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Erosão

É chamado erosão o processo de arrastamento das partículas do solo devido à ação do vento (erosão
eólica) e da água (erosão hídrica).
A erosão é um processo que ocorre de forma natural e que — ao longo de bilhões de anos, muito
lentamente — "esculpiu" as montanhas, as planícies e os vales do nosso planeta. Em condições naturais, a
quantidade de solo erodido é muito pequena, sendo recomposta pela própria natureza. Isso caracteriza uma
condição de equilíbrio.
Entretanto, quando o homem cultiva a terra, esse equilíbrio é rompido. Florestas são derrubadas e
queimadas, a camada superficial de solo é revolvida por arados e grades durante o preparo do solo para o
plantio. Em um solo descoberto e preparado, os agentes erosivos (chuva e vento por exemplo) não
encontram barreiras, arrastando uma quantidade de solo maior do que aquelas que são deslocadas em
condição natural.
Os processos de erosão ocorrem em três etapas:
1ª) Desagregação: pela ação dos ventos e das chuvas, as partículas do solo são soltas da superfície, o que
ocorre com maior facilidade em terrenos descobertos.
2ª) Transporte: as partículas desagregadas são arrastadas, principalmente pela água que não se infiltra no
solo e escorre superficialmente (enxurrada).
3ª) Deposição: as partículas desagregadas são depositadas nas partes mais baixas da paisagem (vales e leitos
dos rios), o que ocasiona o assoreamento (como será visto adiante).
A chuva é o principal agente erosivo no nosso país. A água da chuva transporta o material erodido (o
material que é arrastado do solo) para locais onde ele não poderá ser aproveitado pela agricultura, tornando o
solo que sofreu a erosão, menos fértil e menos espesso.
Quando um terreno apresenta infiltração excessiva, ou seja, quando a água da chuva ou de irrigações
percorre toda a camada de solo sem ser retida, os nutrientes presentes naquele solo são dissolvidos e levados
para os lençóis freáticos1, tornando-se indisponíveis para a nutrição e o crescimento das plantas. Esse
processo é chamado de lixiviação.
O material erodido é transportado para o leito de rios, riachos e lagoas. O acúmulo desse material no
leito aquático (no fundo dos rios) desencadeia um processo chamado de assoreamento (Figura 4), que é a
diminuição da profundidade da camada de água. O rio assoreado passa a correr mais lentamente, o que por
sua vez provoca maior assoreamento, gerando um círculo vicioso. Com o passar do tempo, o espaço para a
água fica muito reduzido, provocando grandes danos, como o prejuízo de toda a vida aquática, a
modificação dos ecossistemas2, a inviabilização da navegação, inundações nas áreas próximas e problemas
de abastecimento (o volume de água disponível para consumo também diminui).

1
Lençóis freáticos são as camadas de água subterrâneas que se encontram em nível pouco profundo, logo abaixo do solo, da superfície.
2
Ecossistema é o nome que se dá ao conjunto de todos os seres vivos (os vegetais e os animais) e do ambiente (o solo, os minerais etc.) de
certa região.
Figura 4. Rios assoreados. (Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br)
A erosão hídrica pode ocorrer basicamente de três formas: laminar, por sulcos ou como voçorocas.
 Erosão hídrica laminar
É a primeira forma de erosão a atingir qualquer terreno, na qual ocorre a remoção de uma fina
camada superficial ocasionada pela passagem de água durante uma chuva. Essa remoção ocorre ano após
ano, sendo percebida apenas quando as raízes das plantas (principalmente de árvores) ficam expostas. É
bastante preocupante, pois dificilmente é notada. O que agrava o problema é o fato dessa camada
removida ser componente da parte mais rica do solo, da parte que contém grande quantidade da matéria
orgânica, necessária ao desenvolvimento vegetal.
 Erosão hídrica em sulcos
Ocorre quando a enxurrada se concentra em alguns pontos, abrindo pequenas "valetas", de alguns
centímetros de profundidade, na superfície do terreno (Figura 5). Com o passar do tempo, esses canais
vão aumentando, tornando-se mais largos e profundos a cada precipitação. Esse tipo de erosão acontece
principalmente em solos desprotegidos e de relevo íngreme (muito inclinado), onde a água da chuva
escoa com maior velocidade. Em solos cultivados continuamente (um cultivo seguido logo após o outro)
o efeito desse processo costuma ser maior. Sulcos que apresentam uma queda d’água em sua
extremidade provavelmente se transformarão em voçoroca ao longo do tempo.

Figura 5. Erosões em sulcos. (Fonte: Lima, 2007).


 Erosão hídrica em forma de voçorocas
São chamados de voçorocas os sulcos que apresentam largura e profundidade muito maiores que
os citados acima (Figura 6). Esse tipo de erosão ocorre geralmente em solos profundos, de fácil
penetração e cultivados sem o mínimo cuidado com a conservação, o que impede futuros cultivos. As
voçorocas aumentam suas dimensões (a largura e a profundidade) com a ação da água que escoa pelo
sulco, levando mais material erodido e derrubando as paredes do sulco, podendo afetar muitos hectares e
deixando a área economicamente inaproveitável.

Figura 6. Erosões em voçorocas. (Fonte: Lima, 2007).


5. FATORES ASSOCIADOS À EROSÃO
De acordo com Resende (1985), o grau de erosão depende de vários fatores, que são: textura,
estrutura e permeabilidade do solo; matéria orgânica presente no solo; declive, comprimento de rampa e
forma de encosta do relevo.
5.1Textura
Chamamos de textura à aparência física do solo, que depende da massa (do peso) das partículas que
o formam e da agregação entre elas (o modo como essas partículas se unem). A massa e a agregação das
partículas influenciam a coerência entre as partículas (a força de união entre elas) e a permeabilidade do
solo (o quanto de água ele permite passar).
 Solo arenoso
Solo em que há o predomínio de partículas de areia. Apresenta textura mais grossa e baixa
agregação entre as partículas (as partículas são mais separadas). Por formar grandes espaços porosos,
esse tipo de solo, durante uma chuva de baixa intensidade, absorve com facilidade a água precipitada.
Contudo, devido à baixa proporção de argila que atua ligando as partículas grandes, uma pequena
enxurrada, escorrendo pela superfície, pode arrastar grande quantidade de solo. Por isso, o solo arenoso
sofre mais com a erosão.
 Solo siltoso
Tipo de solo que contém elevados teores de silte (partículas de tamanho intermediário entre as da
argila e as da areia, mas menos pesadas que as partículas de areia). Apresenta melhor agregação que a
areia quando seco mas, quando úmido, forma agregados instáveis, que são transportados com maior
facilidade.

 Solo argiloso
Solo em que há o predomínio de partículas de argila. Apresenta menores espaços porosos, o que
proporciona maior retenção de água; por esse motivo, a penetração da água é difícil e mais lenta, o que
favorece o escorrimento pela superfície. Entretanto, devido à grande presença de argila, a força de
coesão das partículas é maior, o que faz aumentar a resistência à erosão.
 Relação entre a textura e as ocorrências naturais (ventos e chuvas)
Quando os agregados são destruídos — pela ação da chuva ou de implementos agrícolas — o
deslocamento das partículas torna-se mais fácil. Assim, a areia grossa, devido ao peso, é depositada com
maior facilidade, enquanto a argila e o silte, que são mais finos e leves, são transportados e mais bem
aproveitados pelos vegetais. A areia fina, em relação à grossa, sofre mais com a erosão, pois além de
apresentar baixa agregação, é levada com maior facilidade pelo vento e pela chuva.
Permeabilidade Estrutura
Em solos bem estruturados, ou seja, bem agregados, as partículas menores agregam-se com
partículas maiores, aumentando o número de macro poros do solo. Isso facilita a infiltração de água,
evitando a ocorrência de enxurradas. Esses solos são mais resistentes à erosão, pois dificultam a primeira
etapa desse processo, que é a desagregação pela água. A estrutura em blocos proporciona permeabilidade
menor e, consequentemente, erosão laminar acentuada. A estrutura granular proporciona maior
permeabilidade e uma tendência maior de desenvolver erosão em sulcos
A permeabilidade é um fator intimamente ligado com a estrutura do solo. Solos de pouca
permeabilidade (que dificultam a infiltração da água) tendem a sofrer maior erosão, pois favorecem o
arrastamento das partículas através do escoamento superficial ou subsuperficial. Solos extremamente
permeáveis (que facilitam a infiltração da água) tendem a ter grandes perdas por lixiviação, tornando-se
empobrecidos. Portanto, o solo ideal deve apresentar permeabilidade equilibrada, nem muito alta nem muito
baixa. OBSERVAÇÃO: Tanto para diminuir quanto para melhorar a permeabilidade de um solo, é necessário
adicionar matéria orgânica. No caso de solos arenosos, a matéria orgânica contribuirá para maior agregação
das partículas e ajudará na retenção de água. Em solos argilosos, devido aos agregados, ocorrerá aumento no
tamanho dos poros, o que facilitará a movimentação da água.
5.2 Presença de matéria orgânica
A matéria orgânica presente no solo é proveniente dos restos animais e vegetais que entram em
processo de decomposição. Ela é de extrema importância, sendo principalmente fonte de nutrientes. A
matéria orgânica também melhora a estrutura do solo, aumentando sua permeabilidade. Ela auxilia na
agregação das partículas (areia, silte e argila), agindo como um agente cimentante, além de manter a
umidade do solo e de conferir maior estabilidade aos agregados, o que dificulta sua dispersão e arraste pela
enxurrada.

Relevo (comprimento, declive e forma da encosta)


Altas declividades acentuam as perdas por erosão, por aumentarem a velocidade com que a água
escorre nessas circunstâncias. Lançantes (qualquer terreno em declive) extensos e de forma linear agravam a
erosão, pois facilitam a movimentação de maiores volumes de água. Ou seja, quanto maior o comprimento
da rampa ou maior sua inclinação, maior será a perda por erosão.
Quanto mais convexa a forma da encosta, maior será o grau de erosão, pois a concentração da água
causa grande instabilidade, especialmente no terço inferior da encosta. Nos terrenos convexos, há
divergência da água da enxurrada, desenvolvendo-se uma erosão mais uniforme e laminar, o que causa a
retirada do solo erodido do sistema, que leva consigo os nutrientes. Nos terrenos côncavos, há convergência
da água da enxurrada, desenvolvendo-se uma erosão mais localizada, tendendo à formação de sulcos e
voçorocas. Além disso, o solo erodido é depositado nas partes baixas do terreno, fazendo os nutrientes
acumularem-se nelas.
Enquanto os solos de declividade acentuada sofrem com a erosão, os solos planos e muito
permeáveis são atingidos pela lixiviação intensa.
APLICAÇÃO DE PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS
Para o controle da erosão em sistemas de pastagens, são benéficas as boas práticas de manejo,
como o plantio de leguminosas em consórcio com gramíneas, a rotação de pastos e o não uso de fogo. O
uso de leguminosas, quando em consórcio, além de melhorar a qualidade da forragem para o gado, fornece
nitrogênio à gramínea, melhorando seu desenvolvimento vegetativo. A rotação do pasto permite um corte
mais homogêneo, facilitando a rebrota uniforme da gramínea e melhorando a cobertura do solo. Quando
essa prática é adotada em conjunto com o não uso de fogo, seus benefícios são maiores, porque se
reduzem as perdas de nutrientes pela erosão. Nas áreas de pastagens, à época de reforma ou implantação, é
aconselhável construir terraços, para disciplinar o escoamento da água de chuvas, cujo dimensionamento
deve ser orientado por técnicos ou engenheiros agrônomos. Para culturas perenes e florestais, normalmente
os maiores problemas de erosão ocorrem nos primeiros anos de implantação, quando as espécies
arbustivas ou arbóreas estão pouco desenvolvidas e, por isso, produzem insuficiente cobertura do solo.
Nesse caso, as técnicas mais recomendadas são:
 o cultivo em nível, a construção de terraços, e o plantio de leguminosas, como adubos verdes
intercalados com espécies comerciais.
No caso de áreas agrícolas cultivadas com espécies de ciclo curto, em que é necessário constante
preparo do solo, as práticas conservacionistas mais recomendadas são:
 o plantio direto na palha, o plantio em nível, a construção de terraços, a rotação e a sucessão de culturas.
Deve-se dar atenção especial para a combinação de espécies com diferentes exigências
nutricionais, produção de fitomassa e sistema radicular abundantes, utilizando-se na rotação e sucessão de
culturas a alternância de uma cultura de relação carbono/nitrogênio (C/N), como as gramíneas, com outra
de baixa relação C/N, como as leguminosas, para se obter um equilíbrio entre quantidade e qualidade de
matéria orgânica.

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