Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Unidade II
5 EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE E ENERGIAS ASSOCIADAS A UM FLUIDO
Na natureza, a massa e a energia são propriedades que se conservam, portanto, não podem ser
criadas nem destruídas durante um processo. Em sistemas fechados, a relação da conservação da massa
é empregada implicitamente, já que a massa do sistema permanece constante. Para um fluido escoando
por um volume arbitrário no espaço (volume de controle), ou para sistemas abertos, a massa pode
atravessar a fronteira do sistema e deve‑se considerar a relação entre a quantidade de massa que entra
e sai desse volume. Essa relação é chamada de equação da continuidade.
Em mecânica dos fluidos é comum a utilização do conceito de sistema e de volume de controle (VC).
Sistema é definido como uma quantidade de massa fixa separada do ambiente por suas fronteiras, que
podem ser fixas ou móveis. Já um volume de controle é um volume arbitrário no espaço por meio do
qual o fluido escoa.
Lembrete
62
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
Linhas de corrente
A2
v2
A1
v1
Tubo de corrente
A partir desse movimento, pode‑se estabelecer uma expressão para a conservação da massa do fluido.
Para o tubo de corrente anterior, as velocidades das seções retas de área A1 e A2 são, respectivamente, v1
e v2. Considerando um elemento de fluido que penetre na parte inferior do tubo de corrente da figura
anterior, o volume desse elemento (ΔV1) corresponde à área A1 vezes o comprimento ΔL1.
ΔV1 = A1 . ΔL1
O elemento de comprimento pode ser escrito em função da velocidade e do intervalo de tempo que
o fluido leva para percorrer o elemento de volume naquela extremidade do tubo:
ΔL1 = v1 . Δt
ΔV1 = A1 . v1 . Δt
A massa de fluido que entra na extremidade inferior do tubo durante o intervalo Δt corresponde à
massa específica ρ1 vezes o volume ΔV1. Assim:
m1 = ρ1 . A1 . v1 . Δt
Analogamente, a massa (m2) do fluido que sai pela extremidade superior durante o mesmo intervalo
de tempo é:
m2 = ρ2 . A2 . v2 . Δt
63
Unidade II
m1 = m2
ρ1 ⋅ A1 ⋅ v1 ⋅ ∆t = ρ2 ⋅ A2 ⋅ v2 ⋅ ∆t
ρ1 ⋅ A1 ⋅ v1 = ρ2 ⋅ A2 ⋅ v2
QM1 = QM2
Observação
Se o fluido em movimento for incompressível, como a massa específica é constante, então ρ1 = ρ2,
e a equação da continuidade ficará:
A1 . v1 = A2 . v2
Q1 = Q2
Verifica‑se que, para fluidos incompressíveis, as velocidades médias e as áreas são grandezas
inversamente proporcionais. Assim, uma diminuição da velocidade corresponde a um aumento da área.
Para sistemas com diversas entradas e saídas, a equação da continuidade pode ser generalizada para:
∑ QM = ∑ QM
Entrada Saída
64
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
Ou seja, a soma das vazões em massa na entrada é igual à soma das vazões em massa na saída.
∑ Q= ∑Q
Entrada Saída
Exemplo 1
Para encher um balde de 36 litros, utiliza‑se uma mangueira cujo diâmetro interno é de 2 cm e
se reduz a 0,9 cm na saída em virtude de um bocal. Sabe‑se que são necessários 55 segundos para
encher completamente o balde. Nessas condições, determine a vazão volumétrica da água através da
mangueira e a velocidade média da água na saída do bocal.
Resolução
Dados:
∀ = 36 l = 0,036 m³
Di = 2 cm = 0,02 m
DB = 0,9 cm = 0,009 m
t = 55 s
Q=?
v=?
Sabe‑se o volume do balde e o intervalo de tempo necessário para enchê‑lo. Dessa forma, tem‑se a
vazão volumétrica:
∀
Q=
t
36 × 10-3 m3
Q= = 0,654 × 10-3 m3 /s
55 s
65
Unidade II
Q
Q = v⋅A ⇒ v =
A
v = 10,28 m/s
Exemplo 2
Em um determinado circuito hidráulico, um reservatório admite água com uma vazão de 25 l/s.
Nesse mesmo reservatório, é trazido óleo por outra tubulação com uma vazão de 14 l/s. A mistura
homogênea formada é então descarregada por outro tubo cuja seção transversal tem uma área de 37
cm². Determine a velocidade da mistura.
água óleo
Reservatório
mistura
Figura 32
Resolução
Dados:
66
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
Q = Qágua + Qóleo
Q = 25 × 10-3 m3 /s + 14 × 10-3 m3 /s
Q = 39 × 10-3 m3 /s
Q
Q = v⋅A ⇒ v =
A
39 × 10-3 m3 /s 39 × 10-3 m3 1
v= =
37 × 10-4 m2 37 × 10-4 s m2
v = 10,54 m/s
Exemplo 3
b) A velocidade no ponto B.
Figura 33
67
Unidade II
Resolução
Dados:
DA = 50 mm
vA = 2,3 m/s
DB = 25 mm
QA = ?
QB = ?
vB = ?
QA = vA ⋅ AA
2 2
D 50 × 10-3 m m
Q A = v A ⋅ π A = 2,3 m/s ⋅ π = 2,3 ⋅ π ⋅ 625 × 10-6 m2
2 2 s
Apesar de a área da seção transversal no ponto B ser menor do que no ponto A, a vazão total precisa
ser a mesma. Desta forma:
2QB = QA
QA 4,52 × 10-3 m3 /s
QB = =
2 2
68
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
2,26 × 10-3 m3 1
vB =
π ⋅ 0,156 × 10-3 s m2
VB = 4,61 m/s
Exemplo 4
Em uma determinada indústria, o sistema hidráulico ilustrado a seguir opera com um fluido
específico (ρ = 600 kg/m³). Durante a inspeção do sistema, foi constatado um vazamento. Determine a
despesa diária com o fluido vazado, sabendo que seu custo é de R$ 0,05 por quilograma e que o sistema
hidráulico opera por 8 horas diárias. Dados: vA = 2,0 m/s; AA = 25 cm²; vB = 1,9 m/s e AB = 30 cm².
VA
A
vazamento
V = 6 m/s
VB
A = 20 cm 2 B
Figura 34
Resolução
Dados:
ρ = 600 kg/m³
C = 0,05 reais/kg
vA = 2,0 m/s
69
Unidade II
AA = 25 cm²
vB = 1,9 m/s
AB = 30 cm²
Q = QA + QB + Qv
ρ ⋅ v ⋅ A = ρ ⋅ v A ⋅ A A + ρ ⋅ v B ⋅ AB + Q V
Q V = ρ ( v ⋅ A - v A ⋅ A A - v B ⋅ AB )
( ) ( ) (
Q V = 600 kg/m3 6 m/s ⋅ 20 × 10 −4 m2 − 2 m/s ⋅ 25 × 10-4 m2 − 1,99 m/s ⋅ 30 × 10-4 m2
)
kg m3
(
Q V = 600 1,3 × 10-3 ) m3 s
Qv = 0,78 kg/s
Sabe‑se que o fluido tem um custo de 0,05 reais por quilograma. Assim, para as 8 horas (t = 28800
segundos) de operação do sistema hidráulico, tem‑se:
kg reais
V = 1123,2 s
s kg
V = 1123,20 reais
70
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
Da mesma forma, é possível estabelecer uma equação para conservação da energia de um fluido, já
que a energia de um sistema não pode ser criada nem destruída, apenas transformada. Para isso, serão
discutidos os tipos de energia associados a um fluido em movimento permanente.
W=G.z=m.g.z
∆Ep = −W
Como no plano horizontal de referência (PHR), a energia potencial é nula, então, a energia potencial
gravitacional no ponto z é dada por:
Ep = m . g . z
Ou seja, essa é a energia armazenada no sistema e que está associada à posição em relação ao plano
horizontal de referência. No SI a unidade para energia é:
kg ⋅ m2
J ( joule) =
s2
z
G = m.g
71
Unidade II
A energia cinética (Ec) é a energia associada ao movimento do fluido. Supondo um sistema com
massa m movendo‑se com velocidade v, a energia cinética é dada por:
m ⋅ v²
EC =
2
Analogamente, a energia de pressão (ou energia potencial de pressão) pode ser obtida por meio do
trabalho realizado pela força que causa a pressão p em um tubo de corrente (figura a seguir). Supondo
que a pressão seja uniforme, a força é dada por:
F=p.A
dW = F . ds = p . A . ds
Ou seja:
dW = p . dV
A dV
Figura 36 – Força exercida sobre tubo de corrente causando uma pressão sobre o fluido
72
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
dEpr = dW ⇒ dEpr = p ⋅ dV
Epr = ∫ p ⋅ dV
V
Para um fluido incompressível em movimento permanente, a energia mecânica total é dada pela
soma da energia cinética com a energia potencial (de posição e de pressão). A energia térmica não é
energia mecânica, já que, como previsto pela Segunda Lei da Termodinâmica, a energia térmica não
pode ser convertida em trabalho direta e completamente.
E = Ep + Ec + Epr
m ⋅ v2
E = m⋅ g⋅ z + + ∫ p ⋅ dV
2 V
dm1 = dm2 = dm
A2
V2
dm
dV1 dV2
z2
dm
V1
A1
z1
73
Unidade II
Nessa configuração, um elemento de massa nas seções (1) e (2) apresenta energia mecânica total
dada por:
dm ⋅ v12
Em (1): dE1 = dm ⋅ g ⋅ z1 + + p1 ⋅ dV1
2
dm ⋅ v22
Em (2): dE2 = dm ⋅ g ⋅ z2 + + p2 ⋅ dV2
2
Sabendo que a massa específica (r) de um fluido é definida como:
dm
ρ= ⇒ dV=ρ ⋅ dm
dV
dm ⋅ v22 p2
Em (2): dE2 = dm ⋅ g ⋅ z2 + + ⋅ dm
2 ρ2
Considerando que não existam perdas no sistema e que o regime de movimento seja permanente, a
energia no ponto (1) equivale à energia no ponto (2), ou seja:
dE1 = dE2
dm ⋅ v12 p1 dm ⋅ v22 p2
dm ⋅ g ⋅ z1 + + ⋅ dm = dm ⋅ g ⋅ z2 + + ⋅ dm
2 ρ1 2 ρ2
v12 p1 v22 p2
g ⋅ z1 + + = g ⋅ z2 + +
2 ρ1 2 ρ2
Portanto:
v12 p1 v22 p2
g ⋅ z1 + + = g ⋅ z2 + +
2 ρ 2 ρ
Dividindo a equação anterior pela aceleração da gravidade (g) e substituindo o produto (ρ∙g) por g
(peso específico do fluido), obtém‑se:
74
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
v12 p1 v2 p
z1 + + = z2 + 2 + 2
2g γ 2g γ
Essa equação é conhecida como Equação de Bernoulli e permite relacionar alturas, velocidades
e pressões de dois pontos do escoamento de um fluido ao longo de uma linha de corrente. Ou seja,
segundo a equação de Bernoulli:
v2 p
z + + = H = cons tan te
2g γ
em que H é a carga total do sistema (energia por unidade de peso) e sua unidade no SI é o metro (m). Assim:
H1 = H2
Observação
No sistema do tipo FLT, a dimensão da carga (ou energia por unidade de peso)
é L, por essa razão é comum a utilização do termo altura para essa grandeza.
Para empregar corretamente a equação de Bernoulli, é necessário que as seguintes condições sejam satisfeitas:
• movimento permanente;
• escoamento incompressível;
• trocas de calor;
75
Unidade II
Lembrete
Vale destacar que, apesar de todos os fluidos reais possuírem viscosidade, a equação de Bernoulli
pode ser utilizada em algumas regiões do escoamento, desde que as forças de atrito sejam desprezíveis
quando comparadas com as outras forças que atuam no fluido (figura a seguir).
Equação de Bernoulli é válida
Saiba mais
76
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
v2
ρ ⋅ g ⋅ z + ρ + p = cons tan te
2
Na equação anterior, cada parcela possui unidade de pressão e representa um tipo de pressão, como
detalhado a seguir:
A soma das pressões estática, dinâmica e hidrostática corresponde à pressão total do fluido. Portanto,
a equação de Bernoulli pode ser enunciada como:
A pressão de estagnação (pestagnação) é definida como a soma da pressão estática com a pressão
dinâmica, ou seja:
v2
pestagnação = p + ρ
2
77
Unidade II
ponto de
estagnação
Um exemplo clássico para descrever as três pressões é imaginar o vento batendo contra a mão em
regime permanente:
Exemplo 1
Considere a configuração ilustrada a seguir na qual uma caixa de água está a 30 m do nível do solo
e é alimentada por um cano com diâmetro interno de 20 mm. Este cano sai do nível do solo e sua vazão
é de 2,5 litros por segundo. Desprezando perdas nesse sistema, determine a diferença de pressão entre
as extremidades do cano. Dados: g = 10 m/s² e γ = 10000 N/m³.
cano
2
h = 30 m
Figura 40
78
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
Resolução
Dados:
h = 30 m
D = 20 mm
g = 10 m/s²
γ = 10000 N/m³
ΔP = ?
2,5 × 10-3 m3 1
v1 =
3,14 × 10-4 s m2
v1 = 7,96 m/s
v12 p1 v22 p2
z1 + + = z2 + +
2g γ 2g γ
v2 v2
γ z1+ 1 + p1 = γ z2 + 2 + p2
2 ⋅ g 2 ⋅ g
v2 v2
p1 − p2 = γ z2 + 2 − γ z1 + 1
2 ⋅ g 2 ⋅ g
79
Unidade II
p1 − p2 v2
= ( z2 − z1) + 1
γ 2⋅g
3
p1 − p2 = 10000 N / m 30 m −
(7, 96 m/s )
2
2 ⋅10 m/s2
63, 36 m2 s2
p1 − p2 = 10000 30 m - 2 m
N / m3 = 10000 (30 m - 3,17 m) N/m3
20 s
N
p1 − p2 = 268300 3
m = 268300 N/m2
m
p1 – p2 = 268,3 kPa
Exemplo 2
A água é retirada de um reservatório de grandes dimensões por meio de um sifão com diâmetro
interno de 1 cm, como ilustrado na figura a seguir. Considerando que a equação de Bernoulli é válida
para essa configuração, determine:
b) A vazão em m³/s
z1
z4
z2
z=0
v2
Figura 41
80
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
Resolução
Dados:
D = 1 cm
g = 10 m/s²
z1 = 60 cm
z2 = ‑25 cm
z3 = 90 cm
z4 = 35 cm
v12 p1 v2 p
z1 + + = z2 + 2 + 2
2g γ 2g γ
v22
z1 = z2 + ⇒ v2 = 2g ( z1 − z2 )
2g
(
v2 = 2 ⋅10 m/s2 ⋅ 60 × 10-2m - -25 × 10-2m
)
v2 = 20 m/s2 ⋅ 0, 85 m = 17 m2 /s2
v2 = 4,12 m/s
2 2
D 1 × 10 −2 m −5 m 2
Q = v2 ⋅ A2 = v2 ⋅ π = 4,12 m/s ⋅ π = 4 ,12 ⋅ 7, 85 4 × 10 m
2 2 s
Q = 3,24 × 10–4 m3 / s
81
Unidade II
Exemplo 3
Considere a configuração ilustrada a seguir. No ponto (1) da tubulação escoa água com
uma velocidade de 2 m/s a uma pressão de 300 kPa. No ponto (2) a pressão é de 200 kPa, e a
velocidade da água é de 4 m/s. Nessas condições, e desprezando perdas, determine a altura h.
Dados: g = 10 m/s² e γ = 10000 N/m³.
2
h
1
Figura 42
Resolução
Dados:
v1 = 2 m/s
p1 = 300 kPa
v2 = 4 m/s
p2 = 200 kPa
g = 10 m/s²
γ = 10000 N/m³
v12 p1 v22 p2
z1 + + = z2 + +
2g γ 2g γ
v12 p1 v22 p2
z2 − z1 = + − − ⇒h=
2g γ 2g γ
1 2 2 1
2g
(γ
)
v1 − v2 + (p1 − p2 )
82
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
h=
1
2 ⋅10 m/s
(2 m/s )2 − (4 m/s )2 +
2
1
10000 N/m3(300 × 103 Pa − 200 × 103 Pa )
s2 m2 3m
3
h = 0, 05 ⋅ ( −12) −4
+ 1 × 10 ⋅100 × 10 Pa
m s2 N
m3 N
h = −0, 6 m + 10 = −0, 6 m + 10 m
N m2
h = 9,4 m
Exemplo 4
(2)
(1)
Orifício
Figura 43
83
Unidade II
Resolução
Na superfície da água dentro do tanque, a velocidade é nula (v2 = 0), em razão de o tanque ser de
grandes dimensões e a pressão ser a atmosférica. Na saída da água, a pressão também é a atmosférica
(p1 = p2) e a velocidade é obtida pela equação de Bernoulli:
v12 p1 v2 p
z1 + + = z2 + 2 + 2
2g γ 2g γ
v12 1 v22
= z2 − z1 + (p2 − p1) +
2g γ 2g
Como p2 = p1 e v2 = 0, tem‑se:
v12
= z2 − z1 ⇒ v1 = 2g ( z2 − z1)
2g
v1 = 2 ⋅10 m/s2 (5 m - 0 m) = 20 ⋅ 5 m2 / s2
V1 = 10 m/s
Uma máquina é um dispositivo que realiza trabalho (adiciona energia) sobre um fluido ou extrai
trabalho (extrai energia) de um fluido. As máquinas que adicionam energia a um fluido são denominadas
bombas. Já as máquinas que extraem energia de um fluido são chamadas turbinas.
Considerando dois pontos (1 e 2) de uma linha de corrente, na ausência de máquinas, a energia por
unidade de peso (carga, H1) no ponto 1 é igual à energia por unidade de peso (carga, H2) no ponto 2. Ou
seja:
Na ausência de máquinas:
H1 = H2
6.3 Bombas
Se a máquina for uma bomba, o fluido receberá um acréscimo de energia durante seu escoamento
(figura a seguir). Dessa forma, a carga do ponto 2 é maior do que no ponto 1 (H2 > H1), e, considerando
o balanço de energia mecânica, a equação do sistema deve ser reescrita, levando em conta a energia
fornecida pela bomba por unidade de peso do fluido (carga, HB). Logo:
84
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
H1 + HB = H2
2
B
6.4 Turbinas
Se a máquina do sistema for uma turbina (figura a seguir), então a carga do ponto 2 é menor do
que a do ponto 1 (H2 < H1), e, considerando o balanço de energia mecânica, a equação do sistema
deve ser reescrita considerando a energia extraída pela turbina por unidade de peso do fluido
(carga, HT). Logo:
H1 – HT = H2
2
T
De maneira geral, a equação da energia de um sistema na presença de uma máquina pode ser escrita
em termos da carga da máquina (HM):
H1 + HM = H2
85
Unidade II
Ou seja:
HM = H2 – H1
Se:
p1 v12
H1 = z1 + +
γ 2g
p2 v22
H2 = z2 + +
γ 2g
em que:
g → aceleração da gravidade; e
(p2 − p1) 1 2 2
HM = (z2 − z1) + + ⋅ ( v2 − v1 )
γ 2g
86
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
v2
p1 M p2 z2
z1 v1
Saiba mais
A grandeza potência (N) é definida como o trabalho realizado por uma força por unidade de tempo.
Como trabalho relaciona‑se com a energia mecânica do sistema, a potência de uma máquina pode ser
descrita por:
energia mecânica
N=
tempo
Como o termo (energia mecânica/peso) representa a carga da máquina (HM), e o termo (peso/tempo)
representa a vazão em peso (QG), então a potência pode ser escrita como:
N = HM × QG
87
Unidade II
A vazão em peso corresponde ao produto entre o peso específico do fluido (g) e a vazão volumétrica
(Q), assim:
N=γ.Q.H
N = γ . Q . HB
N = γ . Q . HT
J ( joule)
= W (watt)
s (segundo)
A seguir, são mostrados os fatores de conversão entre as principais unidades para potência:
Contudo, caso exista transmissão de potência, existirão perdas associadas, e a potência recebida
ou cedida pelo fluido não coincidirá com a potência da máquina. Para o caso de bombas, a potência
recebida pelo fluido (N) é menor do que a potência da bomba (NB), como mostrado na figura a seguir:
N
NB
Motor
88
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
Dessa forma, define‑se o rendimento de uma bomba (ηB) como a razão entre a potência recebida
pelo fluido (N) e a fornecida pelo eixo da máquina (NB).
N
ηB =
NB
γ ⋅ Q ⋅ HB
ηB =
NB
Vale ressaltar que o rendimento de uma máquina é uma grandeza com valores entre 0 e 1. Por meio
da relação anterior, é possível determinar a potência de uma bomba.
γ ⋅ Q ⋅ HB
NB =
ηB
Para o caso da máquina ser uma turbina, o fluido cede potência para a turbina. Logo, a potência
cedida pelo fluido (N) será maior do que a potência da turbina (NT), como ilustrado na figura a seguir.
N
NT
Gerador
Assim, o rendimento de uma turbina (ηT) é definido com a razão entre a potência da turbina (NT) e
a potência cedida pelo fluido (N).
NT
ηT =
N
89
Unidade II
NT
ηT =
γ ⋅ Q ⋅ HT
Analogamente ao caso de uma bomba, é possível determinar a potência de uma turbina a partir da
relação de rendimento:
NT = γ . Q . HT . ηT
Exemplo 1
Piscina
30 m
Bomba
Figura 49
Resolução
Dados:
N = 5 kW
ηB = 0,70
90
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
z2 = 30 m
z1 = 0 m
γ = 10000 N/m³
Q=?
(p2 − p1) +
HB = ( z2 − z1) +
γ 2g
(
1 2 2
v2 − v1 )
Nesse caso, p2 = p1 e as velocidades v2 = v1 = 0, em razão dos reservatórios serem de grandes
dimensões. Assim:
HB = 30 m – 0 m
HB = 30 m
γ ⋅ Q ⋅ HB N ⋅ ηB
ηB = ⇒Q =
N γ ⋅ HB
5 × 103 W ⋅ 0, 70 5 × 103 ⋅ 0, 70 J m3 1
Q= =
10000 N/m3 ⋅ 30 m 10000 ⋅ 30 s N m
Lembrete
1 W = 1 J/s
1 J = 1 N.m
N ⋅ m m3 1
Q = 0, 012
s N m
Q = 0,012 m3/s
91
Unidade II
Exemplo 2
Considerando que a potência do eixo de uma turbina é de 500 kW e sua eficiência é de 90%, se
a vazão mássica através da turbina for de 575 kg/s, qual será a carga extraída do fluido pela turbina?
Adotar: g = 10 m/s².
Resolução
Dados:
NT = 500 kW
ηT = 0,90
QM = 575 kg/s
HT = ?
NT NT
NT = γ ⋅ Q ⋅ HT ⋅ ηT ⇒ HT = ⇒ HT =
γ ⋅ Q ⋅ ηT 10 ⋅ QM ⋅ ηT
QM = ρ ⋅ Q e γ = g ⋅ ρ = 10 ⋅ ρ
g ⋅ QM = g ⋅ ρ ⋅ Q ⇒ g ⋅ QM = γ ⋅ Q ⇒ γ ⋅ Q = 10 ⋅ QM
N ⋅ s2 kg ⋅ m s2
HT = 96, 62 = 96, 62 2
kg s kg
HT = 96,62 m
92
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
Exemplo 3
Determine a potência de uma bomba com rendimento de 90%, sabendo que a carga fornecida por
essa bomba é de 20 m e que por ela escoa água (γ = 10000 N/m³) com vazão volumétrica de 12 litros/s.
Resolução
Dados:
NB = ?
ηB = 0,90
HB = 20 m
γ ⋅ Q ⋅ HB γ ⋅ Q ⋅ HB
ηB = ⇒N=
N ηB
N = 2666,67 W
Exemplo 4
O reservatório A, ilustrado a seguir, possui grandes dimensões e fornece água (γ = 10000 N/m³) com
uma vazão volumétrica de 5 l/s para o reservatório B, por meio de uma tubulação seção transversal de
10 cm². Determine:
Adotar: g = 10 m/s²
93
Unidade II
20 m
B 5m
ref. M
Figura 50
Resolução
Dados:
Q = 5 l/s
A = 10 cm²
N=?
η = 0,75
(p2 − p1) +
HM = ( z2 − z1) +
γ 2g
(
1 2 2
v2 − v1 )
Em razão de o reservatório ser de grandes dimensões, v1 = 0. Além disso, as pressões nos dois
reservatórios são iguais p2 = p1. Dessa forma, tem‑se:
1 2
HM = ( z2 − z1) + v2
2g
A velocidade v2 é determinada pela equação da vazão volumétrica:
Q
Q = v2 ⋅ A ⇒ v2 =
A
5 × 10 −3 m3 /s m3 1
v2 = =5
10 × 10 −4 m2 s m2
v2 = 5 m/s
94
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
Assim, tem‑se:
1 2 1 1
HM = ( z2 − z1) + v2 = (5 m − 20 m) + ( )2
2
5 m/s = −15 m + 2
25 m2 /s2
2g 2 ⋅10m/s 20 m/s
25 s2 m2
HM = −15 m + = −15 m + 125
, m
20 m s2
HM = 13,75 m
NT = γ ⋅ Q ⋅ HT ⋅ ηT
N m3 N⋅m J
NT = 515, 62 3 m = 515, 62 = 515, 62
m s s s
NT = 515, 62 W
Exemplo 5
O reservatório 1, que é fechado e mantido a uma pressão de 105 Pa, fornece água para o reservatório 2
(aberto) por meio de uma tubulação com 35,5 mm de diâmetro. Sabendo que os dois reservatórios são de grandes
dimensões, e a vazão do sistema é de 5 l/s, determine se a máquina é uma bomba ou turbina e calcule sua
potência, sabendo que seu rendimento é de 75%. Dados: z1 = 10 m; z2 = 30 m; p1 = 105 Pa e γágua = 10000 N/m³.
(2)
(1) 30 m
10 m
ref.
M
Figura 51
95
Unidade II
Resolução
Dados:
D = 35,5 mm = 35 × 10–3 m
η = 0,75
z1 = 10 m
z2 = 30 m
p1 = 105 Pa
Para determinar se a máquina é bomba ou turbina, precisa‑se obter a carga da máquina (HM):
(p2 − p1) 1 2 2
HM = (z2 − z1) + + ⋅ ( v2 − v1 )
γ 2g
p1 105 Pa
HM = (z2 − z1) − = (30 m − 10 m) −
γ 10000 N/m3
N m3
HM = 20 m − 10 = 20 m − 10 m
m2 N
HM = 10 m
γ ⋅ Q ⋅ HB
NB =
ηB
96
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
Nm
. J
NB = 666, 67 = 666, 67
s s
NB = 666,67 W
Exemplo 6
O reservatório ilustrado a seguir fornece água com uma vazão de 100 litros/s. O diâmetro da tubulação
é de 35,5 mm. Determine se a máquina instalada é bomba ou turbina e calcule seu rendimento, sabendo
que sua potência é de 55 kW. Considere que não há perdas no sistema e que o reservatório é de grandes
dimensões. Dados: gágua = 1 x 104 N/m³ e g = 10 m/s².
(1)
20 m
(2)
Figura 52
Resolução
Dados:
N = 575 kW
g = 10 m/s2
97
Unidade II
Para determinar se a máquina é bomba ou turbina, é necessário calcular a carga HM, dessa forma:
(p2 − p1) 1 2 2
HM = (z2 − z1) + + ⋅ ( v2 − v1 )
γ 2g
Q Q
Q = v2 ⋅ A ⇒ v2 = = 2
A D
π⋅
2
100 × 10 −3 m3 / s 100 × 10 −3 m3 1
v2 = =
35, 5 × 10 −3 m
2
9, 90 × 10 −4 s m2
π⋅
2
V2 = 101,01 m/s
Assim, tem‑se:
1 2 1
HM = (z2 − z1) + ⋅ v2 = 20 m + 2 (101, 01 m/s )2
2g 2 ⋅10 m/s
m2 s2
HM = 20 m + 510,15 = 20 m + 510,15 m
s2 m
HM = 530,15 m
γ ⋅ Q ⋅ HB
ηB =
NB
98
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
N m3 1 N⋅m s Js
ηB = 0, 92 m = 0, 92 = 0, 92
m3 s W s J sJ
ηB = 0,92
Resumo
QM1 = QM2 ⇒ ρ1 . A1 . v1 = ρ2 . A2 . v2
em que:
A1 . v1 = A2 . v2 ⇒ Q1 . Q2
∑ QM = ∑ QM
Entrada Saída
∑ Q= ∑Q
Entrada Saída
Ep = m . g . z
m ⋅ v2
EC =
2
Epr = ∫ p ⋅ dV
V
m ⋅ v2
E = Ep + Ec + Epr ⇒ E = m⋅ g⋅ z + + ∫ p ⋅ dV
2 V
v12 p1 v2 p
H1 = H2 ⇒ z1 + + = z2 + 2 + 2
2g γ 2g γ
H1 + HB = H2
H1 – HT = H2
N=γ.Q.H
100
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
γ ⋅ Q ⋅ HB
ηB =
NB
NT = γ . Q . HT . ηT
Exercícios
Questão 1. Uma indústria utiliza cerca de 9 m3 de água a cada hora de seu funcionamento. Para
evitar problemas de abastecimento, foi efetuada uma instalação que contém um tanque logo abaixo do
piso e outro localizado no topo do prédio, que apresenta 50 metros de altura.
Para elevar a água até o tanque superior, foi colocada uma bomba na instalação, como mostra a
figura a seguir.
2m
50m
B 2,5m
Piso
5m
5m
Figura 53
101
Unidade II
Para essa situação, a altura manométrica (hbomba) e a potência (W) da bomba devem ser:
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: a altura manométrica indicada é a necessária para elevar a água com velocidade zero
na saída da tubulação sem considerar as perdas na tubulação.
B) Alternativa incorreta.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: nessa alternativa, além da altura manométrica indicada ser a mesma que a da
alternativa A (menor que a verdadeira), a potência é a indicada na alternativa B (também menor
que a verdadeira).
D) Alternativa correta.
E) Alternativa incorreta.
102
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
Solução da questão
Para resolver o problema, podemos aplicar a equação de Bernoulli entre os pontos 1 e 2 mostrados
na figura a seguir.
2m
2
50m
B 1 2,5m
Piso
5m
5m
p1 v12 p2 v22
+ h1 + + hbomba = + h2 + + hperdas
γ 2g γ 2g
Tomando o plano do ponto 1 como o plano horizontal de referência (h1 = 0), podemos escrever:
v22
0 + 0 + 0 + hbomba = 0 + h2 + + hperdas
2g
v22
hbomba = 52, 5m + + hperdas
2g
Sabendo que a vazão (Q) é igual a 9,0 m3/h e que a tubulação possui um diâmetro (d) de 40 mm, a
velocidade do fluido (v) na tubulação é:
Q Q 4 ⋅Q
v= = 2
=
A π ⋅d π ⋅ d2
4
m3 m3
4 ⋅9 4 ⋅9
v= h = 3600s
π ⋅ (40mm) π. ( 0, 04m)
2 2
4 ⋅9 m
v= 2
π.0, 04 ⋅ 3600 s
103
Unidade II
m
v ≅ 2, 0
s
A perda manométrica na tubulação (hperdas) é a soma da perda distribuída pelo comprimento da tubulação
com as perdas singulares que ocorrem em cada componente da instalação (curvas, cotovelos, válvulas, etc.).
W = γ . Q . hbomba
W = ρ . g . Q.hbomba
kg m3m
W = 1000 3 ⋅10 2 ⋅ 9 .61, 3m
m s 3600s
W ≅ 1500W
W = 15
, kW
Questão 2 (Enade, 2011 adaptada). O petróleo é retirado das jazidas por meio de perfurações na
crosta terrestre, através das quais se atinge o poço petrolífero. O petróleo jorra espontaneamente devido
à grande pressão de seus gases. Uma empresa especializada em perfurar poços foi contratada para
pesquisar a existência de petróleo em uma região. Durante o processo de perfuração, verificou-se que,
ao atingir 100 m de profundidade, o poço jorra petróleo espontaneamente a uma altura h = 18 m
acima do solo. A empresa pede para um especialista fazer uma análise desse problema clássico. Após
esquematizar o problema, conforme figura a seguir, ele considera razoável admitir que as perdas por
atrito com o ar são em torno de 10% da carga total do jato de petróleo na saída do poço.
104
FENÔMENOS DE TRANSPORTE
3 3 PHR
Solo
100 m
Gases
1 1
2 2
P2
Petróleo
Figura 55
Dados:
105