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Unidade II

Unidade II
5 EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE E ENERGIAS ASSOCIADAS A UM FLUIDO

5.1 Equação da continuidade para regime permanente

Na natureza, a massa e a energia são propriedades que se conservam, portanto, não podem ser
criadas nem destruídas durante um processo. Em sistemas fechados, a relação da conservação da massa
é empregada implicitamente, já que a massa do sistema permanece constante. Para um fluido escoando
por um volume arbitrário no espaço (volume de controle), ou para sistemas abertos, a massa pode
atravessar a fronteira do sistema e deve‑se considerar a relação entre a quantidade de massa que entra
e sai desse volume. Essa relação é chamada de equação da continuidade.

Em mecânica dos fluidos é comum a utilização do conceito de sistema e de volume de controle (VC).
Sistema é definido como uma quantidade de massa fixa separada do ambiente por suas fronteiras, que
podem ser fixas ou móveis. Já um volume de controle é um volume arbitrário no espaço por meio do
qual o fluido escoa.

No estudo do movimento de um fluido, emprega‑se o conceito de linhas e de tubo de corrente para


descrever como as partículas do fluido se movem. Considerando um fluido em movimento permanente
pelo tubo de corrente da figura a seguir, por definição, o fluido dentro do tubo de corrente não pode
cruzar a fronteira dessa superfície.

Lembrete

• Linha de corrente – linha contínua e tangente ao vetor velocidade


instantânea para cada ponto do campo de escoamento.

• Tubo de corrente – superfície formada por todas as linhas de corrente


que passam pelos pontos de uma dada linha geométrica fechada.

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FENÔMENOS DE TRANSPORTE

Linhas de corrente

A2

v2

A1

v1

Tubo de corrente

Figura 31 – Tubo de corrente em um fluido que escoa em regime não turbulento

A partir desse movimento, pode‑se estabelecer uma expressão para a conservação da massa do fluido.
Para o tubo de corrente anterior, as velocidades das seções retas de área A1 e A2 são, respectivamente, v1
e v2. Considerando um elemento de fluido que penetre na parte inferior do tubo de corrente da figura
anterior, o volume desse elemento (ΔV1) corresponde à área A1 vezes o comprimento ΔL1.

ΔV1 = A1 . ΔL1

O elemento de comprimento pode ser escrito em função da velocidade e do intervalo de tempo que
o fluido leva para percorrer o elemento de volume naquela extremidade do tubo:

ΔL1 = v1 . Δt

Portanto, o elemento de volume fica:

ΔV1 = A1 . v1 . Δt

A massa de fluido que entra na extremidade inferior do tubo durante o intervalo Δt corresponde à
massa específica ρ1 vezes o volume ΔV1. Assim:

m1 = ρ1 . A1 . v1 . Δt

Analogamente, a massa (m2) do fluido que sai pela extremidade superior durante o mesmo intervalo
de tempo é:

m2 = ρ2 . A2 . v2 . Δt

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Como nenhum fluido se acumula no tubo de corrente, em regime permanente de escoamento as


duas massas, m1 e m2, são iguais. Logo:

m1 = m2

ρ1 ⋅ A1 ⋅ v1 ⋅ ∆t = ρ2 ⋅ A2 ⋅ v2 ⋅ ∆t

ρ1 ⋅ A1 ⋅ v1 = ρ2 ⋅ A2 ⋅ v2

Essa equação é conhecida como equação da continuidade e representa a conservação de massa em


fluxo constante. Assim, em regime permanente, a vazão mássica será conservada:

QM1 = QM2

Observação

Na literatura, alguns autores aplicam a consideração anterior de


conservação de massa a um tubo de corrente. Porém, também é comum
que a lei de conservação de massa seja aplicada a um sistema e, em seguida,
estendida a um volume de controle.

5.2 Equação da continuidade para fluidos incompressíveis

Se o fluido em movimento for incompressível, como a massa específica é constante, então ρ1 = ρ2,
e a equação da continuidade ficará:

A1 . v1 = A2 . v2

Ou seja, a vazão volumétrica se conserva:

Q1 = Q2

Verifica‑se que, para fluidos incompressíveis, as velocidades médias e as áreas são grandezas
inversamente proporcionais. Assim, uma diminuição da velocidade corresponde a um aumento da área.

5.3 Entradas e saídas não únicas

Para sistemas com diversas entradas e saídas, a equação da continuidade pode ser generalizada para:

∑ QM = ∑ QM
Entrada Saída

64
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

Ou seja, a soma das vazões em massa na entrada é igual à soma das vazões em massa na saída.

A mesma análise pode ser aplicada para um fluido incompressível:

∑ Q= ∑Q
Entrada Saída

Exemplo 1

Para encher um balde de 36 litros, utiliza‑se uma mangueira cujo diâmetro interno é de 2 cm e
se reduz a 0,9 cm na saída em virtude de um bocal. Sabe‑se que são necessários 55 segundos para
encher completamente o balde. Nessas condições, determine a vazão volumétrica da água através da
mangueira e a velocidade média da água na saída do bocal.

Resolução

Dados:

∀ = 36 l = 0,036 m³

Di = 2 cm = 0,02 m

DB = 0,9 cm = 0,009 m

t = 55 s

Q=?

v=?

Sabe‑se o volume do balde e o intervalo de tempo necessário para enchê‑lo. Dessa forma, tem‑se a
vazão volumétrica:


Q=
t

36 × 10-3 m3
Q= = 0,654 × 10-3 m3 /s
55 s

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A velocidade média da água na saída do bocal é obtida por meio da relação:

Q
Q = v⋅A ⇒ v =
A

Q 0,654 × 10-3 m3 /s 0,654×10 −3 m3 1


v= 2
= 2
=
D   0,009 m  6,362×10-5 s m2
π B  π
 2  2 

v = 10,28 m/s

Exemplo 2

Em um determinado circuito hidráulico, um reservatório admite água com uma vazão de 25 l/s.
Nesse mesmo reservatório, é trazido óleo por outra tubulação com uma vazão de 14 l/s. A mistura
homogênea formada é então descarregada por outro tubo cuja seção transversal tem uma área de 37
cm². Determine a velocidade da mistura.

água óleo

Reservatório

mistura

Figura 32

Resolução

Dados:

Q água = 25 l/s = 25 × 10-3 m3 /s

Q óleo = 14 l/s = 14 × 10-3 m3 /s


A = 37 cm2 = 37 × 10-4 m2

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FENÔMENOS DE TRANSPORTE

A vazão total é a soma da vazão da água e vazão do óleo:

Q = Qágua + Qóleo

Q = 25 × 10-3 m3 /s + 14 × 10-3 m3 /s

Q = 39 × 10-3 m3 /s

Para determinara velocidade da mistura, tem‑se:

Q
Q = v⋅A ⇒ v =
A

39 × 10-3 m3 /s 39 × 10-3 m3 1
v= =
37 × 10-4 m2 37 × 10-4 s m2

v = 10,54 m/s

Exemplo 3

Em um determinado sistema com escoamento de água, no ponto A, o diâmetro do tubo é de 50 mm


e a velocidade da água é de 2,3 m/s. O conduto se bifurca em dois condutos menores, cada um com
diâmetro de 25 mm. Nessas condições, determine:

a) As vazões nos pontos A e B;

b) A velocidade no ponto B.

Figura 33

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Resolução

Dados:

DA = 50 mm

vA = 2,3 m/s

DB = 25 mm

QA = ?

QB = ?

vB = ?

Para determinar a vazão no ponto A, utilizar a equação:

QA = vA ⋅ AA

2 2
D   50 × 10-3 m  m
Q A = v A ⋅ π  A  = 2,3 m/s ⋅ π   = 2,3 ⋅ π ⋅ 625 × 10-6 m2
 2  2  s

QA = 4,52 × 10–3 m3/s

Apesar de a área da seção transversal no ponto B ser menor do que no ponto A, a vazão total precisa
ser a mesma. Desta forma:

2QB = QA

QA 4,52 × 10-3 m3 /s
QB = =
2 2

QB = 2,26 × 10–3 m3/s

A velocidade da água no ponto B é obtida por meio da relação:

QB = vB . AB = 2,26 × 10–3 m3/s

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FENÔMENOS DE TRANSPORTE

2,26 × 10-3 m3 /s 2,26 × 10-3 m3 /s 2,26 × 10-3 m3 /s


vB = = 2
= 2
AB  DB   25 × 10 −3 m 
π  π
 2 2 
 

2,26 × 10-3 m3 1
vB =
π ⋅ 0,156 × 10-3 s m2

VB = 4,61 m/s

Exemplo 4

Em uma determinada indústria, o sistema hidráulico ilustrado a seguir opera com um fluido
específico (ρ = 600 kg/m³). Durante a inspeção do sistema, foi constatado um vazamento. Determine a
despesa diária com o fluido vazado, sabendo que seu custo é de R$ 0,05 por quilograma e que o sistema
hidráulico opera por 8 horas diárias. Dados: vA = 2,0 m/s; AA = 25 cm²; vB = 1,9 m/s e AB = 30 cm².
VA

A
vazamento

V = 6 m/s
VB
A = 20 cm 2 B

Figura 34

Resolução

Dados:

ρ = 600 kg/m³

C = 0,05 reais/kg

vA = 2,0 m/s

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AA = 25 cm²

vB = 1,9 m/s

AB = 30 cm²

Para determinar a quantidade de fluido perdido em virtude do vazamento, é necessário calcular


todas as vazões envolvidas:

Q = QA + QB + Qv

ρ ⋅ v ⋅ A = ρ ⋅ v A ⋅ A A + ρ ⋅ v B ⋅ AB + Q V

Q V = ρ ( v ⋅ A - v A ⋅ A A - v B ⋅ AB )

( ) ( ) (
Q V = 600 kg/m3  6 m/s ⋅ 20 × 10 −4 m2 − 2 m/s ⋅ 25 × 10-4 m2 − 1,99 m/s ⋅ 30 × 10-4 m2 
  )
kg m3
(
Q V = 600 1,3 × 10-3 ) m3 s

Qv = 0,78 kg/s

Sabe‑se que o fluido tem um custo de 0,05 reais por quilograma. Assim, para as 8 horas (t = 28800
segundos) de operação do sistema hidráulico, tem‑se:

V = t ⋅ Q V ⋅ C = 28800 s ⋅ 0,78 kg/s ⋅ 0,05 reais/kg

kg reais
V = 1123,2 s
s kg

V = 1123,20 reais

Portanto, a despesa diária em virtude do vazamento do fluido é de R$ 1.123,20.

5.4 Energia potencial (Ep)

Anteriormente, foram discutidos conceitos relacionados com a conservação da massa de um fluido.


Em regime permanente, o fluxo de massa por unidade de tempo em uma seção transversal se mantém
constante, o que pode ser expresso por meio da equação da continuidade.

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FENÔMENOS DE TRANSPORTE

Da mesma forma, é possível estabelecer uma equação para conservação da energia de um fluido, já
que a energia de um sistema não pode ser criada nem destruída, apenas transformada. Para isso, serão
discutidos os tipos de energia associados a um fluido em movimento permanente.

Considerando um sistema de massa m, abandonado do repouso a uma distância z do plano horizontal


de referência (figura a seguir), o trabalho (W) realizado pela força peso é dado pelo produto entre a força
e o deslocamento:

W=G.z=m.g.z

A variação da energia potencial de um sistema equivale ao negativo do trabalho realizado pela


força, assim:

∆Ep = −W

Como no plano horizontal de referência (PHR), a energia potencial é nula, então, a energia potencial
gravitacional no ponto z é dada por:

Ep = m . g . z

Ou seja, essa é a energia armazenada no sistema e que está associada à posição em relação ao plano
horizontal de referência. No SI a unidade para energia é:

kg ⋅ m2
J ( joule) =
s2

z
G = m.g

Plano horizontal de referência

Figura 35 – Sistema de massa m a uma distância z do plano horizontal de referência (PHR)

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5.5 Energia cinética (Ec)

A energia cinética (Ec) é a energia associada ao movimento do fluido. Supondo um sistema com
massa m movendo‑se com velocidade v, a energia cinética é dada por:

m ⋅ v²
EC =
2

5.6 Energia de pressão (Epr)

Analogamente, a energia de pressão (ou energia potencial de pressão) pode ser obtida por meio do
trabalho realizado pela força que causa a pressão p em um tubo de corrente (figura a seguir). Supondo
que a pressão seja uniforme, a força é dada por:

F=p.A

Se a força causar um deslocamento ds durante um intervalo de tempo dt, o trabalho dW exercido


pela força será:

dW = F . ds = p . A . ds

Ou seja:

dW = p . dV

sendo dV o elemento de volume.


ds

A dV

Figura 36 – Força exercida sobre tubo de corrente causando uma pressão sobre o fluido

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FENÔMENOS DE TRANSPORTE

Portanto, a energia de pressão (Epr) será:

dEpr = dW ⇒ dEpr = p ⋅ dV

Epr = ∫ p ⋅ dV
V

5.7 Energia mecânica total (E)

Para um fluido incompressível em movimento permanente, a energia mecânica total é dada pela
soma da energia cinética com a energia potencial (de posição e de pressão). A energia térmica não é
energia mecânica, já que, como previsto pela Segunda Lei da Termodinâmica, a energia térmica não
pode ser convertida em trabalho direta e completamente.

Dessa forma, a energia mecânica total do sistema é:

E = Ep + Ec + Epr

m ⋅ v2
E = m⋅ g⋅ z + + ∫ p ⋅ dV
2 V

6 EQUAÇÃO DE BERNOULLI E EQUAÇÃO DA ENERGIA NA PRESENÇA DE


MÁQUINAS

A conservação da energia mecânica aplicada ao escoamento de um fluido leva à equação conhecida


como Equação de Bernoulli, obtida pelo matemático suíço Daniel Bernoulli no século XVIII em seu
tratado Hidrodynamics. Considerando um fluido incompressível e um tubo de corrente limitado por
seções transversais de área A1 e A2 (figura a seguir), a quantidade de massa (dm1) que atravessa A1
equivale à quantidade de massa (dm2) que atravessa A2. Ou seja:

dm1 = dm2 = dm
A2

V2

dm
dV1 dV2
z2
dm

V1
A1
z1

Plano horizontal de referência

Figura 37 – Tubo de corrente limitado por seções transversais de área A1 e A2.

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Nessa configuração, um elemento de massa nas seções (1) e (2) apresenta energia mecânica total
dada por:
dm ⋅ v12
Em (1): dE1 = dm ⋅ g ⋅ z1 + + p1 ⋅ dV1
2

dm ⋅ v22
Em (2): dE2 = dm ⋅ g ⋅ z2 + + p2 ⋅ dV2
2
Sabendo que a massa específica (r) de um fluido é definida como:

dm
ρ= ⇒ dV=ρ ⋅ dm
dV

As equações da energia mecânica total nas seções (1) e (2) ficam:


dm ⋅ v12 p1
Em (1): dE1 = dm ⋅ g ⋅ z1 + + ⋅ dm
2 ρ1

dm ⋅ v22 p2
Em (2): dE2 = dm ⋅ g ⋅ z2 + + ⋅ dm
2 ρ2
Considerando que não existam perdas no sistema e que o regime de movimento seja permanente, a
energia no ponto (1) equivale à energia no ponto (2), ou seja:

dE1 = dE2

dm ⋅ v12 p1 dm ⋅ v22 p2
dm ⋅ g ⋅ z1 + + ⋅ dm = dm ⋅ g ⋅ z2 + + ⋅ dm
2 ρ1 2 ρ2

v12 p1 v22 p2
g ⋅ z1 + + = g ⋅ z2 + +
2 ρ1 2 ρ2

Para um fluido incompressível: r1 = r2 = r

Portanto:

v12 p1 v22 p2
g ⋅ z1 + + = g ⋅ z2 + +
2 ρ 2 ρ

Dividindo a equação anterior pela aceleração da gravidade (g) e substituindo o produto (ρ∙g) por g
(peso específico do fluido), obtém‑se:

74
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

v12 p1 v2 p
z1 + + = z2 + 2 + 2
2g γ 2g γ

Essa equação é conhecida como Equação de Bernoulli e permite relacionar alturas, velocidades
e pressões de dois pontos do escoamento de um fluido ao longo de uma linha de corrente. Ou seja,
segundo a equação de Bernoulli:

v2 p
z + + = H = cons tan te
2g γ

em que H é a carga total do sistema (energia por unidade de peso) e sua unidade no SI é o metro (m). Assim:

H1 = H2

E cada parcela da equação de Bernoulli refere‑se a um tipo de carga:

• z → carga potencial (energia potencial por unidade de peso);



• → carga cinética (energia cinética por unidade de peso); e
2g
p
• à carga de pressão (energia de pressão por unidade de peso).
γ
Portanto, a equação de Bernoulli expressa que para um fluido ideal, incompressível, em escoamento
permanente, as cargas totais se mantêm constantes ao longo de uma linha de corrente. Ela é análoga
ao princípio da conservação da energia mecânica, pois afirma que as formas de energia mecânica são
convertidas entre si, mas a soma delas permanece constante.

Observação

No sistema do tipo FLT, a dimensão da carga (ou energia por unidade de peso)
é L, por essa razão é comum a utilização do termo altura para essa grandeza.

6.1 Considerações da equação de Bernoulli

Para empregar corretamente a equação de Bernoulli, é necessário que as seguintes condições sejam satisfeitas:

• movimento permanente;

• escoamento incompressível;

• trocas de calor;

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• forças de atrito são desprezíveis;

• escoamento ao longo de uma linha de corrente; e

• ausência de máquinas no trecho.

Lembrete

Uma linha de corrente é uma linha contínua e tangente ao vetor


velocidade instantânea para cada ponto do campo de escoamento.

Vale destacar que, apesar de todos os fluidos reais possuírem viscosidade, a equação de Bernoulli
pode ser utilizada em algumas regiões do escoamento, desde que as forças de atrito sejam desprezíveis
quando comparadas com as outras forças que atuam no fluido (figura a seguir).
Equação de Bernoulli é válida

Equação de Bernoulli não é válida

Figura 38 – Regiões em que a equação de Bernoulli é válida

Saiba mais

Para saber mais sobre a utilização da equação de Bernoulli, acesse:

O QUE é equação de Bernoulli. Khan Academy, [s.d.]. Disponível em:


<https://pt.khanacademy.org/science/physics/fluids/fluid‑dynamics/a/
what‑is‑bernoullis‑equation>. Acesso em: 12 dez. 2016.

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FENÔMENOS DE TRANSPORTE

6.2 Pressão estática, dinâmica e de estagnação

Multiplicando a equação de Bernoulli pelo peso específico do fluido ( g = ρ∙g), tem‑se:

v2
ρ ⋅ g ⋅ z + ρ + p = cons tan te
2

Na equação anterior, cada parcela possui unidade de pressão e representa um tipo de pressão, como
detalhado a seguir:

• p → é chamada de pressão estática e representa a pressão termodinâmica do fluido.


v2
• ρ → é chamada de pressão dinâmica; e representa o aumento de pressão quando o fluido em
2
movimento é parado.

• ρ . g . z → é chamada de pressão hidrostática e representa a possível variação da pressão com a altura.

A soma das pressões estática, dinâmica e hidrostática corresponde à pressão total do fluido. Portanto,
a equação de Bernoulli pode ser enunciada como:

A pressão total permanece constante ao longo de cada linha de corrente para o


escoamento permanente de um fluido incompressível.

A pressão de estagnação (pestagnação) é definida como a soma da pressão estática com a pressão
dinâmica, ou seja:

pestagnação = pestática + pdinâmica

v2
pestagnação = p + ρ
2

A pressão de estagnação corresponde à pressão em um ponto quando o fluido é parado


completamente. O ponto em que isso ocorre é chamado de ponto de estagnação. Para corpos que
exibem geometria regular, o ponto de estagnação pode ser facilmente determinado por considerações
de simetria (figura a seguir), já para objetos de geometria irregular, a determinação do ponto de
estagnação não é óbvia.

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Unidade II

ponto de
estagnação

Figura 39 – Ponto de estagnação em escoamento sobre uma esfera

Um exemplo clássico para descrever as três pressões é imaginar o vento batendo contra a mão em
regime permanente:

• A pressão atmosférica é a pressão estática.

• A pressão que se sente na palma da mão é a pressão de estagnação.

• O acréscimo de pressão, em relação à atmosférica, é a pressão dinâmica.

Exemplo 1

Considere a configuração ilustrada a seguir na qual uma caixa de água está a 30 m do nível do solo
e é alimentada por um cano com diâmetro interno de 20 mm. Este cano sai do nível do solo e sua vazão
é de 2,5 litros por segundo. Desprezando perdas nesse sistema, determine a diferença de pressão entre
as extremidades do cano. Dados: g = 10 m/s² e γ = 10000 N/m³.

cano
2

h = 30 m

Figura 40

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FENÔMENOS DE TRANSPORTE

Resolução

Dados:

h = 30 m

D = 20 mm

Q = 2,5 l/s = 2,5 × 10–3 m3/s

g = 10 m/s²

γ = 10000 N/m³

ΔP = ?

Pela equação da continuidade, pode‑se determinar a velocidade da água no interior do encanamento:

v1 . A1 = 2,5 × 10–3 m3/s

2,5 × 10-3 m3 /s 2,5 × 10-3 m3 /s 2,5 × 10-3 m3 /s


v1 = = 2
= 2
A1  D  20 × 10-3 m 
π  π
 2 2 
 

2,5 × 10-3 m3 1
v1 =
3,14 × 10-4 s m2

v1 = 7,96 m/s

Aplicando a equação de Bernoulli:

v12 p1 v22 p2
z1 + + = z2 + +
2g γ 2g γ

 v2   v2 
γ  z1+ 1  + p1 = γ  z2 + 2  + p2
 2 ⋅ g  2 ⋅ g

 v2   v2 
p1 − p2 = γ  z2 + 2  − γ  z1 + 1 
 2 ⋅ g  2 ⋅ g

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Unidade II

Sabe‑se que v2 = 0 m/s e que z2 – z1 = 30 m. Assim, tem‑se:

p1 − p2 v2
= ( z2 − z1) + 1
γ 2⋅g


3
p1 − p2 = 10000 N / m 30 m −
(7, 96 m/s ) 
2

 2 ⋅10 m/s2 

 63, 36 m2 s2 
p1 − p2 = 10000  30 m - 2 m
N / m3 = 10000 (30 m - 3,17 m) N/m3
 20 s 

N
p1 − p2 = 268300 3
m = 268300 N/m2
m

p1 – p2 = 268,3 kPa

Exemplo 2

A água é retirada de um reservatório de grandes dimensões por meio de um sifão com diâmetro
interno de 1 cm, como ilustrado na figura a seguir. Considerando que a equação de Bernoulli é válida
para essa configuração, determine:

a) A velocidade v2 na saída do sifão; e

b) A vazão em m³/s

Dados: g = 10 m/s²; z1 = 60 cm; z2 = ‑25 cm; z3 = 90 cm e z4 = 35 cm


z3

z1

z4

z2
z=0
v2

Figura 41

80
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

Resolução

Dados:

D = 1 cm

g = 10 m/s²

z1 = 60 cm

z2 = ‑25 cm

z3 = 90 cm

z4 = 35 cm

Entre os pontos 1 e 2, tem‑se:

v12 p1 v2 p
z1 + + = z2 + 2 + 2
2g γ 2g γ

Em virtude de as extremidades estarem abertas p1 = p2 = 0 e v1 = 0, pois o reservatório é de


grandes dimensões.

v22
z1 = z2 + ⇒ v2 = 2g ( z1 − z2 )
2g

(
v2 = 2 ⋅10 m/s2 ⋅ 60 × 10-2m - -25 × 10-2m 
  )
v2 = 20 m/s2 ⋅ 0, 85 m = 17 m2 /s2

v2 = 4,12 m/s

A vazão é dada por Q = v2 . A2:

2 2
 D  1 × 10 −2 m  −5 m 2
Q = v2 ⋅ A2 = v2 ⋅ π   = 4,12 m/s ⋅ π   = 4 ,12 ⋅ 7, 85 4 × 10 m
 2  2  s

Q = 3,24 × 10–4 m3 / s

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Unidade II

Exemplo 3

Considere a configuração ilustrada a seguir. No ponto (1) da tubulação escoa água com
uma velocidade de 2 m/s a uma pressão de 300 kPa. No ponto (2) a pressão é de 200 kPa, e a
velocidade da água é de 4 m/s. Nessas condições, e desprezando perdas, determine a altura h.
Dados: g = 10 m/s² e γ = 10000 N/m³.
2

h
1

Figura 42

Resolução

Dados:

v1 = 2 m/s

p1 = 300 kPa

v2 = 4 m/s

p2 = 200 kPa

g = 10 m/s²

γ = 10000 N/m³

Utilizando a equação de Bernoulli:

v12 p1 v22 p2
z1 + + = z2 + +
2g γ 2g γ

v12 p1  v22 p2 
z2 − z1 = + − −  ⇒h=
2g γ  2g γ 
1 2 2 1
2g

)
v1 − v2 + (p1 − p2 )

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FENÔMENOS DE TRANSPORTE

Substituindo os valores fornecidos pelo problema:

h=
1
2 ⋅10 m/s
(2 m/s )2 − (4 m/s )2  +
2 
1
10000 N/m3(300 × 103 Pa − 200 × 103 Pa )
s2 m2 3m
3
h = 0, 05 ⋅ ( −12) −4
+ 1 × 10 ⋅100 × 10 Pa
m s2 N

m3 N
h = −0, 6 m + 10 = −0, 6 m + 10 m
N m2

h = 9,4 m

Exemplo 4

Um reservatório de grandes dimensões, com diâmetro interno de 3 m, possui um orifício 5 m abaixo


do nível da água. Determine a velocidade da água que sai pelo orifício, sabendo que o diâmetro do
orifício é de 21 mm. Dados: g = 10 m/s² e γ = 10000 N/m³.

(2)

(1)
Orifício

Figura 43

83
Unidade II

Resolução

Na superfície da água dentro do tanque, a velocidade é nula (v2 = 0), em razão de o tanque ser de
grandes dimensões e a pressão ser a atmosférica. Na saída da água, a pressão também é a atmosférica
(p1 = p2) e a velocidade é obtida pela equação de Bernoulli:

v12 p1 v2 p
z1 + + = z2 + 2 + 2
2g γ 2g γ

v12 1 v22
= z2 − z1 + (p2 − p1) +
2g γ 2g

Como p2 = p1 e v2 = 0, tem‑se:

v12
= z2 − z1 ⇒ v1 = 2g ( z2 − z1)
2g

v1 = 2 ⋅10 m/s2 (5 m - 0 m) = 20 ⋅ 5 m2 / s2

V1 = 10 m/s

Uma máquina é um dispositivo que realiza trabalho (adiciona energia) sobre um fluido ou extrai
trabalho (extrai energia) de um fluido. As máquinas que adicionam energia a um fluido são denominadas
bombas. Já as máquinas que extraem energia de um fluido são chamadas turbinas.

Considerando dois pontos (1 e 2) de uma linha de corrente, na ausência de máquinas, a energia por
unidade de peso (carga, H1) no ponto 1 é igual à energia por unidade de peso (carga, H2) no ponto 2. Ou
seja:

Na ausência de máquinas:

H1 = H2

6.3 Bombas

Se a máquina for uma bomba, o fluido receberá um acréscimo de energia durante seu escoamento
(figura a seguir). Dessa forma, a carga do ponto 2 é maior do que no ponto 1 (H2 > H1), e, considerando
o balanço de energia mecânica, a equação do sistema deve ser reescrita, levando em conta a energia
fornecida pela bomba por unidade de peso do fluido (carga, HB). Logo:

84
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

H1 + HB = H2

2
B

Figura 44 – Esquema de uma bomba inserida em um sistema de escoamento

6.4 Turbinas

Se a máquina do sistema for uma turbina (figura a seguir), então a carga do ponto 2 é menor do
que a do ponto 1 (H2 < H1), e, considerando o balanço de energia mecânica, a equação do sistema
deve ser reescrita considerando a energia extraída pela turbina por unidade de peso do fluido
(carga, HT). Logo:

H1 – HT = H2

2
T

Figura 45 – Esquema de uma turbina inserida em um sistema de escoamento

6.5 Equação da energia na presença de uma máquina

De maneira geral, a equação da energia de um sistema na presença de uma máquina pode ser escrita
em termos da carga da máquina (HM):

H1 + HM = H2

85
Unidade II

Ou seja:

HM = H2 – H1
Se:

HM > 0 (HM = HB) → a máquina é uma bomba;

HM < 0 (HM = HT) → a máquina é uma turbina;

HM = 0 (H1 = H2)→à ausência de máquina.

Considerando a figura a seguir, as cargas nos pontos 1 e 2 são dadas por:

p1 v12
H1 = z1 + +
γ 2g

p2 v22
H2 = z2 + +
γ 2g

em que:

z1 e z2 → alturas do fluido nos pontos 1 e 2;

p1 e p2 → pressões do fluido nos pontos 1 e 2;

v1 e v2 → velocidades do fluido nos pontos 1 e 2;

g → aceleração da gravidade; e

g → peso específico do fluido.

Portanto, a carga da máquina pode ser obtida por:

(p2 − p1) 1 2 2
HM = (z2 − z1) + + ⋅ ( v2 − v1 )
γ 2g

86
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

v2

p1 M p2 z2

z1 v1

Plano horizontal de referência

Figura 46 – Esquema de escoamento na presença de uma máquina

Saiba mais

Para saber mais sobre a equação da energia na presença de uma


máquina, leia o capítulo 4 do livro:

BRUNETTI, F. Equação da energia para regime permanente. In: BRUNETTI,


F. Mecânica dos fluidos. São Paulo: Prentice Hall, 2009. (capítulo 4).

6.6 Potência e rendimento de uma máquina

A grandeza potência (N) é definida como o trabalho realizado por uma força por unidade de tempo.
Como trabalho relaciona‑se com a energia mecânica do sistema, a potência de uma máquina pode ser
descrita por:

energia mecânica
N=
tempo

Multiplicando e dividindo a equação anterior pela força peso, tem‑se:

energia mecânica peso


N= ×
peso tempo

Como o termo (energia mecânica/peso) representa a carga da máquina (HM), e o termo (peso/tempo)
representa a vazão em peso (QG), então a potência pode ser escrita como:

N = HM × QG

87
Unidade II

A vazão em peso corresponde ao produto entre o peso específico do fluido (g) e a vazão volumétrica
(Q), assim:

N=γ.Q.H

Para o caso de uma bomba, a potência recebida pelo fluido é:

N = γ . Q . HB

Já para o caso de uma turbina, a potência cedida pelo fluido é:

N = γ . Q . HT

No sistema internacional (SI), a unidade de potência é:

J ( joule)
= W (watt)
s (segundo)

A seguir, são mostrados os fatores de conversão entre as principais unidades para potência:

• Cavalo vapor (CV): 1 CV = 735,5 W

• Horse power (HP): 1 HP = 745,7 W

Contudo, caso exista transmissão de potência, existirão perdas associadas, e a potência recebida
ou cedida pelo fluido não coincidirá com a potência da máquina. Para o caso de bombas, a potência
recebida pelo fluido (N) é menor do que a potência da bomba (NB), como mostrado na figura a seguir:
N

NB

Motor

Figura 47 – Ilustração da transmissão de potência de um motor para uma bomba

88
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

Dessa forma, define‑se o rendimento de uma bomba (ηB) como a razão entre a potência recebida
pelo fluido (N) e a fornecida pelo eixo da máquina (NB).

N
ηB =
NB

Substituindo a potência recebida pelo fluido (N) na equação anterior, tem‑se:

γ ⋅ Q ⋅ HB
ηB =
NB

Vale ressaltar que o rendimento de uma máquina é uma grandeza com valores entre 0 e 1. Por meio
da relação anterior, é possível determinar a potência de uma bomba.

γ ⋅ Q ⋅ HB
NB =
ηB

Para o caso da máquina ser uma turbina, o fluido cede potência para a turbina. Logo, a potência
cedida pelo fluido (N) será maior do que a potência da turbina (NT), como ilustrado na figura a seguir.
N

NT

Gerador

Figura 48 – Ilustração da transmissão de potência de uma turbina para um gerador

Assim, o rendimento de uma turbina (ηT) é definido com a razão entre a potência da turbina (NT) e
a potência cedida pelo fluido (N).

NT
ηT =
N

89
Unidade II

Substituindo a potência cedida pelo fluido (N) na equação anterior, tem‑se:

NT
ηT =
γ ⋅ Q ⋅ HT

Analogamente ao caso de uma bomba, é possível determinar a potência de uma turbina a partir da
relação de rendimento:

NT = γ . Q . HT . ηT

Exemplo 1

Considerando a configuração ilustrada a seguir, em que a água de um reservatório de grandes


dimensões deve ser bombeada por uma bomba submersa, com potência de 5 kW e eficiência de 70%,
para uma piscina (também de grandes dimensões) cuja superfície livre está a 30 m acima do nível da
água subterrânea, determine a vazão máxima da água. Dados: γ = 10000 N/m³.

Piscina

30 m

Bomba

Figura 49

Resolução

Dados:

N = 5 kW

ηB = 0,70

90
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

z2 = 30 m

z1 = 0 m

γ = 10000 N/m³

Q=?

A carga da máquina pode ser obtida por:

(p2 − p1) +
HB = ( z2 − z1) +
γ 2g
(
1 2 2
v2 − v1 )
Nesse caso, p2 = p1 e as velocidades v2 = v1 = 0, em razão dos reservatórios serem de grandes
dimensões. Assim:

HB = 30 m – 0 m

HB = 30 m

Para determinar a vazão máxima de água, emprega‑se:

γ ⋅ Q ⋅ HB N ⋅ ηB
ηB = ⇒Q =
N γ ⋅ HB

5 × 103 W ⋅ 0, 70 5 × 103 ⋅ 0, 70 J m3 1
Q= =
10000 N/m3 ⋅ 30 m 10000 ⋅ 30 s N m

Lembrete

1 W = 1 J/s

1 J = 1 N.m

N ⋅ m m3 1
Q = 0, 012
s N m

Q = 0,012 m3/s

91
Unidade II

Exemplo 2

Considerando que a potência do eixo de uma turbina é de 500 kW e sua eficiência é de 90%, se
a vazão mássica através da turbina for de 575 kg/s, qual será a carga extraída do fluido pela turbina?
Adotar: g = 10 m/s².

Resolução

Dados:

NT = 500 kW

η­T = 0,90

QM = 575 kg/s

HT = ?

Para determinar a carga extraída do fluido pela turbina emprega‑se:

NT NT
NT = γ ⋅ Q ⋅ HT ⋅ ηT ⇒ HT = ⇒ HT =
γ ⋅ Q ⋅ ηT 10 ⋅ QM ⋅ ηT

Lembrando que a vazão mássica QM é calculada por:

QM = ρ ⋅ Q e γ = g ⋅ ρ = 10 ⋅ ρ

Multiplicando ambos os lados da equação de vazão mássica, tem‑se:

g ⋅ QM = g ⋅ ρ ⋅ Q ⇒ g ⋅ QM = γ ⋅ Q ⇒ γ ⋅ Q = 10 ⋅ QM

Substituindo os valores fornecidos pelo problema:

500 × 103 W 500 × 103 N ⋅ m s2 s


HT = =
10 m/s2 ⋅ 575 kg/s ⋅ 0,9 10 ⋅ 575 ⋅ 0, 9 s m kg

N ⋅ s2 kg ⋅ m s2
HT = 96, 62 = 96, 62 2
kg s kg

HT = 96,62 m

92
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

Exemplo 3

Determine a potência de uma bomba com rendimento de 90%, sabendo que a carga fornecida por
essa bomba é de 20 m e que por ela escoa água (γ = 10000 N/m³) com vazão volumétrica de 12 litros/s.

Resolução

Dados:

NB = ?

ηB = 0,90

HB = 20 m

Q = 12 litros/s = 12 × 10–3 m3/s

Para determinar a potência da bomba emprega‑se:

γ ⋅ Q ⋅ HB γ ⋅ Q ⋅ HB
ηB = ⇒N=
N ηB

Substituindo os valores fornecidos pelo problema:

10000 N/m3 ⋅12 × 10 −3 m3 /s ⋅ 20 m N m3


N= = 2666, 67 3 m
0, 90 m s
N⋅m J
N = 2666, 67 = 2666, 67
s s

N = 2666,67 W

Exemplo 4

O reservatório A, ilustrado a seguir, possui grandes dimensões e fornece água (γ = 10000 N/m³) com
uma vazão volumétrica de 5 l/s para o reservatório B, por meio de uma tubulação seção transversal de
10 cm². Determine:

Adotar: g = 10 m/s²

(a) se a máquina do sistema é uma bomba ou uma turbina;

(b) a potência da máquina, sabendo que o seu rendimento é de 75%.

93
Unidade II

20 m

B 5m
ref. M

Figura 50

Resolução

Dados:

Q = 5 l/s

A = 10 cm²

N=?

η = 0,75

A carga da máquina pode ser obtida por:

(p2 − p1) +
HM = ( z2 − z1) +
γ 2g
(
1 2 2
v2 − v1 )
Em razão de o reservatório ser de grandes dimensões, v1 = 0. Além disso, as pressões nos dois
reservatórios são iguais p2 = p1. Dessa forma, tem‑se:

1 2
HM = ( z2 − z1) + v2
2g
A velocidade v2 é determinada pela equação da vazão volumétrica:

Q
Q = v2 ⋅ A ⇒ v2 =
A

5 × 10 −3 m3 /s m3 1
v2 = =5
10 × 10 −4 m2 s m2

v2 = 5 m/s
94
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

Assim, tem‑se:

1 2 1 1
HM = ( z2 − z1) + v2 = (5 m − 20 m) + ( )2
2
5 m/s = −15 m + 2
25 m2 /s2
2g 2 ⋅10m/s 20 m/s

25 s2 m2
HM = −15 m + = −15 m + 125
, m
20 m s2

HM = 13,75 m

Como HM < 0, tem‑se que a máquina é uma turbina.

Para determinação da potência, emprega‑se a relação:

NT = γ ⋅ Q ⋅ HT ⋅ ηT

NT = 10000 N/m3 ⋅ 5 × 10 −3 m3 /s ⋅13, 75 m ⋅ 0, 75

N m3 N⋅m J
NT = 515, 62 3 m = 515, 62 = 515, 62
m s s s

NT = 515, 62 W

Exemplo 5

O reservatório 1, que é fechado e mantido a uma pressão de 10­5 Pa, fornece água para o reservatório 2
(aberto) por meio de uma tubulação com 35,5 mm de diâmetro. Sabendo que os dois reservatórios são de grandes
dimensões, e a vazão do sistema é de 5 l/s, determine se a máquina é uma bomba ou turbina e calcule sua
potência, sabendo que seu rendimento é de 75%. Dados: z1 = 10 m; z2 = 30 m; p1 = 105 Pa e γágua = 10000 N/m³.

(2)

(1) 30 m

10 m
ref.
M

Figura 51

95
Unidade II

Resolução

Dados:

D = 35,5 mm = 35 × 10–3 m

Q = 5 I/s = 5 × 10–3 m3/s

η = 0,75

z1 = 10 m

z2 = 30 m

p1 = 105 Pa

Para determinar se a máquina é bomba ou turbina, precisa‑se obter a carga da máquina (HM):

(p2 − p1) 1 2 2
HM = (z2 − z1) + + ⋅ ( v2 − v1 )
γ 2g

Em virtude de os reservatórios serem de grandes dimensões, as velocidades são v1 = v2 = 0. Além


disso, como o reservatório 2 está aberto, p2 = 0. Assim:

p1 105 Pa
HM = (z2 − z1) − = (30 m − 10 m) −
γ 10000 N/m3

N m3
HM = 20 m − 10 = 20 m − 10 m
m2 N

HM = 10 m

Como HM > 0, tem‑se que a máquina é uma bomba.

Para o cálculo da potência, emprega‑se a equação:

γ ⋅ Q ⋅ HB
NB =
ηB

10000 N/m3 ⋅ 5 × 10 −3 m3 /s ⋅10 m N m3


NB = = 666, 67 3 m
0, 75 m s

96
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

Nm
. J
NB = 666, 67 = 666, 67
s s

NB = 666,67 W

Exemplo 6

O reservatório ilustrado a seguir fornece água com uma vazão de 100 litros/s. O diâmetro da tubulação
é de 35,5 mm. Determine se a máquina instalada é bomba ou turbina e calcule seu rendimento, sabendo
que sua potência é de 55 kW. Considere que não há perdas no sistema e que o reservatório é de grandes
dimensões. Dados: gágua = 1 x 104 N/m³ e g = 10 m/s².

(1)

20 m

(2)

Figura 52

Resolução

Dados:

Q = 100 l/s = 100 × 10–3 m3/s

D = 35,5 mm = 35,5 × 10–3 m

N = 575 kW

γágua = 10000 N/m3

g = 10 m/s2

97
Unidade II

Para determinar se a máquina é bomba ou turbina, é necessário calcular a carga HM, dessa forma:

(p2 − p1) 1 2 2
HM = (z2 − z1) + + ⋅ ( v2 − v1 )
γ 2g

Em virtude de o reservatório estar aberto, as pressões são iguais, p2 = p1 = 0. Como o reservatório é


de grandes dimensões, v1 = 0. Já a velocidade v2 é obtida por meio da vazão Q:

Q Q
Q = v2 ⋅ A ⇒ v2 = = 2
A  D
π⋅ 
 2

100 × 10 −3 m3 / s 100 × 10 −3 m3 1
v2 = =
 35, 5 × 10 −3 m 
2
9, 90 × 10 −4 s m2
π⋅ 
 2 

V2 = 101,01 m/s

Assim, tem‑se:

1 2 1
HM = (z2 − z1) + ⋅ v2 = 20 m + 2 (101, 01 m/s )2
2g 2 ⋅10 m/s

m2 s2
HM = 20 m + 510,15 = 20 m + 510,15 m
s2 m

HM = 530,15 m

Como HM > 0, tem‑se que a máquina é uma bomba.

Para o cálculo do rendimento, emprega‑se a relação:

γ ⋅ Q ⋅ HB
ηB =
NB

10000 N/m3 ⋅100 × 10 −3 m3 /s ⋅ 530,15 m


ηB =
575 × 103 W

98
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

N m3 1 N⋅m s Js
ηB = 0, 92 m = 0, 92 = 0, 92
m3 s W s J sJ

ηB = 0,92

Resumo

Na equação da continuidade, em regime permanente, a vazão mássica


(QM) é conservada:

QM1 = QM2 ⇒ ρ1 . A1 . v1 = ρ2 . A2 . v2

em que:

ρ1 e r2 são as massas específicas do fluido nos pontos 1 e 2;

A1 e A2 são as áreas das seções transversais 1 e 2; e

v1 e v2 são as velocidades nos pontos 1 e 2.

Se o fluido em movimento for incompressível, a vazão volumétrica se


conservará:

A1 . v1 = A2 . v2 ⇒ Q1 . Q2

Para sistemas com diversas entradas e saídas, a soma das vazões em


massa na entrada é igual à soma das vazões em massa na saída:

∑ QM = ∑ QM
Entrada Saída

A mesma análise pode ser aplicada para um fluido incompressível:

∑ Q= ∑Q
Entrada Saída

A energia potencial (Ep) é a armazenada no sistema e está associada à


posição (z) em relação ao plano horizontal de referência.

Ep = m . g . z

em que m é a massa do fluido e g é aceleração da gravidade local.


99
Unidade II

A energia cinética (Ec) é a associada ao movimento do fluido. Supondo


um sistema com massa m movendo‑se com velocidade v, a energia cinética
é dada por:

m ⋅ v2
EC =
2

A energia de pressão (Epr):

Epr = ∫ p ⋅ dV
V

em que p é a pressão e dV é o elemento de volume.

A energia mecânica total (E):

m ⋅ v2
E = Ep + Ec + Epr ⇒ E = m⋅ g⋅ z + + ∫ p ⋅ dV
2 V

A equação de Bernoulli permite relacionar alturas, velocidades e


pressões de dois pontos do escoamento de um fluido ao longo de uma
linha de corrente. A equação de Bernoulli expressa que, para um fluido
ideal incompressível em escoamento permanente, as cargas totais (H) se
mantêm constantes ao longo de uma linha de corrente.

v12 p1 v2 p
H1 = H2 ⇒ z1 + + = z2 + 2 + 2
2g γ 2g γ

As bombas são máquinas que adicionam energia a um fluido durante


seu escoamento.

H1 + HB = H2

As turbinas são máquinas que extraem energia de um fluido durante


seu escoamento.

H1 – HT = H2

A potência (N) (recebida ou cedida) por um fluido é dada por:

N=γ.Q.H
100
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

Contudo, caso exista transmissão de potência, existirão perdas


associadas, e a potência recebida ou cedida pelo fluido não coincide
com a potência da máquina e deve‑se considerar o rendimento da
máquina (h).

Para bombas, a potência é:

γ ⋅ Q ⋅ HB
ηB =
NB

Para turbinas, a potência é:

NT = γ . Q . HT . ηT

Exercícios

Questão 1. Uma indústria utiliza cerca de 9 m3 de água a cada hora de seu funcionamento. Para
evitar problemas de abastecimento, foi efetuada uma instalação que contém um tanque logo abaixo do
piso e outro localizado no topo do prédio, que apresenta 50 metros de altura.

Para elevar a água até o tanque superior, foi colocada uma bomba na instalação, como mostra a
figura a seguir.
2m
50m

B 2,5m
Piso
5m

5m

Figura 53

A tubulação possui um diâmetro de 40 mm e comprimento total igual a 62 m. Sabe-se que a perda


de carga distribuída pela tubulação é de 10 m a cada 100 m de comprimento e que a perda de carga em
cada curva mostrada na instalação é de 0,7 m.

101
Unidade II

Para essa situação, a altura manométrica (hbomba) e a potência (W) da bomba devem ser:

Obs. – considere a aceleração da gravidade igual a 10m/s2 e a massa específica da água


r  =  1000 kg/m3.

A) hbomba = 52,5m W = 2,8kW

B) hbomba = 61,3m W = 1,3kW

C) hbomba = 52,5m W = 1,3kW

D) hbomba = 61,3m W = 1,5kW

E) hbomba = 52,5m W = 1,5kW

Resposta correta: alternativa D.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: a altura manométrica indicada é a necessária para elevar a água com velocidade zero
na saída da tubulação sem considerar as perdas na tubulação.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: embora a altura manométrica da bomba esteja correta, a potência indicada é a


necessária para a altura manométrica de 52,5 m.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: nessa alternativa, além da altura manométrica indicada ser a mesma que a da
alternativa A (menor que a verdadeira), a potência é a indicada na alternativa B (também menor
que a verdadeira).

D) Alternativa correta.

Justificativa: a altura manométrica da bomba e a potência são as necessárias.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: embora a potência esteja correta, a altura manométrica não está.

102
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

Solução da questão

Para resolver o problema, podemos aplicar a equação de Bernoulli entre os pontos 1 e 2 mostrados
na figura a seguir.
2m
2

50m

B 1 2,5m
Piso
5m

5m

Figura 54 – Instalação hidráulica com as pontas para a aplicação da equação de Bernoulli.

p1 v12 p2 v22
+ h1 + + hbomba = + h2 + + hperdas
γ 2g γ 2g
Tomando o plano do ponto 1 como o plano horizontal de referência (h1 = 0), podemos escrever:
v22
0 + 0 + 0 + hbomba = 0 + h2 + + hperdas
2g

v22
hbomba = 52, 5m + + hperdas
2g

Sabendo que a vazão (Q) é igual a 9,0 m3/h e que a tubulação possui um diâmetro (d) de 40 mm, a
velocidade do fluido (v) na tubulação é:
Q Q 4 ⋅Q
v= = 2
=
A π ⋅d π ⋅ d2
4
m3 m3
4 ⋅9 4 ⋅9
v= h = 3600s
π ⋅ (40mm) π. ( 0, 04m)
2 2

4 ⋅9 m
v= 2
π.0, 04 ⋅ 3600 s

103
Unidade II

m
v ≅ 2, 0
s

A perda manométrica na tubulação (hperdas) é a soma da perda distribuída pelo comprimento da tubulação
com as perdas singulares que ocorrem em cada componente da instalação (curvas, cotovelos, válvulas, etc.).

No problema proposto, a tubulação possui 52 m de comprimento e duas curvas. Assim a perda de


carga pode ser escrita:

hperdas = hdistribuída + hsingular

hperdas = 5,2m + 2 . 0,7m → hperdas = 6,6m

A altura manométrica da bomba é:


2
 m
 2, 0 
s
hbomba = 52, 5m + + 6, 6m
m
2 ⋅10 2
s
hbomba = 61, 3m

A potência da bomba (W) pode ser determinada pela expressão:

W = γ . Q . hbomba

Sendo γ = ρ . g, se pode escrever:

W = ρ . g . Q.hbomba
kg m3m
W = 1000 3 ⋅10 2 ⋅ 9 .61, 3m
m s 3600s
W ≅ 1500W

W = 15
, kW

Questão 2 (Enade, 2011 adaptada). O petróleo é retirado das jazidas por meio de perfurações na
crosta terrestre, através das quais se atinge o poço petrolífero. O petróleo jorra espontaneamente devido
à grande pressão de seus gases. Uma empresa especializada em perfurar poços foi contratada para
pesquisar a existência de petróleo em uma região. Durante o processo de perfuração, verificou-se que,
ao atingir 100 m de profundidade, o poço jorra petróleo espontaneamente a uma altura h = 18 m
acima do solo. A empresa pede para um especialista fazer uma análise desse problema clássico. Após
esquematizar o problema, conforme figura a seguir, ele considera razoável admitir que as perdas por
atrito com o ar são em torno de 10% da carga total do jato de petróleo na saída do poço.
104
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

Poço de extração de petróleo


4

3 3 PHR

Solo
100 m
Gases

1 1
2 2
P2
Petróleo

Figura 55

Dados:

Aceleração da gravidade g = 10 m/s2.

Área da seção do poço = 500 cm2.

Perda de carga no trecho 2-3 é equivalente a 50 m.


kgf
Peso específico do petróleo γ = 707
m3
Considerando os resultados obtidos pelo especialista, a partir de uma análise quantitativa,
conclui‑se que a vazão volumétrica na saída do poço de petróleo e a pressão P2 na entrada do poço são,
respectivamente, iguais a:

A) 0,1 m3/s e -4,0 kgf/cm2.

B) 0,1 m3/s e 12,0 kgf/cm2.

C) 0,1 m3/s e 8,0 kgf/cm2.

D) 1 m3/s e -4,0 kgf/cm2.

E) 1 m3/s e 12,0 kgf/cm2.

Resposta desta questão na plataforma.

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