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Compressibilidade e recalques

Generalidades;
Quando uma camada de solo é submetida a tensão vertical, a mudança de volume pode
ocorrer através do rearranjo dos grãos do solo, e alguma quantidade de fratura de grãos também
pode ocorrer. O volume de grãos do solo permanece constante, então a mudança no volume total
é devido à mudança no volume de água. Em solos saturados, isso só pode acontecer se a água for
empurrada para fora dos vazios. (Giri, 2019)
Quando se executa uma obra de engenharia, impõe-se no solo uma variação no estado de
tensão que acarreta deformações, as quais dependem não só da carga aplicada, mas
principalmente da Compressibilidade do Solo.
Os principais conceitos relacionados com a redução de volume que ocorre em um solo,
considerando que exista deformação somente na vertical e não em outra direção, são:
A) Adensamento: É a redução de volume no solo ao longo do tempo;
B) Compressibilidade : É a redução de volume no solo sem levar em consideração o tempo;
C) Recalque: É a deformação vertical devida à ação de uma tensão
É necessário determinar tanto a magnitude da mudança de volume (ou o assentamento)
quanto o tempo necessário para que a mudança de volume ocorra. A magnitude do recalque
depende da magnitude da tensão aplicada, da espessura da camada do solo e da compressibilidade
do solo.
De acordo com Gerscovich (2016) no caso dos solos, as deformações sob ação das cargas é
muito mais complexo em comparação a outros materiais:
 Podem ser causadas por deformação ou deslocamento das partículas sólidas, ou ainda,
por expulsão de ar ou água dos vazios;
 São comparativamente maiores que as dos materiais de construção (cerca de 0,005% a
2,5% nos solos);
 Podem ser imediatas ou ocorrerem durante um período de tempo elevado após a
aplicação do carregamento (em linhas gerais: deformações em solos arenosos ou
argilosos não saturados são rápidas; nos solos argilosos saturados os recalques são
lentos e estão associados à saída de água dos vazios do solo);
 Podem não ser uniformes – o que pode acarretar em danos (trincas, rachaduras, etc.)
As estruturas assentes sobre o solo de fundação (deformações ou recalques
diferenciais) e inviabilizar à sua utilização.
As deformações podem ser subdivididas em três categorias (Figura 2.1):
 Elásticas: quando estas são proporcionais ao estado de tensões imposto. As
deformações elásticas estão associadas a variações volumétricas totalmente
recuperadas após a remoção do carregamento;
 Plásticas: associadas a variações volumétricas permanentes sem a restituição do índice
de vazios inicial do solo, após o descarregamento;
 Viscosas: também chamadas de fluência, são aquelas evoluem com o tempo sob um
estado de tensões constante
Considerando-se que o solo é um sistema trifásico, composto de partículas sólidas (minerais),
ar e água nos seus vazios, as deformações que ocorrem no elemento podem estar associadas à:
 Deformação dos grãos individuais;
 Compressão da água presente nos vazios (solo saturado);
 Variação do volume de vazios, devido ao deslocamento relativo entre partículas.

Fatores que influenciam no adensamento


 Tipo de Solo
A interação entre as partículas de solos argilosos (argilo-minerais) é feita através de ligações
elétricas e o contato feito através da camada de água. Já os solos granulares transmitem os
esforços diretamente entre partículas. Por esta razão, a compressibilidade dos solos argilosos é
superior a dos solos arenosos, pois a camada dupla lubrifica o contato e, portanto facilita o
deslocamento relativo entre partículas.

 Estrutura dos Solos


A estrutura dos solos é um fator importante na definição da sua compressibilidade.
Considerando que os grãos são admitidos como incompressíveis, quanto maior o índice de vazios,
maior será a compressibilidade do solo. Os solos argilosos se apresentam segundo estruturas
dispersas ou floculadas (Figura 2.8). Solos com estrutura floculada são mais compressíveis; com a
compressão desses solos o posicionamento das partículas tende a uma orientação paralela
(estrutura dispersa).

 Nível de tensões
O nível de tensões a que o solo está sendo submetido interfere na sua compressibilidade tanto
no que diz respeito à movimentação relativa entre partículas, quanto na possibilidade de acarretar
em processos de quebra de grãos. A medida que o nível de tensões é aumentado, elevam-se as
tensões intergranulares acarretando em fraturamento e/ou esmagamento das partículas. Com a
quebra de grãos, a compressibilidade aumenta.

 Grau de Saturação
No caso de solos saturados, a variação de volume ocorre por uma variação de volume de água
contida nos vazios (escape ou entrada). No caso de solos não saturados, o problema é mais
complexo uma vez que, ao contrário da água, a compressibilidade do ar é grande e pode interferir
na magnitude total das deformações.
Adensamento das argilas;
A compressibilidade em areias (solos não-coesivos) devido a sua alta permeabilidade ocorrerá
rapidamente, pois a água poderá drenar facilmente. Em contrapartida, nas argilas (solos coesivos)
a saída de água é lenta devido à baixa permeabilidade, portanto, as variações volumétricas
(deformações/recalques) dependem do tempo, até que se conduza o solo a um novo estado de
equilíbrio, sob as cargas aplicadas. Para melhor entendimento do processo de adensamento
recorre-se a teoria do adensamento.
Teoria do adensamento
O desenvolvimento da Teoria do Adensamento se baseia nas seguintes hipóteses:

 O solo é homogêneo e completamente saturado;


 A água e os grãos são incompressíveis;
 O escoamento obedece à Lei de Darcy e se processa na direção vertical;
 O coeficiente de permeabilidade se mantém constante durante o processo;
 O índice de vazios varia linearmente com o aumento da tensão efetiva durante o
 Processo do adensamento.
 A compressão é unidirecional e vertical e deve-se à saída de água dos espaços
 Vazios;
 As propriedades do solo não variam durante o adensamento.
É possível compreender a teoria do adensamento utilizando-se a analogia mecânica de
Terzaghi (1925), onde as molas representam o "esqueleto sólido" do solo, e os furos capilares nos
êmbolos, os seus vazios. É claro que a pressão nas molas (ou seja, no esqueleto sólido) aumenta à
medida que a água escapa pelos furos (ou então através dos poros do material).
Consideremos que a estrutura sólida do solo seja semelhante a uma mola, cuja deformação é
proporcional à carga sobre ela aplicada, como mostrado na Fig. 10.1. O solo saturado seria
representado por uma mola dentro de um pistão cheio de água, no êmbolo do qual existe um
orifício de reduzida dimensão pelo qual a água só passa lentamente (a pequena dimensão do
orifício representa a baixa permeabilidade do solo).
Ao se aplicar uma carga sobre o pistão, no instante imediatamente seguinte, a mola não se
deforma, pois ainda não terá ocorrido qualquer saída de água, que é muito menos compressível
do que a mola. Neste caso, toda a carga aplicada será suportada pela água. Com a água em carga,
ela procura sair do pistão, pois o exterior está sob pressão atmosférica. Num instante qualquer, a
quantidade de água de expulsa terá provocado uma deformação da mola que corresponde a uma
certa carga (por exemplo de 5 N). Nesse instante, a carga total (de 15 N, no exemplo) será
parcialmente suportada pela água (1O N) e parcialmente pela mola (5 N) (como mostrado na Fig.
10.1). A água, ainda em carga, continuará a sair do pistão; simultaneamente, a mola irá se
comprimir e, assim, suportará cargas cada vez maiores. O processo continua até que toda a carga
seja suportada pela mola. Quando não houver mais sobrecarga na água, cessará sua saída pelo
êmbolo.

No solo em campo ocorre algo semelhante. Quando um acréscimo de pressão é aplicado, a


água nos vazios suporta toda a pressão. Ou seja, a pressão neutra aumenta de um valor igual ao
acréscimo de pressão aplicada, enquanto a tensão efetiva não se altera. Nesse instante, não há
deformação do solo, pois só variações de tensões efetivas provocam deformações do solo (como
só cargas suportadas pela mola, na analogia, provocam deformações da mola).
A saída da água indica uma redução do índice de vazios, ou seja, uma deformação da estrutura
sólida do solo. Consequentemente, parte da pressão aplicada passa a ser suportada pelo solo;
logo, há um aumento da tensão efetiva. A maneira como ocorre essa transferência de pressão
neutra para a estrutura sólida do solo, com a consequente redução de volume, com o tempo a
dissipação do acréscimo de poro pressão torna-se nula e as tensões efetivas constantes. Nessa
fase, a deformação ocorre devido ao rearranjo das partículas do solo. Essa variação no volume do
solo constitui a Teoria do Adensamento, desenvolvida por Terzaghi.
Parâmetros de deformabilidade e suas determinações;
Ortigão (2007) Para se adotar um modelo teórico no cálculo de deformações, podem ser
definidos alguns parâmetros de compressibilidade (figura 6.13). Esses parâmetros podem ser
obtidos através do Ensaio de compressão edométrica em laboratório, o ensaio consiste na
compressão de uma amostra de solo contida em um molde que impede qualquer deformação
lateral e segue as seguintes etapas

 Amostra colocada em um anel metálico (5cm ≤ D≤ 12cm)


 Confinada no topo e na base por pedras porosas
 Permite-se a saída de água
 Placa rígida de aço pela qual se aplicam as cargas são colocadas sobre a pedra porosa
 Aplicação dos carregamentos em etapas, em diversos intervalos de tempo, até a sua
estabilização
 Mede-se a variação de altura em função do tempo
 Novo acréscimo de carga (Usualmente o dobro da tensão anterior)
 Repete-se o processo
 Descarregamento em pelo menos três estágios
Para cada incremento de carga traça-se uma curva compressão x tempo, com base nas leituras
do extensômetro, conforme mostram a Figura 5.5

Para estágio de carga calcula-se a variação do índice de vazios devido a compressão da


amostra. Assim sendo, ao final do ensaio, é possível plotar a curva de compressibilidade do solo
representada pela relação entre o índice de vazios e tensão efetiva. (Figura 5.6)
Para o ensaio de adensamento, determinam-se os índices físicos do corpo de prova através de
ensaios específicos; isto é, peso específico total (γt), densidade dos grãos (G) e teor de umidade
inicial (wo). Com isso, calcula-se o Índice de vazios inicial:

A partir da variação da altura da amostra, o índice de vazios final (ef) é calculado como

Onde Δh é a variação de altura da amostra, Hs a altura de sólidos e Ho a espessura inicial da


amostra. Observa-se que o índice de vazios final é determinado em função da altura de sólidos
(Hs), que representa um valor constante, independente da deformação do solo. A altura de sólidos
pode ser determinada a partir do índice de vazios original e espessura inicial da camada, conforme
equação

A partir das curvas obtidas em do índice de vazios em função da tensão efetiva vertical (’v)
(plotado com log ou não) os coeficientes de compressibilidade e compressibilidade volumétrica, o
módulo de elasticidade edométrico e os índices de compressão, expansão e recompressão podem
ser determinados.
Deformabilidade dos solos expansivos e colapsíveis;
 Solos colapsíveis
São solos não saturados que apresentam uma considerável e rápida compressão quando
submetidos a um aumento de umidade sem que varie a tensão normal a que estejam submetidos.
O fenômeno de colapsividade é geralmente estudado por meio de ensaios de compressão
edométrica. A Figura 3.21 apresenta, esquematicamente, resultados de ensaios feitos com um solo
colapsível. A curva A indica o resultado de um ensaio em que o corpo de prova permanece com
seu teor de umidade inicial; a curva B representa o resultado de um ensaio em que o corpo de
prova foi previamente saturado; a curva C o de um corpo de prova, inicialmente com sua umidade
natural e que, quando na tensão de 150 kpa, foi inundado, apresentando uma brusca redução do
índice de vazios.

O valor de recalque resultante do umedecimento depende do estado de saturação em que o


solo se encontra e do estado de tensões a que está submetido, como se depreende da análise da
Figura 3.21. O colapso é devido à destruição dos meniscos capilares, responsáveis pela tensão de
sucção, ou a um amolecimento do cimento natural que mantinha as partículas e as agregações de
partículas unidas. Fisicamente, o fenômeno do colapso está intimamente associado ao da perda
de resistência dos solos não saturados, conforme visto no item anterior.

 Solos Expansivos
Ao contrário dos solos colapsíveis, certos solos não saturados, quando submetidos à saturação,
apresentam expansão. Esta expansão é devida à entrada de água nas interfaces das estruturas
mineralógicas das partículas argilosas, ou à liberação de pressões de sucção a que o solo estava
submetido, seja por efeito de ressecamento, seja pela ação de compactação a que foi submetido.
A expansibilidade é muito ligada ao tipo de mineral argila presente no solo, sendo uma das
características mais marcantes das argilas do tipo esmectita. Mas solos essencialmente siltosos e
micáceos, geralmente decorrentes de desagregação de gnaisse, apresentam-se expansivos
quando compactados com umidade abaixo da umidade ótima. A exemplo dos solos colapsíveis, o
estudo da expansividade dos solos é geralmente feito por meio de ensaios de compressão
edométrica. Inunda-se o corpo de prova quando as deformações decorrentes de certa pressão já
se estabilizam e mede-se a expansão ocorrida.
Conceito de recalques e levantamento;
O recalque é definido como a deformação vertical descendente devida à ação de uma tensão,
já o levantamento é a deformação ascendente do solo. As deformações descendentes e
ascendentes podem ser causadas por diversos fatores como:

 Aplicação de cargas estruturais


 Rebaixamento do NA
 Colapso do solo devido à inundação
 Inchamento de solo expansivo
 Deterioração estrutural da fundação
As deformações são uma das principais responsáveis pelo surgimento de patologias na
superestrutura, como por exemplo, o aparecimento de fissuras na alvenaria.
Tipos de recalques;
As deformações que ocorrem durante a compressão oedométrica podem ter diferentes causas
e, para analisá-las, estão plotados na figura 7.7 os resultados de um estágio de carga de um ensaio
oedométrico. O gráfico apresenta resultados típicos de recalques, plotados com o logaritmo do
tempo decorrido durante um estágio de carga, distinguindo-se três tipos de recalque: inicial,
primário e secundário. O recalque inicial ocorre simultaneamente à aplicação da carga, devido não
só à compressão de gás dos vazios do solo, quando o material não é completamente saturado, mas
também à influência de deslocamentos horizontais in situ nas vizinhanças do ponto considerado,
quando a largura do carregamento não é grande em relação à espessura da camada. O recalque
primário é o que ocorre por adensamento devido à expulsão da água dos vazios do solo, sendo o
único que pode ser tratado pela teoria do adensamento.
O recalque secundário, também denominado fluência, ocorre mesmo com pressões efetivas
constantes e é devido à deformação lenta do esqueleto sólido. Corresponde ao trecho retilíneo da
curva, no final do ensaio, em que as poropressões são nulas e as deformações variam proporcio
nalmente ao logaritmo do tempo.
O Recalque total (Rt) é a soma dos três tipos de recalque:
Rt = Ri + Ra + Rs
Onde: Ri – recalque imediato à aplicação da tensão;
Ra – recalque primário
Rs – recalque secundário

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