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Nota Prévia:
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Fenómenos de transporte I - Apontamentos
Na prática, verificou-se que, para além da velocidade, a transição de fluxo laminar para
fluxo turbulento depende também de outros parâmetros: diâmetro da conduta (D),
viscosidade do fluido () e densidade do fluido ().
O critério para determinar qual o tipo de fluxo em cada caso é dado por uma relação
adimensional entre variáveis conhecida como número de Reynolds:
𝜌𝑣𝐷
𝑅𝑒 =
𝜇
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o escoamento em regime turbulento), pelo que o seu valor permite identificar quando
uma das forças se sobrepõe à outra.
Assim, define-se como sendo um fluido a escoar em regime laminar quando as suas
partículas têm trajectórias bem definidas, e se repetirmos a experiência vamos obter o
mesmo perfil de velocidades. Já num fluido a escoar em regime turbulento, as partículas
seguem trajectórias aleatórias, em cada ponto existe uma velocidade instantânea, e se
repetirmos a experiência, não obtemos o mesmo perfil de velocidades.
a)
b)
Por observação experimental conclui-se que, num tubo de secção recta circular, não
havendo perturbações ao escoamento, o regime é laminar se Re < 2100 e é turbulento
se Re > 4000. Nas situações intermédias (região de transição) o fluxo pode ser laminar
ou turbulento. (Nota: estes valores de referência podem variar ligeiramente de autor
para autor)
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O mecanismo de movimento dos gases pode ser descrito de uma forma mais simples
do que dos líquidos. Nos gases, o mecanismo pelo qual ocorre resistência à deformação
pode ser observado a nível molecular. Na figura seguinte é possível observar que as
moléculas não se encontram alinhadas, mas cruzam as fronteiras do volume de controlo
de um fluido gasoso.
Existem na literatura vários modelos que preveem a viscosidade de um gás com base
na interacção molecular. Segundo a teoria cinética dos gases temos que:
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Assim, para o caso dos líquidos, a sua viscosidade pode ser considerada devido à
restrição causada por forças intermoleculares. Ou seja, a resistência à deformação é
controlada pelas forças de atracção intermoleculares. O aumento da temperatura
provoca uma diminuição das forças intermoleculares, pelo que a viscosidade também
diminui.
𝜇 ≅ 𝑎𝑒 −𝑏𝑇 (a e b constantes)
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Querosene
Água
Viscosidade
Ar
Temperatura, K
Figura 23: Variação da viscosidade com a temperatura para alguns fluidos. (Welty et
al., 2008)
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Figura 24: Fluido entre duas placas separadas por uma pequena distância. (Campos,
2013)
Figura 25: Perfil de velocidade linear no fluido entre placas. (Campos, 2013)
𝐹 𝑑𝑣𝑥
𝜏𝑦𝑥 = =𝜇
𝐴 𝑣𝑦
Nota: nos índices do tensor de corte, o primeiro (y) diz respeito à direcção do gradiente
de velocidades, enquanto o segundo (x) diz respeito à direcção da força. O gradiente
𝑑𝑣𝑥
de velocidades ( ) corresponde à taxa de deformação do elemento de fluido.
𝑣𝑦
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𝑑𝑣𝑥
𝜏𝑦𝑥 = −𝜇
𝑣𝑦
designam-se por fluidos Newtonianos, uma vez que seguem a Lei de Newton da
viscosidade. A constante de proporcionalidade é a viscosidade, também chamada de
viscosidade dinâmica.
𝑑𝑣𝑥
Se analisarmos a expressão 𝜏𝑦𝑥 = −𝜇 , podemos aferir quais as dimensões da
𝑣𝑦
grandeza viscosidade:
𝑓𝑜𝑟ç𝑎
𝜏𝑦𝑥 á𝑟𝑒𝑎 𝑀. 𝐿. 𝑇 −2 . 𝐿−2
𝜇= ≡ ≡ ≡ 𝑀. 𝐿−1 . 𝑇 −1
𝑑𝑣𝑥 𝑣𝑒𝑙𝑜𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝐿. 𝑇 −1 . 𝐿−1
𝑣𝑦 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜
𝜇
𝜗=
𝜌
Cujas unidades:
𝜇 𝑀. 𝐿−1 . 𝑇 −1
𝜗= ≡ ≡ 𝐿2 . 𝑇 −1
𝜌 𝑀. 𝐿−3
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Ar 20 0,01813
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Os fluidos Newtonianos são aqueles que seguem a Lei de Newton da viscosidade, e que
pode ser representada de forma simplificada por:
𝑑𝑣 𝑑𝑣
𝜏 = −𝜇 = 𝜇𝛾̇ (𝛾̇ = − )
𝑑𝑟 𝑑𝑟
O que se traduz graficamente por uma recta com ordenada na origem, sendo a
constante de proporcionalidade a viscosidade, também chamada de viscosidade
dinâmica.
Existem inúmeros fluidos em que não se observa uma proporciponalidade entre a tensão
de corte e a variação da velocidade na direcção normal ao escoamento. Na Figura
seguinte estão representadas as relações existentes entre a tensão de corte e a a
deformação para várias categorias de fluidos Newtonianos e não Newtonianos.
Plástico de Casson
Plástico de Bingham
Pseudoplástico
Newtoniano
Deformação
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sua estrutura moléculas maiores do que as da água, ou que têm na sua composição
uma elevada concentração de partículas sólidas em suspensão. (Campos, 2013)
Assim, no que diz respeito à classificação quanto à tensão de corte, os fluidos podem
ser:
PSEUDOPLÁSTICOS
Nestes fluidos a razão (𝜏/𝛾̇ ) diminui para valores crescentes da tensão de corte aplicada,
i.e., o declive em cada ponto da curva representada na Figura 26 diminui à medida
que a tensão de corte aumenta.(Campos, 2013)
A lei que descreve o comportamento destes fluidos é a lei da potência e traduz-se por:
𝑑𝑣 𝑛
𝜏 = 𝑘𝛾̇ 𝑛 𝑜𝑢𝜏 = 𝑘 (− )
𝑑𝑟
Este comportamento é o mais comum dos fluidos não Newtonianos e pode ser
observado em fluidos como a maioria das soluções poliméricas, a maionese, muitos
fluidos biológicos, como o sangue, e a maioria das tintas.
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lubrificantes, quer como vedantes. Nos apoios de motores, onde as tensões de corte
são elevadas, os óleos pesados são pouco viscosos permitindo a lubrificação, e nas
juntas, onde as tensões de corte são reduzidas, são muito viscosos, permitindo a
vedação. (Campos, 2013)
DILATANTES
Nos fluidos dilatantes (também designados por espessantes), a razão (𝜏/𝛾̇ ) aumenta
para valores crescentes da tensão de corte aplicada, i.e., o declive em cada ponto da
curva representada na Figura 26 aumenta à medida que a tensão de corte
aumenta.(Campos, 2013)
𝑛
𝑑𝑣 𝑛
𝜏 = 𝑘𝛾̇ 𝑜𝑢𝜏 = 𝑘 (− )
𝑑𝑟
PLÁSTICO DE BINGHAM
Um plástico de Bingham possui uma estrutura que lhe permite resistir a pequenas tensões
de corte, mas entra em escoamento assim que a tensão de cedência é ultrapassada.
𝜏 = 𝜏0 + 𝐾𝐵 𝛾̇ , 𝑠𝑒 𝜏 ≥ 𝜏0
{
𝛾̇ = 0, 𝑠𝑒 𝜏 < 𝜏0
Significa que, abaixo da tensão de cedência (𝜏0 ), o fluido não deforma, ou seja, se
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PLÁSTICO DE CASSON
Estes fluidos apresentam uma lei que pode ser interpretada com um desvio à lei de
Bingham, e consiste na existência de uma pequena curvatura na linha de
comportamento reológico, com a concavidade voltada para baixo.
𝜏 = √𝜏0 + 𝐾𝐶 √𝛾̇ , 𝑠𝑒 𝜏 ≥ 𝜏0
{√
𝛾̇ = 0, 𝑠𝑒 𝜏 < 𝜏0
De salientar que, mais do que tipos de fluidos, estas leis descrevem tipos de
comportamento. Assim, por exemplo, um fluido pode ter um comportamento
pseudoplástico a baixos valores de tensão de corte, seguido de um comportamento
dilatante, como é o caso representado na Figura 27.
𝜏
=𝜇
𝛾̇
Para qualquer fluido podemos generalizar a equação anterior, chamando a esta razão
“viscosidade aparente” ou consistência, a.
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De facto, se o fluido for Newtoniano, a será a mesma para qualquer valor de 𝛾̇ . Para
TIXOTRÓPICOS
Este comportamento é bastante comum no caso das tintas. De facto, enquanto está a
ser aplicada a tinta torna-se menos consistente, o que facilita a sua aplicação. Após a
interrupção da força, a viscosidade aparente aumenta, pelo que a tinta se torna mais
consistente durante a secagem. Também, quando se agita uma lata de tinta que
esteve armazenada, nos primeiros instantes o líquido é muito viscoso, mas a agitação
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REOPÉCTICOS
Designam-se por fluidos reopécticos aqueles cuja viscosidade aparente aumenta com
o tempo de agitação. Este comportamento deve-se a um melhor arranjo das moléculas
como consequência do movimento, sendo que, normalmente só ocorre para
velocidades baixas. Trata-se de um comportamento pouco comum.
VISCOELÁSTICOS
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𝛽
𝑣𝑥 (𝑟) = (𝑅2 − 𝑟 2 )
4𝜇
Sendo uma constante, r a distância radial medida a partir do eixo, R o raio interno
do tubo e vx(r) a velocidade do fluido ao longo da direcção x na posição r.
Se o perfil persistir numa distância de tubo L, calcule a força exercida pela água
sobre o tubo ao longo deste comprimento.
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Bibliografia
Bird, R., Stewart, W., Lightfoot, E.,Transport Phenomena, John Wiley & sons, 2006.
Campos, J.M., Notas Para o Estudo da Mecânica do Fluidos, FEUP edições, 2013.
Coulson, J.M. and Richardson, J. F., Chemical Engineering, Fluid Flow, Heat Transfer and
Mass Transfer – Vol 1, 6th Edition, Butterworth –Heinemann, 1999.
Geankoplis, C.J., Transport Processes and Unit Operations, 3rd Edition, Prentice Hall
International Editions, 1993.
Massey, B.S., Mechanics of Fluids, 8th Edition, Taylor & Francis, 2006.
Welty, J.R., Wicks, C. E., Wilson, R. E., Rorrer, G. L. Fundamentals of Momentum, Heat and
Mass Transfer, 5th Edition, John Wiley & Sons, Inc., 2008.
Páginas de Internet
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