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Fenômenos de Transportes – Prof.

Sidney Occhipinti
Capítulo 1 – Introdução, Definição e Propriedades dos fluidos
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1.2. Conceitos fundamentais e definição de fluido

A definição de fluido é introduzida pela comparação dessa


substância com um sólido.

 Definição elementar: Fluido é uma substância que não tem


forma própria, assume o formato do recipiente.

Figura 1.11 – Comparação entre sólidos e fluidos

Os fluidos são, portanto, os líquidos e os gases, sendo que


estes se distinguem dos primeiros por ocuparem todo o recipiente,
enquanto os líquidos apresentam uma superfície livre.

 Volume de Controle (VC): É um volume arbitrário em uma


região do espaço em que se fixa a atenção para o estudo das
propriedades do fluido que passa por ela em cada instante. A
fronteira do volume de controle denomina-se superfície de
controle (SC)
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Por exemplo, no caso da bomba da figura, o observador pode se


preocupar com as propriedades nas seções (e) e (s) no mesmo
instante, verificando a variação entre a entrada e saída da
bomba com leituras simultâneas de dois manômetros instalados
nas duas seções (e) e (s).

 Experiência das Duas Placas:

1. Para um sólido:

Figura 1.12 – Sólido entre duas placas

Seja um sólido fixado entre duas placas, uma inferior e outra


superior, que se encontra submetida a uma força tangencial
constante, conforme ilustrado pela figura 1.12a.

Mantida a força, o sólido se deforma angularmente até


alcançar uma nova condição de equilíbrio estático (figura 1.12b).
Nesta posição, as tensões internas equilibram a força externa
aplicada, de modo que, apenas uma variação na força aplicada
modificaria esta nova configuração.
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2. Para um fluido:

Figura 1.13 – Fluido entre duas placas

Seja agora, um fluido colocado entre as duas placas, uma


inferior e outra superior, a qual se move quando que se encontra
submetida a uma força tangencial constante.

Pontos correspondentes da placa e do fluido continuam em


correspondência durante o movimento. Dessa maneira, se a placa
adquire uma velocidade v, os pontos do fluido que se encontram

em contato com ela terão a mesma velocidade v, e os pontos do


fluido em com contato com a placa fixa ficarão parados junto dela.

O volume ABCD de fluido, sob a ação da força tangencial


constante, deforma-se continuamente, não alcançando uma nova
posição de equilíbrio estático.
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Conclusões obtidas a partir da experiência das duas placas:

 Distinção entre sólidos e fluidos: Os sólidos se deformam


limitadamente sob a ação de esforços tangenciais pequenos e
alcançam uma nova condição de equilíbrio estático, enquanto
que, os fluidos se deformam continuamente, sem alcançar uma
nova posição de equilíbrio estático.

 Princípio da Aderência: O fluido junto à placa superior irá se


deslocar com velocidade v, enquanto aquele junto à placa
inferior estará com velocidade nula, pois os pontos do fluido, em
contato com uma superfície sólida aderem a pontos dela, com os
quais estão em contato.

 Definição de fluido:

Substância que se deforma continuamente, quando


submetida a uma força tangencial constante qualquer,

ou ainda, em outras palavras,

Substância que, submetida a uma força tangencial


constante, não atinge a uma nova configuração de
equilíbrio estático.
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1.3. Tensão de Cisalhamento

Seja uma força F aplicada sobre uma superfície de área A.


Essa força pode ser decomposta em uma direção vertical e
horizontal, dando origem a uma componente normal e tangencial,
respectivamente.

Figura 1.14 – Decomposição de uma força


F sobre uma superfície da área A

Define-se Tensão de Cisalhamento como sendo o quociente


entre o módulo da componente tangencial da força e a área sobre a
qual está aplicada.

Ft
 (01)
A

Sistema de unidades Unidade


Mk*S (técnico) kgf/m2
CGS dina/cm2
SI N/m2

Lei de Newton da Viscosidade


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Seja um fluido colocado


entre duas placas, uma inferior
e outra superior, inicialmente
em repouso.

Figura 1.15 – Fluido colocado entre


duas placas

A placa superior é
acelerada pela força tangencial
Ft , já que passa da velocidade
nula para uma velocidade finita.

Figura 1.16 – Placa superior


submetida à força tangencial

A partir de um certo instante, a placa superior adquire uma

velocidade v 0 constante. Isso demonstra, que a força externa Ft


aplicada na placa é equilibrada por forças internas ao fluido, visto
que, não existindo aceleração, a resultante das forças deverá ser
nula.
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A origem das forças internas ao fluido pode ser explicada com


base no Princípio da Aderência, segundo o qual o fluido junto à
placa superior irá se deslocar com velocidade v 0 , enquanto aquele
junto à placa inferior estará com velocidade nula. Logo, as camadas
intermediárias deverão se adaptar à extremas, adquirindo
velocidades que varam de zero até v 0 .

Figura 1.17 – Diagrama de velocidades

Em cada seção normal às placas, como seção genérica AB


(figura 17a), irá se formar um diagrama de velocidade, onde cada
camada do fluido desliza sobre a adjacente com uma certa
velocidade relativa (figura 17b).

A diferença de velocidade entre as camadas do fluido, causa


uma deformação contínua da substância. O deslizamento entre as
camadas originam as tensões de cisalhamento, que, multiplicadas
pela área da placa, originam uma força tangencial interna ao fluido,

que será responsável pelo equilíbrio da força Ft externa. Esse


equilíbrio fará com que a placa superior assuma uma velocidade
constante v 0 .
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Isaac Newton descobriu


que em muitos fluidos a tensão
de cisalhamento é proporcional
(  ) ao gradiente de velocidade,
isto é, à variação da velocidade
( dv ) com a variação da
espessura da camada ( dy ). Figura 1.18 – Lei de Newton da
viscosidade

dv 
   cte
ou dv
dy
dy
Proporcional

Os fluidos que obedecem a essa lei são denominados de


fluidos newtonianos, por exemplo, água, ar, óleos etc., e os
restantes, chamados não-newtonianos, não serão abordados no
presente estudo, pois são de pequeno interesse geral e de
aplicação muito específica.
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1.4. Viscosidade absoluta ou dinâmica

A Lei de Newton da viscosidade impõe uma proporcionalidade


entre a tensão de cisalhamento e o gradiente de velocidade. Tal
coeficiente, de proporcionalidade, é denominada viscosidade
dinâmica e será indicada pela letra .

dv
 
dy

Essa grandeza é uma propriedade de cada fluido e das


condições dele como, por exemplo, temperatura e pressão.

Pode-se dizer, então, que viscosidade dinâmica é a


propriedade dos fluidos que permite equilibrar dinamicamente, foças
tangenciais externas quando os fluidos estiverem em movimento.

De uma forma prática, viscosidade é a propriedade que indica


a maior ou menor dificuldade de o fluido escoar.

[] FL-2T
Sistema de unidades Unidade
Mk*S (técnico) kgf.s/m2
CGS dina.s/cm2 = poise
SI N.s/m2
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O valor da viscosidade dinâmica varia de fluido para fluido e,


para um fluido em particular, esta viscosidade depende muito da
temperatura.

Gases e líquidos têm comportamento diferente com relação à


dependência da temperatura. Nos líquidos a viscosidade diminui
com a temperatura, pois o espaçamento entre as moléculas é
pequeno e, assim, ocorre a redução da atração molecular com o
aumento da temperatura, enquanto que, nos gases, a viscosidade
aumenta com a temperatura, pois o espaçamento entre as
moléculas é grande e, assim, ocorre o aumento do choque entre
moléculas com o aumento da temperatura.
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1.5. Simplificação prática

A Lei de Newton da viscosidade é escrita da seguinte forma:

dv
 
dy
dv
onde
dy é o gradiente da velocidade.

Pela figura abaixo, observa-se que a um deslocamento dy ,

na direção do eixo y, corresponde uma variação dv da velocidade.

Figura 1.19 – Gradiente da velocidade


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Quando a distância  for pequena, pode-se considerar, sem


muito erro, que a variação de v com y seja linear.

Figura 1.20 – Simplificação prática

O triângulo ABC é semelhante ao triângulo MNP. Logo:

dv v0

dy 

Ficando a Lei de Newton:

dv v
   0
dy 
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1.6. Massa específica ()

Massa específica é a massa de fluido por unidade de volume


do mesmo.

m  m = massa;
  V = volume.
V
[] FL-4T2
Sistema de unidades Unidade
Mk*S (técnico) kgf.s2/m4 = utm/m3
CGS g/cm3
SI N.s2/m4 = kg/m3
1utm = 9,81kg
1.7. Peso específico ()

Peso específico é o peso de fluido por unidade de volume do


mesmo.

G  G = peso; onde G = mg
   V = volume.
V
𝑚
então:  𝑉
𝑔

portanto:  = .g onde g é a aceleração da gravidade

[] FL-3
Sistema de unidades Unidade
Mk*S (técnico) kgf/m3
CGS dina/cm3
SI N/m3
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1.8. Peso específico relativo g = 10m/s2)

É um termo associado à relação entre o peso específico do


líquido e o peso específico da água em condições padrões, isto é, o
peso especifico da água a 4° C.

  H O  1.000kgf / m3
r  2

H O 2
H O ~
2
 10.000 N / m 3

[r] Adimensional

1.9. Viscosidade cinemática ()

É a razão entre a viscosidade dinâmica e a massa específica.

   = viscosidade dinâmica;

   = massa específica.

[] L2T-1
Sistema de unidades Unidade
Mk*S (técnico) m2/s
CGS cm2/s = stoke (St)
SI m2/s
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Lista de Exercícios

1. A viscosidade cinemática de um óleo é 0,028 m2/s e o seu peso específico


relativo é 0,85. Determinar a viscosidade dinâmica em unidade nos
sistemas MK*S, CGS e SI. (considere g = 10m/s2)
Resposta:  =2,38 kgf.s/m2  =23,3 N.s/m2  =233 dina.s/m2

2. A viscosidade dinâmica de um óleo é 5.10-4 kgf.s/m2 e o peso específico


relativo é 0,82. Determinar a viscosidade cinemática nos sistemas MK*S, SI

e CGS. (g = 10m/s2 e água = 1000 kgf/m3)

Resposta:  = 6.10-6 m2/s = 6.10-2 St

3. O peso de 3dm3 de uma substância é 23,5 N. A viscosidade cinemática é


10-5 m2/s. Se g= 10 m/s2, qual será a viscosidade dinâmica nos sistemas
CGC, MKS, SI e em N.min/km2?
Resposta: 7,83 x 10-2 poise = 8 x 10-4 kgf.s/m2 = 7,83 x 10-3 N.s/m2 = 130,5
N.min/km2

4. São dadas duas placas planas paralelas à distância de 2 mm. A placa


superior move-se com velocidade de 4 m/s, enquanto a inferior é fixa. Se o
espaço entre as duas placas for preenchido com óleo ( = 0,1 St; ρ = 830
kg/m3), qual será a tensão de cisalhamento que agirá no óleo?
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Resposta:  = 16,6 N/m2


5. Uma placa quadrada de 1,0 m de lado e 20 N de peso desliza sobre um
plano inclinado de 30º, sobre uma película de óleo. A velocidade da placa é
2,0 m/s constante. Qual é a viscosidade dinâmica do óleo se a espessura
da película é 2,0 mm?

Resposta:  = 10-2 N.s/m2

6. O pistão da figura tem uma massa de 0,5 kg. O cilindro de comprimento


ilimitado é puxado para cima com velocidade constante. O diâmetro do
cilindro é 10 cm e do pistão é 9 cm e entre os dois existe um óleo de
 = 10-4 m2/s e  = 8000 N/m3. Com que velocidade deve subir o cilindro
para que o pistão permaneça em repouso?

Resposta: v = 22,1 m/s


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7. Num tear, o fio é esticado passando por uma fieira e é enrolado num tambor
com velocidade constante, como mostrado na figura. Na fieira, o fio é
lubrificado e tingido por uma substância. A máxima força que por ser aplicada
no fio é 1N, pois, ultrapassando-a, ele rompe. Sendo o diâmetro do fio 0,5 mm
e o diâmetro da fieira 0,6 mm, e sendo a rotação do tambor 30 rpm, qual é a
máxima viscosidade do lubrificante e qual é o momento necessário no eixo do
tambor? (Lembrar que  = 2n)

Resposta: µ = 0,1 N.s/m2; MT = 0,1 Nm

8. O dispositivo da figura é constituído de dois pistões de mesmas dimensões


geométricas que se deslocam em dois cilindros de mesmas dimensões. Entre
os pistões e os cilindros existe um lubrificante de viscosidade dinâmica
10-2 Ns/m2. O peso específico do pistão (1) é 20.000 N/m3. Qual é o peso
específico do pistão (2) para que o conjunto se desloque na direção indicada
com uma velocidade de 2 m/s constante? Desprezar o atrito na corda e nas
roldanas.
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Resposta: (2) = 16.800 N/m3.

9. O eixo da figura, ao girar, provoca a rotação do tambor. Este enrola a corda,


que levanta um peso de 10 N com uma velocidade constante de 0,5 m/s. O
fluido existente entre o eixo e o tambor tem µ = 0,1 N.s/m2 e apresenta um
diagrama linear de velocidades. Pede-se:

a) a rotação do eixo em rpm;

b) o momento provocado pelo fluido contra a rotação do eixo.

Dados: R1 = 10 cm; R2 = 10,1 cm; R3 = 20,0 cm;  = 2n

Resposta: a) n = 125 rpm; b) 2,47 Nm


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10. Assumindo o diagrama de velocidades indicado na figura, em que a


parábola tem seu vértice a 10 cm do fundo, calcular o gradiente de velocidade
e a tensão de cisalhamento para y = 0, 5, 10 cm. Adotar µ = 400 centipoises.

Resposta: (50 s-1; 200 dina/cm2); (25 s-1; 100 dina/cm2); (0,0)

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