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Método Racional e SCS

Prof. Cláudio Krüger - claudio.kruger@ufpr.br


Rio Cheonggyecheon (Seul, Coreia do Sul)
Rio Cheonggyecheon (Seul, Coreia do Sul)
Rio Cheonggyecheon (Seul, Coreia do Sul)
Rio Cheonggyecheon (Seul, Coreia do Sul)
Rio Cheonggyecheon (Seul, Coreia do Sul)
Rio Cheonggyecheon (Seul, Coreia do Sul)
Rio Cheonggyecheon (Seul, Coreia do Sul)
Rio Cheonggyecheon (Seul, Coreia do Sul)
Rio Cheonggyecheon sendo rio!
Vazão máxima de projeto | fluxograma
S
muito raro haver série
A bacia é pequena? Método Racional histórica de vazões em
(< 5 km2?)
bacias muito pequenas

Há dados flu? N
Hidrograma Unitário Sintético
utiliza chuvas e características
(plu já existem) físicas da bacia (regionalização)

Série
longa de dados? N Hidrograma Unitário exige observações de
(> 20 anos?) Convencional vazão (hidrogramas)

Ajuste de distribuição
de probabilidades série longa de vazões anuais, bacias médias a grandes
(método estatístico)
Método Racional
Método Racional | definição
O método racional é um modelo de transformação de chuva em vazão
bastante simples, que se baseia no uso da chamada “fórmula racional”:

𝐶𝐶 � 𝑖𝑖 � 𝐴𝐴
𝑄𝑄 =
3,6

onde: Q = vazão máxima instantânea (m3/s)


i = intensidade média da precipitação (mm/h)
A = área de drenagem da bacia (km2)
C = coeficiente de deflúvio ou coeficiente de escoamento (adim.)
Método Racional | hipóteses básicas

O coeficiente de escoamento representa a porcentagem da chuva que


se transforma em escoamento superficial. Por exemplo, uma bacia
hipotética totalmente impermeável teria um coeficiente de escoamento
de 100% (C = 1,0).

O método se baseia nas hipóteses de que a chuva é uniformemente


distribuída em toda a bacia e de que o tempo de duração da chuva é
igual ou maior que o tempo de concentração da bacia.
Método Racional | hipóteses básicas
tc
Q precipitação
15’
i

tc
10’
Qmáx

5’

15’
10’ Q
Linhas de igual tempo 5’
de concentração (isócronas) tc tempo
Método Racional | aplicabilidade

Devido à extrema simplicidade do método, sua aplicabilidade é restrita a


bacias ou áreas muito pequenas. Sobre este ponto, há certa variação de
opiniões em relação ao tamanho máximo da área.
Como ordem de grandeza, bacias menores que 5 km2 e que tenham
tempos de concentração menores que 1 hora.
Método Racional | aplicabilidade
A escolha do coeficiente de escoamento C é essencial para obter resultados
mais confiáveis. As tabelas a seguir fornecem recomendações:

Critério: tipo de superfície

Fonte: Dornelles e Collischonn (2015)


Método Racional | aplicabilidade

Critério: tipo de uso do solo

Fonte: Dornelles e Collischonn (2015)


Método Racional | Exemplo

Estimar a vazão máxima em um canal de drenagem projetado para o Ribeirão dos


Müller no bairro do Campo Comprido em Curitiba.

Dados:

A = 4,5 km2 (área de drenagem)


L = 3,06 km (comprimento do talvegue)
H = 45 m (desnível total do talvegue)
Método Racional | Exemplo
Bacia do Ribeirão dos Müller
Método Racional | Exemplo
Análise de imagens de sensoriamento remoto

Bacia do Ribeirão
dos Müller

Tipo de Cobertura (Classe) Área (%) Área (km²)


Água 0,62 0,06
Área Urbanizada 34,48 3,39
Solo Descoberto 25,75 2,53
Vegetação Rasteira 17,78 1,75
Vegetação Densa 21,39 2,10
Método Racional | Exemplo
Solução:

a) Adotar um tempo de retorno (T)

Para canais de macrodrenagem, um valor comumente adotado é T = 20 anos.

Este valor significa que a vazão máxima calculada teria uma probabilidade de 1/20
(ou 5%) de se repetir a cada ano, ou de que o intervalo médio de tempo para
repetição de uma vazão de cheia igual ou maior seria de 20 anos.
Método Racional | Exemplo
b) Estimar o tempo de concentração (tc)

Existem diversas fórmulas empíricas para este fim. Uma das mais tradicionais é a
equação do Departamento de Estradas da Califórnia (Pinto et al., 1976):

3 0,385
𝐿𝐿
𝑡𝑡𝑐𝑐 = 57 �
𝐻𝐻

onde: tc = tempo de concentração (minutos);


L = comprimento do talvegue (km)
H = desnível total do talvegue (m) – diferença de cotas do ponto mais afastado da
bacia até o local da estimativa.
Método Racional | Exemplo

No caso em questão, L é aproximadamente igual a 3,06 km e o desnível H é igual


a 45 m. Substituindo na equação, resulta:

tc = 48 minutos.
Método Racional | Exemplo
c) Intensidade máxima da chuva

Para Curitiba, existem duas equações de chuvas intensas que podem ser
utilizadas para a estimativa:
5950 � 𝑇𝑇𝑟𝑟0,217
𝑖𝑖 = (Parigot de Souza, 1959)
𝑡𝑡 + 26 1,15
5726,64 � 𝑇𝑇𝑟𝑟0,159
𝑖𝑖 = (Fendrich, 2003)
𝑡𝑡 + 41 1,041
onde i = intensidade da precipitação (mm/hora);
t = duração da chuva (minutos). Obs: 5 ≤ t ≤ 120 min
T = tempo de recorrência (anos).
Método Racional | Exemplo

Utilizando a equação de Fendrich, para T = 20 anos e t = tc = 48 minutos, resulta

i = 86,2 mm/h

d) Adotar um coeficiente de escoamento

Existem inúmeras tabelas e referências na literatura. Segundo Dornelles e


Collischonn (2015), para “áreas residenciais com muitas superfícies livres” o valor
do coeficiente de escoamento C estaria entre 0,25 e 0,5.

Será adotado o valor C = 0,5 (valor mais seguro, porém menos econômico).
Método Racional | Exemplo
e) Estimativa da vazão máxima

A área de drenagem do Ribeirão dos Müller no ponto de construção do canal de


drenagem é de aproximadamente A = 4,5 km2.
𝐶𝐶�𝑖𝑖�𝐴𝐴 0,5 � 86,2 � 4,5
Substituindo na fórmula do método racional: 𝑄𝑄 = =
3,6 3,6

Q = 53,9 m3/s

Para refletir: o resultado parece um valor razoável?


A escolha do coeficiente de escoamento C = 0,5 parece compatível com as
imagens de satélite?
Exercícios propostos – Problemas C

MC.01
MC.03
MC.04
MC.05
MC.06
MC.10 (arquivo “Problemas C”)

Fonte: Manual de Sobrevivência – Problemas C


Método SCS
Método SCS | definição
O método SCS é utilizado para estimar a chuva efetiva ou o volume de
escoamento superficial de um evento.

É conhecido por utilizar um único parâmetro denominado Curve Number


(CN), que está relacionado às características do solo da bacia.

Baseia-se no balanço hídrico superficial e em duas hipóteses


relacionadas à capacidade de armazenamento de água no solo.
Método SCS | balanço hídrico
A equação de balanço hídrico na superfície do solo é adotada como
sendo:

𝑃𝑃 = 𝐼𝐼𝐼𝐼 + 𝐹𝐹 + 𝑄𝑄

onde:
𝑃𝑃 = precipitação ocorrida no evento (mm)
𝐼𝐼𝐼𝐼 = perdas iniciais (interceptação, infiltração antes de iniciar o escoamento
superficial, acúmulo de água na superfície etc.) (mm)
𝐹𝐹 = infiltração acumulada ao longo do evento (mm)
𝑄𝑄 = chuva efetiva ou escoamento superficial ao longo do evento (mm)
Método SCS | balanço hídrico

Quantidades
(mm)

Tempo (t)
Fonte: Maidment (1993)
Método SCS | hipóteses
Hipótese 1: igualdade na razão entre escoamentos e infiltrações
Escoamento Infiltração
superficial acumulada no solo
𝑄𝑄 𝐹𝐹
=
𝑃𝑃 − 𝐼𝐼𝐼𝐼 𝑆𝑆
Escoamento superficial Volume máximo
máximo potencial potencial de retenção
do solo
Hipótese 2: perdas iniciais

𝐼𝐼𝐼𝐼 = 0,2 � 𝑆𝑆
Método SCS | equação do método
Unindo as equações anteriores, chega-se a:

𝑃𝑃 − 0,2 � 𝑆𝑆 2 (para 𝑃𝑃 > 𝐼𝐼𝐼𝐼, caso


𝑄𝑄 = contrário 𝑄𝑄 = 0)
𝑃𝑃 + 0,8 � 𝑆𝑆

O valor de 𝑆𝑆 foi analisado experimentalmente em bacias dos EUA,


chegando-se a:
25400
𝑆𝑆 = − 254 (em mm)
𝐶𝐶𝐶𝐶
Método SCS | curve number
O parâmetro 𝐶𝐶𝐶𝐶 (curve number, ou curva-número) é adimensional e
varia entre 0 e 100
𝐶𝐶𝐶𝐶 = 0: solo com capacidade de infiltração infinita
𝐶𝐶𝐶𝐶 = 100: solo completamente impermeável

O valor de 𝐶𝐶𝐶𝐶 é dado por tabelas e varia de acordo com o tipo de solo
(A, B, C e D) e sua ocupação (agrícola, pastagem, urbana etc.)
Método SCS | curve number

Critério tipo de solo

Fonte: Dornelles e Collischonn (2015)


Método SCS | curve number
Critério ocupação (bacias rurais)

(Tabela parcial, consultar a fonte original para valores adicionais)

Fonte: Dornelles e Collischonn (2015)


Método SCS | curve number
Critério ocupação (bacias urbanas)

(Tabela parcial, consultar a fonte original para valores adicionais)

Fonte: Dornelles e Collischonn (2015)


Método SCS | exemplo
Exemplo: Qual é a chuva efetiva durante um evento de precipitação total
de 70 mm em uma bacia com solos tipo B e com cobertura de florestas?

Solução: seleção do parâmetro 𝐶𝐶𝐶𝐶

Fonte: Dornelles e Collischonn (2015)


Método SCS | exemplo
A partir de 𝐶𝐶𝐶𝐶, calcula-se o valor de 𝑆𝑆:

25400 25400
𝑆𝑆 = − 254 = − 254 ≅ 169,3 𝑚𝑚𝑚𝑚
𝐶𝐶𝐶𝐶 60

Considerando a hipótese 2, calcula-se 𝐼𝐼𝐼𝐼:

𝐼𝐼𝐼𝐼 = 0,2 � 𝑆𝑆 = 0,2 � 169,3 = 33,9 𝑚𝑚𝑚𝑚

Como 𝑃𝑃 > 𝐼𝐼𝐼𝐼 (70 > 33,9), prossegue-se para o cálculo da chuva
efetiva
Método SCS | exemplo
A chuva efetiva é dada por:

𝑃𝑃 − 0,2 � 𝑆𝑆 2 70 − 0,2 � 169,3 2


𝑄𝑄 = = ≅ 6,4 𝑚𝑚𝑚𝑚
𝑃𝑃 + 0,8 � 𝑆𝑆 70 + 0,8 � 169,3

Portanto, da chuva de 70 mm, aproximadamente 6,4 mm contribuem com


o escoamento superficial. O coeficiente de escoamento é:

6,4 (parece baixo, mas observe o


𝐶𝐶 = = 0,09 tipo de solo e cobertura vegetal)
70
Método SCS | chuvas complexas
Para chuvas complexas (com ou sem intensidade variável), é preciso
trabalhar com valores acumulados

Procedimento:
1) Calcular os totais acumulados da chuva, por intervalo de tempo
2) Calcular os valores acumulados do escoamento superficial
3) Comparar os valores com 𝐼𝐼𝐼𝐼 para contabilizá-los, ou não, como
chuva efetiva
4) Calcular os valores incrementais de escoamento superficial
Método SCS | exemplo
Exemplo: Qual é a chuva efetiva durante o evento fornecido em uma
bacia com solos com média capacidade de infiltração e cobertura de
pastagens?

Tempo (min) Precipitação (mm)


10 5
20 6
30 14
40 11

Fonte: Dornelles e Collischonn (2015)


Método SCS | exemplo
Solução:

A capacidade média de infiltração corresponde ao tipo de solo B. Como a


ocupação é pastagens, tem-se 𝐶𝐶𝐶𝐶 = 75. Portanto:

25400
𝑆𝑆 = − 254 = 84,7 𝑚𝑚𝑚𝑚
75

Assim, o valor de 𝐼𝐼𝐼𝐼 = 16,9 𝑚𝑚𝑚𝑚.


Método SCS | exemplo

Tempo Chuva (mm) Chuva Chuva efetiva Chuva efetiva


(min) acumulada (mm) acumulada (mm) incremental
(mm)
10 5 5
20 6 11
30 14 25
40 11 36
Método SCS | exemplo

Tempo Chuva (mm) Chuva Chuva efetiva Chuva efetiva


(min) acumulada (mm) acumulada (mm) incremental
(mm)
10 5 5 0
𝑃𝑃 < 𝐼𝐼𝐼𝐼
20 6 11 0
30 14 25 0,7
40 11 36 3,5
Para cada linha em que 𝑃𝑃 > 𝐼𝐼𝐼𝐼, a chuva efetiva é calculada usando:
𝑃𝑃 − 0,2 � 𝑆𝑆 2
𝑄𝑄 =
𝑃𝑃 + 0,8 � 𝑆𝑆
Método SCS | exemplo

Tempo Chuva (mm) Chuva Chuva efetiva Chuva efetiva


(min) acumulada (mm) acumulada (mm) incremental
(mm)
10 5 5 0 0
20 6 11 0 0
30 14 25 0,7 0,7
40 11 36 3,5 2,8

O escoamento máximo se dá entre 30 e 40 min. Não é o mesmo instante da máxima


intensidade da chuva!
Método SCS | bacias heterogêneas
Para bacias que possuem múltiplos tipos e ocupações do solo, o 𝐶𝐶𝐶𝐶 é
obtido por meio de uma média ponderada em função das áreas de cada
tipo e ocupação.

O restante do procedimento é o mesmo.


Curso de Engenharia Civil
TH024 – Hidrologia
Referência para imagens utilizadas:
Slide 1: https://bassenyourseatbelt.wordpress.com/category/hongdae/
Slides 7 e 8: Dornelles e Collischonn (2015)
Slides 10 e 11: Marquez, J. A. D. G., Caldeira, F. Controle do uso do solo através de sensoriamento remoto. Unicenp. 2003.
(slides sem referências possuem imagens autorais feitas pelos professores da disciplina)

Fonte do material teórico:


DORNELLES, F., COLLISCHONN, W. Hidrologia para Engenharia e Ciências Ambientais. Associação Brasileira de Recursos Hídricos - ABRH.
Porto Alegre. 2015.
PINTO, N. L. de S, HOLTZ, A. C. T., MARTINS, J. A., GOMIDE, F. L. S. Hidrologia Básica. São Paulo. Edgard Blücher, 1976.
Exercícios: Manual de Sobrevivência. Departamento de Hidráulica e Saneamento – UFPR.

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