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Rodrigo Orgeda
Esp. Henryck Cesar Massao Hungaro Yoshi
Introdução à Mecânica
dos Fluidos
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Introduzir o estudo da mecânica dos fluidos por meio • Estudar a teoria matemática da análise dimensional, apre-
da conceptualização dos fluidos, seguida da definição da sentando sua aplicação na mecânica dos fluidos e os nú-
tensão de cisalhamento. meros adimensionais.
• Definir os conceitos de viscosidade absoluta (dinâmica),
massa específica, peso específico e viscosidade cinemática.
Definindo
os Fluidos
Superfície livre
UNIDADE 2 63
Ft = c te Ft = c te
(a) (b)
Figura 2 - Experiência das duas placas para um sólido
Fonte: Brunetti (2008, p. 2).
Dessa forma, podemos dizer que: ao aplicar uma força tangencial constante a um
sólido, ele se deforma angularmente até atingir uma nova posição de equilíbrio
estático.
Agora, vejamos o que acontece com um fluido submetido a esta mesma expe-
riência. Imagine que seja possível acompanhar cada unidade de fluido ao longo do
experimento. Para facilitar a visualização, denominaremos o volume de ABCD, cada
letra correspondendo a uma extremidade (Figura 3a).
Ao aplicar a força tangencial à placa superior, ela passa a se deslocar a uma veloci-
dade v. O que se observa é que os pontos do fluido em contato com a placa superior
(lado AD) adquirem esta mesma velocidade v, enquanto os pontos do fluido em
contato com a placa inferior (lado BC) ficam parados junto dela (veja a Figura 3b).
Surge, portanto, o princípio da aderência: quando em contato com uma superfície
sólida, os pontos de um fluido aderem-se aos pontos desta superfície.
Dessa forma, se a força tangencial for mantida sobre a placa superior, movendo-a
à velocidade v, as partículas de fluido em contato também se moverão à velocidade v,
na mesma direção e sentido. Isto significa que a condição de equilíbrio estático não
será atingida, de modo que o volume de fluido poderá se deformar continuamente
(veja a Figura 3c).
Ft = c te Ft = c te
A D A D A D
B C B C B C
Apesar de parecer exagero chegar a esta definição, você verá, em capítulos futuros,
que o princípio da aderência é fundamental para compreender certos conceitos,
como o de camada limite, que é essencial no estudo tanto da mecânica dos fluidos
quanto dos demais fenômenos de transporte. Outra observação importante pode ser
feita com relação à experiência de duas placas. Para tanto, é necessário antes definir
o conceito de tensão de cisalhamento.
Considere uma superfície de área A, sobre a qual é aplicada uma força F . Podemos
decompor esta força na sua componente tangencial (Ft ) e na sua componente normal
à superfície (Fn ), como mostra a Figura 4. Nesta unidade, discutiremos sobre a com-
ponente tangencial e, na próxima, analisaremos a componente normal.
Fn
F
A
Ft
Figura 4 - Ação de uma força sobre uma superfície e suas componentes normal e tangencial
Fonte: Brunetti (2008, p. 3).
UNIDADE 2 65
A tensão de cisalhamento é definida como a razão entre o módulo da componente
tangencial da força e a área da superfície em que é aplicada:
Ft
t=
A
Portanto, é a força tangencial por unidade de área, sendo dada, geralmente, em N/m²
(SI), kgf/m² ou dina/cm².
Voltando à experiência de duas placas, note que, no caso dos fluidos, ao exercer
a força tangencial sobre a placa, ela passa a ser acelerada da velocidade nula até uma
velocidade finita, v0, que permanece constante ao longo do experimento. Isto é, a partir
de um determinado momento, não há mais aceleração. Pela segunda Lei de Newton
da dinâmica, isto significa que a resultante das forças deve ser nula (condição de
equilíbrio dinâmico). Como não existem outras forças externas atuando no sistema,
conclui-se que a força aplicada na placa é equilibrada por forças internas do fluido.
Para entender estas forças internas, podemos recorrer ao princípio da aderência.
Na experiência, a camada de fluido junto à superfície superior move-se à velocidade
v0, enquanto a camada de fluido junto à superfície inferior terá velocidade nula. As
camadas intermediárias, por sua vez, passam a se mover conforme um gradiente de
velocidades, indo de zero (na placa inferior) até v0 (na placa superior), como mostra
a Figura 5a.
v0 Ft
A v v0
v1 v1
v2
(v1 é maior
v2 que v2)
Diagrama
y de velocidades
B
(a) (b)
v + dv
v
y + dy
y
(c)
Figura 5 - Gradiente de velocidade e tensões de cisalhamento entre as camadas de fluido na expe-
riência de duas placas
Fonte: adaptada de Brunetti (2008).
dv τ
τα ou = cte.
dy dv
dy
Esta é a chamada lei de Newton da viscosidade. Fluidos que obedecem esta relação
são chamados de fluidos newtonianos, como água, ar e óleos, por exemplo. Fluidos
não newtonianos não serão trabalhados, pois são de menor interesse geral e pode
ser bastante difícil descrever seu comportamento.
Sir Isaac Newton (4 de janeiro de 1643 – 31 de março de 1727) foi um físico e ma-
temático inglês reconhecido como o ícone da revolução científica do século XVII.
A descoberta da decomposição da luz branca, suas três leis da mecânica clássica,
a lei da gravitação universal e suas contribuições no desenvolvimento do cálculo
diferencial e integral são consideradas como alguns de seus principais trabalhos.
Fonte: Westfall (2018, on-line)1.
UNIDADE 2 67
Propriedades
dos Fluidos
τ dv
cte. τ µ
dv dy
dy
UNIDADE 2 69
1 EXEMPLO É necessário substituir o lubrificante do pistão de certo equipamento. Você sabe que
o pistão é cilíndrico, com massa de 500 g, diâmetro de 15 cm e altura de 6 cm. Ele
trabalha dentro de um cilindro com 15,1 centímetros de diâmetro e deve cair com
a velocidade constante de 1,4 m/s. Qual deve ser a viscosidade do lubrificante para
atender a estas condições de operação? Considere uma aceleração da gravidade de
10 m/s².
Solução:
Dc = 15,1 cm
Dp = 15,0 cm
h = 6 cm
Lubrificante
Força Peso (P)
Para que o pistão caia à velocidade constante, é necessário que ele esteja em equilíbrio
dinâmico: há movimento, mas não há aceleração. Pela segunda lei de Newton, temos:
F m.a 0
Aqui, duas forças estão atuando: o próprio peso do pistão (P) e a força da tensão de ci-
salhamento (Ft), que é a resistência do lubrificante ao movimento. Assim, em módulo:
Ft = P
Ft
t=
A
Ft = t . A
dv
Ft τ . A µ . (π . D p . h) P
dy
Note que, para calcularmos a viscosidade por meio desta equação, é necessário ava-
liarmos o gradiente de velocidades de alguma maneira. O procedimento rigoroso e
de resultado mais preciso seria empregar coordenadas polares para resolver a integral.
Entretanto, em algumas situações, é possível simplificar o gradiente de velocidade,
assumindo a variação de velocidade como linear. Observe o diagrama a seguir:
y dv
v2
dy
dy v1
y v0
dv
dy
UNIDADE 2 71
Assim, podemos simplificar a lei de Newton para a seguinte forma:
v0
τ =µ
ε
m. g .ε
µ
v0 . π . D p . h
(0, 500 kg ) . (10 m / s ²) . (0, 0005 m)
µ
(1, 4 m / s ) . (3, 14) . (0, 15 m) . (0, 06 m)
kg .m². s
µ 6, 32 . 102
s ².m3
kg .m
A unidade base de Newton é N = . Assim, temos que:
s2
N .s
6, 32 . 10 2
m2
Apenas para fins comparativos, o resultado mais preciso para este problema (não consi-
derando o gradiente de velocidade linear) seria de, aproximadamente, 6,29.10-2 N.s/m².
Isso indica um erro de 0,48%, que pode ser admitido como desprezível, comprovando
a viabilidade da simplificação feita.
As próximas propriedades que iremos abordar são relativamente simples, mas seus
nomes podem causar certas confusões. Para evitar que isso ocorra, iremos caracteri-
zar: densidade, massa específica e peso específico. Nos seus estudos, os fluidos serão
admitidos como meios contínuos e homogêneos, ou seja: as propriedades em cada
ponto do fluido coincidem com as suas propriedades médias. Com isso em mente,
vamos começar diferenciando densidade de massa específica.
Considere um corpo de massa ( m ) e volume total ( V ), seja ele maciço ou oco.
É possível definir, matematicamente, a densidade desse corpo por meio da seguinte
relação:
m
d=
V
Caso o corpo analisado seja maciço e homogêneo ou caso a parte oca seja descon-
siderada, a densidade é chamada de massa específica (ρ). Em geral, depende da
temperatura e da pressão, sendo característica do fluido. No SI, a unidade é kg/m³.
m
r=
V
UNIDADE 2 73
Por sua vez, o peso específico (γ) segue uma lógica semelhante: é o peso (P) por
unidade de volume (V). No SI, a unidade é N/m³, sendo comum também encontrá-la
dada em kgf/m³:
P
g=
V
m.g
γ γ ρ.g
V
Para líquidos, estas duas propriedades são essencialmente constantes, pois podem ser
consideradas substâncias incompressíveis, ou seja, uma variação na pressão não varia
o seu volume. Para gases, os efeitos da pressão não podem ser desprezados. Vejamos,
agora, um exemplo para esclarecer o que acabamos de estudar.
2 EXEMPLO Você possui duas esferas, uma maciça e uma oca, feitas de um único e mesmo material.
Conhecendo suas massas e volumes, calcule a massa específica e o peso específico
deste material, e a densidade de cada esfera.
Esfera A Esfera B
Maciça Oca
Volume: 3 cm³ Volume: 5 cm³
Massa: 9 g Volume vazio: 2 cm³
Massa: 9 g
Solução:
mA 9g
=
rA == 3= g / cm³ 3000 kg / m³
VA 3 cm³
kg m N
= . g 3000
γ ρ= 10 =
2
= 30000 3
30
m³ s m
Agora, calculando a densidade da esfera A:
mA 9g g kg
d=
A = = 3
3= 3
3000 3
VA 3 cm cm m
Note que este resultado é igual à massa específica do material. Isto faz sentido pois
ela é maciça. Por outro lado, ao calcularmos a densidade da esfera B, veremos que,
apesar de ter massa e volume de material idênticos ao da esfera A, o fato dela ser oca
faz com que sua densidade seja menor:
mB 9g g kg
=dB = = 3
1,=
8 3 1800 3
VB ,total 5 cm cm m
µ
ν=
ρ
No SI, sua unidade é m²/s. Existe também outra unidade utilizada com frequência, o
stoke (St), equivalente a cm²/s, sendo também frequentemente utilizado o centistoke
(cSt). Este é um parâmetro importante para a mecânica dos fluidos, sendo também
chamado de “difusividade de momento”.
Por fim, conhecidas estas propriedades, é importante definirmos dois conceitos
fundamentais para o restante de seu estudo:
UNIDADE 2 75
Fluido ideal: aquele cuja viscosidade é nula, sem
perdas de energia por atrito e sendo também in-
compressível. Naturalmente, não existem fluidos
ideais, mas às vezes este conceito é utilizado em
problemas de mecânica dos fluidos.
Escoamento incompressível: escoamento de
fluido, em que seu volume não varia ao modificar
a pressão. Em geral, os escoamentos podem ser
considerados incompressíveis, pois ou o fluido
é um líquido ou as velocidades em questão são
baixas.
Fonte: adaptado de Çengel e Cimbala (2015).
UNIDADE 2 77
Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
Equações Dimensionais
Equação dimensional: equação monômia (ou seja, de um único termo) que relaciona
uma grandeza derivada com a base completa.
Fonte: Brunetti (2008).
Agora, vamos explorar o uso da análise dimensional por meio das propriedades dos
fluidos que estudamos anteriormente.
Solução:
Sabemos que a viscosidade cinemática é dada pela razão entre a viscosidade dinâmica
e a massa específica:
µ
ν=
ρ
m
r=
V
Note que estamos trabalhando com a base FLT: força, comprimento e tempo. Isso
significa que a massa é uma de suas grandezas derivadas e deve ser escrita em função
das grandezas fundamentais. A lei física que consegue expressar a massa nessa base
é a segunda lei de Newton:
F
F m.a m
a
UNIDADE 2 79
A força (F) é uma de nossas grandezas fundamentais. Portanto, ao analisar sua di-
mensão, temos que [F] = F. A aceleração (a), por outro lado, tem unidades de compri-
mento dividido por tempo ao quadrado, como m/s², por exemplo. Suas dimensões
são, portanto: [a] = L/T² = LT-2. Assim:
F [F ] F FT 2
m [ m] 2
FT 2 L1
a [a ] LT L
dv τ
τ µ µ
dy dv
dy
Ft
t=
A
A força tangencial (Ft) é, evidentemente, uma força, portanto, uma grandeza funda-
mental: [Ft] = F. Por sua vez, da geometria sabemos que a área (A) tem dimensões de
comprimento ao quadrado: [A] = L². Combinando-as, temos, então:
[ Ft ] F
[t ] 2 FL2
[ A] L
O gradiente de velocidade dv dy também pode ser analisado da mesma maneira:
são variações de velocidade (comprimento/tempo) por variações de posição (com-
primento). Assim:
dv [v] LT 1 1
dy [ y ] L T
[τ ] FL2
[µ ] 1
FL2T
dv T
dy
[µ] FL2T
[ν ] 2 4
F 0 L2T 1 L2T 1
[ρ ] FT L
Números Adimensionais
No estudo dos fenômenos de transporte, é comum nos depararmos com alguns nú-
meros que, apesar de possuírem grande significado prático e físico, não apresentam
unidades. São os chamados números adimensionais, que independem de todas as
grandezas fundamentais e costumam ser indicados pela letra grega π.
Para melhor ilustrar como eles funcionam, vamos começar por um dos números
adimensionais mais fundamentais e conhecidos da mecânica dos fluidos: o número
de Reynolds (Re).
ρ.v. D v. D
=Re =
µ ν
UNIDADE 2 81
Façamos, inicialmente, a análise dimensional desta equação. Nos exemplos ante-
riores, verificamos que [r ] FT 2 L4 e [ ] FL2T . Além disso, v é uma velocidade
e D é um comprimento, então: [v] LT 1 e [ D] = L . Combinando-os na forma do
número de Reynolds, teremos:
[ρ ] .[v] .[ D] FT 2 L4 . LT 1 . L
[Re] 2
F 0T 0 L0
[µ ] FL T
Como todos os expoentes são iguais a zero, conclui-se que o número de Reynolds
independe das grandezas fundamentais força, comprimento e tempo. Assim, por
definição, é um número adimensional.
As utilidades do número de Reynolds serão mais bem discutidas nas unidades a
seguir, mas já vale mencionar de antemão que seu principal uso é na caracterização
de escoamentos de fluidos, como laminares ou turbulentos, sendo de grande impor-
tância tanto na mecânica dos fluidos quanto nos processos de transferência de calor
e massa. Dessa forma, o número de Reynolds demonstra que este comportamento
do escoamento depende de um conjunto de grandezas e não delas individualmente.
Afinal, de onde surgem os números adimensionais e como eles têm tamanha
significância? Neste material, você será poupado das raízes matemáticas rigorosas
e exaustivas que existem por trás destes números, como o chamado Teorema Pi de
Buckingham, utilizado na concepção de um número adimensional para um certo
fenômeno. Em vez disso, faremos uma apresentação qualitativa em que seja mais fácil
compreender o papel dos números adimensionais.
Brunetti (2008) sugere o seguinte exemplo: imagine que você deseja determinar
a força F de resistência ao avanço de uma esfera lisa mergulhada em um fluido. Tal
força costuma ser chamada de força de arrasto ou arraste.
Experimentalmente, observa-se que esta força é uma função de variáveis, como
o diâmetro ( D ) e a velocidade ( v ) da esfera, e a massa específica ( r ) e viscosidade
( µ ) do fluido. Isto é:
F = f ( D , v, ρ , µ )
v
D ρ, μ
F
ρ1, μ1
D
Figura 7 - Diagrama FxD para diferentes velocidades com massa específica e viscosidade constantes
Fonte: Brunetti (2008, p. 145).
Ainda seguindo nosso exemplo, observe quantos dos seus resultados seriam con-
templados por este diagrama:
• 1 valor de massa específica (r ) .
• 1 valor de viscosidade ( µ ) .
• 5 valores de diâmetro ( D) .
• 5 valores de velocidade (v) .
Isto é, um único diagrama destes contemplaria apenas 25 dos seus 625 resultados:
cinco curvas, uma para cada velocidade, cada uma com cinco pontos para cada um
dos diâmetros testados. Isto significa que seriam necessários 25 diagramas diferentes
para representar todos os resultados, basicamente formando uma matriz ρ (linhas)
x µ (colunas), em que cada elemento da matriz é um diagrama.
UNIDADE 2 83
F F
vn v2 vn v2
v1 v1
μ variável
ρ fixo
ρ1, μ1 ρ1, μ n
D D
ρ variável ρ variável
μ fixo μ fixo
F F
vn v2 vn v2
v1 v1
μ variável
ρ n , μ1 ρ fixo ρ n, μ n
D D
Figura 8 - Matriz de diagramas FxD para avaliação da força de arraste em diferentes diâmetros, velo-
cidades, massas específicas e viscosidades
Fonte: Brunetti (2008, p. 145).
Como se isto tudo já não fosse exaustivo o bastante, reflita acerca de duas últimas
perguntas: seria viável tentar identificar e descrever o comportamento desejado tendo
que observar e analisar 625 diagramas diferentes simultaneamente? Se o número de
variáveis ou de valores testados para cada uma fosse reduzido, visando simplificar o
experimento e a análise, será que os resultados seriam realmente bons e suficientes
para descrever um fenômeno físico rigorosamente?
Vamos verificar como os números adimensionais podem simplificar este experi-
mento. Considere os seguintes números:
F ρvD
= π1 = 2 2
e π2
ρv D µ
Note que π2 é justamente o número de Reynolds. Caso queira praticar, você pode
fazer a análise dimensional de π1 para verificar se ele é mesmo adimensional. O im-
portante neste momento é que você perceba que p1 e p2 , juntos, contemplam as
quatro variáveis em estudo ( D, v, ρ, µ) .
Agora, voltemos para o experimento. Se utilizarmos uma única esfera de diâme-
tro D e um único fluido de massa específica r e viscosidade µ , pode-se variar a
Ponto F v D ρ π1 π2
µ
F1 ρv1 D
1 F1 v1 D r π1,1 = π2,1 =
2
ρv D12 µ
µ
F2 ρv2 D
2 F2 v2 D r π1,2 = π2,2 =
2
ρv D22 µ
µ
F3 ρv3 D
3 F3 v3 D r π1,3 = π2,3 =
2
ρv D32 µ
µ
F4 ρv4 D
4 F4 v4 D r π1,4 = π2,4 =
2
ρv D42 µ
F5 ρv5 D
5 F5 v5 D r µ π1,5 = 2
π2,5 =
ρv D52 µ
Fonte: os autores.
π1 = F
ρv²D²
(80; 1,6)
1,6
(200; 0,5)
0,5 ρvD
π2 =
80 200 µ
Figura 9 - Diagrama hipotético π1 x π2
Fonte: os autores.
UNIDADE 2 85
esferas de diâmetros diferentes ou outros fluidos com massas específicas e viscosi-
dades diferentes. Por exemplo, o ponto (200; 0,5), na Figura 9, é válido para qualquer
conjunto (ρ , v, D, µ, F ) , desde que:
F ρvD
=π1 = 0, 5 e =
π2 = 200
ρv 2 D 2 µ
Dessa forma, a curva contempla todas as infinitas combinações de valores das cin-
co variáveis, sendo capaz de descrever o fenômeno em estudo com versatilidade e
economizando tempo e recursos. Diagramas como este são chamados de diagramas
universais do fenômeno. Vamos fixar esta ideia por meio de um exemplo quantitativo.
4 EXEMPLO Você possui um óleo cuja massa específica é 930 kg/m³ e a viscosidade dinâmica é de
5,81x10-2 N.s/m². Se uma esfera de 1 centímetro de diâmetro se desloca neste fluido
à velocidade de 0,5 m/s, qual a força de arrasto sobre ela? Considere o diagrama
hipotético da Figura 9.
Solução:
2
F kg m 2
π1 F π1. ρv2 D2 1, 6 . 930 . 0, 5 . 0, 01 m 3, 72 . 102 N
ρv 2 D 2 m³ s
Como você deve ter notado, os números adimensionais podem facilitar bastante o
estudo de leis e fenômenos físicos. Assim como o número de Reynolds, alguns núme-
ros que aparecem com certa frequência nos fenômenos de transporte recebem nomes
próprios, como os números de Mach, Euler, Fourier, Biot, Nusselt, Prandtl, Schmidt,
Sherwood e muitos outros. Uma vez que este material é de natureza introdutória, eles
não serão todos abordados, mas caso você procure conhecê-los, certamente sua visão
analítica acerca dos fenômenos de transporte ficará mais aguçada.
v0 = 3 m/s
3 mm
2. Uma película de óleo de 2,5 mm foi colocada sobre uma superfície plana inclinada
em 45°. Em seguida, uma placa quadrada, com peso de 30 N e 1 metro de lado,
foi colocada para deslizar sobre este plano. Observou-se que, ao longo de sua
descida, a placa atingiu a velocidade de 4,2 m/s, que se manteve constante até
o final do deslocamento. Qual a viscosidade dinâmica do óleo?
2,5 mm
4,2 m/s 30 N
45°
87
3. Sendo a pressão (p) em um ponto qualquer de um líquido em repouso dada
pela equação:
p =r.g .h
88
LIVRO
89
BRUNETTI, F. Mecânica dos Fluidos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos fluidos: fundamentos e aplicações. 3. ed. Brasil: AMGH Edi-
tora, 2015.
REFERÊNCIAS ON-LINE
90
1. O problema pode ser resolvido utilizando a lei de Newton da viscosidade:
τ dv
cte. τ µ
dv dy
dy
Por conveniência, como a distância ε é relativamente pequena, é razoável considerar um gradiente de velocidade
linear, conforme indicado na figura. Neste caso, podemos simplificar a expressão para a forma:
v0
τ =µ
ε
Para utilizar esta equação, precisamos da viscosidade dinâmica do óleo, que pode ser calculada a partir da
viscosidade cinemática e da massa específica, que foram fornecidas. Convertendo em unidades do SI:
1 cm² / s 104 m2 m2
n 0, 2 St 2 . 105
1 St 1 cm² s
µ
ν µ ρ .ν
ρ
kg 5 m2 kg N .s
µ 850 . 2 . 10 1, 7 . 102 1, 7 . 102 2
m3 s m.s m
N . s 3 m / s
t 1, 7 . 102 2
m 3 . 103 m
t 17 N / m2
91
2. A viscosidade dinâmica pode ser encontrada por meio da avaliação da tensão de cisalhamento que atua
sobre a placa. O primeiro passo é realizar o balanço de forças, decompondo a força peso (P) em uma com-
ponente normal (Pn) e uma tangente (Pt) à superfície inclinada, e indicando a força que impõe resistência
ao movimento da placa (Ft):
Ft
Pn
P
45° Pt
Se a velocidade da placa estava constante, significa que a aceleração na direção do deslocamento era nula.
Portanto, pela segunda lei de Newton (F = m.a), a força resultante (FR) nessa direção também será nula, ou seja:
FR Pt Ft 0
Pt Ft
Como conhecemos G, a geometria nos possibilita determinar Gt, pois o ângulo interno deve ser justamente
a inclinação da superfície, 45°:
Pt
sen q
P
Pt P . sen q
Pt (30 N ) . sen 45 Pt 21, 21 N
Portanto:
Pt Ft Ft 21, 21 N
Ft
t=
A
92
Observe que a força Ft está atuando sobre toda a superfície inferior da placa, a qual está em contato com a
película de óleo. Dessa forma, como é uma placa quadrada de um metro de lado, a área em questão será:
A= l 2= (1 m)2 = 1 m2
Ft 21, 21 N N
=
t = 2
= 21, 21 2
A 1m m
Em posse deste valor, podemos alcançar o objetivo da questão utilizando a lei de Newton da viscosidade:
dv
τ =µ
dy
Precisamos, agora, determinar, de alguma maneira, o gradiente de velocidades. Note que a distância da placa
à superfície (ε) é justamente a espessura da película: 2,5 mm. Por ser uma espessura pequena (afinal, é uma
película), é razoável considerar um gradiente de velocidades linear. Assim:
dv dy ε
τ µ µ τ. τ.
dy dv v0
N 2, 5 . 10 3 m
21, 21 2 .
m 4, 2 m / s
N .s
1, 26 . 10 2
m2
3. Nos Exemplos 3 e 4 desta unidade, já foi demonstrado que as dimensões da massa específica na base FLT
são:
[m] FT 2 L1
[r ] 3
FT 2 L4
[V ] L
Além disso, sabemos que g é a aceleração da gravidade e, portanto, possui dimensões de comprimento por
tempo ao quadrado, como apresentado no Exemplo 4:
L
[g] 2
LT 2
T
93
A última variável que resta, h, representa a profundidade do ponto. Logo, sua dimensão deve ser unicamente
de comprimento:
[ h] = L
Com estes três parâmetros, podemos fazer a análise dimensional da pressão conforme a equação enunciada:
De fato, este resultado faz sentido, pois significa “força por unidade de área”, sendo compatível com unidades
típicas de pressão como N/m² (ou Pa).
4. Conhecemos a massa específica (ρ) do metanol, o diâmetro (D) da esfera utilizada, a velocidade (v) e a força
de arrasto (F) observadas no experimento. Considerando válido o diagrama hipotético da Figura 9, dois
números adimensionais são importantes:
F ρvD
=π1 = 2 2
e π2
ρv D µ
F 8, 75.106 N
π1 0, 50
ρv 2 D 2 2
kg m
2
788, 4 3 . 1, 49.102 . 102 m
m s
Pela Figura 9, temos que quando π1 = 0,5, π2 = 200. Conhecendo este valor, é possível utilizar a equação de π2
para determinar a viscosidade absoluta do metanol:
kg m
788, 4 . 1, 49.102 . 0, 01 m
ρvD ρvD m 3 s kg
π2 µ 5, 87.104
µ π2 200 m.s
kg 1N N .s
µ 5, 87.104 5, 87.104
m . s 1 kg . m m
2
s
Cuidado, o exercício ainda não acabou! Foi solicitada a viscosidade cinemática e não a absoluta (dinâmica).
Assim, para concluir a questão, basta dividir este último resultado pela massa específica:
N .s
5, 87.104 2
ν
µ
m2 7, 45.107 m
ρ kg s
788, 4 3
m
94
95
96