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Capítulo
Hidrologia Estatística
A média
A vazão ou precipitação média é a média de toda a série de vazões ou precipitações
registradas, e é muito importante na avaliação da disponibilidade hídrica total de
uma bacia.
n
∑x i
x= i =1
A vazão média específica é a vazão média dividida pela área de drenagem da bacia.
As vazões médias mensais representam o valor médio da vazão para cada mês do
ano, e são importantes para analisar a sazonalidade de um rio. A Figura 7. 1
apresenta um gráfico das vazões médias mensais do rio Cuiabá na seção da cidade de
Cuiabá, com base nos dados de 1967 a 1999.
H I D R O L O G I A
Figura 7. 1: Vazões medias mensais do rio Cuiabá em Cuiabá (dados de 1967 a 1999).
Observa-se nesta figura que há uma sazonalidade marcada, com estiagem no inverno
e vazões altas no verão. As maiores vazões mensais médias ocorrem em Fevereiro e as
menores em Agosto, o que é conseqüência direta da sazonalidade das chuvas, que
ocorrem de forma concentrada no período de verão.
A mediana
A mediana é o valor que é superado em 50% dos pontos da amostra. A média e a
mediana podem ter valores relativamente próximos, porém não iguais.
n −1
Mediana = x p com p = + 1 se n for ímpar;
2
x p + x p +1
e Mediana = se n for par.
2
O desvio padrão
O desvio padrão é uma medida de dispersão dos valores de uma amostra em torno
da média. O desvio padrão é dado por:
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H I D R O L O G I A
∑ (x )
n
2
i −x
s= i =1
n −1
A curva de permanência
A elaboração da curva de permanência é uma das análises estatísticas mais simples e
mais importantes na hidrologia. A curva de permanência auxilia na análise dos dados
de vazão com relação a perguntas como as destacadas a seguir.
A curva de permanência expressa a relação entre a vazão e a freqüência com que esta
vazão é superada ou igualada. A curva de permanência pode ser elaborada a partir de
dados diários ou dados mensais de vazão.
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H I D R O L O G I A
Figura 7. 2: Hidrograma de vazões diárias do rio Taquari em Muçum (RS) e a curva de permanência correspondente.
Figura 7. 3: Curva de permanência do rio Taquari em Muçum com eixo das vazões logarítmico para dar destaque à faixa de vazões
mais baixas.
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H I D R O L O G I A
EXEMPLO
Figura 7. 4: Curva de permanência do rio Descoberto, em Santo Antônio do Descoberto (GO), para o exemplo 1.
Qmax = 0 ,2 ⋅ 7 = 1,4 m 3 ⋅ s −1
Como o empreendedor solicitou 2,5 m3.s-,1 não é possível atender sua solicitação.
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H I D R O L O G I A
O rio Cuiabá apresenta maior variabilidade das vazões, que se alternam rapidamente
entre situações de baixa e de alta vazão, enquanto o rio Taquari permanece mais
tempo com vazões próximas da média. Esta diferença ocorre basicamente porque a
geologia da bacia do rio Taquari favorece mais a infiltração da água no solo, e esta
água chega ao rio apenas após um longo período em que fica armazenada no
subsolo. A vazão do rio Taquari é naturalmente regularizada pelos aqüíferos
existentes na bacia, enquanto que na bacia do rio Cuiabá este efeito não é tão
importante.
Figura 7. 5: Comparação entre as curvas de permanência dos rios Taquari (MS) e Cuiabá (MT).
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H I D R O L O G I A
Figura 7. 6: Curvas de permanência de vazão afluente e efluente do reservatório de Três Marias, no rio São Francisco (MG).
Séries temporais
A vazão de um rio é uma variável que se modifica de forma contínua no tempo, e
pode ser representada em um hidrograma, que é o gráfico que relaciona os valores de
vazão com o tempo, como na figura 7.7.
As séries discretas que são obtidas a partir da observação de alguns anos de dados de
vazão são tratadas como amostras do comportamento de um rio ou de uma bacia. A
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H I D R O L O G I A
Figura 7. 7: As vazões variam continuamente no tempo (linha) mas a partir dos dados de vazão é possível gerar séries temporais
discretas, como as médias, máximas (triângulos) e mínimas (círculos) anuais (adaptado de Dingman, 2002).
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H I D R O L O G I A
Tabela 7. 2: Valores das séries temporais discretas de vazões médias, mínimas e máximas anuais relativos à figura anterior.
Ano Vazão média anual Vazão mínima anual Vazão máxima anual
1990 95 57 132
1991 93 69 126
1992 72 48 100
1993 86 60 113
1994 56 29 80
1995 73 53 88
1996 96 68 132
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Tabela 7.2: Tempo de retorno adotado para diferentes estruturas, de acordo com o
risco associado.
Estrutura TR (anos)
Bueiros de estradas pouco movimentadas 5 a 10
Bueiros de estradas muito movimentadas 50 a 100
Pontes 50 a 100
Diques de proteção de cidades 50 a 200
Drenagem pluvial 2 a 10
Grandes barragens (vertedor) 10.000
Pequenas barragens 100
O risco também pode estar relacionado a situações de vazões mínimas. Por exemplo,
considere uma cidade que utilize a água de um rio para abastecimento da população.
Dependendo do tamanho da população e das características do rio, existe um sério
risco de que, num ano qualquer, ocorram alguns dias em que a vazão do rio é
inferior à vazão necessária para abastecer a população.
1
TR = (7.1)
P
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Para contornar este problema é comum supor que os dados hidrológicos sejam
aleatórios e que sigam uma determinada distribuição de probabilidade analítica,
como a distribuição normal, por exemplo. Esta metodologia analítica permite
explorar melhor as amostras relativamente pequenas de dados hidrológicos, como se
descreve na seqüência deste capítulo.
⎡ 1 ⎛x−µ ⎞
2
⎤
f x (x ) =
1
⋅ exp ⎢− ⋅ ⎜⎜ x
⎟⎟ ⎥ (7.2)
2 ⋅π ⋅σ x ⎢⎣ 2 ⎝ σ x ⎠ ⎥⎦
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⎡ z2 ⎤
f z (z ) =
1
⋅ exp ⎢− ⎥ (7.3)
2 ⋅π ⎣ 2⎦
onde z é uma variável aleatória com média zero e desvio padrão igual a 1.
O gráfico desta última é apresentado na figura 7.9. A área total sob a curva é igual a
1. A área hachurada representa a probabilidade de ocorrência de um valor maior do
que z (figura de cima) ou menor do que z (figura de baixo).
A área sob a curva pode ser calculada por integração analítica, mas resulta numa série
infinita. Por este motivo, as aplicações práticas são mais comuns na forma de tabelas
que relacionam o valor de z com a probabilidade de ocorrer um valor maior do que
z ou menor do que z. Existem, também, tabelas que fornecem valores da área entre 0
e z, ou de –z a z.
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H I D R O L O G I A
Figura 7. 9: Gráfico da distribuição normal (na figura superior é indicada a área hachurada que representa a probabilidade de
ocorrer um valor maior do que z; e na figura inferior é indicada a área hachurada que representa a probabilidade de ocorrer um
valor menor do que z).
Uma variável aleatória x com média µx e desvio padrão σx pode ser transformada em
uma variável aleatória z, com média zero e desvio padrão igual a 1 pela
transformação abaixo:
x − µx
z= (7.4)
σx
Considere, por exemplo, a chuva anual em um determinado local. Anos com chuva
próxima da média são relativamente freqüentes, enquanto anos muito chuvosos ou
muito secos são menos freqüentes. Em muitos locais as chuvas anuais seguem,
aproximadamente uma distribuição normal, como mostra a figura 7.10.
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H I D R O L O G I A
EXEMPLOS
Considerando que a média e o desvio padrão da amostra disponível sejam boas aproximações
da média e do desvio padrão da população, pode se estimar o valor da variável reduzida z
para o valor de 2000 mm:
x − µx x − x 2000 − 1433
z= ≅ = = 1,896
σx s 299
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Isto significa que, em média, um ano a cada 35 apresenta chuva total superior a 2000 mm
neste local.
x − µx x − x 550 − 1433
z= ≅ = = −2,95
σx s 299
Vazões máximas
Selecionando apenas as vazões máximas de cada ano em um determinado local, é
obtida a série de vazões máximas deste local e é possível realizar análises estatísticas
relacionando vazão com probabilidade. As séries de vazões disponíveis na maior
parte dos locais (postos fluviométricos) são relativamente curtas, não superando
algumas dezenas de anos.
m
P= (7.5)
N +1
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H I D R O L O G I A
Figura 7. 11: Série de vazões do rio Cuiabá em Cuiabá, de 1984 ao final de 1991,
evidenciando a vazão máxima de cada ano.
Ano Q máx
1984 1796.8
1985 1492.0
1986 1565.0
1987 1812.0
1988 2218.0
1989 2190.0
1990 1445.0
1991 1747.0
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H I D R O L O G I A
Para superar este problema existem outras distribuições de probabilidade que são,
normalmente, utilizadas para a análise de vazões máximas. A mais simples destas
distribuições é a denominada log-normal. Nesta distribuição a suposição é que os
logaritmos das vazões seguem uma distribuição normal.
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H I D R O L O G I A
EXEMPLOS
Este exemplo apresenta uma situação muito comum na análise de dados hidrológicos: as falhas.
As falhas são períodos em que não houve observação. As falhas são desconsideradas na análise,
assim o tamanho da amostra é N=48. Utilizando logaritmos de base decimal, a média dos
logaritmos das vazoes máximas é 2,831 e o desvio padrão é 0,206. Para o tempo de retorno de
100 anos a probabilidade de excedência é igual a 0,01. Na tabela B, ao final do capítulo,
pode-se obter o valor de z correspondente (z=2,326). A vazão máxima de TR=100 anos é
obtida por:
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x−x
z≅
s
x − 2,831
2,326 ≅
0,206
Q = 10 3,31 = 2041
Este procedimento pode ser repetido para outros valores de TR, e o resultado pode ser
apresentado na forma de um gráfico, relacionando vazão com tempo de retorno, como na
figura 7.13. Nesta figura fica claro, também, que a suposição de uma distribuição log-normal é
muito mais adequada do que a suposição de uma distribuição normal.
Figura 7.13: Vazões máximas do rio Guaporé em Linha Colombo. Comparação entre o ajuste
e as probabilidades empíricas (pontos), supondo distribuição normal (linha pontilhada) e
distribuição log-normal (linha contínua).
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H I D R O L O G I A
Vazões mínimas
A análise de vazões mínimas é semelhante à análise de vazões máximas, exceto pelo
fato que no caso das vazões mínimas o interesse é pela probabilidade de ocorrência
de vazões iguais ou menores do que um determinado limite.
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H I D R O L O G I A
1997 198
1998 320.6
1999 101.2
2000 118.2
2001 213
TR Vazão
ano ordem probabilidade empírico mínima
1988 1 0.04 23.0 70
1985 2 0.09 11.5 77.5
1986 3 0.13 7.7 77.5
1999 4 0.17 5.8 101.2
1982 5 0.22 4.6 111.4
1991 6 0.26 3.8 111.4
2000 7 0.30 3.3 118.2
1996 8 0.35 2.9 121.6
1981 9 0.39 2.6 128.6
1995 10 0.43 2.3 130.4
1984 11 0.48 2.1 158.2
1987 12 0.52 1.9 166
1994 13 0.57 1.8 172
1993 14 0.61 1.6 196
1997 15 0.65 1.5 198
1980 16 0.70 1.4 202
1992 17 0.74 1.4 204.2
2001 18 0.78 1.3 213
1989 19 0.83 1.2 219.6
1990 20 0.87 1.2 221.8
1983 21 0.91 1.1 269
1998 22 0.96 1.0 320.6
Média = 163
Desvio padrão = 65.2
Q = Q − SQ ⋅ K
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H I D R O L O G I A
Tempo
de
retorno K Q
2 0 163.1
5 0.842 108.2
10 1.282 79.5
50 2.054 29.2
100 2.326 11.5
Na figura abaixo vê-se que o ajuste da distribuição normal não é muito bom para estes
dados. A vazão mínima com tempo de retorno de 5 anos é estimada em 108 m3/s.
350
300
.
250
Vazão mínima (m3/s)
200
150
100
50
0
1.0 10.0 100.0
Tempo de retorno (anos)
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C ⋅i ⋅ A
Q= (7.6)
3,6
Zonas C
Centro da cidade densamente construído 0,70 a 0,95
Partes adjacentes ao centro com menor densidade 0,60 a 0,70
Áreas residenciais com poucas superfícies livres 0,50 a 0,60
Áreas residenciais com muitas superfícies livres 0,25 a 0,50
Subúrbios com alguma edificação 0,10 a 0,25
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H I D R O L O G I A
O tempo de retorno pode ser obtido por tabelas, como a tabela 7.7, que relacionam o
tipo de estrutura com o TR normalmente adotado.
Estrutura TR (anos)
Pontes 50 a 100
Drenagem pluvial 2 a 10
A distribuição binomial
A distribuição de probabilidades binomial é adequada para avaliar o número (x) de
ocorrências de um dado evento em N tentativas.
As seguintes condições devem existir para que seja válida a distribuição binomial: 1)
são realizadas N tentativas; 2) em cada tentativa o evento pode ocorrer ou não, sendo
que a probabilidade de que o evento ocorra é dada por P enquanto a probabilidade
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⋅ P x ⋅ (1 − P )
N! N −x
Px ( X = x) = (7.7)
x!⋅( N − x )!
EXEMPLOS
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H I D R O L O G I A
Neste caso x =2 e N=2. A probabilidade de ocorrer a cheia num ano qualquer é de 10%, ou
1/10. A probabilidade de ocorrer exatamente 2 cheias em 2 anos pode ser calculada pela
equação 7.7.
2 2−2 2
2! ⎛1⎞ ⎛ 1⎞ ⎛1⎞
Px ( X = 2) = ⋅ ⎜ ⎟ ⋅ ⎜1 − ⎟ = ⎜ ⎟ = 0,01
2!⋅(2 − 2 )! ⎝ 10 ⎠ ⎝ 10 ⎠ ⎝ 10 ⎠
Este problema poderia ser resolvido somando a probabilidade de ocorrência de 1 única vazão
com estas características ao longo dos 5 anos com a probabilidade de ocorrência de 2 vazões, e
assim por diante para 3, 4 e 5 casos. Porém, neste caso, a melhor forma de resolver o problema
é pensar qual é a probabilidade de que não ocorra nenhuma vazão igual ou superior ao longo
dos 5 anos, que poderá ser chamada de P(x=0). A probabilidade de que ocorra pelo menos uma
cheia será dada por 1-P(x=0). Sendo assim, calculamos primeiramente a probabilidade com x
=0 e N=5.
0 5− 0
5! ⎛1⎞ ⎛ 1⎞
Px ( X = 0) = ⋅ ⎜ ⎟ ⋅ ⎜1 − ⎟
0!⋅(5 − 0 )! ⎝ 10 ⎠ ⎝ 10 ⎠
5
⎛9⎞
Px ( X = 0) = 1 ⋅ ⎜ ⎟ = 0,59
⎝ 10 ⎠
Portanto, a probabilidade de não ocorrer nenhuma vazão igual ou superior a vazão com
TR=10 anos ao longo de 5 anos é de 59%. Isto significa que a probabilidade de ocorrer pelo
menos uma vazão assim é de 41%.
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H I D R O L O G I A
Z Probabilidade
0.0 0.5000
0.1 0.4602
0.2 0.4207
0.3 0.3821
0.4 0.3446
0.5 0.3085
0.6 0.2743
0.7 0.2420
0.8 0.2119
0.9 0.1841
1.0 0.1587
1.1 0.1357
1.2 0.1151
1.3 0.0968
1.4 0.0808
1.5 0.0668
1.6 0.0548
1.7 0.0446
1.8 0.0359
1.9 0.0287
2.0 0.0228
2.1 0.0179
2.2 0.0139
2.3 0.0107
2.4 0.0082
2.5 0.0062
2.6 0.0047
2.7 0.0035
2.8 0.0026
2.9 0.0019
3.0 0.0013
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H I D R O L O G I A
Exercícios
1) Uma análise de 40 anos de dados revelou que a chuva média anual em um
local na bacia do rio Uruguai é de 1800 mm e o desvio padrão é de 350 mm.
Considerando que a chuva anual neste local tem uma distribuição normal,
qual é a chuva anual de um ano muito seco, com tempo de retorno de 10
anos?
5) É correto afirmar que a vazão Q90 é sempre inferior a Q95 em qualquer ponto
de qualquer rio? E o inverso?
6) É correto dizer que a vazão Q95 é igual à soma das vazões Q40 e Q55?
Explique.
8) Estime a vazão máxima de projeto para um galeria de drenagem sob uma rua
numa área comercial de Porto Alegre, densamente construída, cuja bacia tem
área de 35 hectares, comprimento de talvegue de 2 km e diferença de altitude
ao longo do talvegue de 17 m.
110
H I D R O L O G I A
111
8
Capítulo
H I D R O L O G I A
Regularização de vazão
112
Vertedores
Os vertedores são o principal tipo de estrutura de saída de água. Destinam-se a liberar
o excesso de água que não pode ser aproveitado para geração de energia elétrica,
abastecimento ou irrigação. Os vertedores são dimensionados para permitir a
passagem de uma cheia rara (alto tempo de retorno) com segurança.
Um vertedor pode ser livre ou controlado por comportas. O tipo mais comum de
vertedor apresenta um perfil de rampa, para que a água escoe em alta velocidade, e a
jusante do vertedor é construída uma estrutura de dissipação de energia, para evitar a
erosão excessiva.
Figura 8. 1: As barragens Norris (Clinch River, Tenessee, EUA) e Itaipu (Rio Paraná, Brasil-Paraguai).
Q = C ⋅L⋅h
3
2
113
onde Q é a vazão do vertedor (m3.s-1); L é o comprimento da soleira (m); h é a altura
da lâmina de água sobre a soleira (m); e C é um coeficiente com valores entre 1,4 e
1,8. É importante destacar que a vazão tem uma relação não linear com o nível da
água.
Figura 8. 3: Curva de vazão do vertedor da usina Corumbá III nas situações de comportas completamente ou parcialmente abertas.
114
H I D R O L O G I A
Descarregadores de fundo
Descarregadores de fundo podem ser utilizados como estruturas de saída de água de
reservatórios, especialmente para atender usos da água existentes a jusante. A equação
de vazão de um descarregador de fundo é semelhante à equação de vazão de um
orifício, apresentada abaixo:
Q = C ⋅ A⋅ 2 ⋅ g ⋅ h
115
H I D R O L O G I A
116
H I D R O L O G I A
Volume útil
A diferença entre o volume máximo de um reservatório e o volume morto é o
volume útil, ou seja, a parcela do volume que pode ser efetivamente utilizada para
regularização de vazão.
Nível meta
Na operação normal de um reservatório costumam ser utilizadas referências de nível
de água que devem ser seguidas para atingir certos objetivos de geração energia e de
segurança da barragem. O nível meta é tal que se o nível da água é superior ao nível
meta, deve ser aumentada o vertimento de vazão, para reduzir o nível da água no
reservatório, que deverá retornar ao nível meta.
Curva guia
A curva guia é semelhante ao nível meta, porém indica um nível da água no
reservatório variável ao longo do ano, que serve de base para a tomada de decisão na
operação. Uma curva guia pode indicar, por exemplo, o limite entre o uso normal da
água, quando o nível da água está acima do nível indicado pela curva guia, e o
racionamento, quando o nível da água está abaixo da curva guia.
Volume de espera
O volume de espera, ou volume para controle de cheias, corresponde à parcela do
volume útil destinada ao amortecimento das cheias. O volume de espera é variável ao
longo do ano e é definido pelo volume do reservatório entre o nível da água máximo
operacional e o nível meta.
117
H I D R O L O G I A
Uma usina reversível é utilizada para gerar energia durante o período em que ocorre
o pico da demanda no sistema elétrico, utilizando água previamente bombeada para
um reservatório temporário, aproveitando o excesso de oferta de energia nos períodos
que não coincidem com o pico de demanda.
118
H I D R O L O G I A
Quanto à altura de queda da água (H) as centrais hidrelétricas podem ser classificadas
em:
∂S
= I −Q
∂t
St +∆t − St
= I −Q
∆t
119
H I D R O L O G I A
Como tanto St+∆t e Qt+∆t são funções não lineares de ht+∆t , a equação de balanço pode
ser resolvida utilizando a técnica iterativa de Newton-Raphson, ou o método de
bissecção, a cada intervalo de tempo.
120
H I D R O L O G I A
2 ⋅ St +∆t 2 ⋅ St
+ Qt +∆t = I t + I t +∆t + − Qt
∆t ∆t
Uma tabela da relação entre Qt+∆t e 2.(St+∆t )/∆t pode ser gerada a partir da relação
cota – área – volume do reservatório e através da relação entre a cota e a vazão, por
exemplo para uma equação de vertedor.
EXEMPLO
115 1900
120 2000
121 2008
122 2038
123 2102
124 2208
125 2362
126 2569
127 2834
128 3163
129 3560
121
H I D R O L O G I A
130 4029
0 0
1 350
2 720
3 940
4 1090
5 1060
6 930
7 750
8 580
9 470
10 380
11 310
12 270
13 220
14 200
15 180
16 150
17 120
18 100
19 80
20 70
O primeiro passo da solução é criar uma tabela relacionando a vazão de saída com a cota.
Considerando um vertedor livre, com coeficiente C = 1,5 e soleira na cota 120 m, a relação é
dada pela tabela que segue:
Tabela A
H (m) Q (m3/s)
120 0.0
121 37.5
122 106.1
123 194.9
124 300.0
125 419.3
126 551.1
127 694.5
128 848.5
129 1012.5
130 1185.9
122
H I D R O L O G I A
Esta tabela pode ser combinada à tabela cota – volume, acrescentando uma coluna com o valor
do termo 2.(St+∆t )/∆t , considerando o intervalo de tempo igual a 1 hora:
Tabela B
a) calcular It + It+∆t
b) com o resultado do passo (a) e com base no valor de 2.(St)/∆t - Qt para o intervalo
anterior, calcular 2.(St+∆t)/∆t + Qt+∆t pela equação
2 ⋅ St +∆t 2 ⋅ St
+ Qt +∆t = I t + I t +∆t + − Qt
∆t ∆t
c) obter o valor de Qt+∆t pela tabela B, a partir da interpolação com o valor conhecido
de 2.(St+∆t)/∆t + Qt+∆t calculado no passo (b)
⎛ 2 ⋅ S t + ∆t ⎞ ⎛ 2 ⋅ S t + ∆t ⎞
⎜ − Qt + ∆t ⎟ = ⎜ + Qt + ∆t ⎟ − 2(Qt + ∆t )
⎝ ∆t ⎠ ⎝ ∆t ⎠
123
H I D R O L O G I A
124
H I D R O L O G I A
Dimensionamento de um reservatório
O dimensionamento de um reservatório pode ser realizado com base na equação:
sujeita às restrições 0 < St+∆t < Vmax; onde Vmax é o volume útil do reservatório.
Neste caso as entradas são as vazões afluentes estimadas para o local em que se deseja
construir o reservatório e as saídas são incluem a demanda de água e as perdas.
S t + ∆t = S t + I t − Dt − Et − Qt
c) Em um mês qualquer, se St+∆t for menor que zero, a demanda Dt deve ser
reduzida até que St+∆t seja igual a zero, e é computada uma falha de
antendimento.
125
H I D R O L O G I A
EXEMPLO
S t + ∆t = S t + I t − Dt − Et − Qt
com It dado pela tabela acima; Et igual a zero e Qt igual a zero, exceto quando é necessário
verter.
126
H I D R O L O G I A
A demanda de 55 m3.s-1 é igual a 143 hm3 por mês. No primeiro mês observa-se que sobra
água. No segundo mês a demanda é maior do que a vazão de entrada e o volume no
reservatório começa a diminuir. O volume no início do terceiro mês é dado por
S t + ∆t = 500 + 52 − 143 = 409 e assim por diante.
No início do mês de agosto o volume calculado é negativo, o que rompe a restrição, portanto o
reservatório não é capaz de regularizar a vazão de 55 m3.s-1.
Em uma planilha eletrônica ou uma calculadora científica é fácil repetir o cálculo até
que o volume atenda a vazão regularizada desejada.
Da mesma forma é fácil determinar em uma planilha eletrônica qual é a maior vazão
que pode ser regularizada com um dado volume de reservatório.
Teoricamente, a máxima vazão que pode ser regularizada é a vazão média do rio no
local em que está a barragem. Este valor máximo é impossível de ser atingido porque
a criação do reservatório aumenta a perda de água por evaporação.
127
H I D R O L O G I A
Figura 8. 4: Relação entre o volume do reservatório e a vazão regularizada em uma bacia cuja vazão média é 25,4 m3.s-1, sem
considerar a evaporação do reservatório.
Operação de reservatórios
Restrições de operação:
128
H I D R O L O G I A
Figura 8. 5: Reservatório R operando com restrição de vazão que pode ser liberada para jusante, para evitar a inundação na cidade
C.
Apesar destes impactos, a população muitas vezes vê com bons olhos a construção de
uma usina hidrelétrica na área de seu município. Isto ocorre porque existe uma
compensação financeira obrigatória, em que parte dos rendimentos auferidos na
geração de energia elétrica são pagos ao município, de acordo com o tamanho da
área inundada e com a potência da usina. Entre os impactos ambientais importantes
das usinas hidrelétricas encontram-se impactos sociais; impactos sobre a flora e a
fauna do local inundado; impactos sobre a fauna do rio a jusante; impactos sobre o
sistema de transportes; impactos sobre a geração de gases de efeito estufa.
Impactos sociais
Os impactos sociais mais evidentes da implantação de uma usina hidrelétrica
decorrem da remoção das pessoas que habitam a área inundada pelo reservatório. Os
impactos deste tipo iniciam mesmo antes da construção da obra em si, já que a
perspectiva da inundação futura reprime ou não incentiva o investimento no local.
Esta situação pode se estender por vários anos, em função de indefinições sobre a
construção ou não da obra. Durante este período as localidades sujeitas a inundação
experimentam um estado de estagnação.
129
H I D R O L O G I A
Finalmente, quando a obra inicia e a inundação da área habitada passa a ser certa,
surgem dúvidas e discussões sobre o valor da indenização. Embora o valor comercial
da terra possa ser estimado de forma razoável, o apego dos habitantes à terra também
é devido a um valor afetivo, por questões históricas, que é intangível, ou seja,
dificilmente quantificável. Nesta situação é comum o surgimento de especulações e
de confrontos de cunho político.
Entre os impactos sociais também podem ser incluídos impactos culturais, como a
perda, provavelmente para sempre, de sítios arqueológicos, ou eventualmente de
lugares sagrados para culturas indígenas.
A vegetação inundada não apenas é extinta, como também pode provocar sérios
problemas de qualidade de água no lago, durante a sua decomposição. Isto ocorre
porque o oxigênio dissolvido (OD) na água é consumido durante o processo de
decomposição, e a concentração de OD é reduzida para níveis inferiores ao limite
para a sobrevivência dos peixes. Assim, o processo de enchimento pode resultar
numa grande mortandade de peixes e outras espécies aquáticas ou que dependem dos
peixes para sobreviver, como as aves.
130
H I D R O L O G I A
Exercícios
1) Qual é a perda de energia na usina de Sobradinho devida à evaporação direta
do lago? Considere que a altura de queda H = 27,2 m; a eficiência e = 0,90; e
que uma evaporação de 10 mm por dia ocorre sobre a área da superfície do
lago, que corresponde a 4200 km2.
131
H I D R O L O G I A
Out 102
Nov 128
Dez 73
Mês jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Vazão 98 45 32 27 24 20 19 18 17 14 78 130
(m3/s)
Evaporação 100 110 120 130 140 135 130 120 110 105 100 100
tanque
classe A
(mm/mês)
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9
Capítulo
H I D R O L O G I A
Qualidade da água
QR ⋅ C R + Q A ⋅ C A
CF =
QR + Q A
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H I D R O L O G I A
EXEMPLO
1) Uma cidade coleta todo o esgoto cloacal, mas não tem estação de tratamento.
Assim, a vazão de esgoto de 0,5 m3.s-1 com uma concentração de 50 mg.l-1 de
Nitrogênio Total é lançada em um rio com uma vazão de 23 m3.s-1 e com
uma concentração de 1 mg.l-1 de Nitrogênio Total. Considerando mistura
completa qual é a concentração final no rio a jusante da entrada do esgoto.
QR ⋅ C R + Q A ⋅ C A 23 ⋅ 1 + 0,5 ⋅ 50
CF = ou seja C F = = 2,04
QR + Q A 23,5
m 3 ⋅ mg Kg
WF = QF ⋅ C F = 23,5 ⋅ 2,04 = 23,5 ⋅ 2,04 = 48Kg .s −1
s ⋅l s
Temperatura
A temperatura é uma das características mais importantes da água de um rio. A
temperatura exerce um efeito sobre as reações químicas e a atividade biológica na
água. A velocidade das reações químicas duplica para cada 10º. C de aumento de
temperatura da água. A temperatura também controla a concentração máxima de
oxigênio dissolvido na água (Benetti e Bidone, 1993).
Oxigênio Dissolvido
O Oxigênio Dissolvido (OD) é necessário para manter as condições de vida dos seres
que vivem na água, e, portanto, é um parâmetro importante na análise da poluição
134
H I D R O L O G I A
pH
O pH expressa o grau de acidez ou alcalinidade da água, em valores de 0 a 14, sendo
que valores inferiores a 7 indicam águas ácidas e valores superiores a 7 indicam águas
alcalinas (Benetti e Bidone, 1993).
DBO
A água dos rios e de esgotos cloacais e industriais contém matéria orgânica. Esta
matéria orgânica é decomposta por microorganismos que, em geral, consomem
oxigênio no processo de decomposição. A DBO, ou Demanda Bioquímica de
Oxigênio, representa o consumo potencial de oxigênio para decompor a matéria
orgânica existente na água.
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Fósforo Total
Ortofosfato
Carbono orgânico total
DBO
DQO
Dureza
Cor
Condutividade
Sólidos Suspensos Totais
Ferro
Alumínio
Níquel
Cobre
Cromo
Chumbo
Mercúrio
Exercícios
1) Uma usina termoelétrica será instalada às margens do rio Azul, em um local
em que a curva de permanência é apresentada na figura abaixo. A
temperatura da água do rio é de 17oC e uma vazão água utilizada para
resfriamento, de 1,3 m3.s-1 será lançada pela usina termelétrica, com
temperatura de 43 oC. Qual será a temperatura final do rio a jusante do
lançamento considerando mistura completa? Considere como referência a
Q95.
136
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137
10
Capítulo
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138
D E S I G N C U S T O M I Z A T I O N
Essa escassez tem acentuado os conflitos pelos diversos usos desse bem, tais como:
abastecimento da população, irrigação de lavouras, dessedentação de animais, pesca,
indústria, navegação, geração de energia, lazer, diluição de esgoto, preservação de
ecossistemas, entre outros.
Esses Sistemas são fruto da criação de modelos de gestão que abrigam entidades
gerenciais organizadas em torno da Bacia Hidrográfica como unidade ideal de
planejamento, gestão e intervenção. No âmbito da União foi aprovada a Lei
9.433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema
Nacional de Gestão de Recursos Hídricos e, mais recentemente, a Lei 9.984/00 criou
a Agência Nacional de Águas (ANA), que tem como atribuição implementar os
instrumentos da política nacional. No que diz respeito ao Rio Grande do Sul, a
Constituição Estadual de 1989 e a Lei 10.350/94 estabeleceram a gestão das águas sob
seu domínio.
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H I D R O L O G I A
Os demais órgãos estatais que integram o sistema são: Obras Públicas e Saneamento,
com a vice-presidência do CRH; Agricultura e Abastecimento; Coordenação e
Planejamento; Saúde; Energia, Minas e Comunicações; Ciência e Tecnologia;
Transportes; Casa Civil; e Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos
Internacionais.
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Fazem parte do CGBH pessoas que têm diferentes interesses com relação ao bem
água: os usuários (são as pessoas que têm interesse “utilitário-econômico-social”); a
população (tem interesses difusos, vinculados ao desenvolvimento sócio-econômico,
aspectos culturais ou políticos e proteção ambiental); o poder público (detentor do
domínio das águas).
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Instrumentos de Planejamento
Enquadramento
O enquadramento as águas brasileiras em classes de uso foi estabelecido pela
Resolução nº 020/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Assim,
para as águas doces foram definidas cinco classes: especial e de 1 a 4. Para as águas
salobras e salinas foram definidas duas classes: 5 e 6; e 7 e 8, respectivamente. Uma
vez que estabelece o nível de qualidade a ser alcançado e/ou mantido em um
determinado segmento de um corpo de água, ao longo do tempo, o enquadramento
é considerado um instrumento de planejamento do meio ambiente.
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Instrumentos de Gestão
A Outorga de Uso
A outorga consiste no “consentimento, concessão, aprovação” do direito de uso da
água. Ela representa um instrumento, através do qual o Poder Público autoriza,
concede ou ainda permite ao usuário fazer o uso deste bem público. É através deste
que o Estado exerce, efetivamente, o domínio das águas preconizado pela
Constituição Federal. É através da outorga que é regulando o compartilhamento
entre os diversos usuários, visto que o principal objetivo da outorga é assegurar o
controle qualitativo e quantitativo dos usos da água.
A Lei 10.350, de 30 de dezembro de 1994, em seu artigo 29, explica que qualquer
empreendimento ou atividade que alterar as condições quantitativas e/ou qualitativas
das águas, superficiais ou subterrâneas, tendo como base o Plano Estadual de
Recursos Hídricos e os Planos de Bacia Hidrográfica, dependerá de outorga. Caberá
ao Departamento de Recursos Hídricos a emissão de outorga para os usos que
alterem as condições quantitativas das águas.
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De forma geral, estão sujeitos à outorga os seguintes usos dos recursos hídricos:
A cobrança pelo uso da água fica sujeita à outorga, pois não pode haver cobrança de
atividades e obras clandestinas ou cujos usos não tenham sido outorgados. A
utilização a cobrança é uma forma de aplicação do princípio usuário-poluidor-
pagador, uma vez que o poluidor, deve assumir os custos de poluição.
146
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147
Bibliografia
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