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HIDRÁULICA

Engenharia Agrícola e Ambiental


Prof. Marcio Koetz

HIDROMETRIA
Hidrometria de condutos livres e forçados

− Definição: É o estudo dos métodos de medição da velocidade e da vazão.

Importância:
 Quantificar a vazão disponível para projetos de irrigação;
 Controlar a vazão (volume) de água de irrigação a ser aplicada em
projetos (racionalizar o uso da água);
 Quantificar a vazão disponível para acionar uma roda d’água ou
carneiro hidráulico.

A escolha do método depende:


 Do volume do fluxo de água;
 Das condições locais;
 Do custo (existem equipamentos caros e outros simples e baratos);
 Da precisão desejada.

− O planejamento e o manejo adequado dos recursos hídricos implicam


no conhecimento dos volumes e vazões utilizados nos seus diferentes
usos múltiplos;
− Sistemas de irrigação bem planejados e operados são dotados de
estruturas para medição de vazão, desde as mais simples, como
vertedores, até comportas automatizadas.

Figura – Canais.
Métodos
1) Aplicados a condutos livres
a) Método direto
 Aplica-se a pequenas vazões de riachos e canais de pequeno porte;
 Na irrigação, para medir a vazão em sulcos, aspersores e gotejadores.

a.1) volumétrico;
a.2) gravimétrico (alta precisão, usado como calibração de outros
métodos).

7.1 Medição de vazão em canais

7.1.1 Método direto

Neste método mede-se o tempo gasto para encher um recipiente de


volume conhecido. A vazão é determinada dividindo-se o volume do
recipiente pelo tempo requerido para o seu enchimento.
Recomenda-se que o tempo mínimo para o enchimento do recipiente
seja de 20 segundos. Este processo aplica-se a pequenas vazões, como as
que ocorrem em riachos e canais de pequeno porte. Na irrigação este
método é utilizado para medir a vazão em sulcos, aspersores e gotejadores.

Utilização:
Pequenas vazões (Q ≤ 10 L/s).

a.1) volumétrico
Baseia-se no tempo gasto para que um determinado fluxo de água
ocupe um recipiente com volume conhecido.

Vol
Q=
t
onde:

Q = (L/s); Vol = (L); t (s)


Importante: Realizar 3 repetições e obter a média.

Q1 + Q 2 + Q 3
Qmédia =
3

a.2) Gravimétrico
Consiste na pesagem de um determinado volume de água obtido em
um determinado tempo.

Vol Peso Peso Peso


Q= , mas γ= Vol = Q=
t Vol γ γ.t

Exemplo: Balança: 20 kg (massa no S.I) ou 20 kgf (peso no S.T.)


Tempo: 10 s.

20kgf m3 L
Q= = 0,002 =2
kgf s s
1000 3 .10s
m

7.1.2 Método da velocidade

Este método envolve a determinação da velocidade e da seção


transversal do canal cuja vazão se quer medir.

Q=A.V
Em que:
Q – vazão;
A – área da seção do canal;
V – velocidade da água no canal.

a) Determinação da seção de escoamento

Em canais de grande porte e que apresentam seção irregular, rios por


exemplo, a seção de fluxo é obtida dividindo-se a seção transversal em
segmentos. A área de cada segmento é obtida multiplicando-se sua largura
pela profundidade média da seção. A soma das áreas fornece a área total
da seção de escoamento.

Figura – Determinação da seção do rio.

 Os cursos d’água naturais apresentam-se com seções


muito irregulares;
 Quando se tratar de pequeno córrego, pode-se enquadrar a
figura numa seção geométrica conhecida (retângulo,
trapézio, etc.);
 No caso da seção ser avantajada, pode-se subdividi-la em
subseções, para se ter uma maior precisão, como no
esquema abaixo.
b) Determinação da velocidade de escoamento

A determinação da velocidade média de escoamento é dificultosa,


uma vez que ocorrem variações significativas na sua intensidade dentro da
seção de escoamento.
O método do flutuador é utilizado para medir a velocidade de
escoamento quando não se necessita de grande precisão. Quando houver
esta necessidade, a velocidade é medida através de molinetes.

b.1) Método do flutuador

 Utilização: Grandes vazões (Q>300 L/s);


 Por meio de garrafa plástica, bóia, etc. mede-se a velocidade
superficial do escoamento;
 Esta velocidade superficial é na maioria das vezes, superior a
velocidade média do escoamento;
 Velocidade média corresponde de 80 a 90 % da velocidade
superficial.

Este método se aplica a trechos retilíneos de canal e que tenham


seção transversal uniforme. As medidas devem ser feitas em dias sem
vento, de forma a se evitar sua influência no caminhamento do flutuador.
Para facilitar a medida, devem ser esticados fios no início no meio e no
final do trecho onde se pretende medir a velocidade. O flutuador deve ser
solto à montante, a uma distância suficiente para adquirir a velocidade da
corrente, antes dele cruzar a seção inicial do trecho de teste. Com a
distância percorrida e o tempo, determina-se a velocidade média do
flutuador através da fórmula:

V = Espaço / Tempo

Q = Vmédia .A média

Figura – Método do flutuador (São Benedito – CE).

Como existe uma variação vertical da velocidade da água no canal,


utiliza-se a tabela a seguir para determinar a velocidade média da água em
todo o perfil (Vmédia = Vflutuador x K).

Tabela. Fator de correção da velocidade.

Profundidade média do canal (m) Fator de correção (K)


0,3 – 0,9 0,68
0,9 – 1,5 0,72
> 1,5 0,78

Outra fórmula que pode ser usada: Vmédia = 0,85.Vsup


Exemplo: Pretende-se medir a vazão de um rio através do método do
flutuador. Para tanto, foi delimitado um trecho de 15 m, que foi percorrido
pelo flutuador em 30, 28 e 32 s. A seção transversal representativa do
trecho está na figura. Determine: a) a seção de escoamento; b) a
velocidade média do flutuador; c) a velocidade média do rio; d) a vazão do
rio.

0,5m 0,8m 0,5m 1,5m 1,0m 1,1m

1m 1,2m 1m
2,1m 2,1m

Resolução:

• Área da seção:

0,5 x1,0
A1 = = 0,25m 2
2
1 + 1,2
A2 = x0,8 = 0,88m 2
2
1,2 + 2,1
A3 = x0,5 = 0,825m 2
2
A4 = 2,1x1,5 = 3,15m 2
2,1 + 1
A5 = x1,0 = 1,55m 2
2
1,1x1,0
A6 = = 0,55m 2
2
Atotal = 7,2 m2
• Velocidade do flutuador:

30 + 28 + 32
∆t = = 30 s
3
Espaço = 15 m

15
V = = 0,5m / s
30

• Velocidade média do rio:

Profundidade média = 1,48 m

Pela Tabela: K = 0,72

Vmédia = 0,72 x 0,5 = 0,36 m/s

• Vazão do rio:

Q = A . V = 7,2 . 0,36 = 2,59 m3/s

EXERCÍCIO:

b.2) Método do Molinete

 São pás ou hélices que giram impulsionadas pela velocidade de


escoamento;
 Servem para medir a velocidade em canais de grande porte, ou um
rio, visando a obtenção de informações mais precisas e rápidas;
 Estabelece-se uma proporcionalidade entre o número de voltas por
unidade de tempo e velocidade de escoamento;

Para medir a velocidade em canais de grande porte, ou um rio,


visando a obtenção de informações mais precisas e rápidas, utilizam-se os
molinetes. Quando o molinete é imerso no canal, as suas hélices adquirem
uma velocidade que é proporcional à velocidade da água. Esta última é
determinada medindo-se o tempo gasto para um certo número de
revoluções e utilizando-se a curva de calibração do molinete, que relaciona
a velocidade de rotação do molinete à velocidade da água no canal.
Figura – Molinete Price

As medições de velocidade podem ser feitas em múltiplas


profundidades, duas profundidades ou em uma única profundidade.

− Método das múltiplas profundidades: Consiste na medição da


velocidade em diversos pontos, desde o fundo do canal até a superfície
da água. Se a velocidade for medida em posições uniformemente
espaçadas, a velocidade média aproxima-se da média das velocidades
medidas.
− Método das duas profundidades: A velocidade é medida a 20 e 80% da
profundidade de cada segmento, começando a partir da superfície da
água. A velocidade média de escoamento é dada pela média das duas
velocidades.
− Método da profundidade única: A velocidade é determinada a 60% da
profundidade do canal. Este método é utilizado para canais com
profundidades inferiores a 30 cm.
7.1.3 Vertedores

Vertedores são aberturas feitas na parte superior de uma parede ou


placa, por onde o líquido escoa. Sua principal utilização se dá na medição
e controle da vazão em canais. Podem ser utilizados em cursos de água
naturais ou artificiais.
Utilização – pequenos cursos de água e canais.

Régua para medição da carga


hidráulica

Face: Presente nos


vertedores com
contrações laterais

Crista ou Soleira:
superfície por onde a
água extravasa

Vertedor retangular.
Os vertedores mais utilizados no controle da irrigação são os de
parede delgada (espessura da parede é inferior a metade da sua carga
hidráulica), com formato retangular, triangular e trapezoidal.
Esses tipos de vertedores não são recomendados para canais
transportando material em suspensão, uma vez que a precisão das medidas
é reduzida pelo acúmulo deste material no fundo do canal.

Cuidados na instalação do vertedor:


- a carga hidráulica (H) não deve ser inferior e nem superior a 60 cm;
- a carga hidráulica (H) deve ser medida a uma distância do vertedor
equivalente a 4H. Na prática adota-se uma distância de 1,5 m;
- a distância do fundo do canal à soleira do vertedor deve ser no
mínimo, 2H;
- o nível de água à jusante deve ficar, no mínimo, 10 cm abaixo da
soleira do vertedor.
4H

>2H
Vertedor

Figura – Instalação do vertedor.

• Vertedor Retangular (parede delgada)

Os vertedores retangulares são muito utilizados para medir e


controlar a vazão de canais de irrigação. Os vertedores podem ser
divididos em duas categorias: sem e com contração lateral.

Vertedor retangular.

Para a determinação da vazão através do vertedor retangular, sem


contração lateral, utiliza-se a fórmula a seguir:
3
Q = 1,838.L.H 2

Em que:
Q – vazão (m3/s);
H – carga hidráulica (m);
L – largura da soleira (m).
Figura. Vertedor retangular sem contração lateral.

Para a determinação da vazão através do vertedor retangular, com


contração lateral, utiliza-se a fórmula a seguir:
3

Q = 1,838(L − 0,2 H )H 2

Figura. Vertedor retangular com contração lateral.

EXEMPLO: Determine a vazão do canal sabendo que a soleira do


vertedor retangular (sem contração lateral) tem 2 m e a carga hidráulica
é de 35 cm.

Solução:
3
Q = 1,838.L.H 2

3
Q = 1,838.2.0,35 = 0,761m 3 / s
2

EXEMPLO: Determine a vazão do canal sabendo que a soleira do


vertedor retangular (com contração lateral) tem 2 m e a carga hidráulica
é de 35 cm.
Solução:
3
Q = 1,838(L − 0,2 H )H 2

Q = 1,838(2 − 0,2.0,35)0,35 = 0,735m 3 / s


2

• Vertedor Triangular (parede delgada)

Os vertedores triangulares são precisos para medir vazões na ordem


de 30 L/s, embora o desempenho até 300 L/s também seja bom.

Figura - Vertedor triangular (θ=90º), de paredes delgadas.

Para a determinação da vazão através do vertedor triangular (θ=90º),


utiliza-se a fórmula a seguir:
5
Q = 1,4.H 2

Em que:
Q – vazão (m3/s);
H – carga hidráulica (m);
EXEMPLO: Determine a vazão do canal sabendo que o vertedor
triangular tem um ângulo de 90º e a carga hidráulica é de 20 cm.

Solução:
5
Q = 1,4.H 2

5
Q = 1,4.0,2 = 0,025m 3 / s
2

• Vertedor Trapezoidal (parede delgada)

Para a determinação da vazão através do vertedor trapezoidal, utiliza-


se a fórmula a seguir:
3
Q = 1,86.L.H 2
Em que:
Q – vazão (m3/s);
H – carga hidráulica (m);
L – largura da soleira (m).

Figura. Vertedor trapezoidal (CIPOLLETTI).


EXEMPLO: Determine qual deve ser a largura da soleira em um
vertedor trapezoidal para medir uma vazão de 1700 L/s com uma carga
hidráulica de 50 cm.

Solução:
3
Q = 1,86.L.H 2
3
1,7
1,7 = 1,86.L.0,5 2 ⇒L= 3
= 2,59m
0,5 2 .1,86

7.1.4 Calhas

Uma calha é um equipamento de medição, construído ou instalado


em um canal, que permite a determinação da sua descarga através de uma
relação cota-vazão. Ela apresenta uma seção inicial convergente, que serve
para direcionar o fluxo para uma seção contraída, que funciona como uma
transição entre o canal e a garganta. Após a garganta, se inicia uma
divergente, cuja função é retornar o fluxo de água ao canal. A garganta
atua como uma seção de controle, onde ocorrem velocidade e altura de
escoamento críticas, que permitem a determinação da vazão com precisão
com uma única leitura do nível de água na seção convergente da calha.
Muitos são os tipos de calhas disponíveis, porém, os mais utilizados
são a Parshall e a WSC.
Figura – Calhas para medição de vazão.

7.2 Medidores de vazão em tubulações

7.2.1 Hidrômetros

Hidrômetros são aparelhos utilizados para a determinação da vazão


em tubos. O mais comum é o hidrômetro de volume. Esse hidrômetro
possui um compartimento que enche e esvazia continuamente,
determinando assim o volume que escoa em um certo intervalo de tempo.

Figura - Hidrômetros

7.2.2 Tubo de Venturi

O tubo venturi é um dispositivo de redução da seção de escoamento


da tubulação, graças ao qual a carga piezométrica é transformada em carga
de velocidade.
Medindo-se esta queda de pressão pode-se calcular a velocidade de
escoamento e, conseqüentemente, a vazão. A queda de pressão que se
verifica entre a entrada do venturímetro e a garganta pode ser relacionada à
vazão através da expressão:
P1 − P2
2g
γ
Q = C v .A g . 2
 Ag 
1 −  

 Ae 
Em que:

Q – vazão (m3/s);
Cv – coeficiente de vazão (normalmente Cv = 0,98);
Ag – área da garganta (m2);
Ae - área da entrada (m2);
P1 − P 2
– diferença de pressão entre a entrada e a garganta (mca);
γ

Figura – Venturímetro.

7.2.2 Diafragma (Orifício)

O diafragma consiste em uma placa com um orifício instalada em uma


tubulação. O funcionamento é semelhante ao venturímetro. O aumento da velocidade
de escoamento através do orifício implica em uma queda de pressão entre as faces de
montante e jusante da placa. A equação do venturímetro para determinação da vazão
pode ser utilizada para o diafragma, sendo adotado um Cv médio de 0,62.

P1 − P2
2g
γ
Q = C v .A g . 2
 Ag 
1 −  
 Ae 
Figura – Diafragma.

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