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Instituto Tecnológico de Aeronáutica

Divisão de Engenharia Aeronáutica e Aeroespacial

Laboratório de AED-01
Mecânica dos Fluidos I
Regimes de escoamento e perda de carga em dutos

Autores: Professores:
Lı́der: Chrystian Jones Maia Cap. Rodrigo Costa Moura
(chrystian.maia@ga.ita.br)
Caio Jansen Acioly Prof. Dr. Tiago B. de Araújo
Gabriel Andrusaitis de Souza
João Raphael Ferreira Guimarães
Juan Marco de Jesus Libonatti
Paulo Fernando Guimarães Tupinambá
Pedro Felipe Silva Batista
Vinı́cius Ballestrin da Cruz

14 de março de 2022
1 Introdução
Os experimentos descritos a seguir foram conduzidos pelos alunos de graduação em En-
genharia Aeronáutica e Engenharia Aeroespacial do curso de Mecânica dos Fluidos I - AED-01,
realizados no Instituto Tecnológico de Aeronáutica em 14 de março de 2022. O objetivo geral da
prática se concentrou em proporcionar uma introdução aos regimes de escoamento caracterı́sticos
da mecânica dos fluidos, quais sejam o escoamento laminar, transicional e turbulento. Ademais
foi introduzido o conceito de perda de carga em dutos, sendo o termo carga entendido como
energia total do fluido em escoamento. Para o atingimento deste objetivo geral foram realizados
três experimentos: instabilidade de Rayleigh-Taylor, perda de carga em dutos e experimento de
Reynolds.
O primeiro experimento teve por objetivo principal observar a diferença de intensidade
entre o transporte convectivo e o transporte difusivo, além de observar o conceito de viscosidade
turbulenta bem como a origem da turbulência por meio de pequenas perturbações.
O segundo experimento objetivou verificar a transição do regime de escoamento laminar
para o regime de escoamento turbulento, por intermédio da injeção de um corante no tubo de
escoamento de forma a permitir a observação do surgimento das estruturas tı́picas que caracterizam
a turbulência, bem como calcular o número de Reynolds para cada escoamento estudado. Os
resultados obtidos nos dois últimos experimentos foram relacionados e comparados com os valores
esperados pela teoria.
O derradeiro experimento teve por objetivo observar como ocorre a perda de carga, aqui
entendida como energia em forma de pressão e velocidade, em um duto horizontal de secção
transversal circular de área constante. A perda de carga foi constatada medindo-se a pressão ao
longo do comprimento do duto.
Nas seções 2, 3 e 4 a execução dos experimentos encontra-se detalhada, cujos resultados
serão explicitados e discutidos. Ao final (5), tem-se uma breve conclusão dos aspectos observados.
No laboratório, foram aferidas a temperatura e a densidade da água, cujos valores, assim como
outras variáveis ambientes relevantes foram compiladas na Tabela 1.1.

Tabela 1.1: Variáveis ambientes.

Variávels Valor Unidade


Temperatura 26, 0 ± 0, 5 °C
Densidade 995, 0 ± 0, 5 Kg · m−3
Gravidade 9, 79 ± 0, 01 m · s−2
Viscosidade cinemática 8, 73 · 10−7 m2 · s−1

1
2 Instabilidade de Rayleigh-Taylor
O objetivo principal desta prática consistiu em observar a diferença de intensidade entre o
transporte convectivo e o transporte difusivo descritos a seguir, bem como observar o conceito de
viscosidade turbulenta por meio de pequenas perturbações efetuadas na interface dos lı́quidos.

2.1 Arranjo experimental


O arranjo experimental consistiu na mistura de duas camadas de lı́quido em um aquário
bipartido por uma divisória horizontal a qual impede a mistura dos lı́quidos, conforme a Figura
2.1. A camada de lı́quido transparente consistiu em uma solução de 2L de água com 50g de sal
cloreto de sódio diluı́do (lı́quido mais denso). A camada de lı́quido azul foi preparada com água
pura e um corante azul de metileno (lı́quido menos denso) em um quantidade mı́nima de maneira
a manter densidade da água praticamente inalterada.

Figura 2.1: Instabilidade Rayleigh-Taylor - Aparato experimental. a)Arranjo Instável; b) Arranjo


Estável. Fonte: Autores

2.2 Procedimento experimental


Em um primeiro momento o compartimento inferior foi preenchido com o lı́quido menos
denso, fechou-se a divisória e completou-se o compartimento superior com o lı́quido mais denso.
Em seguida a divisória foi aberta lenta e constantemente de modo a permitir o contato entre os dois
lı́quidos. Em uma segunda abordagem o procedimento foi replicado, porém o lı́quido mais denso
foi inserido na parte inferior e o menos denso na parte superior. Ao final desta etapa produziu-se
pequenas perturbações na interface por meio de uma haste.

Figura 2.2: Instabilidade Rayleigh-Taylor - Evolução temporal da mistura em um arranjo instável.


Fonte: Autores

2
Figura 2.3: Instabilidade Rayleigh-Taylor - Evolução temporal da mistura em um arranjo estável.
Fonte: Autores

Figura 2.4: Instabilidade Rayleigh-Taylor - Evolução temporal da uma pequena perturbação em


um arranjo estável. Fonte: Autores

2.3 Discussão teórica


O fenômeno de instabilidade de Rayleigh-Taylor ocorre na interface entre dois fluidos de
densidades diferentes. Intuitivamente, quando o fluido menos denso empurra o fluido mais denso,
por meio da gravidade, tem-se um arranjo estável, e ainda que haja pequenas perturbações os
fluidos tendem a retornar para a configuração inicial. Nesta situação o fenômeno de transporte de
massa predominante é o difusivo, que ocorre em nı́vel molecular por meio da interação entre as
espécies quı́micas e é tı́pico do escoamento laminar.[1] Contudo, se o fluido mais denso empurra o
menos denso, tem-se um arranjo instável em que predomina o fenômeno de transporte convectivo,
o qual ocorre a nı́vel macroscópico e caracteriza o escoamento turbulento.[2]
Matematicamente, o processo depende de um parâmetro adimensional denominado número
de Atwood (At ) dado pela Equação 2.1, dado pela relação entre as densidades dos fluidos.[2]. Se
At > 0 tem-se que o arranjo é estável e se At < 0 tem-se que o arranjo é estável.[3].
ρsup − ρinf
At = (2.1)
ρsup + ρinf
No arranjo instável foi observado um intenso turbilhonamento do fluido menos denso (azul), carac-
terizado pelas estruturas circulares de comportamento aleatório as quais intensificaram a mistura
(Figura 2.2). Este comportamento evidenciou o caráter predominantemente convectivo do pro-
cesso. Para o arranjo estável, observou-se (Figura 2.3) uma pequena perturbação na interface no
inicio da movimentação da divisória, a qual foi amortecida rapidamente, permanecendo em duas
fases distintas, denotando o caráter predominantemente difusivo da interação entre os dois fluidos.
Conforme a Figura 2.4 as perturbações produzidas provocaram um pequeno turbilhona-
mento na fronteira entre os lı́quidos o que provoca um aumento aparente da viscosidade do lı́quido
permitindo que o transporte de matéria ocorra também em nı́vel macroscópico e não somente
microscópico ilustrando o conceito de viscosidade turbulenta. [3]

3
3 Experimento de Reynolds
Historicamente o experimento de Reynolds demonstrou a existência de três tipos de esco-
amentos de fluidos, o escoamento laminar, turbulento e de transição. O primeiro tipo é o mais
simples e ocorre com a presença significativa de forças viscosas fazendo o fluido se mover em lâminas
ou camadas, enquanto que no segundo, com predominância de forças inerciais, o fluido se mistura
e apresenta caracterı́sticas de um sistema caótico. Por fim o regime de transição apresenta uma
instabilidade no movimento laminar, evidenciando pertubações intermitentes. [4]
O experimento realizado foi baseado no experimento original de Reynolds, contendo um
tubo transparente onde um fluxo de água constante se faz presente. Um lı́quido corante com
a mesma densidade da água é inserido no fluxo à mesma velocidade de forma a ser possı́vel
visualizar o escoamento do fluido e suas caracterı́sticas. Reynolds observou que o comportamento
do escoamento mudava juntamente com uma grandeza adimensional que podia ser usada para
descrever tal escoamento, denominado de número de Reynolds, que pode ser visto na Equação 3.1.
ρV D
Re = (3.1)
µ
No caso de um escoamento num duto circular, ρ é a massa especı́fica do fluido, V é a
velocidade média, D é o diâmetro do tubo e µ é a viscosidade dinâmica. Entretanto, a Equação 3.1
foi adaptada para que tivesse como termo dependente a vazão mássica (Vm ) em vez da velocidade
do fluido originando a Equação 3.2.
Vm D
Re = (3.2)
µA
O objetivo do experimento realizado é demonstrar a transição do regime de escoamento
laminar para o turbulento observando o comportamento do número de Reynolds, e estimando seus
valores nas fronteiras da transição. A variação do fluxo se deu na mudança da vazão de água e na
manutenção da temperatura, densidade do fluido e a geometria do tubo.

3.1 Arranjo Experimental


O arranjo experimental é tal que a água e o corante são alimentados a um tubo transparente,
em configuração vertical, para visualização, e pode-se medir a vazão mássica de fluido nesse tubo.
O aparato representado pela Figura 3.1 constituiu-se de um reservatório elevado de 500 litros (H1),
preenchido com água, ao qual seguia anexado um tubo transparente vertical (H2) de diâmetro de
(3, 0 ± 0, 1)mm, conectado à uma mangueira (H3), cujo fluxo de lı́quido podia ser controlado por
uma válvula e cuja saı́da se encontrava inicialmente posicionada em um local de descarte do fluxo
de água.
Para o procedimento de medição da vazão, havia um recipiente coletor (V1) apoiado sobre
uma célula de carga (V2) com capacidade máxima de 10kg para o qual o fluxo de fluido de H3
podia ser redirecionado. A célula por sua vez transmitia um sinal de voltagem para um sistema
de aquisição (V3), consistindo em um condicionador de sinais acoplado à uma placa de aquisição
de dados. Essa placa tem como função transmitir os dados da voltagem da célula de carga a um
computador para que sejam convertidos em dados mássicos, visualizados e armazenados forma de

4
arquivo. Anexado interiormente à (H2), na mesma entrada que o reservatório (H1) e destinado à
liberar o corante no fluxo de água, encontrava-se um injetor (C3) o qual se encontrava ligado à
um cilindro contendo corante (C1) por meio de uma linha de transporte (C2). O transporte do
corante ao nı́vel do reservatório era regulado por uma válvula através da aplicação de uma pressão
de 1,5 Bar (posteriormente regulada para 2,0 Bar durante o experimento) por um compressor de
ar conectado ao cilindro.

Figura 3.1: Aparato experimento de Reynolds. a)Reservatório de água, duto de observação e


reservatórios de descarte; b)compressor de ar, válvulas de corante e água e cilindro de corante;
c)Condicionador de sinais e célula de carga; d)placa de aquisição de dados e computador; e)arranjo
esquemático. Fonte: [5] adaptada.

3.2 Procedimentos Experimentais


Inicialmente o arranjo célula de carga, condicionador de sinais e placa de aquisição de
dados foi previamente calibrado adicionando-se até 10 kg em pesos de referência entre 1kg e 2kg,
fornecendo 9 pontos de calibração, de forma à representar com baixas incertezas o valor de massa
posto em cima da célula baseado na voltagem de saı́da. O condicionador de sinais foi utilizado
para amplificar o sinal recebido da balança e a placa de aquisição de dados propiciou uma interface
entre a medição analógica e digital, permitindo a transferência dos dados para o computador. A
relação voltagem-massa apresentou comportamento linear que pode ser observado na Figura 3.2.
A partir desses dados foi feita uma regressão linear, cujos parâmetros relevantes encontrados estão
listados na Tabela 3.1. A regressão linear e o gráfico foram calculados por meio computacional,
conforme o código Python no Apêndice A.

Tabela 3.1: Regressão linear para a calibração

Termo independente Coeficiente angular R2


−0, 0196 1, 2471 1

5
Figura 3.2: Gráfico da calibração da balança. Fonte: Autores.

Após a calibração, o experimento foi conduzido ajustando-se as válvulas da mangueira H3


e linha de transmissão (C2) de forma que, com o auxı́lio do corante, se observasse visualmente no
tubo (H2) os fluxos laminares, transicionais e turbulentos. Durante esse processo buscou-se ajustar
em velocidades próximas, com o uso da válvula em (C2), o fluxo de corante em relação ao de água
de forma a minimizar as pertubações introduzidas, com o intuito de observar a transição natural
do escoamento. Em cada uma das cinco vezes, foi verificada uma variação considerável na forma
escoamento do tubo (duas situações de escoamento laminar, uma de escoamento transicional e
duas de escoamento turbulento), registrou-se o comportamento do fluxo por meio de fotos e vı́deo.
Em seguida, extinguiu-se o fluxo de corante e posicionou-se a saı́da da mangueira dentro
do recipiente de coleta (V1), apontada para uma de suas faces, com a maior proximidade possı́vel
do nı́vel da água, de forma que a entrada de lı́quido no recipiente fosse a mais suave possı́vel para
evitar pertubações na medição da célula de carga. Feito isso, esperou-se o recipiente se encher
até cerca de 0,5L, de forma a se estabilizar o movimento do lı́quido em seu interior e após isso
iniciou-se o registro dos valores medidos pela célula de carga durante cerca de 30 s, obtendo-se
assim a vazão mássica Vm a partir da razão entre a variação da massa no recipiente e o intervalo
de medição. A partir desse valor foi obtido o número de Reynolds pela Equação 3.2.

3.3 Discussão Teórica


Os valores calculados da vazão mássica do fluido , número de Reynolds, e a identificação
visual do tipo de escoamento aferidos do experimento estão dispostos na Tabela 3.2. Os valores
de Reynolds encontrados estão consistentes com as observações práticas, dado que a literatura
referenciada [4] considera uma faixa de 2000 à 2300 o número de Reynolds crı́tico para um es-
coamento num tubo cilı́ndrico. O número de Reynolds crı́tico é o menor valor no qual ocorre a
presença de pertubações em uma transição natural. O valor do número de Reynolds de transição
é o valor, em dado experimento, no qual começa a ser possı́vel observar padrões de turbulências
intermitentes. A literatura espera que este número seja próximo de um número de Reynolds de
2300. Entretanto este valor não foi possı́vel ser observado com precisão no experimento realizado,
que apenas indicou uma faixa aproximada mediante os dados entre 2100 e 3723. Uma quantidade
maior de medições facilitaria definir esta fronteira com mais precisão. Ademais, a distinção entre
os regimes foi realizada de forma visual tornando difı́cil uma medição exata.

6
Tabela 3.2: Vazão Mássica e Número de Reynolds

Vazão Mássica Reynolds Regime de Escoamento


Kg/s Adimensional
0, 0157 767 Laminar
0, 0284 1387 Laminar
0, 0432 2110 Transicional
0, 0762 3723 Turbulento
0, 1087 5311 Turbulento

A Figura 3.3 mostra as diferentes configurações do escoamento e seus respectivos números


de Reynolds. Nas duas primeiras observa-se o comportamento mais linear do fio de corante, tı́pico
do escoamento laminar. Para o Reynolds de 2110, já se observam oscilações do corante o que
permite inferir que o lı́quido se encontrava em regime transicional. As oscilações se tornam mais
frequentes e consistentes nas duas últimas imagens evidenciando o regime turbulento.

Figura 3.3: Sequência de escoamentos que foram registrados no tubo de vidro, cada qual com
número de Reynolds adimensional evidenciado no canto inferior esquerdo

Cabe considerar que apesar das tentativas, os aparatos experimentais não são isentos da
ocorrência de pertubações no fluxo de fluido pelo duto e que eventuais perturbações no fluxo padrão
em regime laminar podem culminar na transição para o regime turbulento. Portanto a presença de
imperfeições no fluxo ou pertubações externas durante o experimento podem afetar os limites da
faixa de transição, transladando para valores menores de número de Reynolds. De forma prática,
o aumento da pressão do corante facilitaria o ajuste da velocidade do fluido com a velocidade do
corante, entretanto, o equipamento apresenta um limite para esta pressão de 2 Bar. Além disso, a
válvula de ajuste de corante apresentou difı́cil manuseio, haja vista que foi necessário pressiona-la
manualmente para cima para manter o fluxo de corante no experimento.
Outrossim, foi realizado um esforço para que o sistema não recebesse pertubações, com
o intuito de observar estas faixas de mudança no tipo de escoamento em sua transição natural,
todavia, a existência de pertubações externas são inevitáveis e geram uma redução do número de
Reynolds necessário para a ocorrência de turbulências intermitentes ou contı́nuas.

7
4 Perda de carga em dutos
O conceito de perda de carga se refere à perda energética ocorrida no escoamento ao longo
de sua trajetória devido aos efeitos da viscosidade do fluido. No entanto, mantida uma vazão
constante, a velocidade média do fluido deverá se manter constante ao longo do escoamento de-
vido à sua incompressibilidade. Assim, a perda energética não se dará na forma de redução de
energia cinética, mas sim de energia potencial, ocasionando uma redução na pressão ao longo do
escoamento.
O objetivo deste experimento consiste em, através da observação da queda de pressão
hidrodinâmica devido à perda de carga de um escoamento ao longo de um duto circular, cuja área
da seção transversal é constante, estimar a viscosidade da água e comparar com o valor tabelado
encontrado na literatura, bem como a análise quantitativa do escoamento transicional, o efeito do
escoamento turbulento na viscosidade aparente do fluido, e a construção do Diagrama de Moody
para o experimento.

4.1 Arranjo Experimental


O arranjo experimental para este experimento consistiu em um reservatório de água ligado
a um duto circular horizontal de diâmetro interno de 3,2 mm e com um regulador de vazão na
extremidade. Ligados ao tubo horizontal, havia 20 tubos verticais espaçados 7,5cm entre si com
uma escala milimetrada em seu corpo. O reservatório foi mantido a um nı́vel de água constante
devido à ação de uma mangueira de alimentação e um ladrão. O aparato descrito pode ser verificado
na Figura 4.1.

Figura 4.1: Aparato experimental utilizado no experimento de perda de carga em dutos. Fonte:
[6]

4.2 Procedimentos Experimentais


Inicialmente, para a determinação dos parâmetros iniciais, foram medidas a densidade e a
temperatura da água no reservatório através de um densı́metro acoplado a um termômetro. Em
seguida, abriu-se o regulador de vazão para dar inı́cio ao escoamento, causando alterações nos
nı́veis de água dos tubos verticais, ajustando-se assim a vazão até o nı́vel de água da coluna mais

8
distante do reservatório (coluna de referência) atingir aproximadamente a marca de 900mm. Após
a estabilização do nı́vel de água nos tubos, determinou-se o nı́vel de água final em cada tubo
através da escala milimetrada.
Tomadas as medições, foi medida em uma balança a massa de um béquer a ser utilizado
na coleta da água para o cálculo da vazão do escoamento. Em seguida, cronometrou-se o tempo
levado para o lı́quido no béquer atingir aproximadamente um volume determinado e foi pesada
novamente a massa do béquer. O volume determinado escolhido para este experimento foi de 500
ml, a fim de prolongar o tempo de medição e atenuar os erros de medição oriundos do operador.
Após a medição, descartou-se a água do béquer, e repetiu-se novamente o experimento,
tomando as medidas da vazão para a altura da coluna de referência em 700, 500 e 300mm, re-
petindo a pesagem do béquer vazio a fim de prever alterações na massa inicial devido ao resı́duo
de lı́quido proveniente das medições anteriores. Por fim, repetiu-se o experimento com a vazão
máxima permitida pelo aparato experimental. Ao fim de todas as medições, mediu-se novamente
a densidade e temperatura da água no reservatório com o fito de verificar alterações ao longo da
prática, contudo não foram observadas mudanças nestes parâmetros.

4.3 Perda de carga


O efeito da perda de carga pôde ser observado tanto no experimento, com a redução da
pressão nos dutos verticais e a consequente diminuição da altura da água, quanto na análise
dos dados obtidos. Após a realização de uma regressão linear por meio do método dos mı́nimos
quadrados, foi traçado o gráfico contido na Figura 4.2, onde é possı́vel verificar a tendência linear
da redução da pressão no duto com o aumento da distância em relação ao reservatório. Os valores
obtidos podem ser verificadas na Tabela 4.1.

Figura 4.2: Efeito da perda de carga para cada uma das medidas realizadas. Fonte: Autores.

9
Tabela 4.1: Vazão e dp/dx obtidos no experimento.
dp
Vazão (10−6 m3 s−1 ) dx
(103 Pa m−1 )
Medida
Valor Incerteza Valor Incerteza
1 0.91 0.01 -0.349 0.008
2 2.18 0.02 -0.788 0.008
3 3.33 0.04 -1.289 0.007
4 4.11 0.03 -1.713 0.007
5 4.61 0.05 -2.302 0.007
6 5.02 0.04 -2.878 0.007
7 5.39 0.05 -3.410 0.007
8 5.76 0.04 -3.946 0.007
9 5.81 0.04 -4.066 0.007
10 5.86 0.06 -4.066 0.006

4.4 Viscosidade
Os valores encontrados para a vazão e para o dp/dx, em conjunto com a Equação 4.1 que
relaciona a fórmula da vazão com o gradiente de pressão, permitiram estimar a viscosidade (µ) em
cada uma das medidas realizadas.
128µQ ∂p
4
=− (4.1)
πd ∂x
O número de Reynolds foi calculado para cada uma das medições, empregando a Equação
3.1 e o valor da viscosidade cinemática de referência(µref ), tabelada para a água com relação à
sua temperatura no experimento. Desta forma foi possı́vel construir o gráfico presente na Figura
4.3, que relaciona a viscosidade estimada normalizada pela viscosidade de referência (µ/µref ) e o
número de Reynolds.
Através da figura, podemos perceber que inicialmente, o valor da viscosidade estimada
normalizada se manteve próximo de 1, o que é justificado pelo fato de que para o regime laminar,
a viscosidade medida corresponde à viscosidade de referência. No entanto, com o aumento do
número de Reynolds percebe-se que a viscosidade estimada normalizada começa a assumir valores
significativamente maiores que 1, ou seja, a viscosidade medida passa a ser significativamente maior
que a de referência.
A observação realizada não contraria o fato de que, mantida a temperatura da água cons-
tante durante todo o experimento, sua viscosidade não deve se alterar. Isso ocorre pois o valor de
viscosidade obtido através da Equação 3.1 só fornece o valor da viscosidade da água para o regime
laminar. No entanto, observa-se que conforme o o número de Reynolds aumenta o fluido passa a
transicionar para um escoamento turbulento. Assim, a viscosidade encontrada passa a representar
a viscosidade efetiva do lı́quido, isto é, a viscosidade a qual o fluido escoando em regime laminar

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Figura 4.3: Relação entre a viscosidade normalizada e o número de Reynolds para cada medição.
Fonte: Autores.

deveria possuir para gerar os mesmos efeitos observados para o escoamento turbulento.
A diferença evidenciada no experimento entre a viscosidade efetiva medida e a viscosidade do
lı́quido é a viscosidade turbulenta, dada pela Equação 4.2. A ocorrência da viscosidade turbulenta
pode ser atribuı́da à presença de redemoinhos que fornecem resistência ao escoamento e geram
instabilidade. Assim, o valor da viscosidade turbulenta deve aumentar com o aumento do número
de Reynolds, o que é verificado experimentalmente na Figura 4.3.

µef = µ + µturb (4.2)

4.5 Diagrama de Moody


Por fim, com os dados obtidos e estimados no experimento, foi possı́vel determinar o fator de
fricção, ou de Darcy-Weisbach [4], para cada uma das medidas, a fim de realizar uma comparação
dos resultados experimentais com o diagrama de Moody, como pode ser observado na Figura 4.4.
Temos, que o fator de Darcy pode ser calculado pela Equação 4.3, em que, ∆p representa
a variação de pressão no tubo, ρ representa a densidade do fluido Para construção do diagrama
da Figura 4.4, utilizam-se duas equações para fator de Darcy advindas da Equação 4.3, que se
diferenciam pelo caso de escoamento de estudo[4].
∆p
fD = (4.3)
1/2ρv 2 l
Em casos de regime de laminar, com uso de hipóteses simplificadoras, temos:
64
f= (4.4)
Re
Para o regime turbulento:

11
 
1 ϵ/d 2.51
1/2
= −2.0 log + (4.5)
fD 3.7 Red f 1/2
Para esse trabalho, considerou-se ϵ = 0
Com base nas Equações 4.3, 4.4 e 4.5, foram estabelecidas relações entre o fator de fricção
e o número de Reynolds.

Figura 4.4: Dados estimados para no experimento (em vermelho) comparado com o Diagrama de
Moody. Fonte: Autores.

Partindo, então, da análise gráfica das Figuras 4.4 e 4.3 e comparando os valores de fator
de fricção calculados a partir das Equações 4.4 e 4.5, conclui-se que os valores experimentais são
próximos dos teóricos esperados.
A maior perda de carga ocorre para o regime turbulento, dadas as perturbações que esse
tipo de regime gera no fluido. A criação de turbulências acarreta um aumento da viscosidade
aparente do fluido, portanto, maior dificuldade na passagem pelo tubo, resultando em uma perda
de carga mais expressiva.
Analisando a faixa de transição na Figura 4.4, ainda, temos o inı́cio desta para Re em
torno de 2100. Embora as limitações do aparato experimental não permitiram calcular valores de
Re maiores do que 2700, pode-se afirmar que o final da faixa de transição ocorra em torno desse
valor, uma vez que é observada a estabilização da relação entre o fator de fricção e o Número de
Reynolds, evidenciando o comportamento do diagrama de Moody na região onde ocorre o fluxo
turbulento. Ao comparar essa faixa de valores de transição com o gráfico da Figura 4.3, é percebida
compatibilidade entre ambas. Quanto ao experimento de Reynolds, há compatibilidade em relação
ao inı́cio da faixa de transição, próximo de 2100, mas diferença significativa quanto ao final desta,
com 2700 e 3723 para os valores de Re ao final da faixa de transição. Tal discrepância se deu pela
pequena quantidade de tomadas efetuadas e a dificuldade em se ajustar a válvula de corante no
experimento de Reynolds.

12
5 Conclusão
Nesta prática foram realizados três experimentos, são eles: A visualização da instabilidade
de Rayleigh-Taylor, a reprodução do experimento de Reynolds e a verificação da perda de carga
em duto circular de seção constante.
No primeiro arranjo do experimento para visualização da instabilidade de Rayleigh-Taylor
foi possı́vel observar que, quando se tem um sistema instável, ocorrem fluxos macroscópicos de
fluido através da interface, provocando a rápida mistura das fases, tı́pico do regime turbulento.
Comparativamente, no segundo arranjo, que era estável, a perturbação gerada na interface foi
rapidamente amortecida e os efeitos de difusão molecular predominaram, caracterizando o regime
laminar.
No segundo experimento foi possı́vel verificar as diferenças entre os regimes de escoamento
e calcular os respectivos valores de numero de Reynolds: laminar(767 e 1387), transicional(2110)
e turbulento(3723 e 5311). Os valores encontrados conferem com a teoria que em geral considera
a faixa do regime transicional entre 2000 e 2300.
No experimento da perda de carga verificou-se o comportamento linear da perda de carga
versus a distância da fonte de escoamento. Ademais foi possı́vel estimar os valores da viscosidade
da água em cada tomada e perceber que a razão entre o valor encontrado e o valor padrão da teoria
(viscosidade normalizada) ficou na faixa entre 1.14 a 1.15 nas primeiras 3 tomadas, permitindo
identificar o regime laminar e a partir destas o aumento desta razão demonstrou a mudança para
o regime turbulento. Ao final, foi possı́vel ainda calcular o número de Reynolds em cada etapa do
experimento e perceber a coerência com os valores obtidos no experimento de Reynolds.
De fato foi possı́vel observar o comportamento e caracterizar os regimes de escoamento
tı́picos da mecânica dos fluidos quais sejam: laminar, transicional e turbulento.

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Referências
1 INCROPERA, F. D. Fundamentos de Transferência de Calor e de Massa. 7. ed. [S.l.]: LTC,
2014. 3

2 SHARP, D. H. An overview of Rayleigh-Taylor instability. Physica D: Nonlinear Phenomena,


v. 12, p. 3–18, 1984. 3

3 MOURA, R. C. Instabilidade de Rayleigh-Taylor: Estabilidade em Fluidos. Instituto


Tecnológico de Aeronáutica. Departamento de Engenharia Aeronáutica e Aeroespacial. Aula de
laboratório de mecânica dos fluidos, 2022. Disponı́vel em: ⟨https://www.youtube.com/watch?v=
jNZ OgjLXUA⟩. Acesso em: 14 mar. 2022. 3

4 WHITE, F. M. Viscuous fluid flow. 3. ed. [S.l.]: McGraw-Hill New York, 2006. 4, 6, 11

5 MOURA, R. C. Experimento de Reynolds. Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Departamento


de Engenharia Aeronáutica e Aeroespacial. Aula de laboratório de mecânica dos fluidos, 2022.
Disponı́vel em: ⟨https://www.youtube.com/watch?v=3xv6nPjyVJo⟩. Acesso em: 14 mar. 2022. 5

6 MOURA, R. C. Perda de carga em dutos. Instituto Tecnológico de Aeronáutica. Departamento


de Engenharia Aeronáutica e Aeroespacial. Aula de laboratório de mecânica dos fluidos, 2022.
Disponı́vel em: ⟨https://www.youtube.com/watch?v=V-RLOKN 0qc⟩. Acesso em: 14 mar. 2022.
8

14
A Apêndice A
# Bibliotecas
import matplotlib.pyplot as plt
import pandas as pd
import statsmodels.formula.api as smf

#####

# Nome do arquivo
arquivo = "dados/cal_1.txt"
# Tratando os dados do arquivo
med = open(arquivo)
linhas = med.readlines()

# Salvar as mediç~
oes e voltagemem listas

massa=[]
voltagem=[]

for linha in linhas:


aux = linha.split()
aux1 = float(aux[0])
massa.append(aux1)
aux2 = float(aux[1])
voltagem.append(aux2)

## Gráfico da calibraç~
ao

fig, axes = plt.subplots()


axes.plot(voltagem,massa)
axes.scatter(voltagem,massa,color=’red’)
axes.plot(voltagem,massa,color=’blue’)

axes.set_title("Gráfico da Calibraç~
ao")

axes.set_xlabel("Tens~
ao [V]")
axes.set_ylabel("Massa [Kg]")

fig.savefig(’Calibracao.jpg’, format=’jpg’)

15
## Regress~
ao Linear

# Data Frame com os dados da massa e do tempo


data = pd.DataFrame({"y": massa, "x":voltagem})

# Fazendo a regress~
ao linear
modelo = smf.ols("y~x",data)
# Armazenando os valores da regress~
ao linear
resultado = modelo.fit()

# Mostrando os coeficientes da regress~


ao linear
print(resultado.summary())

16

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