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INSTALAÇÕES

HIDRÁULICAS E
SANITÁRIAS

Eloise Ap. Langaro


Instalações Hidráulicas e Sanitárias

1 SISTEMAS DE INSTALAÇÕES PREDIAIS DE ÁGUAS PLUVIAIS

A água da chuva causa danos à durabilidade das construções e também a boa


aparência das mesmas, além de que se não houver um bom sistema de drenagem, coleta
e afastamento de águas pluviais
pluviais, essas águas podem ser causa de inundações. Lógico
que isso também está ligado a um bom planejamento urbano.
A questão relativa ao afastamento das águas pluviais nas cidades brasileiras é
recente, e data meados 1850. A evolução e o crescimento constante das cidades fizeram
com que todo o sistema preliminarmente pensado fosse revisto, e o conceito de
sustentabilidade
ade só surgiu muitos anos depois, vamos dizer que cerca de
aproximadamente 150 anos depois. E o que isso nos diz?
Nos diz que muitas cidades não comportam um sistema eficiente ainda, que
construções foram feitas em cima de recursos hídricos, cursos de ri
rios
os foram desviados e
há muito concreto e pouco solo permeável para a água escoar. E a consequência disso?

Inundações nas cidades.

Por isso o sistema de coleta e afastamento de águas pluviais é tão importante.


Lógico que sozinho ele não resolve todo o prob
problema,
lema, ainda é necessário um bom
planejamento e um projeto bem pensado e executado de drenagem urbana. Porém,
diante de todos os problemas, se cada edificação dizer corretamente o uso de seu
terreno, respeitando as áreas permeáveis e executando todo o siste
sistema
ma de águas pluviais
corretamente, se consegue contribuir e muito nessa questão. A Figuras 1 mostra o que
ocorre em grande parte das cidades e é um exemplo do que não se fazer num sistema de
águas pluviais.

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Figura 1.Fotos
Fotos de tubulações de coleta de águas pluviais

Fonte: LANGARO, 2020.

Nesse tópico nós vamos conhecer todos os componentes de um sistema de águas


pluviais, aprender a dimensiona
dimensiona-lo
lo corretamente, bem como entender os conceitos
necessários para o desenvolvimento de um projeto.

Importante:

No Brasil utiliza-se
se o sistema separador absolut
absoluto,, ou seja, as águas pluviais são
lançadas em sistema separado dos efluentes de esgoto sanitário.
Isso acontece devido as vazões das águas da chuva. Essas vazões são bem
superiores às do esgoto sanitário, o que pode comprometer todo o sistema.

A água de chuva deve ser coletada e transportada à rede pública de drenagem pelo
trajeto mais curto e no menor tempo possível.

Existe uma norma regulamentadora que traz todo o dimensionamento do sistema


de águas pluviais,
luviais, bem como definições e partes constituintes. Essa norma é a NBR
10844 (1989) - Instalações prediais de águas pluviais.
Todo o sistema de águas pluviais deve ser projetado e instalado de forma a
cumprir algumas recomendações da norma, como:
- Coletar
tar e conduzir as águas da chuva até o sistema público de coleta ou até os locais
permitidos pelos dispositivos legais;

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- Todo o sistema deve ser executado de forma permita a limpeza, manutenção e
desobstrução de qualquer ponto;
- O sistema deve ser estanq
estanque
ue e nas partes do sistema que ficarem expostos as
intempéries deve-se
se utilizar materiais resistente as mesmas;
- Deve-se
se garantir o conforto do usuário, projetando e executando sistemas sem ruídos
excessivos.

1.1 DEFINIÇÕES IMPORTANTES

Para compreender o dimensionamento do sistema de coleta e afastamento de


águas pluviais se faz necessário conhecer todos os elementos do mesmo e entender
algumas definições importantes e fatores meteorológicos de acordo com a NBR 10844
(1989). Vamos a eles?

Intensidade pluviométrica (i)


(i):

Pela definição da NBR 10844 (1989), ela é o resultado da divisão entre a altura
pluviométrica precipitada num intervalo de tempo e este intervalo de tempo. A
determinação da intensidade pluviométrica para fins de projeto é bem importante e deve
ser feita criteriosamente a partir da fixação de valores adequados para a duração da
precipitação, do local onde a edificação está localizada, e do período de retorno. Deve
Deve-
se tomar como base para definição do valor dados pluviométricos locais (de acordo com
a Hidrologia).
A NBR 10844 (1989) aponta que em casos de construções até 100 m² de área de
projeção horizontal, salvo os casos especiais, pode
pode-se
se adotar uma intensidade
pluviométrica de 150 mm/hora.

Período de retorno (T):

É o tempo de recorrência
rrência de um determinado evento, ou seja, é o número médio
de tempo (anos) em que uma determinada intensidade pluviométrica é igualada ou
ultrapassada, para uma mesma duração de precipitação, apenas uma vez.
Esse período de retorno deve ser fixado també
tambémm de acordo com as características
da área a ser drenada, ou seja, depende se essa área é pavimentada ou não. A NBR

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10844 (1989) define 3 períodos de retorno:
 T = 1 ano, no caso de áreas pavimentadas, onde empoçamentos possam ser
tolerados;
 T = 5 anos, no caso de coberturas e terraços;
 T = 25 anos, no caso de coberturas e áreas onde empoçamento ou
extravasamento não pode ser tolerado.

Duração de precipitação (t)


(t):

É o intervalo de tempo definido para a determinação de uma dada intensidade


pluviométrica.
De acordo com a NBR 10844 (1989) essa duração deve ser fixada em t=5
minutos.

Área de contribuição:

Área de contribuição nada mais é que a superfície que recebe a chuva e a


conduzem para um ponto da instalação do sistema de águas pluviais, como por exe
exemplo
os telhados que direcionam a água para as calhas.
Quando falamos em chuva não podemos esquecer que ela sempre terá uma
direção. Isso quer dizer que a ação dos ventos deve ser considerada através da adoção de
um ângulo de inclinação da chuva em relaç
relação ao plano horizontal. A Figura 2 mostra a
influência do vento na inclinação da chuva.

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Figura 2. Influência do vento na inclinação da chuva


a
1

ɵ
Ângulo de queda da chuva
com influência do vento 2

b c/2

Calha Calha

Edificação

Fonte: NBR 10844 (1989)

Além disso, para o dimensionamento correto se deve somar todas as áreas que
interceptam a chuva. A NBR 10844 (1989) comenta que se deve considerar nessa área
de contribuição, todos os incrementos de acordo com a inclinação que a cobertura tem,
além disso deve-se
se considerar também as paredes que interceptam a água da chuva e a
direcionam para a cobertura. A Figura 3 mostra todas as áreas e incrementos que
interceptam a chuva, e como calcular essa contribuição.

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Figura 3. Indicações das áreas de contribuiç


contribuição
a) Superfície plana horizontal: b) Superfície inclinada:
a
h
b
b a

c) Superfície plana b d) Duas superfícies planas


vertical única: verticais opostas: b

a
a

e) Duas superfícies planas verticais opostas: f) Duas superfícies planas verticais


adjacentes e perpendiculares:
b

c A2
a A1

b h) Quatro superfícies
g) Três superfícies planas verticais b
adjacentes e perpendiculares, planas verticais, sendo
sendo as duas opostas idênticas: a uma com maior altura: a

Fonte: NBR 10844 (1989)

1.2 DIMENSIONAMENTO:
IMENSIONAMENTO:

1.2.1 Vazão de projeto:

A vazão de projeto deve ser calculada pela Equação 1:

Equação 1
60
Onde:
Q é a vazão de projeto, em litros/minuto
litros/minuto;
i é a intensidade pluviométrica, em mm/hora
mm/hora;
A é a área de contribuição, em m².

Importante:
Para o caso de coberturas horizontais (lajes), as mesmas devem ser projetadas
para evitar empoçamentos,, portanto devem ter declividade mínima de 0,5% a fim de
garantir o escoamento da chuva até os pontos de drenagem. Além disso se recomenda
fazer a drenagem por mais de um ponto e, quando necessário, a cobertura deve ser
dividida em áreas menores para fazer a drenagem da água da chuva, usando caimentos
com orientações diferentes.

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1.2.2 Calhas:

O dimensionamento das calhas pode ser realizado a partir do uso da fórmula de


Manning-Strickler
Strickler (Equação 2). Também pode
pode-se
se adotar uma fórmula equivalente para
o cálculo.
Equação 2

Onde:
Q é a vazão de projeto, em litros/minuto
litros/minuto;
S é a área da seção molhada, em m²;
n é o coeficiente de rugosidade do material (Tabela 1);
Rh é o raio hidráulico, em metros (Rh = S/P);
P é o perímetro molhado, em metros;
I é a declividade da calha, em metro/metro;
k é o coeficiente para transforma m³/segundo em litros/minuto = 60000

A Tabela 1 indica o coeficiente de rugosidade (n) a ser adotado dependendo do


tipo de material utilizado no dimensionamento da calha.

Tabela 1. Coeficiente de rugosidade dos materiais


Material Coeficiente de rugosidade (n)
Plástico, fibrocimento, aço e metais não
não-ferrosos 0,011
Ferro fundido, concreto alisado, alvenaria revestida 0,012
Cerâmica, concreto não-alisado 0,013
Alvenaria de tijolos não-revestida
revestida 0,015
Fonte: NBR 10844 (1989)

Algumas recomendações importantes sobre o uso das calhas, de acordo com a


NBR 10844 (1989):
 Devem ser fixadas na extremidade da cobertura e o mais próximo possível da
mesma, as calhas de beiral e platibanda;
 As calhas de beiral e platibanda devem ter inclinação uniforme e com valor
mínimo de 0,5%;
 No caso de calhas de água furtada a inclinação deve seguir as recomendações do
projeto.
 Quando a saída (condutor vertical) da calha estiver a me
menos
nos de 4 metros de uma
mudança de direção, no caso de calhas de beiral ou platibanda, a vazão de
projeto (Q) deve ser multiplicada pelos coeficientes indicados pela NBR 10844

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(1989), que nessa caso prevê o tipo de curva que a água precisa percorrer na
calhaa e a distância entre a saída (Tabela 2).

Tabela 2. Coeficientes multiplicativos da vazão de projeto


Tipo de curva Curva a menos de 2 metros da Curva entre 2 e 4 metros da
saída da calha saída da calha
Canto reto 1,2 1,1
Canto arredondado 1,1 1,05
Fonte: NBR 10844 (1989)

1.2.3 Condutores verticais


verticais:

Os condutores verticais têm a função de levar a água da chuva que cai na calha
para um condutor horizontal. Eles devem ser previstos, sempre que possível, em uma
mesma prumada. Porém, deve
deve-se
se se atentar para o tamanho da área de contribuição
sempre e a distância que a água deve percorrer até cair no condutor.
Para os desvios necessários nessa tubulação, deve
deve-see usar curvas de 90º de raio
longo ou curvas de 45º.
Pode-se
se prever a instalação dos condutores verticais externo ou internamente as
edificações. Essa disposição vai depender das considerações feitas em projeto, do tipo
de edificação, ocupação e materiai
materiais empregados. A Figura 4 mostra exemplos de
condutores verticais em edificações reais.

Figura 4. Condutores verticais em edificações

Fonte: LANGARO, 2020.

Para o correto dimensionamento dos condutores verticais deve


deve-se
se levar em conta
alguns dados:

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 A vazão de projeto (Q), em litros/minuto;


 A altura da lâmina de água na calha (H), em mm;
 O comprimento do condutor vertical (L), em metros.

De acordo com a NBR 10844 (1989) o diâmetro interno mínimo dos condutores
verticais de seção circular é 70 mm. Sendo o diâmetro comercial próximo dessas
tubulações de 75 mm. Existem dois ábacos na norma que auxiliam esse
dimensionamento. Eles levam em consideração os dados acima em função do tipo de
condutor que se pretende utilizar.

1.2.4 Condutores horizontais


horizontais:

Os condutores horizontais são tubos que recebem as águas da chuva dos


condutores verticais e têm a função de conduzir a água até o sistema público de coleta
ou até o destino final de desague.
Os condutores horizontais devem ter declividade mínima de 0,5% e uniforme,
sempre que possível. De acordo com NBR 10844 (1989) o dimensionamento desses
condutores, de seção circular, deve ser realizado para um escoamento com lâmina de
água com altura igual a 2/3 do diâmetro interno do tubo, ou seja, nunca deve ser
completo de água.
A Tabela 3 mostra a capacidade desses condutores, as quais variam de acordo
com o material empregado (coeficiente de rugosidade) e também diâmetro interno.
Observe que esta tabela também mostra as diferentes declividades dos tubos que dev
devem
ser obedecidas.

Tabela 3. Capacidade dos condutores horizontais de seção circular (vazões em l/min)


Diâmetro n=0,011 n=0,012 n=0,013
interno 0,5% 1% 2% 4% 0,5% 1% 2% 4% 0,5% 1% 2% 4%
(mm)
50 32 45 64 90 29 41 59 83 27 38 54 76
75 95 133 188 267 87 122 172 245 80 113 159 226
100 204 287 405 575 187 264 372 527 173 243 343 486
125 370 521 735 1040 339 478 674 956 313 441 622 882
150 602 847 1190 1690 552 777 1100 1550 509 717 1010 1430
200 1300 1820 2570 3650 1190 1670 2360 3350 1100 1540 2180 3040
250 2350 3310 4660 6620 2150 3030 4280 6070 1990 2800 3950 5600
300 3820 5380 7590 10800 3500 4930 6960 9870 3230 4550 6420 9110
Fonte: NBR 10844 (1989)

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Informações importantes sobre condutores horizontais:

Para tubulações aparentes e enterradas devem ser previstas inspeções sempre que
houver:
 conexões com outra tubulação;
 mudança de declividade;
 mudança de direção;
 e ainda a cada trecho de 20 metros em percursos retilíneos;
As ligações entre condutores verticais e horizontais deve ser feita com curva de
raio longo, com caixa de inspeção ou caixa de areia
areia.
A Figura 5 mostra um exemplo em planta e corte de caixa de inspeção e areia
que podem ser adotadas para esse fim.

Figura 5. Esquema de uma caixa de inspeção e caixa de areia - planta baixa e cortes
Caixa de inspeção Caixa de areia

A’ A B’ B

Planta baixa Planta baixa

Tampa com grelha Tampa com grelha

Corte AA’ Corte BB’

Fonte: LANGARO, 2020.

Importante também é se atentar para o terreno onde a edificação está localizada,


caso seja pavimentada e haja cai
caixas
as de inspeção com grelha, por exemplo, ao longo do
trajeto dos condutores
ndutores horizontais, é preciso incluir o escoamento dessas áreas no
sistema.

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Vamos fazer um exemplo prático de dimensionamento agora?

Exemplo 1:
Para a residência abaixo (Figura 6)
6), dimensione as calhas. Considere os dados:
- Projeção horizontal menor que 100 m², portanto i=150 mm/hora;
- Declividade da calha I=0,5%
I=0,5%;
- Calha retangular em aço galvanizado
galvanizado, com base 10 cm e altura 5 cm;

Figura 6. Representação dee uma residência


5

10
1
Calhas

10 3

5 5
Condutores verticais
Fonte: LANGARO, 2020

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Resposta comentada:
1 Iniciamos pelo cálculo da área de contribuição:
Observando a Figura 3, tipo b:

Sendo que a = 5 e b = 10 Vazão da calha retangular:


10 = 55 m²
Como as áreas do telhado são iguais, temos que A1 = A2
Agora se pode calcular a vazão de projeto, pela
equação 1: Verificar se a vazão da calha atende a
de projeto:

OK
Para cada área de contribuição
OBS: deve-se acrescentar borda livre de
Agora vamos dimensionar a calha, utilizando a
2/3 de h ou usar o mínimo de 75 mm + h
equação 2:
para o tamanho correto da calha. Ou seja:

Calha com:
Calcula-se o raio hidráulico:
hidráulico htotal = 5+7,5 = 12,,5 cm
Perímetro e área: P = 0,05
05 + 0,05 + 0,10 = 0,20 m base = 10 cm

S = 0,05
05 x 0,10 = 0,005 m²

Aqui neste material você aprendeu sobre o sistema de águas pluviais,


localizando da tubulação, tipos de materiais, definições importantes e todo o
dimensionamento do mesmo. Sempre que tiver dúvidas retome o conteúdo!

And enjoy the process! Curta todo esse processo de aprendizagem!

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REFERÊNCIAS BIBLIOGR
BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Instalações prediais de


águas pluviais. NBR 10844
10844.Rio de Janeiro, 1989.

CARVALHO JÚNIOR, Roberto. Instalações Hidráulicas e o Projeto de Arquitetura.


Arquitetura
12 ed. São Paulo: Editora Blucher, 2019
2019.

CARVALHO JÚNIOR, Roberto. Instalações prediais hidráulico-sanitárias


sanitárias
princípios básicos para elaboração de projetos
projetos. 2 ed.São
São Paulo: Editora Blucher,
2016.

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