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7

Capítulo

Hidrologia Estatística

A s variáveis hidrológicas como chuva e vazão têm como característica básica


uma grande variabilidade no tempo. Para analisar a vazão de um rio ou a
precipitação em um local ou região, incluindo a sua variabilidade temporal,
é necessário utilizar alguns valores estatísticos que resumem, em grande
parte, o comportamento hidrológico do rio ou da bacia. Entre as estatísticas mais
importantes estão a média, a média mensal, a variância, os mínimos e máximos.

A média
A vazão ou precipitação média é a média de toda a série de vazões ou precipitações
registradas, e é muito importante na avaliação da disponibilidade hídrica total de
uma bacia.
n

∑x i
x= i =1

A vazão média específica é a vazão média dividida pela área de drenagem da bacia.

As vazões médias mensais representam o valor médio da vazão para cada mês do
ano, e são importantes para analisar a sazonalidade de um rio. A Figura 7. 1
apresenta um gráfico das vazões médias mensais do rio Cuiabá na seção da cidade de
Cuiabá, com base nos dados de 1967 a 1999.
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Figura 7. 1: Vazões medias mensais do rio Cuiabá em Cuiabá (dados de 1967 a 1999).

Observa-se nesta figura que há uma sazonalidade marcada, com estiagem no inverno
e vazões altas no verão. As maiores vazões mensais médias ocorrem em Fevereiro e as
menores em Agosto, o que é conseqüência direta da sazonalidade das chuvas, que
ocorrem de forma concentrada no período de verão.

A mediana
A mediana é o valor que é superado em 50% dos pontos da amostra. A média e a
mediana podem ter valores relativamente próximos, porém não iguais.

A mediana pode ser obtida organizando os n valores xi da amostra em ordem


crescente.

Sendo x k com k = 1 a n, os valores de x organizados em ordem decrescente, a


mediana é obtida por:

n −1
Mediana = x p com p = + 1 se n for ímpar;
2

x p + x p +1
e Mediana = se n for par.
2

O desvio padrão
O desvio padrão é uma medida de dispersão dos valores de uma amostra em torno
da média. O desvio padrão é dado por:

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∑ (x )
n
2
i −x
s= i =1

n −1

o quadrado do desvio padrão s2 é chamada variância da amostra.

A curva de permanência
A elaboração da curva de permanência é uma das análises estatísticas mais simples e
mais importantes na hidrologia. A curva de permanência auxilia na análise dos dados
de vazão com relação a perguntas como as destacadas a seguir.

• O rio tem uma vazão aproximadamente constante ou extremamente variável


entre os extremos máximo e mínimo?

• Qual é a porcentagem do tempo em que o rio apresenta vazões em


determinada faixa?

• Qual é a porcentagem do tempo em que um rio tem vazão suficiente para


atender determinada demanda?

A curva de permanência expressa a relação entre a vazão e a freqüência com que esta
vazão é superada ou igualada. A curva de permanência pode ser elaborada a partir de
dados diários ou dados mensais de vazão.

A Figura 7. 2 apresenta o hidrograma de vazões diárias do rio Taquari, em Muçum


(RS), e a curva de permanência que corresponde aos mesmos dados apresentados no
hidrograma. Observa-se que a vazão de 1000 m3.s-1 é igualada ou superada em menos
de 10% do tempo. Apesar de apresentar picos de cheias com 7000 m3.s-1 ou mais, na
maior parte do tempo as vazões do rio Taquari neste local são bastante inferiores a
500 m3.s-1.

Para destacar mais a faixa de vazões mais baixas a curva de permanência é


apresentada com eixo vertical logarítmico, como mostra a Figura 7. 3.

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Figura 7. 2: Hidrograma de vazões diárias do rio Taquari em Muçum (RS) e a curva de permanência correspondente.

Figura 7. 3: Curva de permanência do rio Taquari em Muçum com eixo das vazões logarítmico para dar destaque à faixa de vazões
mais baixas.

Alguns pontos da curva de permanência recebem atenção especial:

• A vazão que é superada em 50% do tempo (mediana das vazões) é a chamada


Q50.

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• A vazão que é superada em 90% do tempo é chamada de Q90 e é utilizada


como referência para legislação na área de Meio Ambiente e de Recursos
Hídricos em muitos Estados do Brasil.

• A vazão que é superada em 95% do tempo é chamada de Q95 e é utilizada


para definir a Energia Assegurada de uma usina hidrelétrica.

EXEMPLO

1) Os dados de vazão do rio Descoberto em Santo Antônio do Descoberto


(GO) foram organizados na forma de uma curva de permanência, como
mostra a Figura 7. 4. Um empreendedor solicita outorga de 2,5 m3.s-1 num
ponto próximo no mesmo rio. Considerando que a legislação permite
outorgar apenas 20% da Q90 a cada solicitante, responda: é possível atender a
solicitação?

Figura 7. 4: Curva de permanência do rio Descoberto, em Santo Antônio do Descoberto (GO), para o exemplo 1.

Observa-se na curva de permanência que a vazão Q90 é de 7 m3.s-,1 aproximadamente.


Portanto a máxima vazão que pode ser outorgada para um usuário individual neste ponto
corresponde a:

Qmax = 0 ,2 ⋅ 7 = 1,4 m 3 ⋅ s −1

Como o empreendedor solicitou 2,5 m3.s-,1 não é possível atender sua solicitação.

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A curva de permanência também é útil para diferenciar o comportamento de rios e


para avaliar o efeito de modificações como desmatamento, reflorestamento,
construção de reservatórios e extração de água para uso consuntivo.

A Figura 7. 5 apresenta as curvas de permanência dos rios Cuiabá, em Cuiabá (MT),


e Taquari, em Coxim (MS), baseadas nos dados de vazão diária de 1980 a 1984. As
duas bacias tem áreas de drenagem de tamanho semelhante. A bacia do rio Cuiabá
tem, aproximadamente, 22.000 km2, e a do rio Taquari cerca de 27.000 km2. O relevo
e a precipitação média anual são semelhantes. A vazão média do rio Cuiabá é de 438
m3.s-1 neste período, enquanto a vazão média do rio Taquari é de 436 m3.s-1, ou seja,
são praticamente idênticas. Entretanto, observa-se que as vazões mínimas são mais
altas no rio Taquari do que no rio Cuiabá e as vazões máximas são maiores no rio
Cuiabá.

O rio Cuiabá apresenta maior variabilidade das vazões, que se alternam rapidamente
entre situações de baixa e de alta vazão, enquanto o rio Taquari permanece mais
tempo com vazões próximas da média. Esta diferença ocorre basicamente porque a
geologia da bacia do rio Taquari favorece mais a infiltração da água no solo, e esta
água chega ao rio apenas após um longo período em que fica armazenada no
subsolo. A vazão do rio Taquari é naturalmente regularizada pelos aqüíferos
existentes na bacia, enquanto que na bacia do rio Cuiabá este efeito não é tão
importante.

Figura 7. 5: Comparação entre as curvas de permanência dos rios Taquari (MS) e Cuiabá (MT).

A Figura 7. 6 apresenta as curvas de permanência de vazão afluente (entrada) e


efluente (saída) do reservatório de Três Marias, no rio São Francisco (MG). Este

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reservatório tem um grande volume e uma grande capacidade de regularização,


permitindo reter grande parte das vazões altas que ocorrem durante o período do
verão, aumentando a disponibilidade de água no período de estiagem. Como
resultado observa-se que a vazão Q90 é alterada de 148 m3.s-1 para 379 m3.s-1 pelo efeito
de regularização do reservatório, enquanto a vazão Q95 é alterada de 120 m3.s-1 para
335 m3.s-1.

Figura 7. 6: Curvas de permanência de vazão afluente e efluente do reservatório de Três Marias, no rio São Francisco (MG).

Portanto o efeito da regularização da vazão sobre a curva de permanência é torná-la


mais horizontal, com valores mais próximos da mediana durante a maior parte do
tempo.

Séries temporais
A vazão de um rio é uma variável que se modifica de forma contínua no tempo, e
pode ser representada em um hidrograma, que é o gráfico que relaciona os valores de
vazão com o tempo, como na figura 7.7.

Diversas análises estatísticas de dados hidrológicos são realizadas de forma mais


conveniente sobre valores discretos no tempo, ao contrário das seqüências contínuas.
A partir de uma seqüência contínua de vazões é possível identificar séries temporais
de valores discretos, como, por exemplo, as vazões médias anuais, as vazões máximas
anuais e as vazões mínimas anuais, conforme representado na figura 7.8 e na tabela
7.1.

As séries discretas que são obtidas a partir da observação de alguns anos de dados de
vazão são tratadas como amostras do comportamento de um rio ou de uma bacia. A

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população, neste caso, seriam todos os anos de existência de um rio. A vazão é


considerada uma variável aleatória porque depende de fenômenos climáticos
complexos e de difícil previsibilidade a partir de um certo horizonte.

Figura 7. 7: As vazões variam continuamente no tempo (linha) mas a partir dos dados de vazão é possível gerar séries temporais
discretas, como as médias, máximas (triângulos) e mínimas (círculos) anuais (adaptado de Dingman, 2002).

Figura 7. 8: Gráfico das séries discretas de médias, mínimas e máximas anuais.

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Tabela 7. 2: Valores das séries temporais discretas de vazões médias, mínimas e máximas anuais relativos à figura anterior.

Ano Vazão média anual Vazão mínima anual Vazão máxima anual
1990 95 57 132
1991 93 69 126
1992 72 48 100
1993 86 60 113
1994 56 29 80
1995 73 53 88
1996 96 68 132

Risco, probabilidade e tempo de retorno


Séries temporais discretas são convenientes para avaliar riscos em hidrologia. Risco é
muitas vezes entendido como um sinônimo de probabilidade, mas em hidrologia é
mais adequado considerar o risco como a probabilidade de ocorrência de um evento
multiplicada pelos prejuízos que se espera da ocorrência deste evento.

Projetos de estruturas hidráulicas sempre são elaborados admitindo probabilidades de


falha. Por exemplo, as pontes de uma estrada são projetadas com uma altura tal que a
probabilidade de ocorrência de uma cheia que atinja a ponte seja de apenas 1% num
ano qualquer. Isto ocorre porque é muito caro dimensionar as pontes para a maior
vazão possível, por isso admite-se uma probabilidade, ou risco, de que a estrutura
falhe. Isto significa que podem ocorrer vazões maiores do que a vazão adotada no
dimensionamento.

A probabilidade admitida pode ser maior ou menor, dependendo do tipo de


estrutura. A probabilidade admitida para a falha de uma estrutura hidráulica é menor
se a falha desta estrutura provocar grandes prejuízos econômicos ou mortes de
pessoas. Assim, a probabilidade de falha admitida para um dique de proteção de uma
cidade é a probabilidade de que ocorra uma cheia em que o nível da água supere o
nível de proteção do dique. Diques que protegem grandes cidades deveriam ser
construídos admitindo uma probabilidade menor de falha do que diques de proteção
de pequenas áreas agrícolas. A tabela 7.2 apresenta o tempo de retorno em anos
adotado, normalmente, para diferentes tipos de estrutura.

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Tabela 7.2: Tempo de retorno adotado para diferentes estruturas, de acordo com o
risco associado.

Estrutura TR (anos)
Bueiros de estradas pouco movimentadas 5 a 10
Bueiros de estradas muito movimentadas 50 a 100
Pontes 50 a 100
Diques de proteção de cidades 50 a 200
Drenagem pluvial 2 a 10
Grandes barragens (vertedor) 10.000
Pequenas barragens 100

O risco também pode estar relacionado a situações de vazões mínimas. Por exemplo,
considere uma cidade que utilize a água de um rio para abastecimento da população.
Dependendo do tamanho da população e das características do rio, existe um sério
risco de que, num ano qualquer, ocorram alguns dias em que a vazão do rio é
inferior à vazão necessária para abastecer a população.

No caso da análise de vazões máximas, são úteis os conceitos de probabilidade de


excedência e de tempo de retorno de uma dada vazão. A probabilidade anual de
excedência de uma determinada vazão é a probabilidade que esta vazão venha a ser
igualada ou superada num ano qualquer. O tempo de retorno desta vazão é o
intervalo médio de tempo, em anos, que decorre entre duas ocorrências subseqüentes
de uma vazão maior ou igual. O tempo de retorno é o inverso da probabilidade de
excedência como expresso na seguinte equação:

1
TR = (7.1)
P

onde TR é o tempo de retorno em anos e P é a probabilidade de ocorrer um evento


igual ou superior em um ano qualquer. No caso de vazões mínimas, P refere-se à
probabilidade de ocorrer um evento com vazão igual ou inferior.

A equação acima indica que a probabilidade de ocorrência de uma cheia de 10 anos


de tempo de retorno, ou mais, num ano qualquer é de 0,1 (ou 10%).

A vazão máxima de 10 anos de tempo de retorno (TR = 10 anos) é excedida em


média 1 vez a cada dez anos. Isto não significa que 2 cheias de TR = 10 anos não
possam ocorrem em 2 anos seguidos. Também não significa que não possam ocorrer
20 anos seguidos sem vazões iguais ou maiores do que a cheia de TR=10 anos.

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Existem duas formas de atribuir probabilidades e tempos de retorno às vazões


máximas e mínimas: métodos empíricos e métodos analíticos.

Probabilidades empíricas podem ser estimadas a partir da observação das variáveis


aleatórias. Por exemplo, a probabilidade de que uma moeda caia com a face “cara”
virada para cima é de 50%. Esta probabilidade pode ser estimada empiricamente
lançando a moeda 100 vezes e contando quantas vezes cada uma das faces fica
voltada para cima.

O problema das probabilidades empíricas é que quando o tamanho da amostra é


pequeno, a estimativa tende a ser muito incerta. Suponha, por exemplo, que apenas 6
lançamentos sejam feitos para estimar a probabilidade de que uma moeda caia com a
face “cara” voltada para cima. É possível que seja estimada uma probabilidade muito
diferente de 50%.

Para contornar este problema é comum supor que os dados hidrológicos sejam
aleatórios e que sigam uma determinada distribuição de probabilidade analítica,
como a distribuição normal, por exemplo. Esta metodologia analítica permite
explorar melhor as amostras relativamente pequenas de dados hidrológicos, como se
descreve na seqüência deste capítulo.

Chuvas anuais e a distribuição normal


O total de chuva que cai ao longo de um ano pode ser considerado uma variável
aleatória com distribuição aproximadamente normal. Esta suposição permite
explorar melhor amostras relativamente pequenas, com apenas 20 anos, por exemplo.

A distribuição normal é descrita em qualquer livro introdutório de estatística e se


aplica a muitos tipos de informações da natureza. Um gráfico da função densidade
de probabilidade da distribuição normal tem uma forma de sino e é simétrica com
relação à média, que é o valor central. A forma em sino indica que existe uma
probabilidade maior de ocorrerem valores próximos à média do que nos extremos
mínimo e máximo.

A função densidade de probabilidade (PDF) da distribuição normal é uma expressão


que depende de dois parâmetros: a média e o desvio padrão da população, conforme
a equação seguinte:

⎡ 1 ⎛x−µ ⎞
2

f x (x ) =
1
⋅ exp ⎢− ⋅ ⎜⎜ x
⎟⎟ ⎥ (7.2)
2 ⋅π ⋅σ x ⎢⎣ 2 ⎝ σ x ⎠ ⎥⎦

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onde µx é a média da população e σx é o desvio padrão da população. Para o caso


mais simples, em que a média da população é zero e o desvio padrão igual a 1, a
expressão acima fica simplifcada:

⎡ z2 ⎤
f z (z ) =
1
⋅ exp ⎢− ⎥ (7.3)
2 ⋅π ⎣ 2⎦

onde z é uma variável aleatória com média zero e desvio padrão igual a 1.

O gráfico desta última é apresentado na figura 7.9. A área total sob a curva é igual a
1. A área hachurada representa a probabilidade de ocorrência de um valor maior do
que z (figura de cima) ou menor do que z (figura de baixo).

A área sob a curva pode ser calculada por integração analítica, mas resulta numa série
infinita. Por este motivo, as aplicações práticas são mais comuns na forma de tabelas
que relacionam o valor de z com a probabilidade de ocorrer um valor maior do que
z ou menor do que z. Existem, também, tabelas que fornecem valores da área entre 0
e z, ou de –z a z.

No final do capítulo é apresentada uma tabela de probabilidades da distribuição


normal. No programa Excel é possível obter os valores das probabilidades utilizando
a função DIST.NORMP(z), que dá a probabilidade de ocorrer um valor inferior a z.

Lembrando a relação entre probabilidades e tempos de retorno, é interessante saber


os valores de z que correspondem a alguns valores específicos de probabilidade, como
0,1 0,01 e 0,001. Estes valores correspondem aos tempos de retorno de 10, 100 e 1000
anos. No final do capítulo é apresentada uma tabela de probabilidades da
distribuição normal, indicando os valores de z correspondentes aos tempos de
retorno de 2 a 10000 anos.

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Figura 7. 9: Gráfico da distribuição normal (na figura superior é indicada a área hachurada que representa a probabilidade de
ocorrer um valor maior do que z; e na figura inferior é indicada a área hachurada que representa a probabilidade de ocorrer um
valor menor do que z).

Uma variável aleatória x com média µx e desvio padrão σx pode ser transformada em
uma variável aleatória z, com média zero e desvio padrão igual a 1 pela
transformação abaixo:

x − µx
z= (7.4)
σx

Esta transformação pode ser utilizada para estimar a probabilidade associada a um


determinado evento hidrológico em que a variável segue uma distribuição normal.

Considere, por exemplo, a chuva anual em um determinado local. Anos com chuva
próxima da média são relativamente freqüentes, enquanto anos muito chuvosos ou
muito secos são menos freqüentes. Em muitos locais as chuvas anuais seguem,
aproximadamente uma distribuição normal, como mostra a figura 7.10.

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Figura 7. 10: Histograma de freqüências de chuvas anuais no posto pluviométrico


localizado em Lamounier, MG (código 02045005 - ver capítulo 3).

A probabilidade de ocorrência de chuvas anuais superiores a 2000 mm, por exemplo,


pode ser estimada a partir da análise dos dados de n anos, e da suposição de que os
dados seguem uma distribuição normal.

EXEMPLOS

2) As chuvas anuais no posto pluviométrico localizado em Lamounier, em


Minas Gerais (Código 02045005) seguem, aproximadamente, uma
distribuição normal, com média igual a 1433 mm e desvio padrão igual a
299 mm. Qual é a probabilidade de ocorrer um ano com chuva total
superior a 2000 mm?

Considerando que a média e o desvio padrão da amostra disponível sejam boas aproximações
da média e do desvio padrão da população, pode se estimar o valor da variável reduzida z
para o valor de 2000 mm:

x − µx x − x 2000 − 1433
z= ≅ = = 1,896
σx s 299

de acordo com a Tabela A, no final do capítulo, a probabilidade de ocorrência de um valor


maior do que z=1,896 é de aproximadamente 0,0287 (valor correspondente a z=1,9).
Portanto, a probabilidade de ocorrer um ano com chuva total superior a 2000 mm é de,
aproximadamente, 2,87%. O tempo de retorno correspondente é de pouco menos de 35 anos.

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Isto significa que, em média, um ano a cada 35 apresenta chuva total superior a 2000 mm
neste local.

3) As chuvas anuais no posto pluviométrico localizado em Lamounier, em


Minas Gerais (Código 02045005) seguem, aproximadamente, uma
distribuição normal, com média igual a 1433 mm e desvio padrão igual a
299 mm. Qual é a probabilidade de ocorrer um ano com chuva total inferior
a 550 mm?

A distribuição normal é simétrica. A probabilidade de ocorrer um valor superior a z é igual à


probabilidade de ocorrer um valor inferior a –z. Assim,

x − µx x − x 550 − 1433
z= ≅ = = −2,95
σx s 299

de acordo com a Tabela A, no final do capítulo, a probabilidade de ocorrência de um valor


maior do que z=2,95está entre 0,0012 e 0,0019. Portanto, a probabilidade de ocorrer um ano
com chuva total superior a 2000 mm é de, aproximadamente, 0,15%. O tempo de retorno
correspondente é de pouco menos de 666 anos. Isto significa que, em média, um ano a cada 666
apresenta chuva total inferior a 550 mm neste local.

Vazões máximas
Selecionando apenas as vazões máximas de cada ano em um determinado local, é
obtida a série de vazões máximas deste local e é possível realizar análises estatísticas
relacionando vazão com probabilidade. As séries de vazões disponíveis na maior
parte dos locais (postos fluviométricos) são relativamente curtas, não superando
algumas dezenas de anos.

Analisando as vazões do rio Cuiabá no período de 1984 a 1992, por exemplo,


podemos selecionar de cada ano apenas o valor da maior vazão, e analisar apenas as
vazões máximas (tabela 7.3). Reorganizando as vazões máximas para uma ordem
decrescente, podemos atribuir uma probabilidade de excedência empírica a cada uma
das vazões máximas da série, utilizando a fórmula de Weibull:

m
P= (7.5)
N +1

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onde N é o tamanho da amostra (número de anos); e m é a ordem da vazão (para a


maior vazão m=1 e para a menor vazão m=N). O resultado é apresentado na tabela
7.4.

Figura 7. 11: Série de vazões do rio Cuiabá em Cuiabá, de 1984 ao final de 1991,
evidenciando a vazão máxima de cada ano.

Tabela 7.3: Vazões máximas anuais entre 1984 e 1991.

Ano Q máx
1984 1796.8
1985 1492.0
1986 1565.0
1987 1812.0
1988 2218.0
1989 2190.0
1990 1445.0
1991 1747.0

Tabela 7.4: Vazões máximas reorganizadas em ordem decrescente, com ordem e


probabilidade empírica associada.

Ano Vazão (m3/s) Ordem Probabilidade TR (anos)


1988 2218.0 1 0.11 9.0
1989 2190.0 2 0.22 4.5
1987 1812.0 3 0.33 3.0

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1984 1796.8 4 0.44 2.3


1991 1747.0 5 0.56 1.8
1986 1565.0 6 0.67 1.5
1985 1492.0 7 0.78 1.3
1990 1445.0 8 0.89 1.1

O problema da estimativa empírica de probabilidades é que não é possível extrapolar


a estimativa para tempos de retorno maiores. Por exemplo, se é necessário estimar a
vazão máxima de 100 anos de tempo de retorno, mas existem apenas 18 anos de
dados observados, as probabilidades empíricas permitem estimar vazões máximas de
TR próximo de 18 anos.

Para extrapolar as estimativas de vazão máxima é necessário supor que as vazões


máximas anuais seguem uma distribuição de probabilidades conhecida, como no
caso das chuvas anuais. Infelizmente, porém, as vazões máximas não seguem a
distribuição normal. Histogramas de vazões máximas anuais tendem a apresentar
uma forte assimetria positiva (longa cauda na direção dos maiores valores), o que
invalida o uso da distribuição normal (figura 7.12).

Figura 7.12: Comparação entre um histograma de vazões máximas observadas do rio


Cuiabá em Cuiabá entre 1967 e 1999 e a distribuição normal.

Para superar este problema existem outras distribuições de probabilidade que são,
normalmente, utilizadas para a análise de vazões máximas. A mais simples destas
distribuições é a denominada log-normal. Nesta distribuição a suposição é que os
logaritmos das vazões seguem uma distribuição normal.

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Se o objetivo da análise é determinar a vazão de 100 anos de tempo de retorno em


um determinado local, por exemplo, a seqüência de etapas para a estimativa supondo
que os dados correspondem a uma distribuição log-normal é a seguinte:

• Obter vazões máximas de N anos

• Calcular os logaritmos das vazões máximas

• Calcular a média e o desvio padrão dos logaritmos das vazões máximas

• Obter o valor de z para a probabilidade correspondente ao tempo de retorno


de 100 anos

• Obter o valor do logaritmo da vazão de tempo de retorno de 100 anos a


partir da equação 7.4

• Obter o valor da vazão através da função inversa do logaritmo.

Esta seqüência de etapas fica mais clara na aplicação em um exemplo.

EXEMPLOS

4) As vazões máximas anuais do rio Guaporé no posto fluviométrico Linha


Colombo são apresentadas na tabela abaixo. Utilize a distribuição log-normal
para estimar a vazão máxima com 100 anos de tempo de retorno.
ANO MAXIMA ANO MAXIMA ANO MAXIMA ANO MAXIMA ANO MAXIMA ANO MAXIMA
1940 953 1950 1192 1960 falha 1970 365 1980 653 1990 falha
1941 1171 1951 356 1961 718 1971 671 1981 537 1991 falha
1942 723 1952 246 1962 503 1972 1785 1982 945 1992 falha
1943 267 1953 1093 1963 falha 1973 726 1983 1650 1993 1115
1944 646 1954 840 1964 457 1974 397 1984 1165 1995 639
1945 365 1955 622 1965 915 1975 480 1985 888
1946 1359 1956 falha 1966 742 1976 falha 1986 728
1947 411 1957 598 1967 840 1977 673 1987 809
1948 480 1958 646 1968 331 1978 760 1988 945
1949 365 1959 953 1969 320 1979 780 1989 1380

Este exemplo apresenta uma situação muito comum na análise de dados hidrológicos: as falhas.
As falhas são períodos em que não houve observação. As falhas são desconsideradas na análise,
assim o tamanho da amostra é N=48. Utilizando logaritmos de base decimal, a média dos
logaritmos das vazoes máximas é 2,831 e o desvio padrão é 0,206. Para o tempo de retorno de
100 anos a probabilidade de excedência é igual a 0,01. Na tabela B, ao final do capítulo,
pode-se obter o valor de z correspondente (z=2,326). A vazão máxima de TR=100 anos é
obtida por:

100
H I D R O L O G I A

x−x
z≅
s

x − 2,831
2,326 ≅
0,206

x = 2,326 ⋅ 0,206 + 2,831 = 3,31

Q = 10 3,31 = 2041

Portanto, a vazão máxima de 100 anos de tempo de retorno é 2041 m3/s.

Este procedimento pode ser repetido para outros valores de TR, e o resultado pode ser
apresentado na forma de um gráfico, relacionando vazão com tempo de retorno, como na
figura 7.13. Nesta figura fica claro, também, que a suposição de uma distribuição log-normal é
muito mais adequada do que a suposição de uma distribuição normal.

Figura 7.13: Vazões máximas do rio Guaporé em Linha Colombo. Comparação entre o ajuste
e as probabilidades empíricas (pontos), supondo distribuição normal (linha pontilhada) e
distribuição log-normal (linha contínua).

101
H I D R O L O G I A

Os métodos de estimativa de vazões máximas apresentados neste texto são


relativamente simples e a forma de apresentação é resumida. Para realizar análises de
vazões máximas mais rigorosas normalmente é necessário testar três ou mais
distribuições de probabilidade teóricas, e avaliar qual é a distribuição que melhor se
adequa aos dados. Metodologias mais aprofundadas podem ser encontradas em
Tucci (1993), Maidment (1993) e Wurbs e James (2001).

Vazões mínimas
A análise de vazões mínimas é semelhante à análise de vazões máximas, exceto pelo
fato que no caso das vazões mínimas o interesse é pela probabilidade de ocorrência
de vazões iguais ou menores do que um determinado limite.

No caso da análise utilizando probabilidades empíricas, esta diferença implica em


que os valores de vazão devem ser organizados em ordem crescente, ao contrário da
ordem decrescente utilizada no caso das vazões máximas.

A aplicação da análise estatística para vazões mínimas é analisada através de um


exemplo.
EXEMPLOS

5) A tabela abaixo apresenta as vazões mínimas anuais observadas no rio


Piquiri, no município de Iporã (PR). Considerando que os dados seguem
uma distribuição normal, determine a vazão mínima de 5 anos de tempo de
retorno. A distribuição normal se ajusta bem aos dados observados?
Vazão
ano mínima
1980 202
1981 128.6
1982 111.4
1983 269
1984 158.2
1985 77.5
1986 77.5
1987 166
1988 70
1989 219.6
1990 221.8
1991 111.4
1992 204.2
1993 196
1994 172
1995 130.4
1996 121.6

102
H I D R O L O G I A

1997 198
1998 320.6
1999 101.2
2000 118.2
2001 213

Os valores de vazão mínima são reorganizados em ordem crescente e a probabilidade


empírica para cada valor é calculada. A seguir é calculada a média e o desvio padrão do
conjunto de dados.

TR Vazão
ano ordem probabilidade empírico mínima
1988 1 0.04 23.0 70
1985 2 0.09 11.5 77.5
1986 3 0.13 7.7 77.5
1999 4 0.17 5.8 101.2
1982 5 0.22 4.6 111.4
1991 6 0.26 3.8 111.4
2000 7 0.30 3.3 118.2
1996 8 0.35 2.9 121.6
1981 9 0.39 2.6 128.6
1995 10 0.43 2.3 130.4
1984 11 0.48 2.1 158.2
1987 12 0.52 1.9 166
1994 13 0.57 1.8 172
1993 14 0.61 1.6 196
1997 15 0.65 1.5 198
1980 16 0.70 1.4 202
1992 17 0.74 1.4 204.2
2001 18 0.78 1.3 213
1989 19 0.83 1.2 219.6
1990 20 0.87 1.2 221.8
1983 21 0.91 1.1 269
1998 22 0.96 1.0 320.6

Média = 163
Desvio padrão = 65.2

Os valores da vazão para diferentes tempos de retorno são calculados por:

Q = Q − SQ ⋅ K

Onde K é o valor da tabela da distribuição normal para as probabilidades (veja tabela B


ao final do capítulo).

103
H I D R O L O G I A

Tempo
de
retorno K Q
2 0 163.1
5 0.842 108.2
10 1.282 79.5
50 2.054 29.2
100 2.326 11.5

Na figura abaixo vê-se que o ajuste da distribuição normal não é muito bom para estes
dados. A vazão mínima com tempo de retorno de 5 anos é estimada em 108 m3/s.

350

300
.

250
Vazão mínima (m3/s)

200

150

100

50

0
1.0 10.0 100.0
Tempo de retorno (anos)

Normalmente, as análises estatísticas de vazões mínimas são realizadas sobre as


vazões mínimas de 7 dias, 15 dias ou 30 dias de duração. Neste caso, para cada ano
do registro histórico encontra-se a vazão mínima média de 7 dias (médias móveis de
7 dias). O restante do procedimento de análise é semelhante ao apresentado aqui.

Vazões máximas em pequenas bacias


Em pequenas bacias, onde normalmente não existem dados de vazão medidos, as
vazões máximas são necessárias para dimensionar estruturas de drenagem, como
bueiros, bocas de lobo e calhas. Nestas situações é mais comum a utilização de um
método de estimativa baseado em dados de chuva, que são transformados em vazão.
O método mais simples é conhecido como método racional, e é aplicável para bacias
de até, aproximadamente, 2 km2.

104
H I D R O L O G I A

O método racional se baseia na seguinte expressão:

C ⋅i ⋅ A
Q= (7.6)
3,6

onde Q é a vazão de cheia (m3.s-1); C é um coeficiente de escoamento superficial; i é a


intensidade da chuva (mm.hora-1); e A é área da bacia hidrográfica (km2).

A área de drenagem pode ser obtida a partir de mapas e de levantamentos


topográficos. O coeficiente de escoamento pode ser avaliado a partir de condições do
solo, vegetação e ocupação da bacia (tabelas 7.5 e 7.6).

Tabela 7.5: Valores de C (coeficiente de escoamento do método racional) para


diferentes superfícies.

Superfície intervalo valor esperado


Asfalto 0,70 a 0,95 0,83
Concreto 0,80 a 0,95 0,88
Calçadas 0,75 a 0,85 0,80
Telhado 0,75 a 0,95 0,85
grama solo arenoso plano 0,05 a 0,10 0,08
grama solo arenoso inclinado 0,15 a 0,20 0,18
grama solo argiloso plano 0,13 a 0,17 0,15
grama solo argiloso inclinado 0,25 a 0,35 0,30
áreas rurais 0,0 a 0,30

Tabela 7.6: Valores de C (coeficiente de escoamento do método racional) de acordo


com a ocupação da bacia.

Zonas C
Centro da cidade densamente construído 0,70 a 0,95
Partes adjacentes ao centro com menor densidade 0,60 a 0,70
Áreas residenciais com poucas superfícies livres 0,50 a 0,60
Áreas residenciais com muitas superfícies livres 0,25 a 0,50
Subúrbios com alguma edificação 0,10 a 0,25

105
H I D R O L O G I A

Matas parques e campos de esportes 0,05 a 0,20

A intensidade da chuva é obtida a partir da curva IDF (veja capítulo 3) mais


adequada ao local da bacia. Para obter a intensidade i é preciso definir a duração da
chuva e o tempo de retorno.

O tempo de retorno pode ser obtido por tabelas, como a tabela 7.7, que relacionam o
tipo de estrutura com o TR normalmente adotado.

Tabela 7.7: Tempos de retorno adotados para projeto de estruturas.

Estrutura TR (anos)

Bueiros de estradas pouco movimentadas 5 a 10

Bueiros de estradas muito movimentadas 50 a 100

Pontes 50 a 100

Diques de proteção de cidades 50 a 200

Drenagem pluvial 2 a 10

Grandes barragens (vertedor) 10000

Pequenas barragens 100

Micro-drenagem de área residencial 2

Micro-drenagem de área comercial 5

A duração da chuva é considerada igual ao tempo de concentração (veja capítulo 2).


Esta hipótese é adotada para que o cálculo represente uma situação em que a vazão
máxima ocorre quando toda a bacia está contribuindo para o exutório.

A distribuição binomial
A distribuição de probabilidades binomial é adequada para avaliar o número (x) de
ocorrências de um dado evento em N tentativas.

As seguintes condições devem existir para que seja válida a distribuição binomial: 1)
são realizadas N tentativas; 2) em cada tentativa o evento pode ocorrer ou não, sendo
que a probabilidade de que o evento ocorra é dada por P enquanto a probabilidade

106
H I D R O L O G I A

de que o evento não ocorra é dada por 1-P ; 3) a probabilidade de ocorrência do


evento numa tentativa qualquer é constante e as tentativas são independentes, isto é, a
ocorrência ou não do evento na tentativa anterior não altera a probabilidade de
ocorrência atual.

Estas propriedades ficam mais claras considerando o exemplo de um dado de seis


faces. A probabilidade de obter um “seis” num lançamento qualquer é de 1/6. A
probabilidade de não obter um “seis” num lançamento qualquer é de 5/6. Se um
dado é lançado uma vez, resultando em um “seis”, isto não altera a probabilidade de
obter um “seis” no lançamento seguinte.

De acordo com a probabilidade binomial, a probabilidade de que um evento ocorra


x vezes em N tentativas, é dada pela equação 7.7.

⋅ P x ⋅ (1 − P )
N! N −x
Px ( X = x) = (7.7)
x!⋅( N − x )!

Nesta equação Px(X=x) é a probabilidade de que o evento ocorra x vezes em N


tentativas. P é a probabilidade que o evento ocorra numa tentativa qualquer e (1-P) é
a probabilidade que o evento não ocorra numa tentativa qualquer.

EXEMPLOS

6) Calcule a probabilidade de obter exatamente 5 “coroas” em 10 lançamentos


de uma moeda.

Neste caso x =5 e N=10. A probabilidade de obter “coroa” num lançamento qualquer é de


50%, ou 1/2. A probabilidade de obter exatamente 5 “coroas” pode ser calculada pela equação
7.7.
5 10 −5
10! ⎛1⎞ ⎛ 1⎞
Px ( X = 5) = ⋅ ⎜ ⎟ ⋅ ⎜1 − ⎟ = 0,246
5!⋅(10 − 5)! ⎝ 2 ⎠ ⎝ 2 ⎠

Portanto, a probabilidade de obter exatamente 5 “coroas” em 10 lançamentos é de 24,6%.

7) A probabilidade da vazão de 10 anos de tempo de retorno seja igualada ou


excedida num ano qualquer é de 10%. Qual é a probabilidade que ocorram
duas cheias iguais ou superiores à cheia de TR = 10 anos em dois anos
seguidos?

107
H I D R O L O G I A

Neste caso x =2 e N=2. A probabilidade de ocorrer a cheia num ano qualquer é de 10%, ou
1/10. A probabilidade de ocorrer exatamente 2 cheias em 2 anos pode ser calculada pela
equação 7.7.
2 2−2 2
2! ⎛1⎞ ⎛ 1⎞ ⎛1⎞
Px ( X = 2) = ⋅ ⎜ ⎟ ⋅ ⎜1 − ⎟ = ⎜ ⎟ = 0,01
2!⋅(2 − 2 )! ⎝ 10 ⎠ ⎝ 10 ⎠ ⎝ 10 ⎠

Portanto, a probabilidade de ocorrerem exatamente 2 cheias em 2 anos é 1%.

8) A probabilidade da vazão de 10 anos de tempo de retorno seja igualada ou


excedida num ano qualquer é de 10%. Qual é a probabilidade que ocorra
pelo menos uma cheia desta magnitude (ou superior) ao longo de um
período de 5 anos?

Este problema poderia ser resolvido somando a probabilidade de ocorrência de 1 única vazão
com estas características ao longo dos 5 anos com a probabilidade de ocorrência de 2 vazões, e
assim por diante para 3, 4 e 5 casos. Porém, neste caso, a melhor forma de resolver o problema
é pensar qual é a probabilidade de que não ocorra nenhuma vazão igual ou superior ao longo
dos 5 anos, que poderá ser chamada de P(x=0). A probabilidade de que ocorra pelo menos uma
cheia será dada por 1-P(x=0). Sendo assim, calculamos primeiramente a probabilidade com x
=0 e N=5.
0 5− 0
5! ⎛1⎞ ⎛ 1⎞
Px ( X = 0) = ⋅ ⎜ ⎟ ⋅ ⎜1 − ⎟
0!⋅(5 − 0 )! ⎝ 10 ⎠ ⎝ 10 ⎠

5
⎛9⎞
Px ( X = 0) = 1 ⋅ ⎜ ⎟ = 0,59
⎝ 10 ⎠

Portanto, a probabilidade de não ocorrer nenhuma vazão igual ou superior a vazão com
TR=10 anos ao longo de 5 anos é de 59%. Isto significa que a probabilidade de ocorrer pelo
menos uma vazão assim é de 41%.

108
H I D R O L O G I A

Tabelas da distribuição normal


Tabela A: Probabilidade de ocorrer um valor maior do que Z, considerando uma distribuição
normal com média zero e desvio padrão igual a 1.

Z Probabilidade
0.0 0.5000
0.1 0.4602
0.2 0.4207
0.3 0.3821
0.4 0.3446
0.5 0.3085
0.6 0.2743
0.7 0.2420
0.8 0.2119
0.9 0.1841
1.0 0.1587
1.1 0.1357
1.2 0.1151
1.3 0.0968
1.4 0.0808
1.5 0.0668
1.6 0.0548
1.7 0.0446
1.8 0.0359
1.9 0.0287
2.0 0.0228
2.1 0.0179
2.2 0.0139
2.3 0.0107
2.4 0.0082
2.5 0.0062
2.6 0.0047
2.7 0.0035
2.8 0.0026
2.9 0.0019
3.0 0.0013

109
H I D R O L O G I A

Tabela B: Probabilidade de ocorrer um valor maior do que Z, considerando uma distribuição


normal com média zero e desvio padrão igual a 1.
z Probabilidade TR
0.000 0.5 2
0.842 0.2 5
1.282 0.1 10
1.751 0.04 25
2.054 0.02 50
2.326 0.01 100
2.878 0.002 500
3.090 0.001 1000
3.719 0.0001 10000

Exercícios
1) Uma análise de 40 anos de dados revelou que a chuva média anual em um
local na bacia do rio Uruguai é de 1800 mm e o desvio padrão é de 350 mm.
Considerando que a chuva anual neste local tem uma distribuição normal,
qual é a chuva anual de um ano muito seco, com tempo de retorno de 10
anos?

2) O que é a curva de permanência?

3) Qual é a porcentagem do tempo em que é superada ou igualada a vazão Q90?

4) Se um rio intermitente passa mais da metade do tempo completamente seco,


qual é a sua Q80?

5) É correto afirmar que a vazão Q90 é sempre inferior a Q95 em qualquer ponto
de qualquer rio? E o inverso?

6) É correto dizer que a vazão Q95 é igual à soma das vazões Q40 e Q55?
Explique.

7) Qual é o efeito de um reservatório sobre a curva de permanência de vazões


de um rio?

8) Estime a vazão máxima de projeto para um galeria de drenagem sob uma rua
numa área comercial de Porto Alegre, densamente construída, cuja bacia tem
área de 35 hectares, comprimento de talvegue de 2 km e diferença de altitude
ao longo do talvegue de 17 m.

9) Na cidade de Porto Amnésia um apresentador de televisão defende a


remoção do dique que protege a cidade das cheias do rio Goiaba. Ele
argumenta afirmando que o dique foi dimensionado para a cheia de 50 anos,

110
H I D R O L O G I A

e que há 65 anos não ocorre na cidade nenhuma cheia que justificaria a


construção de qualquer dique. Analise as idéias do apresentador. Calcule qual
é a probabilidade de que não ocorra nenhuma cheia de tempo de retorno
igual ou superior a 50 anos ao longo de um período de 65 anos.

10) Na mesma cidade um arquiteto propõe a substituição de 2000 metros do


dique por uma estrutura composta por peças móveis removíveis de 10 m de
comprimento. Quando estas peças são expostas à pressão da água equivalente
a que ocorreria durante uma cheia, a probabilidade de falha (para cada uma)
é de 0,01 %. Qual é a probabilidade de que, durante uma cheia, pelo menos
uma das peças venha a falhar?

11) Considerando a idéia de risco como a probabilidade de ocorrência de um


evento associada aos prejuízos potenciais decorrentes deste evento, avalie qual
é a pior situação:

a. Uma cidade protegida por um dique dimensionado para a cheia de


100 anos de tempo retorno. Caso a cheia supere o dique, serão
inundados 2 bairros, com prejuízo total estimado em 800 milhões de
reais.

b. Uma ponte dimensionada para a cheia de 25 anos de tempo de


retorno. Caso a cheia atinja a ponte esta será destruída. A construção
de uma nova ponte e a interrupção temporária do tráfego totalizam
um prejuízo de 75 milhões de reais.

111
8
Capítulo
H I D R O L O G I A

Regularização de vazão

A variabilidade temporal da precipitação e, conseqüentemente, da vazão dos


rios freqüentemente origina situações de déficit hídrico, quando a vazão dos
rios é inferior à necessária para atender determinado uso. Em outras
situações ocorre o contrário, ou seja, há excesso de vazão. A solução
encontrada para reduzir a variabilidade temporal da vazão é a regularização através
da utilização de um ou mais reservatórios. Os reservatórios têm por objetivo
acumular parte das águas disponíveis nos períodos chuvosos para compensar as
deficiências nos períodos de estiagem, exercendo um efeito regularizador das vazões
naturais.

Em geral os reservatórios são formados por meio de barragens implantadas nos


cursos d‘água. Suas características físicas, especialmente a capacidade de
armazenamento, dependem das características topográficas do vale em que estão
inseridos, bem como da altura da barragem.

Características dos reservatórios


Um reservatório pode ser descrito por seus níveis e volumes característicos: o volume
morto; o volume máximo; o volume útil; o nível mínimo operacional; o nível
máximo operacional; o nível máximo maximorum. Outras características
importantes são as estruturas de saída de água, eclusas para navegação, escadas de
peixes, tomadas de água para irrigação ou para abastecimento, e eventuais estruturas
de aproveitamento para lazer e recreação.

112
Vertedores
Os vertedores são o principal tipo de estrutura de saída de água. Destinam-se a liberar
o excesso de água que não pode ser aproveitado para geração de energia elétrica,
abastecimento ou irrigação. Os vertedores são dimensionados para permitir a
passagem de uma cheia rara (alto tempo de retorno) com segurança.

Um vertedor pode ser livre ou controlado por comportas. O tipo mais comum de
vertedor apresenta um perfil de rampa, para que a água escoe em alta velocidade, e a
jusante do vertedor é construída uma estrutura de dissipação de energia, para evitar a
erosão excessiva.

Nas fotografias da figura abaixo é possível ver o vertedor da barragem de Itaipu em


operação. Na outra fotografia o vertedor da barragem Norris, nos EUA, não está
operando, o que significa que toda a vazão está passando através das turbinas.

Figura 8. 1: As barragens Norris (Clinch River, Tenessee, EUA) e Itaipu (Rio Paraná, Brasil-Paraguai).

A vazão de um vertedor livre (não controlado por comportas) é dependente da altura


da água sobre a soleira, conforme a Figura 8. 2 e a equação abaixo:

Q = C ⋅L⋅h
3
2

113
onde Q é a vazão do vertedor (m3.s-1); L é o comprimento da soleira (m); h é a altura
da lâmina de água sobre a soleira (m); e C é um coeficiente com valores entre 1,4 e
1,8. É importante destacar que a vazão tem uma relação não linear com o nível da
água.

Figura 8. 2: Vertedor de soleira livre.

Figura 8. 3: Curva de vazão do vertedor da usina Corumbá III nas situações de comportas completamente ou parcialmente abertas.

114
H I D R O L O G I A

Descarregadores de fundo
Descarregadores de fundo podem ser utilizados como estruturas de saída de água de
reservatórios, especialmente para atender usos da água existentes a jusante. A equação
de vazão de um descarregador de fundo é semelhante à equação de vazão de um
orifício, apresentada abaixo:

Q = C ⋅ A⋅ 2 ⋅ g ⋅ h

onde A é a área da seção transversal do orifício (m2); g é a aceleração da gravidade


(m.s-2); h é a altura da água desde a superfície até o centro do orifício (m) e C é um
coeficiente empírico com valor próximo a 0,6.

Semelhante à equação do vertedor, destaca-se que a vazão de um orifício tem uma


relação não linear com o nível da água.

Curva cota – área - volume


A relação entre nível da água, área da superfície inundada e volume armazenado de
um reservatório é importante para o seu dimensionamento e para a sua operação. O
volume armazenado em diferentes níveis define a capacidade de regularização do
reservatório, enquanto a área da superfície está relacionada diretamente à perda de
água por evaporação. A Tabela 8. 1 apresenta a relação cota – área – volume do
reservatório da usina Corumbá III, construída recentemente no rio Corumbá, no
Estado de Goiás.

Devido às características topográficas da área inundada, a relação entre cota e área


não é, em geral, linear. Da mesma forma, a relação entre cota e volume também não
é linear.

115
H I D R O L O G I A

Tabela 8. 1: Relação cota – área – volume do reservatório Corumbá III, em Goiás.

Cota (m) Área (km2) Volume (hm³)


772,00 0,00 0,00
775,00 0,94 0,94
780,00 2,39 8,97
785,00 4,71 26,40
790,00 8,15 58,16
795,00 12,84 110,19
800,00 19,88 191,30
805,00 29,70 314,39
810,00 43,58 496,50
815,00 58,01 749,62
820,00 74,23 1.079,39
825,00 92,29 1.494,88
830,00 113,89 2.009,38
835,00 139,59 2.642,00
840,00 164,59 3.401,09
845,00 191,44 4.289,81

Volume morto e nível mínimo operacional


O Volume Morto é a parcela de volume do reservatório que não está disponível para
uso. Corresponde ao volume de água no reservatório quando o nível é igual ao
mínimo operacional. Abaixo deste nível as tomadas de água para as turbinas de uma
usina hidrelétrica não funcionam, seja porque começam a engolir ar além de água, o
que provoca cavitação nas turbinas (diminuindo sua vida útil), ou porque o controle
de vazão e pressão sobre a turbina começa a ficar muito instável.

O tamanho do volume morto é definido no projeto da barragem e do reservatório,


mas pode ser alterado com o tempo em função do assoreamento.

Em reservatórios de abastecimento de água o volume morto é o que se encontra


abaixo da tomada de água de bombeamento.

Volume máximo e nível máximo operacional


O nível máximo operacional corresponde à cota máxima permitida para operações
normais no reservatório. Níveis superiores ao nível máximo operacional podem
ocorrer em situações extraordinárias, mas comprometem a segurança da barragem.

Geralmente o nível máximo operacional concide com o nível da crista do vertedor


ou com o limite superior de capacidade das comportas do vertedor.

O nível máximo operacional define o volume máximo do reservatório.

116
H I D R O L O G I A

Volume útil
A diferença entre o volume máximo de um reservatório e o volume morto é o
volume útil, ou seja, a parcela do volume que pode ser efetivamente utilizada para
regularização de vazão.

Nível máximo maximorum


Durante eventos de cheia excepcionais admite-se que o nível da água no reservatório
supere o nível máximo operacional por um curto período de tempo. A barragem e
suas estruturas de saída (vertedor) são dimensionados para uma cheia com tempo de
retorno alto, normalmente 10 mil anos no caso de barragens médias e grandes, e na
hipótese de ocorrer uma cheia igual à utilizada no dimensionamento das estruturas
de saída o nível máximo atingido é o nível máximo maximorum.

Nível meta
Na operação normal de um reservatório costumam ser utilizadas referências de nível
de água que devem ser seguidas para atingir certos objetivos de geração energia e de
segurança da barragem. O nível meta é tal que se o nível da água é superior ao nível
meta, deve ser aumentada o vertimento de vazão, para reduzir o nível da água no
reservatório, que deverá retornar ao nível meta.

Curva guia
A curva guia é semelhante ao nível meta, porém indica um nível da água no
reservatório variável ao longo do ano, que serve de base para a tomada de decisão na
operação. Uma curva guia pode indicar, por exemplo, o limite entre o uso normal da
água, quando o nível da água está acima do nível indicado pela curva guia, e o
racionamento, quando o nível da água está abaixo da curva guia.

Volume de espera
O volume de espera, ou volume para controle de cheias, corresponde à parcela do
volume útil destinada ao amortecimento das cheias. O volume de espera é variável ao
longo do ano e é definido pelo volume do reservatório entre o nível da água máximo
operacional e o nível meta.

Se um reservatório tem o uso exclusivo para controle de cheias, então o volume de


espera é maximizado, podendo ser igual ao volume total, ou igual ao volume útil. Se
um reservatório tem múltiplos usos, há um conflito entre a utilização para controle
de cheias e os outros usos.

117
H I D R O L O G I A

A geração de energia elétrica é particularmente conflitante com o controle de cheias


porque a criação do volume de espera reduz o volume disponível para regularizar a
vazão, o que reduz a vazão que pode ser regularizada, afetando a potência, ou energia
firme. Além disso, a operação com um volume de espera, e com nível meta inferior
ao nível máximo operacional, reduz a diferença de altura (queda), que está
diretamente relacionada à potência da usina.

Cota da crista do barramento


A cota da crista do barramento é definida a partir do nível da água máximo
maximorum somado a uma sobrelevação denominada borda livre (free board) cujo
objetivo é impedir que ondas formadas pelo vento ultrapassem a crista da barragem.

A figura a seguir apresenta um esquema com os diferentes níveis e volumes que


caracterizam um reservatório.

Tipos de centrais hidrelétricas


Quanto ao uso das vazões naturais, as usinas hidrelétricas podem ser: centrais a fio
d’água; centrais com reservatório de acumulação ou centrais reversíveis.

Usinas hidrelétricas com reservatórios cujo volume é pequeno em relação à vazão


afluente, são denominadas usinas a fio d’água, porque a energia que podem gerar
depende diretamente da vazão do rio. A regularização de vazão proporcionada por
reservatórios de usinas a fio d’água é desprezível. Nestes casos a barragem é
construída para aumentar a diferença de nível da água (queda) entre a tomada de
água e a turbina. Esta situação é típica das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs).

Uma usina com reservatório de acumulação dispõe de um reservatório de tamanho


suficiente para acumular água na época das cheias para uso na época de estiagem e,
portanto, pode dispor de uma vazão substancialmente maior do que a vazão mínima
natural.

Uma usina reversível é utilizada para gerar energia durante o período em que ocorre
o pico da demanda no sistema elétrico, utilizando água previamente bombeada para
um reservatório temporário, aproveitando o excesso de oferta de energia nos períodos
que não coincidem com o pico de demanda.

Quanto à potência as centrais hidrelétricas podem ser classificadas em:

• Micro – Potência inferior a 100 kW

118
H I D R O L O G I A

• Mini – Potência entre 100 e 1000 kW

• Pequenas - Potência entre 1000 e 10000 ou 20000 kW

• Médias – Potência entre 10 e 100 MW

• Grandes – Potência maior do que 100 MW

Quanto à altura de queda da água (H) as centrais hidrelétricas podem ser classificadas
em:

• Baixíssima queda – H < 10 m

• Baixa queda – 10 < H < 50 m

• Média queda – 50 < H < 250 m

• Alta queda – H > 250 m

Balanço hídrico de reservatórios


A equação de continuidade aplicada a um reservatório é dada por:

∂S
= I −Q
∂t

onde S é o volume (m3); t é o tempo (s); I é a vazão afluente (m3.s-1) e Q é a vazão de


saída do reservatório (m3.s-1), incluindo perdas por evaporação, retiradas para
abastecimento, vazão turbinada e vertida.

Esta equação pode ser reescrita em intervalos discretos como:

St +∆t − St
= I −Q
∆t

onde I e Q representam valores médios da vazão afluente e defluente do


reservatório ao longo do intervalo de tempo ∆t.

Considerando uma variação linear de I e Q ao longo de ∆t, a equação pode ser


reescrita como:

119
H I D R O L O G I A

St +∆t − St I t + I t +∆t Qt + Qt +∆t


= −
∆t 2 2

onde It ; It+∆t ; Qt ; Qt+∆t são os valores no início e no final do intervalo de tempo.


Esta equação é utilizada quando o intervalo de tempo é relativamente pequeno (1 dia
ou menos), especialmente no caso de análise de propagação de cheias em
reservatórios.

Quando o intervalo de tempo é longo (um mês, por exemplo) a equação é


simplificada para:

St +∆t = St + entradas − saídas

onde as saídas representam todo o volume retirado do reservatório ao longo do


intervalo de tempo.

Esta equação pode ser utilizada para dimensionamento e análise de operação de um


reservatório.

Propagação de cheias em reservatórios


Considerando um reservatório com vertedor livre, em que a vazão de saída é uma
função do nível da água no reservatório, a equação abaixo pode ser aplicada
recursivamente.

St +∆t − St I t + I t +∆t Qt + Qt +∆t


= −
∆t 2 2

Nesta equação, em cada intervalo de tempo são conhecidas a vazão de entrada no


tempo t e em t+∆t; a vazão de saída no intervalo de tempo t; e o volume armazenado
no intervalo t. Não são conhecidos os termos St+∆t e Qt+∆t , e ambos dependem do
nível da água.

Como tanto St+∆t e Qt+∆t são funções não lineares de ht+∆t , a equação de balanço pode
ser resolvida utilizando a técnica iterativa de Newton-Raphson, ou o método de
bissecção, a cada intervalo de tempo.

Uma forma mais simples de calcular a propagação de vazão num reservatório é o


método conhecido como Puls modificado. Neste método a equação acima é reescrita
como:

120
H I D R O L O G I A

2 ⋅ St +∆t 2 ⋅ St
+ Qt +∆t = I t + I t +∆t + − Qt
∆t ∆t

onde os termos desconhecidos aparecem no lado esquerdo e os termos conhecidos


aparecem no lado direito.

Uma tabela da relação entre Qt+∆t e 2.(St+∆t )/∆t pode ser gerada a partir da relação
cota – área – volume do reservatório e através da relação entre a cota e a vazão, por
exemplo para uma equação de vertedor.

EXEMPLO

1) Calcule o hidrograma de saída de um reservatório com um vertedor de 25 m


de comprimento de soleira, com a soleira na cota 120 m, considerando a
seguinte tabela cota –volume para o reservatório e o hidrograma de entrada
apresentado na tabela abaixo, e considerando que nível da água no
reservatório está inicialmente na cota 120 m.

Tabela 8. 2: Relação cota volume do reservatório do exemplo.

Cota (m) Volume (104 m3)

115 1900
120 2000
121 2008
122 2038
123 2102
124 2208
125 2362
126 2569
127 2834
128 3163
129 3560

121
H I D R O L O G I A

130 4029

Tabela 8. 3: Hidrograma de entrada no reservatório.

Tempo (h) Vazão (m3.s-1)

0 0
1 350
2 720
3 940
4 1090
5 1060
6 930
7 750
8 580
9 470
10 380
11 310
12 270
13 220
14 200
15 180
16 150
17 120
18 100
19 80
20 70

O primeiro passo da solução é criar uma tabela relacionando a vazão de saída com a cota.
Considerando um vertedor livre, com coeficiente C = 1,5 e soleira na cota 120 m, a relação é
dada pela tabela que segue:

Tabela A

H (m) Q (m3/s)
120 0.0
121 37.5
122 106.1
123 194.9
124 300.0
125 419.3
126 551.1
127 694.5
128 848.5
129 1012.5
130 1185.9

122
H I D R O L O G I A

Esta tabela pode ser combinada à tabela cota – volume, acrescentando uma coluna com o valor
do termo 2.(St+∆t )/∆t , considerando o intervalo de tempo igual a 1 hora:

Tabela B

Volume (S) Q 2.S/∆t+Q


H (m) (104 m3) (m3/s) (m3/s)
120 2000 0.0 11111
121 2008 37.5 11193
122 2038 106.1 11428
123 2102 194.9 11873
124 2208 300.0 12567
125 2362 419.3 13542
126 2569 551.1 14823
127 2834 694.5 16439
128 3163 848.5 18421
129 3560 1012.5 20790
130 4029 1185.9 23569

No primeiro intervalo de tempo o nível da água no reservatório é de 120 m, e a vazão de


saída é zero. O volume acumulado (S) no reservatório é 2000.104 m3. O valor de 2.S-Q para o
primeiro intervalo de tempo é 11111 m3.s-1. Para cada intervalo de tempo seguinte a vazão
de saída pode ser calculada pelos seguintes passos:

a) calcular It + It+∆t

b) com o resultado do passo (a) e com base no valor de 2.(St)/∆t - Qt para o intervalo
anterior, calcular 2.(St+∆t)/∆t + Qt+∆t pela equação

2 ⋅ St +∆t 2 ⋅ St
+ Qt +∆t = I t + I t +∆t + − Qt
∆t ∆t

c) obter o valor de Qt+∆t pela tabela B, a partir da interpolação com o valor conhecido
de 2.(St+∆t)/∆t + Qt+∆t calculado no passo (b)

d) calcular o valor de 2.(St+∆t)/∆t - Qt+∆t a partir da equação abaixo e seguir para o


próximo passo de tempo, repetindo os passos de (a) até (d)

⎛ 2 ⋅ S t + ∆t ⎞ ⎛ 2 ⋅ S t + ∆t ⎞
⎜ − Qt + ∆t ⎟ = ⎜ + Qt + ∆t ⎟ − 2(Qt + ∆t )
⎝ ∆t ⎠ ⎝ ∆t ⎠

123
H I D R O L O G I A

Os resultados são apresentados na tabela abaixo:

Tempo (h) I (m3.s-1) I1+I2 2S/dt-Q 2S/dt+Q Q


0 0 350 11111 11111 0
1 350 1070 11236 11461 113
2 720 1660 11785 12306 260
3 940 2030 12630 13445 407
4 1090 2150 13591 14660 534
5 1060 1990 14476 15741 633
6 930 1680 15073 16466 697
7 750 1330 15315 16753 719
8 580 1050 15224 16645 711
9 470 850 14914 16274 680
10 380 690 14495 15764 635
11 310 580 14019 15185 583
12 270 490 13543 14599 528
13 220 420 13093 14033 470
14 200 380 12682 13513 416
15 180 330 12341 13062 361
16 150 270 12045 12671 313
17 120 220 11791 12315 262
18 100 180 11580 12011 216
19 80 150 11415 11760 172
20 70 70 11298 11565 133
A figura abaixo mostra os hidrogramas de entrada e saída do reservatório.

124
H I D R O L O G I A

O exemplo mostra que o reservatório tende a suavizar o hidrograma, reduzindo a


vazão de pico, embora sem alterar o volume total do hidrograma. É interessante
observar que no caso do exemplo, em que o reservatório tem um vertedor livre, a
vazão máxima de saída ocorre no momento em que a vazão de entrada e de saída são
iguais.

O cálculo de propagação de vazões em reservatórios, como apresentado neste


exemplo, pode ser utilizado para dimensionamento de reservatórios de controle de
cheias, e para análise de operação de reservatórios em geral. Mediante algumas
adaptações o método pode ser aplicado para reservatórios com vertedores
controlados por comportas e para outras estruturas de saída.

Dimensionamento de um reservatório
O dimensionamento de um reservatório pode ser realizado com base na equação:

St +∆t = St + entradas − saídas

sujeita às restrições 0 < St+∆t < Vmax; onde Vmax é o volume útil do reservatório.

Neste caso as entradas são as vazões afluentes estimadas para o local em que se deseja
construir o reservatório e as saídas são incluem a demanda de água e as perdas.

Se o problema é dimensionar um reservatório com o volume necessário para


regularizar uma vazão D, os passos são:

a) Faça uma estimativa inicial do valor de Vmax

b) Aplique a equação abaixo para cada mês do período de dados de vazão


disponível (é desejável que a série tenha várias décadas). As perdas por
evaporação (E) variam com o mês e podem ser estimadas por dados de
tanque classe A. A demanda D pode variar com a época do ano. A vazão
vertida Qt é diferente de zero apenas quando a equação indica que o volume
máximo será superado.

S t + ∆t = S t + I t − Dt − Et − Qt

c) Em um mês qualquer, se St+∆t for menor que zero, a demanda Dt deve ser
reduzida até que St+∆t seja igual a zero, e é computada uma falha de
antendimento.

125
H I D R O L O G I A

d) Calcule a probabilidade de falha dividindo o número de meses com falha


pelo número total de meses. Se esta probabilidade for considerada inaceitável,
aumente o valor do volume máximo Vmax e reinicie o processo.

Algumas hipóteses são feitas neste tipo de simulação:

1) o reservatório está inicialmente cheio;

2) as vazões observadas no passado são representativas do que irá acontecer no


futuro.

EXEMPLO

1) Um reservatório com volume útil de 500 hectômetros cúbicos (milhões


de m3) pode garantir uma vazão regularizada de 55 m3.s-1, considerando a
seqüência de vazões de entrada da tabela abaixo? Considere o reservatório
inicialmente cheio, a evaporação nula e que cada mês tem 2,592 milhões
de segundos.

mês Vazão (m3/s)


jan 60
fev 20
mar 10
abr 5
mai 12
jun 13
jul 24
ago 58
set 90
out 102
nov 120
dez 78

A solução é obtida montando a tabela que resulta da aplicação sucessiva da equação

S t + ∆t = S t + I t − Dt − Et − Qt

com It dado pela tabela acima; Et igual a zero e Qt igual a zero, exceto quando é necessário
verter.

126
H I D R O L O G I A

A demanda de 55 m3.s-1 é igual a 143 hm3 por mês. No primeiro mês observa-se que sobra
água. No segundo mês a demanda é maior do que a vazão de entrada e o volume no
reservatório começa a diminuir. O volume no início do terceiro mês é dado por
S t + ∆t = 500 + 52 − 143 = 409 e assim por diante.

No início do mês de agosto o volume calculado é negativo, o que rompe a restrição, portanto o
reservatório não é capaz de regularizar a vazão de 55 m3.s-1.

Mês S (hm3) I (hm3) D (hm3) Q (hm3)


Jan 500 156 143 13
Fev 500 52 143 0
Mar 409 26 143 0
Abr 293 13 143 0
Mai 163 31 143 0
Jul 52 34 143 0
Ago -57 62 143 0

Em uma planilha eletrônica ou uma calculadora científica é fácil repetir o cálculo até
que o volume atenda a vazão regularizada desejada.

Da mesma forma é fácil determinar em uma planilha eletrônica qual é a maior vazão
que pode ser regularizada com um dado volume de reservatório.

Teoricamente, a máxima vazão que pode ser regularizada é a vazão média do rio no
local em que está a barragem. Este valor máximo é impossível de ser atingido porque
a criação do reservatório aumenta a perda de água por evaporação.

127
H I D R O L O G I A

Figura 8. 4: Relação entre o volume do reservatório e a vazão regularizada em uma bacia cuja vazão média é 25,4 m3.s-1, sem
considerar a evaporação do reservatório.

Operação de reservatórios

Restrições de operação:

Volume máximo e mínimo; nível máximo e mínimo.

Em muitos casos os reservatórios têm múltiplos usos, como no caso da combinação


de uso para geração de energia elétrica e para controle de cheias. No exemplo da
figura a seguir, o reservatório R é operado para gerar energia nas turbinas, e para
evitar inundações na cidade C. A cidade começa a ficar inundada quando o rio em C
supera a vazão de 6000 m3.s-1. Existe um acordo entre o governo local e a empresa
que opera a usina para que o vertimento do reservatório seja controlado para evitar
que se supere este valor limite, o que caracteriza uma restrição à operação do
reservatório. Normalmente esta situação é complicada pela existência de um ou mais
afluentes (como o afluente A da figura) cuja vazão não é controlada pelo reservatório.
Portanto, a vazão que pode ser liberada pelo reservatório R depende do valor
máximo que pode escoar na seção em frente à cidade C e da vazão que está chegando
pelo afluente A, isto é, a restrição é variável no tempo.

128
H I D R O L O G I A

Figura 8. 5: Reservatório R operando com restrição de vazão que pode ser liberada para jusante, para evitar a inundação na cidade
C.

Impactos ambientais de reservatórios


No passado considerava-se que a geração hidrelétrica era uma forma de produção de
eletricidade com mínimos impactos ambientais. Atualmente, essa visão tem sido
questionada, embora em diversos aspectos os impactos ambientais são relativamente
pequenos em relação às formas alternativas normalmente utilizadas: usinas térmicas a
carvão ou nucleares.

Apesar destes impactos, a população muitas vezes vê com bons olhos a construção de
uma usina hidrelétrica na área de seu município. Isto ocorre porque existe uma
compensação financeira obrigatória, em que parte dos rendimentos auferidos na
geração de energia elétrica são pagos ao município, de acordo com o tamanho da
área inundada e com a potência da usina. Entre os impactos ambientais importantes
das usinas hidrelétricas encontram-se impactos sociais; impactos sobre a flora e a
fauna do local inundado; impactos sobre a fauna do rio a jusante; impactos sobre o
sistema de transportes; impactos sobre a geração de gases de efeito estufa.

Impactos sociais
Os impactos sociais mais evidentes da implantação de uma usina hidrelétrica
decorrem da remoção das pessoas que habitam a área inundada pelo reservatório. Os
impactos deste tipo iniciam mesmo antes da construção da obra em si, já que a
perspectiva da inundação futura reprime ou não incentiva o investimento no local.
Esta situação pode se estender por vários anos, em função de indefinições sobre a
construção ou não da obra. Durante este período as localidades sujeitas a inundação
experimentam um estado de estagnação.

129
H I D R O L O G I A

Finalmente, quando a obra inicia e a inundação da área habitada passa a ser certa,
surgem dúvidas e discussões sobre o valor da indenização. Embora o valor comercial
da terra possa ser estimado de forma razoável, o apego dos habitantes à terra também
é devido a um valor afetivo, por questões históricas, que é intangível, ou seja,
dificilmente quantificável. Nesta situação é comum o surgimento de especulações e
de confrontos de cunho político.

Entre os impactos sociais também podem ser incluídos impactos culturais, como a
perda, provavelmente para sempre, de sítios arqueológicos, ou eventualmente de
lugares sagrados para culturas indígenas.

Durante a construção ocorrem alguns impactos sociais positivos, devido ao aumento


de oferta de emprego, e o aumento de consumo local, em função do grande número
de trabalhadores. Após a conclusão da obra, porém, surge um impacto negativo
porque muitos trabalhadores perdem seus empregos mas não deixam imediatamente
o local.

Impactos sobre a fauna e a flora do local inundado


Os impactos sobre a flora e a fauna do local inundado por um reservatório são os
que ganham maior atenção da mídia. Isto ocorre porque durante o primeiro
enchimento do reservatório a área seca vai se tornando restrita e os animais ficam
concentrados em pequenas ilhas. Campanhas de resgate de fauna são organizadas em
que os animais são capturados e levados para um novo habitat, após um período de
adaptação. A sua sobrevivência neste novo hábitat é incerta, uma vez que o espaço
provavelmente já está ocupado por outros indivíduos da mesma espécie, e os recursos
dos quais a espécie depende são limitados.

A vegetação inundada não apenas é extinta, como também pode provocar sérios
problemas de qualidade de água no lago, durante a sua decomposição. Isto ocorre
porque o oxigênio dissolvido (OD) na água é consumido durante o processo de
decomposição, e a concentração de OD é reduzida para níveis inferiores ao limite
para a sobrevivência dos peixes. Assim, o processo de enchimento pode resultar
numa grande mortandade de peixes e outras espécies aquáticas ou que dependem dos
peixes para sobreviver, como as aves.

Impactos sobre a fauna e a flora do rio a jusante


Os impactos da criação de um reservatório sobre a área inundada são fáceis de
perceber, e têm sido, há muitos anos, considerados na análise de viabilidade de um
empreendimento. Os impactos no rio a jusante começaram a ser reconhecidos a
menos tempo, e surgiram a partir da constatação de que a presença de certas espécies
de peixes, por exemplo, diminuía após alguns anos da existência do reservatório.

Os impactos no rio a jusante decorrem, entre outras causas, do obstáculo imposto


pela barragem à migração dos peixes, o que pode ser apenas parcialmente contornado
pela construção de uma escada de peixes.

130
H I D R O L O G I A

Mais importante que isto é a alteração do regime hidrológico (sucessão de cheias e


estiagens), que modifica o habitat do rio a jusante.

Grandes reservatórios modificam, também, o fluxo de sedimentos e de nutrientes de


um rio. O melhor exemplo disso no Brasil ocorre no rio São Francisco, onde a
construção de uma série de usinas hidrelétricas, especialmente a de Sobradinho, com
um enorme reservatório, interrompeu o fluxo de sedimentos que ficam depositados
no reservatório e não atingem mais a foz. Em função disso, o equilíbrio entre a
erosão marinha na costa e o aporte de areia pelo rio foi alterado, resultando num
recuo de centenas de metros da linha da praia. Uma pequena vila de pescadores já foi
destruída e o processo não parece estar estabilizado ainda.

Os nutrientes básicos que mantém a cadeia alimentar na água são o nitrogênio e o


fósforo. Estes nutrientes estão dissolvidos na ou adsorvidos aos sedimentos, e são
retidos, em grande parte, nos grandes reservatórios. Em conseqüência disso, menos
nutrientes chegam até a região do estuário deste rio, o que limita o desenvolvimento
do fitoplâncton, que é a base da cadeia alimentar. Em conseqüência disso, a
população que vivia da pesca artesanal junto à foz do rio não mais consegue
sobreviver desta atividade.

Exercícios
1) Qual é a perda de energia na usina de Sobradinho devida à evaporação direta
do lago? Considere que a altura de queda H = 27,2 m; a eficiência e = 0,90; e
que uma evaporação de 10 mm por dia ocorre sobre a área da superfície do
lago, que corresponde a 4200 km2.

2) Um reservatório com volume útil de 500 hectômetros cúbicos (milhões de


m3) pode garantir uma vazão regularizada de 25 m3.s-1, considerando a
seqüência de vazões de entrada da tabela abaixo? Considere o reservatório
inicialmente cheio, a evaporação constante de 200 mm por mês, área
superficial e que cada mês tem 2,592 milhões de segundos.

Mês Vazão (m3/s)


Jan 55
Fev 27
mar 10
abr 5
mai 12
jun 13
jul 24
ago 51
set 78

131
H I D R O L O G I A

Out 102
Nov 128
Dez 73

3) Um reservatório com volume útil de 150 hectômetros cúbicos é suficiente para


regularizar a vazão de 28 m3.s-1 num rio que apresenta a seqüência de vazões
da tabela abaixo para um determinado período crítico? Considere o
reservatório inicialmente cheio, 200 km2 de área superficial constante e que
cada mês tem 2,592 milhões de segundos. Os dados de evaporação de tanque
classe A são dados na tabela (veja capítulo 5).

Mês jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Vazão 98 45 32 27 24 20 19 18 17 14 78 130
(m3/s)
Evaporação 100 110 120 130 140 135 130 120 110 105 100 100
tanque
classe A
(mm/mês)

132
9
Capítulo
H I D R O L O G I A

Qualidade da água

A água é um elemento vital para as atividades humanas e para a manutenção


da vida. Para satisfazer as necessidades humanas e ambientais, é necessário
que a água tenha certas características qualitativas, e as exigências com
relação à pureza da água variam com o seu uso. A água utilizada para
análises clínicas, por exemplo, deve ser tanto quanto possível isenta de sais e outras
substâncias em solução ou suspensão. Já para a navegação e para a geração de energia,
por exemplo, a água deve apenas atender ao requisito de não ser excessivamente
agressiva às estruturas. Para os processos biológicos incluindo a manutenção dos
ecossistemas, a alimentação humana e a dessedentação animal, as exigências são
intermediárias.

Massa, concentração e fluxo


Aspectos fundamentais da qualidade da água são, normalmente, apresentados em
termos de concentração de substâncias na água. A concentração é expressa como a
massa da substância por volume de água, em mg.l-1, ou g.m-3. Por exemplo, ao
acrescentar e dissolver 12 mg de sal em um litro de água pura, obtém-se água com
uma concentração de 12 mg.l-1.

De forma semelhante, quando são misturados volumes de água com concentrações


diferentes, a concentração final equivale a uma média ponderada das concentrações
originais, o mesmo ocorrendo no caso de vazões. Assim, se um rio com vazão QR e
concentração CR recebe a entrada de um afluente com vazão QA e com concentração
CA. Admitindo uma rápida e completa mistura das águas, a concentração final é dada
por:

QR ⋅ C R + Q A ⋅ C A
CF =
QR + Q A

133
H I D R O L O G I A

EXEMPLO

1) Uma cidade coleta todo o esgoto cloacal, mas não tem estação de tratamento.
Assim, a vazão de esgoto de 0,5 m3.s-1 com uma concentração de 50 mg.l-1 de
Nitrogênio Total é lançada em um rio com uma vazão de 23 m3.s-1 e com
uma concentração de 1 mg.l-1 de Nitrogênio Total. Considerando mistura
completa qual é a concentração final no rio a jusante da entrada do esgoto.

A concentração final, considerando mistura completa e imediata é

QR ⋅ C R + Q A ⋅ C A 23 ⋅ 1 + 0,5 ⋅ 50
CF = ou seja C F = = 2,04
QR + Q A 23,5

portanto a concentração final é de 2,04 mg.l-1.

A carga ou fluxo de um poluente ou substância é dada pelo produto entre a vazão e a


concentração. No exemplo anterior, o fluxo de Nitrogênio Total no rio, a jusante da
entrada de esgoto é dado por:

m 3 ⋅ mg Kg
WF = QF ⋅ C F = 23,5 ⋅ 2,04 = 23,5 ⋅ 2,04 = 48Kg .s −1
s ⋅l s

Parâmetros de qualidade de água


A qualidade da água é avaliada de acordo com a concentração de substâncias
denominados parâmetros de qualidade de água. As concentrações destes parâmetros
são importantes para a caracterização da água frente aos usos a que ela se destina. Por
exemplo, para ser bebida a água não pode ter uma concentração excessiva de sais.

Alguns dos principais parâmetros de qualidade de água são apresentados a seguir.

Temperatura
A temperatura é uma das características mais importantes da água de um rio. A
temperatura exerce um efeito sobre as reações químicas e a atividade biológica na
água. A velocidade das reações químicas duplica para cada 10º. C de aumento de
temperatura da água. A temperatura também controla a concentração máxima de
oxigênio dissolvido na água (Benetti e Bidone, 1993).

Oxigênio Dissolvido
O Oxigênio Dissolvido (OD) é necessário para manter as condições de vida dos seres
que vivem na água, e, portanto, é um parâmetro importante na análise da poluição

134
H I D R O L O G I A

de um rio. O OD é consumido pelos seres vivos, especialmente os organismos


decompositores de matéria orgânica. A concentração de OD na água aumenta por
fotossíntese de plantas e algas aquáticas ou por reareação, no contato com a
atmosfera. O OD tem uma concentração máxima para dadas condições de
temperatura e salinidade da água, que é conhecida como concentração de saturação.
A concentração de saturação aumenta com a redução da temperatura da água.

pH
O pH expressa o grau de acidez ou alcalinidade da água, em valores de 0 a 14, sendo
que valores inferiores a 7 indicam águas ácidas e valores superiores a 7 indicam águas
alcalinas (Benetti e Bidone, 1993).

DBO
A água dos rios e de esgotos cloacais e industriais contém matéria orgânica. Esta
matéria orgânica é decomposta por microorganismos que, em geral, consomem
oxigênio no processo de decomposição. A DBO, ou Demanda Bioquímica de
Oxigênio, representa o consumo potencial de oxigênio para decompor a matéria
orgânica existente na água.

Usos da água e qualidade da água


A recente tendência mundial de aumento da escassez de água tem acentuado os
conflitos pelos diversos usos desse bem, tais como: abastecimento da população,
irrigação de lavouras, dessedentação de animais, pesca, indústria, navegação, geração
de energia, lazer, diluição de esgoto, preservação de ecossistemas, entre outros.

Tabela XX: Faixa de valores típicos e observados de alguns parâmetros de qualidade


de água em rios (adaptado de McCutcheon et al., 1993).

Parâmetro Valores típicos Valores observados Unidades


o
Temperatura 0 a 30 C
pH 4.5 a 8.5 1a9
Oxigênio Dissolvido
Nitrogênio Total
Nitrogênio Orgânico
Amônia
Nitrito
Nitrato

135
H I D R O L O G I A

Fósforo Total
Ortofosfato
Carbono orgânico total
DBO
DQO
Dureza
Cor
Condutividade
Sólidos Suspensos Totais
Ferro
Alumínio
Níquel
Cobre
Cromo
Chumbo
Mercúrio

Exercícios
1) Uma usina termoelétrica será instalada às margens do rio Azul, em um local
em que a curva de permanência é apresentada na figura abaixo. A
temperatura da água do rio é de 17oC e uma vazão água utilizada para
resfriamento, de 1,3 m3.s-1 será lançada pela usina termelétrica, com
temperatura de 43 oC. Qual será a temperatura final do rio a jusante do
lançamento considerando mistura completa? Considere como referência a
Q95.

136
H I D R O L O G I A

137
10
Capítulo
H I D R O L O G I A

138
D E S I G N C U S T O M I Z A T I O N

Aspectos da legislação e gestão dos


recursos hídricos

A escassez da água já atinge cerca de 80 países, envolvendo cerca de 40% da


população do globo, condição que se reflete na produção agrícola, no
desenvolvimento urbano e industrial e, em particular, no acesso das pessoas
à água potável.

Essa escassez tem acentuado os conflitos pelos diversos usos desse bem, tais como:
abastecimento da população, irrigação de lavouras, dessedentação de animais, pesca,
indústria, navegação, geração de energia, lazer, diluição de esgoto, preservação de
ecossistemas, entre outros.

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 definiu as águas como bens públicos e


colocou os corpos d’água sob os domínios Federal e Estadual. São Estaduais os rios
que nascem e têm foz em território de um Estado e as águas subterrâneas. Os demais
corpos d’água encontram-se sob o domínio da União (como a legislação diz respeito
à água e não à Bacia Hidrográfica, podem ocorrer casos em que o rio está sob
domínio federa e estadual, como é o caso do Rio Uruguai). Assim, tanto estados
brasileiros como a União vêm desenvolvendo o Sistema de Gestão de Recursos
Hídricos.

Esses Sistemas são fruto da criação de modelos de gestão que abrigam entidades
gerenciais organizadas em torno da Bacia Hidrográfica como unidade ideal de
planejamento, gestão e intervenção. No âmbito da União foi aprovada a Lei
9.433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema
Nacional de Gestão de Recursos Hídricos e, mais recentemente, a Lei 9.984/00 criou
a Agência Nacional de Águas (ANA), que tem como atribuição implementar os
instrumentos da política nacional. No que diz respeito ao Rio Grande do Sul, a
Constituição Estadual de 1989 e a Lei 10.350/94 estabeleceram a gestão das águas sob
seu domínio.

A Lei 10.350/94 regulamentou o Sistema Estadual de Recursos Hídricos (SERH), que


já era contemplado na Constituição Estadual de 1989. Desde então, o SERH vem
sendo implementado nas 23 bacias hidrográficas do Estado (figura 10.1), através da
H I D R O L O G I A

criação de comitês de gerenciamento de bacias hidrográficas, e da gradativa


implementação dos instrumentos de planejamento (Planos de Bacia e Plano Estadual)
e gestão (outorga, tarifação e rateio de custos) previstos na legislação. A seguir são
descritos brevemente o SERH e os instrumentos de planejamento e gestão.

Figura 10.1: Bacias hidrográficas do Rio Grande do Sul


(Fonte: SEMA/RS, 2005)

O Sistema Estadual de Recursos Hídricos


O SERH se fundamenta num modelo de gerenciamento caracterizado pela
descentralização das decisões e pela ampla participação da sociedade organizada em
Comitês de Bacia. Assim, mesmo que o Estado seja o detentor do domínio das águas
(superficiais e subterrâneas) de seu território, conforme determina a Constituição
Federal, ele compartilha a sua gestão com a população envolvida.

Fazem parte do SERH os seguintes departamentos:


- Conselho de Recursos Hídricos (CRH);
- Departamento de Recursos Hídricos (DRH);

140
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- Comitês de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas (CGBH);


- Agências de Regiões Hidrográficas (ARH);
- Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM).

O Conselho de Recursos Hídricos


O CRH é um órgão colegiado constituído por Secretários de Estado, representantes
de Comitês de Bacias, Sistemas Nacionais de Recursos Hídricos e do Meio Ambiente,
que tem o papel de instância deliberativa superior do Sistema. É atualmente
presidido pelo Secretário Estadual do Meio Ambiente.

Os demais órgãos estatais que integram o sistema são: Obras Públicas e Saneamento,
com a vice-presidência do CRH; Agricultura e Abastecimento; Coordenação e
Planejamento; Saúde; Energia, Minas e Comunicações; Ciência e Tecnologia;
Transportes; Casa Civil; e Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos
Internacionais.

São atribuídas ao CRH as seguintes funções:

• Propor alterações na Política Estadual de Recursos Hídricos;


• Opinar sobre qualquer proposta de alteração na Política Estadual de Recursos
Hídricos;
• Apreciar o anteprojeto de Lei do Plano Estadual de Recursos Hídricos;
• Aprovar relatórios anuais sobre a situação dos recursos hídricos;
• Aprovar critérios de outorga do uso da água;
• Aprovar os regimentos internos dos Comitês de Bacias;
• Decidir os conflitos de uso da água em última instância;
• Representar o Governo Estadual, através do seu Presidente, junto a órgãos federais
e internacionais, em questões relativas a recursos hídricos;
• Elaborar o seu Regimento Interno.

O Departamento de Recursos Hídricos


O DRH é o órgão responsável pela integração do Sistema Estadual de Recursos
Hídricos. É o DRH que concede a outorga do uso da água e subsidia tecnicamente o
CRH.

Ao DRH são atribuídas as seguintes funções:

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H I D R O L O G I A

• Elaborar o anteprojeto de lei do Plano Estadual de Recursos Hídricos;


• Coordenar e acompanhar a execução do Plano Estadual de Recursos Hídricos;
• Propor ao Conselho de Recursos Hídricos critérios para a outorga do uso da água
e expedir as respectivas autorizações de uso;
• Regulamentar a operação e uso dos equipamentos e mecanismos de gestão dos
recursos hídricos;
• Elaborar Relatório Anual sobre a situação dos recursos hídricos no Estado;
• Assistir tecnicamente o CRH.

Os Comitês de Gerenciamento de Bacias Hidrográficas


Os CGBH representam a instância básica de participação da sociedade no Sistema.
Tratam-se de colegiados instituídos oficialmente pelo Governo do Estado. Exercem
poder deliberativo, uma vez que é no seu âmbito que são estabelecidas as prioridades
de uso e as intervenções necessárias à gestão das águas de uma bacia hidrográfica,
bem como devem ser dirimidos, em primeira instância, os eventuais conflitos.

Fazem parte do CGBH pessoas que têm diferentes interesses com relação ao bem
água: os usuários (são as pessoas que têm interesse “utilitário-econômico-social”); a
população (tem interesses difusos, vinculados ao desenvolvimento sócio-econômico,
aspectos culturais ou políticos e proteção ambiental); o poder público (detentor do
domínio das águas).

A Lei 10.350, de 30 de dezembro de 1994, estabelece a proporção de


representatividade nos comitê. Segundo a referida Lei, os CGBH devem ser formados
por 40% de representantes dos usuários da água, 40% dos representantes da
população e 20% dos representantes de órgãos públicos da administração direta
estadual e federal.

Ao CGBH cabem as seguintes atribuições:

• Encaminhar ao DRH proposta relativa à própria bacia para ser incluída no


anteprojeto de lei do Plano Estadual de Recursos Hídricos;
• Conhecer e manifestar-se sobre o anteprojeto de lei do Plano Estadual de Recursos
Hídricos;
• Aprovar o Plano da respectiva bacia e acompanhar a sua implementação;
• Apreciar o relatório anual sobre a situação dos recursos hídricos, no Estado;
• Propor ao órgão competente o enquadramento dos corpos de água da bacia;
• Aprovar os valores a serem cobrados pelo uso da água;

142
H I D R O L O G I A

• Realizar o rateio do custo das obras a serem executadas na bacia;


• Aprovar os programas anuais e plurianuais de investimentos em serviços e obras
da bacia;
• Compatibilizar os interesses dos diferentes usuários e resolver eventuais conflitos
em primeira instância.

As Agências de Regiões Hidrográficas


O CRH dividiu o Estado, para efeito de gerenciamento de Bacia Hidrográfica, em
três regiões hidrográficas: a da Bacia do Uruguai, a da Bacia do Guaíba e a das Bacias
Litorâneas (figura 10.2). Cada uma dessas regiões hidrográficas conta com uma ARH.

À ARH cabe assessorar tecnicamente os CGBH na elaboração de propostas relativas


ao Plano Estadual de Recursos Hídricos, no preparo dos Planos de Bacia e na
tomada de decisões que demandem estudos técnicos. A ARH também pode auxiliar
os CGBH no enquadramento dos corpos d’água, operar os mecanismos de gestão,
arrecadar e aplicar os valores correspondentes à cobrança pelo uso da água.

Figura 10.2 - Agências de Regiões Hidrográficas


(Fonte: SEMA/RS, 2005)

143
H I D R O L O G I A

Fundação Estadual de Proteção Ambiental


A FEPAM é o órgão ambiental do Estado que integra o Sistema Estadual de Recursos
Hídricos com o Sistema Estadual de Meio Ambiente. Cabe à FEPAM a concessão de
outorga quando se trata de um uso d’água que afeta as condições qualitativas dos
recursos hídricos.

Compete também à FEPAM a aprovação do enquadramento dos corpos de água, de


acordo com os objetivos de qualidade, com base na proposta elaborada pelos comitês
de bacias.

Instrumentos de Planejamento
Enquadramento
O enquadramento as águas brasileiras em classes de uso foi estabelecido pela
Resolução nº 020/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. Assim,
para as águas doces foram definidas cinco classes: especial e de 1 a 4. Para as águas
salobras e salinas foram definidas duas classes: 5 e 6; e 7 e 8, respectivamente. Uma
vez que estabelece o nível de qualidade a ser alcançado e/ou mantido em um
determinado segmento de um corpo de água, ao longo do tempo, o enquadramento
é considerado um instrumento de planejamento do meio ambiente.

No Rio Grande do Sul o enquadramento é feito através de um processo de discussão


com os usuários e a população de uma dada bacia hidrográfica, no âmbito do
CGBH podendo contar também com o auxílio da ARH.

O enquadramento também pode ser considerado como um Instrumento de


Planejamento estratégico, visto que podem ser estabelecidas metas de enquadramento
de um corpo hídrico a longo prazo.

Plano de Bacia Hidrográfica


Os Planos de Bacia Hidrográfica (PBH) são elaborados pelas ARH e sujeitos à
aprovação dos CGBH. Os PBH têm por finalidade operacionalizar, no âmbito, de
cada bacia hidrográfica, por um período de 4 anos, com atualizações periódicas a
cada 2 anos, as disposições do Plano Estadual de Recursos Hídricos.

O PBH deve compatibilizar os aspectos quantitativos e qualitativos, de modo a


assegurar que as metas e usos previstos pelo Plano Estadual de Recursos Hídricos
sejam alcançados simultaneamente com melhorias sensíveis e contínuas dos aspectos
qualitativos dos corpos de água.

144
H I D R O L O G I A

Dentro do PBH devem ser contemplados os programas de intervenções estruturais e


não-estruturais e sua distribuição espacial., bem como o esquema de financiamento
desses programas.

Plano Estadual de Recursos Hídricos


O Plano Estadual de Recursos Hídricos (PERH) tem abrangência estadual com
detalhamento por Bacia Hidrográfica. O PERH é elaborado com base nas propostas
encaminhadas pelos CGBH o pode considerar ainda: propostas individuais ou
coletivas dos usuários da água; planos setoriais ou regionais de desenvolvimento;
tratados internacionais; estudos, pesquisas, entre outros.

No Plano Estadual de Recursos Hídricos, são apresentados os seguintes elementos:


metas especificadas na Política Estadual de Recursos Hídricos, a serem atingidas em
prazos determinados; inventário da disponibilidade hídrica; inventário dos usos e
conflitos; projeções de usos, disponibilidades e conflitos potenciais; definição e
análise de áreas críticas, atuais e potenciais; diretrizes para outorga do uso da água;
diretrizes para cobrança; e limite mínimo para a fixação de valores a serem cobrados.
O PERH contempla os programas de desenvolvimento nos municípios e considera a
variável ambiental, mediante a incorporação de Estudos de Impacto Ambiental e
correspondentes Relatórios de Impacto Ambiental, no âmbito do planejamento de
cada bacia hidrográfica.

Instrumentos de Gestão
A Outorga de Uso
A outorga consiste no “consentimento, concessão, aprovação” do direito de uso da
água. Ela representa um instrumento, através do qual o Poder Público autoriza,
concede ou ainda permite ao usuário fazer o uso deste bem público. É através deste
que o Estado exerce, efetivamente, o domínio das águas preconizado pela
Constituição Federal. É através da outorga que é regulando o compartilhamento
entre os diversos usuários, visto que o principal objetivo da outorga é assegurar o
controle qualitativo e quantitativo dos usos da água.

A Lei 10.350, de 30 de dezembro de 1994, em seu artigo 29, explica que qualquer
empreendimento ou atividade que alterar as condições quantitativas e/ou qualitativas
das águas, superficiais ou subterrâneas, tendo como base o Plano Estadual de
Recursos Hídricos e os Planos de Bacia Hidrográfica, dependerá de outorga. Caberá
ao Departamento de Recursos Hídricos a emissão de outorga para os usos que
alterem as condições quantitativas das águas.

145
H I D R O L O G I A

O Decreto nº 37.033, de 21 de novembro de 1996, regulamentou este instrumento,


estabelecendo os critérios para a concessão, "licença de uso" e "autorização", bem
como para a dispensa. O Decreto nº 42.047, de 26 de dezembro de 2002, regulamenta
disposições da Lei nº 10.350, de 30 de dezembro de 1994, com alterações, relativas ao
gerenciamento e à conservação das águas subterrâneas e dos aqüíferos no Estado do
Rio Grande do Sul.

De forma geral, estão sujeitos à outorga os seguintes usos dos recursos hídricos:

I) derivação ou captação de parcela de água existente em um corpo d’água para


consumo final, inclusive abastecimento público ou insumo produtivo;
II) extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final de processo
produtivo;
III) lançamento em corpo d’água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos,
tratados ou não, com fim de sua diluição, transporte, ou disposição final;
IV) aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;
V) outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente
em um corpo d’água.
No site da SEMA/RS (www.sema.rs.gov.br) é possível encontrar os formulários e
termos de referência para as diferentes modalidades de autorização prévia e outorga.
Encontram-se disponíveis formulários para águas subterrâneas (autorização,
regularização e outorga) e superficial (regularização e reserva de disponibilidade).

A Cobrança pelo Uso


A cobrança pelo uso do recurso hídrico tem alguns objetivos como reconhecer a água
como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor, incentivar a
racionalização do uso da água, e obter recursos financeiros para o financiamento dos
programas e intervenções contemplados no Plano de Bacia Hidrográfica.

A cobrança pelo uso da água fica sujeita à outorga, pois não pode haver cobrança de
atividades e obras clandestinas ou cujos usos não tenham sido outorgados. A
utilização a cobrança é uma forma de aplicação do princípio usuário-poluidor-
pagador, uma vez que o poluidor, deve assumir os custos de poluição.

O valor da cobrança é estabelecido nos Planos de Bacia Hidrográfica, obedecendo as


seguintes diretrizes gerais:

I) na cobrança pela derivação da água são considerados: o uso a que a derivação se


destina, o volume captado e seu regime de variação, o consumo efetivo, a classe de
uso preponderante em que estiver enquadrado o corpo de água onde se localiza a
captação.

146
H I D R O L O G I A

II) na cobrança pelo lançamento de efluentes de qualquer espécie, são considerados: a


natureza da atividade geradora do efluente, a carga lançada e seu regime de variação,
sendo ponderados na sua caracterização, parâmetros físicos, químicos, biológicos e
toxicidade dos efluentes, a classe de uso preponderante em que estiver enquadrado o
corpo de água receptor, o regime e variação quantitativa e qualitativa do corpo de
água receptor.

Os valores arrecadados na cobrança pelo uso da água são destinados a aplicações


exclusivas (intervenções estruturais e não-estruturais) e não transferíveis na gestão dos
recursos hídricos da bacia hidrográfica de origem.

147
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