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Viscosidade de líquidos

A viscosidade de líquidos tem aspectos diferentes em


relação à viscosidade de gases.
Para se entender estas diferenças, precisamos pensar
nas propriedades de gases e líquidos.
Gases:
• Para um gás ideal, as moléculas se movem
independentemente umas das outras,
• a energia é a soma das energias internas das
moléculas individuais e das energias cinéticas de
translação
•as interações intermoleculares são desprezíveis ou
muito pequenas
Viscosidade de líquidos

Líquidos:
• as moléculas têm menor liberdade de movimento
• a energia é a soma das energias internas das
moléculas individuais, das energias cinéticas de
translação(porém, bastante limitada) e das energias
potenciais intermoleculares,
• as interações intermoleculares são suficientemente
intensas
Viscosidade de líquidos

Valores de viscosidade para alguns gases e líquidos


são mostrados abaixo:

Substância C 6H 6 H 2O H2SO4 óleo de glice- O2 CH4


oliva rina

/cP 0.60 0,89 19 80 954 0.021 0.011

1 P (poise) = 0.1 N.s.m-2 = 1 dyn.s.cm-2


1 cP = 10-3 N.s.m-2
Devido às forças intermoleculares, as viscosidades de líquidos
são muito maiores que a de gases. Quanto mais intensas as
forças intermoleculares, maior a viscosidade.
Reologia

Sistemas newtonianos
A lei de fluxo de Newton considera camadas
paralelas de líquido (de espessura dr e área A),
sendo a inferior fixa, com aplicação de força sobre
a camada superior e movimento do plano superior a
uma velocidade constante, movendo-se cada uma
das camadas inferiores com uma velocidade
diretamente proporcional à sua distância da
camada inferior estacionária. (pensar como
analogia em um baralho de cartas)
Reologia

Gradiente de velocidade ou gradiente de


cisalhamento (D): gradiente de deslocamento, que
corresponde à diferença entre as velocidades dv
entre dois planos do líquido separados pela
distância dr.

D = dv/dr

Tensão de cisalhamento (): força F aplicada por


unidade de área (F/A), necessária para iniciar o
fluxo de uma camada molecular sobre a outra.

 = F/A
Reologia

Nos fluidos newtonianos, a magnitude do gradiente


de cisalhamento é proporcional à tensão de
cisalhamento aplicada.
Como D = dv/dr e  = F/A.
Então: D 
A constante de proporcionalidade é o coeficiente
de viscosidade  (ou simplesmente viscosidade):

 = D (3) ou  =/D
Equação de fluxo de Newton *
Reologia

Portanto, nos fluidos newtonianos, a viscosidade é


constante, não dependendo da tensão de
cisalhamento

Sistemas não newtonianos


Caracterizam-se por uma mudança na viscosidade
com o aumento na tensão de cisalhamento, isto é,
a viscosidade depende da tensão de
cisalhamento. *
Reologia

Sistermas newtonianos:  = D

 

D 
D
Reologia

Precisa de uma tensão


mínima para começar a fluir

→/D diminui
com aumento de 

pseudoplástico
→/D aumenta com aumento
de 

dilatante
Reologia

Muitas soluções de polímeros (especialmente se forem


concentradas) e dispersões (especialmente se contiverem
partículas assimétricas, por exemplo, na formas de disco ou
bastão) constituem sistemas não-newtonianos.
Polímeros
Esquerda: sistema em repouso. Moléculas estão enroladas (formato
esférico) e emaranhadas.
Direita: em fluxo, sob ação de tensão,. Moléculas estão “esticadas” e
parcialmente desamaranhadas , orientadas na direção da tensão.

As principais causas do fluxo não-newtoniano em sistemas


coloidais são a formação de uma estrutura organizada através
do sistema e a orientação de partículas assimétricas na direção
do fluxo provocadas pelo gradiente de velocidade.
Suspensões de partículas em formato de disco ou bastão
Esquerda: sistema em repouso. Partículas estão orientadas
randomicamente.
Direita: sob ação de tensão, em fluxo. Partículas estão orientadas na
direção da tensão.
https://wiki.anton-paar.com/en/internal-structures-of-samples-and-shear-
thinning-behavior/
Reologia

Obs.: como a viscosidade é uma medida da


força necessária para iniciar o fluxo de camadas
adjacentes de um fluido, então, quanto maior a
viscosidade → menor tendência do líquido fluir.
Portanto, a viscosidade e a fluidez são duas
propriedades que se contrapõem.
Reologia

Unidade de viscosidade

 =  /D  = F/A D = dv/dr

 = (F/A)/(dv/dr)
N / m2 N / m2
[ ] = −1 = −1
=
ms / m s
(kg.m.s − 2 ) / m 2 −1 −1
−1
= kg.m .s = Pa . s
s
Reologia

Unidade de viscosidade no sistema CGS: poise (=


g/(cm.s) ou dyn.s.cm-2 ).
1 poise equivale a força de cisalhamento necessária para
produzir uma diferença de velocidade de 1 cm/s entre
dois planos paralelos do líquido, cada um com área de 1
cm2, separados por uma distância de 1 cm.
Viscosidades de alguns líquidos com comportamento
newtoniano a 200C:
Liquido Viscosidade (cp)
óleo de rícino 1000
clorofórmio 0,563 cp = centipoise
álcool etílico 1,19
glicerina 400
óleo de oliva 100
água 1,0019
Viscosidade de líquidos
Lembrando que para um gás perfeito, o coeficiente de
viscosidade (ou simplesmente viscosidade) é dado por:

1
 = M  c  [ A] M é a massa molar do gás
3

Podemos inferir que:


1. A viscosidade é independente da pressão, pois:
  1/p e [A]  p →   <c>
Interpretação física da independência da viscosidade com a pressão:
número de moléculas que transportam o momento linear é grande,
mas a distância do transporte é pequena (  é pequeno).
2. A viscosidade de um gás aumenta com a temperatura, pois como
<c>  T1/2 →  T1/2
A temperaturas elevadas, as moléculas gasosas se movem com
maior velocidade, portanto, o fluxo do momento também é maior.
Viscosidade de líquidos

Como visto, a viscosidade de gases aumenta


quando a temperatura aumenta, mas praticamente
independe da pressão

Medidas experimentais de viscosidade do argônio


em função da : (a) pressão e (b) da temperatura
Viscosidade de líquidos

Já para um líquido, a viscosidade diminui com o


aumento da temperatura e aumenta quando a
pressão aumenta.
Efeito da temperatura
Lembrando que para gases, a viscosidade depende
da temperatura da seguinte forma, segundo a teoria
cinética dos gases:
1
  <c> que é  T1/2  = M  c  [ A]
3

Para líquidos, não há uma deste tipo dependência,


pois as moléculas não seguem a teoria cinética dos
gases. *
Viscosidade de líquidos

Mas, existe uma dependência da viscosidade com


a temperatura, porque existe uma barreira para o
movimento dos líquidos: é preciso vencer as forças
intermoleculares (ao contrário dos gases, nos quais
se consideram essas forças inexistentes ou muito
pequenas).
Essa barreira de energia é análoga à energia de
ativação, na equação de Arrhenius.
A dependência da viscosidade com a temperatura
é dada por:
Evis é a energia de ativação para
iniciar o fluxo de moléculas
 = AeE vis / RT (4)
A é uma constante (tem as mesmas
Guzmann Carrancio (1913)
unidades de viscosidade)
Viscosidade de líquidos

A partir da expressão  = AeE vis / RT

tem-se que com aumento da temperatura a


viscosidade diminui.
Da mesma forma que a equação de Arrhenius, a
equação acima pode ser escrita na forma
logarítmica, fornecendo uma relação linear entre ln
 e 1/T:

ln  = ln A + Evis/RT (5)
Viscosidade de líquidos

Exercício. Applied Physical Pharmacy.


A viscosidade do plasma humano a 370C é 1.2 cP.
Assumindo que o plasma se comporte como um
fluido newtoniano, determine a viscosidade do
plasma para transfusão que é mantido a 250 C. A
energia de ativação do plasma é 4.25 x 103
cal/mol .

lousa
Viscosidade de líquidos

Efeito da pressão
Se considerarmos o fluxo de um fluido incompressível
(que é o caso de líquidos) através de um tubo, a
viscosidade do líquido pode ser encontrada a partir
da seguinte expressão:

R 4 P
= Equação de Poiseuille
8l (dV / dt )

onde P é a diferença de pressão entre a


extremidade superior e inferior do tubo, l é
comprimento do tubo, R é o seu raio e dV/ dt é o
fluxo do líquido.
Portanto, quando a pressão aplicada na parte
superior for maior, a viscosidade aumenta
Viscosidade de líquidos

Dedução da equação de Poiseuille

A força de atrito Fr, que resiste ao movimento relativo


de duas camadas adjacentes quaisquer, é
proporcional a A, a área da interface entre elas, e a
dv/dr, o gradiente de velocidade entre as mesmas.
dv
Fr = A (6)
dr

= coeficiente de
viscosidade
Viscosidade de líquidos

O tipo de escoamento governado por


esta relação dv
Fr = A
dr
é chamado de escoamento laminar,
que se caracteriza por um
escoamento maciço do fluido, onde
sobre as velocidades moleculares
distribuídas ao acaso se superpõe
um componente da velocidade na
direção de escoamento.
Viscosidade de líquidos

Considere um fluido incompressível escoando por um tubo


de seção transversal com raio R e comprimento l.
Admite-se que o fluido nas
paredes do tubo esteja em
repouso e a velocidade de
escoamento aumenta até
atingir um máximo no centro
do tubo.
Sendo v a velocidade linear a uma distância r qualquer do
eixo do tubo, um cilindro de fluido de raio r experimenta
uma resistência viscosa dada por:
Viscosidade de líquidos
dv
Fr = − 2rl (7)
dr
em um regime de escoamento estacionário (a
velocidade e a pressão, num determinado ponto, não
variam com o tempo)
Fr é balanceada pela força que impele o fluido,
contido neste cilindro, através do tubo: F = Fr
A pressão que impele o líquido é dada por:
P = F/A → F = P.A
Fr = r2(P1 – P2)
P1 = pressão na parte superior do tubo
P2 = pressão na parte inferior do tubo
Viscosidade de líquidos
Igualando-se as expressões que fornecem Fr (slides
21 e 24):
−  .2rl = r 2 (P1 − P2 )
dv
dr

r
obtém-se: dv = − ( P1 − P2 )dr
2l
Integrando-se ambos os lados, chega-se a:
( P1 − P2 )r 2
v=− + cons tan te
4l
Quando v= 0 → r = R, que é a condição de
contorno, que determina a constante de
integração:
( P1 − P2 )
v=− (R2 − r 2 ) (8)
4l
Viscosidade de líquidos

O fluxo do fluido através do tubo, dV/dt = volume


total de fluido que escoa pelo tubo por segundo é
dado por: R 2rdr = elemento da área da
dV
=  2rdr.v =
Em vez de dV/dt, seção transversal do tubo (V.
melhor pensar em Figura do slide 23)
V/t dt 0
( P1 − P2 ) 2 2
R
=  2rdr (R − r )
4l
0
 [ f ( x) + g ( x)]dx =
Integrando-se, chega-se a:  f ( x)dx +  g ( x)dx
dV  (P1 − P2 ) 4 R 4 P
= R (9) é a mesma expressão
=
dt 8l da Lei de Poiseuille: 8l (dV / dt )
Viscosidade de líquidos
A expressão do fluxo:
dV  (P1 − P2 ) 4
= R
dt 8l
pode ser escrita assim:
dV  (P1 − P2 )
=
dt 8l
 4
R
Pode-se pensar que a expressão é análoga à Lei de Ohm:
i = U/R
dV/dt é análogo à i (corrente elétrica)
(P1 – P2) é análogo à U (diferença de potencial elétrico)

8l
4 é análogo à resistência R (= .(l/A))

R
Reologia

No caso da vazão de um líquido através de um


capilar o coeficiente de viscosidade, segundo
Poiseuille, é :
 = ( r4 t P)/8VL
(4)
onde P é a pressão hidrostática sobre o líquido, V é
o volume do líquido que flui em t segundos através
do capilar de raio r e de comprimento L. Sendo a
pressão exercida pela coluna do líquido
correspondente a: P = h..g ; h=altura da coluna de
líquido, = densidade do líquido, g= aceleração da
gravidade.
Reologia

r, V e L dependem do viscosímetro utilizado e podem


ser caracterizados por uma constante k do
viscosímetro. Já  e t dependem do líquido
investigado. Então, a viscosidade pode ser escrita
como:
 = k t

Para dois líquidos diferentes temos que a relação


entre as suas viscosidades é dada por:
1 1t1
=
2  2t 2
Reologia

Viscosidade relativa (rel): relação entre a


viscosidade da solução e do solvente puro. São
medidas em viscosímetro capilar e é obtido pela
relação entre o tempo de fluência da solução e o
tempo do solvente, supondo-se que as densidades
da solução e do solvente puro sejam
aproximadamente iguais:

 sol t sol sol= viscosidade da solução


 rel = = 0 = viscosidade do
0 t0 solvente

rel é adimensional

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