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Conceitos e propriedades dos fluidos, hidrostática, hidrodinâmica e hidrometria

Conceitos dos fluidos


Gomes (2012) define fluido como uma substância que se deforma continuamente,
isto é, escoa, sob ação de uma força tangencial por menor que ele seja. O conceito de
fluidos envolve líquidos e gases, estes se diferenciam com relação a sua
compressibilidade e volume. Enquanto os líquidos adquirem a forma do recipiente que
os contêm possuindo volume definido e considerados incompressíveis, os gases ao
preencherem o recipiente não formam superfície livre e não têm volume definido,
além de serem considerados compressíveis.

Propriedades dos fluidos


Dentre as propriedades dos fluidos, destacam-se

 massa específica ou densidade absoluta (): É a massa contida por unidade de


volume (=m/v). As dimensões de  são ML-3 ou FL-4T2.
 peso específico (): É a força (peso) que a Terra exerce sobre os corpos, por
unidade de volume. A dimensão de  é FL-3 (N m-3, kgf m-3, tonelada-força m-
3). Entre o peso específico e a massa específica existe a relação fundamental,
envolvendo a aceleração da gravidade (g):  = g.
 densidade ou densidade relativa (d): Em se tratando de líquidos, é a relação
entre o peso específico (ou a massa específica) da substância considerada e o
peso específico (ou a massa específica) da água à temperatura de 4 ºC.
Tratando-se de gases, relaciona-se com o ar. Pela própria definição, a
densidade é adimensional.
 atrito interno ou viscosidade dinâmica (): Refere-se à resistência das
moléculas ao deslizamento entre as mesmas, sendo bastante influenciada pela
temperatura.
Imaginando-se duas lâminas, com área A, no interior de um fluido,
distanciadas de n, para induzir uma variação de velocidade v entre ambas,
em
regime laminar, necessita-se desenvolver uma força F:
 = coeficiente de viscosidade dinâmica (característica de cada fluido); no sistema CGS
a unidade é o poise (dina cm-2 s).

 viscosidade cinemática () = /

As dimensões de  são L2T-1, sendo, no sistema CGS igual a cm2 s-1


(stoke).

 Compressibilidade (): Refere-se à redução do volume da substância, sob a


ação de pressão externa ou à variação do peso específico, em relação à
variação da pressão. O inverso da compressibilidade (1/) é a elasticidade. A
compressibilidade da água é considerada, na prática, apenas no cálculo do
Golpe de Aríete. Os gases são altamente compressíveis.
 atrito externo (f): Refere-se à resistência ao movimento do fluido, devido à
rugosidade das paredes dos condutos, provocando perda de carga (energia).
Deve-se distinguir dois tipos de Regimes de Escoamento: a) laminar: as
trajetórias das moléculas são paralelas e não ocorre atrito externo; b)
turbulento: as trajetórias das moléculas se cruzam e há turbulência do fluido,
ocorrendo atrito interno e atrito externo, com predominância desse último.
Esses regimes são classificados por um valor adimensional - Número de
Reynolds (Rey). Para condutos forçados Rey = VD/ e para condutos livres Rey
= VRh/ = VD/4. em que,
o V - velocidade média do fluido no conduto;
o D - diâmetro do conduto;
o  - viscosidade cinemática do fluido (água (20 ºC) = 1,01·10-6 m2 s-1);
o Rh – raio hidráulico = área/perímetro.
 pressão de vapor: Os líquidos atingem o estado de vapor com a elevação da
temperatura ou com a redução da pressão (pressão negativa ou tensão). Se o
líquido está em um recipiente fechado, as moléculas de vapor vão acumulando-
se sobre o mesmo, até atingirem a saturação (pressão de saturação),
exercendo uma pressão – pressão de vapor. A pressão de vapor aumenta com a
elevação da temperatura, tornando-se igual ao valor da pressão atmosférica no
ponto de ebulição. Para a água, ao nível do mar, isso ocorre a 100 ºC, com
pressão de 10,33 m c.a.

Hidrostática
A Hidrostática refere-se ao estudo de forças em fluidos em repouso. O
equacionamento matemático se dá através da Equação Fundamental da
Hidrostática - Lei de Stevin.

 Lei de Stevin
Consiste no equilíbrio das forças sobre um elemento de volume infinitesimal em forma
cúbica, definido no plano cartesiano de coordenadas obtendo-se a distribuição das
forças de pressão e as forças de ação a distância agindo sobre o elemento. Como o
elemento está em repouso, o somatório das forças de pressão e das forças de ação a
distância é igual a zero. De acordo com a lei de Stevin “A diferença de pressão entre
dois pontos no interior de um fluido homogêneo e em repouso, é igual ao produto da
diferença de profundidade e o peso específico”.

 Lei de pascal
“A pressão exercida num ponto no interior de um fluido transmite-se com a
mesma intensidade em todas as direções”. Zanini (2016) cita como exemplo o
acionamento do êmbolo no sistema ilustrado abaixo, o fluido escoa-se
semelhantemente pelos orifícios.

 Pressão atmosférica. Unidades de pressão


A atmosfera constitui-se em um fluido que exerce pressão na superfície da
Terra: a pressão atmosférica. Essa pressão exercida pelo ar foi demonstrada pela
clássica experiência de Torricelli: um tubo é preenchido com mercúrio e invertido em
uma cuba com esse mesmo fluido. O nível do mercúrio estabiliza-se a 760 mm de
altura, no caso de a experiência ter sido realizada ao nível do mar. Acima do mercúrio
no tubo, praticamente reina o vácuo. Pela Lei de Stevin, estando os pontos A e B ao
mesmo nível, eles possuem a mesma pressão e conclui-se que a pressão atmosférica
ao nível do mar (pressão atmosférica normal) corresponde a 760 mm de Hg

 Pressão absoluta e manométrica


Segundo FOX (1988), considerando P0 a pressão correspondente ao nível de referência
z0, a pressão P em uma posição z qualquer é encontrada pela eq:

Para os líquidos, adota-se a superfície livre como nível de referência. Dessa


forma, medem-se as distâncias de cima para baixo como distâncias positivas, uma vez
que para fluidos z está em geral abaixo de z0. Com h positivo no sentido de cima para
baixo conforme a Figura 2.6, h = z0 – z resultando no Princípio de Stevin:

a) Pressão absoluta ou total P decomposta em P0 no nível de referência z0 e ρgh em


função da massa líquida acima do ponto onde se deseja conhecer o valor da pressão.
Quando acima de z0, tem-se o ar ambiente, então P0 = Patm que é a pressão
atmosférica.
A pressão absoluta é medida a partir do vácuo absoluto. Seu valor é sempre positivo e
sempre se considera a pressão atmosférica.
Patm = 760 – 0,0081h (2.11)
Onde h(m) é a altitude do local em metros e Patm é a pressão atmosférica em mmHg.
b) Pressão manométrica: É medida a partir da pressão atmosférica e seu valor tanto
pode ser negativo quanto positivo. Não se leva em consideração a pressão
atmosférica.

 Medidores de pressão
As pressões relativas podem ser medidas por meio de diversos aparelhos
ou dispositivos, sendo frequente o uso de:
o Barômetro de mercúrio: pode-se determinar a pressão atmosférica
Patm em termos da altura H da coluna de mercúrio:

o Manômetro de tubo aberto: Usado para medir pressões manométricas.


Possui um tubo em forma de U contendo um fluido de densidade ρ2
conhecida. Numa extremidade do tubo é conectado um recipiente de
fluido de densidade ρ1 conhecida e cuja pressão deseja-se medir. A
outra extremidade é aberta para a atmosfera. Se ρ1 for desprezível
comparada com ρ2:

o Piezômetro: O cálculo da pressão no piezômetro é feito pela aplicação


da equação da estática dos fluidos entre a pressão a ser obtida no
centro do tubo e da pressão no topo da coluna fluida, que é a pressão
atmosférica Patm. Assim, a pressão é dada por:
Hidrodinâmica
Na hidrodinâmica estudam-se as leis que regem o movimento dos fluidos. Em algumas
situações, os fluidos são considerados fluidos perfeitos, ou seja, incompressíveis e sem
viscosidade.
O movimento dos fluidos é um fenômeno conhecido como escoamento que
pode ser definido como o processo de movimentação de suas moléculas, umas em
relação às outras e aos limites impostos ao escoamento.

 REGIMES DE ESCOAMENTO
Os regimes de escoamento podem ser laminar, instável e turbulento e são
calculados por um adimensional, o Número de Reynolds (No Rey), definido
como:
a) para condutos de seção circular

b) para condutos de seção não-circular


Utilizando-se a definição de Raio hidráulico (RH) = área/perímetro, tem-se:

o Regime laminar: neste regime, as trajetórias das moléculas são bem


definidas, não se cruzam e a velocidade é relativamente baixa. A
ocorrência deste regime é pouco frequente quando o fluido é água
o Regime turbulento: as trajetórias são desordenadas e as moléculas
cruzam-se totalmente. Há forte influência das asperezas das paredes
das tubulações, aumentando a turbulência e gerando perda de carga
(perda de energia). Este regime ocorre na maioria das situações práticas
em que o fluido é a água.
 Equação da continuidade
Admitindo-se o princípio da conservação da massa, no fluxo em um
conduto, tem-se:

Considerando-se o fluido incompressível (1 = 2) e tratando-se de movimento


permanente (a quantidade escoada é constante), W1 = W2. Assim, a expressão da
equação da continuidade é:

3.3. TEOREMA DE BERNOULLI


O Teorema de Bernoulli refere-se ao princípio da conservação da energia.
Assim, para o escoamento indicado no esquema seguinte tem-se:

No conduto com fluido em escoamento, identificam-se três formas de


energia:
 de posição (potencial) = mgz, metro;
 de pressão (piezométrica) = pressão/ = h, metro;
 cinética (velocidade) = mv2/2, metro.
Considerando-se uma quantidade de massa que se desloca do ponto 1 para
o ponto 2, tem-se
Pelo Teorema de Bernoulli: as diferentes formas de energia se convertem e o
somatório das mesmas mantém-se constante. Assim,

Tratando-se de fluido real, no deslocamento do fluido de um ponto a outro ocorre


dissipação de energia, com transferência de calor para o fluido e para o ambiente
externo à tubulação, devido ao atrito interno ou atrito interno mais atrito externo.
Assim, a expressão fica:

Hidrometria
A Hidrometria é basicamente o estudo dos métodos de medição de velocidade e
vazão.

 Medição de vazão em canais


o Método direto
Neste método mede-se o tempo gasto para encher um recipiente de
volume conhecido. A vazão é determinada dividindo-se o volume do
recipiente pelo tempo requerido para o seu enchimento. Este processo
aplica-se a pequenas vazões, como as que ocorrem em riachos e canais
de pequeno porte. Na irrigação este método é utilizado para medir a
vazão em sulcos, aspersores e gotejadores.
o Método da velocidade
Este método envolve a determinação da velocidade e da seção
transversal do canal cuja vazão se quer medir.
a) Determinação da seção de escoamento
Em canais de grande porte e que apresentam seção irregular, rios por exemplo,
a seção de fluxo é obtida dividindo-se a seção transversal em segmentos. A
área de cada segmento é obtida multiplicando-se sua largura pela
profundidade média da seção. A soma das áreas fornece a área total da seção
de escoamento.

b) Determinação da velocidade de escoamento


A determinação da velocidade média de escoamento é dificultosa, uma vez que
ocorrem variações significativas na sua intensidade dentro da seção de
escoamento. O método do flutuador é utilizado para medir a velocidade de
escoamento quando não se necessita de grande precisão. Quando houver esta
necessidade, a velocidade é medida através de molinetes.
b.1) Método do flutuador
Este método se aplica a trechos retilíneos de canal e que tenham seção
transversal uniforme. As medidas devem ser feitas em dias sem vento, de
forma a se evitar sua influência no caminhamento do flutuador.Para facilitar a
medida, devem ser esticados fios no início no meio e no final do trecho onde se
pretende medir a velocidade. O flutuador deve ser solto à montante, a uma
distância suficiente para adquirir a velocidade da corrente, antes dele cruzar a
seção inicial do trecho de teste. Com a distância percorrida e o tempo,
determina-se a velocidade média do flutuador através da fórmula:

b.2) Método do Molinete


Para medir a velocidade em canais de grande porte, ou um rio, visando a
obtenção de informações mais precisas e rápidas, utilizam-se os molinetes.
Quando o molinete é imerso no canal, as suas hélices adquirem uma velocidade
que é proporcional à velocidade da água. Esta última é determinada medindo-
se o tempo gasto para um certo número de revoluções e utilizando-se a curva
de calibração do molinete, que relaciona a velocidade de rotação do molinete à
velocidade da água no canal.

 Vertedores
Vertedores são aberturas feitas na parte superior de uma parede ou placa, por
onde o líquido escoa. Sua principal utilização se dá na medição e controle da
vazão em canais. Os vertedores mais utilizados no controle da irrigação são os
de parede delgada (espessura da parede é inferior a metade da sua carga
hidráulica), com formato retangular, triangular e trapezoidal. Esses tipos de
vertedores não são recomendados para canais transportando material em
suspensão, uma vez que a precisão das medidas é reduzida pelo acúmulo deste
material no fundo do canal.
o Vertedor Retangular (parede delgada): Os vertedores retangulares são
muito utilizados para medir e controlar a vazão de canais de irrigação.
Os vertedores podem ser divididos em duas categorias: sem e com
contração lateral

o Vertedor Triangular (parede delgada)


Os vertedores triangulares são precisos para medir vazões na ordem de
30 L/s, embora o desempenho até 300 L/s também seja bom.
 Calhas
Uma calha é um equipamento de medição, construído ou instalado em um
canal, que permite a determinação da sua descarga através de uma relação
cota-vazão. Ela apresenta uma seção inicial convergente, que serve para
direcionar o fluxo para uma seção contraída, que funciona como uma transição
entre o canal e a garganta. Após a garganta, se inicia uma divergente, cuja
função é retornar o fluxo de água ao canal. A garganta atua como uma seção de
controle, onde ocorrem velocidade e altura de escoamento críticas, que
permitem a determinação da vazão com precisão com uma única leitura do
nível de água na seção convergente da calha.

 Hidrômetros
Hidrômetros são aparelhos utilizados para a determinação da vazão em
tubos. O mais comum é o hidrômetro de volume. Esse hidrômetro possui um
compartimento que enche e esvazia continuamente, determinando assim o
volume que escoa em um certo intervalo de tempo.

REFERÊNCIAS

Peres, J.G. Hidráulica Agrícola. 1996.


Yunus A. Çengel and John M. Cimbala. Fluid Mechanics Fundamentals Applications.
2006
Benjamin Doyon. Lecture Notes On Generalised Hydrodynamics. 2020
Maria Helena Rodrigues Gomes. Apostila De Mecânica Dos Fluidos. 2012

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