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Esta nota é baseada principalmente no livro texto Raymond A. Serway e John W. Jewett, Jr.
Princípios de Física 5ª edição, Vol. 2 ( 15.5, 15.6, 15.7), e minhas próprias adições. Se vocês
descobrem algo que não faz sentido, é muito provável que seja meu erro. Por favor me escrevam
sheng.fong arroba ufabc.edu.br.
O conceito de uido (um líquido ou um gás) que é uma substância que ui continuamente
sob uma força de cisalhamento (paralela à superfície).
Portanto, o único tipo de força que pode existir em um uido estático é aquele que é per-
pendicular a uma superfície. Essa força perpendicular (com módulo F) por uma uido se
espalha sobre a área da superfície A resultando em uma pressão:
F
P ≡ .
A
Se a pressão variar de um ponto a outro sobre uma superfície, devemos tomar uma área
innitesimal dA, onde atua uma força perpendicular de módulo dF , de modo que
dF
P ≡ .
dA
Vimos que para um uido estático, a pressão total P aumenta com a profundidade h (por
causa do próprio peso do liquido)
P = P0 + ρgh,
1
Usamos um barômetro para medir a pressão barométrica: a pressão atual da atmosfera
Patm
A força exercida para cima por um uido sobre qualquer corpo imerso é chamada força de
empuxo com um módulo que é sempre igual ao peso do uido deslocado por aquele
corpo
Para um corpo que irá utuar ρfluido > ρobj , o volume do objeto abaixo do uido é Vdesl =
ρobj
V .
ρfluido obj
regular ou laminar: cada partícula do uido segue uma trajetória plana e as trajetórias
nunca se cruzam uma com a outra
2
Figura 1: Dois baldes de líquido na Terra.
3
turbulento: acima de uma velocidade crítica, o uxo do uido torna-se caótico com rede-
moinhos.
atrito interno de um uido. Acima de certa Re, o movimento do uido virá turbulento.
O que acontecerá se a velocidade de um uido continua a aumentar? Assista esse video que
mostra o comportamento do uxo com a aumenta de Re https://youtu.be/BBiR6FWmyv4.
O movimento de um uido real pode ser muito complexo. Vamos estudar um uido ideal com
as quatro seguintes suposições:
1. Fluido não viscoso. Em um uido não viscoso, o atrito interno entre duas camadas adjacentes
de uido é desprezado.
4. Fluxo irrotacional. O uido não tem momento angular sobre nenhum ponto.
4
Figura 3: Cada seta representa a velocidade (direção e magnitude) da partícula de um uido
naquela ponto. Para um uxo estacionário, as velocidades não mudam em tempo ~v (~r, t1 ) =
~v (~r, t0 ).
Figura 4: As trajetórias seguidas por elementos de um uido são chamados as linhas de corrente
ou uxo. Em cada ponto, a velocidade da partícula do uido é tangente às linhas de corrente.
Figura 5: Um uido se movendo com uxo estacionário por um cano não uniforme.
5
Consideramos o uxo de um uido ideal por um cano não uniforme, como ilustra a Figura 5.
Durante o intervalo de tempo ∆t, o uido do pequeno comprimento∆x1 se move pelo ponto 1
por uma área A1 a uma velocidadev1 . Durante o mesmo tempo, o uido do comprimento ∆x2
se move pelo ponto 2 por uma área A2 a uma velocidade v2 . Como o uido é incompressível e o
uxo é estacionário, dentro do intervalo de tempo ∆t, a massa de uido que passa pelo ponto 1
deve ser igual à massa que passa pelo ponto 2:
m1 = m2 ,
ρA1 ∆x1 = ρA2 ∆x2 ,
∆x1 ∆x2
ρA1 ∆t = ρA2 ∆t,
∆t ∆t
ρA1 v1 ∆t = ρA2 v2 ∆t
=⇒ A1 v1 = A2 v2 . (2)
Na verdade, podemos escolher qualquer ponto do cano e sempre obtemos Av = constante para
um uido incompressível. Chamamos essa expressão equação da continuidade para uidos.
Φ ≡ Av tem dimensão de volume por unidade de tempo e é chamado volume de uxo ou taxa
de uxo. Portanto, se a área transversal de um cano é menor, a velocidade do uido que passa
por ele aumenta e vice versa.
Se você está regando seu jardim e sua mangueira é curta demais para alcançar o jardim, o
que você fará?
Ex. 1: A água ui por uma mangueira de incêndio de 6,35 cm de diâmetro, a uma taxa de 0,0120
m3 /s. A mangueira de incêndio termina em um bocal de diâmetro 2,20 cm. Qual é a
velocidade com que a água sai do bocal?
A taxa de uxo é:
A1 v1 = A2 v2 = 0, 0120 m3 /s.
Portanto, temos:
A1 v1
v2 =
A2
0, 0120 m3 /s
= m 2
π 0,0220
2
= 31, 6 m/s.
6
Ex. 2: Um jardineiro usa uma mangueira com 2,50 cm de diâmetro para encher um balde de 30,0
3
L com água (1 L = 1000 cm ). Ele nota que leva 1,00 min para enchê-lo. Um bocal com
2
abertura de área de seção transversal de 0,500 cm é preso à mangueira e segurado para que
a água seja projetada horizontalmente de um ponto 1,00 m acima do solo. Por qual distância
horizontal a água pode ser projetada?
Base na informação sobre o enchimento do balde, a taxa de uxo é:
A1 v1 = 30, 0 L/min,
30, 0 × 103 cm3
=
60 s
= 500 cm3 /s.
Para o bocal com abertura A2 , como a taxa de uxo é constante A2 v2 = A1 v1 , a velocidade
da água do bocal se torna:
A1 v1
v2 =
A2
500 cm3 /s
=
0, 500 cm2
= 10, 0 m/s.
Agora, podemos analisar o uido como o movimento de projétil para resolver o tempo que
leva para a água atingir o solo. Temos:
1
yf = yi + vyi t − gt2 ,
2
1
9, 80 m/s2 t2 ,
0 = 1, 00 m + 0 −
s 2
2 (1, 00 m)
t = = 0, 452 s.
9, 80 m/s2
Portanto, a distância horizontal é:
xf = vxi t
= (10, 0 m/s) (0, 452 s)
= 4, 52 m.
3 Equação de Bernoulli
Vimos que em um uido em repouso, a pressão nele varia com a profundidade ou a altura. Agora,
veremos que a pressão de um uido também variará com a velocidade do uido. Vamos ver a
7
Figura 6: Como a Figura 5 mas agora consideramos a pressão e a altura do cano.
Figura 6 que é a mesma que a Figura 5 mas agora consideramos a pressão e a altura do cano no
ponto 1 e ponto 2. Pelo teorema do trabalho-energia cinética, a mudança do energia cinética
do ponto 1 para o ponto 2 é:
∆K = K2 − K1 = W = WP + Wg , (3)
onde WP é trabalho relacionado com a força de pressão e Wg é o trabalho realizado pela força
gravitacional. A força gravitacional é a força conservativa e obtemos:
usando o fato que as massas dos dois segmentos são iguais (o uido é incompressível ). O trabalho
realizado pela força de pressão no segmento do ponto 1 em um intervalo de tempo ∆t é:
W1 = F1 ∆x1
= P1 A1 ∆x1
= P1 V. (5)
Durante o mesmo tempo, o trabalho realizado pela força de pressão no segmento do ponto 2 é:
W2 = −F2 ∆x2
= −P2 A2 ∆x2
= −P2 V. (6)
8
Notamos que A1 ∆x1 = A2 ∆x2 = V porque o uido é incompressível. O trabalho é negativo porque
1
a força está no sentido oposto à do deslocamento. Portanto, temos:
WP = W1 + W2
= (P1 − P2 ) V. (7)
1 2 1 2
mv − mv = (P1 − P2 ) V − mg (y2 − y1 ) . (8)
2 2 2 1
Dividimos a equação acima por V e como a densidade do uido é ρ = m/V , temos:
1 2 1 2
ρv − ρv = P1 − P2 − ρg (y2 − y1 ) ,
2 2 2 1
1 1
=⇒ P1 + ρv12 + ρgy1 = P2 + ρv22 + ρgy2 . (9)
2 2
Chamamos a equação acima a equação de Bernoulli. Na verdade, podemos escolher qualquer
dois pontos para fazer a análise e concluímos que P + 21 ρv 2 + ρgy = constante para um uido
incompressível. Observamos que:
Se a altura for constante, quando a velocidade de um uido aumenta, a pressão dele diminui
e vice versa.
Como o diâmetro do cano é xo, pela equação da continuidade, a velocidade deveria ser
constante Av = constante e portanto, não tem variação na energia cinética
W = WP + Wg = ∆K = 0.
1 A força o uido exerce sobre qualquer superfície sempre é perpendicular e aponta para fora da superfície.
Segunda a terceira lei de Newton, a força o superfície exerce sobre o uido é para dentro com mesma magnitude.
Dentro de um cano, o superfície refere-se à outra parte do uido que não está sendo analizando.
9
Então, o trabalho realizado pela força gravitacional é
Ex. 4: Um mergulhador está à procura de peixe com um arpão. Ele acidentalmente dispara a
arma de modo que o arpão perfura o lado de um navio cruzeiro. O furo se encontra a uma
profundidade de 10,0 m abaixo da superfície da água. Com que velocidade a água entra no
navio cruzeiro pelo furo?
Escolhemos a superfície da água como y1 = 0 e o furo está no profundidade y2 = −h =
2
−10, 0 m. A água é aberta para a pressão atmosférica, assim P1 = P2 = Patm . A água na
superfície é estática, assim v1 = 0. Usando a equação de Bernoulli, temos:
1
Patm = Patm + ρv22 − ρgh
p 2
=⇒ v2 = 2gh
p
= 2 (9, 80 m/s2 ) (10, 0 m)
= 14, 0 m/s
Ex. 5: Um tubo horizontal de 10,0 cm de diâmetro tem uma redução suave para um tubo de 5,00
3 3 4
cm de diâmetro. Se a pressão da água (ρ = 1, 00 × 10 kg/m ) no tubo maior é de 8, 00 × 10
4
Pa e a pressão no tubo menor é de 6, 00 × 10 Pa, qual é a taxa de uxo
de água através dos
tubos?
Como o tubo é horizontal y1 = y2 , da equação de Bernoulli, temos:
1 1
P1 + ρv12 = P2 + ρv22 ,
2 2
1 2 2
ρ v2 − v1 = P1 − P2 .
2
2 Na verdade, P2 deveria ser um pouco maior do que P1 pois o ponto 2 é mais profundo do que o ponto 1 e
há contribuição ρAr gh. Suponhamos que ρAr = 1, 20 kg/m3 , temos ρAr gh = 1, 20 kg/m3 9, 80 m/s2 (10, 0 m) =
118 Pa. Comparando do que Patm = 1, 013 × 105 Pa, a diferença é minuscula e podemos pegar P1 ≈ P2 = Patm . Por
isso, quando estudamos a pressão sobre um superfície aberta para a atmosfera, sempre usamos Patm .
10
Usando a equação da continuidade A1 v1 = A2 v2 , temos:
2
1 A1 2 2
ρ v − v1 = P1 − P 2 ,
2 A22 1
2
1 A1
ρ 2
− 1 v12 = P1 − P2 ,
2 A
24
1 R1
ρ − 1 v12 = P1 − P2 ,
2 R24
v
u 2 (P − P )
1 2
v1 = t 4 .
u
R1
ρ R4 − 1
2
= 0, 0128 m3 /s.
Ex. 6: Um tanque fechado contendo um líquido de densidade ρ tem um buraco no lado a uma
distância y1 da base do tanque (Figura 7). O buraco é aberto para a atmosfera, e seu
diâmetro é muito menor que o do tanque. O ar acima do líquido é mantido a uma pressão
P.
(a) Determine a velocidade do líquido conforme ele sai do buraco quando seu nível está a
uma distância h acima do buraco.
A ponto 1 tem pressão atmosférica P1 = Patm , Usando a equação de Bernoulli, temos:
1 1
P + ρgy2 + ρv22 = Patm + ρgy1 + ρv12 ,
2 2
1
ρ v12 − v22 = P − Patm + ρg (y2 − y1 )
2
= P − Patm + ρgh.
11
Figura 7: Um líquido sai de um buraco em um tanque com velocidade v1 .
A21 2
1 2
ρ v1 − 2 v1 = P − Patm + ρg (y2 − y1 ) ,
2 A2
A21
1
ρ 1 − 2 v12 = P − Patm + ρgh
2 A2
v
u 2 P − Patm
u
=⇒ v1 = t A2
+ gh
1 − A12 ρ
2
s
P − Patm
v1 = 2 + gh .
ρ
√
Se o tanque está aberto para a atmosfera, P = Patm e temos v1 = 2gh. Por isso, a
velocidade do líquido que sai por um buraco a uma distância h abaixo da superfície é
igual àquela adquirida por um objeto que cai livremente por uma distância vertical h.
Esse fenômeno é conhecido como lei de Torricelli.
(b) Encontre uma expressão para quanto distante cai o uxo que sai do tanque aberto.
Podemos analisar o uido como o movimento de projétil para resolver o tempo que leva
12
para a água atingir o solo. Temos:
1
yf = yi + vyi t − gt2 ,
2
1 2
0 = y1 + 0 − gt ,
r 2
2y1
t = .
g
Portanto, a distância horizontal é:
xf = vxi t
r
p 2y1
= 2gh
g
p
= 2 hy1
p
= 2 (y2 − y1 ) y1 .
(c) Se a posição do buraco y1 pudesse ser ajustada verticalmente, que posição do buraco
levaria a água à mesa o mais longe do tanque aberto?
Maximize a posição horizontal considerando a derivada de xf com relação a y1 e estab-
elecendo igual a zero:
dxf
= 2 [(y2 − y1 ) y1 ]−1/2 (y2 − 2y1 ) = 0
dy1
y2
=⇒ y1 = .
2
Ex. 7: O tubo de Pitot (veja Figura 8) é usado para determinar a velocidade do ar em relação a
um avião. Ele consiste de um tubo externo com pequenos furos B (quatro estão mostrados),
os quais permitem que o entre no tubo; esse tubo é conectado a uma extremidade do tubo
em forma de U. A outra extremidade do tubo em U é conectada a um furo A na frente do
medidor, que aponta no sentido do movimento do avião. Em A o ar está estagnado, de forma
que vA = 0. Em B , contudo, a velocidade do ar é presumivelmente igual à velocidade ~ v do
avião. Determine v em termos de h, ρ, ρAr e g (despreze a altura diferença entre o ponto A
e o ponto B ). Aplicando a equação de Bernoulli para o ponto A e ponto B , temos:
1 1
PA + ρAr vA2 + ρghA = PB + ρAr v 2 + ρghB .
2 2
Como vA = 0 e desprezamos a diferença entre hA e hB , obtemos:
1
PA = PB + ρAr v 2 .
2
13
Figura 8: O tubo de Pitot para determinar a velocidade do ar.
PA = PB + ρgh.
Eliminando PA e PB , temos:
1
ρAr v 2 = ρgh
2 s
2ρgh
=⇒ v = .
ρAr
Portanto, o piloto pode medir a altura do líquido h para estimar a velocidade do avião.
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