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FENÓMENOS DE TRANSPORTE I

(Apontamentos)

Cursos: Engª Química, Engª Mecânica

Departamento de Engenharias e Tecnologias

Professor Responsável: Sílvia Santos


Fenómenos de transporte I - Apontamentos

Nota Prévia:

Estes apontamentos servem de base ao estudo da Disciplina de Fenómenos de


Transporte I. Não dispensam a consulta da Bibliografia Recomendada.

Estes apontamentos podem conter erros.

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Fenómenos de transporte I - Apontamentos

6. Escoamento Laminar e Turbulento

6.1. A experiência de Reynolds (Welty et al., 2008; Campos, 2013)

Osborne Reynolds (1814-1912) foi o primeiro a mostrar as diferenças existentes entre um


escoamento em regime laminar e um escoamento em regime turbulento. Para um
Engenheiro de processo, a distinção entre fluxo laminar e fluxo turbulento é
particularmente importante para escoamento dentro de condutas. A experiência de
Reynolds (1883) permitiu perceber inequivocamente estes conceitos.

Água Corante Válvula Água Corante Válvula

Figura 20: Esquema da experiência de Reynolds. (Welty et al., 2008)

Os trabalhos efectuados por Reynolds consistiram em observar água a escoar numa


tubagem transparente, sendo o caudal controlado por uma válvula. Uma fina corrente
de água corada era injectada na corrente principal, observando-se o padrão do fluxo.
Para caudais baixos de fluido observa-se uma linha recta colorida muito bem definida
– o fluido está a escoar em regime laminar. Aumentando o caudal, a linha colorida
começa a apresentar um comportamento sinuoso – o fluido está a escoar em regime
de transição. Aumentando ainda mais o caudal, o rasto passa a ser uma mancha
colorida esbatida, que ocupa quase toda a secção recta do tubo – o fluido está a
escoar em regime turbulento.

Na prática, verificou-se que, para além da velocidade, a transição de fluxo laminar para
fluxo turbulento depende também de outros parâmetros: diâmetro da conduta (D),
viscosidade do fluido () e densidade do fluido ().

O critério para determinar qual o tipo de fluxo em cada caso é dado por uma relação
adimensional entre variáveis conhecida como número de Reynolds:

𝜌𝑣𝐷
𝑅𝑒 =
𝜇

O grupo adimensional Reynolds representa a razão entre as forças viscosas (que


comandam o escoamento em regime laminar) e as forças de inércia (que comandam

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o escoamento em regime turbulento), pelo que o seu valor permite identificar quando
uma das forças se sobrepõe à outra.

Assim, define-se como sendo um fluido a escoar em regime laminar quando as suas
partículas têm trajectórias bem definidas, e se repetirmos a experiência vamos obter o
mesmo perfil de velocidades. Já num fluido a escoar em regime turbulento, as partículas
seguem trajectórias aleatórias, em cada ponto existe uma velocidade instantânea, e se
repetirmos a experiência, não obtemos o mesmo perfil de velocidades.

a)

b)

Figura 21: a) Regime laminar. b) Regime turbulento. (commons.wikimedia.org)

Por observação experimental conclui-se que, num tubo de secção recta circular, não
havendo perturbações ao escoamento, o regime é laminar se Re < 2100 e é turbulento
se Re > 4000. Nas situações intermédias (região de transição) o fluxo pode ser laminar
ou turbulento. (Nota: estes valores de referência podem variar ligeiramente de autor
para autor)

Adaptações do número de Reynolds têm sido feitas a outras geometrias e sistemas,


utilizando-se dimensões características para estes casos.

6.2. A Viscosidade (Welty et al., 2008; Campos, 2013)

Conforme foi referido no Capítulo 2, os fluidos caracterizam-se por sofrerem uma


deformação crescente no tempo, quando sujeitos a uma força de corte constante.

A viscosidade é uma propriedade dos fluidos que mede a taxa de resistência à


deformação. Ou, por outro lado, pode ser vista como a resistência que um fluido opõe
ao deslocamento. Existem fluidos altamente viscosos, como é o caso dos óleos vegetais
ou do mel, e fluidos pouco viscosos, como é o caso do ar (gasoso) ou da água (líquido).

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Um melhor entendimento sobre o conceito de viscosidade implica a observação do


movimento do fluido a um nível molecular.

O mecanismo de movimento dos gases pode ser descrito de uma forma mais simples
do que dos líquidos. Nos gases, o mecanismo pelo qual ocorre resistência à deformação
pode ser observado a nível molecular. Na figura seguinte é possível observar que as
moléculas não se encontram alinhadas, mas cruzam as fronteiras do volume de controlo
de um fluido gasoso.

Figura 22: Movimento molecular na superfície do volume de controlo para um fluido


gasoso. (Welty et al., 2008)

A resistência à deformação deve-se ao choque entre as moléculas. Moléculas com


maior velocidade chocam com moléculas mais lentas, o que resulta no transporte de
q.d.m. de uma região para outra.

O movimento aleatório é facilitado pela temperatura, logo o aumento da temperatura


leva a um aumento da viscosidade. De facto, aumentando a temperatura promove-se
o choque entre as moléculas que provoca maior resistência à deformação, logo maior
viscosidade.

Existem na literatura vários modelos que preveem a viscosidade de um gás com base
na interacção molecular. Segundo a teoria cinética dos gases temos que:

𝜇 ∝ √𝑇(𝑇 ≡ temperatura absoluta)

o que é uma boa aproximação, na maioria dos casos.

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No que diz respeito aos líquidos, a maior fonte de conhecimento relativamente à


viscosidade dos fluídos líquidos resulta do desenvolvimento experimental. As
dificuldades inerentes ao tratamento analítico dos líquidos estão relacionadas com a
sua natureza. Enquanto num gás, as moléculas estão de tal forma afastadas que se
pode considerar que interagem aos pares, nos líquidos, a proximidade das moléculas é
tal que obriga a que se considerem interacções de várias moléculas simultaneamente
o que dificulta o tratamento analítico.

Assim, para o caso dos líquidos, a sua viscosidade pode ser considerada devido à
restrição causada por forças intermoleculares. Ou seja, a resistência à deformação é
controlada pelas forças de atracção intermoleculares. O aumento da temperatura
provoca uma diminuição das forças intermoleculares, pelo que a viscosidade também
diminui.

Evidências experimentais mostram que a viscosidade dos líquidos diminui com o


aumento da temperatura, o que corrobora o conceito de forças intermoleculares serem
o factor de controlo.

A relação entre a viscosidade de um líquido e a temperatura segue uma lei do tipo


exponencial:

𝜇 ≅ 𝑎𝑒 −𝑏𝑇 (a e b constantes)

Na Figura seguinte são apresentadas as variações das viscosidades com a temperatura


para alguns fluidos.

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Querosene

Água
Viscosidade

Ar

Temperatura, K

Figura 23: Variação da viscosidade com a temperatura para alguns fluidos. (Welty et
al., 2008)

Na realidade a viscosidade é também influenciada pela pressão, no entanto, no caso


dos líquidos, sendo estes praticamente incompressíveis, este efeito pode ser desprezado.
No caso dos gases, este efeito também é desprezável, excepto para valores de pressão
elevados (da ordem de 10 vezes a pressão atmosférica). Obviamente, no caso da
viscosidade cinemática, esta varia bastante com a pressão.

Imaginemos duas placas planas, paralelas e de comprimento infinito, encontrando-se o


espaço que as separa totalmente preenchido por um filme de fluido em repouso de
espessura y0. Aplicando uma força de corte, F, numa das placas, mantendo a outra
parada, estabelecer-se-á um gradiente de velocidades no fluido. A camada de fluido
imediatamente adjacente a cada uma das superfícies sólidas desloca-se com a
superfície, i.e., está parada relativamente a ela (condição de não escorregamento).
Mantendo-se a aplicação da força por um período suficientemente longo, atingir-se-á
o estado estacionário, sendo o perfil de velocidades dado por uma linha recta (vide
Figuras 24 e 25).

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Figura 24: Fluido entre duas placas separadas por uma pequena distância. (Campos,
2013)

Figura 25: Perfil de velocidade linear no fluido entre placas. (Campos, 2013)

Quando se atinge o estado estacionário, a velocidade passa a ser apenas função de


y: v=v(y). A força F aplicada deverá vencer a resistência ao movimento oferecida pelo
fluido. A intensidade dessa força depende da área da placa, do tipo de fluido e da
velocidade v0 que se pretende imprimir à placa. Essa força também depende do fluido
em causa através da grandeza viscosidade ().

Esta relação existente entre a força, a área, a velocidade e a viscosidade designa-se


por Lei de Newton da viscosidade:

𝐹 𝑑𝑣𝑥
𝜏𝑦𝑥 = =𝜇
𝐴 𝑣𝑦

Nota: nos índices do tensor de corte, o primeiro (y) diz respeito à direcção do gradiente
de velocidades, enquanto o segundo (x) diz respeito à direcção da força. O gradiente
𝑑𝑣𝑥
de velocidades ( ) corresponde à taxa de deformação do elemento de fluido.
𝑣𝑦

Na realidade, a Lei de Newton da viscosidade tem duas abordagens possíveis: a do


tensor de corte (que se descreveu) em que 𝜏 é descrito como uma força por unidade
de área, ou como um fluxo de quantidade de movimento (q.d.m). Nesta segunda

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abordagem, considera-se que há transporte de q.d.m. segundo uma direcção. A Lei de


Newton da viscosidade pode então ser escrita como:

𝑑𝑣𝑥
𝜏𝑦𝑥 = −𝜇
𝑣𝑦

Nota: o primeiro índice corresponde à direcção do transporte da propriedade e o


segundo à direcção da velocidade. O sinal negativo (-) revela o facto de o fluxo ocorrer
das zonas de maior velocidade para as zonas de menor velocidade (oposto ao
gradiente de 𝑣𝑥 .

Os fluidos em que se observa uma relação de proporcionalidade directa entre a


𝑑𝑣𝑥
variação da velocidade ( ), ou taxa de deformação (𝛾̇ ) e a tensão de corte( 𝜏)
𝑣𝑦

designam-se por fluidos Newtonianos, uma vez que seguem a Lei de Newton da
viscosidade. A constante de proporcionalidade é a viscosidade, também chamada de
viscosidade dinâmica.

𝑑𝑣𝑥
Se analisarmos a expressão 𝜏𝑦𝑥 = −𝜇 , podemos aferir quais as dimensões da
𝑣𝑦

grandeza viscosidade:

𝑓𝑜𝑟ç𝑎
𝜏𝑦𝑥 á𝑟𝑒𝑎 𝑀. 𝐿. 𝑇 −2 . 𝐿−2
𝜇= ≡ ≡ ≡ 𝑀. 𝐿−1 . 𝑇 −1
𝑑𝑣𝑥 𝑣𝑒𝑙𝑜𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝐿. 𝑇 −1 . 𝐿−1
𝑣𝑦 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜

A unidade da viscosidade dinâmica no S.I. é o Pa.s (kgm-1s-1), no entanto, esta grandeza


é frequentemente apresentada e unidades do sistema cgs, ou seja gcm -1s-1, que se
designa por poise. Facilmente se conclui que 1 poise=0,1 Pa.s. Sendo esta unidade
demasiado grande para a maioria dos fluidos opta-se em geral por usar o centipoise
(cp), sendo que 1 cp=0,01 Pa.s.

Frequentemente a viscosidade dinâmica aparece dividida pela massa volúmica, e


designa-se por viscosidade cinemática:

𝜇
𝜗=
𝜌

Cujas unidades:

𝜇 𝑀. 𝐿−1 . 𝑇 −1
𝜗= ≡ ≡ 𝐿2 . 𝑇 −1
𝜌 𝑀. 𝐿−3

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A unidade da viscosidade cinemática no S.I. é o m 2/s e no sistema cgs é o Stoke (st) (1


st=1 cm2/s).

De facto, a maioria dos fluidos de trabalho apresenta características Newtonianas,


como é o caso da água, benzeno, álcool etílico, soluções aquosas de sais inorgânicos
ou açúcares, hidrogénio, azoto, ar, etc.

A viscosidade de um fluido Newtoniano é determinante nas características do seu


escoamento. No caso dos fluidos gasosos, as suas viscosidades são baixas e variam
pouco de gás para gás. Regra geral, a viscosidade de um gás apresenta valores entre
5×10-6 a 3×10-6 Pa.s. Por outro lado, as viscosidades dos líquidos são mais elevadas e
apresentam uma maior gama de variabilidade. Convém referir o caso da água cuja
viscosidade é de 1×10-3 Pa.s a 293 K.

Na Tabela seguinte são apresentados os valores de viscosidade de alguns fluidos.

Tabela 6: Viscosidades de alguns fluidos. (Bird et al., )


Substância T (ºC) Viscosidade (cp)

Água (liq) 20 1,0019

Ar 20 0,01813

H2SO4 (liq) 20 19,15

Glicerol (liq) 20 1069

CH4 (g) 20 0,0109

CO2 (g) 20 0,0146

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6.3. Fluidos Não Newtonianos

A Lei de Newton da viscosidade não é aplicável a todos os fluidos. De facto, os fluidos


podem ser classificados como Newtonianos ou não Newtonianos dependendo da
relação existente entre a tensão de corte e a deformação (variação da velocidade na
direcção normal ao escoamento). (Welty et al., 2008)

Os fluidos Newtonianos são aqueles que seguem a Lei de Newton da viscosidade, e que
pode ser representada de forma simplificada por:

𝑑𝑣 𝑑𝑣
𝜏 = −𝜇 = 𝜇𝛾̇ (𝛾̇ = − )
𝑑𝑟 𝑑𝑟

O que se traduz graficamente por uma recta com ordenada na origem, sendo a
constante de proporcionalidade a viscosidade, também chamada de viscosidade
dinâmica.

Existem inúmeros fluidos em que não se observa uma proporciponalidade entre a tensão
de corte e a variação da velocidade na direcção normal ao escoamento. Na Figura
seguinte estão representadas as relações existentes entre a tensão de corte e a a
deformação para várias categorias de fluidos Newtonianos e não Newtonianos.

Plástico de Casson

Plástico de Bingham

Pseudoplástico

Newtoniano

Tensão mínima Dilatante

Deformação

Figura 26: Curvas de tensão-deformação para vários tipos de comportamento


reológico.

A Reologia é a ciência que estuda a deformação e o fluxo. Esta ciência engloba o


comportamento dos sólidos elásticos e dos fluidos Newtonianos e não-Newtonianos.
Recorde-se que todos os gases são Newtonianos, pelo que os não-Newtonianos são
sempre líquidos. São fluidos não-Newtonianos as suspensões coloidais, polímeros e
soluções poliméricas. Ou seja, são fluidos não-Newtonianos aqueles que apresentam na

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sua estrutura moléculas maiores do que as da água, ou que têm na sua composição
uma elevada concentração de partículas sólidas em suspensão. (Campos, 2013)

Existem dois tipos de classificação para os fluidos não Newtonianos: relativamente à


variação da viscosidade com o tempo e com a tensão de corte.

6.3.1. Classificação relativamente à tensão de corte

Como foi referido, os fluidos não-Newtonianos apresentam deformações quando


sujeitos a determinada tensão que diferem do previsto pela lei de Newton da
viscosidade (vide Figura 26). Na realidade, um comportamento não Newtoniano é
descrito por dois parâmetros característicos, e não por um único, como acontece para
os fluidos Newtonianos.

Assim, no que diz respeito à classificação quanto à tensão de corte, os fluidos podem
ser:

PSEUDOPLÁSTICOS

Nestes fluidos a razão (𝜏/𝛾̇ ) diminui para valores crescentes da tensão de corte aplicada,
i.e., o declive em cada ponto da curva representada na Figura 26 diminui à medida
que a tensão de corte aumenta.(Campos, 2013)

A lei que descreve o comportamento destes fluidos é a lei da potência e traduz-se por:

𝑑𝑣 𝑛
𝜏 = 𝑘𝛾̇ 𝑛 𝑜𝑢𝜏 = 𝑘 (− )
𝑑𝑟

Sendo k o coeficiente de consistência, e n (n<1)o coeficiente de comportamento.

Um fluido pseudoplástico (também designado por reofluidificante) possui cadeias


longas que se encontram com orientações aleatórias em repouso, mas que em
movimento se alinham entre si, facilitando a deformação do fluido. Assim, estes fluidos
oferecem maior resistência à deformação quando em repouso, do que quando em
escoamento, logo a sua consistência diminui à medida que a tensão de corte aumenta.

Este comportamento é o mais comum dos fluidos não Newtonianos e pode ser
observado em fluidos como a maioria das soluções poliméricas, a maionese, muitos
fluidos biológicos, como o sangue, e a maioria das tintas.

Mais especificamente para Engª Mecânica: os óleos pesados apresentam


características pseudoplásticas que permitem que sejam usados quer como

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lubrificantes, quer como vedantes. Nos apoios de motores, onde as tensões de corte
são elevadas, os óleos pesados são pouco viscosos permitindo a lubrificação, e nas
juntas, onde as tensões de corte são reduzidas, são muito viscosos, permitindo a
vedação. (Campos, 2013)

DILATANTES

Nos fluidos dilatantes (também designados por espessantes), a razão (𝜏/𝛾̇ ) aumenta
para valores crescentes da tensão de corte aplicada, i.e., o declive em cada ponto da
curva representada na Figura 26 aumenta à medida que a tensão de corte
aumenta.(Campos, 2013)

Aplica-se de novo a lei da potência:

𝑛
𝑑𝑣 𝑛
𝜏 = 𝑘𝛾̇ 𝑜𝑢𝜏 = 𝑘 (− )
𝑑𝑟

mas desta vez com n>1.

Este comportamento, contrariamente ao que foi referido para o caso dos


pesudoplásticos, é pouco comum entre os fluidos não-Newtonianos. Verifica-se
geralmente em suspensões de sólidos como é o caso da areia movediça. Para baixas
tensões de corte, o fluido tem um comportamento lubrificante, enquanto, à medida
que as tensões aplicadas aumentam, o efeito lubrificador deixa de se verificar e a
viscosidade da suspensão aumenta.

PLÁSTICO DE BINGHAM

Um plástico de Bingham possui uma estrutura que lhe permite resistir a pequenas tensões
de corte, mas entra em escoamento assim que a tensão de cedência é ultrapassada.

O seu comportamento pode ser descrito pela seguinte lei:

𝜏 = 𝜏0 + 𝐾𝐵 𝛾̇ , 𝑠𝑒 𝜏 ≥ 𝜏0
{
𝛾̇ = 0, 𝑠𝑒 𝜏 < 𝜏0

Significa que, abaixo da tensão de cedência (𝜏0 ), o fluido não deforma, ou seja, se

estiver contido num recipiente ele não escoa. Acima de 𝜏0 , o comportamento é


descrito pela equação de 1º grau, com declive KB.

São exemplos bem conhecidos a pasta de dentes e algumas geleias.

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PLÁSTICO DE CASSON

Estes fluidos apresentam uma lei que pode ser interpretada com um desvio à lei de
Bingham, e consiste na existência de uma pequena curvatura na linha de
comportamento reológico, com a concavidade voltada para baixo.

A lei de Casson pode ser escrita na forma de:

𝜏 = √𝜏0 + 𝐾𝐶 √𝛾̇ , 𝑠𝑒 𝜏 ≥ 𝜏0
{√
𝛾̇ = 0, 𝑠𝑒 𝜏 < 𝜏0

Sendo de novo 𝜏0 a tensão de cedência.

De salientar que, mais do que tipos de fluidos, estas leis descrevem tipos de
comportamento. Assim, por exemplo, um fluido pode ter um comportamento
pseudoplástico a baixos valores de tensão de corte, seguido de um comportamento
dilatante, como é o caso representado na Figura 27.

Figura 27: Fluido com comportamento pseudoplástico, seguido de dilatante.

Se se medir um par de valores tensão/deformação, obtém-se apenas um ponto na


curvatura de comportamento reológico. Se o fluido for Newtoniano, a razão entre os
referidos parâmetros é a viscosidade:

𝜏
=𝜇
𝛾̇

Para qualquer fluido podemos generalizar a equação anterior, chamando a esta razão
“viscosidade aparente” ou consistência, a.

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De facto, se o fluido for Newtoniano, a será a mesma para qualquer valor de 𝛾̇ . Para

um dilatante, a viscosidade aparente aumenta com 𝛾̇ , i.e., com a deformação e,


portanto, com a tensão de corte, conforme se apresenta na Figura seguinte:

Figura 28: Viscosidade aparente para diferentes situações de tensão de corte.

A viscosidade aparente seria então a viscosidade de um fluido Newtoniano que


intersectasse a curva de comportamento reológico do fluido em causa no ponto de
realização da medida.

6.3.2. Classificação relativamente ao tempo

Num agitador colocado no seio de um fluido, para o mesmo gradiente de velocidades,


i.e., para a mesma velocidade do agitador, a força a aplicar será tanto maior quanto
maior for a viscosidade aparente. Se, líquidos há em que esta força não sofre alterações
com o tempo, para outros, ela aumenta ou diminui durante a agitação. Assim, podemos
ter:

TIXOTRÓPICOS

São fluidos com partículas alinhadas quando em escoamento, como os fluidos


pseudoplásticos, mas este alinhamento necessita de um certo tempo após o início da
aplicação da tensão. Ou seja, são fluidos em que a a diminui com o tempo durante a
agitação. (Campos, 2013)

Este comportamento é bastante comum no caso das tintas. De facto, enquanto está a
ser aplicada a tinta torna-se menos consistente, o que facilita a sua aplicação. Após a
interrupção da força, a viscosidade aparente aumenta, pelo que a tinta se torna mais
consistente durante a secagem. Também, quando se agita uma lata de tinta que
esteve armazenada, nos primeiros instantes o líquido é muito viscoso, mas a agitação

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torna-se gradualmente mais fácil. Este comportamento é geralmente associado à


quebra de ligações entre as cadeias poliméricas. Quando se pára a agitação, as
ligações restabelecem-se gradualmente, repondo a consistência inicial.

REOPÉCTICOS

Designam-se por fluidos reopécticos aqueles cuja viscosidade aparente aumenta com
o tempo de agitação. Este comportamento deve-se a um melhor arranjo das moléculas
como consequência do movimento, sendo que, normalmente só ocorre para
velocidades baixas. Trata-se de um comportamento pouco comum.

Na Figura seguinte faz-se uma comparação entre fluidos tixotrópicos e reopécticos no


que diz respeito à variação da viscosidade aparente com o tempo de agitação.

Figura 29: Variação da viscosidade aparente com o tempo.

Se um fluido é tixotrópico ou reopéctico, ele não é Newtoniano, e, como tal, terá


também uma classificação em função da tensão de corte. No entanto, um fluido pode
ter uma classificação em função da tensão de corte (ser pseudoplástico ou dilatante),
mas apresentar uma viscosidade aparente independente do tempo de agitação.

VISCOELÁSTICOS

Além do comportamento viscoso (consistente), há fluidos que apresentam um


comportamento elástico, ou seja, têm a capacidade de retomar parcialmente a sua
forma inicial quando é interrompida a aplicação da força. Apresentam portanto
alguma elasticidade à semelhança dos sólidos. É o caso das colas de borracha. Se
começarmos a despejar cola de borracha a partir do recipiente e depois dermos
impulso no sentido contrário, o líquido regressa ao frasco (retoma a posição inicial). A

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clara de ovo também apresenta este comportamento, embora, quando batida em


castelo passa a ter um comportamento de plástico de Bingham.

6.4. Exercícios propostos

1. Água está em escoamento no interior de um tubo circular, sendo o perfil de


velocidades dado por:

𝛽
𝑣𝑥 (𝑟) = (𝑅2 − 𝑟 2 )
4𝜇

Sendo  uma constante, r a distância radial medida a partir do eixo, R o raio interno
do tubo e vx(r) a velocidade do fluido ao longo da direcção x na posição r.

Calcule a tensão de corte na parede do tubo e no interior do fluido na posição


r=R/2.

Se o perfil persistir numa distância de tubo L, calcule a força exercida pela água
sobre o tubo ao longo deste comprimento.

2. Os fluidos pseudoplásticos e os fluidos dilatantes seguem a lei da potência.

a) Determine o perfil de velocidades num tubo cilíndrico horizontal, em


escoamento laminar, para estes fluidos, quando sujeitos a um gradiente de
pressão.

b) Determine a expressão do caudal volumétrico.

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Bibliografia

Azevedo, E.G., Termodinâmica Aplicada, 3ª Ed., Escolar Editora, 2011.

Bird, R., Stewart, W., Lightfoot, E.,Transport Phenomena, John Wiley & sons, 2006.

Campos, J.M., Notas Para o Estudo da Mecânica do Fluidos, FEUP edições, 2013.

Coulson, J.M. and Richardson, J. F., Chemical Engineering, Fluid Flow, Heat Transfer and
Mass Transfer – Vol 1, 6th Edition, Butterworth –Heinemann, 1999.

Geankoplis, C.J., Transport Processes and Unit Operations, 3rd Edition, Prentice Hall
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Massey, B.S., Mechanics of Fluids, 8th Edition, Taylor & Francis, 2006.

Welty, J.R., Wicks, C. E., Wilson, R. E., Rorrer, G. L. Fundamentals of Momentum, Heat and
Mass Transfer, 5th Edition, John Wiley & Sons, Inc., 2008.

Páginas de Internet

commons.wikimedia.org, última consulta em Abril de 2016

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