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Laboratório de AED-01
Mecânica dos Fluidos I
Regimes de escoamento e perda de carga em dutos
Autores: Professores:
Lı́der: Chrystian Jones Maia Cap. Rodrigo Costa Moura
(chrystian.maia@ga.ita.br)
Caio Jansen Acioly Prof. Dr. Tiago B. de Araújo
Gabriel Andrusaitis de Souza
João Raphael Ferreira Guimarães
Juan Marco de Jesus Libonatti
Paulo Fernando Guimarães Tupinambá
Pedro Felipe Silva Batista
Vinı́cius Ballestrin da Cruz
14 de março de 2022
1 Introdução
Os experimentos descritos a seguir foram conduzidos pelos alunos de graduação em En-
genharia Aeronáutica e Engenharia Aeroespacial do curso de Mecânica dos Fluidos I - AED-01,
realizados no Instituto Tecnológico de Aeronáutica em 14 de março de 2022. O objetivo geral da
prática se concentrou em proporcionar uma introdução aos regimes de escoamento caracterı́sticos
da mecânica dos fluidos, quais sejam o escoamento laminar, transicional e turbulento. Ademais
foi introduzido o conceito de perda de carga em dutos, sendo o termo carga entendido como
energia total do fluido em escoamento. Para o atingimento deste objetivo geral foram realizados
três experimentos: instabilidade de Rayleigh-Taylor, perda de carga em dutos e experimento de
Reynolds.
O primeiro experimento teve por objetivo principal observar a diferença de intensidade
entre o transporte convectivo e o transporte difusivo, além de observar o conceito de viscosidade
turbulenta bem como a origem da turbulência por meio de pequenas perturbações.
O segundo experimento objetivou verificar a transição do regime de escoamento laminar
para o regime de escoamento turbulento, por intermédio da injeção de um corante no tubo de
escoamento de forma a permitir a observação do surgimento das estruturas tı́picas que caracterizam
a turbulência, bem como calcular o número de Reynolds para cada escoamento estudado. Os
resultados obtidos nos dois últimos experimentos foram relacionados e comparados com os valores
esperados pela teoria.
O derradeiro experimento teve por objetivo observar como ocorre a perda de carga, aqui
entendida como energia em forma de pressão e velocidade, em um duto horizontal de secção
transversal circular de área constante. A perda de carga foi constatada medindo-se a pressão ao
longo do comprimento do duto.
Nas seções 2, 3 e 4 a execução dos experimentos encontra-se detalhada, cujos resultados
serão explicitados e discutidos. Ao final (5), tem-se uma breve conclusão dos aspectos observados.
No laboratório, foram aferidas a temperatura e a densidade da água, cujos valores, assim como
outras variáveis ambientes relevantes foram compiladas na Tabela 1.1.
1
2 Instabilidade de Rayleigh-Taylor
O objetivo principal desta prática consistiu em observar a diferença de intensidade entre o
transporte convectivo e o transporte difusivo descritos a seguir, bem como observar o conceito de
viscosidade turbulenta por meio de pequenas perturbações efetuadas na interface dos lı́quidos.
2
Figura 2.3: Instabilidade Rayleigh-Taylor - Evolução temporal da mistura em um arranjo estável.
Fonte: Autores
3
3 Experimento de Reynolds
Historicamente o experimento de Reynolds demonstrou a existência de três tipos de esco-
amentos de fluidos, o escoamento laminar, turbulento e de transição. O primeiro tipo é o mais
simples e ocorre com a presença significativa de forças viscosas fazendo o fluido se mover em lâminas
ou camadas, enquanto que no segundo, com predominância de forças inerciais, o fluido se mistura
e apresenta caracterı́sticas de um sistema caótico. Por fim o regime de transição apresenta uma
instabilidade no movimento laminar, evidenciando pertubações intermitentes. [4]
O experimento realizado foi baseado no experimento original de Reynolds, contendo um
tubo transparente onde um fluxo de água constante se faz presente. Um lı́quido corante com
a mesma densidade da água é inserido no fluxo à mesma velocidade de forma a ser possı́vel
visualizar o escoamento do fluido e suas caracterı́sticas. Reynolds observou que o comportamento
do escoamento mudava juntamente com uma grandeza adimensional que podia ser usada para
descrever tal escoamento, denominado de número de Reynolds, que pode ser visto na Equação 3.1.
ρV D
Re = (3.1)
µ
No caso de um escoamento num duto circular, ρ é a massa especı́fica do fluido, V é a
velocidade média, D é o diâmetro do tubo e µ é a viscosidade dinâmica. Entretanto, a Equação 3.1
foi adaptada para que tivesse como termo dependente a vazão mássica (Vm ) em vez da velocidade
do fluido originando a Equação 3.2.
Vm D
Re = (3.2)
µA
O objetivo do experimento realizado é demonstrar a transição do regime de escoamento
laminar para o turbulento observando o comportamento do número de Reynolds, e estimando seus
valores nas fronteiras da transição. A variação do fluxo se deu na mudança da vazão de água e na
manutenção da temperatura, densidade do fluido e a geometria do tubo.
4
arquivo. Anexado interiormente à (H2), na mesma entrada que o reservatório (H1) e destinado à
liberar o corante no fluxo de água, encontrava-se um injetor (C3) o qual se encontrava ligado à
um cilindro contendo corante (C1) por meio de uma linha de transporte (C2). O transporte do
corante ao nı́vel do reservatório era regulado por uma válvula através da aplicação de uma pressão
de 1,5 Bar (posteriormente regulada para 2,0 Bar durante o experimento) por um compressor de
ar conectado ao cilindro.
5
Figura 3.2: Gráfico da calibração da balança. Fonte: Autores.
6
Tabela 3.2: Vazão Mássica e Número de Reynolds
Figura 3.3: Sequência de escoamentos que foram registrados no tubo de vidro, cada qual com
número de Reynolds adimensional evidenciado no canto inferior esquerdo
Cabe considerar que apesar das tentativas, os aparatos experimentais não são isentos da
ocorrência de pertubações no fluxo de fluido pelo duto e que eventuais perturbações no fluxo padrão
em regime laminar podem culminar na transição para o regime turbulento. Portanto a presença de
imperfeições no fluxo ou pertubações externas durante o experimento podem afetar os limites da
faixa de transição, transladando para valores menores de número de Reynolds. De forma prática,
o aumento da pressão do corante facilitaria o ajuste da velocidade do fluido com a velocidade do
corante, entretanto, o equipamento apresenta um limite para esta pressão de 2 Bar. Além disso, a
válvula de ajuste de corante apresentou difı́cil manuseio, haja vista que foi necessário pressiona-la
manualmente para cima para manter o fluxo de corante no experimento.
Outrossim, foi realizado um esforço para que o sistema não recebesse pertubações, com
o intuito de observar estas faixas de mudança no tipo de escoamento em sua transição natural,
todavia, a existência de pertubações externas são inevitáveis e geram uma redução do número de
Reynolds necessário para a ocorrência de turbulências intermitentes ou contı́nuas.
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4 Perda de carga em dutos
O conceito de perda de carga se refere à perda energética ocorrida no escoamento ao longo
de sua trajetória devido aos efeitos da viscosidade do fluido. No entanto, mantida uma vazão
constante, a velocidade média do fluido deverá se manter constante ao longo do escoamento de-
vido à sua incompressibilidade. Assim, a perda energética não se dará na forma de redução de
energia cinética, mas sim de energia potencial, ocasionando uma redução na pressão ao longo do
escoamento.
O objetivo deste experimento consiste em, através da observação da queda de pressão
hidrodinâmica devido à perda de carga de um escoamento ao longo de um duto circular, cuja área
da seção transversal é constante, estimar a viscosidade da água e comparar com o valor tabelado
encontrado na literatura, bem como a análise quantitativa do escoamento transicional, o efeito do
escoamento turbulento na viscosidade aparente do fluido, e a construção do Diagrama de Moody
para o experimento.
Figura 4.1: Aparato experimental utilizado no experimento de perda de carga em dutos. Fonte:
[6]
8
distante do reservatório (coluna de referência) atingir aproximadamente a marca de 900mm. Após
a estabilização do nı́vel de água nos tubos, determinou-se o nı́vel de água final em cada tubo
através da escala milimetrada.
Tomadas as medições, foi medida em uma balança a massa de um béquer a ser utilizado
na coleta da água para o cálculo da vazão do escoamento. Em seguida, cronometrou-se o tempo
levado para o lı́quido no béquer atingir aproximadamente um volume determinado e foi pesada
novamente a massa do béquer. O volume determinado escolhido para este experimento foi de 500
ml, a fim de prolongar o tempo de medição e atenuar os erros de medição oriundos do operador.
Após a medição, descartou-se a água do béquer, e repetiu-se novamente o experimento,
tomando as medidas da vazão para a altura da coluna de referência em 700, 500 e 300mm, re-
petindo a pesagem do béquer vazio a fim de prever alterações na massa inicial devido ao resı́duo
de lı́quido proveniente das medições anteriores. Por fim, repetiu-se o experimento com a vazão
máxima permitida pelo aparato experimental. Ao fim de todas as medições, mediu-se novamente
a densidade e temperatura da água no reservatório com o fito de verificar alterações ao longo da
prática, contudo não foram observadas mudanças nestes parâmetros.
Figura 4.2: Efeito da perda de carga para cada uma das medidas realizadas. Fonte: Autores.
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Tabela 4.1: Vazão e dp/dx obtidos no experimento.
dp
Vazão (10−6 m3 s−1 ) dx
(103 Pa m−1 )
Medida
Valor Incerteza Valor Incerteza
1 0.91 0.01 -0.349 0.008
2 2.18 0.02 -0.788 0.008
3 3.33 0.04 -1.289 0.007
4 4.11 0.03 -1.713 0.007
5 4.61 0.05 -2.302 0.007
6 5.02 0.04 -2.878 0.007
7 5.39 0.05 -3.410 0.007
8 5.76 0.04 -3.946 0.007
9 5.81 0.04 -4.066 0.007
10 5.86 0.06 -4.066 0.006
4.4 Viscosidade
Os valores encontrados para a vazão e para o dp/dx, em conjunto com a Equação 4.1 que
relaciona a fórmula da vazão com o gradiente de pressão, permitiram estimar a viscosidade (µ) em
cada uma das medidas realizadas.
128µQ ∂p
4
=− (4.1)
πd ∂x
O número de Reynolds foi calculado para cada uma das medições, empregando a Equação
3.1 e o valor da viscosidade cinemática de referência(µref ), tabelada para a água com relação à
sua temperatura no experimento. Desta forma foi possı́vel construir o gráfico presente na Figura
4.3, que relaciona a viscosidade estimada normalizada pela viscosidade de referência (µ/µref ) e o
número de Reynolds.
Através da figura, podemos perceber que inicialmente, o valor da viscosidade estimada
normalizada se manteve próximo de 1, o que é justificado pelo fato de que para o regime laminar,
a viscosidade medida corresponde à viscosidade de referência. No entanto, com o aumento do
número de Reynolds percebe-se que a viscosidade estimada normalizada começa a assumir valores
significativamente maiores que 1, ou seja, a viscosidade medida passa a ser significativamente maior
que a de referência.
A observação realizada não contraria o fato de que, mantida a temperatura da água cons-
tante durante todo o experimento, sua viscosidade não deve se alterar. Isso ocorre pois o valor de
viscosidade obtido através da Equação 3.1 só fornece o valor da viscosidade da água para o regime
laminar. No entanto, observa-se que conforme o o número de Reynolds aumenta o fluido passa a
transicionar para um escoamento turbulento. Assim, a viscosidade encontrada passa a representar
a viscosidade efetiva do lı́quido, isto é, a viscosidade a qual o fluido escoando em regime laminar
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Figura 4.3: Relação entre a viscosidade normalizada e o número de Reynolds para cada medição.
Fonte: Autores.
deveria possuir para gerar os mesmos efeitos observados para o escoamento turbulento.
A diferença evidenciada no experimento entre a viscosidade efetiva medida e a viscosidade do
lı́quido é a viscosidade turbulenta, dada pela Equação 4.2. A ocorrência da viscosidade turbulenta
pode ser atribuı́da à presença de redemoinhos que fornecem resistência ao escoamento e geram
instabilidade. Assim, o valor da viscosidade turbulenta deve aumentar com o aumento do número
de Reynolds, o que é verificado experimentalmente na Figura 4.3.
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1 ϵ/d 2.51
1/2
= −2.0 log + (4.5)
fD 3.7 Red f 1/2
Para esse trabalho, considerou-se ϵ = 0
Com base nas Equações 4.3, 4.4 e 4.5, foram estabelecidas relações entre o fator de fricção
e o número de Reynolds.
Figura 4.4: Dados estimados para no experimento (em vermelho) comparado com o Diagrama de
Moody. Fonte: Autores.
Partindo, então, da análise gráfica das Figuras 4.4 e 4.3 e comparando os valores de fator
de fricção calculados a partir das Equações 4.4 e 4.5, conclui-se que os valores experimentais são
próximos dos teóricos esperados.
A maior perda de carga ocorre para o regime turbulento, dadas as perturbações que esse
tipo de regime gera no fluido. A criação de turbulências acarreta um aumento da viscosidade
aparente do fluido, portanto, maior dificuldade na passagem pelo tubo, resultando em uma perda
de carga mais expressiva.
Analisando a faixa de transição na Figura 4.4, ainda, temos o inı́cio desta para Re em
torno de 2100. Embora as limitações do aparato experimental não permitiram calcular valores de
Re maiores do que 2700, pode-se afirmar que o final da faixa de transição ocorra em torno desse
valor, uma vez que é observada a estabilização da relação entre o fator de fricção e o Número de
Reynolds, evidenciando o comportamento do diagrama de Moody na região onde ocorre o fluxo
turbulento. Ao comparar essa faixa de valores de transição com o gráfico da Figura 4.3, é percebida
compatibilidade entre ambas. Quanto ao experimento de Reynolds, há compatibilidade em relação
ao inı́cio da faixa de transição, próximo de 2100, mas diferença significativa quanto ao final desta,
com 2700 e 3723 para os valores de Re ao final da faixa de transição. Tal discrepância se deu pela
pequena quantidade de tomadas efetuadas e a dificuldade em se ajustar a válvula de corante no
experimento de Reynolds.
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5 Conclusão
Nesta prática foram realizados três experimentos, são eles: A visualização da instabilidade
de Rayleigh-Taylor, a reprodução do experimento de Reynolds e a verificação da perda de carga
em duto circular de seção constante.
No primeiro arranjo do experimento para visualização da instabilidade de Rayleigh-Taylor
foi possı́vel observar que, quando se tem um sistema instável, ocorrem fluxos macroscópicos de
fluido através da interface, provocando a rápida mistura das fases, tı́pico do regime turbulento.
Comparativamente, no segundo arranjo, que era estável, a perturbação gerada na interface foi
rapidamente amortecida e os efeitos de difusão molecular predominaram, caracterizando o regime
laminar.
No segundo experimento foi possı́vel verificar as diferenças entre os regimes de escoamento
e calcular os respectivos valores de numero de Reynolds: laminar(767 e 1387), transicional(2110)
e turbulento(3723 e 5311). Os valores encontrados conferem com a teoria que em geral considera
a faixa do regime transicional entre 2000 e 2300.
No experimento da perda de carga verificou-se o comportamento linear da perda de carga
versus a distância da fonte de escoamento. Ademais foi possı́vel estimar os valores da viscosidade
da água em cada tomada e perceber que a razão entre o valor encontrado e o valor padrão da teoria
(viscosidade normalizada) ficou na faixa entre 1.14 a 1.15 nas primeiras 3 tomadas, permitindo
identificar o regime laminar e a partir destas o aumento desta razão demonstrou a mudança para
o regime turbulento. Ao final, foi possı́vel ainda calcular o número de Reynolds em cada etapa do
experimento e perceber a coerência com os valores obtidos no experimento de Reynolds.
De fato foi possı́vel observar o comportamento e caracterizar os regimes de escoamento
tı́picos da mecânica dos fluidos quais sejam: laminar, transicional e turbulento.
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Referências
1 INCROPERA, F. D. Fundamentos de Transferência de Calor e de Massa. 7. ed. [S.l.]: LTC,
2014. 3
4 WHITE, F. M. Viscuous fluid flow. 3. ed. [S.l.]: McGraw-Hill New York, 2006. 4, 6, 11
14
A Apêndice A
# Bibliotecas
import matplotlib.pyplot as plt
import pandas as pd
import statsmodels.formula.api as smf
#####
# Nome do arquivo
arquivo = "dados/cal_1.txt"
# Tratando os dados do arquivo
med = open(arquivo)
linhas = med.readlines()
# Salvar as mediç~
oes e voltagemem listas
massa=[]
voltagem=[]
## Gráfico da calibraç~
ao
axes.set_title("Gráfico da Calibraç~
ao")
axes.set_xlabel("Tens~
ao [V]")
axes.set_ylabel("Massa [Kg]")
fig.savefig(’Calibracao.jpg’, format=’jpg’)
15
## Regress~
ao Linear
# Fazendo a regress~
ao linear
modelo = smf.ols("y~x",data)
# Armazenando os valores da regress~
ao linear
resultado = modelo.fit()
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