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PRINCÍPIOS DE

CLIMATOLOGIA
E HIDROLOGIA

Vanessa de Souza
Machado
M149p Machado, Vanessa de Souza.
Princípios de climatologia e hidrologia / Vanessa de
Souza Machado. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
182 p. : il. ; 22,5 cm.

ISBN 978-85-9502-072-6

1. 1. Climatologia. 2. Hidrologia. I. Título.


CDU 551.58+556

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094


Componentes do
ciclo hidrológico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar e diferenciar evaporação e evapotranspiração.


 Caracterizar a infiltração no ciclo hidrológico.
 Reconhecer as diferentes formas de precipitação.

Introdução
A água, existente em praticamente todo o planeta, encontra-se
em permanente circulação, desenvolvendo um processo denomi-
nado ciclo hidrológico. Esse ciclo se dá a partir da radiação solar e do
metabolismo dos seres vivos (evapotranspiração), que fornecem energia
para elevar a água da superfície terrestre para a atmosfera (evaporação).
Neste texto, você vai estudar os componentes do ciclo hidrológico e
as particularidades de cada um deles.

Evaporação e evapotranspiração
A água existente no nosso planeta está em permanente circulação, e esse
processo é chamado de ciclo hidrológico. O ciclo hidrológico se dá a partir
da radiação solar e do metabolismo dos seres vivos (evapotranspiração), que
fornecem energia para elevar a água da superfície terrestre para a atmosfera
(evaporação). Adicionando a esse processo à força da gravidade, a água con-
densada nas nuvens se precipita (na forma de chuva, neve ou névoa). Uma vez
precipitada, a água perpassa pelo solo e circula através de corpos d’água até
atingir os oceanos ou se infiltra nos solos e nas rochas através de seus poros,
fissuras e fraturas (BRASIL, [2003]).
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A evaporação é o processo pelo qual a água, decorrente de solo úmido


sem vegetação, oceanos, lagos, rios e outras superfícies hídricas naturais, se
transforma em vapor e retorna à atmosfera.
Já a evapotranspiração é a transferência de vapor de água para a atmosfera
proveniente dos animais e vegetais.
Informações quantitativas sobre os processos de evapotranspiração/ eva-
poração são utilizadas na solução de numerosos problemas que envolvem
o manejo de águas. Entre eles estão a agricultura, na previsão de cheias e
na construção e operação de reservatórios (cálculos das perdas de água em
reservatórios, cálculo da necessidade de irrigação, aplicação de balanços
hídricos para a obtenção do rendimento hídrico em bacias hidrográficas,
abastecimento urbano, etc.). A Figura 1 mostra um tanque de evaporação
utilizado para estimar a evapotranspiração.

Figura 1. Tanque de evaporação, utilizado para estimar a evapotranspiração.


Fonte: Albuquerque (2010).

A importância dos processos de evaporação/


evapotranspiração
Conforme a água potável se torna cada vez mais escassa e, com isso, onerosa,
o estudo das perdas hídricas ganha crescente importância. Para o solo vegetado
e para os reservatórios de água doce, a evapotranspiração e a evaporação
representam, respectivamente, uma demanda considerável de água, o que
fundamenta todos os esforços para tentar minimizá-la. As perdas por evapo-
transpiração ou evaporação, exatamente por diminuírem uma significativa
fração dos recursos hídricos disponíveis, não podem ser negligenciadas a
nível de planejamento e, tampouco, de execução, nas inúmeras atividades
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humanas, principalmente no abastecimento de água para as populações, a


agricultura e a indústria.
Em regiões mais áridas, nas quais a disponibilidade hídrica é um fator
limitante para agricultura e, algumas vezes, chegando a pôr em risco a so-
brevivência de populações inteiras, o conhecimento da distribuição espacial
e temporal da transferência de vapor d’água para a atmosfera facilita bastante
o estabelecimento de políticas que visem ao uso racional da água. Estudos
dessa natureza possibilitam a aquisição de conhecimento que proporcionará
melhor controle do aproveitamento de grandes reservatórios, racionalizando
a demanda de água para fins industriais, domésticos e agrícolas. Também
tornam possível quantificar melhor as laminas de água usadas na irrigação e
os turnos de rega, minimizando os desperdícios e mantendo o solo em uma
faixa de umidade adequada às plantas.

Cerca de 25% da água que chega à superfície terrestre é retida pelos vegetais. A cicla-
gem de água é uma função ambiental importante. A água trazida na forma de vapor
d’água, oriundo da evaporação dos oceanos, permite a realização da evapotranspiração
pela floresta e posteriormente sua precipitação. A perda da evapotranspiração pode
reduzir a precipitação local, trazendo mudanças na estrutura e composição da floresta
e inibindo a continuação de seus serviços ambientais.

Infiltração
Infiltração é o nome dado ao processo pelo qual a água atravessa a superfície
do solo. Esse processo afeta diretamente o escoamento superficial, que é o
componente do ciclo hidrológico responsável pelos processos de inundações
e erosões. Após a água passar pela superfície do solo, a camada superior
atinge um “elevado” teor de umidade, ao passo que as camadas inferiores se
apresentam ainda com “baixos” teores de umidade. Ocorre então, a tendên-
cia de um movimento descendente da água, gerando um molhamento das
camadas inferiores, que dá origem ao fenômeno denominado redistribuição
(CARVALHO; MELLO; SILVA, 2007).
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Na infiltração, a água passa pelos poros e atinge o interior do solo. A


infiltração de água no solo é importante para o crescimento da vegetação,
o abastecimento dos aquíferos, o armazenamento de água, que mantém o
fluxo nos rios durante as estiagens, e para reduzir o escoamento superficial,
as cheias e a erosão.
Na Figura 2, você pode ver uma representação de como ocorre a infiltração
no ambiente.

Figura 2. Representação de como ocorre a infiltração no meio ambiente.


Fonte: Universidade Federal de Lavras (c2002-2007).

Fases da infiltração
O processo de infiltração possui três fases distintas:

 Intercâmbio: ocorre na camada superficial de terreno, onde as partículas


de água estão sujeitas a retornar à atmosfera por aspiração capilar, pro-
vocada pela ação da evaporação ou absorvida pelas raízes das plantas.
 Descida: é o deslocamento vertical da água que ocorre quando o peso
próprio supera a adesão e a capilaridade.
 Circulação: devido ao acúmulo da água, o solo fica saturado e forma
os lençóis subterrâneos. A água escoa devido à declividade das camadas
impermeáveis.
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Fatores que afetam a infiltração


Entre os fatores que influenciam a infiltração no solo, temos:

 porosidade;
 estrutura do solo;
 textura do solo;
 conteúdo de umidade do solo;
 matéria orgânica do solo;
 atividade biológica do solo;
 topografia;
 preparo do solo;
 ação da precipitação sobre o solo;
 temperatura – quanto maior a temperatura, maior a infiltração de água
no solo;
 compactação, devido à ação antrópica e ao pisoteio de animais.

Os infiltrômetros são aparelhos para determinação direta da capacidade de infiltração


do solo. É constituído por tubos, ou qualquer outro limite projetado para isolar uma
seção do solo. Geralmente são formados por dois cilindros concêntricos. A razão da
existência do cilindro externo é prover a quantidade de água necessária ao umede-
cimento lateral, atenuando o efeito da dispersão da água no tubo interno. A água é
adicionada nos dois compartimentos, sendo mantida, continuamente, uma lâmina
d’água de 5 mm em ambos. A taxa com que a água infiltra é medida no cilindro
interno. Esse aparelho serve, resumidamente, para calcular a capacidade da água de
se infiltrar no solo (WIKIPÉDIA, 2016).

Precipitação
Precipitação consiste na água proveniente do vapor de água da atmosfera
depositada na superfície terrestre sob qualquer forma: chuva, granizo, neblina,
neve, orvalho ou geada (CARVALHO; MELLO; SILVA, 2007).
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As grandezas características das medidas pluviométricas são (CARVALHO;


MELLO; SILVA, 2007):

 Altura pluviométrica: medidas realizadas nos pluviômetros e expressas


em milímetros. Representa a lâmina d’água que se formaria sobre o
solo como resultado de uma determinada chuva, caso não houvesse
escoamento, infiltração ou evaporação da água precipitada.
 Duração: período de tempo contado desde o início até o fim da preci-
pitação, expresso geralmente em horas ou minutos.
 Intensidade da precipitação: é a relação entre a altura pluviométrica
e a duração da chuva expressa em mm/h ou mm/min.

Para as condições climáticas do Brasil, em que a absoluta maioria da preci-


pitação cai sob a forma de chuva (mais de 99%), mede-se convencionalmente
a precipitação, pontualmente, por meio de aparelhos chamados pluviômetros
e pluviógrafos.

Principais tipos de precipitação


As precipitações acontecem no momento em que o vapor de água, que se en-
contra nas nuvens, se congela em razão da altitude, a partir dessa condensação
desloca-se em direção à superfície terrestre em estado líquido ou sólido. A
seguir, veja os tipos e formas de precipitações que existem (FREITAS, c2017).

 Neve: é o tipo de precipitação que ocorre em razão das baixas tempera-


turas das nuvens, abaixo de zero graus célsius, e promove congelamento
do vapor de água produzindo, formando, assim, pequenos cristais de
gelo. Esse tipo de precipitação ocorre com maior frequência em climas
temperados e polares.
 Granizo: corresponde às pedras de gelo e tem origem no alto das
nuvens do tipo cúmulos, lugar onde a temperatura é muito reduzida.
 Chuva: pode ocorrer durante o processo de evaporação da água nas
zonas intertropicais do planeta, esse processo causa chuvas abundantes,
pode também se desenvolver a partir do encontro de duas massas de
ar, sendo uma quente e outra fria. As chuvas não são iguais, porque
podem ter diversas origens e características distintas.
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As chuvas podem ser classificadas em (FREITAS, c2017):

 Orográficas: ocorre no momento em que as massas de ar úmidas são


impedidas de seguir seu trajeto pelos elementos do relevo, como uma
montanha, então as nuvens ganham altitude e se agrupam provocando
a precipitação.
 Convectivas: desenvolvem-se quando a temperatura está elevada e há
uma grande evaporação, o vento vertical leva o vapor para as altitudes
ocasionando o resfriamento, assim produz a precipitação ou chuva.
Esse tipo de chuva é conhecido como torrenciais e têm características
de serem rápidas e abundantes.
 Frontais: é o tipo de chuva que tem sua origem a partir do encontro
entre uma massa de ar fria e uma quente.

Você pode ver os diferentes tipos de chuvas na Figura 3.

Figura 3. Diferentes tipos de chuvas.


Fonte: Abrantes (c2017).

No link a seguir (BORGES, 2014) você encontrará cinco curiosidades sobre a chuva, vale
a pena conferir. <https://goo.gl/Pfm5FN>
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1. O que é evaporação? manejo de águas, especialmente


a) É a transferência de vapor d’água na agricultura, na previsão
para a atmosfera proveniente de cheias e na construção e
dos animais e vegetais. operação de reservatórios.
b) É a principal substância da d) São importantes informações
Terra, ocupando 98% do utilizadas para determinar o
território do planeta. grau de compactação do solo
c) A perda de água de uma de uma determinada região.
comunidade ou ecossistema e) Nenhuma das anteriores.
para a atmosfera, causada pela 3. Como são denominadas as
evaporação a partir do solo e fases da infiltração?
pela transpiração das plantas. a) Topografia, textura e porosidade.
d) O processo pelo qual a água, b) Intercâmbio, descida e ascensão.
decorrente de solo úmido sem c) Intercâmbio, circulação
vegetação, oceanos, lagos, rios e ascensão.
e outras superfícies hídricas d) Intercâmbio, circulação
naturais, se transforma em e neutralização.
vapor e retorna à atmosfera. e) Intercâmbio, descida e circulação.
e) O processo de transporte 4. Como são classificadas as
de água na forma de vapor chuvas:
para a atmosfera, de uma a) Neve, granizo e chuva.
superfície vegetada, por meio b) Precipitação, neve,
dos mecanismos combinados granizo e chuva.
de transpiração das plantas c) Orográfica, convectiva e distal.
e evaporação do solo. d) Orográfica, convectiva e frontal.
2. Qual a importância das e) Intercâmbio, descida e circulação.
informações quantitativas dos 5. Assinale a alternativa que contém
processos de evapotranspiração/ um tipo de chuva que ocorre
evaporação? no momento em que as massas
a) São informações exclusivamente de ar úmidas são impedidas
utilizadas para pesquisas de seguir seu trajeto pelos
acadêmicas e científicas, sem elementos do relevo, como uma
muita aplicação prática. montanha, então as nuvens
b) São importantes informações ganham altitude e se agrupam,
utilizadas para determinar o provocando a precipitação.
tipo de precipitação comum a) Convectivas.
para uma determinada região. b) Orográfica.
c) São informações utilizadas c) Frontal.
na solução de numerosos d) Distal.
problemas que envolvem o e) Granizo.
58 Princípios de climatologia e hidrologia

ABRANTES, G. Os climas no mundo. [S.l.]: SlidePlayer, c2017. Disponível em: <http://


slideplayer.com.br/slide/354801/>. Acesso em: 31 jan. 2017.
ALBUQUERQUE, P. E. P. Cultivo do milho: irrigação. Embrapa Milho e Sorgo, Brasília,
DF, n. 6, set. 2010. Disponível em: <http://www.cnpms.embrapa.br/ publicacoes/
milho_6_ed/imanejo.htm>. Acesso em: 31 jan. 2017.
BORGES, C. Conheça 5 curiosidades sobre a chuva. [S.l.]: Mega Curioso, 2014. Disponível
em: <http://www.megacurioso.com.br/fenomenos-da-natureza/ 45390-conheca-5-
-curiosidades-sobre-a-chuva.htm>. Acesso em: 31 jan. 2017.
BRASIL. Princípios de hidrologia ambiental: curso de aperfeiçoamento em gestão de
recursos hídricos. Brasília, DF: Ministério da Ciência e Tecnologia, [2003]. Disponí-
vel em: <http://capacitacao.ana.gov.br/Lists/Editais_Anexos/ Attachments/23/03.
PHidrologiaAmb-GRH-220909.pdf>. Acesso em: 06 jan. 2017.
CARVALHO, D. F.; MELLO, J. L. P.; SILVA, L. D. B. IT 115 – irrigação e drenagem: hidrologia.
Seropédica: UFRRJ, 2007. Disponível em: <https://pt.scribd.com/doc/170483224/
Hidrologia-Hidraulica>. Acesso em: 31 jan. 2017.
FREITAS, E. de. Chuvas e precipitações. São Paulo: Brasil Escola, c2017. Disponível em:
<http://brasilescola.uol.com.br/geografia/ chuvas-precipitacoes.htm>. Acesso em:
31 dez. 2016.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS. Departamento de Engenharia. Infiltração de
água no solo. Lavras: DEG/UFLA, c2002-2007. Disponível em: <http://deg.ufla.br/
site/_adm/upload/file/HIDROLOGIA/ INFILTRACAO%20DE%20AGUA%20NO%20
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WIKIPÉDIA. Infiltração. [S.l.], 2016. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/
wiki?curid=64648>. Acesso em: 31 jan. 2017.

Leituras recomendadas
BARBOSA JÚNIOR, A. R. Elementos de hidrologia aplicada: infiltração. Ouro Preto:
Universidade Federal de Ouro Preto, 2013. Disponível em: <http://www.em.ufop.br/
deciv/departamento/ ~antenorrodrigues/4_Infiltracao.pdf>. Acesso em: 21 dez. 2016.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Ciclo hidrológico. Brasília, DF, [c2017]. Disponível
em: <http://www.mma.gov.br/agua/recursos-hidricos/ aguas-subterraneas/ciclo-
-hidrologico>. Acesso em: 20 dez. 2016.
CUSTÓDIO, E.; LLAMAS, M. R. Hidrologia subterrânea. 2. ed. Barcelona: Omega, 1996. 2 v.
FEARNSIDE, P. M. Desmatamento na Amazônia: dinâmica, impactos e controle. Acta
Amazônica, Manaus, v. 36, n. 3, p. 395-400, 2006.
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FÜRST, O. Infiltração da água no solo. [S.l.]: Biboca Ambiental, 2012. Disponível em:
<http://bibocaambiental.blogspot.com.br/2012/04/ infiltracao-da-agua-no-solo.
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SANTOS, I. et al. Hidrometria aplicada. Curitiba: Instituto de Tecnologia para o De-
senvolvimento, 2001.
SÓ BIOLOGIA. O ciclo da água. [S.l.], c2008-2017. Disponível em: <http://www.sobiologia.
com.br/ conteudos/Agua/Agua5.php>. Acesso em: 22 dez. 2016.
VAREJÃO-SILVA, M. A. Meteorologia e climatologia. Brasília, DF: INMET, 2001.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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