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GEOTECNIA

APLICADA

Ronei Tiago Stein


Sistema de vedação e
drenagem para barragens
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer a importância do controle de fluxo em barragens.


 Discutir os diferentes sistemas de vedação e drenagem para barragens.
 Identificar os instrumentos de monitoramento de fluxo em barragens.

Introdução
Todas as barragens, independentemente se forem de terra ou concreto,
precisam apresentar um sistema de vedação e drenagem eficiente para
garantir a segurança da estrutura com o passar do tempo. De modo geral,
o sistema de vedação busca evitar que a água percole por determinada
zona em projeto, e os sistemas de drenagem têm como objetivo escoar
o excesso de água para locais que não produzirão danos à estrutura.
Neste capítulo, você vai ver a importância do controle de fluxo e
drenagem em barragens. Além disso, vai ver que existem diferentes
tipos de sistemas de vedação e drenagem de barragens e vai conhecer
os principais instrumentos utilizados no monitoramento da estrutura
das barragens.

1 Controle de fluxo em barragens


Segundo Oliveira (2014), as barragens têm como objetivo obstruir o fluxo de
água para formar um reservatório, que, por sua vez, normalmente, é utilizado
para: abastecimento de água, geração de energia, irrigação, controle de en-
chentes, perenização de rios, piscicultura e lazer.
Porém, quando falamos de barragens, é fundamental tomar alguns cuida-
dos que contribuam para a segurança da estrutura e da população de modo
geral, já que, se uma barragem romper-se, os impactos sociais, ambientais e
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econômicos serão enormes. Saré (2003) descreve que um dos cuidados mais
importantes que se deve tomar em relação à segurança de barragens é com
a percolação e com o controle de fluxo. Cada barragem é única e, conforme
Soares (1998), a percolação de água no solo varia de um local para outro,
principalmente devido a dimensão dos grãos, plasticidade, modo de lançamento
e profundidade do material.

Existem diferentes tipos de fluxo de água:


 fluxo unidimensional — quando o fluxo de água ocorre sempre na mesma direção;
 fluxo bidimensional — quando o fluxo das partículas de água se desloca em
um plano, livremente;
 fluxo tridimensional — quando as partículas se deslocam segundo qualquer
direção do espaço real.

É fundamental calcular o coeficiente de permeabilidade (K), que representa


a velocidade de percolação da água no solo. O Quadro 1 apresenta o grau de
permeabilidade dos materiais.

Quadro 1. Classificação quanto ao grau de permeabilidade

Coeficiente de permeabilidade (cm/s) Grau de permeabilidade

K < 10 -7 Praticamente impermeável

10 < K < 10
-7 -5
Muito baixo

10 -5 < K < 10 -3 Baixo

10 -3 < K < 10 -1 Médio

K >10 -1 Alto

Fonte: Adaptado de Soares (1998).


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A rede de fluxo permite a estimativa da vazão, poropressões e, conse-


quentemente, gradientes hidráulicos (GERSCOVICH, 2011). Redes de fluxo,
de modo geral, consistem na representação da percolação de água no solo.
Barnes (2016) menciona que uma rede de fluxo é constituída de dois conjuntos
de linhas, as linhas de fluxo e as linhas equipotenciais. A Figura 1 apresenta
uma ilustração com a diferença entre linhas equipotenciais e linhas de fluxo.

Figura 1. Representação de linhas equipotenciais (representadas pela linhas cheias) e linhas


de fluxo (representadas pelas linhas pontilhadas).

Para construir uma rede de fluxo, Barnes (2016) menciona que é necessário
habilidade e que, além disso, deve-se observar algumas regras básicas, como
as que você confere a seguir.

 Ângulos retos: as linhas de fluxo e as linhas equipotenciais devem


formar ângulos retos em sua interseção (Figura 2a).
 Blocos quadrados: as áreas formadas pela interseção das linhas de
fluxo e das linhas equipotenciais devem ser o mais próximo possível
de um quadrado, isto é, as dimensões centrais devem ser iguais. Um
teste bastante útil envolve visualizar se é possível colocar um círculo
dentro do bloco de modo que ele toque todos os quatro lados (Figura 2b).
 Limites impermeáveis: são linhas de fluxo. Exemplos são a superfície
de uma camada de argila, a superfície vertical de estacas-pranchas ou
a parte de baixo de uma barragem de concreto (Figura 2c).
 Limites permeáveis: onde o limite do solo impermeável estiver em contato
com água direta, como ocorre na face a montante de uma barragem de
aterro, esse limite seria uma equipotencial, ou seja, a carga total é constante
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neste limite. Isso também se aplica a um lençol freático horizontal dentro


de um depósito permeável, quando o fluxo se dá verticalmente para baixo,
como ocorre ao longo de uma escavação com estacas-pranchas (Figura 2d).

Figura 2. Regras da rede de fluxo.


Fonte: Adaptada de Barnes (2016).

Além dos fluxos de água, a medição dos movimentos horizontais na su-


pervisão do comportamento das barragens de terra ou enrocamento também
é de grande importância. Os movimentos horizontais são decorrentes da
compressibilidade dos materiais do aterro, assim como influenciados pela
forma do vale ao longo das ombreiras (SILVEIRA, 2006).
De acordo com Silveira (2006), a análise do fluxo de água, bem como do
deslocamento horizontal de barragens de terra, permite:
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 avaliar as diferentes compressibilidades dos materiais no aterro;


 comparar os deslocamentos horizontais medidos com os valores pre-
vistos em modelos matemáticos,
 conhecer as deformações horizontais ao longo da base do aterro;
 acompanhar a influência da aplicação do empuxo hidrostático sobre
os deslocamentos horizontais da barragem;
 determinar zonas no interior do aterro, as quais podem ser submetidas
a tensões de tração ou plastificação.

Conforme Saré (2003), a falta de sistemas eficientes de controle de fluxo


está entre as causas mais comuns de rompimento de barragens. Conforme o
autor, as rupturas por percolações em barragens são ocasionadas por duas
causas principais:

 piping ou rupturas geradas por erosões — ocorrem quando partículas


de solo migram em direção à região externa do aterro;
 saturação, excessivas subpressões ou excessivas forças de percolação
— são causadas por padrões de percolação não controlados.

Dessa forma, as forças de percolação levam à deformabilidade das barra-


gens. Conforme Machado (2007), existem diferentes fatores que influenciam
nas deformações, como:

 formato, dimensões e propriedades mecânicas do material matriz;


 baixa resistência ao cisalhamento dos materiais da barragem;
 espessura da camada compactada;
 método de lançamento, direção do movimento de espalhamento e grau
de compactação obtido do rejeito;
 altos valores de poropressão;
 natureza da fundação, que deve possuir permeabilidade compatível
com o objetivo de minimizar a percolação;
 declividade da superfície de fundação ao longo do eixo longitudinal e
seções transversais;
 variação do nível d’água do reservatório;
 atividade sísmica da região ou efeitos de detonação pela mineradora.

Para evitar as deformações em barragens, é fundamental investir em medidas


de controle e monitoramento de fluxo, com um sistema eficiente de controle
da percolação de água. Os profissionais envolvidos no projeto devem levar em
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conta que esse tipo de estrutura está sujeito à ação da água durante 24 horas por
dia, ao longo de toda a vida útil da obra, e que a percolação contínua da água
por meio do maciço pode produzir alterações da estrutura ao longo do tempo.

Segundo Barnes (2016), a percolação de água em uma barragem pode ocasionar a


formação de “rachaduras” na sua estrutura com o passar do tempo. Essas “rachaduras”
são classificadas de acordo com a abertura (e) em mm da seguinte forma:
 pequena: abertura entre 0,2 < e ≤ 1, denominada fissura;
 média: 1 < e ≤ 5, denominada trinca;
 grande: e > 5, denominada rachadura.

2 Sistemas utilizados na vedação


e na drenagem em barragens
Conforme ressalta Massad (2010), existem diferentes sistemas utilizados na
vedação e na drenagem de barragens. De modo geral, esses sistemas buscam
realizar o controle de percolação de água em maciços e fundações com o
objetivo de reduzir a permeabilidade nas fundações, diminuir o caminho de
percolação e conduzir adequadamente o fluxo.
Dentre os sistemas utilizados para vedação e drenagem de barragens,
tem-se:

 Trincheiras de vedação (cut off ): consistem na escavação executada


no solo de fundação que é preenchida com solo compactado, de modo
a ser um prolongamento do corpo da barragem (MASSAD, 2010). É
considerada uma solução efetiva devido a sua capacidade de interceptar
integralmente a feição permeável que se deseja impedir o fluxo (CRUZ,
2004). De acordo com Oliveira (2008), a trincheira de vedação pode ser
total (pode atravessar todo o estrato permeável, conforme indicado na
Figura 3a) ou parcial (apenas uma porcentagem do estrato permeável é
penetrado, conforme Figura 3b). Porém, para garantir maior segurança
e estabilidade das barragens, a trincheira de vedação do tipo total é a
mais indicada.
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Figura 3. (a) Trincheira de vedação do tipo total e (b) trincheira de vedação do tipo parcial.
Fonte: Adaptada de Oliveira (2008).

Conforme Cruz (2004), alguns aspectos devem ser levados em conta quando
as trincheiras de vedação necessitam ser utilizadas, como:

■ análise da largura da base da trincheira;


■ verificação da compatibilidade da deformação da trincheira com a
do material adjacente;
■ análise da estabilidade dos taludes de escavação.

Dentre as vantagens do uso das trincheiras de vedação, Oliveira (2008)


destaca:

 possibilidade de inspeção visual, tanto das paredes quanto do fundo


da escavação das trincheiras;
 possibilidade de um bom preparo superficial da base da trincheira;
 possibilidade do uso de equipamentos de escavação e terraplanagem
(como retroescavadeiras);
 possibilidade de preencher as trincheiras com materiais selecionados,
compactados sob controle tecnológico.
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Barnes (2016) menciona que, em barragens (principalmente barragens de terra), as


infiltrações provenientes do reservatório de água são bloqueadas ou controladas com
auxílio de argila, asfalto ou concreto, bem como uma trincheira de vedação impermeável
abaixo do núcleo. Esses recursos devem ser projetados para resistir à fratura hidráulica.

 Parede diafragma: consiste em uma parede de concreto armado, a qual


é escavada com o auxílio de um clamshell, e funciona como contenção
em uma escavação.

Em relação ao projeto da parede diafragma, deve-se levar em consideração os


esforços atuantes, como o empuxo de solo, o empuxo hidrostático e as sobrecar-
gas no terreno a ser contido. As paredes diafragma são utilizadas na escavação,
quando se pretende alcançar profundidades geralmente abaixo do nível do lençol
freático e com certa agilidade executiva (NEVES, [201-?], documento on-line).

A parede diafragma é considera um tipo de muro de contenção. Conforme descrevem


Souza e Naresi Júnior (201-?), a parede diafragma consiste em realizar, no subsolo, um
muro vertical de profundidades e espessuras variáveis, e busca absorver cargas axiais,
empuxos horizontais e momentos fletores.

A Figura 4 apresenta a ilustração de uma parede diafragma.

Figura 4. Representação do uso da parede diafragma.


Fonte: Adaptada de Oliveira (2008).
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 Cortina de injeção: se o solo da fundação for mais permeável do que a


barragem, o controle da percolação sob a fundação será essencial. Ela
pode ser virtualmente eliminada por meio de uma parede (ou cortina)
dita impermeável, como uma cortina de injeção. A Figura 5 apresenta
uma ilustração de como a cortina de injeção é implantada.

Figura 5. Aplicação da cortina de injeção.


Fonte: Adaptada de Knappett e Craig (2018).

 Tapetes impermeáveis: consistem em um prolongamento da barragem


em material argiloso a montante da barragem e seu objetivo é o aumento
da distância de percolação, reduzindo o gradiente hidráulico e a pressão
neutra de jusante (SARÉ, 2003). Qualquer medida destinada a alongar
o caminho da percolação, como um colchão impermeável de montante,
diminuirá parcialmente a percolação sob a fundação (KNAPPETT;
CRAIG, 2018). A Figura 6 apresenta um exemplo de como o tapete
impermeável é implantado.

Figura 6. Tapete impermeável à montante.


Fonte: Adaptada de Oliveira (2008).
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O uso do tapete impermeável é interessante quando a camada de solo permeável da


fundação possui grande espessura e inviabiliza a utilização de dispositivos de vedação,
como trincheiras de vedação total ou paredes diafragma (OLIVEIRA, 2008).

 Poços de alívio: são sistemas de drenagem utilizados em fundação perme-


ável quando a camada impermeável sobre a fundação no lado de jusante
tiver peso menor que a carga hidráulica, com o objetivo de evitar ruptura por
piping (SARÉ, 2003). A Figura 7 apresenta um exemplo de poço de alívio.

Figura 7. Aplicação de um poço de alívio.


Fonte: Adaptada de Oliveira (2008).

 Filtros de solo: são utilizados no controle da percolação e devem


satisfazer determinadas exigências fundamentais. Dentre essas exi-
gências, Knappett e Craig (2018) descrevem que os poros devem
ser suficientemente pequenos para evitar que partículas do solo
adjacente sejam transportadas. Ao mesmo tempo, a permeabilidade
deve ser alta o bastante para assegurar uma drenagem livre da água
que entrar no filtro. A capacidade de um filtro deve ser tal que ele
não se torne completamente saturado. No caso de uma barragem
de terra, um filtro colocado a jusante do núcleo deve ser capaz de
controlar e vedar qualquer vazamento que se desenvolva no núcleo
em consequência de erosão interna. O filtro também deve permane-
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cer estável sob um gradiente hidráulico excepcionalmente alto que


possa se desenvolver junto a tal vazamento. A Figura 8 apresenta um
exemplo de como os filtros são implantados em barragens de terra.

Figura 8. Aplicação de filtros em barragens de terra.


Fonte: Adaptada de Barnes (2016).

A drenagem de barragens consiste em uma garantia de que a obra resis-


tirá à força das águas durante um determinado período de tempo, conforme
apresentam Ferraz, Santos e Paim (2017). Para isso, um sistema eficiente de
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drenagem é a garantia de um comportamento satisfatório de uma estrutura de


contenção. Em caso de ausência ou deficiência de um sistema de drenagem,
Carvalho e outros (MANUAL..., 1991) relatam problemas de infiltrações
nos taludes, motivando saturação e, consequentemente, erosão, que podem
promover até mesmo o colapso de toda a estrutura.

3 Instrumentos utilizados para monitoramento


de fluxo em barragens
Não basta apenas implantar sistemas de drenagem em barragens (sejam elas de
terra ou concreto), também é necessário monitorar constantemente a estrutura
da barragem, verificando se o sistema de drenagem realmente está sendo eficaz.
Para isso, utilizam-se diferentes instrumentos de controle.
A operação de instrumentos de controle é muito importante em todas as
fases da vida útil de uma barragem, ou seja, desde o período de construção,
passando pelo enchimento do reservatório — que consiste na primeira avaliação
do desempenho das estruturas e fundações e que merece mais atenção por se
tratar de um período em que ocorre a maioria dos acidentes e incidentes —
até chegar à fase de operação, na qual podemos analisar se o comportamento
da barragem está de acordo com o que foi previsto, sendo possível conhecer
qualquer variação nas condições de segurança (SMIDERLE, 2014).
Dentre os instrumentos de controle de fluxo em barragens, pode-se citar
os furos de sondagem e piezômetros. Os furos de sondagem objetivam inves-
tigar e identificar amostras, analisando a qualidade do solo nas barragens de
terra. Para isso, são realizados diversos furos, com diâmetro de 5 e 7,5 cm
e espaçamento entre eles de aproximadamente 3 m. Cabe mencionar que a
profundidade, o espaçamento e a inclinação dos furos podem ser alterados
de acordo com o desempenho de injeção em campo (MENDONÇA, 2012).
Já os piezômetros (Figura 9) são utilizados para mensurar a pressão da água
em solo, rochas, fundações e estruturas de concreto. Com os dados obtidos,
é possível obter dados quantitativos e significativos sobre a magnitude e a
distribuição da pressão e a sua variação com o tempo (CERQUEIRA, 2017).
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Figura 9. Piezômetro.
Fonte: Adaptada de Chiakto/Shutterstock.com; Fouad A. Saad/Shutterstock.com.

Cruz (2004) menciona que existem diferentes tipos de piezômetros; veja


a seguir os mais utilizados.

 Piezômetro de tubo aberto (também denominado de standpipe


ou piezômetro Casagrande): constituído por um tubo de PVC, em
que, na extremidade inferior, acopla-se uma célula (o tubo é perfu-
rado e envolvido com membrana geotêxtil). A célula, por sua vez,
fica inserida em um bulbo de material drenante e confinada num
trecho limitado por uma camada selante (usualmente bentonita ou
solocimento), utilizada para vedar o espaço anular entre o tubo e o
furo (FONSECA, 2003). A Figura 10 apresenta uma ilustração do
piezômetro de tubo aberto.
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Figura 10. Piezômetro de tubo aberto.


Fonte: Fonseca (2003, documento on-line).

 Piezômetro pneumático: esse tipo de equipamento utiliza um sistema sim-


ples de leitura. A Figura 11 apresenta uma ilustração desse tipo de piezômetro.

Figura 11. Piezômetro pneumático.


Fonte: Fonseca (2003, documento on-line).
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Conforme apresenta Silveira (2006, p. 66), a leitura dos piezômetros pneumático é


realizada ao aplicar-se:

Uma pressão crescente, através da tubulação de alimentação e mede-se a


intensidade de pressão na tubulação de retorno, momento em que a pressão
se iguala à pressão intersticial do solo. Quando a pressão na tubulação de
retorno atinge zero, é possível determinar exatamente a pressão exercida pela
água que passa através da pedra porosa, em equilíbrio com a água intersticial.

 Piezômetro hidráulico: é constituído por uma pedra porosa e, conforme


Silveira (2006), conectada a um painel de leitura externo por meio de
dois tubos flexíveis de nylon revestidos de polietileno e de pequeno
diâmetro. Por meio da pedra porosa, a água contida nos poros do solo
ou nas fraturas da fundação da barragem está em contato direto com a
água no interior da tubulação e no painel de leituras. Assim, qualquer
variação de poropressão junto à célula piezométrica será automatica-
mente registrada no indicador externo de pressões (FONSECA, 2003).
A Figura 12 apresenta uma ilustração de um piezômetro hidráulico.

Figura 12. Piezômetro hidráulico.


Fonte: Fonseca (2003, p documento on-line).
16 Sistema de vedação e drenagem para barragens

 Piezômetro elétrico: esse instrumento apresenta como característica


importante a possibilidade de “[...] realizar medições dinâmicas, com
registro contínuo dos dados, pois apresenta um tempo de resposta
praticamente instantâneo em relação à pressão aplicada” (FONSECA,
2003, documento on-line). Fonseca (2003) menciona que esse tipo de pie-
zômetro (Figura 13) é constituído por um diafragma de aço inoxidável,
no qual são fixados extensômetros elétricos de resistência. Dessa forma,
os piezômetros elétricos oferecem os mais baixos tempos de resposta.

Figura 13. Representação de um piezômetro elétrico.


Fonte: Fonseca (2003, documento on-line).

 Piezômetro de corda vibrante: é aplicável na grande maioria dos casos/


obras. O funcionamento desse tipo de instrumento ocorre quando a
pressão intersticial da água é transferida através da pedra porosa para
um diafragma interno, cuja deflexão é medida por um transdutor de
corda vibrante instalado perpendicularmente ao plano do diafragma
(SILVEIRA, 2006). A Figura 14 apresenta uma ilustração de piezômetro
de corda vibrante.
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Figura 14. Piezômetro de corda vibrante.


Fonte: Fonseca (2003, documento on-line).

Para saber mais sobre os diferentes tipos de piezômetros, leia o artigo “Influência da
Permeabilidade no Tempo de Resposta de Diferentes Tipos de Piezômetros na UHE
Dona Francisca”, de Bressani et al. (2019).

 Medidores de vazões de drenagem: instrumentos instalados junto aos


drenos em galerias de drenagem com o objetivo de medir as vazões de
drenagem pela fundação e infiltrações, sendo muito importantes na
fase de enchimento do reservatório e no período de operação. Podem
ser do tipo medidor triangular de vazão, medidor trapezoidal de vazão
e Calha Parshall (SILVEIRA, 2006).

É necessário medir, além disso, os deslocamentos horizontais de uma barragem


de terra ou enrocamento que são decorrentes da compressibilidade dos materiais
do aterro. Para medir o deslocamento horizontal, faz-se uso dos inclinômetros e
marcos superficiais. Os inclinômetros são utilizados para avaliar a estabilidade
de taludes em barragens, obras rodoviárias, escavações a céu aberto, obras de
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mineração, dentre outros. Ferraz, Santos e Paim (2017) descrevem que esse instru-
mento consiste em um torpedo à prova d’água, dotado de um pêndulo interno, que
é baixado dentro de um tubo-guia vertical, medindo os deslocamentos angulares
a intervalos igualmente espaçados e segundo direção preestabelecidas.
Já os marcos superficiais são instalados normalmente ao longo da crista da
barragem e das bernas a jusante, visando observar os deslocamentos horizon-
tais pós-construção, fase de enchimento do reservatório e período operacional.
O instrumento é basicamente constituído de elementos metálicos que propiciam
repetitibilidade no que se refere ao posicionamento do prisma topográfico durante o
processo de leitura. Nas grandes barragens, Silveira (2006) recomenda que os marcos
superficiais sejam instalados a cada 100 metros, e nas menores, a cada 50 metros.

Além do inclinômetro e dos marcos superficiais, outros equipamentos e instrumentos


podem ser utilizados para analisar o fluxo em barragens, como é o caso de pluviômetros,
GPS, fita de cisalhamento, eletroníveis e extensômetros.

Cada instrumento/equipamento tem uma função específica e é essencial


para garantir a segurança da barragem de terra-enrocamento. O uso desses
equipamentos depende do tipo de barragem, das características da fundação,
das dimensões da estrutura, dos custos/orçamento, dentre outros elementos.

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Leitura recomendada
BRESSANI, L. A. et al. Influência da Permeabilidade no Tempo de Resposta de Diferentes
Tipos de Piezômetros na UHE Dona Francisca. In: SIMPÓSIO DE PRÁTICAS DE ENGE-
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em: https://conferencias.ufsc.br/index.php/geosul2019/2019geosul/paper/downloa-
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