Você está na página 1de 24

Física II

DINÂMICA DE FLUIDOS
- Movimento estacionário
- Teorema de Bernoulli
- Teorema de Torricelli
- Viscosidade
- Regimes de escoamento

Jorge Costa
jorge.costa@iseclisboa.pt 1
Dinâmica de Fluidos

Quando um fluido está em movimento, o seu fluxo pode ser


caracterizado de duas formas. Diz-se que o escoamento é
aerodinâmico, ou laminar, se cada partícula que passa por
um determinado ponto se move exatamente ao longo do
mesmo caminho suave que as partículas anteriores que
passaram por esse ponto. As diferentes camadas não se
cruzam e a linha de escoamento coincide com a direção do
deslocamento do fluido.

Por oposição, o fluxo de um fluido torna-se irregular, ou


turbulento, acima de uma determinada velocidade ou sob
determinadas condições que possam causar mudanças
abruptas na velocidade. O escoamento turbulento é um
fluxo irregular, caracterizado por pequenas regiões
semelhantes a um remoinho. 2
Dinâmica de Fluidos

Na dinâmica de fluidos, o termo viscosidade é usado para caracterizar o grau de atrito


interno que caracteriza o fluido. Esta fricção interna está associada à resistência que existe
entre duas camadas adjacentes do fluido em movimento. A água tem uma viscosidade mais
baixa do que o mel.

3
Dinâmica de Fluidos

Muitas das características do movimento de um fluido podem ser entendidas considerando


o comportamento de um fluido ideal, que satisfaz as seguintes condições:
1. O fluido não é viscoso – a força de atrito interno entre as camadas adjacentes é
desprezável.
2. O fluido é incompressível – a sua densidade é constante.
3. O movimento do fluido é estável – a velocidade, a densidade e a pressão em cada
ponto do fluido não se alteram com o tempo.
4. O fluido move-se sem turbulência – cada elemento do fluido tem velocidade angular
zero em relação ao seu centro. Uma pequena roda colocada no fluido deslocar-se-ia,
mas não rodaria.

4
Dinâmica de Fluidos

Equação da continuidade
A Figura abaixo representa um fluido que flui através de um tubo de tamanho não
uniforme. As partículas no fluido movem-se ao longo das linhas de fluxo em
escoamento constante.

5
Dinâmica de Fluidos

Equação da continuidade
Num curto intervalo de tempo t, o fluido que entra na extremidade inferior do
tubo move-se uma distância x1 = v1.t. Se A1 corresponder à área da secção
transversal nessa região, então a massa contida nessa secção é M1 = ρ1.A1.x1 =
ρ1.A1.v1.t, onde ρ1 é a densidade do fluido em A1. Da mesma forma, o fluido que
sai da extremidade superior do tubo no mesmo intervalo de tempo t tem uma
massa de M2 = ρ2.A2.v2.t. No entanto, como a massa é conservada e o fluxo é
estável, a massa que flui para o fundo do tubo através de A1 no tempo t deve ser
igual à massa que flui através de A2 no mesmo intervalo. Portanto, M1 = M2.

𝝆𝟏𝑨𝟏𝒗𝟏 = 𝝆𝟐𝑨𝟐𝒗𝟐
Como 𝝆𝟏 = 𝝆𝟐

𝑨𝟏𝒗𝟏 = 𝑨𝟐𝒗𝟐

6
Dinâmica de Fluidos

𝑨𝟏𝒗𝟏 = 𝑨𝟐𝒗𝟐
Esta expressão designa-se por equação da
continuidade. A partir deste resultado, vemos que o
produto entre a área da secção transversal do tubo
e a velocidade do fluido nessa seção transversal
corresponde a uma constante. Portanto, a
velocidade é inversamente proporcional ao
diâmetro do tubo. A.v designa-se por caudal. A
condição Av = constante significa que o volume de
fluido que entra numa extremidade do tubo num
determinado intervalo de tempo é igual ao volume
de fluido que sai do tubo no mesmo intervalo,
assumindo que o fluido é incompressível e não há
roturas. 7
Dinâmica de Fluidos

Exercício 32
A cada segundo, 5525 m3 de água escoam pelos 670 m de largura da ravina da
ferradura, nas cataratas do Niagara. A coluna de água tem aproximadamente 2 m
de profundidade quando chega ao precipício. Estime a velocidade da água nesse
instante. R: 4 m/s

8
Dinâmica de Fluidos

Exercício 33
O túnel de água da Universidade da Pennsylvania tem uma secção transversal
circular inicial de 3,6 m de diâmetro, sendo posteriormente constrangida até um
diâmetro de 1,2 m na zona de teste. Se a velocidade do escoamento for 3,0 m/s na
secção mais larga, determine a velocidade do escoamento na secção de teste.
Determine o caudal que circula no túnel de água. R: 27 m/s; 31 m3/s

9
Dinâmica de Fluidos

Exercício 34
Um jardineiro utiliza uma mangueira para encher um balde de água com uma
capacidade de 30,0 L em 1,00 minuto. Em seguida coloca um bocal com uma
secção transversal de 0,500 cm2 na mangueira e segura-a horizontalmente a 1,00
m do chão. A que distância horizontal consegue projectar a água? R: 4,52 m

10
Dinâmica de Fluidos

Teorema de Bernoulli
Quando um fluido se move ao longo de um tubo de secção transversal e elevação
variáveis, a pressão altera-se ao longo do tubo. Em 1738, o físico suíço Daniel Bernoulli
(1700-1782) derivou uma expressão que relaciona a pressão de um fluido com a sua
velocidade e elevação.
Considere o escoamento através de um tubo não uniforme num intervalo de tempo t, de
acordo com a Figura. A força na extremidade inferior do fluido é P1.A1, onde P1 é a pressão.
O trabalho produzido na extremidade inferior do fluido, realizado pelo fluido atrás dele, é:

𝑾𝟏 = 𝑭𝟏∆𝒙𝟏 = 𝑷𝟏𝑨𝟏∆𝒙𝟏 = 𝑷𝟏𝑽

onde V é o volume da região azul na parte inferior na figura.


De modo análogo, o trabalho realizado no fluido na parte
superior no intervalo de tempo t é:

𝑾𝟐 = −𝑷𝟐𝑨𝟐∆𝒙𝟐 = −𝑷𝟐𝑽
11
Dinâmica de Fluidos

O volume é o mesmo porque, pela equação da continuidade, o volume de fluido


que passa por A1 no tempo t é igual ao volume que passa por A2 no mesmo
intervalo de tempo. O trabalho W2 é negativo porque a força no topo do fluido é
oposta ao seu deslocamento. O trabalho líquido feito por essas forças no tempo t
é:
𝑾𝒇𝒍𝒖𝒊𝒅 = 𝑷𝟏𝑽 − 𝑷𝟐𝑽

Parte deste trabalho envolve a alteração da energia


cinética do fluido e parte da alteração da energia
potencial gravitacional do sistema fluido-Terra. Se
m corresponder à massa do fluido que passa pelo
tubo no intervalo de tempo t, então a variação da
energia cinética do volume de fluido é:
𝟏 𝟏
∆𝑲𝑬 = 𝒎𝒗𝟐𝟐 − 𝒎𝒗𝟐𝟏
𝟐 𝟐
e a variação da energia potencial é:
12
∆𝑷𝑬 = 𝒎𝒈𝒚𝟐 − 𝒎𝒈𝒚𝟏
Dinâmica de Fluidos

Uma vez que o trabalho líquido realizado pelo fluido altera a energia cinética e a
energia potencial do sistema não isolado, temos:
𝑾𝒇𝒍𝒖𝒊𝒅𝒐 = ∆𝑲𝑬 + ∆𝑷𝑬
𝟏 𝟏
𝑷𝟏𝑽 − 𝑷𝟐𝑽 = 𝒎𝒗𝟐 − 𝒎𝒗𝟐𝟏 + 𝒎𝒈𝒚𝟐 − 𝒎𝒈𝒚𝟏
𝟐
𝟐 𝟐
Simplificando, fica:
𝟏 𝟏
𝑷𝟏 + 𝝆𝒗𝟐𝟏 + 𝝆𝒈𝒚𝟏 = 𝑷𝟐 + 𝝆𝒗𝟐𝟐 + 𝝆𝒈𝒚𝟐
𝟐 𝟐

Ou seja:
Equação de Bernoulli
𝟏 𝟐
𝑷 + 𝝆𝒗 + 𝝆𝒈𝒚 = 𝒄𝒐𝒏𝒔𝒕𝒂𝒏𝒕𝒆
𝟐

13
Dinâmica de Fluidos

Tubo de Venturi

Quick quiz
Considere dois balões de hélio fixos a uma mesa mas flutuando um ao lado do
outro. As superfícies laterias dos balões estão separadas entre 1 a 2 cm. Se soprar
pelo espaçamento entre os balões, estes:
(a) movem-se em direção um ao outro;
(b) afastam-se um do outro;
14
(c) não são afetados.
Dinâmica de Fluidos

Exercício 35
Dois manómetros, A e B, são colocados num tubo horizontal, de secção variável,
por onde circula água à velocidade de 0,50 m/s e 1,50 m/s, respectivamente.
O manómetro A regista uma pressão de 24,0 N/cm2. Calcule a pressão registada
pelo manómetro B. (Dado: ρágua = 1 g/cm3) R: 2,39x105 N/m2

15
Dinâmica de Fluidos

Teorema de Torricelli
O teorema de Torricelli é uma aplicação do princípio de Bernoulli e estuda o fluxo
de um líquido contido num recipiente, através de um pequeno orifício, sob a ação
da gravidade. A partir do teorema de Torricelli pode-se calcular o caudal de saída
do líquido pelo orifício.
A velocidade de saída de um fluido através de um orifício é a mesma que iria
adquirir um corpo em queda livre, partindo do repouso, a partir de uma altura h.

𝑷𝟏 = 𝑷𝟐 = 𝑷𝟎

𝒗= 𝟐𝒈𝒉

A pressão de saída do fluido pelo orifício


irá corresponder à pressão atmosférica.
16
Dinâmica de Fluidos

Exercício 36
Um depósito de água tem um pequeno furo localizado a 0,500 m baixo do nível da
água. Se o topo do tanque comunicar com o exterior, determine a velocidade a
que a água abandona o tanque R: 3,13 m/s

17
Dinâmica de Fluidos

Exercício 37
Um tubo de fornecimento de água com 1,00 m2 de área de secção transversal
desce 5,00 m enquanto a sua secção é reduzida para uma área de 0,50m2. Se a
pressão no ponto ② corresponder à pressão atmosférica, determine a velocidade
da água à saída do tubo. R: 11,4 m/s

18
Dinâmica de Fluidos

Exercício 38
Num canal de escoamento de água, a profundidade é de 1,2m e as águas escoam
com uma velocidade de 2,4 m/s até certo ponto, onde, devido a uma pequena
queda, a velocidade se eleva para 12m/s, reduzindo-se a profundidade a 0,6m.
Desprezando as possíveis perdas por atrito, determine a diferença de cota entre
os pontos (considere a densidade da água igual a 1000 kg/m3). R: 6,5 m

19
Dinâmica de Fluidos

Escoamento de fluidos viscosos


A viscosidade refere-se ao atrito interno entre as moléculas de um fluido.
Quando um fluido ideal (não viscoso) escoa através de um tubo, as camadas
fluidas passam umas pelas outras sem resistência. Se o tubo tiver uma secção
transversal uniforme, cada camada terá a mesma velocidade. Por outro lado, as
camadas de um fluido viscoso têm velocidades diferentes. O fluido apresenta a
maior velocidade no centro do tubo, enquanto a camada próxima à parede não se
move devido às forças de adesão entre as moléculas e a superfície da parede.

20
Dinâmica de Fluidos

Considere uma camada de líquido entre duas superfícies sólidas, de acordo com a
Figura. A superfície inferior está fixa e a superfície superior move-se para a direita
com uma velocidade 𝒗 sob a ação de uma força externa 𝑭. Devido a esse
movimento, uma parte do líquido é distorcido da sua forma original, ABCD, para a
forma AEFD. A força necessária para mover a placa superior e distorcer o líquido é
proporcional à área A em contacto com o fluido e à velocidade v do fluido.

21
Dinâmica de Fluidos

Como a força é inversamente proporcional à distância d entre as duas placas, a


força necessária para mover a placa superior a uma velocidade fixa v é, portanto:
𝑨𝒗
𝑭=𝜼
𝒅
Em que η corresponde ao coeficiente de viscosidade do fluido. As unidades SI do
coeficiente de viscosidade são N.s.m-2, ou Pa.s.

22
Dinâmica de Fluidos

Lei de Poiseuille
A Figura abaixo mostra uma secção de um tubo de comprimento L e raio R
contendo um fluido sob uma pressão P1 na extremidade esquerda e uma pressão
P2 à direita. Por causa dessa diferença de pressão, o fluido escoa pelo tubo. O
caudal depende da diferença de pressão (P2 – P1), das dimensões do tubo e da
viscosidade do fluido. O resultado, conhecido como lei de Poiseuille, é

∆𝑽 𝝅𝑹𝟒 𝑷𝟐 − 𝑷𝟏
𝑪𝒂𝒖𝒅𝒂𝒍 = =
∆𝒕 𝟖𝜼𝑳

23
Dinâmica de Fluidos

Exercício 39
Um paciente recebe uma transfusão de sangue através de um cateter com 0,20
mm de raio e 2,0 cm de comprimento. A densidade do sangue é 1050 kg/m3. O
reservatório onde está armazenado o sangue encontra-se 0,500 m acima do braço
do paciente. Determine o caudal de sangue que escoa pela agulha. Considere que
a viscosidade do sangue é 2,7x10-3 Pa.s. R: 6x10-8 m3/s

24

Você também pode gostar