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HIDRÁULICA E HIDROLOGIA

Robson Costa
,

1 INTRODUÇÃO À HIDRÁULICA
A humanidade sempre utilizou os recursos naturais para o seu desenvolvimento.
Assim, as grandes cidades evoluíram às margens de rios, onde o recurso água era
utilizado não somente para o consumo, mas para diversas atividades do dia a dia. Com
o avanço da tecnologia, o ser humano se vê obrigado a dominar esse tão importante
recurso. Vamos aprender neste Blocoo que são os fluidos e como podemos utilizá-los.
Boa leitura!

1.1 Definição de fluidos

Você é capaz de descrever o que é um fluido? Logo pensamos em um recipiente


contento água, não é mesmo! Mas vamos lá, observe a Figura 1.1 a seguir:

Figura 1.1 – Garrafa com água.

Fonte: disponível em: <https://bit.ly/3dKx9ui>. Acesso em: jun.2020.

Ao observarmos a garrafa, focamos direto na água, e logo dizemos que temos um


líquido preenchendo um certo volume, correto? Não, se estivermos falando de fluidos,
pois, na verdade, temos dois tipos de fluidos no recipiente:

 Líquido: que assume a forma do recipiente, sempre formando uma superfície


plana com a atmosfera, e seu volume não pode ser facilmente comprimido;

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,

 Gasoso: ocupa todo o espaço disponível no recipiente, porém não forma


nenhuma superfície visível com a atmosfera, e seu volume pode ser facilmente
comprimido.

Em nossos estudos, vamos focar no estudo dos fluidos líquidos.

1.2 Massa, Peso e Peso Relativo Específico

Para estudarmos as relações de algumas propriedades dos fluidos e suas relações


características para utilização em diversas áreas da Engenharia, precisamos relembrar
alguns conceitos:

Massa Específica (ρ): definida pela relação entre a massa do fluido [kg] e o volume
[m³] por ele ocupado.

𝒎
𝝆= (Equação 01)
𝑽

Peso Específico (Ƴ): definido pela relação entre o peso do fluido (W) em [N] e o
volume [m³] por ele ocupado.

𝑾
𝜸= , 𝐩𝐨𝐫é𝐦, 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐖 = 𝐦 . 𝐠, 𝐩𝐨𝐝𝐞𝐦𝐨𝐬 𝐬𝐮𝐛𝐬𝐭𝐢𝐭𝐮𝐢𝐫, 𝐬𝐞𝐧𝐝𝐨:
𝑽

𝐦. 𝐠 𝐦
𝜸= , 𝐞 𝐜𝐨𝐦𝐨 = 𝛒, 𝐩𝐨𝐝𝐞𝐦𝐨𝐬 𝐬𝐢𝐦𝐩𝐥𝐞𝐬𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞 𝐞𝐬𝐜𝐫𝐞𝐯𝐞𝐫 𝐪𝐮𝐞:
𝐕 𝐕

𝜸 = 𝝆 . 𝒈 (Equação 02)

Peso Específico Relativo (Ƴr): definido pela relação entre o peso específico de um
fluído (Ƴ) e o peso específico de referência (Ƴr). Este último, no caso dos fluidos
líquidos, será o da água a 4 °C, com o valor de 10.000 N/m³ (ƳH2O). Cabe ressaltar que

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,

se trata de um valor adimensional, muito utilizado quando queremos comparar


substâncias, por exemplo, no tratamento de um efluente qualquer.

𝜸
𝜸𝒓 = 𝜸𝑯𝟐𝑶 (Equação 03)

EXEMPLO 01: Foi solicitado calcular o peso específico de uma mistura de dois
efluentes, sendo que suas massas específicas valem respectivamente ρ1 = 0,85 kg/m³ e
ρ2 = 0,48 kg/m³. Sabendo-se que o tanque possui 10 m³ e que ρ1 ocupou 26% (por
cento) desse volume, vamos calcular!

Solução:

1) Vamos calcular o volume ocupado pela substância ρ1. Como o volume total do
tanque é de 10 m³, multiplicaremos pelo percentual por ele ocupado.

26
= 0,26, 𝑎𝑠𝑠𝑖𝑚 𝑚𝑢𝑙𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑉𝑡, 𝑜𝑏𝑡𝑒𝑚𝑜𝑠 10 . 0,26 = 2,6 𝑚3 = 𝑉1
100

2) Assim, podemos calcular o volume ocupado pela substância ρ2

𝑉𝑡 = 𝑉1 + 𝑉2, 𝑝𝑜𝑟𝑡𝑎𝑛𝑡𝑜: 𝑉2 = 𝑉𝑡 − 𝑉1, 𝑠𝑒𝑛𝑑𝑜 𝑉2 = 10 − 2,6 = 7,4 𝑚³

3) Com os volumes ocupados, podemos, portanto, calcular a massa de cada


substância:

𝑚1 = 𝜌1 . 𝑉1 = 0,85 . 2,6 = 2,21 𝑘𝑔

𝑚2 = 𝜌2 . 𝑉2 = 0,48 . 7,4 = 3,55 𝑘𝑔

4) Com as massas de cada substância, somamos para obter a massa da mistura:

𝑚𝑚 = 𝑚1 + 𝑚2 = 2,21 + 3,55 = 5,76 𝑘𝑔

5) Dessa forma, a massa específica da mistura (ρm) será:


𝐦𝐦 𝟓, 𝟕𝟔
𝛒𝐦 = = = 𝟎, 𝟓𝟕𝟔 𝐤𝐠/𝐦³
𝐕𝐭 𝟏𝟎

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,

6) Agora, podemos calcular o peso específico dessa mistura. Se considerarmos a


gravidade (g) como 10 m/s², sendo, portanto:

γm = ρm . g = 0,576 . 10 = 5,76 N/m³

1.3 O que é Hidrocinética

Definimos como Hidrocinética o estudo dos fluidos em movimento. Seus conceitos


definem e ajudam nossas atividades de Engenharia, não somente em Obras Hidráulicas
como também em Hidrologia, pois poderemos dimensionar e calcular as perdas de
energia durante o escoamento e como podemos utilizar essa mesma energia em nosso
favor.

1.3.1 Tipos de Movimentos dos Fluidos

Para que possamos iniciar nossos estudos de Hidrocinética, é necessário entendermos


e classificarmos os movimentos dos fluidos. Para isso, vamos observar a Figura 1.2 a
seguir:

Figura 1.2− Regimes de Escoamento.

Fonte: Autor.

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,

Na Figura 1.2a, percebemos que o reservatório no instante t1, mesmo com um


escoamento de saída, mantém o volume entre as duas câmaras permanecendo
constantes, alimentado pelas duas torneiras abertas.

Quando observamos a Figura 1.2b, no instante t2, notamos que há uma diferença entre
os volumes das câmaras, devido ao fechamento de uma das torneiras.

Com isso, podemos classificar dois tipos distintos de Regimes de Escoamento:

a) Escoamento Permanente e Uniforme: onde não há variação de propriedades


como pressão e velocidade ao longo do tempo e todos os pontos da mesma
trajetória têm a mesma velocidade ao longo do tempo. Assim, a velocidade
pode variar de uma trajetória para outra, mas, na mesma trajetória, todos os
pontos têm a mesma velocidade, ou seja, de um ponto a outro da mesma
trajetória, a velocidade não varia (o módulo, a direção e o sentido são
constantes). É o que ocorre na Figura 1.2a, sendo que também tende a ocorrer
em tubulações longas e de diâmetro constante.

b) Escoamento Não-Permanente e Variado: Já neste caso, há variações de


pressão e velocidade ao longo do tempo e os diversos pontos da mesma
trajetória não apresentam velocidade constante no intervalo de tempo
considerado. É o exemplo da Figura 1.2b, onde na variação dos instantes t1 e t2,
há entre as câmaras uma diferença do volume, alterando a pressão entre elas
e, consequentemente, a velocidade de saída do escoamento, devido ao
fechamento de uma das torneiras. Esse regime pode ser verificado no
escoamento de um rio.

1.3.2 Classificação dos Escoamentos

Finalmente, devemos entender que o escoamento dos fluidos também é classificado


pela definição da trajetória de suas partículas. Vamos entender, portanto, como isso
ocorre, observando as figuras 1.3 e 1.4.
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,

Figura 1.3 − Regime de Escoamento Laminar.

Fonte: Autor.

a) Laminar: ocorre quando as partículas de um fluido se movem ao longo de


trajetórias bem definidas, apresentando lâminas ou camadas, sendo que cada
uma delas preserva sua característica no meio. No escoamento laminar, a
viscosidade age no fluido no sentido de amortecer a tendência de surgimento
da turbulência. Esse escoamento ocorre geralmente a baixas velocidades e em
fluidos que apresentem grande viscosidade. Se observarmos a Figura 1.3, ao
olharmos para uma lagoa, num dia de pouco vento, temos a impressão de que
suas águas estão paradas, porém existem movimentos que podem ser
exemplificados conforme a Figura 1.3, onde cada partícula possui uma
trajetória bem definida e em um único sentido.

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,

Figura 1.4 − Regime de Escoamento Turbulento.

Fonte: Autor.

b) Turbulento: ocorre quando as partículas de um fluido não se movem ao longo


de trajetórias bem definidas, ou seja, as partículas descrevem trajetórias
irregulares, com movimento aleatório, produzindo uma transferência
de quantidade de movimento entre regiões da massa líquida. Esse escoamento
é comum na água, cuja viscosidade é relativamente baixa e, como podemos
observar na Figura 1.4, onde a trajetória das partículas não possui um sentido
único e nem definido.

1.3.3 O número de Reynolds

O tipo de regime de escoamento é um dos parâmetros de projeto que devem ser


escolhidos pelo(a) Engenheiro(a), dependendo do tipo de aplicação, como por
exemplo:
a) Caso seja necessária a construção de um decantador para utilização em uma
Estação de Tratamento de Água, o regime a ser imposto é o laminar, pois assim
podemos manter uma velocidade de decantação dos flocos, controlada.

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,

b) O regime turbulento pode ser aproveitado quando se quer uma mistura rápida
entre fluidos, porém seus limites devem ser determinados, pois, caso não sejam
dimensionados, podem causar problemas a estruturas e equipamentos.

Para que possamos calcular qual é o regime de escoamento existente ou que devemos
projetar, é necessário que recordemos da experiência de Reynolds. Nela, Osborne
Reynolds, em 1883, demonstrou o comportamento de um filete de corante colorido
inserido em uma tubulação, onde à medida que se abria uma válvula de entrada do
sistema, o filete deixava de possuir uma trajetória bem definida até desaparecer
quando a mesma estivesse toda aberta.
Assim, após essas observações, Reynolds formulou uma equação para determinar
através de um número adimensional qual o regime de escoamento presente:

𝐯 .𝐃
𝐑𝐞 = (Equação 4)

A determinação do número de Reynolds se dará pela divisão do produto da velocidade


média de escoamento (v) pelo diâmetro da tubulação (D) sobre a viscosidade
cinemática (), que estudaremos mais adiante. Os valores da viscosidade cinemática
para diferentes temperaturas dos líquidos mais frequentemente utilizados na prática
do dia a dia são tabelados.
A Tabela 1.1 a seguir representa os intervalos para cada tipo de escoamento. Cabe
ressaltar que esses valores podem variar para diferentes autores a partir do Regime
Laminar, sendo que alguns ainda classificam intervalos como Regimes de Transição.

Tabela 1.1 – Tipos de regime de escoamento pelo número de Reynolds.


Número de Reynolds Tipo do Regime
0  2000 Laminar
> 2000 Turbulento
Fonte: Autor.

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,

EXEMPLO 02: Qual o regime de escoamento de uma tubulação escoando óleo


combustível a uma temperatura de 40 °C ( = 1200 x 𝟏𝟎−𝟔 m²/s) em uma tubulação de
aço de diâmetro de 500 mm a uma velocidade de 1,8 m/s.

Solução:
1) Vamos transformar 500 mm em m = 500/1000 = 0,50 m
2) Após transformarmos as unidades, utilizaremos a fórmula de Reynolds.

𝐯.𝐃 𝟏, 𝟖 . 𝟎, 𝟓𝟎
𝐑𝐞 = = = 𝟕𝟓𝟎 , 𝐚𝐬𝐬𝐢𝐦 𝐨 𝐫𝐞𝐬𝐮𝐥𝐭𝐚𝐝𝐨 é 𝐦𝐞𝐧𝐨𝐫 𝐪𝐮𝐞 𝟐 𝐱 𝟏𝟎³
 𝟏𝟐𝟎𝟎 𝐱 𝟏𝟎−𝟔

Resposta:
Portanto, o regime de escoamento é laminar.

1.3 Entendendo o que é Vazão (Q)

Até agora, classificamos os fluidos e estudamos sobre os seus tipos de movimentos e


como podemos determiná-los. Também dissemos que a Hidrocinética é a ciência que
estuda os fluidos em movimento; portanto, vamos aprofundar um pouco mais nossos
conhecimentos.

Quando dizemos que a água está escoando por uma tubulação, na verdade estamos
descrevendo o fenômeno denominado de Vazão (Q), que é a quantidade de massa
líquida ou gasosa que flui, por uma distância (D), atravessando uma certa seção (A),
com uma velocidade média (v), em um determinado espaço de tempo (∆𝐭). Vamos
observar a Figura 1.5.

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,

Figura 1.5 – Determinação de Vazão.


Fonte: adaptado de: <https://bit.ly/2XJMPIC >. Acesso em: jun. 2020.

Observe que na Figura 1.5 o fluido se movimenta do instante t1 para o instante t2,
percorrendo certa distância (D), e que se multiplicarmos a mesma pela área da
tubulação (A), calculamos o seu volume, sendo, portanto:

𝐕 = 𝐃 . 𝐀 (Equação 05)

Como a Vazão (Q) é a quantidade de massa fluida ou gasosa, ou seja, seu volume
percorrido (V), pelo intervalo de tempo (∆𝐭), podemos determinar a seguinte relação:

𝐕
𝐐 = ∆𝐭 (Equação 06)

Substituindo a equação 5 na equação 6, teremos:

𝐕 𝐃 .𝐀 𝐃
𝐐= = , 𝐩𝐨𝐫é𝐦 = 𝐯 , 𝐩𝐨𝐫𝐭𝐚𝐧𝐭𝐨 𝐐 = 𝐯 . 𝐀
∆𝐭 ∆𝐭 ∆𝐭

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,

Dessa forma, verificamos que existe então uma relação entre o volume de água que
escoa por uma tubulação e sua velocidade média, expressa pela equação 07:

𝐐 = 𝐯 . 𝐀 (Equação 07)

Denominamos, portanto, esse tipo de movimento de massa fluida ou gasosa como


Vazão Volumétrica (Q), sendo suas unidades de medidas mais comuns: L/s, L/min, L/h,
m³/s, m³/h ou m³/dia.

Também podemos determinar a chamada Vazão Mássica (Qm), análoga à vazão


volumétrica, porém utilizando-se de massa em quilos (kg) que escoam. Mas quando
utilizar essa forma? Um bom exemplo é quantificar a massa de concreto que deve ser
lançada numa determinada obra. Assim:

𝐦
𝐐𝐦 = ∆𝐭 (Equação 08)

Como a massa específica de uma substância é a razão da massa da substância pelo


volume por ele contido, podemos concluir que:

𝐦 𝐦  .𝐕
= , 𝐞𝐧𝐭ã𝐨 𝐦 =  . 𝐕 , 𝐚𝐬𝐬𝐢𝐦: 𝐐𝐦 = = , 𝐩𝐨𝐫𝐭𝐚𝐧𝐭𝐨, 𝐐𝐦 =
𝐕 ∆𝐭 ∆𝐭

 . 𝐐 (Equação 09)

A vazão mássica pode ser descrita em diversas unidades, sendo as mais comuns como:
kg/s, kg/min, kg/h, t/h, t/dia.

1.4 Equação da Continuidade

Agora que estudamos e definimos o que é Vazão, vamos aplicar sua utilização em uma
tubulação, e relembrarmos um pouco sobre o conceito de “Conservação de Massa”.
Dê uma olhada na Figura 1.6 a seguir:

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,

Figura 1.6 – Determinação da Equação da Continuidade (Componentes).


Fonte: adaptado de: < https://bit.ly/2YjSkgq >. Acesso em: jun. 2020.

Trata-se de um acessório de tubulação chamado de redução, muito utilizado em Obras


de Instalações Prediais. Olhando a Figura 1.6 e aplicando o que aprendemos sobre o
conceito de vazão, podemos afirmar que a vazão Q1 é diferente da vazão Q2? Até
porque suas áreas são visivelmente distintas, não é mesmo!

Bom, se você afirmou que sim, é melhor relembrar o princípio de conservação de


massa, pois se na área A1, passa uma vazão Q1, no mesmo instante na área A2, passará
a mesma vazão em Q2, não havendo vazamento no trecho. Mas como isso é possível?

A resposta é simples: se não há perda de massa entre os dois pontos, e a massa do


fluido está contida na tubulação, e como os fluidos são incompressíveis, o escoamento
do fluido dentro da tubulação será considerado constante.

Determinamos como fluido incompressível qualquer fluido cuja densidade sempre


permanece constante com o tempo, tendo a capacidade de opor-se à compressão do
mesmo em qualquer condição. Alguns fluidos são mais compressíveis que outros.

Assim, podemos afirmar que a massa do fluido que escoa na seção de área A 1 é a
mesma que escoa na seção de área A2, como demonstrado na equação da vazão
mássica (Q), podendo ser assim descrita:
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,

𝐐𝐦 =  . 𝐐 , 𝐩𝐨𝐫𝐭𝐚𝐧𝐭𝐨: 𝐐𝐦𝟏 = 𝐐𝐦𝟐 , 𝐬𝐞𝐧𝐝𝐨 𝟏 . 𝐐𝟏 = 𝟐 . 𝐐𝟐 (Equação 10)

Como não há perda de massa fluida durante o escoamento, podemos afirmar que:

𝟏 = 𝟐 , 𝐩𝐨𝐫𝐭𝐚𝐧𝐭𝐨: 𝐐𝟏 = 𝐐𝟐 𝐞 𝐜𝐨𝐦𝐨 𝐐 = 𝐯 . 𝐀,
𝐩𝐨𝐝𝐞𝐧𝐝𝐨 𝐚𝐟𝐢𝐫𝐦𝐚𝐫 𝐪𝐮𝐞: 𝐯𝟏 . 𝐀𝟏 = 𝐯𝟐 . 𝐀𝟐

Denominamos o princípio de conservação da massa para um fluido em movimento de


Equação da Continuidade, sendo, portanto:

𝐐𝟏 = 𝐐𝟐 = 𝐐𝐧 𝐨𝐮 𝐯𝟏 . 𝐀𝟏 = 𝐯𝟐 . 𝐀𝟐 = 𝐯𝐧 . 𝐀𝐧 (Equação 11)

1.4.1. Distribuição da Vazão em Marcha (qm)

Com os conceitos aprendidos, vamos analisar nesta etapa a construção de um sistema


de distribuição de água, constituído de diversas tubulações, com diâmetros variados
interligados a uma única fonte de distribuição. Como exemplo, sua própria casa, sendo
sua caixa de água nosso reservatório principal e seus cômodos as áreas abastecidas,
como cozinha, banheiros e área de serviço.

A forma que essas redes estão interligadas a partir da saída do reservatório pode ser
classificada em ramificada. Se dividirmos essas vazões por cômodos, podemos utilizar
os conceitos de acordo com Azevedo Neto e Alvarez (1977), a denominada vazão em
marcha (qm), onde será realizado um seccionamento fictício da tubulação para efeito
de cálculo, distribuindo essa vazão (Q) pelo comprimento da tubulação (L) em metros
cúbicos por segundo por m (m³/sm), sendo sua fórmula:

𝑸
𝒒𝒎 = (Equação 12)
𝑳

Iremos aprofundar essa equação no estudo de Redes de Abastecimento de Água no


Bloco 2.

15
,

1.5. Equação da Conservação de Energia

Verificamos pela Equação da Continuidade que a vazão que escoa entre dois trechos
de uma tubulação será a mesma, conforme a Equação 11, pois não há perda de massa
fluida (m) durante seu escoamento. Assim, podemos afirmar que toda a vazão de
entrada (Qe) deve ser igual a toda a vazão de saída (Qs), conforme abaixo:

𝐐𝐞 = 𝐐𝐬 𝐨𝐮 𝐯𝐞 . 𝐀𝐞 = 𝐯𝐬 . 𝐀𝐬 (Equação 13)

Se a massa do fluido não se perde durante o escoamento, seria possível que


formulássemos uma equação para o balanço de energias presentes durante esse
mesmo escoamento?

A energia é a capacidade de se realizar certo trabalho, existindo de várias formas


possíveis, como energia hidráulica, mecânica ou fluvial. A essa nova formulação,
denominamos de Equação de Conservação de Energia, que associada aos conceitos da
Equação da Continuidade nos ajudará a compreender e calcular diversos problemas
relacionados à Engenharia.

1.5.1. Componentes de Energia Associados aos Fluidos

Para o desenvolvimento de nossa equação, utilizaremos três tipos de energia, a saber:

a) Energia Potencial de Posição (Ez): é aquela associada à altura de uma


determinada massa (m) em relação a uma determinada diferença de cota a
partir de uma linha horizontal de referência (LHR), denominada (z), ou seja, é o
produto do peso (W) dessa massa (m) pela diferença de cotas (z) entre a LHR,
conforme a equação 14.

𝑬𝒛 = 𝑾 . 𝒛 = 𝒎. 𝒈. 𝒛 (Equação 14)

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b) Energia Cinética (Ec): é aquela que relacionaremos ao movimento de


escoamento do fluido, onde a massa (m) com velocidade média (v) irá ganhar
energia cinética (Ec) à medida que acelera e perdendo energia potencial (Ez)
conforme diminui a diferença de cota (z), conforme a equação 15.

𝐦 .𝐯² 𝐦 .𝐯 𝟐
𝑬𝒄𝒆 = − 𝒎. 𝒈. 𝒛 < 𝑬𝒄𝒔 𝒐𝒖 𝒔𝒊𝒎𝒑𝒍𝒆𝒔𝒎𝒆𝒏𝒕𝒆 𝑬𝒄 = (Equação 15)
𝟐 𝟐

c) Energia Potencial de Pressão (Ep): a energia potencial de pressão é o produto


do peso (W) de uma massa (m) pela carga de pressão (h). Para determinarmos
a carga de pressão (h), devemos recordar dos conceitos de Stevin onde a
pressão em um determinado ponto é o produto de seu peso específico () pela
diferença de cota a partir de uma linha horizontal de referência (LHR),
denominado (h), conforme a equação 16.

𝑷
𝑷 =  .𝒉 = 𝒉 = (Equação 16)

Portanto, a energia potencial de pressão pode ser escrita conforme a equação 17.

𝑷
𝑬𝒑 = 𝑾 . 𝒉 = 𝒎 . 𝒈 .  (Equação 17)

Partimos dessa formulação devendo considerar o sistema em regime permanente, sem


considerarmos tensões de atrito e viscosidade. Podemos assim, excluindo as energias
térmicas e adotando as energias mecânicas e de pressões envolvidas, determinar a
seguinte equação de energia total do fluido (ETF), a seguir:

𝐦 .𝐯 𝟐 𝐏
𝑬𝑻𝑭 = 𝑬𝒛 + 𝑬𝒄 + 𝑬𝒑 𝒐𝒖 𝑬𝑻𝑭 = (𝒎 . 𝒈 . 𝒛) + ( ) + (𝒎 . 𝒈 .  ) (Equação
𝟐

18)

17
,

1.5.2. Equação de Bernoulli

Recebe esse nome em homenagem a Daniel Bernoulli, matemático suíço que a


publicou em 1738. Para isso, ele introduziu algumas regras de simplificação para seu
desenvolvimento, atribuindo que o seu escoamento acontece em um fluido ideal
onde:

 escoamento se dará em Regime Permanente;


 não há acréscimo ou diminuição da energia, ou seja, ETFe (Energia Total de
Entrada) = ETFs (Energia Total de Saída);
 inexistência de resistências viscosas no fluido;
 incompressibilidade; e
 não há transformação em energias de calor.

Esse resultado demonstra que sob regime permanente a vazão total de energia (QETF)
se conserva em toda a seção da tubulação, sendo:

𝑸𝑬𝑻𝑭 = 𝑬𝑻𝑭𝟏 + 𝑬𝑻𝑭𝟐 + 𝑬𝑻𝑭𝒏 = 𝑪𝒐𝒏𝒔𝒕𝒂𝒏𝒕𝒆 (𝐄𝐪𝐮𝐚çã𝐨 𝟏𝟗)

Se dividirmos a vazão total de energia (QETF) pela vazão em peso (QW), iremos definir
um novo parâmetro denominado de carga (H), onde:

𝑸𝑬𝑻𝑭
= 𝑯 (Equação 20)
𝑸𝑾

Simplificando a equação de carga, dividindo a vazão total de energia (QETF) pela vazão
em peso (QW), e substituindo por seus termos, determinamos:

𝑸𝑬𝑻𝑭 𝑸𝑬𝒛+𝑸𝑬𝒄+𝑸𝑬𝒑 𝒗² 𝑷
𝑯= = = 𝒛+ + = 𝑯 (Equação 21)
𝑸𝑾 𝑸𝑾 𝟐𝒈 

Percebam que na entrada de dados a carga potencial de posição (z) será a diferença de
altura em metros de uma determinada Linha Horizontal de Referência (LHR); portanto,
as parcelas de carga cinética e de pressão seguem a mesma unidade, facilitando nossa
compreensão em sua aplicação.

18
,

Definimos, portanto, a denominada Equação de Bernoulli, conforme a Figura 1.7,


sendo:

𝒗𝟏² 𝑷𝟏 𝒗𝟐² 𝑷𝟐
𝑯𝟏 = 𝑯𝟐, 𝒑𝒐𝒓𝒕𝒂𝒏𝒕𝒐: 𝒛𝟏 + + = 𝒛𝟐 + + (Equação 22)
𝟐𝒈  𝟐𝒈 

Figura 1.7 − Equação de Bernoulli.

Fonte: Autor.

Observação: Caro aluno, ao analisar a Figura 1.7, você deve notar que para a equação
22 esteja em balanço ainda nos falta definir o que é o termo Δ hft. Pois este será nosso
tema de partida em nossos estudos no Bloco 2. Vamos lá!!!

Conclusão

Caro aluno, neste Bloco 1, iniciamos nossas definições de fluidos, suas propriedades,
caracterizamos seus tipos de movimentos e como dimensionar, para cada tipo de
aplicação à Engenharia.

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Conceituamos o termo Vazão de Escoamento e relacionamos à Equação da


Continuidade. Finalizamos apresentando o balanço de Energia dos Fluidos e a Equação
de Bernoulli.

Mas ainda não determinamos o termo Δhft que surgiu ao final deste Bloco 1; portanto,
segure-se, revise o material e vamos iniciar os estudos das denominadas “Perdas de
Carga”.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO NETTO, J. M.; ACOSTA ALVAREZ, G. Manual de Hidráulica. 7. ed. atual. e


ampl. São Paulo: Edgar Blucher, 1973, 1977, 1982.

BISTAFA, S. R. Mecânica dos fluidos: noções e aplicações. 1. ed. São Paulo: Edgar
Blucher, 2010.

BRUNETTI, F. Mecânica dos Fluidos. 2. ed. rev. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.

FIALHO, A. B. Automação hidráulica: projetos, dimensionamento e análise de circuitos.


São Paulo: Érica, 2011.

GRIBBIN, J. E. Introdução à hidráulica, hidrologia e gestão de águas pluviais. 2. ed. São


Paulo: Cengage Learning, 2014.

ROTAVA, O. Aplicações práticas em escoamento de fluidos: cálculo de tubulações,


válvulas de controle e bombas centrífugas. Rio de Janeiro: LTC, 2012.

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