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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

MESTRADO DE HIDRÁULICA E RECURSOS


HÍDRICOS

MÓDULO 3
Gestão Integrada de Recursos Hídricos

Prof. Álvaro Carmo Vaz (UEM)

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Programa das aulas
1. Introdução
2. Objectivos da GIRH
3. Princípios e conceitos fundamentais de
gestão da água
4. Interferência humana no ciclo hidrológico
5. Tipos de planeamento

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Bibliografia básica
• Caps 14 e 16 do livro “Hidrologia e Recursos
Hídricos” de J. Hipólito e A. Carmo Vaz
• Handbook for integrated water resources
management in basins – Global Water
Partnership
• A gestão da água – L. Veiga da Cunha, A.
Gonçalves, V. Figueiredo, M. Lino
• Lei de Águas 16/91, Política de Águas (2007),
Estratégia Nacional de Gestão de Recursos
Hídricos (2007)

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1. INTRODUÇÃO

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Porquê a GIRH?
• Porquê a necessidade de gestão integrada de
recursos hídricos?
– dificuldade de balancear a procura crescente com a
disponibilidade de água
• quer nos países desenvolvidos quer nos países em
desenvolvimento
• causada pelo crescimento populacional e desenvolvimento
económico;
– pressão sobre os recursos hídricos devido à poluição
• em rios, lagos e zonas costeiras
• rejeição de volumes crescentes de efluentes domésticos e
industriais, com pouco ou nenhum tratamento

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Porquê a GIRH?
• Abordagem sectorial aumenta o potencial de
conflito
• Necessidade de garantir no futuro
– Água para necessidades de uso doméstico
– Água para produção alimentar
– Água para o desenvolvimento económico
– Conservação de ecossistemas aquáticos importantes
• Todas as partes interessadas devem estar
envolvidas no processo de decisão

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Breve retrospectiva histórica
• Fins do sec XIX: abastecimento de água
(saúde pública)
• Meados do sec XX: água para o
desenvolvimento económico
• Século XXI: sustentabilidade, conservação
ambiental, lazer, valores estéticos

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Conferência de Mar del Plata 1977
• Gestão da água numa abordagem holística e
abrangente
• Temas chave
– avaliação das disponibilidades e das utilizações da
água;
– eficiência na utilização;
– cheias e secas;
– ambiente, saúde e poluição;
– políticas, planeamento e gestão;
– informação pública, educação, treinamento e
investigação;
– cooperação regional e internacional.

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Conferência de Dublin 1992
• Antecedeu a Cimeira do Rio sobre Ambiente e
Desenvolvimento
• Quatro princípios orientadores:
– A água doce é um recurso finito e vulnerável, essencial para
sustentar a vida, o desenvolvimento e o ambiente.
– O desenvolvimento e a gestão dos recursos hídricos devem
utilizar uma abordagem participativa, envolvendo os utentes
da água, planificadores e fazedores de políticas, a todos os
níveis.
– As mulheres desempenham um papel central na provisão,
gestão e preservação da água.
– A água tem um valor económico em todas as suas utilizações
competitivas e deve ser reconhecida como um bem
económico.

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Outras reuniões internacionais
relevantes
• Cimeira do Rio de Janeiro sobre Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável, 1992
• World Water Forum, organizados
trienalmente a partir de 1997
• Conferência Internacional sobre Água,
Bona, 2001
• Cimeira Mundial do Desenvolvimento
Sustentável, Joanesburgo, 2002
Permitiram consolidar os conceitos e a
prática da GIRH 10
Cimeira Mundial do Desenvolvimento
Sustentável, Joanesburgo, 2002
• Plano de Implementação
– Programas, planos e estratégias nacionais e regionais para
gestão integrada de bacias hidrográficas e água subterrânea;
– Medidas para aumentar a eficiência das infraestruturas
hidráulicas, reduzir perdas e aumentar a re-utilização da água;
– Instrumentos de política, incluindo regulação, monitorização,
medidas de mercado, mobilização social, gestão da terra,
recuperação de custos;
– Eficiência da utilização da água e promoção da sua alocação
dando prioridade à satisfação de necessidades humanas
básicas e balanceando a necessidade de conservação dos
ecossistemas com as necessidades de consumo doméstico,
industrial e agrário;
– Programas para mitigar os efeitos de cheias e secas;

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Cimeira Mundial do Desenvolvimento
Sustentável, Joanesburgo, 2002
• Plano de Implementação (cont)
– Desenvolvimento de fontes de água não-convencionais
(dessalinização da água do mar, re-utilização);
– Parcerias público-privadas;
– Envolvimento de todas as partes interessadas;
– Apoio aos países em desenvolvimento para monitorização e
avaliação dos seus recursos hídricos (quantidade e qualidade),
com expansão das redes de colheita de dados e bases de
dados;
– Melhoria contínua da gestão da água e da compreensão do ciclo
hidrológico através da utilização de tecnologias mais avançadas
e reforço da cooperação internacional.

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Desenvolvimentos posteriores
• Objectivos de Desenvolvimento do Milénio
– Apesar dos consensos e das promessas de
apoio aos países em desenvolvimento, uma
parte importante dos LDC não conseguiu
atingir as metas acordadas.
• Objectivos do Desenvolvimento
Sustentável – programas e metas até
2030.

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Da teoria à prática
• Os conceitos teóricos consolidaram-se e
tornaram-se consensuais.
• Muitos destes conceitos foram integrados
nas leis e políticas dos países.
• Na sua implementação, continua a
verificar-se um grande afastamento em
relação à teoria e às metas definidas.

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2. OBJECTIVOS DA GIRH

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Definição de GIRH
• GWP (2000): Gestão Integrada de
Recursos Hídricos – um processo que
promove o desenvolvimento e a gestão
coordenada dos recursos hídricos, do
solo e outros relacionados para
maximizar os benefícios económicos e
sociais resultantes, de forma equitativa e
sem comprometer a sustentabilidade de
ecossistemas vitais.
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GIRH na Política de Águas
• Gestão integrada dos recursos hídricos – Os
recursos hídricos serão geridos de forma
integrada tendo como base a bacia hidrográfica
como a unidade fundamental e indivisível. A
gestão e o planeamento devem respeitar a
ligação intrínseca entre água superficial e água
subterrânea, os aspectos de quantidade e
qualidade da água desde a nascente até à foz,
a conservação ambiental e as necessidades de
desenvolvimento
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Objectivos da GIRH
• Objectivos gerais
– Eficiência económica
– Equidade social
– Conservação ambiental
• Principais objectivos específicos
– Assegurar água suficiente para satisfazer as várias
necessidades e ajustar as necessidades às disponibilidades.
– Proteger a sociedade de desastres naturais ou causados pelo
homem, nomeadamente cheias, secas e poluição acidental,
prevenindo ou mitigando as suas consequências.
– Garantir a longo prazo as origens da água, especialmente
através da preservação e melhoria da qualidade das massas
de água e dos ecossistemas delas dependentes.

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Influência da GIRH em
documentos normativos
• Alguns documentos normativos importantes
enformados pela GIRH
– Directiva-Quadro da Água da União Europeia, 2000
– Convenção das Nações Unidas sobre a Lei dos Usos
Distintos da Navegação dos Cursos de Água
Internacionais, 1997
– Protocolo da SADC sobre Sistemas Hidrográficos
Partilhados, 2000
– Política de Águas de Moçambique, 2007

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3. PRINCÍPIOS E CONCEITOS
FUNDAMENTAIS
DA GESTÃO DA ÁGUA

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Princípios fundamentais
• Princípios de Dublin:
– A água doce é um recurso finito e vulnerável,
essencial para sustentar a vida, o desenvolvimento e
o ambiente.
– O desenvolvimento e a gestão dos recursos hídricos
devem utilizar uma abordagem participativa,
envolvendo os utentes da água, planificadores e
fazedores de políticas, a todos os níveis.
– As mulheres desempenham um papel central na
provisão, gestão e preservação da água.
– A água tem um valor económico em todas as suas
utilizações competitivas e deve ser reconhecida como
um bem económico.

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Princípios de Dublin
• Água como recurso essencial, finito e vulnerável
– importante para a sensibilização para o valor
insubstituível da água
• abordagem participativa
– aumenta a sensibilidade dos fazedores de política,
dos utilizadores e da sociedade civil em relação à
importância da água
– envolve as partes interessadas no processo de
planeamento e implementação dos projectos
– permite que as decisões sejam tomadas a níveis
mais baixos

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Princípios de Dublin
• Papel das mulheres – fundamental no
abastecimento de água rural em Moçambique
• Gerir a água como um bem económico - para
uso eficiente e equitativo
– Intenso debate: desenvolvimento dos recursos
hídricos para satisfazer necessidades sociais nos
países em desenvolvimento não seria possível se a
água fosse considerada um bem económico sem se
tomar em consideração as questões da pobreza e da
equidade bem como a preservação dos ecossistemas
– Valorização da água nas vertentes económica, social
e ambiental é nesta altura consensual, persistem
dificuldades na aplicação prática dessa valorização

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Princípio do utilizador-pagador
A política tarifária da água será guiada pelos
princípios do utilizador-pagador, ...(Política de
Águas, 2007)
• Princípio adoptado de forma generalizada em
Moçambique
• Como é aplicado?
– Consumo doméstico urbano
– Consumo rural
– Consumo público, comercial, industrial, minas,
turismo
– Energia hidroeléctrica
– AGRICULTURA
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Princípio do poluidor-pagador
A política tarifária da água será guiada pelos
princípios ..., do poluidor-pagador, ...
...
Critérios para definir taxas para descargas de
efluentes e multas por não cumprimento serão
preparados e implementados pelas
administrações regionais de águas, após
decisão dos Ministros dos sectores de água e
do ambiente.
(Política de Águas, 2007)
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Princípio do poluidor-pagador
• Princípio pretende que o custo da poluição seja
internalizado
• Dificuldades de aplicação em Moçambique
– Falta de clareza no arranjo institucional, conflito de
competências (ARA vs MICOA)
– Falta de recursos técnicos (recursos humanos,
equipamentos, laboratórios)
– Falta de recursos financeiros
– Poluição difusa

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Gestão dos recursos hídricos

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Gestão dos recursos hídricos
• Promover o ajustamento entre
disponibilidade e necessidade de água
• Ajustamento deve ter em conta o futuro a
longo prazo
• Actuar nos dois lados da equação
(disponibilidade, necessidade)
• Qualidade e fiabilidade exigidas variam
com o sector de utilização
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Disponibilidade, procura e reserva
ambiental

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Conceito chave: Integração
• Integração de todos os recursos hídricos considerados
conjuntamente à escala da bacia hidrográfica (águas
superficiais, águas subterrâneas, zonas húmidas,
recursos hídricos costeiros);
• Integração dos objectivos ambientais de protecção de
ecossistemas aquáticos, assegurar um bom estado de
todas as águas;
• Integração das várias utilizações e funções (água para a
saúde e o consumo humano, para o ambiente, para os
sectores económicos, para transporte, para lazer) num
quadro de política comum;

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Conceito chave: Integração
• Integração das diversas disciplinas e conhecimentos
(hidrologia, hidráulica, engenharia civil, ecologia,
química, biologia, geologia, ciência do solo, economia,
direito, sociologia) numa abordagem multi- e trans-
disciplinar;
• Integração da legislação da água num quadro comum e
coerente a nível nacional, regional e internacional;
• Integração de todos os aspectos significativos de gestão
e ecológicos relevantes para o planeamento sustentável
das bacias hidrográficas, incluindo a protecção e
prevenção de cheias;
• Integração de um largo leque de medidas: estruturais,
de exploração de infra-estruturas, económicas e
financeiras, legislativas e regulamentadoras, de
desenvolvimento institucional;
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Conceito chave: Integração
• Integração das partes interessadas e da sociedade civil
nos processos de análise e decisão;
• Integração dos diferentes níveis de decisão relativos aos
recursos hídricos (local, regional e nacional);
• Integração da gestão da água de diferentes Estados em
bacias hidrográficas partilhadas.

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Dimensões da integração

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Funções da GIRH
Planeamento Monitorização Controlo da
dos recursos dos recursos poluição
hídricos hídricos

Atribuição de
Participação
água, incl. caudal
das
ecológico
partes
interessadas

Gestão da Gestão Gestão de


informação económica cheias
e secas

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Funções da GIRH
• GIRH deve estar focada num conjunto de
funções essenciais:
– Monitorização dos recursos hídricos
– Controlo da poluição
– Atribuição de água, monitorização do uso
– Gestão de cheias e secas
– Gestão económica
– Gestão da informação
– Participação das partes interessadas
– Planeamento dos recursos hídricos
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Funções da GIRH
• Funções devem estar relacionados com
os objectivos a atingir
• Objectivos dependem da política de águas
• Objectivos devem ter em consideração os
meios disponíveis (recursos humanos,
materiais e financeiros)
• Atender ao quadro institucional e legal

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Funções de GIRH

Objectivos
Actividades Capacidade
Funções de gestão
e institucional
dos recursos
responsabi- necessária
hídricos
lidades

Indicadores de
resultados

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Funções de GIRH
• Exemplo
– Função: monitorização dos recursos hídricos
– Objectivo: conhecimento das disponibilidades
de água
– Actividades:
• Medições diárias de caudal, precipitação e
evaporação em estações seleccionadas
• Modelação hidrológica
– Indicadores
• Nº medições efectuadas
• Modelos hidrológicos operacionais, resultados
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Funções da GIRH

Monitorização dos
recursos hídricos

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Monitorização dos recursos
hídricos
Em geral, as várias redes de recolha de
informação hidrológica devem expandir-se para
um nível em que sejam suficientes para fins de
planeamento e operação aos níveis nacional e
da bacia hidrográfica assim como para projectos
locais (Política de Águas, 2007)

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Monitorização dos recursos
hídricos
• Objectivo: planeamento, gestão operacional
• Definir a rede de monitorização de acordo com
os recursos disponíveis
• É preferível ter poucas estações com controlo
de qualidade dos dados do que ter muitas sem
esse controlo
• Podem instalar-se estações provisórias com
objectivos específicos (por exemplo, medições
para calibração de um modelo hidrológico)

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Monitorização dos recursos
hídricos
• Variáveis a medir e periodicidade
– Várias vezes por dia: caudal durante cheia
– Diariamente: precipitação, evaporação, altura
– Quinzenalmente: caudal
– Mensalmente: nível piezométrico
– Trimestralmente: parâmetros de qualidade da água
• Valores indicativos de km2/estação
– Precipitação: 500-1000
– Evaporação: 5000-10000
– Altura e caudal: 1500-5000
– Qualidade da água: nas estações hidrométricas mais
importantes, só parâmetros realmente relevantes
(campo e laboratório)
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Monitorização dos recursos
hídricos
• Actividades
– Medição periódica
– Registo em bases de dados
– Controlo de qualidade
• Indicadores
– Nº de estações operacionais
– Nº de medições realizadas
– Disseminação da informação (exº: anuários,
acesso aos dados via internet)
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Funções da GIRH

Controlo da
poluição

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Controlo da poluição
Tendo em consideração o alto risco de contaminação dos
aquíferos e o longo período de tempo necessário para
recuperar da contaminação, serão criadas zonas de
protecção nos principais aquíferos...
Serão igualmente estabelecidas zonas de protecção para
captações superficiais e para lagos e albufeiras.
...
... controlo, gestão e monitorização da poluição da água
(Política de Águas, 2007)

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Controlo da poluição
• Má qualidade da água reduz a disponibilidade
(quantidade) dos recursos hídricos
• Problema tende a agravar-se com crescimento
da população, urbanização, industrialização e
agricultura intensiva
• Principal impacto negativo em Moçambique no
abastecimento urbano
• Objectivos:
– Conhecer a extensão do problema da poluição
– Introduzir medidas de controlo, licenciamento

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Controlo da poluição
• É mais eficiente prevenir a poluição do que combatê-la a
posteriori
• Princípio do poluidor-pagador
• Regulamentos e padrões devem ser realistas (um
exemplo de falta de realismo: padrões definidos no
Acordo de IncoMaputo)
• Mais fácil actuar sobre poluição pontual do que sobre
poluição difusa
• Atenção às fontes de água subterrânea
– Fundamentais para o abastecimento rural e algumas cidades
– Perda de qualidade pode não ser detectada de imediato
– Recuperação é cara e leva muito tempo

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Controlo da poluição
• Actividades:
– Identificar áreas problemáticas que exigem
intervenção
– Priorizar os problemas de qualidade da água:
• Impactos sobre a saúde pública
• Impactos económicos
• Gravidade da poluição
• Extensão geográfica e duração dos impactos
– Plano de acção
• Indicadores
– Lista priorizada de áreas de intervenção
– Cumprimento do plano de acção

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