatamento, por exemplo. Também se pode classificar
a erosão quanto ao agente erosivo, como pela ação de águas pluviais ou pela
ação do vento, na chamada erosão eólica.
A erosão por ação hídrica é responsável por danos como queda de mo-
radias, perda de solo agricultável, soterramento de estradas, assoreamento
de rios e canais, poluição, redução da capacidade de armazenamento de
reservatórios de água, entre muitos outros. No entanto, todos esses danos
podem ser prevenidos, pois é possível prever o desencadeamento e a evolução
desses processos, sendo necessário conhecer as potencialidades do solo e
sua suscetibilidade à erosão.
Erosão hídrica
A erosão hídrica decorre do processo de desagregação de maciços rocho-
sos ou terrosos e do transporte pelas águas pluviais. Esse tipo de erosão
pode se manifestar na forma de erosão pluvial, erosão laminar, erosão
por escoamento difuso (ravinas) ou erosão por escoamento concentrado
(voçorocas) (Figura 1).
Rupturas hidráulicas 3
Figura 2. Desprendimento das partículas de solo pelo impacto das gotas de chuva.
Fonte: WATER... (2020, documento on-line).
4 Rupturas hidráulicas
Por sua vez, a erosão laminar (Figura 3) se processa durante fortes pre-
cipitações, quando o solo superficial já está saturado, sendo produzida por
um desgaste suave e uniforme da camada superficial. Tal fenômeno se desen-
volve quando há poucos obstáculos e é considerado muito comum em regiões
semiáridas. Seja como for, é de difícil observação e pode ser percebido pelo
aparecimento de raízes ou marcas nas estruturas, além de variar dependendo
de diversos fatores, como regime de chuvas, cobertura vegetal, topografia e
solos (GOMES, 2001).
Os tipos de erosão podem ser facilmente identificados pela profundidade do solo que
a degradação atinge. A erosão laminar ocorre como uma “lavagem” do solo, atingindo
a parte mais superficial. A erosão em ravinas alcança maiores profundidades, mas
não atinge o nível d’água. Quando o processo de degradação atinge o nível d’água,
recebe o nome de voçoroca.
2 Areia movediça
No fenômeno conhecido como areia movediça, a areia perde sua resistência
ao cisalhamento, ou seja, sua capacidade de suporte. Nessas condições, a areia
passa a apresentar propriedades de um fluido. Esse fenômeno ocorre quando
a areia está submetida a um fluxo ascendente de água e, simultaneamente,
quando a força de percolação gerada pelo fluxo ascendente se iguala ou supera
a força efetiva vertical do solo (Figura 5).
francês Henry Darcy (1803–1858) observou que o fluxo ocorria com certa
vazão (Q) que poderia ser obtida por meio de uma formulação, conhecida
como a lei de Darcy, expressa por:
A carga total nos solos é calculada pela soma das cargas altimétrica, pie-
zométrica e cinética. A carga cinética é comumente desprezível frente às
demais. Veja a seguir um exemplo de como calcular essas cargas usando um
permeâmetro.
Exemplo 1
O que queremos aqui é determinar as cargas hidráulicas nos pontos A, B e C
do permeâmetro exibido na Figura 7.
Assim, a carga total equivale à soma das cargas altimétricas com as cargas
piezométricas em cada ponto:
Exemplo 2
Digamos que um ensaio de permeabilidade de carga variável com fluxo des-
cendente tem as dimensões apresentadas na Figura 9. É possível observar dois
solos distintos. O solo A é areia e apresenta área de 100 cm2, comprimento
de 20 cm e coeficiente de permeabilidade de 4 × 10 -3 cm/s. O solo B também
é areia e apresenta área de 400 cm 2, comprimento de 10 cm e coeficiente de
permeabilidade de 2 × 10 -3 cm/s. Com base nos dados fornecidos, temos de
identificar se ocorrerá o fenômeno da areia movediça (ic), em alguma dos
solos apresentados.
Sabendo que:
A partir dos dados obtidos, obtém-se o gradiente crítico das amostras apresentadas:
3 Piping
A migração de partículas através dos vazios dos solos devido a elevadas
forças de percolação caracteriza um fenômeno mundialmente conhecido
como piping, ou ainda retroerosão tubular. O piping pode ser definido como
a remoção hidráulica de solo subsuperficial, causando a formação de canais
e cavidades subterrâneas (BOUCHER, 1995). Em outras palavras, o piping
é o processo de erosão interna do solo que ocorre de forma tubular. Durante
esse, processo o solo é carreado entre os seus vazios.
Onde existe fluxo de água do material com granulometria mais fina para
a mais grossa, é comum o transporte de partículas finas. No entanto, o car-
reamento excessivo de partículas é caracterizado como uma patologia que
pode levar ao desenvolvimento de piping, um dos principais fenômenos que
ocasionam colapso de barragens no mundo. Segundo Silva (2016), um dos
métodos utilizados para controle do fluxo é a introdução de dispositivos
internos de drenagem na barragem e na fundação. Dessa forma, verifica-se
a necessidade de projetar e construir adequadamente a estrutura, além de
implementar um eficiente monitoramento e gestão para garantir sua susten-
tabilidade econômica, social e ambiental.
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