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Universidade de Brasília – UnB

Instituto de Química– IQ

Atividade de Transferência de Quantidade de


Momento

Felipe Khauã de Jesus Brandão - 180136518


Miguel Augusto de Oliveira Machado Xavier - 200025198

Brasília 2023
PERGUNTAS

i) Conceitue Reologia e discorra sobre sua importância. (0,4 pontos)

Podemos chamar de reologia a área do conhecimento correlacionada à transferência de


quantidade de momento que enfoca no estudo do fluxo e deformação e resistência de
fluidos, buscando principalmente estabelecer diferenças entre os possíveis tipos de
tensões sobre fluidos que os submetem a fluxos específicos. De início, a reologia atenta-
se a definir dois tipos de fluxos fundamentais: o fluxo de cisalhamento (shear flow) e o
fluxo extensional (extensional flow), o primeiro temos elementos adjacentes fluindo sobre
ou através de outros elementos do fluido, enquanto o segundo concerne ao fluxo de
elementos que se distanciam ou que se aproximam um do outro (BARNES, 2000, p.5).
Veja a Figura 1 a qual sumariza tal tipologia:

Figura 1 – Fluxos Fundamentais

O fluxo de cisalhamento, em especial, se trata de superfícies ideais de fluido que se


movimentam uma sobre a outra e destarte podemos definir modelos matemáticos para o
movimento dessas camadas. Dessa forma, supondo um modelo linear, o valor da
velocidade do elemento do fluxo de uma posição é aumenta linearmente com a sua
distância de outros elementos na vizinhança abaixo, até chegar a uma borda estacionária
(BARNES, 2000, p.6). Assim, podemos definir uma variável fundamental para a reologia,
chamada de taxa de cisalhamento (shear rate), a qual se trata do gradiente do modelo de
velocidade cujo vetor apresenta ângulo de 90° em relação a direção do fluxo e cuja
unidade é o s-1 no sistema internacional (BARNES, 2000, p.6).
São comuns, no estudo dessa ciência, as variáveis a viscosidade, consistência e densidade
de gases e líquidos, propriedades que reparamos nesses materiais em nosso cotidiano e as
quais provavelmente não percebemos a importância de seu entendimento aprofundado.

Dessa forma, sua relevância supera a esfera acadêmica e se encontra em situações tais
como: no uso de shampoos e condicionadores, em que sua constituição viscosa deve ser
produzida a fim de não deixá-los correr pela mão do consumidor; em tintas aplicadas a
produção artísticas nas quais a viscosidade não pode atrapalhar nem na fluidez do pincel,
nem deve permitir que a tinta escorra pelo quadro; no cimento que mesmo concentrado,
precisa fluir nos tijolos com a espátula e entre outras incontáveis aplicações (BARNES,
2000, p.2).

ii) O que é a viscosidade de fluidos e como varia em líquidos e gases? Dê exemplos


para dois líquidos e dois gases diferentes. Qual é a importância de conhecer o
comportamento da viscosidade na mecânica dos fluidos? (0,4 pontos)

Primeiramente, é de suma importância abordar a propriedade viscosidade com maior rigor


teórico. Inicialmente, uma das propriedades que apresentam os fluidos é que, submetidos
a uma tensão cisalhante mesmo que infinitesimal, tem-se o movimento de suas partículas
e assim definimos o chamado escoamento (LIVI, 2012, p.6).

Porém, a deformação dessas forças fará, em uma abordagem química, que o arranjo de
forças intermolecular do material sofra mudanças e o faça ter maior atrito interno. Em
conclusão, podemos definir a viscosidade como a resistência desse fluido às tensões de
cisalhamento, sendo uma importante variável a ser conhecida na área da mecânica dos
fluidos, pois com ela é possível calcular a resistência de fluido ao escoamento e a perda
de carga que um fluido pode sofrer (LIVI, 2012, p.6).

A dedução matemática para a viscosidade parte da equação da mecânica sobre a tensão


cisalhante para fluidos em um plano, denotada na Equação 1, em que há uma força
constante na direção do eixo x sobre uma placa, com uma certa área, que é adjacente ao
fluido dada uma normal no eixo y (LIVI, 2012, p.6).

∆𝐹𝑥
𝜏𝑦𝑥 = lim ( )
∆𝐴→0 ∆𝐴

Equação 2 – Tensão de cisalhamento


Por outro lado, podemos também definir a taxa de deformação infinitesimal do fluido
como a variação da deformação dθ sobre a variação do tempo dt, na forma da Equação 2
(LIVI, 2012, p.7):

𝑑𝜃
(𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑓𝑜𝑟𝑚𝑎çã𝑜 𝑖𝑛𝑓𝑖𝑛𝑖𝑡𝑒𝑠𝑖𝑚𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜 ) =
𝑑𝑡
Equação 2 – taxa de deformação infinitesimal do fluido

Assim, para fluidos newtonianos, é estabelecido que há uma proporcionalidade direta


entre tensão cisalhante e taxa de deformação do fluido e, então, define-se uma constante
de proporcionalidade μ chamada de viscosidade absoluta que relaciona essas duas
variáveis, tal como expressa a Equação 3 (LIVI, 2012, p.7):

𝑑𝜃
𝜏𝑦𝑥 = 𝜇
𝑑𝑡
Equação 3 – Lei de Newton para viscosidade com a taxa de deformação

Perceba que é fundamentalmente nessa relação de tensão de cisalhamento e taxa de


deformação (ou gradiente de velocidade do escoamento) de fluidos newtonianos que
definimos o conceito de viscosidade, assim, podemos afirmar que a Equação 3 expressa
a Lei de Newton para a Viscosidade. É importante pontuar que na mecânica dos fluidos
a variável viscosidade dinâmica ν também é encontrada em problemas constantes, a qual
se trata somente da razão da viscosidade absoluta pela massa específica do fluido em
questão, como demonstra a Equação 4.

𝜇
𝜗=
𝜌

Equação 4 – Viscosidade dinâmica

Existe uma distinção evidente na natureza da viscosidade para líquidos e para gases, a
qual se baseia no aumento ou redução da temperatura. No caso dos líquidos, uma vez que
as forças intermoleculares são consideráveis e determinantes e que essas forças de coesão
reduzem com o aumento de temperatura, a viscosidade irá reduzir com esse acréscimo.
Alternativamente, a viscosidade em gases se eleva com o aumento da temperatura, posto
que as interações intermoleculares são desprezíveis e que o momento linear transferido
entre lâminas do fluido via colisões se torna o aspecto determinante. Como esse momento
linear aumenta ao elevar a temperatura, a viscosidade de gases também terá um acréscimo
(LIVI, 2012, p.8).

Como exemplos, elenco na Tabela 1 a água e a amônia saturadas na forma líquida e vapor
(ÇENGEL; CIMBALA, 2015, p.773-775):

Tabela 3 – Diferenças entre o comportamento da viscosidade de gases e líquidos

Composto Temperatura (°C) Viscosidade dinâmica (kg/m.s)


Água saturada líquida 10 1,307 × 10-3
Água saturada líquida 20 1,002 × 10-3
Água saturada vapor 10 0,946 × 10-5
Água saturada vapor 20 0,973 ×10-5
Amônia saturada líquida 10 1,697 ×10-4
Amônia saturada líquida 20 1,519 × 10-4
Amônia saturada vapor 10 9,784 × 10-6
Amônia saturada vapor 20 1,017 × 10-5
Veja que o comportamento de líquidos e gases supracitado é respeitado nos exemplos.

iii) Qual é classificação dos fluidos segundo seu comportamento reológico? (1,0
pontos)

De início, a reologia define os fluidos newtonianos que seguem a Lei de Newton para a
viscosidade dado o gradiente de velocidade do fluxo em questão, como já mencionado.
Assim, para diversos fluidos conhecidos e comum no cotidiano em que essa lei não é
respeitada, foi estabelecida a classificação de fluidos não-newtonianos e a partir daí
diversas leis e modelos foram denotadas para estudar o comportamento de seus fluxos.

É essencial, igualmente, estabelecer a tipologia de fluidos dentro da classe de não-


newtonianos, que se separa em viscoelásticos, independentes do tempo tixotrópicos ou
reopéticos e dependentes do tempo sem tensão de cisalhamento inicial (dilatantes ou
pseudoplásticos) ou com tensão de cisalhamento inicial (USP, 2005, p.3).

iv) Quanto à deformação, os fluidos podem ser classificados em reversíveis (ou


elásticos) e irreversíveis (ou viscosos), descreva cada comportamento, cite qual lei
obedecem e a equação correspondente. (2,0 pontos)
Fluidos reversíveis (elásticos): Estes fluidos obedecem a Lei de Hooke, onde a tensão
aplicada sobre um corpo sólido causa uma deformação, o seu padrão de deformação é
reversível e não possuem escoamento (BIRD; STEWART; LIGHTFOOT, 2002, p.245).

𝐹 = 𝑘 ∆𝑙 (Lei de Hooke)
Equação 5 – Lei de Hooke

Fluidos irreversíveis (viscosos): Estes fluidos seguem a lei de Newton, onde a viscosidade
de um fluido é dita como constante, a sua deformação é irreversível, mas possuem
escoamento (BIRD; STEWART; LIGHTFOOT, 2002, p.245).

𝑑𝑣
𝜏 = −𝜇 (Lei de Newton para a viscosidade)
𝑑𝑦

Equação 6 – Lei de Newton para a viscosidade com o gradiente de velocidade

v) Quanto à relação entre a taxa de deformação e a tensão de cisalhamento, os fluidos


podem ser classificados em Newtonianos e Não Newtonianos. Descreva o
comportamento de cada grupo e dê três exemplos de cada um. (2,0 pontos)

A definição de fluidos newtonianos é inseparável da já apresentada lei da viscosidade de


Newton, pois é exatamente o fato desses seguirem o comportamento dessa lei que os
distinguem de outros fluidos. Desse modo, podemos dizer que o comportamento dos
fluidos newtonianos concorda com a seguinte equação:

𝑑𝑣𝑥
𝜏𝑦𝑥 = −𝜇
𝑑𝑦

Equação 7 – Lei de Newton para a viscosidade em duas dimensões

Sendo o gradiente de velocidade do escoamento (dvx/dy) e a tensão de cisalhamento τ e a


viscosidade absoluta μ.

Porém, é possível entender essa definição para que possamos encontrar equações
apropriadas para diferentes situações comuns quando tratamos de fluidos newtonianos.
Em um primeiro caso, no perfil de velocidade de um fluido em fluxo laminar
completamente desenvolvido em um tubo capilar.

Dado um comprimento L do tubo, de raio a, de vazão volumétrica Q e com queda de


pressão P, para o fluxo laminar completamente desenvolvido, temos a seguinte equação
aplicável para sua velocidade u dado um raio arbitrário (BARNES, 2000, p.27):
𝑃
𝑢 (𝑟 ) = (𝑎2 −𝑟 2 )
4𝜇𝐿

Equação 8 – Velocidade de fluido laminar completamente desenvolvido em tubo capilar

Em que podemos perceber um perfil parabólico, cujo o gradiente de velocidade varia de


um máximo na borda do tubo à um zero em seu centro. Malgrado essa configuração do
gradiente de velocidade, a velocidade do fluido em si é máxima no centro e zero na borda.
Além disso, para tubos muito longos ou com raio muito pequeno em que a razão (L/a) é
superior à 100, teremos a equação vigente a seguir para o regime laminar (BARNES,
2000, p.28):

8𝑄𝜇𝐿
𝑃=
𝜋𝑎4
Equação 9 – Queda de pressão de fluido laminar completamente desenvolvido em tubo capilar

Outrossim, podemos estabelecer conclusões matemáticas derivadas da lei de viscosidade


de Newton para um cenário de um fluxo que parte de um reservatório grande para
pequenos tubos. Nessa situação, a queda de pressão é descrita pela Equação 10
(BARNES, 2000, p.28):

0.6𝑃𝑎
𝑃𝑒 =
𝐿
Equação 10 – Queda de pressão de fluxos de reservatório grande para tubo capilar

Pontua-se que a queda de pressão Pe é dada na passagem lenta (Re<1) de fluido do


reservatório de raio grande para um tubo de raio pequeno. O significado da razão (Pa/L)
pode ser interpretado como o dobro da tensão de cisalhamento da parede (σw) gerada pelo
fluido dentro do tubo pequeno.

É possível também definir, com a viscosidade absoluta, o volume V de fluido que sai de
um reservatório de raio grande devido a ação de seu próprio peso em um tubo vertical de
raio a, pela Equação 11 (BARNES, 2000, p.29):

𝜋𝑎4 𝑡𝑔𝜌(ℎ1 − ℎ2 )
𝑉=

8𝜇𝐿𝑙𝑛 ℎ1
2

Equação 41 – Volume de saída de reservatório grande para tubo vertical pequeno

Em que t é o tempo do escoamento, g a aceleração da gravidade, ρ a massa específica do


fluido e h1 e h2 duas alturas quaisquer do reservatório de raio grande.
Sobre os estudos que relacionam a lei de fluidos newtonianos e os viscosímetros, elenco
inicialmente as equações para o viscosímetro de queda de bola, um primeiro exemplo de
vários outros tipos de viscosímetros. Nesse viés, utilizando a lei de Stokes, é possível
deduzir a equação da velocidade v de uma só esfera que cai em um fluido pela equação
(BARNES, 2000, p.30):

2∆𝜌𝑔𝑎2
𝑣=
9𝜇

Equação 52 – Velocidade de esfera de raio a que cai em um fluido newtoniano

Sendo Δρ a diferença de massa específica entre o líquido e a esfera e a o raio da esfera. É


possível expandir essa definição para encontrar a viscosidade μ do fluido sobre o qual
uma esfera rola por um tubo inclinado, encontrando a seguinte equação a partir da anterior
considerando R como o raio e θ o ângulo desse tubo (BARNES, 2000, p.31):

4𝑎2 ∆𝜌𝑔𝑠𝑖𝑛𝜃 𝑅 − 𝑎 5/2


𝜇= ( )
5𝑣 𝑅
Equação 13 – Viscosidade do fluido do tubo inclinado através do qual uma esfera move

Os fluidos newtonianos podem ser trabalhados no regime turbulento e equações


simplificadas para quando o número de Reynolds está entre 2300 a 60000 podem ser
estabelecidas, tal como a equação aproximada da queda de pressão de um tubo de raio a
(BARNES, 2000, p.36):

0.008𝜌𝐿𝑄2 𝑅𝑒 −1/4
𝑃=
𝑎
Equação 64 – Queda de Pressão de fluido em regime turbulento em tubo de raio a

E ao manipulá-la, encontramos a equação da respectiva tensão aplica na borda (Pa/2L)


desse tubo de raio a:

𝜎𝑤 = 0.04𝜌𝑣 2 𝑅𝑒 −1/4

Equação 75 – Tensão aplicada à borda de tubo com fluido em regime turbulento

Finalmente, é válido destacar que existem geometrias para fluxos, tais como a de cilindros
concêntricos de fenda estreita, que são especificamente importantes para criação de
viscosímetros de fluidos newtonianos e não-newtonianos e as equações que regem alguns
dos mais comuns viscosímetros serão abordadas a posteriori.
Os fluidos não-newtonianos são, por lógica, aqueles em que a tensão de cisalhamento não
é proporcional à taxa de deformação como na Equação 7. Para esses fluidos, a viscosidade
passa a não ser mais uma constante e começa a mudar com variação das tensões nesses
aplicadas. Não obstante, essa complicação não impediu reólogos de definir modelos
matemáticos que tentam descrever o comportamento dos fluidos não-newtonianos, tal
como o modelo newtoniano generalizado (BIRD; STEWART; LIGHTFOOT, 2002,
p.240).

O modelo generalizado newtoniano, destaca-se, não é suficiente para diferir e explicar os


comportamentos de fluídos devido ao efeito do tempo e à viscoelasticidade, porém
consegue abordar bem a viscosidade não-newtoniana, elemento que difere esses fluidos
dos já abordados. Dessa maneira, considerando aqui a tensão de cisalhamento como um
vetor em algum tipo de sistema de coordenadas, ou um tensor, podemos reescrever a lei
de Newton para viscosidade como (BIRD; STEWART; LIGHTFOOT, 2002, p.241):

𝝉 = −𝜇𝜸̇

Equação 86 – Tensor de cisalhamento

O símbolo 𝜸̇ é definido como o tensor da taxa de cisalhamento. Com isso, ao trocar a


constante viscosidade μ por uma viscosidade não-newtoniana η que é uma função da taxa
de cisalhamento, é possível chegar ao modelo newtoniano generalizado de fluido,
expresso pela equação (BIRD; STEWART; LIGHTFOOT, 2002, p.241):

𝝉 = −𝜂𝜸̇ 𝑜𝑛𝑑𝑒 𝜂 = 𝜂(𝛾)̇

Equação 17 – Modelo newtoniano generalizado de fluido

Pontuando que é possível definir 𝛾̇ como:

𝛾̇ = √1/2(𝜸̇: 𝜸̇ )

Equação 98 – Modulo do tensor da taxa de cisalhamento

A partir dessa relação, para se ter a continuação, é necessário voltarmos para modelos
empíricos que utilizam de dados experimentais para definir coeficientes para os fluídos
newtonianos conhecidos. O mais simples modelo possível é a power law de dois
parâmetros, proposto na equação, em que m e n são constantes próprias do fluido em
análise (BIRD; STEWART; LIGHTFOOT, 2002, p.241):

𝜼 = 𝑚𝜸̇ 𝑛−1
Equação 109 – Power law de dois parâmetros

Nesse sentido, temos tabelas empíricas com valores dessas constantes obtidos
experimentalmente para diferentes tipos de fluidos. Finalmente, por se tratar de uma
relação de potência na equação acima, para o gráfico de fluidos não-newtonianos,
devemos plotá-lo como log-log da viscosidade em função da taxa de cisalhamento.

Para exemplificar os fluidos newtonianos, podemos citar a própria água, o leite e óleos
vegetais, enquanto para os fluidos não-newtonianos, as polpas de fruta, o petróleo e o
ketchup são alguns dos incontáveis exemplos desses fluidos no nosso dia-a-dia.

vi) Os fluidos Não Newtonianos podem ser divididos em viscoelásticos, dependentes


do tempo e independentes do tempo. Descreva o comportamento de cada grupo e os
modelos utilizados para explicar a relação entre a taxa de cisalhamento e
deformação. Dê dois exemplos de fluidos em cada categoria. (2,0 pontos)

Inicialmente para os fluidos não-newtonianos viscoelásticos, que como o próprio nome


de sua classe indica, esses apresentam tanto uma certa viscosidade, definida pela equação
de Newton para a viscosidade, quanto uma elasticidade proposta pela lei de Hooke.
Assim, para esse fluido viscoso que demonstra certa elasticidade, foi proposta a equação
de Maxwell seguinte para arcar com as duas características desses fluidos (BIRD;
STEWART; LIGHTFOOT, 2002, p.245):

𝛿
𝝉 + 𝜆1 𝝉 = −𝜂0𝜸̇
𝛿𝑡
Equação 20 – Equação de Maxwell para fluidos viscoelásticos

Em que λ1 é uma constante de tempo característico do fluido, do tempo de relaxamento


que envolve grandezas relativas a viscosidade e a elasticidade do fluido em estudo, e η0
se trata da viscosidade para a taxa de cisalhamento zero. No cotidiano, são exemplos de
fluidos viscoelásticos as gelatinas e os queijos.

Para os independentes do tempo, os de longe mais comuns fluidos, se tratam de fluidos


cujas propriedades relativas à viscosidade não dependem do tempo durante o qual
aplicam-se neles tensões de cisalhamento. Para os que não necessitam de tensões iniciais
para ter o começo de seu escoamento, o modelo de Ostwald-de-Waele foi proposto para
esses fluidos em 1923 relacionando sua tensão de cisalhamento e seu gradiente de
velocidade da seguinte forma (USP, 2005, p.4):
𝑑𝑣𝑥 𝑛−1 𝑑𝑣𝑥
𝜏𝑦𝑥 = −𝐾 | |
𝑑𝑦 𝑑𝑦

Equação 21 – Modelo de Ostwald-de-Waele para fluidos sem tensão inicial

Em que K é o índice de consistência do fluido e n é um coeficiente relativo a inclinação


da curva no gráfico de tensão e taxa de cisalhamento próprio do fluido em estudo. Já para
os fluidos que precisam de tensões iniciais para escoarem, o modelo de Herschel-Bulkley
foi proposto para descrever esses fluidos de forma generalizada com o coeficiente n
empírico (USP, 2005, p.6):

𝑑𝑣𝑥
𝜏𝑦𝑥 = ±𝜏0 − 𝜇0 , 𝑝𝑎𝑟𝑎 |𝜏𝑦𝑥 | > |𝜏0 |
𝑑𝑦

𝑑𝑣𝑥
= 0, 𝑝𝑎𝑟𝑎 |𝜏𝑦𝑥 | < |𝜏0 |
𝑑𝑦

Equação 22 – Modelo de Herschel-Bulkley para fluidos com tensão inicial

Sendo que μ0 é uma constante com o mesmo sentido da viscosidade newtoniana e τ0 a


tensão inicial de cisalhamento. Como exemplos de independentes do tempo, temos o
melaço da cana-de-açúcar e as polpas de fruta.

Por fim, para os fluidos não-newtonianos dependentes do tempo, esses têm suas
propriedades reológicas variando em função do tempo durante a constante aplicação da
tensão de cisalhamento. Assim, os tixotrópicos, tem sua viscosidade reduzida ao longo
do tempo, fazendo esses escoarem melhor e, já os reopéticos, tem sua resistência
aumentada à medida que o escoamento ocorre por uma tensão de cisalhamento, elevando
a sua viscosidade (USP, 2005, p.6).

Isso ocorre, pois para esses fluidos, existem estruturas que são criadas ou rompidas a
medida em que o escoamento se desenvolve até um limite em que essa viscosidade chega
ao equilíbrio e não variará mais dado um tempo suficientemente grande. Eles seguem o
modelo generalizado para fluidos não-newtonianos, porém única diferença é que sua
viscosidade também é dada em função do tempo, sendo essa função viscosidade-tempo
estimada por modelos empíricos. Como exemplos temos a argila bentonita e o petróleo
não processado.

vii) Descreva o princípio de funcionamento dos seguintes viscosímetros:


viscosímetro de tubo capilar (ex.: viscosímetro de Ostwald), viscosímetro de orifício
(viscosímetro de copo Ford), viscosímetro rotativo (viscosímetro de cilindros
concêntricos), viscosímetro de esfera. Coloque as figuras correspondentes para
ilustrar, e a dedução das equações utilizadas para o cálculo da viscosidade em cada
um dos exemplos de viscosímetros específicos citados. (2,2 pontos)

Figura 2 - Copo de Ford

O copo de Ford possui uma equação diferente para cada orifício que são obtidas a partir
do gráfico da viscosidade cinemática em função do tempo de escoamento, onde a equação
correspondente é dada pela equação da reta naquele ponto, são elas:

Tabela 2 – Expressões dos copos de Ford

Copo de Ford Faixa de Tempo de efluxo Equação


(orifício) viscosidade (tempo em seg.) (𝑣 cSt e t(s))
(centi Stokes)
Copo 1 = 1,90 mm 10 a 35 55-100 𝑣 = 0,49(𝑡 − 35)
Copo 2 = 2,53 mm 25 a 120 40-100 𝑣 = 1,44(𝑡 − 18)
Copo 3 = 3,40 mm 49 a 220 20-100 𝑣 = 2,31(𝑡 − 6,58)
Copo 4 = 4,12 mm 70 a 370 20-100 𝑣 = 3,85(𝑡 − 4,49)
Copo 5 = 5,20 mm 200 a 1200 20-100 𝑣 = 12,1(𝑡 − 2,0)
Figura 3 - Viscosímetro de esfera

Segundo Stokes, após demonstrar analiticamente que escoamentos para o um número de


Reynolds baixo, a força de arrasto sobre uma esfera de raio (𝑟), movendo-se com uma
velocidade (𝑣) através de um fluido com viscosidade (𝜇), é definido por (FONTANA,
2008, p.6):

𝐹𝐷 = 6. 𝜋. 𝜇. 𝑣. 𝑟
Equação 23 – Força de arrasto sobre uma esfera que move através de um fluido

Fazendo um balanço de forças temos:

∑ 𝐹 = 𝐹𝐷 + 𝐹𝐸 − 𝐹𝑔 = 0

Força Arrasto = Força Peso - Empuxo

6. 𝜋. 𝜇. 𝑣. 𝑟 = 𝑉𝑒𝑠𝑓𝑒𝑟𝑎 . 𝜌𝑒𝑠𝑓𝑒𝑟𝑎 . 𝑔 − 𝜌𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜 . 𝑉𝐸𝑠𝑓𝑆𝑢𝑏 . 𝑔

4 4
6. 𝜋. 𝜇. 𝑣. 𝑟 = 𝜋. 𝑟 3. 𝜌𝑒𝑠𝑓𝑒𝑟𝑎 . 𝑔 − 𝜌𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜 . 𝜋. 𝑟 3 . 𝑔
3 3
𝑑
Simplificando tudo, considerando 𝑟 = e deixando (𝜇) do lado 1 da equação,
2
obtemos (FONTANA, 2008, p.6):

1 (𝜌𝑒𝑠𝑓𝑒𝑟𝑎 − 𝜌𝑓𝑙𝑢𝑖𝑑𝑜 ). 𝑔. 𝑑 2
𝜇=
18 𝑉𝑙
Equação 24 – Viscosidade medida em viscosímetro de esfera
Figura 4 - Viscosímetro de cilindros concêntricos

O viscosímetro de cilindros concêntricos se constitui de dois cilindros de diferentes


tamanhos, mas coaxiais. Assim, um cilindro gira e o outro permanece em repouso, no
intuito de relacionar o torque envolvido na rotação do rotor a certa velocidade com a
tensão de cisalhamento, uma vez que essa própria velocidade rotacional é considerada
uma taxa de deformação do fluido nessa geometria.
Note que esse escoamento chamado de Couette ocorre entre os dois cilindros e assim,
considerando R1 e R2 como os raios do cilindro interno e externo respectivamente e que
o cilindro interno é o que está rotando, temos que a tensão de cisalhamento será aplicada
na região dado o raio entre os cilindros conforme a equação a seguir (FONTANA, 2008,
p.7):
𝑀1
𝜏(𝑟) =
2𝜋𝑟 2 𝐿
Equação 25 – Tensão de cisalhamento na região entre cilindros concêntricos

Em que M1 é o torque no cilindro interno e L o comprimento dos cilindros. Veja que se


desejarmos essa tensão na superfície do cilindro interno, a equação ficaria:
𝑀1
𝜏(𝑅1) =
2𝜋𝑅12 𝐿
Equação 26 – Tensão de cisalhamento na superfície do cilindro interno

Como já sabemos definir a tensão de cisalhamento, para definir a viscosidade só é


necessário buscar uma relação para a taxa de cisalhamento e assim aplicar a lei de Newton
para viscosidade ou utilizar a lei generalizada de Newton. Desse modo, com um método
estimativo, ao desconsiderarmos o tamanho do espaço entre os cilindros frente ao
tamanho dos raios dos cilindros concêntricos, é possível estabelecer a equação da taxa de
cisalhamento na superfície do cilindro interno como (FONTANA, 2008, p.8):
𝑤1𝑅̅
𝛾(𝑅1) =
𝑅2 − 𝑅1
Equação 27 – Taxa de cisalhamento na superfície do cilindro interno

De tal sorte que w1 é a velocidade angular desse cilindro e 𝑅̅ é a média aritmética dos
raios do cilindro interno e externo. Com esses valores, é possível realizar a curva de tensão
de cisalhamento e taxa de cisalhamento para o fluido entre os cilindros e determinar sua
viscosidade.

Figura 5 - Viscosímetro de tubo capilar

O viscosímetro de tubo capilar, por sua vez, funciona ao colocarmos um fluido em seu
reservatório superior até um certo limite superior e esse passar por um tubo capilar pela
ação da gravidade. É contado o tempo de escoamento desse fluido até que o menisco do
limite inferior seja atingido. Utilizaremos a Equação 8 para tubos capilares de raio a e de
comprimento L em relação a velocidade u e para a queda de pressão ao longo do
escoamento P:

𝑃
𝑢 (𝑟 ) = (𝑎2 −𝑟 2 )
4𝜇𝐿

Equação 8 – Velocidade de fluido laminar completamente desenvolvido em tubo capilar

Desse, a partir dessa equação, temos Lei de Hagen-Poiseuille para viscosidades em tubos
capilares, que propõe a lei de velocidade média 𝑢̅ para esse mesmo escoamento e quando
isolamos a viscosidade, temos a Equação 28 (FONTANA, 2008, p.5):

𝑃𝑎2
𝜇=
8𝐿𝑢̅
Equação 28 – Lei de Hagen-Poiseuille
Se admitirmos que a queda de pressão P se deve a ação da gravidade para esse tipo de
viscosímetro, é possível defini-la pela relação seguinte em que h é a diferença da altura
do limite superior pelo limite inferior (FONTANA, 2008, p.5):

𝑃 = 𝜌𝑔ℎ

Equação 29 – Queda de pressão devida a ação da gravidade

E como sabemos sobre o tempo do escoamento, a velocidade média 𝑢̅ pode ser reescrita
como (FONTANA, 2008, p.5):

𝐿
𝑢̅ =
𝑡
Equação 30 – Velocidade média de fluido

Se aplicarmos essas duas equações anteriores à Lei de Hagen-Poiseuille, temos como


definir a viscosidade do fluido que passa pelo viscosímetro de tubo capilar:

𝜇 𝑔ℎ𝑎2
𝜗= = 𝑡
𝜌 8𝐿2

Equação 31 – Viscosidade medida em viscosímetro de tubo capilar

REFERÊNCIAS

BARNES, Howard A. A HANDBOOK OF ELEMENTARY RHEOLOGY. 1. ed.


Aberystwyth: The University of Wales Institute of Non-Newtonian Fluid, 2000. 200 p.
v. 1.

BIRD , R. Byron; STEWART , Warren E.; LIGHTFOOT, Edwin N. TRANSPORT


FENOMENA. 2. ed. Nova Iorque: Wiley, 2002. 895 p. v. 1.

ÇENGEL, Yunus A.; CIMBALA, John M. MECÂNICA DOS FLUIDOS:


fundamentos e aplicações. 1. ed. Nova Iorque: AMGH, 2015. 959 p. v. 1.

FONTANA, Éliton. Determinação da Viscosidade de Fluidos


Newtonianos. Viscosímetros Newtonianos, Santa Catarina, p. 1-9, 1 ago. 2008.
Disponível em:
https://fontana.paginas.ufsc.br/files/2018/08/viscosimetros_newtoniano.pdf. Acesso em:
6 fev. 2023.

LIVI, CELO P. FUNDAMENTOS DE FENÔMENOS DE TRANSPORTE: Um


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