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Parte I

ESCOAMENTO EM
CONDUTOS FORÇADOS

1. INTRODUÇÃO
3
Hidráulica

O termo hidráulica tem sua origem no grego hydoraulos, cujo significado


etimológico é: hydor que significa água e aulos que representa tubo
ou condução. Por isso, pode-se conceituar hidráulica como sendo o ramo da
engenharia que estuda a condução da água, por meio de tubulações fechadas ou de
condutos abertos.

A hidráulica pode ser dividida, de um modo geral, em:

a) Geral ou teórica que estuda a água em repouso e em movimento, isto é,


a hidrostática e a hidrodinâmica;

b) Aplicada ou hidrotécnica ramo que estuda as aplicações práticas da


hidráulica;

Além das várias aplicações da hidráulica, o abastecimento de água potável de


uma cidade ou bairro também é da responsabilidade dela.

A importância do estudo da hidráulica se demonstra pela permanente


necessidade da água para a sobrevivência do ser humano. Em razão disso, as
sociedades surgiram sempre às margens de rios. Ao passar dos anos o quantitativo
populacional foi aumentando e as moradias foram se localizando mais distantes do rio.
O homem começou a sentir necessidade de levar água para sua moradia, tanto em
função da exigência vital como do seu próprio lazer.

Surgiram os dutos responsáveis pela condução da água até os pontos desejados.


Inicia-se o estudo dos condutos forçados. A hidráulica é responsável por esse estudo,
particularmente pelo transporte de água potável da Estação de Tratamento de Água
(ETA) aos reservatórios de distribuição; entre reservatórios e destes aos pontos de
consumos, tais como residências, comércios, indústrias, chafariz etc.

Quando se fala em condutos forçados é lembrada de imediato a água que chega


até nós, quando abrimos as torneiras existentes em nossas casas. Entretanto, para
que a água chegue até esse ponto de consumo, é necessário que ela passe por uma
estação de tratamento e desta, por bombeamento, seja conduzida para os
reservatórios de distribuição ou diretamente às redes de abastecimento de água.

A tubulação responsável em levar água da estação de tratamento da água 1 (ETA)


ao reservatório de distribuição ou diretamente à rede de distribuição de água, ou ainda
de reservatório a reservatório de distribuição, é denominada adutora.

As adutoras são tubulações de diâmetros elevados, que apresentam pressão de


escoamento elevada, razão porque não se deve fazer tomada d’água para pontos de

1
Em Manaus existem duas estações de tratamento de água localizadas no bairro da Compensa.
Condutos Forçados 4

consumo diretamente das mesmas, o que provocaria rompimento das tubulações da


instalação predial e dos dispositivos integrantes da mesma (torneiras, válvulas,
registros, cotovelos, tês etc.).

Estudaremos nos capítulos que se seguem, as formulações exigidas para o


cálculo e dimensionamento desses condutos e das redes de distribuição, responsáveis
em conduzir água potável até os pontos de consumos.

1.1 Propriedades dos fluidos

O conhecimento das grandezas do fluido é de suma importância para a solução


de problemas hidráulicos, pois em função de variações de massa e volume,
principalmente, essas grandezas podem sofrer variações que afetam o resultado do
problema.

Dentre as diversas grandezas, as mais importantes para o desenvolvimento de


problemas hidráulicos, são:

a) Massa específica ( 

A massa específica num ponto é definida como sendo o limite da massa M de


fluido dividido pelo pequeno volume  que o circunda, quando este tende a zero.




Em se tratando de valores médios, define-se a massa específica de uma


substância como sendo a quantidade de matéria contida na unidade de volume de uma
substância qualquer.

Como a massa e o volume dependem do espaço e do tempo, a massa específica


também é função dessas duas grandezas. Assim,  =  ( x,y,z,t ), e sua dimensão, no
sistema MLT, é [] = M L-3 e a unidade, no Sistema Internacional, kg /m 3 .

A dimensão da grandeza, no sistema dimensional MLT, será representada entre


colchetes e a unidade, no SI, entre parênteses.
b) Peso específico ( 
5
Hidráulica

Peso específico de uma substância é o seu peso por unidade de volume.

 W é o peso do corpo;

 =  . g

[  ] = [M L-2 T-2] (kg/m2.s2 ou N / m3 )

c) Densidade ou densidade relativa ( d )

A densidade de uma substância é a relação entre seu peso e o peso de igual


volume de água nas condições normais. Também pode ser definida como a relação
entre sua massa ou peso específico e os da água.

 
d 
 agua  agua

[ d ] = adimensional

d) Volume específico ( s )

É a relação entre o volume ocupado pela unidade de massa de fluido. Portanto, é


o inverso da massa específica.
 1
 s  
M 

1
s 

s= M-1 L3 ( m3 / kg )

e) Viscosidade dinâmica (  )

É a propriedade pela qual um fluido oferece resistência ao cisalhamento. Da lei de


Newton da viscosidade extrai-se a viscosidade dinâmica

V
 =  . y
Condutos Forçados 6

[  ] = M L-1 T-1 ( kg /m.s )

fluido não viscoso .......... = 0


fluido viscoso.................. ≠ 0
fluido elástico ................. = 

Importante observar que a viscosidade dinâmica varia com a temperatura do


fluido, mas essa variação não é a mesma para líquidos e gases. Quando o líquido sofre
aumento de temperatura a viscosidade dele diminui. O mesmo não acontece com os
gases que ao sofrer aumento de temperatura têm uma diminuição da viscosidade.

fluido temperatura viscosidade


líquidos aumenta diminui
gases aumenta aumenta

f) Viscosidade cinemática (  )

É uma propriedade matemática, e não física, definida como a relação entre a


viscosidade dinâmica e a massa específica do fluido.




[ ] = L2 T-1 ( m2 / s )

1.2 Escoamento Permanente e Variado

As grandezas que caracterizam o comportamento dos fluidos, de maneira geral,


podem ser função do espaço e do tempo. Em relação ao tempo, o escoamento pode
ser:

a) Permanente: quando as grandezas não variam com o tempo na seção


de estudo;

b) Não-permanente: quando as grandezas variam com o tempo na seção de


estudo;

Em relação ao espaço, o escoamento se classifica em:

a) Uniforme  quando as grandezas não variam com o espaço na seção de


7
Hidráulica

estudo;

b) Variado  quando as grandezas variam com o espaço na seção de


estudo.

Os esquemas seguintes exemplificam os escoamentos permanente variado e


uniforme, considerando apenas a grandeza velocidade. No primeiro esquema, o
escoamento é permanente porquê tanto na seção 1 como na seção 2, a velocidade
não se altera com relação ao tempo. Entretanto, em relação ao espaço nota-se que a
velocidade variou da seção 1 até a seção 2. No segundo esquema isto já não
acontece. A velocidade se mantém constante tanto em relação ao tempo, pois na
mesma seção (1 ou 2) a velocidade não varia de ponto a ponto, como em relação ao
espaço pois a velocidade manteve-se constante da seção 1 até a 2.

V = V(y) V = V(y)

1 Escoamento permanente variado 2

1 U Escoamento permanente uniforme 2 U

1.3 Equação de Bernoulli

a) Para fluido ideal

Raramente é considerado o escoamento de fluido ideal em engenharia, isto é,


fluido não viscoso (  = 0 ). Entretanto, se assim for considerado, a equação de
Bernoulli aplicada entre duas seções de um duto onde há fluido em escoamento, pode
ser representado pelo gráfico seguinte.

onde:

 L.E. é a linha de energia, que representa a soma das duas parcelas de energia:
energia potencial, representada pela energia de posição mais a energia de pressão ( Z
p V2
+  ) e a energia cinética ;
2g
Condutos Forçados 8

 L.P. é a linha piezométrica, que representa a energia potencial (energia de


posição mais a energia de pressão )

L.E.

L.P.

xA

ZA
B x

ZB

p.r.

E, portanto, temos :

p A VA2 p V2
ZA    ZB  B  B
 2g  2g

p V2
Z   cte (1.7)
 2g

b) Para fluido real

Em hidráulica se trabalha com escoamento de fluido real, isto é, fluido viscoso


(0). Assim, o fluido ao escoar de uma determinada seção à outra, perde parte de sua
energia. Neste caso, a equação de Bernoulli aplicada entre duas seções de
escoamento de um duto, fornece o esquema abaixo:

onde:

p
 L.C. é a linha de carga, que representa a soma da energia potencial (Z +  )
V2
mais a energia cinética ;
2g
9
Hidráulica

 hf é a perda de carga (ou de energia) entre as duas seções. Logo, temos :

EA = EB + hf

L.E.

L.C. hf

L.P.

x A

ZA
B
x

ZB

p.r.

Exercícios Propostos

1) Demostrar a igualdade numérica entre a massa específica de um fluído (em kg/m 3,


no sistema MKS ) e seu peso específico ( em Kgf / m 3, no sistema MKfS ).

2) Sabendo que 800 gramas de um líquido enchem um cubo de 0,08 m de aresta, obter
Condutos Forçados 10

a massa específica desse fluido em g / cm 3.

Resp.: 1,56

3) Sendo 1030 Kg/m 3, a massa específica da cerveja, achar sua densidade.

Resp.: 1,03

4) Enche-se um frasco (até o traço de afloramento) com 3,06 g de ácido sulfúrico.


Repete - se a experiência, substituindo o ácido por 1,66 g de água. Obter a densidade
do ácido sulfúrico.

Resp.: 1,84

5) A densidade do gelo em relação à água é 0,918. Calcular em porcentagem o


aumento de volume de água ao solidificar - se.

Resp.:

6) Dois líquidos ( de volumes 1 e 2 ) têm massa específicas 1 e 2, correspondentes


às massas m1 e m2. Supondo que esses líquidos sejam miscíveis, sem variação dos
respectivos volumes, obter a expressão da massa específica da mistura em função de
1, 2, 1 e 2.

Resp.:

7) Toma-se um vaso em forma de pirâmide regular invertida, cuja base ( em um plano


horizontal ) é um quadrado de lado b = 10 mm e cuja altura é h = 120 mm. Enche - se o
vaso com massas iguais de água e mercúrio (  = 13600 Kg/m3 ).

b
b
h
a
h

hm

Determinar a altura da camada de mercúrio.

Resp.:

8) Tem - se água que flui em regime permanente para cima em um cano vertical de 0,1
m de diâmetro e através de um bocal de 0,05 m de diâmetro, sendo descarregada para
a atmosfera. A velocidade da corrente na saída do bocal deve ser de 20 m/s. Calcular
11
Hidráulica

a pressão instrumental requerida na seção 1, supondo escoamento livre de fricção.

4m

Resp.: 23,13 m

9) Considere a água que flui de um tanque de grandes dimensões através de um tubo


de 50 mm de diâmetro. O fluido em cor escura no manômetro é mercúrio. Determinar a
velocidade no cano e a taxa de descarga do tanque.

Resp.:

4m

d = 50 mm

6 cm
1,5 cm

10) À um Tubo de Venturi, com os pontos (1) e (2) na horizontal, liga-se um manômetro
de mercúrio. Sendo a vazão Q = 3,14 litros/s e U 1 = 1 m/s, calcular os diâmetros D 1 e
D2, desprezadas as perdas de carga.

Resp.:

água
D1 D2

0,29 m

0,03 m

Hg
Condutos Forçados 12

11) Deduzir a expressão que determine a velocidade da corrente líquida na entrada do


Tubo de Pitot.

Resp.:

12) A água escoa na tubulação BMC com as seguintes características: z B = 20 m; zC


=10m; pB= 1,5 Kgf/cm2 , UB = 0,6m/s, DBM = 200 mm, DMC = 100 mm. Calcular:

a) a carga total ;
b) a velocidade no trecho MC;
c) a vazão;
d) a pressão no ponto C.

Resp.: 35,018m; 2,4 m/s; 0,02 m 3/s

M
X
C

ZB
ZC

13) Pelo tubo 1, de diâmetro D 1 = 600 mm escoa água com vazão Q 1 = 240 litros/s e a
pressão de 6 mca. Uma parte do líquido sobe pelo tubo 2, de diâmetro D 2 = 50 mm, à
altura a de 5m para alimentar o reservatório R, cujo volume é 0,3 m 3. Determine o
tempo necessário para encher R.
13
Hidráulica

Resp.:

a R2
TUBO 2

TUBO 1

2. CÁLCULO DOS CONDUTOS FORÇADOS

O problema de escoamento forçado de água através de um conduto forçado


(adutora, rede de distribuição etc.) é solucionado, basicamente, através de três
fórmulas: a equação da energia (equação de Bernoulli), equação da continuidade e a
equação da perda de carga. As duas primeiras já são conhecidas faltando determinar
as equações da perda de carga.

2.1 Perda de carga contínua

Este item e o seguinte tratam das fórmulas para determinação da perda de carga
contínua. É assim denominada por ser originada pelo atrito entre a água e as paredes
do conduto ou das partículas do próprio fluido umas com as outras, quando do
escoamento ao longo da canalização.

A determinação da perda de carga contínua pode ser feita através das chamadas
equações empíricas (fórmulas práticas) ou pela denominada Fórmula Universal. A
utilização desta última fórmula ainda é restrita, em razão da dificuldade para a
determinação do coeficiente de atrito.

Em contrapartida, a facilidade de aplicação das fórmulas práticas, que


apresentam coeficientes de atrito tabelados, torna-as mais utilizadas atualmente, em
problemas hidráulicos. Entretanto, a utilização da Fórmula Universal, recomendada
pela ABNT2, tende a ser adotada cada vez mais, em detrimento das equações

2
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
Condutos Forçados 14

empíricas, em função do uso de computador que permite, sem dificuldades, resolver os


problemas de condutos forçados e condutos livres.

A seguir são apresentadas as principais equações empíricas, que são expressões


resultantes da análise estatística de dados experimentais, sendo desse modo, válidas
apenas para as condições experimentadas.

2.2 Fórmulas Práticas

a) Experiência de Darcy

Foi um experimentador francês de nome Darcy quem realizou as primeiras


experiências para a determinação da perda de carga, em 1857, na França. Em sua
experiência Darcy utilizou um amplo leque de diâmetro (15mm a 500mm); de
velocidade (de alguns cm/s até 6,0 m/s); de tubos de diversos materiais (ferro fundido,
chumbo, vidro etc.), sugerindo a expressão seguinte para a determinação da perda de
carga,

DJ
 ( V )
4

onde:

D = diâmetro interno do conduto;


V = velocidade média de escoamento;
J = perda de carga unitária;
(V) = função que depende do material do tubo.

Para tubos de ferro fundido, por exemplo, a função indicada é

V   b1. V 2

sendo b1 um coeficiente que depende do material e da idade do conduto.

b) Fórmula de Darcy-Weissbach

Se na fórmula de Darcy fizermos b 1 = f / 8g obtém-se a fórmula de Darcy-


Weissbach3.
3
O estudo desses dois pesquisadores foi concentrado na determinação da função φ (V)
determinada no estudo inicial de Darcy. O coeficiente b1 da função resultou igual a f/8g. Portanto,
a função procurada determinada pelos estudiosos é dependente de um coeficiente de atrito f que depende da
natureza do material do conduto.
15
Hidráulica

DJ f 2 hf
 V  J
4 8g L

L V2
hf  f
D 2g

associando-se esta expressão à equação da continuidade, tem-se

8f Q2
hf  L
 2g D5

A tabela 4A apresenta os valores do coeficiente de atrito f que depende da


natureza do material do duto.

b) Fórmula de Hazen-Williams

É uma das fórmulas práticas mais utilizada no cálculo de condutos forçados. É


recomendada pela ABNT para escoamento em condutos com diâmetro superior ou
igual a 50mm, pois os estudos empíricos não foram realizados em diâmetros inferiores.

10, 641 Q 185


,
hf  L
C 185
,
D 4,87

expressa em termos de velocidade, tem-se

V  0, 355 CD 0,63 J0,54

A tabela 4B apresenta os valores do coeficiente C, que depende da natureza e da


idade do conduto utilizado.

Para diâmetros pequenos, como nas instalações prediais e algumas instalações


industriais, a ABNT recomenda as seguintes fórmulas:

c) Fórmula de Flamant
Condutos Forçados 16

4
DJ V7

4 D

onde  é um coeficiente que depende da natureza das paredes da tubulação. Para


tubos plásticos, combinando a equação anterior com a equação da continuidade, tem-
se

Q 175
,
J  0, 0014 4,75
D

d) Fórmulas de Fair-Whipple-Hsiao

Para tubos de aço galvanizado, transportando água em condições normais, a


ABNT recomenda a seguinte expressão.

Q  27,113 D 2,596 J0,532

A ABNT recomenda as seguintes expressões para tubos de cobre ou de latão


transportando:

 água em condições normais: Q  55, 934D 2,71J0,57

 água quente: Q  63, 281D 2,71J0,57

Tabela 4A

Valores do coeficiente f da fórmula de Darcy-Weisbach

Natureza do Tubo Valores de f


Aço galvanizado novo com costura 0,012 a 0,06
Aço galvanizado novo sem costura 0,009 a 0,012
Cimento amianto novo 0,009 a 0,058
Cimento amianto usado 0,10 a 0,15
Concreto moldado em madeira 0,012 a 0,080
Concreto moldado em ferro 0,009 a 0,06
Concreto centrifugado 0,012 a 0,085
Ferro fundido incrustado 0,02 a 1,5
Ferro fundido revestido com cimento 0,014 a 0,10
Ferro fundido revestido com asfalto 0,012 a 0,06
PVC 0,009 a 0,050
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Hidráulica

Obs.: 1. Os valores mais baixos de f correspondem aos maiores diâmetros;


2. Para cálculos mais precisos, é aconselhável consultar tabelas mais completas.

Tabela 4B

Valores do coeficiente C da fórmula de Hazen-Williams

Tubos Valores de C
Aço corrugado 60
Aço com juntas “lock-bar”, novos 135
Aço galvanizado (novos e em uso) 125
Aço rebitado, novos 110
Aço rebitado, em uso 85
Aço soldado, novos 120
Aço soldado, em uso 90
Aço soldado com revestimento especial (novos e em uso) 130
Chumbo 130
Cimento Amianto 135
Cobre 130
Concreto - acabamento liso 130
Concreto - acabamento comum 120
Ferro fundido, novos 130
Ferro fundido, em uso 90
Ferro fundido, tubos revestidos de cimento 110
Grês cerâmico vidrado (manilha) 110
Latão 130
Madeira, em aduelas 120
Tijolos, condutos com revestimento de cimento alisado 100
Vidro 140

2.3 Fórmula Universal

A expressão desta fórmula é apresentada similarmente à fórmula de Darcy-


Weisbach pelos técnicos de origem germânica e anglo-saxônica. A Fórmula Universal é
recomendada pela ABTN.

Para a determinação desta equação pode-se utilizar a Análise Dimensional.


Através desta ferramenta se determina como as grandezas envolvidas em um
determinado fenômeno físico estão relacionadas entre si.

Consideremos o escoamento de água sob pressão, em regime permanente e


uniforme, através de uma tubulação de seção qualquer, conforme indicado no
esquema abaixo. Analisemos este escoamento da seção (1) para a seção (2),
Condutos Forçados 18

considerando as grandezas que estão envolvidas no fenômeno.

1 2
p ,L
L 
DH
diâmetro
hidráulico

p1
p2




Assim, como o escoamento se processa do ponto de maior energia (no caso


pressão) para o ponto de menor energia, observa-se que a energia total na seção (2) é
menor do que a energia total em (1), pois há perda de carga entre as duas seções.

Verifica-se que nesse fenômeno as grandezas envolvidas são:

r - massa específica;
m - viscosidade absoluta;
DH – diâmetro hidráulico;
e - rugosidade do duto;
L – comprimento do duto (entre as seções consideradas);
Dp – diferença de pressão entre as seções 1 e 2;
V – velocidade de escoamento.
a) Teorema de Buckingham (ou dos p)

" Se a lei de um fenômeno depende de n quantidades diferentes, que por sua vez
dependem de k, grandezas fundamentais, a lei que rege o fenômeno pode ser escrita
em função de (n-k) números adimensionais ", ou seja, se um fenômeno físico puder ser
descrito através de uma função F [ G 1, G2, ...,Gn ] = 0 das n grandezas Gi, também
poderá ser descrito através de uma função F [p1,p2, ...,pn-k ] = 0, de (n-k) coeficientes
adimensionais pi, independentes, quaisquer, da forma

pi = Ai G1a1. G2a2 . ..... Gnan


19
Hidráulica

onde: Ai = número puro


pi = p1, p2, ......, pn-k = conjunto completo dos coeficiente adimensionais;
k = característica da matriz dimensional;
n = número de grandezas envolvidas.

b) Matriz Dimensional

É a matriz formada pelos expoentes das grandezas fundamentais (MLT ou FLT),


respectivamente de cada grandeza envolvida no fenômeno.

A tabela a seguir mostra as dimensões das grandezas em estudo, considerando o


sistema de dimensões FLT.

GRANDEZA SÍMBOLO UNIDADE DIMENSÃO


Velocidade média V m/s LT-1
Diâmetro hidráulico DH m L
Viscosidade absoluta m kgf.s/m2 FL-2T
Massa específica r kgf.s2/m4 FL-4T2
Rugosidade média e m L
Diferença de pressão Dp kgf/m2 FL-2
Comprimento L m L

logo, para o fenômeno estudado, tem-se a seguinte matriz dimensional, em FLT,

V D m r e Dp L
F 0 0 1 1 0 1 0
L 1 1 -2 -4 1 -2 1
T -1 0 1 2 0 0 0

c) Método do Sistema Probásico (Buckingham)

Desta matriz podem ser extraídos determinantes. Se entre os determinantes


extraídos de uma matriz houver um de ordem k que seja diferente de zero, e se todos
os outros de ordem maior do que k forem iguais a zero, diz-se que a característica da
matriz é k.
No caso em estudo, podem ser extraídos determinantes de ordem 3 ou de ordem
2. Se houver um determinante de ordem 3 que seja diferente de zero, a característica
da matriz é 3, logo k = 3 e conseqüentemente existirá (n-k) = (7-3) = 4 coeficientes
adimensionais p’s ou seja,

F [p1, p2, p3 , p4 ] = 0

Portanto, para que um conjunto de k grandezas constitua um sistema probásico é


Condutos Forçados 20

preciso que o determinante associado à sua matriz seja diferente de zero.

Se, como exemplo, forem escolhidas as grandezas r, DH, e, como sistema


probásico, o determinante associado a sua matriz é

1 0 0
4 1 1 =0 (existem 2 colunas iguais )
2 0 0

logo, tais grandezas não constituem um sistema probásico. Da mesma forma, o


conjunto V, DH , e, cujo determinante

0 0 0
1 1 1 =0 (2 colunas iguais ou 1 linha de zeros )
- 0 0
1

também não serve como sistema probásico. Se, entretanto, escolhermos as grandezas
r, V, DH , temos:

1 0 0
- 1 1 ≠0
4
2 - 0
1

podendo constituir-se como um sistema probásico. Observe que as grandezas


escolhidas refletem os tipos de grandezas envolvidas no fenômeno, a primeira
dinâmica, a segunda cinemática e a terceira geométrica.

Adotando este conjunto como sistema probásico, podemos determinar os 4


parâmetros adimensionais, quais sejam:

p1 = A1 ra1 Va2 DHa3 m1 e0 Dp0 L0

p2 = A2 rb1 Vb2 DHb3 m0 e1 Dp0 L0

p3 = A3 rc1 Vc2 DHc3 m0 e0 Dp1 L0

p4 = A4 rd1 Vd2 DHd3 m0 e0 Dp0 L1

substituindo as grandezas por suas dimensões, tem-se:


21
Hidráulica

[ p1 ] = A1 [ F L-4 T2 ]a1 [ L T-1]a2 [ L ]a3 [ F L-2 T ]1 = F0 L0 T0

[ p1 ] = F a1 + 1 L -4a1 + a2 + a3 -2
T 2a1 - a2 + 1 = F0 L0 T0

Resultando no sistema de equações:

a1 + 1 = 0
-4a1 + a2 + a3 - 2 = 0
2a1 - a2 + 1 = 0

onde:

a1 = -1 ;
a2 = -1
a3 = -1

Substituindo-os na expressão de p1 , resulta:


p1 = A1 e, fazendo A1 = 1,
VD H

 VD H VD H
1    Número de Reynolds (2.3)
 

da mesma forma, encontraremos os seguintes números adimensionais para os demais


parâmetros adimensionais:

 Rugosidade relativa

 Coeficiente de pressão

 Fator de forma geométrica


Condutos Forçados 22

Para chegar aos valores acima aconselha-se que o aluno desenvolva p2 , p3 e p4


da mesma forma como foi feito para a determinação de p1.

Assim, pelo teorema de Buckingham, pode-se escrever:

 , ,
L
F ( Re, D DH
)=0
H

ou ainda, o coeficiente de pressão e o fator de forma como combinação dos demais,

p   
  R e , 
1 2 L  DH 
V
2 DH

o primeiro termo da equação é definido como coeficiente de perda de carga, f , logo


f = j ( Re, D )
H

como Dp = g DH , resulta:

 H
f
1 L
V 2
2 DH

onde DH é a perda de carga contínua e, denotada a partir daqui, por h f ( perda por
fricção ou atrito) tem-se:

equação conhecida como Fórmula Universal.

Considerando condutos forçados cilíndricos, tem-se que

DH = D ou DH = 4 RH

onde RH é o raio hidráulico e definido como a razão entre a área molhada e o


perímetro molhado ( RH = Am / Pm ). Assim, a fórmula universal passa a ser escrita
como,
23
Hidráulica

Substituindo nessa a velocidade deduzida da equação da continuidade, V = 4Q /


pD2 e ainda hf / L = J, definida como perda de carga unitária, tem-se

8f Q 2
J
 2g D5
2.4 Experiência de Nikuradse (1933)

Como f é função do Número de Reynolds e da Rugosidade Absoluta, f =  (Re,


e/D), as pesquisas se desenvolveram em busca da equação que melhor representasse
essa função no sentido da determinação do coeficiente de atrito f. Assim, Nikuradse,
em 1933, iniciou experimento no qual considerou condutos cilíndricos longos, de seção
circular, utilizando papel com grãos de areia no interior do duto para representar e
variar a rugosidade do mesmo. Assim, fez variar o tamanho dos grãos, o diâmetro do
tubo e a vazão de escoamento. Tais variações lhe proporcionaram utilizar os seguintes
valores de D/e:

15 - 30,6 - 60 - 126 - 252 - 507 - 1014.

Para uma curva correspondente a um dado valor de D/e, Nikuradse conseguiu


distinguir 5 regiões distintas (esquema a seguir), quais sejam:

 Região I : [ 0 ‹ Re ‹ 2000 , regime laminar , f = 64/Re ]

 Região II : [ 2000 ‹ Re ‹ 2400 , passagem do regime laminar para turbulento ]

 Região III : [ 2000 ‹ Re ‹ R1 , f é função de Re e independente de D/ e ; regime


turbulento hidraulicamente liso ]

 Região IV : [ R1 ‹ Re ‹ R2 , f é função simultânea de Re e de D/ e ; regime


turbulento; transição entre o regime turbulento hidraulicamente liso (RTHL) e
regime turbulento hidraulicamente rugoso (RTHR) ]

 Região V : [ Re › R2 , f é função exclusiva de D/e e independente de Re ;


log 100f
regime turbulento hidraulicamente rugoso (RTHR) ] D/ = 15
D/ =30,6
II
....
IV V .....
....
I .....
III
D/ =1014

log Re
R1 R2
Condutos Forçados 24

8
f
De acordo com Nikuradse  R1  116
, e

D
8
f
R 2  70,0

D

2.5 Expressões do coeficiente de perda de carga

a) Regime laminar :

b) Regime turbulento: Fórmula de Colebrook - Write (1939) válida para tubos


circulares comerciais em todo o domínio do escoamento turbulento.

1   2,51 
 2 log  
f  3,7D R e f 

explicitada em termos da velocidade média, temos

  2,51 
U   2 2gDJ log  
 3,7D R e f 

c) Fórmula aproximada de Moody : utilizada na elaboração do Diagrama de


Moody. apresentado a seguir.
25
Hidráulica

  1
3

  106  
f  0,0055 1  20000  
  D Re  
 

A utilização da fórmula universal na solução de alguns problemas de condutos


forçados ainda é restrita, principalmente no dimensionamento de adutoras ou outros
condutos forçados, quando se deseja conhecer o diâmetro e a velocidade de
escoamento, já que o coeficiente de atrito depende, além de outras, dessas duas
grandezas para sua determinação.

Exemplos de aplicação

1) Determinar o volume diário fornecido por uma adutora de ferro fundido (f ofo) com
diâmetro de 200 mm e comprimento de 3.200 m, alimentada por um reservatório com
N.A. na cota 938,00 m e a descarga se fazendo na cota 890,00 m ao ar livre.

N.A. 938,00
(1)

(2)
890,00

Aplicando a equação de Bernoulli entre (1) e (2):

p1 V12 p V2
Z1    Z 2  2  2  hf
 2g  2g
Condutos Forçados 26

V2
938  890   hf
2g

sendo o tubo de ferro fundido, e considerando o coeficiente de atrito f = 0,04.

V2  L
48  1  f 
2g  D

2g.48 2x9,81x48
V 
L 3200
1 f 1  0,04
D 0,2

V = 1,21 m/s

0,2
2
D2
Q V 121
,  Q  0,038 m3 / s
4 4

  Q. t  0, 038 x 86400  = 3.284,3 m3

Se, entretanto, não considerarmos a carga cinética, resulta

V2 L V2 3200
48  f  48  0, 04
2g D 2 x 9, 81 0, 2

V = 1,21 m/s

O resultado fica inalterado, o que justifica, em muitos casos, o abandono da carga de


velocidade.

2) Para projetar o abastecimento de uma pequena cidade, foram colhidos os seguintes


dados:

 População de 15.000 habitantes, no fim do alcance do projeto;


 Consumo per capita, 200 l/hab.dia, no dia de maior demanda;
 Comprimento da adutora, 5.300 m;
 Cota do N.A. do manancial, 980,65 m;
 Cota do N.A. do reservatório de distribuição, 940,36 m.
27
Hidráulica

Calcular o diâmetro da adutora e a velocidade de escoamento.

980,65m

adutora SOLUÇÃO 940,36m

 Cálculo da vazão cidade

Q = População . cpc
rede de distribuição

Q = 15.000 x 200 = 3.000.000 l/dia

transformada para m3/s, tem-se,

Q = 3.000.000 / 86.400 x1000 = 0,0347 m 3/s

Aplicando a equação de Bernoulli entre os níveis d’água

p1 V12 p 2 V22
Z1    Z2    hf
 2g  2g

h f  Z 1  Z 2  980, 65  940, 36  40, 29m

 Cálculo da perda de carga unitária

h f 40, 29
J=   0, 0076m / m
L 5. 300

Utilizando a fórmula de Darcy- Weissbach

8f Q2
hf  2 L 5
 g D

considerando tubo de ferro fundido, adotando-se f = 0,023

0,2 0,2
 8fLQ 2   8 x0,023 x5300 x0,0347 2 
D   2   
  ghf    2
x9,81x 40,29 
 

D = 0,197 m , e o diâmetro comercial é D = 200 mm

logo, pela equação da continuidade,


Condutos Forçados 28

4Q 4x0,0347
V 2
  V = 1,10 m/s
D (0,2)2

Obs.: a velocidade de escoamento deve ser calculada com o diâmetro interno que difere do
diâmetro comercial denominado de diâmetro nominal.

3) Determinar a velocidade média de escoamento em uma tubulação alimentada por


um reservatório de nível constante, descarregando livremente na atmosfera, conforme
esquema abaixo. Resolva considerando o fluido ideal e real.
reservatório
A de nível cte.

H
Q,D,L

B Vb

a) Considerando a água como fluido ideal e aplicando a equação de Bernoulli entre A e


B, resulta:

p A VA2 p V2
ZA    ZB  B  B
 2g  2g

como, ZA - ZB = H, pA = pB e considerando o nível d’água do reservatório constante, a


energia cinética em A é nula, resultando

VB2
H  VB = 2gH
2g

Logo, VB depende apenas de H e o movimento é uniformemente acelerado,


equivalente ao movimento de queda livre. Como o diâmetro é constante, essa seria a
velocidade média de escoamento no conduto.

b) Sendo a água um líquido real e desprezando as perdas localizadas, temos, pela


equação de Bernoulli:
29
Hidráulica

p A VA2 p V2
ZA    Z B  B  B + hf
 2g  2g

e, pelas mesmas razões anteriores, apresenta o seguinte resultado

VB2
H + hf
2g

Assim, o cálculo hidráulico do conduto é feito através das seguintes equações :

 Equação da Continuidade: Q =  D2 / 4 . VB

 Equação da perda de carga: h f =  L Qn / Dm

Exercícios propostos

14) A altura da pressão no centro de certa seção de um conduto plástico com 100 mm
de diâmetro é de 15,25 m. No centro de outra seção localizada a jusante, a pressão
vale 0,14 kgf/cm2. Se a vazão for de 6 l/s, qual a distância entre as citadas seções

15) Determinar a vazão e a velocidade em uma tubulação com 2982 m de comprimento


e 600 mm de diâmetro, construída com tubos de f ofo pichados, com 10 anos de uso,
alimentada por um reservatório cujo NA situa-se 13,45m acima da seção de descarga.

16) A pressão em um ponto do eixo de um conduto distante 1610 m do reservatório


que o alimenta é de 3,5 kgf/cm 2. Este ponto situa-se a 457 m abaixo do nível d'água do
reservatório. Supondo f = 0,025, qual é a velocidade da água para D = 300 mm?

17) O ponto A do eixo de um conduto de 3.593,5 m de comprimento e D = 300 mm


situa-se 122 m acima do plano de referência. A tubulação, com f = 0,02, termina no
fundo de um reservatório cuja cota é 152,5 m referida ao mesmo plano. Se a linha de
Condutos Forçados 30

carga passar a 45,75 m acima de A e o nível d’água estiver 9,15 m acima da fundo,
qual a vazão que alimentará o reservatório?

18) Determinar, pela fórmula de Hazen-Williams, o diâmetro da tubulação de ferro


fundido, pichado, com 10 anos de uso, 305 m de comprimento, conduzindo 145 l/s de
água e descarregando 1,22 m abaixo do reservatório que a alimenta.

19) Qual o diâmetro comercial que deveria ser usado se, no problema anterior, os
tubos tivessem 30 anos de uso?

20) Determinar o volume diário fornecido por uma adutora de ferro fundido (f ofo) com
diâmetro de 800 mm e comprimento de 5.200 m, alimentada por um reservatório com
N.A. na cota 938,00 m e a descarga se fazendo na cota 890,00 m ao ar livre.

N.A. 938,00
(1)

(2)
890,00

21) A declividade da linha de carga de certa tubulação é 0,005 e a vazão vale 900 l/s.
Sendo o coeficiente de atrito f= 0,026, calcular o diâmetro do conduto.

22) A alimentação de um reservatório de distribuição de água de uma cidade é feita a


partir de uma represa mantida à cota 413 m. A adutora, em ferro fundido, é constituída
de dois trechos: o primeiro com 600 m de comprimento e 12” de diâmetro; o segundo
com 300 m de comprimento e 6” de diâmetro. Na junção dos 2 trechos existe uma
sangria de 50 l/s para um abastecimento industrial. Determinar a vazão de saída da
represa e de chegada no reservatório mantido à cota 30 m.

413 m

L1= 600 m 50 l/s 390 m

L2 = 300 m
D1 = 12"
D2 = 6"
31
Hidráulica

23) O suprimento de água de uma cidade, cuja população futura será de 36.000
habitantes, deverá ser feito a partir de uma represa situada a 5.200 m. São conhecidos:
os níveis d’água da represa, N.A. máx = 770,00 m; N.A. min = 765,00 m; N.A. do
reservatório de distribuição = 725,00 m; consumo per capita = 200 l/hab.dia; coeficiente
de maior consumo k = 1,25. Calcular o diâmetro da adutora considerando que será
construída com tubos de ferro fundido.

N.A.máx=770,00 m

N.A.min=765,00 m

725,00 m

L=5.200 m

vai para a distribuição

24) Dois reservatórios A e B estão ligados por um conduto de ferro fundido novo com
um ponto alto em C. Determinar os diâmetros dos trechos AC e CB para uma vazão de
60 l/s, com a condição de o trecho AC ter o menor diâmetro que assegure em C a
altura piezométrica mínima de 2,0 m. Desprezar as perdas localizadas.

80,00 m
75,00 m
60,00 m
C
A L1 =1000 m L2 =300
m
B
Condutos Forçados 32

25) O projeto de uma linha adutora ligando dois reservatórios previa uma vazão de 250
l/s. A adutora, medindo 1300 m de comprimento, foi executada em tubos de concreto
com acabamento comum, com diâmetro de 600 mm. Colocada em funcionamento,
verificou-se que a vazão era de 180 l/s devido a alguma obstrução deixada em seu
interior por ocasião da construção. Calcular a perda de carga provocada pela
obstrução.

2.6 Linha de carga efetiva (LCE)

É o lugar geométrico dos pontos representativos da soma das energias: potencial


(de posição + de pressão) e cinética (de velocidade).

Considerando um conduto forçado de diâmetro constante D e comprimento L, no


qual escoa água do reservatório R1 para o R2.

O escoamento da água na tubulação faz com que ocorram perdas de energia


(perdas de carga) ao longo da tubulação e nas peças e conexões. Dessa forma,
podemos construir a linha de carga, conforme esquema mostrado abaixo.

(perda de carga à saída de R1)


M

perda de carga no cotovelo


Linha de energia
R1 ou linha de carga
efetiva
A hf
perda de carga na curva

perda de carga no registro


Linha de energia ou
linha decarga
efetiva
perda de carga à entrada de N
R2

R2

R1
corte/elevação B
registro

curva

registro

cotovelo R2

planta
33
Hidráulica
Condutos Forçados 34

2.7 Perfis do encanamento em relação à linha de carga

O conhecimento prévio da posição do encanamento em relação a linha de carga é


um aspecto importante e necessário ao projetista hidráulico, pois dessa forma poderá
projetar de forma mais clara as necessidades da obra de assentamento da
canalização. No escoamento de líquidos são considerados dois planos estáticos: o
plano de carga efetivo (PCE) que se refere ao nível d’água do reservatório de montante
(R1) e o plano de carga absoluto (PCA), situado acima do anterior a uma altura
correspondente a pressão atmosférica. Assim, pode-se ter sete casos, demonstrados
nos quadros abaixo:

1o caso: A tubulação está


inteiramente abaixo da LCE - em PCA

qualquer ponto da tubulação a


pressão é positiva, isto é p/ > 0. M PCE

Isso significa que num piezômetro


instalado no ponto E da tubulação, E1
LCA
a água subiria até o ponto E1. É o R1 A
caso em que deve sempre se ater o LCE
engenheiro, pois terá a garantia da
vazão calculada, salvo condições
N
topográficas impeditivas. E
R2
B

2o caso: A tubulação AB se PCA


desenvolve segundo a linha de
M PCE
carga - em qualquer ponto do
conduto a pressão efetiva é nula,
LC
isto é, p/ = 0. A pressão atuante R1 A A
em todo e qualquer ponto do LCE
conduto é igual à atmosférica. A N
tubulação funciona como conduto
livre.
B R2

3o caso: Parte da tubulação AB


situa-se acima da LCE, mas abaixo PCA

da LCA - neste trecho a pressão


M PCE
efetiva é negativa (p/<0), isto é,
menor que a pressão atmosférica. O
ambiente fica favorável ao R1
LCA
desprendimento de ar circulante A
com o fluido e à formação de bolsa
de vapor, que pode reduzir a vazão. LCE
N
Em adutoras é um grande
problema, obrigando a colocação de
dispositivos para retirada do vapor, R2
denominados ventosas. B
35
Hidráulica

4o caso: Parte da tubulação AB PCA


situa-se acima da LCA, mas abaixo
do PCE - situação idêntica a M PCE
anterior em condições mais
desfavorável. Nesse caso pode-se R1
LCA
adotar uma caixa de passagem A
unindo os trechos anterior e
posterior para reduzir as LCE
N
inconveniências provocadas.

R2
B

5o caso: Parte da tubulação AB PCA


situa-se acima da LCE e do PCE,
M PCE
mas abaixo da LCA - condições
piores do que os exemplos
anteriores. O escoamento só é R1
LCA
possível se a tubulação for A
previamente escorvada para dar a LCE
condição de continuidade. Assim, o N
trecho funciona como um sifão.
R2
B

6o caso: Parte da tubulação AB PCA


situa-se acima da LCA e do PCE,
M PCE
mas abaixo da PCA – o trecho
referido funciona como sifão nas
piores condições possíveis. R1
LCA
A

LCE
N

R2
B

7o caso: Parte da tubulação AB


PCA
situa-se acima do PCA - é
impossível, neste caso, o M PCE
escoamento do fluido por gravidade.
Há necessidade de instalação de R1
LCA
um sistema de recalque para que a A
água consiga ultrapassar o citado
LCE
trecho. N

R2
B
Condutos Forçados 36

2.8 Velocidades médias

O escoamento de água através dos condutos deve ocorrer com velocidade


adequada para que sejam evitados problemas, tanto com a tubulação como com o
próprio escoamento.

Assim, do ponto de vista econômico, seria vantajoso adotar-se velocidades altas


já que estas provocam perdas de carga altas e conseqüentemente menores diâmetros.

Entretanto, tais velocidades podem provocar ruídos e vibrações desagradáveis,


além do golpe de aríete, resultado de manobras em válvulas ou registros, capaz de
danificar a tubulação.

Em contra partida, velocidades baixas encarecem o sistema e facilitam o depósito


de material em suspensão no fluido, reduzindo a seção de escoamento do conduto e
alterando a dinâmica do escoamento.

Portanto, é aconselhável adoção de valores práticos de velocidade média, não


entendendo tais valores como limites rígidos.

A tabela a seguir apresenta a velocidade média para alguns tipos de escoamento.

ESCOAMENTO VELOCIDADE MÉDIA (m/s)


Água com material em suspensão  0,60
Rede de distribuição de água Umáx = 0,60 + 1,5D [D em m]
Instalações prediais U  14 D (D em m) ou U  4
Estações elevatórias de água 0,55  U  2,40

Assim, a velocidade média pode constituir-se num parâmetro importante no


dimensionamento rápido e prévio das tubulações, como será visto nos capítulos a
seguir. Alguns autores apresentam tabelas de velocidade máxima e vazão máxima em
função do diâmetro provável da tubulação.

Exemplo de aplicação:

1) Para projetar o abastecimento de uma pequena cidade, foram colhidos os seguintes


dados:

 População de 15.000 habitantes, no fim do alcance do projeto;


 Consumo per capita, 200 l/hab.dia, no dia de maior demanda;
 Comprimento da adutora, 5.300 m;
 Cota do N.A. do manancial, 980,65 m;
 Cota do N.A. do reservatório de distribuição, 940,36 m.

Calcular o diâmetro da adutora e a velocidade de escoamento.


37
Hidráulica

SOLUÇÃO

 Cálculo da vazão

Q = População . Cpc

Q = 15.000 x 200 = 3.000.000 l/dia

transformada para m3/s, tem-se,

Q = 3.000.000 / 86.400 x1000 = 0,0347 m 3/s

 Aplicando a equação de Bernoulli entre os níveis d’água

p1 V12 p 2 V22
Z1    Z2    hf
 2g  2g

h f  Z 1  Z 2  980, 65  940, 36  40, 29m

 Cálculo da perda de carga unitária

h f 40, 29
J=   0, 0076m / m
L 5. 300

 Pela fórmula universal

8f Q2
hf  L
 2g D5

 8fLQ2 
0, 2
 8. f.53000,03472 
D 2      D  0,42. f 0,2
  ghf  2
  .9,8140 . ,29 

4Q
Re    25 o c  0, 893 x10 6 m2/s
D

4 x 0, 0347 4, 947 x10 4


Re   Re 
D 0, 893 x10 6 D

Supondo que a tubulação seja de ferro fundido,  = 0,26 mm,


Condutos Forçados 38

 0, 00026
 ( D em m )
D D

atribuindo um valor inicial para f de 0,025 e desenvolvendo a interação através das


equações acima e ainda, utilizando o diagrama de Moody, tem-se
fi D (m)Re /D fi+1
5
0,025 0,2002,4x10 0,00130,0215
0,02150,1952,5x105 0,00130,0215
Como f convergiu para o valor 0,0215 temos, portanto, D = 0,195 m, e o diâmetro
comercial será: D = 200 mm.
logo, pela equação da continuidade,
4 Q 4 x 0, 0347
U   U = 1,10 m/s
D 2  ( 0, 2 ) 2
O quadro a seguir mostra a seqüência de cálculo para a solução dos problemas de
condutos forçados pela fórmula universal, utilizando-se o diagrama de Moody, quando
se tratar de escoamento turbulento.
No caso de escoamento laminar, o coeficiente de atrito f é explicito e diretamente
proporcional a Re, conforme equação 3.7.
Fórmula Universal 40

TIPOS DE PROBLEMAS - SOLUÇÃO PELO DIAGRAMA DE MOODY (ESCOAMENTO TURBULENTO

DADOS INCÓGNITAS PASSO 1 PASSO 2 PASSO 3 P

1 D, Q V, hf calcula-se calcula-se determina-se com


Q VD /D enc
V= Re  no
A 
2 D, hf V, Q assume-se calcula-se determina-se /D repe
um valor e Re entrando- ope
para f = f1
2gDhf qu
V se no diagrama
f1L para determinar
f = f2

calcula-se
3 hf, Q D, V assume-se determina-se /D repe
um valor e Re entrando- ope
0,2
para f = f1  8f LQ2  se no diagrama que
D1   12  para determinar
  ghf  f = f2

calcula-se
4 hf, V D, Q assume-se determina-se /D repe
um valor f LV 2 e Re entrando- ope
para f = f1 D1  1 se no diagrama qu
2ghf para determinar
f = f2

calcula-se
5 V, Q D, hf calcula-se determina-se com
4Q Re /D enc
D no
V

6 V, D Q, hf calcula-se calcula-se determina-se com


enc
Re /D no
Q  V. A
Exercícios propostos

3.1) A vazão em uma tubulação de 600 mm de diâmetro é 450 l/s. A adutora,


construída com tubos de f ofo, é alimentada por um reservatório cujo NA situa-se 15,50
m acima de um determinada seção, distante 2900 m do reservatório. Sabendo-se que
a temperatura da água é de 20 oC, calcular a velocidade média de escoamento e a
pressão disponível na seção de estudo.

3.2) Uma adutora carrega 300 l/s de água a 20 oC com velocidade média de 1,5 m/s.
Determinar seu diâmetro e a perda de carga total, sabendo-se que o comprimento da
mesma é de 800 m.

3.3) Determinar o volume diário fornecido por uma adutora de ferro fundido (f ofo) com
diâmetro de 200 mm e comprimento de 3.200 m, alimentada por um reservatório com
N.A. na cota 938,00 m e a descarga se fazendo na cota 890,00 m ao ar livre.

938,00
N.A.
(1)

(2)
890,00

3.4) A alimentação de um reservatório de distribuição de água de uma cidade é feita a


partir de uma represa mantida à cota 413 m. A adutora, em ferro fundido, é constituída
de dois trechos: o primeiro com 600 m de comprimento e 12” de diâmetro; o segundo
com 300 m de comprimento e 6” de diâmetro. Na junção dos 2 trechos existe uma
sangria de 50 l/s para um abastecimento industrial. Determinar a vazão de saída da
represa e de chegada no reservatório mantido à cota 390 m.

413 m

L1= 600 m 50 l/s 390 m

L2 = 300 m
D1 = 12"
D2 = 6"
Hidráulica 3

3.5) Determinar o diâmetro e a perda de carga de uma adutora de ferro fundido, de


4.305 m de comprimento, conduzindo 345 l/s de água à 25 oC com velocidade de 1,2
m/s.

3.6) A pressão em um ponto do eixo de um conduto distante 1600 m do reservatório


que o alimenta é de 3,5 kgf/cm 2. Este ponto situa-se a 457 m abaixo do nível d'água do
reservatório. Determinar a velocidade e a vazão da água para D = 300 mm e
temperatura de 25 oC ?

3.7) O suprimento de água de uma cidade, cuja população futura será de 36.000
habitantes, deverá ser feito a partir de uma represa situada a 5.200 m. São conhecidos:
os níveis d’água da represa, N.A. máx = 770,00 m; N.A. min = 765,00 m; N.A. do
reservatório de distribuição = 725,00 m; consumo per capita = 200 l/hab.dia; coeficiente
de maior consumo k = 1,25. Calcular o diâmetro da adutora considerando que será
construída com tubos de ferro fundido.

N.A.máx=770,00 m

N.A.min=765,00 m

725,00 m

L=5.200 m

vai para a distribuição

3.8) Dois reservatórios com 30,15 m de diferença de níveis são interligados por um
conduto medindo 3218 m de comprimento e diâmetro 300 mm. Os tubos são de f ofo e
conduzem água a temperatura média de 20 oC. Determinar a velocidade e a vazão
disponível.

3.9) Dois reservatórios A e B estão ligados por um conduto de ferro fundido novo com
um ponto alto em C. Determinar os diâmetros dos trechos AC e CB para uma vazão de
60 l/s, com a condição de o trecho AC ter o menor diâmetro que assegure em C a
altura piezométrica mínima de 2,0 m. Desprezar as perdas localizadas.
80,00 m
75,00 m
60,00 m
C
A Tabela 3A
L1 =1000 m L2 =300 m
B
4

Valores da Rugosidade Absoluta - 

Valores de 
Natureza dos Tubos (mm)

Aço laminado enferrujado 0,15 - 0,25


Aço laminado novo 0,05
Aço laminado incrustado 1,5 - 3
Aço laminado revestido de betume 0,015
Aço galvanizado 0,15 - 0,20
Aço soldado novo 0,03 - 0,1
Aço soldado enferrujado 0,4
Cimento Amianto 0,02
Ferro fundido novo 0,26
Ferro fundido enferrujado 1 - 1,5
Ferro fundido revestidos de betume 0,1
Ferro fundido fortemente incrustado até 3
Grês cerâmico vidrado (manilha) 0,3 - 1
Latão 0,003
Madeira 0,3 - 1
Vidro 0,003

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