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XII Conferencia Brasileira sobre Estabilidade de Encostas

COBRAE 2017 - 2 a 4 Novembro


Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
© ABMS, 2017

Sistemas De Drenagens Em Obras De Contenções De Taludes


Fábio Lopes Soares
Univerisade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Brasil, flseng@uol.com.br

Arthur Coutinho de Araújo Pereira


Univerisade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, Brasil, acppereira@gmail.com

RESUMO: Em períodos de chuva intensa, no Brasil, ocorrem a maioria dos acidentes relacionados
aos maciços de solo, como escorregamentos e erosões, por exemplo. Isso se deve ao fato de que a
chuva atua como principal agente não-antrópico na deflagração de escorregamentos no país. Esses
eventos possuem inúmeras consequências, as quais, geralmente, trazem grandes prejuízos
ambientais, sociais e econômicos, chegando até a inviabilizar a continuidade de determinados
empreendimentos nessas áreas ou em proximidades. A influência da água é vista de várias
maneiras, como na diminuição da coesão aparente do solo, na redução das tensões resistentes do
maciço e na origem de pressões neutras que, se não observadas, podem causar rupturas. Em obras
de contenção de taludes, sejam rodoviários ou não, como cortina atirantada, terra armada, cortina
ancorada, muros de arrimo, solo grampeado, entre outros, a presença de água no maciço deve ser
levada em conta, tal que seus efeitos sejam minimizados e eliminados, pois seu acúmulo é um dos
principais fatores condicionantes das instabilidades de taludes, podendo ocasionar algumas
manifestações patológicas, tanto no aço quanto no concreto, aumentando os custos de manutenção,
diminuindo a segurança do maciço, e até comprometendo a estabilidade do talude. Para isso, além
das considerações hidrogeológicas, definidas em termos de posição do lençol freático e as direções
preferenciais de fluxo, as contenções de taludes devem ser dimensionadas levando em consideração
a força hidrostática das águas ou desviando seu fluxo. Com isso, se faz necessário uma
implementação de um sistema de drenagem bem dimensionado e executado de forma apropriada,
quando necessário, tomando medidas convenientes para a dissipação de energia, capaz de atender
com eficiência e de forma econômica, do mesmo modo que é extremamente importante a previsão
de um acompanhamento periódico para esse sistema. Essas soluções para o manejamento adequado
dos fluxos das águas presentes nos maciços de solo podem ser possíveis com a utilização de
dispositivos de drenagens superficiais, tendo como exemplo, a execução de escadas hidráulicas,
barbacãs, drenos sub-horizontais, e drenagens profundas. Este trabalho tem como objetivo
apresentar e discutir as drenagens mais eficientes para determinadas obras de contenção de maciços
de solo com a visão da metodologia executiva de cada um dos métodos.

PALAVRAS-CHAVE: Drenagem, Taludes, Contenções.

1 INTRODUÇÃO chuvas. Para evitar que aconteçam problemas


maiores e até acidentes, que podem acarretar
O orçamento de uma obra de drenagem é, na em prejuízos incalculáveis e até vidas humanas,
maior parte, muito pequeno comparado ao é necessário ter um olhar diferenciado para a
montante total do orçamento da obra. Executar drenagem.
um projeto de qualidade e investir numa É de extrema importância ter alternativas de
drenagem que possibilite o escoamento dispositivos para se executar um sistema de
adequado das águas pluviais para o sistema de drenagem, o que, por consequência, acaba tendo
drenagem permite o funcionamento dos maior diversidade nos métodos de execução,
empreendimentos mesmo na ocorrência das cada um podendo ter vantagens e desvantagens.

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Quando são consideradas as particularidades
de cada tipo de drenagem e presumidas
dificuldades de acesso e execução de
determinada drenagem, a eficiência da obra
pode ser elevada e os custos reduzidos.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Influência da chuva

Épocas chuvosas com elevado índice


pluviométrico têm se tornado verdadeiros
tormentos para a população. Nesses períodos
são quando as encostas ficam mais suscetíveis a
escorregamentos, devido ao aumento do
excesso de poro-pressão que reduz a resistência
do solo ao cisalhamento, de acordo com Dutra
(2013).
Segundo Bastos (2014), a percolação de
água em encostas pode reduzir a resistência do Figura 1. Representação de diversos dispositivos de
maciço, dado: pelo desenvolvimento de poro- drenagem superficial. Fonte: IPT
pressões ao longo de superficies potenciais de
ruptura; pela redução da coesão aparente, 2.2.2 Drenos Profundos
através da saturação dos solos não-saturados;
pelo aumento do peso do material, e; pela ação Drenos profundos são dispositivos utilizados
erosiva interna (piping) e externa. para rebaixar o lençol freático, em cortes em
solo ou rocha, evitando que a ação das águas
2.2 Drenagem subterrâneas possa afetar a resistência do
material do subleito e/ou pavimento,
2.2.1 Escadarias Hidráulicas prejudicando o desempenho deste. Quanto à
forma construtiva, pode-se utilizar tubos ou
A necessidade de retirada da água da valeta de não, sendo estes últimos chamados de drenos
proteção de corte caixa coletora de um bueiro cegos, de acordo com DNER/ PR (2005).
de greide ou para a sarjeta pode acontecer, na São determinados a drenar maciços (taludes
prática, devido às seguintes particularidades: de corte/aterro) ou encostas naturais, tendo em
quando o aumento da capacidade de vazão vista reduzir a pressão neutra, evitando assim
obriga a construção de seção com grandes que as condições de saturação presentes no solo
dimensões; quando o terreno a montante da comprometam a estabilidade dos maciços; são
valeta apresentar um talvegue secundário bem empregados tubos de PVC perfurados ou
definido ocasionando a concentração de água ranhurados, com diâmetro de 50mm, cravados
num único local; quando o perfil longitudinal da nos taludes após perfuração com equipamento
valeta apresentar-se sinuoso com vários pontos apropriado. São dispositivos complementares a
baixos, obrigando, para que haja em outros dispositivos; o objetivo é conceder
escoamento contínuo, grandes profundidades da estabilidade ao maciço. Pela incoveniência de
valeta. Nesses casos, o dispositivo de saída operação dos equipamentos de perfuração, a
d´água da valeta de proteção de corte para a primeira linha de drenos é implantada 1,0 m
plataforma é comumente denominado descida acima da plataforma de terraplenagem. O
d'agua ou escada hidráulica. Essas descidas número de drenos e comprimentos dependem
d´água em geral são construídas em degraus, de estudos hidrológicos e geotécnicos.
como mostra a Figura 1. Segundo Bastos (2006), os “drenos sub-

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horizontais profundos”, conhecido por DHP,
resultam da perfuração sub-horizontal de tubos
plásticos drenantes, geralmente com diâmetro
de 50 a 100 mm executada com uma inclinação
de 5° a 10° para cima, visto na Figura 2. Na
perfuração é introduzida uma tubulação de PVC
rígido, geralmente com diâmetro de 38 a 50
mm, constituída por trecho filtrante, envolvido
por geotêxtil ou tela de nylon.

Figura 3. (a) Dreno Geotécnico. (b) Dreno Ranhurado.


Fonte: Solotrat (2015).
Figura 2. Dreno sub-horizontal profundo, DHP. Fonte:
Cunha et al. (1991).
O Sistema de drenagem do Solo Grampeado
objetiva oferecer um fluxo organizado para as
Estes tubos podem ter somente águas internas ou externas que a ele converge.
microrranhuras em torno de 0,4 mm, sem Durante a execução devem ser conferidas e
recobrimento por manta ou tela, ou perfurações ajustadas as posições dos drenos previstos na
recobertas por manta geotêxtil ou por tela de fase do projeto. Desta forma haverá um correto
nylon. De acordo com Solotrat (2015), visando Sistema de drenagem. Para drenagem profunda
comparar o tipo de tubo drentante que pode ser usa-se o Dreno Sub-horizontal, DHP. (Solotrat,
usado no DHP, foi realizado um estudo 2015)
comparativo entre o “dreno Geotécnica” e o
“dreno ranhurado”, sendo o primeiro, o dreno 2.2.3 Dicas para a drenagem
executado pela empresa Geotécnica S.A,
precursora na execução de serviços geotécnicos A prática usual recomenda que sempre se
no Brasil. O “dreno Geotécnica” resulta de se execute drenagem profunda, de paramento e de
executar perfurações de 12,5 mm superfície, mesmo que não tenha havido
diametralmente opostas a cada 60 milímetros, indicação de água quado do preparo do projeto.
duas a duas ortogonais, em tubo PVC de 50 Especialmente nas áreas urbanas onde são reais
mm. São cobertas por duas camadas de tela de as possibilidades de vazamentos de redes
nylon, malha 30. Para um comprimeto de 50 cm públicas de águas, esgoto e drenagem. Sugere-
resulta numa área perfurada de 20,44 cm². O se que sempre sejam executados DHP junto à
“dreno ranhurado” resulta da execução de superfície. É fato que as camadas superficiais
rasgos de 0,4 mm com 35 mm de extensão a são muito drenantes, mesmo cobertas com
cada 19 mm, sem envolvimento por qualquer calçadas, justificando sua aplicação.
tipo de tela. Resulta em 50 cm numa área Visando uma melhor produtividade passou-se
perfurada de 3,36 cm². Observa-se que no a executar chumbadores verticais, previamente
“dreno ranhurado” as ranhuras são somente a escavação junto ao alinhamento da contenção.
executadas na parte superior do tubo, vide Estes têm o mesmo espaçamento horizontal do
Figura 3. chumbador, e o comprimento mínimo igual a
altura da escavação acrescido de cerca de 1,0
metro.

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2.2.4 Dreno de Paramento comparado à capacidade de drenagem entre um
tubo PVC perfurado, um tubo PVC ranhurado e
São peças que pretendem promover o adequado um geocomposto drenante (também chamado
fluxo às águas do talude que chegam ao de dreno linear), esse último já consolidado e
paramento. Temos o dreno linear contínuo e o amplamente utilizado em drenagens nas
barbacã. estruturas do tipo solo grampeado, totalizando
O dreno linear contínuo é resultado da três opções para composição de um sistema de
instalação, numa escavação, de calha plástica drenagem.
drenante revestida por manta geotêxtil Diferentemente ao estudo comparativo
comercialmente chamada “PVD” ou “dreno anterior, esses dispositivos de drenagem foram
fibroquímico”. Estende-se continuamente ao dispostos na vertical, simulando uma aplicação
longo da direção vertical, da crista até o pé do num painel de solo grampeado, por exemplo.
talude, aflorando na canaleta de pé. É Os drenos, perfurado e ranhurado, vide Figura
considerada uma drenagem linear. 4, resultam da instalação de tubos plásticos de
PVC rígido com diâmetro de 50 mm.
2.2.5 Geotêxteis como Filtro - drenante

Segundo Palmeira, E.M. et al.(2005), para um


desempenho satisfatório em um sistema filtro-
drenante de um talude ou obra de contenção,
um geotêxtil deve atender aos seguintes
critérios:
• Critério de retenção;
• Critério de permeabilidade;
• Critério anti-colmatação;
• Critério de sobrevivência;
• Critério de durabilidade.
O critério de retenção visa a garantir que o
geotêxtil irá reter as partículas de solo, evitando Figura 4. Tubos de PVC utilizados para drenos
mecanismos de erosão interna (piping) no
maciço. O critério de permeabilidade visa a Estes tubos, além de tampados no topo para
garantir que o geotêxtil possua elevada evitar a contribução direta, também receberam
permeabilidade, de modo que a água flua um recobrimento por manta ou tela geotêxtil. O
livremente através, ou ao longo, do seu plano, dreno perfurado resulta de se executar
não gerando poropressões no sistema ou nas perfurações de 6,0 mm diametralmente opostas
suas vizinhanças. O critério anti-colmatação a cada 60 milímetros, duas a duas ortogonais.
visa a garantir condições para que o geotêxtil Também são cobertas por duas camadas de tela
não seja colmatado. Os critérios de de nylon, malha 30, visto na Figura 5.
sobrevivência e durabilidade visam atender a
condições que garantam que o geotêxtil não seja
danificado durante a sua instalação e que o
mesmo dure por um período não inferior à vida
útil da obra.

3 ENSAIO DESENVOLVIDO

3.1 Caracterização

Analogamente ao estudo comparativo descrito


anteriormente, realizado pela Solotrat, foi-se Figura 5. Tubos de PVC utilizados para drenos

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Para um comprimento de 45 cm tem-se uma
área perfurada de 4,24 cm². O dreno ranhurado
resulta da execução de rasgos de 0,4 mm com
35 mm de extensão a cada 17,5 mm, envolvido
da mesma forma que o dreno perfurado, com
duas camadas de tela de nylon, em 45 cm de
extensão, tendo uma área perfurada de 3,53
cm². Observa-se que, para não favorecer a
captação de algum dos drenos, foi-se divido o
tonel de forma igual para todos, resultando em
aberturas feitas espaçadas em 120°, de eixo a
eixo, podendo ser visto na Figura 6.

3.2 Instalação e Execução

O tonel foi preenchido com material natural


extraído de terreno, no qual estava se
executando uma obra de contenção do tipo solo
grampeado.
Os drenos possuem 45 cm de extensão de
captação, assim como a fita drenante, sendo
essa última adaptada no topo para não receber
contribuição de forma diferente aos tubos de
PVC.

Figura 7. (a) Preencimento parcial do tonel. (b)


Cobrimento total dos drenos com solo.

Passada esta etapa, foi-se adicionada a água,


chegando à uma altura entre solo e lâmina
d’água de 20 cm, vide Figura 8, resultando num
volume de, aproximadamente, 50 litros. É
importante ressaltar que tal volume foi
acrescentado no centro do tonel, evitando,
assim também, que a captção fosse tendenciada
Figura 6. Vista superior da configuração de espaçamento para algum dreno. Outro cuidado, devidamente
dos drenos. considerado, foi com relação à forma que a
água foi inserida, tal que não houvesse remoção
O preenchimento com solo foi feito em de parte do solo, no local de despejo.
camadas, compactando a cada 10 cm,
procurando-se aproximar ao estado do solo
quando coletado e assentando o mesmo, Figura
7(a), atingindo uma altura de 56 cm com
relação ao fundo do tonel, possível para
encobrir os drenos, como é possível visualizar
na Figura 7(b).

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4 RESULTADOS

Após a realização de todos os procedimentos


descritos nos itens anteriores, foi-se
quantificado o volume captado em cada dreno.
Do volume inicialmente inserido no tonel,
aproxidamente, 29,8 litros foram absorvidos
pelo solo, anteriormente seco. O geocomposto
drenante levou vantagem entre os três drenos,
com diferença bastante expressiva de volume
captado comparado com os outros dispositivos,
tubos PVC (ranhurado e perfurado), vide Tabela
1.

Tabela 1. Volume drenado em cada dispositivo.


Dreno Volume Drenado
(l)
Tubo PVC Ranhurado 4,125
Figura 8. Representação de corte lateral no tonel, Tubo PVC Perfurado 6,850
mostrando configuração vertical dos drenos. Geocomposto Drenante 9,200

Na Figura 9, pode-se ver que para


recolhimento e aferição dos volumes drenados 5 CONCLUSÃO
em cada dispositivos, foram colocados
recipientes graduados, nos quais eram feitas as Com os resultados obtidos neste trabalho, é
leituras de até 500 ml. possível ter uma noção da capacidade de
drenagem entre os dispositivos aqui estudados,
atentando para que tudo isso sob as condições
impostas nesse trabalho, e perceber que o
geocomposto drenante sob tais configurações é
mais eficiente do que o tubo de PVC perfurado
e tubo de PVC ranhurado, com referência ao
volume drenado. Tais condições implicam no
cuidado da execução de uma obra de solo
grampeado, cujo o concreto projetado é
aplicado diretamente no corte do talude,
entrando em contato com o dispositivo
drenante, podendo reduzir sua eficiência e
contribuição.

AGRADECIMENTOS

Os autores são gratos aos laboratorístas


Anderson, João, Joaquim, Mardoni pela atenção
e suporte, necessários para o cumpremento das
etapas feitas neste trabalho.

Figura 9. Recipientes dispostos na saída de cada REFERÊNCIAS


dispostivo.

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Bastos, I.G., Wolle, C.M. e Futai, M.M. (2014)
Estabilização de Encostas Através de Drenagem
Profunda. Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Solos e Engenharia Geotécnica, Goiânia, GO, Brasil.
Cunha, M.A.;Farah,F.;Cerri, L. E. S; Gomes, L. A.;
Galvês, M.L.; Bitar,O. Y.; Augusto Filho, O.; Silva,
W.S. (1991) – Ocupação de encostas. Instituto de
Pesquisas Tecnológicas, São Paulo.
DER / PR (DG/AP) 06/05 (2005). Drenagem: Drenos
Longitudinais Profundos. Curitiba, Paraná.
DNIT (2006) . Manual de Drenagem de Rodovias.
Dutra, Vinícius Araújo de Souza (2013). Projeto de
Estabilização de Taludes e Estruturas de Contenção
Englobando Dimensionamento Geotécnico e
Estrutural. UFRJ – Universidade Federal do Rio de
Janeiro
Palmeira, E.M.; Gardoni, M.G.; Luz, D.W.B. (2005).
Alguns aspectos ligados ao comportamento de
sistemas filtro-drenantes sintéticos em obras de
estabilização de encostas. IV COBRAE - Conferência
Brasileira sobre Estabilidade de Encostas -Salvador-
BA.
Solotrat Engenharia Geotécnica Ltda. (2015). Manual de
Serviços Geotécnicos – 5ª Edição. Disponível em :
<www.solotrat.com.br> . Acesso em 01/07/2017.
Souza, G. J. T.; Pittata, C. A.; Zirlis, A. C. (2005). Solo
grampeado – aspectos executivos do chumbador. IV
COBRAE – Conferência Brasileira sobre estabilidade
de encostas. Salvador-BA, p.835-844.

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