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2.

5 Hidrosfera
O Planeta Terra é recoberto por água em aproximadamente 70% de sua extensão. A hidros-
fera (do grego hydro, água, e sphaira, esfera) é a camada constituída por todas as águas do planeta.
Compreende todos os rios, lagos, lagoas, mares, oceanos e todas as águas subterrâneas, bem como
as camadas de gelo.
A hidrosfera e a atmosfera, juntas, permitem a vida no planeta e compõem, junto com a litosfera,
as três principais camadas físicas da Terra.
A hidrologia é a ciência que estuda a água na Terra, sua ocorrência, circulação e distribuição,
suas propriedades físicas e químicas, e sua relação com o meio ambiente, incluindo a relação com
as formas vivas.

2.5.1 Água na natureza

A água é uma substância abundante na natureza e ocorre nos estados sólido, líquido ou gasoso. É
um recurso natural que se recicla pela ação do calor do Sol e das forças de gravidade, como se a Terra
fosse um gigantesco destilador. É, ainda, parte integrante dos seres vivos e substância essencial à vida.
É um bem de múltiplos usos, destinado a diversos fins, como abastecimento público, dessedentação
animal, irrigação, navegação, suprimento industrial, conservação da fauna e da flora, recreação e lazer.
Além disso, recebe, dilui e transporta efluentes provenientes de esgotos domésticos, indústrias e de diversas
atividades rurais e urbanas, que são depurados pela ação de processos físicos, químicos e biológicos.
Contudo, em situações cada vez mais frequentes, a concentração da população, de atividades agrícolas
e industriais, excede a capacidade de depuração e/ou a capacidade hídrica da região, gerando escassez e,
consequentemente, conflitos de uso.
A poluição e a contaminação da água estão entre as principais causas da incidência de enfermi-
dades, principalmente em populações de baixa renda, não atendidas por sistemas de abastecimento
de água e de coleta e disposição de esgotos. As doenças relacionadas ao uso da água causam grande
número de internações hospitalares e respondem por grande parte dos índices de mortalidade infantil.

2.5.1.1 Distribuição da água na natureza

A água abrange cerca de 3/4 da superfície terrestre; desse total, 97,0% referem-se aos mares e
oceanos e 3% às águas doces, sendo que 2,7% estão presentes nas geleiras, vapor de água e aquíferos
existentes em grandes profundidades (mais de 1.000 metros). Assim, somente 0,3% do volume total
de água do planeta está disponível para o consumo, sendo 0,01% encontrado em fontes de superfície
(rios, lagos), e o restante, ou seja, 0,29%, em depósitos subterrâneos.
A água subterrânea vem sendo acumulada no subsolo por séculos e somente uma pequena
fração é acrescentada anualmente por meio das chuvas, e outra fração retirada pelo homem, enquanto
a água dos rios é renovada cerca de 31 vezes, anualmente.
A precipitação média anual, na Terra, é de cerca de 860 mm. Cerca de 70% e 75% dessa pre-
cipitação voltam à atmosfera como evapotranspiração.

2.5.2 Ciclo hidrológico

A água está sempre mudando de lugar na Terra. Dos continentes para os oceanos e mares e para
a atmosfera. Ela muda também de estado: sólido, líquido e gasoso. A temperatura é o fator responsável
por manter ou transformar a água em seus três estados físicos. A água na forma líquida ocorre no
intervalo de temperatura acima de zero e abaixo de 100º C, compatível com as médias de temperatura
predominantes no planeta. É importante ressaltar que só existe água líquida na Terra por causa dessas
temperaturas médias, que são mantidas graças ao efeito estufa e ao movimento de rotação.

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O movimento constante da água é provocado pelos seguintes fatores: radiação do Sol, inclinação
do relevo, permeabilidade dos solos e das rochas, cobertura do solo pela vegetação. Contudo, esse
movimento só é possível graças à ação da gravidade, que mantém a água líquida nos reservatórios e
permite a precipitação.
Ao contínuo movimento da água no planeta dá-se o nome de ciclo hidrológico. Esse ciclo é a
representação do comportamento da água no globo terrestre, incluindo ocorrência, transformação,
movimentação e relações com a vida humana. É um verdadeiro retrato dos vários caminhos da água
em interação com os demais recursos naturais (Figura 8).
O ciclo hidrológico é contínuo; contudo, para descrevê-lo de forma didática, pode-se dividi-lo
nos seguintes estágios: precipitação, escoamento superficial, infiltração e evapotranspiração.

TRANSPORTE DE VAPOR
40 mm

PRECIPITAÇÃO
111 mm 71 mm
EVAPORAÇÃO TRANSPIRAÇÃO
425 mm
EVAPORAÇÃO
PERCOLAÇÃO
PRECIPITAÇÃO
385 mm
LAGO
RIO
TERRA OCEANOS

FLUXO
DO OCEANO
ESCOAMENTO SUBTERRÂNEO 40 mm

Figura 8 – Ciclo hidrológico.

2.5.2.1 Precipitação

A precipitação compreende toda a água que cai da atmosfera na superfície da Terra, sob forma
de chuva, granizo e neve, dependendo do clima da região.
A água existente em forma de vapor na atmosfera é proveniente da evaporação de todas as
superfícies líquidas (oceanos, mares, rios, lagos, lagoas) ou das superfícies umedecidas com água,
como a dos solos, por efeito da ação térmica das radiações solares. Parte da água que se encontra na
atmosfera resulta de fenômenos vitais, como a respiração e a transpiração.
Devido ao resfriamento, esses vapores condensam e, em condições de pressão e temperatura
adequadas, ocorre a precipitação sobre toda a superfície terrestre. A parcela da água precipitada sobre
os continentes e demais áreas emersas pode seguir três caminhos: escoamento superficial, infiltração
e evapotranspiração.

2.5.2.2 Escoamento superficial

É a água de chuva que, atingindo o solo, corre sobre a superfície do terreno, preenche as de-
pressões, fica retida em obstáculos e, juntamente com as nascentes, vai alimentar os córregos, rios,
lagos e desaguar nos mares e oceanos.

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2.5.2.3 Infiltração

É por meio da infiltração que a água de chuva penetra por gravidade nos interstícios do solo,
chegando até às camadas de saturação, constituindo reservatórios subterrâneos, que podem prover
água para consumo humano e para a vegetação terrestre. Movimentando-se muito lentamente em
subsuperfície, a água retorna à superfície da Terra, afluindo sob a forma de nascentes, incorporando-se
ao fluxo dos rios e riachos ou escoando subterraneamente, até o oceano.
Convém ressaltar que a maior ou menor proporção do escoamento superficial, em relação à
infiltração, é influenciada fortemente pela ausência ou presença de cobertura vegetal, uma vez que
esta constitui barreira ao escoamento, além de tornar o solo mais poroso. Esse papel da vegetação,
associado à sua função amortecedora do impacto das gotas de chuva sobre o solo, é de grande impor-
tância na prevenção dos fenômenos de erosão, provocados pela ação mecânica da água sobre o solo.

2.5.2.4 Evapotranspiração

É o processo de retorno da água à atmosfera, passando do estado líquido para o gasoso ou vapor
de água. Compreende os fenômenos de evaporação e transpiração dos seres vivos.
A grande massa de água na superfície da Terra sofre a ação da temperatura e evapora. Esse
fenômeno é chamado de evaporação.
A evaporação é o processo natural pelo qual a água, de uma superfície livre (líquida) ou de uma
superfície úmida, passa para a atmosfera na forma de vapor. Numa superfície exposta às condições
ambientais, que contém um certo conteúdo de vapor d’água, existirá sempre a troca de moléculas
entre as fases de vapor e líquida, envolvendo os fenômenos de condensação e evaporação.
No processo de transpiração, a água é retirada do solo pelas raízes, transferida para as folhas e
então evapora. É um mecanismo importante nas áreas com presença de cobertura vegetal, conside-
rando-se que a superfície de exposição das folhas para a evaporação é grande.

2.5.3 Hidrografia

Hidrografia é a parte da geografia que classifica e estuda as águas do planeta. O objeto de estudo
da hidrografia é a água da Terra e abrange, portanto, o estudo dos oceanos, dos mares, das geleiras,
da água do subsolo, dos lagos e até o vapor d’água da atmosfera.
Para efeito de estudo, pode-se classificar as águas em oceânicas (oceanos, mares e icebergs) e
continentais (rios, lagos, águas subterrâneas e geleiras).

2.5.3.1 Águas oceânicas

As águas oceânicas exercem uma grande relevância para a biosfera. Do ponto de vista ambien-
tal, contribuem na composição e no equilíbrio climático, uma vez que abrigam seres (fitoplânctons)
responsáveis pela produção de grande parte do oxigênio do planeta. Retêm calor em períodos maiores
que os continentes, sendo, assim, reguladores do clima planetário. Constituem a fonte primária das
precipitações nos continentes e são importantes como fornecedores de alimentos e para o transporte,
turismo e lazer. Mais da metade da população mundial ocupa áreas que distam menos de 100 km
da linha de costa.

2.5.3.1.1 Oceanos

Os oceanos correspondem às grandes massas de água salgada que cobrem a maior parte da
superfície terrestre, circundando e separando os continentes. Apesar de possuírem ligações entre si,
são identificados cinco oceanos: Pacífico, Atlântico, Índico, Glacial Antártico e Glacial Ártico.

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De uma maneira geral, o relevo do assoalho oceânico é constituído pela plataforma continental,
talude continental, região pelágica ou bacia oceânica, região abissal e dorsais oceânicas. A tempe-
ratura varia em função da latitude e da profundidade. Em relação à latitude, a temperatura é mais
alta na zona intertropical, em que a insolação é maior, diminuindo em direção às zonas polares, em
que a insolação é muito baixa. Registram-se temperaturas de 290 C, na linha do Equador, e de 30 C
nas regiões polares. Em relação à profundidade, à medida que esta aumenta, a penetração dos raios
solares é menos intensa, e, por esse motivo, a temperatura diminui.

2.5.3.1.2 Mares

Os mares são as massas de água salgada que se localizam próximas aos continentes ou no
interior destes. Apresentam menor profundidade que os oceanos, maior variedade de salinidade, de
temperatura e de transparência das águas. Classificam-se em mares abertos, os que se comunicam com
o oceano por largas passagens; interiores, que se comunicam com os oceanos por meio de estreitos
ou canais; e fechados, que não possuem comunicação com o oceano ou outro mar.

2.5.3.1.3 Icebergs

Icebergs são gigantescos blocos de gelo flutuantes, formados por água doce, desprendidos de
geleiras e arrastados para os oceanos por correntezas marinhas frias de origem Ártica (correnteza da
Groelândia) ou Antártica. O gelo é menos denso do que a água, por isso flutua. Cerca de 10% apenas
do volume total do iceberg é visível, ficando a maior parte submersa, constituindo-se, assim, num
perigo para a navegação.

2.5.3.2 Águas continentais

As águas continentais abrangem os rios, os lagos, as geleiras e as águas subterrâneas.

2.5.3.2.1 Rios

Rios são cursos naturais de água que fluem, a partir de sua nascente, ou cabeceira, em direção
às partes mais baixas do relevo, para desaguar em outro rio, em um lago ou nos mares e oceanos.
Formam-se a partir da chuva, que é absorvida pelo solo até atingir áreas impermeáveis no subsolo,
em que se acumula, constituindo as águas subterrâneas. Quando as águas subterrâneas afloram na
superfície, originam as nascentes dos rios, que normalmente se localizam em áreas elevadas (colinas,
planaltos, serras ou montanhas). Os rios podem também se formar a partir do degelo em áreas mon-
tanhosas, a partir de lagos ou da confluência de pequenos córregos.
À medida que o rio avança sobre o continente, vai traçando seu curso e seu volume aumenta
gradativamente, uma vez que recebe água de seus afluentes, de lagos e fontes e das precipitações:
chuva (precipitação líquida) e granizo ou neve (precipitações sólidas).
O canal escavado pelo rio e que serve de escoadouro para suas águas é denominado de leito.
Dependendo da época do ano, o rio ocupa três diferentes tipos de leito (Figura 9).
• Leito menor ordinário – corresponde ao canal por onde corre um curso de água no nível
dos períodos de estiagem (de seca). Em algumas regiões, o rio chega mesmo a secar.
• Leito normal – como o próprio nome indica, corresponde ao canal no nível normalmente
ocupado pelo rio.
• Leito maior, de inundação ou de cheia – corresponde ao canal no nível atingido nos períodos
de chuvas intensas, quando as águas sobem e transbordam as margens do leito normal.

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Leito menor ordinário
ou canal de estiagem

Leito normal (ordinário)

Leito maior ou de inundação

Figura 9 – Seção transversal de um rio.


Fonte: Adaptado de Coque, 1987.

A linha mais profunda do leito de um rio é chamada de talvegue, e a foz é o local em que o rio
deságua, desemboca ou despeja suas águas, podendo ser do tipo:
• Estuário – foz típica de rios jovens, completamente aberta, sem nenhum obstáculo.
• Delta – foz constituída por ilhas sedimentares, separadas por diversos canais, típica dos
rios mais velhos.
O curso do rio divide-se em:
• Superior – trecho situado próximo às nascentes do rio, com maior energia e potencial de
erosão.
• Inferior – trecho próximo à foz, com energia mais baixa e alto potencial de sedimentação.
• Médio – região intermediária entre a nascente e a foz.
Em relação a um ponto de observação qualquer do curso do rio, define-se montante como a
parte do rio entre este ponto e a nascente, e jusante como a parte do rio entre o referido ponto e a foz.
Assim, sentido de jusante topograficamente corresponde ao sentido idêntico ao curso do rio e sentido
de montante contrário ao curso do rio.
Os rios classificam-se de acordo com o regime, o escoamento, o tipo de relevo e conforme a
idade (Tabela 2).
A área drenada por um rio principal e seus afluentes constitui uma bacia hidrográfica, e o con-
junto dos rios e seus afluentes a sua rede hidrográfica. O corpo de água principal dá o nome à bacia.
O conceito de bacia hidrográfica é de fundamental importância do ponto de vista ambiental,
uma vez que serve como unidade básica para gestão dos recursos hídricos e ambientais. Pode ser
definida como toda a área de captação natural da água da chuva que escoa superficialmente para
um corpo de água ou seu contribuinte. Os limites da bacia hidrográfica são definidos pelo relevo,
considerando-se como divisores de águas as áreas mais elevadas.

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Tabela 2 – Classificação dos rios.

Regime Escoamento Idade Tipo de relevo


Pluvial – quando são abastecidos Efêmeros – existem durante Juventude – nascentes em Rios de planaltos – são aqueles que
pela água das chuvas. São curtos períodos de chuvas. lugares altos, escoamento correm predominantemente sobre o
exemplos todos os rios Responsável pelas “enchentes torrencial com alta energia e relevo planáltico, caracterizado por
brasileiros, exceto o Amazonas. relâmpagos” que afetam as áreas velocidade. Produzem forte desníveis acentuados, em que podem
áridas e semiáridas. erosão vertical e possuem vales ser formadas quedas e corredeiras.
encaixados, em forma de V. Possuem navegabilidade limitada
e potencial hidráulico acentuado;
portanto, adequados para a construção
de hidrelétricas. Exemplos: São
Francisco, Iguaçu, Parnaíba, Tietê e
Paraná.
Nival – quando suas águas Intermitentes – rios cujos leitos Maturidade – traçado plano e Rios de planície – são aqueles que
provêm do derretimento das secam durante certo período velocidade das águas constante, correm predominantemente sobre
geleiras e da cobertura de neve do ano. Característicos de menores declividades e o relevo de planície, extensas áreas
das montanhas. regiões bastante quentes (sertão equilíbrio entre sedimentação e planas em que praticamente não há
nordestino) ou muito geladas. erosão. cachoeiras, saltos e corredeiras. São
adequados à navegação e possuem
potencial hidráulico limitado.
Exemplos: Amazonas, Araguaia,
Tapajós e Negro.
Misto – quando são alimentados Perene – rios que correm durante Velhice ou senilidade – traçado
por ambas as fontes, neve e chuva. o ano todo. A maior parte dos definido pelo trabalho de
Exemplo: Amazonas e Ganges. rios brasileiros é perene. sedimentação. Declividade muito
baixa, velocidade pequena e
pouca energia. Os sedimentos
acumulam-se no fundo do leito e

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nas margens, formando bancos de
areia. A deposição de sedimentos

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torna o leito do rio mais sinuoso,
formando os meandros.
Em uma bacia existem várias sub-bacias ou áreas de drenagem de cada contribuinte. Estas são
as unidades fundamentais para a conservação e o manejo, uma vez que a característica ambiental de
uma bacia reflete o somatório das relações de causa e efeito da dinâmica natural e das ações humanas
ocorridas no conjunto das sub-bacias nela contidas.
Divisores de água ou interflúvios são as partes mais elevadas do relevo que separam rios de
uma determinada rede hidrográfica, delimitando suas respectivas bacias.
A estrutura de um rio pode ser esquematizada nos seguintes elementos:
1) Nascente ou cabeceira – onde o rio nasce.
2) Cascata ou queda d’água – declive acentuado e/ou abrupto no relevo.
3) Meandro – curva acentuada de um rio.
4) Foz ou desembocadura – onde o rio deságua, podendo ser um delta, um estuário ou mista.
5) Afluente – curso de água que desemboca no rio principal.
6) Margem – limite entre a água do rio e a terra, sendo a margem direita (6.1) no sentido do
curso do rio (de montante para jusante) e esquerda (6.2) a margem oposta.
7) Vertente – encosta íngreme na margem do rio.
8) Interflúvio – também chamado de divisor de águas, é uma elevação do terreno que separa
dois ou mais rios.
9) Delta – foz de um rio formada por vários braços ou canais do leito do rio.
10) Estuário – parte do rio que se encontra com o mar.

BACIAS HIDROGRÁFICAS B

A
1
7
8

2
7
8
7 6
7

5
10
3
4

Figura 10 – Perfil longitudinal do rio com (seus) principais elementos.


Fonte: Adaptado de Wisniewsk, 2012.

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2.5.3.2.2 Lagos

São depressões continentais em que se acumula água e classificam-se em:


• Tectônicos – oriundos de movimentos tectônicos, os quais produzem fendas que podem ser
preenchidas por águas, determinando a formação do lago.
• Vulcânicos – correspondem a antigas crateras vulcânicas.
• De barragem – os naturais originam-se da sedimentação ocasionada por geleiras, rios e
mares (são glaciais, fluviais e fluviomarítimos), e os artificiais correspondem a represas
e açudes construídos pelo ser humano.

2.5.3.2.3 Geleiras

São massas continentais de gelo de limites definidos, que se movimentam pela ação da gravidade.
Originam-se pela acumulação e compactação da neve, transformando-a em gelo. Estão presentes nas
zonas polares do globo terrestre, nas quais ocorrem as menores temperaturas.
As geleiras podem ocorrer em áreas planas ou na forma de imensos rios de gelo que avançam
lentamente pelos vales (glaciares). Quando chegam até mares e lagos, elas dão origem a plataformas
de gelo de onde se desprendem os icebergs que, até derreterem por completo, podem ficar muito
tempo viajando na água.

2.5.3.2.4 Água subterrânea

São águas que ocorrem abaixo da superfície da Terra, preenchendo os poros das rochas sedi-
mentares, ou as fraturas, falhas e fissuras das rochas compactas. Submetidas às forças de adesão e de
gravidade, desempenham um papel essencial na manutenção da umidade do solo, do fluxo dos rios,
lagos e brejos, constituindo, assim, uma das fases do ciclo hidrológico.
A importância da água subterrânea, sob o ponto de vista técnico e econômico, repousa no fato
de esta constituir o maior manancial de água doce líquida acessível, com volume estimado em 23
milhões de quilômetros cúbicos.
a) Modo de ocorrência das águas subterrâneas.
Em relação à saturação, a água distribui-se verticalmente no solo e subsolo, de acordo com as
seguintes zonas de umidade:
• Zona não saturada ou zona de aeração – corresponde à parte do solo em que os poros
estão preenchidos por água e ar. Divide-se em três faixas, cujos limites não são bem
definidos, ocorrendo uma transição gradual entre elas: zona da água no solo, zona
intermediária e zona de capilaridade ou franja capilar.
• Zona saturada – os poros estão totalmente preenchidos por água. Seu limite superior cor-
responde à chamada superfície piezométrica (piezo = pressão), ou freática, e representa
o nível de água subterrânea propriamente dita. A Figura 11 apresenta esquematicamente
a distribuição da água em subsuperfície.

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Superficie do solo
Água do solo

Poço Nível de
ascenção capilar
Zona de água do solo

ZONA DE
AERAÇÃO Zona intermediária Água pelicular e gravitacional

Franja capilar Água capilar


Rio
ZONA DE Zona de água Superficie freática
Água subterrânea
SATURAÇÃO subterrânea

Impermeável

Figura 11 – Distribuição vertical da água no solo e subsolo.


Fonte: Adaptado de Bear e Verruijt, 1987.

b) Acumulação das águas subterrâneas.


Os termos utilizados para definir o modo de acumulação da água em subsuperfície – lençol
freático e/ou lençóis subterrâneos – levam, comumente, a uma falsa crença de que a água subterrânea
ocorreria na forma de um “rio” ou grande “lago” subterrâneo. Na realidade, rios subterrâneos existem
apenas nas regiões de relevo cárstico (constituídos de rocha calcária), em que a dissolução da rocha
pela ação da água constrói cavernas e dutos por onde pode fluir a água subterrânea.
A água subterrânea, na sua maior parte, ocorre contida no interior das rochas, ocupando parcial ou
totalmente os espaços vazios, como os poros das rochas sedimentares e dos depósitos não consolidados
(aluviões, dunas, areias das praias), ou as falhas e fissuras (rachaduras) das rochas compactas, como os granitos.
Os dois principais parâmetros de uma rocha, que se relacionam com sua capacidade de conter
e permitir o fluxo da água subterrânea, são a porosidade e a permeabilidade.
c) Porosidade.
Conjunto formado pelos vazios de uma rocha ou solo. A porosidade total de uma rocha depende
de fatores tais como: litologia, textura, grau de compactação, estrutura e intensidade do intemperismo.
Distinguem-se dois tipos de porosidade:
• Porosidade primária: quando os poros de uma rocha são originados juntamente com sua
formação, como ocorre, por exemplo, durante a sedimentação de uma areia ou durante a
consolidação de uma rocha vulcânica.
• Porosidade secundária: quando os vazios presentes nas rochas formaram-se devido a alterações
pós-genéticas sofridas pelas rochas, como, por exemplo, as fissuras ou falhas devidas a esforços
tectônicos ou os vazios decorrentes dos processos de dissolução, relacionados à diagênese
ou ao intemperismo químico.
d) Permeabilidade.
Parâmetro que traduz a capacidade de uma formação geológica de permitir a passagem de água
subterrânea por seus vazios ou interstícios. Expressa em darcys.
1 darcy = 0,987 x 10-8 cm2.
e) Classificação das formações geológicas com relação à acumulação da água subterrânea.
Do ponto de vista de acumulação da água subterrânea, as rochas, os solos e os demais sedimentos
podem ser classificados como:
• Aquíferos (do grego aqui, água, e fere, transferir): são formações geológicas capazes de armazenar
água subterrânea, constituídas por rochas ou sedimentos porosos e permeáveis capazes de conter água
e de cedê-la. Os depósitos de dunas e os arenitos são exemplos de formações aquíferas.

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• Aquicludes: formações geológicas que, apesar de terem uma grande porosidade e conterem
água, até mesmo em quantidades significativas, são incapazes de transmiti-la em condições
naturais, ou seja, não possuem permeabilidade. São exemplos de aquicludes: argilas, folhelhos,
rochas vulcânicas porosas, mas com poros que não são interconectados.
• Aquitardes: formações ou camadas geológicas semipermeáveis delimitadas no topo e na
base por camadas de permeabilidade muito maior. Têm o comportamento de uma mem-
brana semipermeável, por meio da qual pode ocorrer uma filtração vertical, ou drenança.
Exemplos: arenitos argilosos, que possuem baixa porosidade e baixa permeabilidade.
• Aquífugos: formações geológicas impermeáveis, que não armazenam nem transmitem água.
Exemplo: granito, gnaisse.
f) Classificação dos aquíferos.
Os aquíferos ou sistemas aquíferos (constituídos por mais de uma formação geológica) classi-
ficam-se quanto à homogeneidade do meio e quanto à pressão à qual estão submetidos. Quanto à
homogeneidade do meio, os aquíferos classificam-se em:
• Meios homogêneos: correspondem aos aquíferos cuja porosidade é intergranular ou primária.
São também chamados intersticiais porosos e suas propriedades de porosidade e permea-
bilidade não variam muito; pode-se dizer que eles são homogêneos em escala regional.
• Meios heterogêneos: correspondem aos aquíferos cujas propriedades, de porosidade e
permeabilidade, variam bastante de um ponto a outro. A porosidade nesses aquíferos é
secundária. Classificam-se em:
- Aquíferos fissurais: constituídos por rochas ígneas e metamórficas, cuja porosidade
primária é inexistente ou desprezível. A capacidade dos aquíferos fissurais e a qualida-
de de sua água dependem de fatores exógenos (clima, hidrografia, relevo, vegetação,
infiltrações de soluções, intemperismo) e de fatores endógenos, ou seja, da própria
formação rochosa, como a litologia e a estrutura.
- Aquíferos cárstico-fissurais: são desenvolvidos nas rochas carbonáticas, como calcário
e mármore. Possuem porosidade secundária gerada pela dissolução do carbonato de
cálcio, pela ação da água que percola nas fissuras e fraturas e falhas, geradas pelos
esforços tectônicos ou de alívio.
A Figura 12 ilustra a porosidade, a permeabilidade e os tipos de aquíferos.

Poro
Arquífero poroso
(areias e cascalheiras)

Fractura Arquífero fracturado e


fissurado
(rochas magmáticas e
metafóricas)

Arquífero cársico
Cavidade (rochas calcárias)

Figura 12 – Comparação entre os diferentes tipos de aquífero.

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Quanto à pressão a que estão submetidos, os aquíferos classificam-se em livres, confinados e
semiconfinados (Figura 13).
• Livre ou freático: tem sua superfície, que coincide com o nível freático regional, sujeita à
pressão atmosférica. São mais dependentes das condições climáticas e das interações com
os cursos d’água. Os poços que captam esse tipo de aquífero são chamados poços freáticos.
• Confinado: contido entre duas camadas impermeáveis. Neste tipo de aquífero, a água está
submetida a pressões maiores que a pressão atmosférica, de modo que existe um nível virtual
de pressões, situado acima da base da camada confinante, denominado nível potenciomé-
trico. Os poços construídos neste tipo de aquífero são chamados artesianos, pois o nível da
água neles, refletindo o nível potenciométrico do aquífero confinado, eleva-se acima do
nível freático regional. Quando esse nível extrapola a superfície do terreno, ocorre o jorro
espontâneo do poço. Nessa situação, os poços são chamados de artesianos jorrantes.
• Semiconfinado: topo ou base constituído por uma camada semipermeável (ou aquitarde).
São sujeitos aos fenômenos de drenança vertical ascendente e descendente. Chama-se
drenança o fenômeno de percolação da água subterrânea entre dois aquíferos, separados
verticalmente por uma camada semipermeável.

Arquífero B
Livre Confinado Poços - 1,2,3 e 4 (Arquifero
confinado não drenante)
Área de Não drenante Área de Não drenante Poço - 5 (Arquifero freático)
recarga drenante Surgencia drenante
Arquífero suspenço
recarga Superfície Poço
do solo jorrante
Superfície potenciométrica (B)

1 Superfície potenciométrica (C)


Mar
Nível estático
Drenança
2
5 Arquífero A
Interface
4
Arquífero B

3 Drenança
Interface Água do mar

Arquifero C
Camadaimpermeável
Camada impermeável
Camada semipermeável

Figura 13 – Tipos de aquíferos e poços tubulares em relação à pressão a que estão submetidos.
Fonte: Adaptado de Feitosa et al., 2008.

2.6 Biosfera
A biosfera, do grego, bio, vida, e sphaira, esfera, é a camada do globo terrestre habitada pelos
seres vivos. Com o aparecimento dos primeiros seres vivos, há cerca de 3,5 bilhões de anos, a biosfera,
representada pelos seres vivos e pelo ambiente onde eles vivem, veio associar-se às três camadas
físicas da Terra: litosfera, hidrosfera e atmosfera.
Uma vez que existem locais do planeta impróprios à vida, em função de condições extremas
de, por exemplo, temperatura e pressão, a biosfera não forma uma camada contínua em torno do
planeta. Corresponde, contudo, ao conjunto de regiões do ambiente terrestre com a presença de seres
vivos e engloba todos os ecossistemas da Terra.
A maioria dos seres vivos terrestres habita regiões com altitudes de até 5.000 metros. No mar, a
maior parte dos seres vivos encontra-se até os 150 metros de profundidade, existindo, porém, espécies
de animais e bactérias vivendo, nas regiões abissais, a mais de 9.000 metros de profundidade.

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